Poesias

terça-feira, 30 de março de 2021

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO IV

Frequentava as missas celebradas por Padre Josias, munida do indefectível acessório, o qual fazia questão de exibir, quando dos sermões do sacerdote.
Em diversas ocasiões fora vista no confessionário.
Era vista com freqüência ajoelhada, rezando terços.
Também oferecia módicas quantias a título de esmola para os pedintes.
Alguns homens quando a viam passar, diziam que se ela era realmente filha de Carina, havia herdado a beleza da mãe.
Maria Rosa freqüentava a missa, ofertava esmolas.
Havia quem dissesse tê-la visto no cemitério, com os olhos fixos na sepultura de Carina. Semblante triste, expressão de pesar.
Por longo tempo a moça fora vista com desconfiança.
Poucos acreditavam na idéia de que a santinha tivera uma filha antes de morrer.
Contudo, como Maria Rosa, se comportava de forma digna, mesmo sem acreditar na versão da moça, diziam entre si, que era inofensiva.
Como precisava se manter, passou a procurar trabalho.
Tal circunstância, foi motivo de escândalo na cidade.
Maria Rosa, já acostumada com olhares de reprovação, ignorou o fato.
Com isto, passou a bater nas casas ricas da capital em busca de trabalho. Inicialmente, ofereceu-se para trabalhar como criada.
Foram semanas de procura, até a moça encontrar emprego em uma casa de família.
Limpava a casa, preparava as refeições, às vezes cuidava das crianças.
Seus modos refinados e educados, faziam com que a dona da residência questionasse a necessidade da moça trabalhar.
Maria Rosa respondia que recebera uma educação esmerada.
Aprendera a ler e a escrever. Disse que já lera muito livros, conhecera lugares.
Mencionou que sua mãe, enquanto viveu, proporcionou-lhe uma vida de conforto. Sem grandes luxos, mas de conforto. Para garantir seu futuro, a mulher providenciara um pecúlio para a filha, em caso de necessidade. Alegava que poucas pessoas conheciam sua história, e que uma madrinha cuidava dela em confiança.
Maria Rosa disse que sua mãe era bela.
Sempre bem vestida, mesmo quando singelamente trajada. Linda e sozinha.
Emocionada, respondeu que aqueles poucos momentos ao lado de sua mãe, são recordações cálidas e indeléveis.
Comentou que Carina engravidara nos anos que viveu como cortesã em casa de Madame Leonor.

Como ninguém poderia ter conhecimento da história, o fato foi escondido de todos, inclusive das demais cortesãs do rendevouz da mulher.
Leonor cuidou para que a moça fosse descansar em um lugar retirado.
Relatou indiscreta, que muitos homens reclamaram sua ausência.
A dona da casa, ficou incomodada com o comentário.
Maria Rosa, ao perceber isto, desculpou-se.
Disse que não fora sua intenção escandalizar ninguém. Argumentou que Carina não era uma mulher de má fama, escandalosa. Apenas não tivera opção. Respondeu que as mulheres não tinham muita opção. Sorrindo, comentou que ela mesma, tivera que trabalhar como criada em casa de família.
A mulher, ao ouvir isto, perguntou-lhe se estava insatisfeita com o trabalho.
Maria Rosa respondeu sorrindo que não. Argumentou apenas, que gostaria de aplicar o aprendera, transmitindo seus conhecimentos a outras pessoas.
Dona Ester, ao tomar conhecimento do interesse da moça, perguntou-lhe se não gostaria de ensinar os seus filhos. Relatou que poderia pagar pelas aulas.
Maria Rosa ao ouvir a proposta, perguntou a mulher se ela não estava de pilhéria.
Ester respondeu-lhe que não. Estava de fato fazendo uma proposta séria.
E assim, a moça passou a ensinar aos meninos Dário e Péricles, o havia aprendido.
Explicou ao pequeno Dário que seu nome era o mesmo de um imperador da Pérsia, e que Péricles fora um administrador grego, a quem se credita um período conhecido como Século de Ouro.
Curiosos, os meninos faziam perguntas e mais perguntas, e Maria Rosa os ensinava informalmente.
De noite, lia livros e contava histórias infantis.
Contava aos meninos lendas, como a história do Negrinho do Pastoreio, vítima de um cruel senhor que o martirizou por conta do sumiço de uma rês, e o trucidou.
Como a moça usava palavras rebuscadas, precisou explicar aos meninos, o significado das palavras.
Dário e Péricles, adoravam conversar com Maria Rosa.
Com efeito, em que pese este fato, Ester, ao perceber que a moça possuía tão grande conhecimento, aconselhou-a a procurar trabalho como professora.
Argumentou que era um desperdício a jovem guardar tão grande nível de conhecimento só para si. Contou que se ela fora agraciada com tão grande saber, era por que precisava compartilhar com os demais.
Ester, disse que ela deveria dividir o que sabia com muitas pessoas.
Ser generosa como Carina.
A mulher passou a perceber que seu marido passou a nutrir um grande interesse na moça.
Sempre que a moça aparecia na sala de jantar para servir o café da manhã, o almoço ou o jantar, o homem não conseguia disfarçar os olhares interessados em sua direção.
Certo dia, Ester se enervou com o marido e exigiu que o homem tivesse compostura. Argumentou que Jader esta envergonhando a família.
O homem ao ouvir as palavras ásperas da mulher, tentou desconversar.
Ester respondeu-lhe então, que não admitiria ser humilhada por ele.
Jader ficou sem argumentos.
Em dado momento, Ester chamou Maria Rosa para uma conversa.
Com isto, ao se ver a sós com a jovem, Ester disse-lhe que já havia percebido o interesse de Jader por ela.
Maria Rosa tentou desconversar, mas a mulher pediu para que parasse.
Nervosa, a moça tentou dizer que nunca dera esperanças ao homem. Argumentou que sempre procurou se manter afastada de Jader. Mencionou ainda, que a despeito disto, caso ela não acreditasse em suas palavras, poderia demiti-la.
Ao ouvir isto, Ester argumentou que conhecia perfeitamente seu marido e sabia quem era responsável por aqueles fatos.
Mencionou que tinha conhecimento de que Jader era mulherengo, e que não aconselhável que ela permanecesse na casa. Argumentou que ela, sendo jovem e bonita, não estava em segurança.
Maria Rosa concordou. Chegou até a se desculpar por haver causado tantos transtornos.
Ester, compreensiva, disse que lamentava muito sua partida, mas que não poderia ser diferente.
Desta forma, tentando minimizar as dificuldades da moça, prometeu recomendá-la a uma escola tradicional. Lá poderia lecionar e transmitir seus conhecimentos ao maior número possível de pessoas.
Nisto a moça se despediu agradecendo por tudo o que Ester havia feito por ela. Argumentou que durante todo o tempo em que permaneceu na cidade, nunca fora tão benquista por alguém e tratada de forma tão desinteressada.
Desta forma, aproximou-se de Ester e lhe deu um abraço.
Disse-lhe que era uma pessoa muito especial e que Jader não merecia a esposa que tinha.
Em seguida dirigiu-se a seu quarto, onde tratou de arrumar seus pertences.
Voltaria a se hospedar em um hotel.
Antes de partir, Dário e Péricles despediram-se dela com um presente.
Ester pagou-lhe o salário, e lhe deu de presente uma jóia.
Pediu para que levasse consigo e que a vendesse em caso de necessidade.
Maria Rosa, ao se deparar com o mimo, ficou perplexa. Tratava-se de um anel de rubi.
Constrangida, a moça tentou recusar o presente, no que foi impedida por Ester, que argumentou que ficaria ofendida em caso de recusa.
Nisto a jovem despediu-se da mulher.
Chamou um cocheiro e assim, dirigiu-se a um hotel.
Tempos depois, a moça recebeu uma correspondência especial.
Era um convite de um colégio conceituado da cidade, convidando-a para integrar o seu quadro de funcionários, e lecionar para jovens alunos.
Mais do que depressa, a moça dirigiu-se ao colégio.
Vestiu sua roupa mais elegante, colocou chapéu e de sombrinha, saiu a rua.
De coche, chegou no colégio, onde foi recebida pelo diretor, que se admirou de sua juventude.
Ao longo da conversa, a jovem demonstrou segurança, e os conhecimentos necessários para desempenhar o mister.
Razão pela qual foi contratada.
E assim, passou a lecionar.
Ministrava aulas para meninos filhos de industriais, fazendeiros, cafeicultores.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

sexta-feira, 19 de março de 2021

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO III

Nos últimos tempos, fazia planos de sair da casa, queria viver longe dali, uma vida tranqüila e feliz. Coisa que tivera fora dali, dizia.
Relembrou-se da infância miserável, dos momentos de sofrimento, da morte dos pais, de quando fora levada por parentes, para o bordel de Madame Leonor. Lembrou-se do quanto chorou, pedindo para os tios não a abandonarem.
Leonor tentou demovê-la da idéia, mas Carina estava decidida.
A moça argumentou dentro de alguns meses, abandonaria a vida de cortesã.
E assim, o dia em que a moça decidiu abandonar a vida dissoluta, foi uma tristeza imensa no lugar.
Os clientes faziam-lhe propostas para que passasse a viver com eles.
Ofereciam-lhe casa montada, roupas de luxo, jóias, conforto.
Carina porém, recusava a tudo. Agradecia a gentileza, mas declinava as propostas.
Como continuasse sua vida no lugar, passou a viver numa casa simples, sem o luxo e a ostentação de outrora.
Com o dinheiro ganho em sua vida de luxúria, Carina poderia viver uma vida larga, sossegada.
Não obstante este fato, a moça resolveu viver de forma diversa da que vivera por anos.
Para ocupar seu tempo lia, cuidava da casa e se dedicava ao piano.
Também oferecia esmola aos necessitados.
Oferecia alimento a quem batia em sua porta em busca de um prato de comida.
Por adotar trajes e maneiras mais discretas, passou a ser aceita pelas mulheres do lugar.
Conforme o tempo passava, passou a dedicar-se as obras da igreja.
Usava roupas simples, de cores claras.
Com o tempo, Carina passou a ser chamada de santinha, por seus modos suaves, seu jeito bondoso, e por sua caridade.
Instruída por algumas mulheres, passou a dedicar-se a construção de uma capela em homenagem a Nossa Senhora.
Muitos diziam que a viam iluminada.
Com seus longos vestidos brancos e véus da mesma cor, muitos argumentavam que ela se assemelhava a uma santa de altar.
Diziam que ela era uma pecadora redimida.
Nisto, ao aparecer um rapaz coberto de chagas nos arredores da igreja, todos pensaram logo em afastá-lo.
Alguns fiéis diziam se tratar de um leproso, o qual poderia transmitir a doença para todos.
Foi o suficiente para causar uma celeuma.
Alguns se afastaram atemorizados, outros passaram a investir contra o homem.
Foi então que Carina se aproximou e disse a todos, que eles não poderiam agredir o homem, só porque estava doente, precisando de ajuda. Alegou que todos precisavam ser caridosos com quem sofria, pois Deus não gostava de injustiças.
Nisto um dos manifestantes argumentou que se tratava de doença contagiosa, e portanto, de uma questão pública. Mencionou que o estranho não poderia expor a todos a um risco desnecessário.
Carina por sua vez, perguntou ao rapaz insurgente, se ele era médico e se era capaz de realizar um diagnóstico preciso sobre a moléstia do rapaz.
Sem argumentos, o mancebo calou-se.
Nisto a jovem aproximou-se do homem, e tocando em sua cabeça, pediu para que levantasse.
Disse-lhe que lhe daria comida.
Ofereceu-lhe pão e um frasco com água.
Com o tempo, as feridas do rapaz desapareceram.
Em apenas alguns dias, o jovem desfigurado, parecia outra pessoa.
Cuidado por Carina, muitos passaram a afirmar que se tratava de um milagre.
A moça por sua vez, ignorava este fato.
Prosseguia com seu trabalho de benemerência.
Contudo, em que pese a recusa de ser considerada santa, sua nova fama chegou ao conhecimento de Leonor e suas meninas.
Violeta reagiu com ironia.
Dizia que somente faltava a ela um nome de santa. Como se alguém que outrora tivera a vida desregrada da jovem, pudesse se transformar em uma santa. Dizia que só se fosse santa do pau oco.
Leonor ao ouvir isto, dizia que Carina não fazia parte daquele mundo. Relatou que os modos da moça, não combinavam com aquele mundo cínico em que viviam. Falou que se a moça continuasse a viver aquela vida, acabaria por ficar desgostosa.
Com isto, suspirou. Disse que a jovem fora sua melhor discípula, a cortesã mais elegante que pisara em seu castelo.
Leonor admirava a moça.
Gostava tanto de Carinha, que passou a ofertar generosas somas para as obras de benemerência patrocinadas pela jovem.
Era comida, roupas, e até abrigo.
Com o tempo Carina alugou um imóvel que servia de abrigo para moradores de rua.
Mais tarde, auxiliada por outros fiéis, a casa passou também a fornecer aulas de alfabetização.
Um dia, depois de conversar longamente com o padre, a moça, ao ficar sozinha, foi abordada por um homem que elogiou sua beleza singela.
Sem jeito, a moça agradeceu o elogio e se afastou.
No dia seguinte, ao sair da missa, a jovem foi novamente abordada pelo rapaz, que começou a dizer:
- Quem diria! Uma meretriz ser merecedora da alcunha de santa!
Todos os freqüentadores da igreja olharam o homem com ar de reprovação.
Um desses homens, defendeu Carina, dizendo que o passado não importava, já que a moça havia se redimido de suas faltas. Argumentou que ela, ao abandonar a vida dissoluta, desregrada que levava, adotou uma conduta digna, com a qual pautava sua vida. Ressaltou que sua postura era tão digna quanto a de qualquer pessoa de bem.
Também citou uma passagem bíblica na qual Jesus ensinava aos homens, a tolerância.
Tal passagem era a do apedrejamento da mulher adúltera, e Cristo ao ver a cena deplorável, indagou que somente aquele que fosse isento de pecados, que atirasse a primeira pedra.
Como não existem pessoas isentas de pecados, ninguém ousou agredir a mulher.
Desta forma, o homem retirou-se humilhado.
Carina, olhou seu defensor com ternura, como se naquele olhar, agradecesse o gesto de gentileza.
Dias mais tarde, um homem amparado por muletas pediu-lhe para que o curasse de sua paralisia.
Carina, sem graça, respondeu-lhe que não operava milagres.
O homem contudo, insistiu.
Afirmava que assim como ela curara o leproso, restituindo-lhe a saúde, poderia também lhe fazer voltar a caminhar.
Com isto, formou-se uma roda em torno da moça e do jovem.
Carina saiu da praça atordoada.
Conforme o tempo passava formou-se uma romaria em torno de sua residência, fato este que ensejou sua mudança do local.
Leonor, ao tomar conhecimento dos fatos, ficou penalizada.
Tanto que auxiliou-a a arrumar outra casa para morar.
Todavia, foi questão de tempo para que descobrissem onde ela morava.
Carina a todo o momento era cercada. Pessoas lhe pediam ajuda, imploravam para que ela as curasse.
Assustada, a moça a todo o momento dizia que não operava milagres. Argumentava que já estava fazendo o que podia para auxiliar as pessoas.
Certo dia, ao encontrá-la desalentada, Leonor procurou consolá-la.
Carina chorava copiosamente.
Mais tarde, ao perceber que a imposição de suas mãos trazia conforto as pessoas, passou a executar o gesto.
Foi o suficiente para o Padre Josias enervar-se com a jovem, dizendo que ela estava querendo ocupar uma função que era divina.
Revoltado, o sacerdote chegou a dizer-lhe que ela não era digna daquele mister, e que ela não passava de uma versão malsã de Maria Madalena, esta sim, verdadeira seguidora dos preceitos de Cristo.
Sentida, Carina ouviu a tudo calada.
Mas apoiada por alguns poucos amigos, a moça continuou a auxiliar os necessitados.
Com o tempo, passou a receber cartas anônimas contendo ameaças.
Seus amigos, Tereza e Roberto, ao tomarem conhecimento do teor das cartas, aconselharam-na a se acautelar.
Carina porém, não levou em consideração as ameaças.
Prosseguiu seu trabalho.
Até que um dia, tarde da noite, após o retorno de uma missa, a moça foi baleada na porta de sua casa.
Ao sentir o impacto do tiro, a moça caiu desfalecida.
Quando encontraram-na desacordada, fizeram de tudo para reanimá-la.
Carina ainda vivia.
Apenas o suficiente para dizer a todos que continuassem os trabalhos, que não desanimassem, e que tudo acabaria bem. Tendo paciência, todos veriam o resultado.
Despertou um pouco desorientada, para depois soltar seu último suspiro e morrer nos braços de Roberto.
O moço então, ficou deveras desalentado.
Contudo, prometeu a si mesmo continuar o trabalho da moça.
E prosseguiu.
As obras de benemerência continuaram.
Leonor, ao tomar conhecimento da morte da moça, ficou desesperada.
Desalentada, deixou o rendevouz nas mãos de Violeta, para quem vendeu o imóvel e todo o fundo de comércio.
Passou a se dedicar a obras de caridade.
Assim, passou a trabalhar na instituição idealizada por sua pupila Carina.
Dizia a Roberto e Tereza, que de pupila, Carina se tornou sua mestra. Superou-a em lições de vida.
Quando falava da moça, seus olhos invariavelmente se enchiam d’água.
Triste, dizia que se Carina não a tivesse conhecido, sua vida seria diferente, e talvez não tivesse sido morta.
Tereza, sempre que a ouvia proferir estas palavras, dizia-lhe que estava falando besteira.
Argumentava que Carina tivera que passar por aquela prova, e que havia se redimido.
Nisto, com o passar dos anos, Carina passou a ser reverenciada como santa.
Com o tempo surgiram peregrinações em seu nome.
Cerca de dezoito anos após os fatos, surgiu uma mulher de nome Maria Rosa dizendo ser sua filha.
Foi um escândalo na cidade.
A indignação foi geral.
Leonor, a única pessoa que poderia confirmar a veracidade da história, falecera meses antes da revelação.
Mesmo assim, a moça insistia em dizer-se descendente direta de Carina.
Viera sozinha para a cidade. De seu, apenas suas malas, seus pertences.
A jovem vestia-se com longos vestidos e anáguas, além de véus rendados e leque.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO II

Carina então, passou a desfilar sua beleza pelo ambiente.
Quando os freqüentadores da casa a notaram, passaram a perguntar a Leonor quem era aquele anjo, de pele pálida e cabelos negros.
Leonor dizia que era uma menina nova, que passara a viver sob sua proteção.
Contava que a moça estava recebendo a melhor instrução com que poderia esperar. Literatura, conhecimentos gerais. Relatou que a menina sabia ler e escrever, que recitava poemas e cantava modinhas com primor.
Adotando um tom confidente, mencionou que a moça sabia cozinhar com ninguém.
Leonor afirmou que se tratava de uma princesa, alguém para ser tratada como uma flor.
Um dos freqüentadores do lugar, comentou que por uma mulher igual aquela, ele seria capaz de montar uma casa, e cobri-la de jóias e presentes.
Em uma das aparições da moça, um freguês afoito, tentou puxá-la para junto de si, no que foi controlado por Leonor, que disse que Carina ainda não estava a disposição dos freqüentadores. Comentou que no momento oportuno, ele poderia privar da companhia da moça.
Mais tarde, aflita, a moça pediu insistentemente a Leonor que não a obrigasse a servir o tal freguês.
Leonor tentou acalmá-la.
Prometeu a ela, que iria servir um cliente de fino trato. Disse-lhe que se tratava de um jovem belo, rico e fascinado por belas mulheres.
E assim, se fez.
Deodoro, o jovem mancebo, admirado por muitas mulheres, assíduo freqüentador da casa, encantou-se com a beleza da jovem.
Leonor, encarregou-se de ressaltar ainda mais a beleza da moça, com um rico vestido, anáguas, bordados coloridos. Para compor o visual cândido, cabelos presos por tranças, poucas e delicadas jóias, e um lenço de cambraia.
O moço ao ver a moça tão singelamente trajada, em contraste com os exuberantes vestidos, e com modos quase tímidos, a caminhar pelo salão como se não estivesse ali, ficou encantado.
Leonor, ao perceber o interesse do ilustre freqüentador, providenciou logo a aproximação de ambos.
Carina, tímida, tentou se desvencilhar do encontro, mas Leonor exigiu que ela conversasse com o moço. Argumentou que ela tinha a opção de não trabalhar na casa e viver na miséria, morando nas ruas e podendo ser abusada por qualquer homem que a visse só e abandonada; ou então, abrir mãos de certos escrúpulos e cuidar para viver poucos anos naquele ambiente, e depois construir uma vida convencional em qualquer lugar distante daquelas paragens.
Ao ouvir estas palavras de advertência, a moça engoliu em seco, e enchendo-se de coragem, foi se apresentar ao moço.
Deodoro, gentil, atencioso, conversou com a moça como se conversasse com alguém que conhecesse há muito tempo.
O moço contou-lhe sobre suas brincadeiras de criança, de como adorava atormentar sua irmã.
Tentando chamar a atenção da moça, o rapaz disse-lhe que parecia conhecê-la de algum lugar.
Foi o primeiro cliente de Carina.
Orientada por Leonor, a moça levou o jovem para sua alcova.
Momento difícil, no qual foi auxiliada pelo cliente.
Com o tempo, a moça conseguiu conquistar bons clientes da casa.
Violeta e outras moças por sua vez, ficaram indignadas.
Reclamaram com Madame Leonor, que Carina estava lhes tirando clientes.
No que a cafetina argumentou que os fregueses preferiam a jovem. Tentando amenizar os ânimos, comentou que Carina era novidade e que com o tempo, as coisas iriam se normalizar.
O tempo passou, e o frisson pela moça não diminuiu.
Carina continuou angariando bons clientes.
Também passou a sofrer ameaças.
Quando Leonor adentrou seu quarto para conversar sobre as ameaças que vinha sofrendo, Carina já vivia há alguns anos no lugar.
A mulher comentou que Carina se tornou uma mulher refinada, de gosto requintado. Disse-lhe que dali há alguns poucos anos, poderia abandonar aquela vida e se esquecer de tudo.
Todavia, dizendo-lhe que não estava em condições de abandonar tudo, repetiu o discurso que dissera quando Carina titubeou em se apresentar ao seu primeiro cliente. Comentou que estava em suas mãos, garantir um futuro tranqüilo e sem sobressaltos; ou viver o restante de sua vida de forma obscura e na miséria. Argumentou que ela já havia ido muito longe para desistir de tudo de uma hora para outra. Disse-lhe que compreendia sua aflição, mas que isto não deveria afastá-la de seu objetivo.
Segurando suas mãos, Leonor falou-lhe que ela fora o seu melhor projeto, e que era seu maior orgulho. Argumentou que ela era uma verdadeira ladie. Discreta, refinada, bonita, inteligente. Ressalvou que ela teria um futuro brilhante. Argumentou que ela poderia ser ainda maior que Domitila de Castro.
A moça porém, ameaçada por um freguês raivoso, estava com medo.
Dona Leonor não fez por menos.
Salientou que o ensandecido, não teria mais coragem de aproximar e importuná-la. Argumentou que possuía meios para afastar clientes inoportunos.
Carina por sua vez, depois da longa conversa, concordou em se apresentar, ainda aquela noite.
Com isto, a jovem prosseguiu sua rotina.
Encontros amorosos a noite, e durante o dia, alguns passeios pela cidade.
O fato de ser alvo de olhares constantes, a incomodava.
Leonor a ensinou a ignorar os olhares cobiçosos e invejosos de uns e outros.
Dizia que nenhum ser humano seria capaz de agradar a todos.
Carina conversava com os clientes, recitava trechos de poesias. Lia obras em francês.
Leonor, pessoa instruída que era, ensinou-a a ler, escrever, bordar, costurar, tocar piano, falar francês.
Carina era a mais refinada cortesã do estabelecimento.
Em um sarau organizado por Madame Leonor, a moça mostrou seus dotes artísticos, entoando uma modinha.
Também dançou com freqüentadores da casa.
Violeta e as demais cortesãs da casa, ficavam enciumadas. Diziam que ela iria roubar todos os freqüentadores da casa para ela.
Leonor, quando ouvia os comentários, recomendava que as moças fossem passear pelo salão.
Quando Carina tocou piano, as moças aproveitaram para dançar com os clientes.
Leonor recitou alguns poemas.
Nisto, um dos freqüentadores pediu a palavra, e recitou um belo poema de Álvares de Azevedo.
Foi aplaudido entusiasticamente.
Mais tarde, Carina recolheu-se ao quarto com um freguês.
Quando saía da casa, devidamente acompanhada por Leonor e outras meninas, a jovem chamava a atenção de todos.
Muitos passantes paravam para admirar o bonito préstito de mulheres seguindo pelas ruas da capital da província.
Alguns homens, tiravam o chapéu para as bonitas mulheres.
E até mesmo Leonor, do alto de seus cinqüenta anos, atraía a admiração de alguns freqüentadores da casa.
Muitos galantes lhe diziam que era uma mulher belíssima. Com a pele de um pêssego e o frescor e a vivacidade de uma jovem moçoila.
Madame Leonor soube fazer bom uso de sua beleza, amealhou fortuna. Diziam suas pupilas, as cortesãs, de sua famosa casa – sempre festiva e alegre.
Leonor fazia questão de decorar a casa com mastros e bandeiras durante o tempo das festividades juninas. Adorava os saberes populares.
Para suas meninas, providenciou roupas confeccionadas com estampas florais.
Já para Carina, sempre Carina – como reclamavam as outras moças – Leonor providenciou um vestido branco, todo ornado de fitas coloridas.
Violeta chegou a argumentar que o vestido de Carina era mais belo que o seu.
Leonor ao ouvir isto, repreendeu-a seriamente.
A certa altura, chegou a mencionar que estava cansada das críticas de Violeta. Mencionou que nunca estabeleceu preferências. Ressaltou ainda, que Carina sempre mostrou mais interesse em aprender suas lições.
Depois da conversa tensa com Leonor, Violeta ameaçou Carina, dizendo-lhe que ela iria se arrepender de havê-la humilhado. Disse que estava cansada de ser eternamente comparada com ela, a queridinha de Madame Leonor, a princesinha do castelo.
Como Carina não gostasse da ironia, Violeta ressaltou que era desta forma que ela era conhecida na cidade. Contou que todos os clientes que freqüentava a casa da madame diziam que ela era amorosa como poucas mulheres, e que diante de todos se portava como uma grande dama.
Irritada, Violeta dizia que antes dela aparecer, ela era a preferida da madame, e que nenhuma das meninas da casa se comparavam a ela. Acusou Carina de ser a usurpadora de seu posto de preferida dos clientes.
Como Carina ouvisse as acusações calada, Violeta continuou a instigar a moça, que por sua vez, não aceitou as provocações.
E assim, deixou Violeta a vociferar, indo recolher-se em seu quarto.
Por fim, Violeta gritou furibunda, que ela iria se arrepender de fazer pouco caso de suas ameaças.
Com isto, Carina foi amealhando fortuna – dinheiro, jóias e bens, deixados por clientes fascinados. Também amealhou amores.
Por diversas vezes, recebeu proposta para abandonar a casa de Madame Leonor e viver como amante de ricos senhores.
Certa vez, recebeu proposta de casamento.
Educadamente, recusou a gentileza da oferta, dizendo que não poderia casar-se com tão distinto cavalheiro, posto que já se encontrava comprometida com uma vida que não era apropriada a uma moça que estava disposta a casar-se. Firme, disse que não havia retorno para ela, e que por mais que gostasse da gentil proposta, não poderia casar-se com ele e comprometê-lo para sempre com seu passado. Argumentou que desta forma, estaria destruindo a vida de alguém, não seria feliz.
Por último, finalizou argumentando que por mais que parecesse contraditório, ali possuía a proteção de Madame Leonor, com a qual não poderia mais contar quando saísse dali. Comentou que não seria aceita por nenhum dos amigos, familiares e conhecidos do rapaz, e que com o tempo, o amor, seria substituído pela vergonha.
O jovem, desapontado, tentou argumentar, mas Leonor aparteando, disse que Carina não poderia se casar com ele, em razão de uma série de convenções sociais. Reiterou os argumentos da jovem, salientando que ele não estava em condições de enfrentar a família para sustentá-la.
Relatou que em pouco tempo, a jovem teria que trabalhar para sustentar a família.
Ao ouvir isto, o moço protestou. Alegou que ela jamais trabalharia fora.
Leonor então, argumentou que Carina não poderia aceitar a proposta.
Deixou o moço entender que a moça já tinha um protetor, e que se ele se intrometesse na relação de Carina e o tal homem, poderia ter problemas.
O jovem, temeroso, deu-se por vencido.
Desistiu da proposta de casamento.
Contudo, passou a seguir a moça por algum tempo, até desistir de assediar Carina.
Carina costumava dar esmola as pedintes, e adjutórios aos necessitados.
Violeta e as outras meninas, ao notarem o costume da moça, de reservar parte do dinheiro que recebia dos clientes, para esmolas, a criticaram. Diziam-lhe que estava louca em reservar tão elevada quantia para esta finalidade.
Violeta respondeu-lhe que ela poderia utilizar valores módicos para tal intento.
Carina sorria dizendo que sabia o que estava fazendo.
Com isto, quando os necessitados recebiam as esmolas, agradeciam-na efusivamente.
Em outubro, Leonor, Carina e as meninas, organizavam uma festa para os garotos pobres da região.
Festa esta em que os meninos comiam regaladamente.
Carina gostava de conversar com os meninos, saber com era sua vida...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO I

O cortejo acompanha o caixão em passadas lentas e muitas orações.
São pessoas simples que acompanharam os últimos passos da jovem, que outrora cortesã, tornou-se segundo eles, mulher de bem.
Carina era uma jovem bela, de longos cabelos e olhar doce.
Com sua voz suave, cativava a todos.
Como cortesã, encantou a muitos homens, ocasionando a fúria de esposas e moças casadoiras.
Elegantemente trajada, perfumada, bem penteada, discreta.
Sempre impressionava a todos com sua elegância.
A mulher, acompanhada de uma senhora mais velha, de nome Leonor, saía para fazer compras nas ruas de comércio da cidade. Também compravam víveres, aves, alimentos.
O leite era entregue na porta do estabelecimento da cafetina.
A fama do bordel era tamanha, que extrapolava os limites da cidade.
Os homens ficavam encantados com a beleza da moça.
Contudo, não ousavam se aproximar. Diziam que Carina parecia uma pintura de tão bela.
Algumas mulheres, também observavam as duas mulheres ricamente adornadas, cheias de donaires e de jóias.
Muitas admiravam o talhe e a elegância de Carina. Comentavam entre si, que muitas mulheres de fino trato não eram portadoras de tão belos e delicados modos.
Outras mulheres por sua vez, retrucavam dizendo que aquilo era bobagem. Que nenhuma mulher de estirpe, ficaria em desvantagem em relação a duas marafonas.
Os moleques pobres do lugar, gostavam das gorjetas que Leonor lhes dava para carregarem sacolas.
Também gostavam das sobras de comida oferecidas por Carina.
Diziam a moça, que sua bondade a fazia se parecer com uma santa.
Desta forma, a jovem seguia com sua triste vida.
A noite, era sorridente e solícita para os homens que podiam pagar uma pequena fortuna para tê-la nos braços.
Muitos se apaixonaram por sua beleza, seus modos gentis. Confundiram sua gentileza com afeto.
Com relação a estes amantes insistentes, Leonor se encarregou de afugentá-los.
Mandava os homens embora.
Como esporadicamente apareciam estes inconvenientes apaixonados, a mulher ameaçava denunciá-los a suas famílias e até a surrá-los, se voltassem a importunar sua mais valiosa pupila.
A certa altura, ao se depararem com os escravos bem vestidos, altos e alinhados, os amantes se afastavam.
Até que se cansarem de serem rechaçados.
Um deles chegou a ameaçar a moça. Disse-lhe que iria se vingar.
Argumentou que nenhuma mulher o havia rejeitado, e que não seria Carina quem abriria precedentes. Jurou vingança.
Ao ouvir as imprecações do moço, Leonor recomendou a Carina que se acautelasse.
Por algum tempo, a moça ficou temerosa. Evitava sair do bordel.
Temia se deparar com o moço.
Leonor, ao perceber o retraimento da jovem, que chegou até a pedir para não trabalhar, resolveu conversar com ela.
Carina, permanecia trancada em seu quarto.
Quando Leonor foi conversar com ela, a moça observava a janela, observava a rua através da gelosia.
Ao vê-la tão absorta, a cafetina chamou-a docemente.
Carina, entretida que estava em seus pensamentos, assustou-se.
A mulher, ao perceber que a moça se assustou, pediu desculpas. Contudo, insistiu para conversar.
Carina tentou argumentar dizendo que precisava ficar algum tempo sozinha, mas Leonor interrompeu-a dizendo que precisavam conversar ... e muito.
Tentando tranqüilizá-la, a mulher argumentou que ela não precisava esconder-lhe nada.
Recordou-se do tempo em que a recolheu em sua casa, quando a moça não tinha a quem recorrer, tampouco para onde ir. Comentou que Carina parecia um bicho acuado.
Assustada e maltratada, ainda assim, deixava entrever a beleza nascente, o encanto de mulher que se tornaria com o passar dos anos.
Leonor atenciosa, dedicou toda sua atenção e cuidados, àquela menina de cerca de treze anos, que segurava uma colher, desconhecendo outros talheres, como faca, garfo.
A cafetina, ensinou-lhe tudo o que sabia.
Boas maneiras, a maneira de cumprimentar os fregueses, a segurar os talheres, a segurar os copos, de se portar. Ensinou-lhe também a ler, e estimulou a moça a ler Machado de Assis, Joaquim Manoel de Macedo, Victor Hugo, entre outros autores da época.
Dizia a moça que ela deveria seduzir os homens, não apenas com sua beleza, mas também sua inteligência e cultura. Argumentava que estes eram os maiores capitais que ela poderia almejar, posto que se tratava de uma riqueza que ninguém poderia lhe tomar, ao contrário de quaisquer bens materiais, porventura alcançados. Ressalvava porém, que nem por isto, deveria recusar bons presentes, dinheiro, jóias, propriedades.
Argumentava que a beleza era um dom efêmero, e que ela deveria amealhar um patrimônio. Assegurar uma velhice tranqüila.
Rindo, dizia que Carina devia achá-la louca, por aconselhá-la a pensar em uma eventual velhice.
Sorrindo ainda, completava dizendo que o tempo lhe mostraria que estava correta.
Carina tentava entender aquelas palavras.
Inicialmente auxiliava nos serviços domésticos.
Auxiliava a preparar as refeições, a lavar a louça, cuidava das roupas das cortesãs que trabalhavam na casa.
Cautelosa, Leonor evitava que a menina adentrasse o salão, no horário de funcionamento do estabelecimento.
E assim, Carina ficava a fazer faxina.
Por ciúmes, algumas cortesãs diziam que a menina era protegida de Madame Leonor.
Com o tempo, a moça foi percebendo qual era o trabalho das meninas.
A certa altura, mais crescida, Leonor providenciou-lhe vestidos bonitos, perfumes. Passou a sugerir que ela circulasse pelo salão.
Carina, por sua vez, se recusava.
Leonor paciente, dizia que ela decidiria o momento em que iria começar a trabalhar. Contudo, sugeriu-lhe que não se demorasse nesta decisão, ou ela não poderia mais contar com sua proteção.
As outras meninas, ao tomarem conhecimento deste fato, começaram a provocá-la dizendo que ela era a queridinha de Madame Leonor.
Enciumadas, hostilizavam Carina, dizendo que desde que ela chegara a casa, só tivera privilégios.
Leonor, ao tomar conhecimento deste fato, repreendeu as moças. Argumentou que todas elas tiveram oportunidade de aprendizagem, e que se prepararam para a nova vida.
Violeta, ao ouvir isto, retrucou dizendo que Carina estava ali há anos.
No que a mulher respondeu que todas tiveram o tempo que precisaram para desabrocharem. Carina também tivera seu tempo.
E assim, ainda que contrariada, a moça passou a circular pelo salão.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 40

Roberta, perseverou em seu intento de cuidar de Leonardo.
Ajudava-o a caminhar por seu apartamento, lembrava-lhe dos remédios a serem tomados.
Por conta das lesões, o moço fora afastado de seu trabalho.
Roberta não descuidava dos cuidados com Leonardo.
Contudo, a certa altura, a moça começou a sentir saudades de André.
O moço por sua vez, passou a procurá-la. Não aceitava e não compreendia o fato de Roberta havê-lo deixado.
Em certa ocasião, encontrou a moça conduzindo Leonardo pela Praça da República.
Enquanto o rapaz permanecia sentado em um canto, André chamou-a para uma conversa.
Implorou para que voltassem. Contou que sentira sua falta e que não entendia a separação. Argumentou que o que Roberta sentia era piedade.
A moça por sua vez, respondeu que gostava do marido.
André, ao ouvir a palavra gostar, mencionou que gostar não era amar.
Roberta tentou desconversar, mas o moço não aceitou suas desculpas.
Contudo, como a mulher insistisse para que fosse embora, André ficou desolado.
Afastou-se.
Mohamed, depois de algumas semanas, aportou no Brasil, acompanhado de sua avó Samira.
Josie, ao ver o grupo, perguntou de Fabrício.
Mohamed comentou que ele chegaria mais tarde.
Nisto a moça convidou o rapaz e a senhora para passearem pela cidade de São Paulo.
Josie caminhou com eles pela Avenida Paulista, mostrou-lhes o Parque Trianon, o MASP.
Em outro passeio, visitaram o centro velho, o Vale do Anhagabaú, o Teatro Municipal, o Páteo do Colégio, o Solar da Marquesa de Santos, o Prédio do Banespa.
Samira admirou-se com os decotes das mulheres.
A muçulmana, usando túnica e véu, também chamou a atenção dos passantes.
Sua aparência se afigurava exótica na paisagem paulistana.
Com efeito, o grupo que seguiu Mohamed e Samira, ficaram hospedados no mesmo hotel.
Josie propôs hospedagem para o rapaz e a senhora, mas ele recusou a proposta.
Disse que não ficava bem, ficar hospedado na casa dela.
A moça aceitou a posição do jovem.
Dias depois, Mohamed, acompanhando a moça em um jantar, ofereceu um exuberante anel de brilhantes.
Josie e Mohamed, comeram um medalhão ao molho madeira.
Bebericaram um vinho tinto.
Após a refeiçao, o muçulmano pediu a jovem em casamento.
Josie, ao ver a jóia em seu dedo, sentiu um arrepio.
Sua expressão era de apreensão.
Mohamed, percebendo a tensão da moça, perguntou-lhe se estava bem.
Josie perguntou-lhe se havia realmente necessidade de se casarem.
O jovem muçulmano espantou-se com a pergunta. Indagou se ela não gostaria de casar-se com ele.
Mohamed respondeu que estava seguindo os ritos de sua cultura.
Josie respondeu-lhe que noivados lhe traziam más recordações. Comentou que já havia passado uma situação semelhante, sem final feliz.
Mohamed notando que a jovem falava de seu antigo namorado, salientou que ele não estava nem um pouco interessado em morrer.
Brincando, disse que precisou esperar muito tempo para encontrar uma pessoa especial, para se separar dela.
Josie aborreceu-se com a brincadeira.
Respondeu magoada que Olavo não planejou sua morte, e que ela chegava sem aviso.
O moço então, tentando consolar a moça, comentou que entendia sua preocupação e que podia imaginar seu sofrimento. E, dizendo que estava enciumado, aconselhou-a a não pensar mais nisto.
Segurando suas mãos, disse que estava tentando fazer as coisas da forma como entendia serem corretas.
Prometeu que o casamento seria um evento especial, e que ela seria muito feliz ao seu lado.
Com isto, insistiu para que ela aceitasse o enlace.
Josie concordou.
Quando Samira soube da novidade, parabenizou o neto.
Mais tarde, ele e Samira, acompanharam Josie em um almoço.
Samira, desacostumada com os hábitos alimentares ocidentais, estranhou bastante a culinária brasileira.
Josie comentou que sentiu o mesmo estranhamento com os pratos árabes. A despeito de os acharem deliciosos.
Dias mais tarde, Fabrício chegou ao Brasil.
Visitou a moça.
Mohamed foi buscá-lo no aeroporto.
Com efeito, ao rever Josie, Fabrício foi informado que a moça estava noiva de Mohamed.
Samira por sua vez, comentou que precisavam fazer uma festa para celebrar o noivado.
Fabrício respondeu que aquela circunstância o fazia se recordar de seu casamento com Cecília.
Ao ouvir o nome, Josie respondeu novamente que este era o mesmo nome de sua avó.
Curioso, o homem comentou que ela já havia falado de uma parente com este nome. Perguntou-lhe se realmente não sabia detalhes sobre a mulher.
Josie respondeu que não sabia nada sobre ela. Nem sabia ao certo se Cecília seria de fato sua avó, ou teria outro grau de parentesco.
Fabrício perguntou-lhe se sabia a origem da mulher.
Josie respondeu que ela era uruguaia, já que seus pais, eram naturais daquele país.
Fabrício ao ouvir a palavra uruguaia, ficou surpreso. Por um momento pensou que estava diante de uma familiar.
Trêmulo, perguntou a moça, seu sobrenome.
Jose respondeu que era Andrade Camargo.
Emocionado, Fabrício perguntou-lhe seu nome completo.
Estranhando a pergunta, ainda assim, a moça respondeu que chamava-se Maria Josefa Andrade Camargo.
Fabrício indagou sobre o nome de seus pais.
- Carolina Andrade Camargo e Heitor Dias Camargo. Uruguaios, se conheceram no país. Casaram-se e mudaram-se para o Brasil.
Fabrício ficou perplexo.
Comentou que durante anos, gastara dinheiro com detetives, ávidos por descobrir o paradeiro da única filha que tivera com Cecília.
Explicou-lhe que sua filha Carolina, casou-se com um moço de nome Heitor, de idéias revolucionárias e mudou-se com o marido para outro país. Rumaram para o Brasil.
Fabrício relatou que descobriu que o casal se estabeleceu no país, depois do moço se envolver com questões políticas no Uruguai. O homem comentou que Heitor, começou a ser visado por suas opiniões políticas, bastante conhecidas.
No Brasil, perdera o contato com a moça. Disse que precisou vender sua propriedade no Uruguai, e que depois da mudança do casal para o país, nunca mais tivera contato com eles. Mencionou que a esposa se ressentiu do fato, e que morrera sem conseguir rever a filha.
Ao proferir estas últimas palavras, o homem ficou visivelmente emocionado.
Mohamed ao perceber isto, abraçou o amigo.
Samira providenciou um copo com água.
Com isto, mais calmo, Fabrício retomou a conversa.
Samira recomendou que deixasse o assunto para mais tarde.
Fabrício contudo, insistiu para continuar.
Josie perguntou então, se fazia muito tempo que Cecília falecera.
O homem respondeu que já fazia quase dez anos.
Curioso, perguntou a jovem sobre Carolina e Heitor.
Josie por sua vez, respondeu emocionada, que eles haviam falecido a cerca de quatro anos.
Ao ouvir isto, homem caiu em prantos.
A moça por sua vez, percebendo a tristeza do homem, sentiu correr lágrimas de seus olhos.
Samira, percebendo que Fabrício e Josie precisavam ficar a sós, pediu licença, e acompanhada de Mohamed, retirou-se da sala.
Nisto o homem comentou que sempre que descobria alguma pista sobre o casal, Carolina e Heitor mudavam de endereço. Argumentou que neste meio tempo, descobriu que o casal teve uma filha, mas não sabia o seu nome.
Josie comentou que eles sofreram um acidente de carro. Triste, comentou que Olavo falecera de forma muito semelhante aos pais.
Fabrício ao ouvir as palavras da moça, disse:
- Pobre moça! Tão sozinha no mundo. Mas agora você não está mais sozinha! Você vai ser feliz ao lado de seu jovem árabe, como eu fui ao lado de Cecília.
Ao ouvir isto, o semblante de Josie se iluminou.
Nisto Fabrício comentou que mesmo ao perder o contato com a filha, não deixou de viver momentos felizes ao lado da esposa.
Comentou que a moça fora casada com seu irmão mais velho, já falecido, e de nome Pedro. Mencionou que do primeiro casamento de Cecília havia Eli e Francisco. Casados, pais de filhos adultos já casados, e avós.
Curiosa, Josie perguntou-lhe por que saiu do Uruguai.
Fabrício contou-lhe então que rumara para o país com Cecília, para poder se casar com a moça, já que no Brasil não havia divórcio. Casaram-se na Argentina e viveram no Uruguai. O homem contou ainda, que precisou se afastar da família para poder viver com a moça.
Explicou que sua mãe entendeu que ele agia daquela forma movido pelo amor que sentia pela mulher. Seu pai, porém, nunca aceitou a união.
Fabrício comentou pesaroso, não conseguiu se despedir dos pais. Morreram sem que ele tivesse tempo para uma última despedida.
Dias depois, Josie acompanhou Fabrício até o cemitério.
O homem mostrou a moça os jazigos das famílias Camargo e Andrade.
Fabrício falou-lhe sobre a mãe, Angélica; sobre sua avó, Ângela.
Contou a moça sobre a história da família.
Josie, ao término da visitação ao cemitério, comentou que já havia passado por aquelas quadras, sem nunca imaginar que aquelas pessoas ali enterradas, poderiam ser seus parentes.
Fabrício brincou com a moça, dizendo-lhe que o passado batia a sua porta.
Josie achou graça.
Contou-lhe que Cecília no Uruguai, recebeu visita dos pais Eleanor e Irineu. Que eles, com o tempo, acabaram aceitando a nova família, e a filha do casal, Carolina.
Fabrício lamentou-se por não haver conhecido a neta a mais tempo.
Josie por sua vez, mostrou-lhe o túmulo de seus pais.
Mais tarde, a moça mostrou-lhe fotos dos pais. Do casamento.
Fabrício ao ver as fotos, falou a moça que também fora fotografado no casamento. E assim, indicou para Josie onde estava, e quem era Cecília.
A jovem ficou encantada ao conhecer, ainda que pelas fotos, a imagem de sua avó.
Fabrício comentou que nesta época, ela devia ter uns cinqüenta anos. Era final dos anos setentas.
Fabrício indicou onde seus tios Eli e Francisco estavam.
Irineu e Eleanor também compareceram ao casamento da neta.
Foi uma tarde de rememorações, de lembranças.
Josie ouvia a tudo encantada.
Conheceu a história da bisavó Angélica e de suas desventuras amorosas.
Descobriu pela boca de Fabrício, que Carlos tinha ciúmes do primeiro namorado de Angélica, um tal de Herculano. Fabrício lhe contou que os primeiros tempos de casada não foram fáceis.
Carlos era um homem extremamente possessivo.
Josie, ao ouvir os relatos de brigas do casal, ficou espantada.
Admirou-se em saber pelo que as mulheres passavam.
Fabrício comentou ainda, que apesar das dificuldades de início, Angélica foi feliz com Carlos.
Durante a noite, com a cabeça repleta das imagens que construíra para um passado que desconhecia, a moça sonhou.
Sonhou com Cecília e seu avô Fabrício.
Por um instante, teve a sensação de tê-los diante de si.
Viu-se diante de uma luxuosa mansão em um lugar que desconhecia.
Na noite seguinte, sonhou com Angélica. A moça parecia se preparar para encontrar-se com um pretendente.
No momento a seguir, a jovem, vestida como uma melindrosa, estava conversando com um rapaz, no qual parecia muito interessada.
Em seguida surgiu um outro rapaz, nervoso, ávido por explicações.
Quando Josie comentou os sonhos com Fabrício, o homem pediu-lhe detalhes dos sonhos.
A moça respondeu então, a cada pergunta do avô.
Fabrício por sua vez, ao ouvir as respostas, ficou tomado de espanto.
Isto por que, Josie explicava com detalhes a decoração da casa em que ele vivera no Uruguai, detalhes da mansão em que Angélica morou antes de se casar com Carlos.
Josie parecia segura em explicar os detalhes.
Fabrício curioso, perguntou-lhe se Carolina havia lhe contado detalhes de como era a mansão no Uruguai.
A moça respondeu-lhe então, que sua mãe evitava falar de seu passado. Razão pela qual não conhecia a história de seus ancestrais. Contudo, às vezes, aparentemente tomada pela saudade, a mulher comentava que morou numa bela casa no Uruguai.
No entanto, não revelava detalhes.
Mohamed também ficou impressionado com o detalhe das respostas da moça. Respondeu que aquela precisão com que mencionava os detalhes decorativos, era típica de quem havia habitado aquelas moradas.
Fabrício surpreendeu-se com as palavras do amigo.
Mohamed respondeu-lhe que os antigos egípcios acreditavam que havia outra vida depois da morte.
Fabrício argumentou que aquilo o muçulmano lhe dissera, mais parecia doutrina sobre a reencarnação, do que uma teoria sobre a vida eterna.
Ao ouvir isto, Mohamed perguntou-lhe se acreditava em reencarnação.
Fabrício respondeu-lhe que não acreditava em religião.
Ao ouvir isto, Mohamed respondeu:
- Isto vai mal. Isto vai mal.
Samira perguntou a moça se já havia sonhado com aqueles lugares antes.
Josie respondeu que não.
Com isto, a jovem continuou a sonhar com pessoas, lugares e propriedades que não conhecia.
Aflita com estes sonhos, a moça resolveu se submeter a uma terapia.
Não sob protestos de Mohamed e Fabrício, os quais consideravam aquilo tudo uma bobagem.
Josie porém, argumentou que nos últimos tempos não vinha conseguindo dormir direito em virtude daqueles sonhos, os quais, após os relatos de Fabrício, se tornaram recorrentes.
E assim, a moça se submeteu a terapia.
Durante a sessão, a moça se viu jovenzinha, sonhadora, admiradora de filmes mudos e de seus astros.
Se viu encantada com os filmes de Rodolfo Valentino, Theda Bara, Douglas Fairbanks, entre outros.
Percebeu que possuía uma predileção especial por Valentino.
Possuía duas amigas, de nome Lúcia e Cláudia.
Na cena seguinte, se viu conversando com o mesmo moço com quem sonhara.
Ao perceber isto, Josie ficou perplexa.
Descobriu que o nome do rapaz era Herculano.
Constatou que fora muito apaixonada pelo rapaz, mas ele a abandonara.
O terapeuta perguntou-lhe o porquê da separação.
Josie explicou-lhe que via Herculano, um rapaz de nome Carlos e seu pai - Francelino.
Contou ao terapeuta que via seu pai e Carlos tomando satisfações com o moço. Relatou que Carlos deu uns safanões em Herculano, que saiu correndo.
Mencionou que nunca mais tornaram a se ver.
Josie relatou que se chamava Angélica, e que sofrera muito com o sumiço de Herculano.
Raivosa, teve dificuldades em aceitar Carlos como seu noivo, e posteriormente como seu marido.
O terapeuta lhe fez mais algumas perguntas.
Josie respondeu que demorou, mas acabou aceitando Carlos como marido.
Disse-lhe que aprendeu a amá-lo.
Enquanto as imagens se apresentavam como um filme, Josie comentou que se lamentava da ausência de seu filho Fabrício, e que Pedro havia optado por viver uma vida dissoluta. Contou chorando que Pedro morrera sozinho, e que nunca mais viu Fabrício. Argumentou que Carlos era muito duro com o filho.
Mencionou o recebimento de cartas de Fabrício, as quais recebia longe dos olhos de Carlos, relatando que se entendera com Cecília. Que casaram-se. Ficou feliz ao saber que o casal tivera uma filha. A qual lamentavelmente, não pode conhecer.
Com isto, ao dizer que a moça chamava-se Carolina, foi despertada pelo terapeuta.
Ao despertar, Josie ficou surpresa.
Perplexa, perguntou ao terapeuta se fora avó de sua mãe.
O homem respondeu-lhe que a vida era um ir e vir sucessivo, e que as águas de um rio, não permaneciam estagnadas.
Argumentou que o mundo é devir, é movimento, mudança.
Razão pela qual, em uma encarnação, alguém que fora pai, avô, bisavô, trisavô de outrem, poderia perfeitamente retornar como filho, neto, desta pessoa.
Percebendo a incredulidade da moça, o terapeuta disse-lhe para que refletisse sobre a sessão.
Mencionou que o tempo lhe daria as respostas que faltavam e que veria tudo se encaixar perfeitamente, como se fora um jogo de quebra-cabeça.
Com isto, o homem perguntou a Josie, por que se interessara em realizar sessões da terapia.
A moça repetiu-lhe a história dos sonhos recorrentes.
O terapeuta respondeu-lhe isto, ela havia lhe dito no começo da sessão.
Josie, ao ouvir tais palavras, ficou pensativa.
Depois de algum tempo, respondeu que gostaria de entender seu passado. Revelou que fizera as sessões mais por curiosidade, do que por qualquer outro motivo. Relatou que gostaria de saber mais sobre sua família.
Perplexa, relatou que não esperava descobrir que fora uma dessas pessoas.
O terapeuta elogiou-lhe a coragem.
Josie respondeu-lhe que não era um ato de coragem e sim uma questão de entendimento.
Nisto a moça despediu-se do terapeuta.
Conversou tempos depois com Fabrício, a respeito da terapia.
Josie comentou que precisou realizar cinco sessões para finalmente conseguir ver algo.
Relatou que depois de uma certa insistência, conseguiu descobrir e entender algumas coisas.
Fabrício perguntou-lhe sobre a sessão, mas Josie respondeu que ainda não poderia lhe contar detalhes da mesma.
O homem entendeu.
Mais tarde, ao submeter-se a uma nova sessão, Josie reviu-se criança, adolescente e adulta.
Reviu-se feliz ao lado de Olavo.
Reviu cenas vividas ao lado do moço.
Recordações que lhe faziam sorrir.
Em dado momento, relembrou-se do falecimento do rapaz.
Viu o carro do moço.
Desesperou-se.
O terapeuta, ao ver a jovem em prantos, pediu para que se recordasse das semanas seguintes.
Josie recordou-se do tempo de luto, da tristeza, do rompante que tivera, pedindo ao chefe para viajar a trabalho para o Egito.
A partir daí, relembrou-se do encontro com Fabrício, a relação conflituosa com Mohamed, a amizade com Samira.
Josie, envolvida em recordações, comentou com o terapeuta, que relembrar-se daquelas imagens, a faziam se recordar do passado.
O terapeuta, percebendo o estado de confusão da moça, pediu para que ela se recordasse de tudo com calma.
Josie então, tentando concatenar suas idéias, disse que o comportamento gentil de Olavo, a faziam se recordar das maneiras românticas de Herculano.
Pensando um pouco mais, veio a sua mente, a idéia de que Mohamed era bastante parecido com Carlos.
O terapeuta então, perguntou-lhe o porquê daquela associação.
Josie, em seu transe, comentou sentir que havia um plano para tudo o que acontecera em sua vida, e que a vinda de Olavo e Mohamed, não foram aleatórias.
Confusa, Josie não conseguia detalhar mais a situação.
Circunstância que fez com o terapeuta, pedisse auxílio do mentor da jovem.
Nisto, ao término da sessão, o homem disse-lhe para que despertasse.
Josie, ao despertar, olhou espantada para o terapeuta.
O homem perguntando-lhe se ela se lembrava do que havia acontecido, fez com que Josie se atentasse aos detalhes da sessão. Explicou-lhe que havia de fato um plano em sua vida, e que a chegada dos dois homens, faziam parte de um plano maior, de resgate de dívidas pretéritas.
Josie ouvia a tudo atentamente.
O terapeuta, explicou-lhe conforme o que dissera o mentor, Josie havia se envolvido com os homens em outra encarnação, e em outra circunstância.
Herculano, por haver lhe abandonado, precisou passar pela experiência de perdê-la para outro rapaz, que em outra encarnação, foi seu marido, Carlos.
Carlos por sua vez, encarnado como Mohamed, agressivo, tentando aprender a domar seu temperamento irascível.
Josie neste momento, perguntou ao terapeuta por que Olavo havia morrido de forma tão violenta.
O homem respondeu que também tratava-se de um resgate de um débito não só com Josie, mas todas as outras pessoas que magoou, e com um rapaz, de quem acidentalmente tirou a vida, em um acidente de carro, em circunstâncias semelhantes.
Josie argumentou que ela também sofreu com a separação.
Ao ouvir isto, o terapeuta sorriu. Argumentou que sem o afeto sincero, Olavo não teria o conhecimento do que era ser amado, e também amar. Era necessário o encontro. Mencionou que não cabia questionamento dos planos criados do alto, mas que existe a possibilidade de escolha.
Contudo, aquilo que nos é destinado, é endereçado para nós, e fugindo da prova, haverá necessidade de novamente passar pela mesma experiência, prolongando o sofrimento.
Nisto, o homem perguntou-lhe se estava bem.
Josie balançou a cabeça afirmativamente.
O terapeuta, falou-lhe que estava liberada das sessões.
Mencionou que estava satisfeito com os resultados. Relatou que ela tivera o raro privilégio de retornar ao passado e fazer as pazes com ele, com vistas a construir novas bases para o futuro. Recomendou-lhe que não se lamentasse do passado que tivera, nem nesta, nem em qualquer outra vida. Relatou que tudo faz parte de um longo processo de aprendizagem a que todos estão submetidos. Não há como escapar.
Disse-lhe que sabia da tristeza da moça por haver perdido os pais de maneira inesperada, e que Olavo estava bem.
O homem respondeu que seu mentor revelara que em uma nova vinda a Terra, Josie retornaria em melhores condições, se atendesse aos reclamos de evolução e aprimoramento, aprendendo a se conciliar com Mohamed, e ensinando-lhe a ver a vida de forma menos radical.
Falou-lhe que teria a oportunidade de neste momento, conviver com os seus, e resgatar bonitas histórias de seu passado.
Argumentou que o passado, faz parte de nossas vidas, assim como o presente, e os planos que fazemos para o futuro.
Josie agradeceu o homem, que por fim, liberou-a.
Disse que não havia necessidade de retornar mais.
Mais tarde, conversando com Fabrício, a moça contou-lhe detalhes das sessões.
Relatou a angústia por não obtido êxito nas primeiras sessões.
Contou-lhe os progressos sentidos nas sessões seguintes.
Relatou que após os insucessos sucessivos, o terapeuta recomendou-lhe que não ficasse tão ansiosa com a terapia. Que pensasse em coisas diferentes, que procurasse ficar tranqüila.
Josie comentou que recordou-se da história que Fabrício lhe contou sobre Cecília, de sua música preferida.
A moça contou que nestes momentos, se recordou da música e começou a ouvi-la em seu coração. Relatou que a canção nunca mais seria esquecida por ela.
Fabrício, ao ouvir as delicadas palavras proferidas por Josie, ficou visivelmente emocionado.
Com o passar do tempo, Mohamed disse-lhe que estava há muito tempo longe de sua casa, e que precisava retornar ao país, para administrar seus negócios.
Conversando com a moça, perguntou-lhe sobre o casamento.
Josie respondeu que havia voltado a trabalhar com Medeiros, e que não poderia deixar o emprego de um momento para outro.
Mohamed, um pouco contrariado, procurou entender.
Josie então, explicou-lhe que pretendia continuar trabalhando, mas sabia que precisaria fazê-lo em outro país.
Mohamed concordou em esperar que a moça pedisse demissão ao homem, que se despedisse de suas amigas. Enfim, que regularizasse sua situação para retornar ao Egito.
Disse-lhe que ela poderia providenciar tudo o que precisasse com calma. Pediu apenas para que não demorasse muito.
Nisto, o moço retornou ao Egito, com sua avó, Samira.
Enquanto isto, a certa altura, Roberta decidiu ter uma conversa definitiva com Leonardo.
Dizendo-lhe que estava cansada de agüentar suas ofensas, respondeu-lhe que estava tentando se desculpar por todo o mal que lhe causara. Argumentou que não tivera a intenção de ofendê-lo, e que só não comunicou sobre sua relação com André, por que não conseguia se comunicar com ele.
Falou-lhe que era uma pessoa impulsiva, mas que ele também não era uma pessoa fácil.
Leonardo retrucou dizendo que um casamento não era composto apenas de momentos felizes.
Roberta concordou.
- De fato, a coisa que eu menos venho tendo nos últimos meses, são momentos felizes! Lamento dizer, mas ultimamente, só tenho tido aborrecimentos.
Leonardo, ao ouvir isto, ficou chocado.
Argumentou não haver pedido para que ela cuidasse dele.
Roberta concordou. Respondeu-lhe que de fato, havia ficado todo este tempo cuidando dele, sacrificando inclusive seu emprego, posto que havia pedido licença, por sua própria iniciativa.
Retrucou porém, que estava de fato cansada.
Leonardo por sua vez, disse-lhe que ela estava sempre enfastiada, e que agora seria muito cômodo, abandoná-lo, como já fizera uma vez.
Roberta, ao ouvir estas palavras, ficou furiosa.
Mencionou que nunca o abandonou, e que quem havia saído bruscamente de sua vida, arriscando-se inclusive a morrer para cobrir uma guerra estúpida, não fora ela.
Ressalvou que assim, como não o abandonara da primeira vez, não o faria desta.
Contudo, não estava mais disposta a continuar casada com ele.
Com isto, dirigiu-se a um dos quartos e começou a arrumar seus pertences. Retirou do armário: roupas, sapatos, acessórios, produtos de beleza, etc.
Leonardo, que caminhava com dificuldade e que havia sofrido séria perda de visão, foi até o quarto onde a moça estava.
Ao perceber que a moça arrumava suas malas, perguntou-lhe se iria mesmo embora.
Roberta respondeu afirmativamente.
Leonardo, percebendo isto, perguntou a ela, quem chamaria para auxiliá-lo.
Roberta respondeu que ele não precisaria se preocupar, pois teria uma enfermeira para auxiliá-lo.
O rapaz, ao ouvir isto, tentou segurar no braço da moça. Aflito, pediu para que ela não fosse embora.
Roberta, ao ver o moço diante de si, convalescente, penalizou-se.
Por um momento vacilou.
Mas, recordando-se das palavras de Josie, encheu-se de coragem e respondeu:
- Lamento! Mas não posso permanecer aqui. Nossa convivência não é boa. Só vivemos amargurados um com o outro. Isto não é bom para mim, e tampouco para você, que precisa de paz para se recuperar... Me desculpe por isto. Desculpe-me por tudo o que você acha que eu fiz de errado. Mas eu acredito que se possuía algum débito com você, todos estes meses em que passei a seu lado, procurando de todo o coração ajudá-lo, me redimiram das minhas faltas. Se não de todas, ao menos de grande parte delas.
Nisto a moça beijou o rosto do homem.
Disse-lhe que gostava muito dele e que ele era alguém por quem tinha muita admiração e ótimas lembranças. Afirmou que nunca se esqueceria dele.
Antes de sair do apartamento, falou-lhe que gostaria muito de ser sua amiga, mas entenderia se ele nunca mais quisesse vê-la.
E assim, Roberta, deixou Leonardo sozinho no apartamento.
Cuidadosa, contratou os serviços de uma enfermeira. Informou-lhe tudo o que precisava fazer.
Mas Leonardo preferia a companhia de uma pessoa amiga.
Contudo, como Roberta não estava mais disposta a conviver com sua amargura.
E assim, Leonardo teve que aceitar os cuidados de uma enfermeira.
Tempos depois, já caminhando sem o auxílio de uma muleta, o jovem foi adaptado a função de redator. Continuou a sua atividade jornalista produzindo editoriais, mas não pode mais realizar reportagens externas.
Com o tempo, passou a ter uma vida independente.
Vivia sozinho.
Tempos depois, acabou arrumando uma namorada.
Roberta por sua vez, foi ao encontro de André, e desculpando-se, explicou ao moço que precisava ajudar Leonardo, ou não conseguiria viver em paz.
André, aceitou suas desculpas.
Mas disse-lhe que não inventasse mais nenhum motivo para se afastar dele.
Roberta sorriu e abraçou-o.
Tempos depois, casaram-se.
Já divorciada de Leonardo, a moça casou-se com André.
Leonardo, acompanhado de sua namorada, acompanhou o casamento da ex-mulher.
Para surpresa de todos, chegou até a cumprimentá-la.
Conversando a sós com a moça, desejou-lhe muitas felicidades.
Cumprimentou o noivo também.
Quando Josie soube do casamento e de que Roberta havia se acertado com Leonardo, ficou deveras contente.
Com efeito, quando a moça retornou ao Egito, Mohamed a aguardava ansioso.
Aflito, reclamou de sua demora para retornar ao país.
Josie por sua vez, antes de retornar ao Egito, acompanhou Fabrício em sua viagem ao Uruguai.
Lá, o homem mostrou a mansão onde viveu ao lado de Cecília durante os primeiros anos de casados.
Rumando para a capital do país, Fabrício mostrou a moça a casa onde viveu parte de seus anos de casados.
O homem apresentou a jovem aos filhos de criação, Eli e Francisco.
Emocionado, Fabrício disse-lhe que eram seus filhos de coração.
Contou aos moços que Josie era filha da irmã deles. De Carolina.
Os homens, ao saberem disto, perguntaram da irmã.
Nisto, quando souberam que ela e o marido faleceram anos antes, Eli e Francisco se lamentaram.
Disseram que não tiveram nenhuma chance de se despedirem da moça.
Por fim, a dupla se despediu da família e rumou para a África.
Durante a viagem, o homem respondeu que realizou um testamento, deixando parte de seus bens para Josie.
A moça, ao ouvir isto, respondeu que não estava interessada em seu patrimônio.
Fabrício por sua vez, protestou.
Argumentou que deixaria parte dos bens para ela, concordando ou não. Comentou que Eli e Francisco não ficariam desamparados, posto que haviam recebido a herança da mãe, e que também receberiam metade de sua herança.
Argumentou que não aceitaria recusas.
Completou dizendo que estava velho, e que não havia mais tempo para fazer cerimônias.
Razão pela qual estava realizando tudo o que tinha vontade, em seus últimos anos.
Relatou que não gostaria de deixar nada pela metade, e tampouco partir com a sensação de que poderia ter feito mais.
Mais tarde, ao chegar no aeroporto, e ao vê-la saindo pelo portão de saída, Mohamed abraçou-a e levou-a para casa.
Ao chegar em sua casa, a moça foi recebida por Samira, e pela criadagem.
Samara felicitou-a pelo noivado.
Com isto, Samira organizou um almoço especial, em comemoração ao futuro casamento do neto.
Com isto, foi formalizado o katb al-kitab - o contrato formal do casamento -, quando então Josie recebeu o shabka – presente – de Mohamed.
Presente este, consistente em muitas jóias em ouro e diamantes.
O moço, ao presentear-lhe com as jóias, comentou que eram o seu dote.
Argumentou que como não poderia discutir o valor do dote com os pais da moça, conversou com sua avó e chegou ao consenso de Josie deveria receber a maior quantidade de jóias possível.
Com isto, argumentou que tudo o que oferecia era pouco para ela, mas que aos poucos ela iria aumentar a quantidade de jóias que iria ter.
Mohamed comentou que as mulheres podiam ser muito pobres, mas estavam sempre ornamentadas de jóias, as quais funcionavam como uma espécie de seguro, em caso de necessidade.
Nessa ocasião, foi oficializado o noivado, com a leitura da fatihah, capítulo de abertura do Corão.
Mohamed, que já era dono do imóvel em que morava, perguntou a Josie, se ela gostaria de modificar algum detalhe da decoração.
O moço, ao ver a moça constrangida, comentou que ela poderia colocar uma poltrona, ou qualquer móvel ocidental, que achasse necessário. Disse que se a moça quisesse, poderia modificar toda a decoração da casa.
Brincando, disse que a família da mulher, competia cuidar destes detalhes.
Em seguida, Samira se ocupou dos preparativos da festa.
Samira escolheu os doces e os enfeites que iriam guarnecer as mesas, e encher os olhos dos convidados.
Mohamed providenciou uma carruagem para transportar a moça.
Quando finalmente chegou o dia do casamento, Josie, usando um longo vestido branco e um bonito véu repleto de pedrarias, foi conduzida a um carro todo ornamentado de flores variadas e fitas coloridas.
A festividade começou com uma procissão na rua, denominada saffa, na qual são utilizados tambores, tamboris e trompetes, produzindo uma música com muito ritmo e energia.
Josie por sua vez, achou tudo muito curioso.
Samira durante as semanas que antecederam o casamento, explicou-lhe os costumes e detalhes das cerimônias de casamento no Egito. Disse-lhe que estava ingressando em um outro mundo, diferente do que estava acostumada.
Nisto, as mulheres passaram a emitir um grito característico, o zagharit, como um trinado.
Som que se obtém ao se agitar rapidamente a língua.
Em seguida, a frente da procissão, vieram músicos e dançarinos, vestidos com roupas brancas e vermelhas.
As damas de honra, em número de doze, vestiam-se com roupas brancas e carregavam candelabros adornados com fitas e flores.
Marcharam ao lado dos noivos, seis de cada lado.
Ademais, uma menina ricamente vestida, à frente da zaffa, jogou pétalas de rosas vermelhas sobre os noivos.
Fizeram um pequeno percurso a pé, até o local da recepção.
Lá, o casal trocou cumprimentos com os convidados, que os felicitaram pelo matrimônio, para em seguida, se dirigirem à kosha.
A kosha, não é nada mais, nada menos, do que uma poltrona prateada com grinaldas de flores, no alto de uma plataforma, utilizada para uma melhor vista do salão e dos convidados.
Josie, ao lado de Mohamed, apreciaram a elegância do salão, as danças, e a cantoria.
Músicos utilizaram-se do al oud, de sonoridade exótica para uma Josie, que aos poucos, parecia se acostumar com as melodias.
Josie acompanhou uma apresentação de dança do ventre.
Usufruíram de um rico salão e de muitas comidas típicas da região.
Samira orientou os empregados na elaboração do cardápio.
Cuidou dos detalhes de um imenso bolo de casamento.
A festa durou três dias, e a cada dia, Josie trocou o vestido.
Fabrício, ao ver a moça se preparando para o matrimônio, desejou-lhe toda a felicidade do mundo. Comentou que fazia votos para que ela fosse tão feliz em seu casamento, quanto ele o fora no dele.
Josie prometeu que faria o possível para fazer daquela união, um momento feliz em sua vida.
Abraçou o homem que admirava, e chamou-o de avô.
Com isto, após a recepção, os noivos passaram juntos a lailat al-dokla - a primeira noite -, em um hotel do Egito.
Mohamed explicou a moça, que era de mau agouro passar a primeira noite na mesma casa que foi dos pais.
Com isto, devidamente orientada por Samira, Josie presenteou o então marido, com um bonito pijama de seda, e ela recebeu mais uma peça de jóia do moço.
Josie, ciente dos costumes egípcios, confidenciou ao moço, que ele não poderia esperar dela, o mesmo padrão de comportamento das mulheres egípcias. Argumentou que não nascera no país, e que portanto não tinha obrigação de seguir aquela cultura.
Mohamed, ao perceber o que a jovem estava tentando lhe dizer, comentou que ao escolhe-la como esposa, sabia que estaria abrindo mão de uma série de preceitos inerentes a sua cultura.
Com efeito, num raro gesto de compreensão e brandura, o homem respondeu que assim como ela, não era uma pessoa desprovida de esclarecimento e sabia que não poderia exigir dela, o mesmo que seria exigido de uma noiva egípcia.
Mohamed por fim, disse-lhe para que não se preocupasse com nada.
Com isto, tomou a moça nos braços. Beijou-a.
Depois, olhando-a nos olhos, disse-lhe que não se importava com o passado da moça, pois estava preocupado com o futuro que tinham a sua frente.
Respondeu que os homens que passaram por sua vida, viveram o seu passado, e que ele viveria o futuro com ela.
Lucineide e Roberta, acompanhada de André, acompanharam o casamento.
Josie antes de se casar, sonhou com Olavo dizendo-lhe que fosse feliz.
Impressionada com o sonho, Josie relatou o fato as amigas.
Fabrício também tomou conhecimento da história.
Receoso, orientou Josie a não comentar o sonho com Mohamed. Argumentou que ele poderia não entender.
Josie prometeu que não falaria sobre Olavo na presença de Mohamed.
E assim, o casal foi feliz, durante o breve instante das felicidades momentâneas, mas freqüentes.
Tiveram seus momentos de alegria, outros de tristeza.
Sofreram perdas como a de Fabrício, e de Samira.
Mas também construíram juntos uma família.
Sara e Ester, se tornaram as jóias preciosas de Josie, que sempre ganhava algum presente do marido.
Samira e Fabrício por sua vez, tiveram tempo de conhecer as crianças, antes de falecerem.
Josie passou a trabalhar para um jornal egípcio. Fazia matérias sobre comportamento.
De vez em quando retornava ao Brasil, onde revia os amigos, como Medeiros.
Um dia, visitou a vinícola pertencente a família de Olavo.
Mostrou ao casal Otaviano e Vilma, as filhas e seu marido, um egípcio de nome Mohamed.
Vilma por sua vez, contou-lhe que Otávio vinha tocando a vinícola e estava casado.
Um pouco consolada, comentou que já tinha netos.
Mencionou que os meninos eram a luz de sua vida.
Emocionada, comentou que um deles lembrava muito o jeito de Olavo, e que se não fossem aquelas crianças, já não veria mais sentido na vida.
Josie comovida abraçou-a.
Disse-lhe que Olavo estava bem, que não tinha nenhuma dúvida disto.
Mais tarde, Josie e sua família despediram-se do casal.
A mulher, comentou que agora vivia no Egito e quando podia, retornava ao Brasil.
Vilma por sua vez, disse-lhe que gostaria de continuar a ter contato com a moça.
Josie deixou-lhe então seu email e telefone.
Mais tarde, Josie e sua família seguiram para o Uruguai.
Lá, a moça reviu seus tios Eli e Francisco, além de seus primos.
Juntos, choraram a morte de Fabrício, que ao falecer, teve o corpo trasladado para o Uruguai.
Nesta época, Josie também foi ao Brasil visitar o túmulo dos pais, e das famílias Andrade e Camargo.
Comovida com os relatos de Fabrício, a moça resolveu o homenagear o avô escrevendo um livro de memórias.
Com o auxílio dos tios, e do restante da família que conviveu com Fabrício, Josie escreveu um livro.
Cuidadosa, também procurou amigos de seus pais – Carolina e Heitor.
Pesquisou em jornais e biblioteca sobre as famílias Andrade e Camargo.
Quando tornou público o fato, comentou que era um livro sobre a memória de sua família e de algumas pessoas que foram importantes em sua vida.
Conversando com Mohamed, comentou que em todos os jardins haviam flores e espinhos, pedras e barro.
Disse que alguns lugares as flores ficam a poucos centímetros do chão, mas que em outras circunstâncias, se erguem altaneiras em buscar de um melhor abrigo e sem medo de se exporem, procuram um lugar mais alto para exibir todo o seu esplendor.
Conversando com Fabrício e com Samira, tempos antes deles falecerem, Josie comentou com eles a respeito da vida.
Samira comentou que na natureza, se encontravam muitas alegorias para fatos da vida.
Josie concordou.
Nisto, ao ver uma bonita flor desabrochando do alto de uma enorme planta, resolveu intitular seu livro de memórias, com um título que lhe recordava o fato.
FIM.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 39

Dias depois, Mohamed, acompanhado de sua avó Samira e de Fabrício, levou Josie para conhecer as praias de algumas cidades da região.
Josie, vestiu um maiô ocidental, aconselhada por Fabrício, que recomendou-lhe que não usasse biquíni ou qualquer roupa de praia que pudesse chocar os demais freqüentadores.
Disse que Samira a estaria acompanhado-os, e que os egípcios são muito conservadores.
Com isto, a moça ficou procurando uma roupa de praia que pudesse usar.
Quando Mohamed a viu de maiô e saída de praia, perguntou-lhe se não poderia usar algo mais discreto.
Argumentou que vestida daquela forma, todos ficariam olhando para ela.
Josie retrucou dizendo que não havia nada de mais em sua roupa. Argumentou que todas as ocidentais se vestiam daquela forma.
Samira tentando acalmar os ânimos, disse que a moça estava muito elegante com seu maiô.
Gentil, convidou-a para sentar-se ao seu lado.
Josie por sua vez, comentou que gostaria de entrar um pouco na água.
Com efeito, algumas pessoas ficaram observando Josie com sua roupa de praia.
Mohamed começou a ficar incomodado.
Mais tarde, Josie entrou na água.
Mergulhou, nadou.
Ao sair do mar, convidou Samira para entrar um pouco na água.
A mulher concordou. Ficou alguns minutos no mar.
Samira usava uma túnica longa, até o calcanhar, conhecida como galabeyia.
Fabrício usava um calção de praia, e Mohamed uma sunga.
Ao sair da água, a senhora sentou-se em uma toalha estendida na areia.
Josie se deparou com muitas mulheres egípcias vestidas com aquele traje.
Durante o passeio, o grupo conheceu um casal de estrangeiros.
A mulher aparentava cerca de quarenta anos.
De beleza exuberante, freqüentou a praia de biquíni, atraindo os olhares admirados dos egípcios.
O lugar era Ain Sukhna, perto de Suez, na região do Mar Vermelho.
O marido, um rico empresário egípcio.
A certa altura, o moço convidou Josie para um mergulho.
Mohamed começou a jogar água na moça.
Josie procurou fazer o mesmo.
Samira ao avistá-los dentro d’água se divertindo, percebeu que tudo estava encaminhado.
Comentou com Fabrício, que aquele encontro já estava escrito.
O homem achou graça no determinismo que estava embutido nas palavras da mulher.
Samira, percebendo um certo desdém de Fabrício, respondeu que o tempo se encarregaria de mostrar a todos como aquele encontro já estava fadado a ocorrer.
Mais tarde, em El-Alamein, Mohamed mostrou a moça a beleza do balneário.
Passeando por Alexandria, o moço mostrou ao grupo, os monumentos existentes no lugar.
Constataram que o país é extremamente populoso e que a região possuí um imenso sistema de irrigação.
Visitaram museus e mesquitas, de beleza única na região.
O castelo de Qait Bay, fica na Ilha de Faros, abriga um pequeno museu naval e possuí canhões apontando para o Mediterrâneo.
Passearam pelas dependências do Palácio de Muntazah.
Mohamed explicou que se tratava da moradia de verão de governantes egípcios.
Josie se encantou com o verde profundo das águas do Mediterrâneo.
Em suas andanças o grupo passeou pelas pirâmides de Gizé.
Passeando por Sharm El-Sheikh, o grupo conseguiu ter um pouco mais de sossego e Josie pode finalmente usar um biquíni.
Mohamed ao vê-la em meio as estrangeiras que por ali estavam, notou o contraste da cor morena da moça, e a brancura das européias.
Enquanto Samira e Fabrício conversavam sobre seus passeios na praias, e as diferenças de costumes entre brasileiros e árabes.
Mohamed acompanhou Josie em mais um banho de mar.
Nadaram juntos, mergulharam. Jogaram água um no outro.
Em dado momento, a moça disse que iria nadar por mais algum tempo.
Josie, começou a nadar.
Avançou mar adentro.
Mohamed, ao ver a moça se distanciando da praia, começou a se preocupar.
O moço, incomodado, chegou a comentar com sua avó, que Josie estava se afastando demais.
Empolgada, a jovem só se deu conta que estava muito longe da praia quando começou a sentir cansaço.
Josie começou a nadar em direção a praia.
Nadou, nadou, nadou.
Em dado momento, sentiu que não tinham mais forças para continuar nadando.
Neste momento, Mohamed se aproximou da moça e a ajudou a voltar para a praia.
Preocupada com a moça, Samira perguntou-lhe se estava tudo bem.
Mohamed recomendou que a esteira, o guarda-sol, e a cesta com comes e bebes, fossem guardados.
Disse que iriam voltar ao hotel.
Com isto, o jovem acompanhou Josie até seu quarto.
Recomendou que ela descansasse.
A moça resolveu descansar.
Mais tarde, Fabrício e Samira, combinados entre si, resolveram fazer com que o casal se encontrasse a sós.
Samira conversou com Mohamed, sugerindo que eles jantassem em um restaurante da cidade.
Fabrício fez o mesmo com Josie.
Depois, dizendo que estavam cansados, a dupla optou por permanecer no hotel. Comentaram que iriam pedir algo para ser servido no quarto.
E assim, Josie e Mohamed encontraram-se no saguão do restaurante.
A moça usava um vestido vermelho tomara-que-caia de cumprimento médio.
Mohamed ao vê-la, convidou-a para jantar.
Matemáticos, Samira e Fabrício combinaram inclusive o horário em que a dupla iria se encontrar no restaurante.
Josie, titubeou.
O jovem árabe respondeu que não aceitava recusa.
Josie então concordou. Chegou a sorrir.
Com isto, Mohamed puxou a cadeira para a moça sentar.
O garçom apresentou o cardápio ao casal.
Mohamed, percebendo que a moça ainda se atrapalhava com o nome dos pratos, sugeriu o cardápio.
Josie aceitou a sugestão.
Como bebida, sugeriu um vinho francês.
Nisto, o garçom afastou-se.
Mohamed, tentando encontrar assunto para conversar com a moça, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Josie respondeu que sim. Que fora apenas um susto.
Brincando, Mohamed falou-lhe que ultimamente ela vinha lhe dando muitos sustos. Disse que ela precisava se cuidar.
Josie respondeu que se cuidaria.
Mohamed disse que ela precisava estar bem para regressar ao Brasil.
Com isto, perguntou-lhe se a matéria sobre o Egito estava pronta. Disse que gostaria de ler a matéria quando fosse publicada.
Ao ouvir isto, Josie comentou que ele falava muito bem em português. Admirada, perguntou se ele também lia em português.
Mohamed respondeu que lia um pouco. Comentou que vivera no Brasil. Trabalhara no país. Mencionou que conhecia um pouco da cidade de São Paulo.
Josie pediu-lhe então para que devolvesse o seu celular.
Mohamed prometeu-lhe que depois do jantar iria até seu quarto e o devolveria. Em seguida pediu a moça que contasse o que o achou do país.
Josie respondeu que o Egito possuía uma cultura fascinante, com um passado impressionante. Argumentou que era um país de contrastes como o Brasil, e que infelizmente como em seu pais, havia muita pobreza, muita miséria, muita corrupção a ser combatida.
Mohamed perguntou-lhe sobre o machismo dos homens.
Josie por sua vez, respondeu que não estava realizando uma matéria sobre antropologia e sim sobre viagem, história e cultura.
O muçulmano, conversando com a moça, disse que os egípcios são muito tradicionalistas. Comentou que as mulheres são tratadas como princesas, como flores frágeis, que precisam ser cuidadas.
Tentando se justificar, o moço respondeu que só agira de maneira intempestiva, por que acreditou que estava no caminho certo.
Olhando-a nos olhos, disse-lhe porém, que não se arrependera de nada do que fizera. Argumentou que se fosse para ficar um pouquinho mais ao lado dela, faria tudo de novo.
Josie ficou perplexa.
Incomodada, a jovem ameaçou se levantar.
Mohamed, segurando sua mão, impediu-a.
Alegando que ainda não havia terminado de expor seu ponto de vista, argumentou que não proferira aquelas palavras para ofendê-la, e sim por que precisava expor o que pensava.
Confessou que fora ele quem tentara comprá-la de Fabrício.
Comentou que ao vê-los juntos, acreditou que se tratava de um parente seu.
Josie respondeu que conhecera Fabrício no Egito.
Mohamed relatou que eles era tão íntimos que pareciam se conhecer há muito tempo.
Josie, ao ouvir as palavras do moço, comentou que sentira uma sensação de familiaridade muito grande ao conhecer o homem. Sentiu nele um avô que nunca teve.
Mohamed sorriu. Relatou que chegou a sentir ciúmes do homem.
Josie achou graça.
O jovem árabe, ao vê-la rindo, comentou que não achava aquilo nada engraçado. Brincando, respondeu que iria tomar satisfações com o homem.
A jovem então, respondeu que Fabrício era um homem de bem.
Mohamed retrucou que também o era.
Disse que Josie não se apercebera disto, por que ela só conheceu seu lado mais determinado. Argumentou que era homem capaz de um gesto de gentileza.
Diante disto, o homem retirou um dos anéis que usava de seu dedo e o ofereceu a moça. Pediu para que ela o utilizasse em sinal de paz.
Josie tentou recusar, mas Mohamed respondeu-lhe que se o fizesse, tomaria isto como uma ofensa. Disse que quando alguém lhe oferecesse um presente, deveria aceitá-lo.
Desta forma, a moça aceitou o presente.
Mohamed pediu para que a jovem estendesse sua mão.
Colocou o anel em um dos dedos da moça.
Josie, ao ver o anel em seu dedo, agradeceu ao presente.
Mohamed respondeu-lhe que aquele anel fora um presente de seu pai, antes de falecer.
A moça, ao ouvir isto, perguntou-lhe se não seria melhor ele ficar com o anel.
Mohamed disse que o objeto tinha uma história.
De um homem vivera no deserto e que decidira se estabelecer no Cairo, onde acumulou vasta fortuna, a qual legara ao filho, que se encarregou de aumentá-la.
O moço comentou que ele escolhera a mulher com quem se casaria.
Relatou então, que o homem, ao ver a mulher caminhando pelas ruas da cidade, decidiu que ela seria sua esposa. Moveu muitos mundos para tanto. Arrebatou a moça, de sua casa, levando-a para viver consigo.
Durante algum tempo, viveram no deserto. Mais tarde, o homem se entendeu com a família da moça e voltou a viver no Cairo.
Mohamed mencionou que o entendimento abriu a possibilidade da família da moça se aproximar da família de seu pai.
Comentou que não fosse isto, ele não poderia ter convivido com sua avó, Samira, mãe de sua mãe.
Josie, ao ouvir o relato, comentou que não conhecera nenhum de seus avós. Mencionou que se eles estivessem vivos, deveriam estar vivendo em algum lugar do Uruguai.
Mohamed perguntou-lhe se ela não tinha vontade de conhecê-los.
Josie respondeu que sim.
O moço, segurando sua mão, disse-lhe que poderiam tentar descobrir juntos, onde eles poderiam estar.
A jovem, argumentou que seria necessária uma investigação. Ademais, quem saberia mais detalhes sobre eles, eram seus pais. Mas eles já haviam falecido há alguns anos.
Curioso, Mohamed perguntou-lhe se não sabiam os nomes de seus avós.
Josie declinou o nome de sua avó materna, Cecília. Quanto ao avô, não se recordava o nome.
A moça respondeu que provavelmente já haviam morrido.
Mohamed gentil, segurou-lhe a mão e disse que ela não precisava se sentir só. Comentou que se ela assim o quisesse, poderia ganhar uma avó, já que de coração Samira o era.
Josie, olhando-o de lado, sorriu.
Mohamed olhou-a com olhos ternos e perguntou-lhe se não gostaria de passar mais alguns dias no país.
Nisto, foi servido o prato escolhido pelo moço.
Iguaria a base de peixes.
Jantaram.
Degustaram uma boa sobremesa.
Om´ali (finas folhas de massa cozida banhadas em leite muito açucarado e misturadas com coco e pistache) e Konafa (uma espécie de massa de pistache, avelãs e nozes, envolta em aletria e mel).
Por fim, o moço contou uma singela piada envolvendo Deus e a criação do Líbano.
Lugar onde foi criado tudo o que poderia de mais belo haver no mundo. Até que alguém questionou tantas maravilhas em um só lugar.
No que Deus argumentou que ele questionava o fato, por que não sabia o povinho que ele colocaria no lugar.
Josie riu. Comentou que era muita maldade dizer aquilo dos libaneses.
Mohamed comentou que enquanto viveu no Brasil conheceu muitos libaneses e sírios.
Notou que quando os brasileiros queriam desprestigiar os muçulmanos, chamavam-nos de turcos.
Josie contou que não era agradável ser taxado por uma coisa que não era.
Mohamed concordou.
Argumentou que os libaneses não gostam da comparação.
Mais tarde, o casal seguiu juntos para o quarto de hotel.
Nisto, o muçulmano pediu a um de seus empregados para buscarem o celular da moça.
E assim, ao receber o celular das mãos de Mohamed, a moça agradeceu.
Segurando o celular, observou o anel que o moço lhe dera.
Josie respondeu que era muito bonito.
Mohamed, distraído, não compreendeu. Razão pela qual a moça repetiu o elogio.
Brincando, o moço respondeu que havia entendido outra coisa.
Mencionou que um por um momento acreditou que ela estava se referindo a ele.
Josie achou graça.
O homem, tomado de um ímpeto, segurou a moça e a beijou.
Samira e Fabrício, que conversavam animadamente num dos quartos do hotel, despediu-se da senhora.
Desta forma, ao abrir a porta para sair da sala da suíte, deparou-se com a cena.
Josie e Mohamed estava se beijando.
O homem, desculpando-se com a mulher, respondeu que precisava esperar um pouco para sair da suíte.
Samira, não compreendeu.
Com isto, dirigiu-se ao corredor. Deparou-se com a cena e compreendeu a reação do amigo.
Juntos se encantaram ao ver o casal unido.
Samira comentou que era um gesto de amor.
Nisto, ao terminar o beijo, Mohamed aguardou uma reação defensiva da moça.
Josie porém, não parecia retraída.
Mohamed, ao perceber isto, perguntou-lhe se não gostaria mesmo de ficar mais alguns dias no Egito. Sugeriu que ela entrasse em contato com seu chefe no Brasil. Comentou que poderia dizer que se demorara mais por que havia muito o que conhecer no país. Sua riqueza, sua cultura.
Perguntou-lhe se não poderia tirar uma licença em seu trabalho.
Josie comentou rindo, que nem sabia se ainda possuía um emprego.
Mohamed, sentindo-se culpado, respondeu que se precisasse, ele mesmo conversaria com seu chefe.
A moça respondeu que não era necessário.
Nisto, o moço perguntou-lhe o que significava o beijo.
Josie respondeu que não sabia.
Mohamed retrucou:
- Como assim? Será que vocês ocidentais são tão modernas que saem por aí beijando por beijar, sem nenhuma expectativa?
Josie argumentou dizendo que não era bem assim. Respondeu que não era tão moderna assim.
Mohamed perguntou-lhe então, se estavam namorando.
Com isto, segurou as mãos da moça, e começou a dizer-lhe que era descendente de uma família de beduínos, que possuía uma boa situação financeira, poderia proporcionar uma ótima situação. Comentou que ela poderia concluir seu trabalho. Argumentou que não se oporia se ela optasse por continuar trabalhando.
Mohamed respondeu que aquilo não era um entrave para ele.
Josie se surpreendeu.
- Sério?
Mohamed respondeu-lhe que a conheceu livre e independente, e que isto fora o que mais o impressionara. Comentou que não poderia aprisionar um pássaro na gaiola, pois a ave perderia seu encanto.
Tocando no rosto da jovem, Mohamed disse-lhe que ela era este lindo pássaro.
Josie sorriu.
Nisto o homem beijou-a novamente.
Ao término do beijo, Mohamed segurou Josie novamente nos braços. Beijou-a mais uma vez.
Por fim, perguntou-lhe se estavam namorando.
Josie balançou a cabeça afirmativamente.
Mohamed perguntou-lhe se poderia se considerar seu namorado.
Josie respondeu que sim.
Beijaram-se novamente.
A certa altura, Samira, Fabrício e dois empregados saíram da suíte e aplaudiram o casal.
Mohamed e Josie acharam graça.
No dia seguinte, a moça contatou Medeiros.
Explicou-lhe que não entrara em contato em razão de problemas de saúde que a fizeram ficar acamada por várias semanas. Argumentou que quando estava melhorando, adoeceu novamente. Explicou que fora acolhida por uma família egípcia, que conheceu, e aprendeu a admirar.
Desculpando-se, perguntou-lhe se ainda tinha interesse pela matéria sobre o Egito.
Durante a conversa, Medeiros explicou a moça, que diante de seu sumiço, contatou o consulado do Egito no Brasil, vindo a descobrir que houve um seqüestro na região das pirâmides. Comentou aflito, que pensou que ela estivesse envolvida no evento, tendo em vista o seu sumiço.
Medeiros ressaltou que todos ficaram preocupados. Mencionou que Lucineide tentou vários contatos em seu celular.
Com isto, Josie pediu desculpas pela ausência.
Mais tarde, Josie contatou Lucineide.
Desculpou-se pela demora para entrar em contato.
Lucineide chamou-lhe a atenção. Comentou que Roberta, estava cuidando de Leonardo.
Mencionou que o moço estava em São Paulo, se recuperando de seus ferimentos sofridos. Contou que Leonardo já estava caminhando, mas seus olhos estavam lesionados e havia perdido parte de sua visão.
Josie ficou penalizada.
Nisto a moça completou o relato, dizendo que Roberta havia se afastado de André.
Dizendo que precisava se entender com Leonardo, pediu-lhe um tempo para repensar a relação. Argumentou que se realmente tivessem que ficar juntos, a vida se encarregaria de reaproximá-los.
Lucineide comentou que André ao ser informado da decisão de Roberta, ficou arrasado.
A moça recordou-se que o rapaz, ao retornar ao Brasil, ficou cercando a ex-namorada por semanas, até se convencer que Roberta não voltaria atrás.
Com isto, André retomou seu trabalho. Afastou-se da moça.
Lucineide por sua vez, perguntou-lhe estava melhor.
Josie respondeu que sim.
A amiga, comentou que Vilma entrara em contato com ela e informou que Otávio iria se casar.
Desta forma, Lucineide salientou que Vilma parecia mais conformada.
Josie falou-lhe que se sentia melhor ao saber disto.
Ao perceber o tom da frase, Lucineide comentou que sentia que ela estava mais leve. Relatou que a viagem para o Egito parecia ter lhe feito muito bem.
Josie respondeu que sim.
Não deixou de mencionar que Olavo fora muito especial em sua vida, e que ás vezes sonhava com ele. Disse-lhe que os sonhos lhe davam conforto.
Com um sorriso na voz, mencionou que as coisas estavam melhorando.
Lucineide ficou curiosa.
Josie por sua vez, respondeu que assim que colocasse os pés no Brasil, contaria todas as suas peripécias.
Lucineide respondeu que aguardaria ansiosa por seu retorno.
Nisto, despediram-se.
Josie e Mohamed passearam juntos.
Semanas depois, a moça retornou ao Brasil.
Ao voltar para seu apartamento, percebeu que tudo havia sido muito bem cuidado por sua amiga Lucineide.
Ao rever a amiga, contou-lhe tudo o que havia ocorrido no Egito. Sua intenção de elaborar uma matéria sobre o país e todas as peripécias pelas quais passou.
Relatou o encontro acidentado e a relação conflituosa que viveu com Mohamed, o seqüestro...
Josie comentou que durante o período em que passou no cativeiro, pensou diversas vezes em tudo o que vivenciara, suas relações afetivas, seus amigos, seus pais, Olavo, seus namoricos. Por diversas vezes, acreditou que não viveria para contar os fatos.
Lucineide, abraçou-a.
Mais tarde as moças visitaram Roberta, a qual não se descuidava de Leonardo.
Conversando, a jovem comentou com as moças, que a convivência não era fácil, e que o moço, ao descobrir que era ela quem cuidava dele, ficou tomado de fúria. Por diversas vezes exigiu que ela fizesse suas malas e partisse.
Argumentava que preferia ficar sozinho, a ter que passar pela humilhação de ter que ser tratado pela mulher que o enganou.
Roberta porém, ignorava os impropérios e continuava a cuidar do seu ainda, esposo.
Recordou-se do encontro com André. Das últimas palavras que dissera ao rapaz.
Confessou, ao ser indagada pelas moças, que ainda sentia saudades do moço.
Josie, ao perceber que Roberta ainda gostava de André, recomendou-lhe que se acertasse com o rapaz. Argumentou que para tentar consertar uma situação mal resolvida com Leonardo, ela havia criado um impasse entre ela e André.
Disse-lhe que não poderia deixar pela vida afora, um rastro de situações mal resolvidas.
Roberta, ao ouvir as palavras da moça, concordou.
Josie por sua vez, insistiu para a amiga continuasse cuidando de Leonardo se considerava que este era o melhor a ser feito, mas que deveria deixar claro para o moço, que aquele não era um retorno a relação de casados. Recomendou-lhe que conversasse com André, e se entendesse com o moço.
Por fim, Josie recomendou-lhe boa sorte.
As amigas, ao saírem do apartamento de Roberta, comentaram sobre a conversa que tiveram com a moça.
Lucineide, observando a amiga, comentou com Josie que os tempos no Egito, operaram uma grande transformação em seu modo de ver as coisas.
Josie respondeu-lhe que o Egito, e a perda de Olavo, a fizeram enxergar que a vida é muito curta e que não espera as nossas resoluções para se modificar. Ou estamos prontos para as mudanças, ou seremos atropelados pelos acontecimentos.
Acrescentou que se Roberta não resolvesse as coisas com aqueles dois homens, arrastaria aquela indefinição para outros setores de sua vida. Argumentou que a vida de Roberta ficaria emperrada.
Ao ouvir isto, Lucineide comentou que Josie estava parecendo uma daquelas madames que sabem o passado, o presente e o futuro de suas clientes.
A moça, ao ouvir as palavras proferidas em tom de gozação, respondeu que isto era elementar, e que não era necessário ser guru, para saber que questões mal resolvidas não resultavam em boa coisa.
Lucineide então, passou a achá-la enigmática.
Com isto, as jovens seguiram para casa.
No dia seguinte, Josie conversou com Medeiros.
Mostrou-lhe o material pronto.
Preocupado, o homem perguntou-lhe o porquê do sumiço.
Josie teve então que explicar que ficara doente e todas as peripécias pelas quais passara no Egito. Relatou inclusive, o seqüestro sofrido.
Atônito, ao tomar conhecimento de todos os acontecimentos vividos pela moça nos últimos meses, perguntou-lhe se estava bem.
Josie respondeu que sim.
Nisto a moça perguntou-lhe se ainda tinha interesse no material.
Medeiros respondeu que sim. Informou-lhe também para que comparecesse na redação nos próximos dias. Argumentou que não poderia perder uma das profissionais mais competentes que tinha.
Josie sorriu e respondeu que estaria de volta no dia seguinte.
A moça apresentou-lhe seu material.
Com efeito, o homem, ao ver a riqueza de detalhes, e a qualidade de trabalho da moça, sugeriu que o trabalho fosse melhor aproveitado com uma série de reportagens sobre o país.
Medeiros disse-lhe que havia feito um raio-x do Egito.
Com isto, dois meses depois, a matéria foi publicada.
Foram três edições da revista com matérias sobre o Egito.
Josie, enviou as revistas para o moço, que auxiliado por Fabrício, explicou o conteúdo das matérias a Samira, que ficou encantada com a competência da moça.
A mulher comentou que sua futura neta, era uma pessoa excepcional.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.