Josie, indisposta, fez que Mohamed mudasse os planos.
Como o mal estar da moça não passasse, o jovem levou-a até sua casa, sob protestos de Fabrício que sugeriu levar a moça para sua casa.
Mohamed insistiu em deixá-la aos cuidados de sua avó.
Fabrício então concordou.
Com isto, jovem árabe convidou o homem para ficar alguns dias em sua casa.
Mais tarde, quando a senhora viu uma jovem sendo carregada por Mohamed, afligiu-se.
Como Mohamed lhe explicasse que a moça não estava passando bem, a mulher recomendou que fosse chamado um médico para examiná-la.
A mulher então, aproximou-se da moça, e tocando em seu rosto, percebeu que Josie tinha febre.
Diante disto sugeriu que a jovem ficasse no quarto de hóspedes.
Mohamed, aflito, levou-a até o quarto, e colocou-a na cama.
Recomendou aos criados que levassem as malas da jovem para o quarto.
Samira a avó de Mohamed, abeirou-se da cama.
Pediu a Samara que providenciasse um chá para Josie.
A contragosto, a moça tomou o chá, com pequenos goles.
Cansada, depois de beber o chá, a jovem tornou a dormir.
Nervoso, Mohamed pediu para ficar ao lado da moça, mas Samira recomendou que não ficasse por perto. Argumentou que a jovem precisava de um pouco de tranqüilidade, e ele, nervoso como estava, acabaria por deixá-la nervosa.
Mohamed então, se viu compelido a acatar as recomendações da avó.
Mais tarde, um médico foi examinar a moça.
Verificou sua temperatura, e recomendou-lhe um remédio para a febre. Disse que jovem estava gripada.
Quando Mohamed foi informado do diagnóstico do médico, perguntou a avó se era realmente uma simples gripe. Desconfiado, disse que ela se queixou durante a viagem de volta de sentir dor no corpo e mal estar. Preocupado, perguntou se não seria aconselhável que outro médico a examinasse.
Samira respondeu-lhe que não havia necessidade.
Mohamed insistiu.
A mulher respondeu-lhe que a moça se recuperaria em poucos dias. Só precisava descansar um pouco.
O jovem muçulmano acatou as recomendações da mulher.
Nisto, estando Josie, sob os cuidados de sua avó, o moço tratou de arrumar uma acomodação para Fabrício.
Em conversa com o homem, o moço respondeu-lhe que ninguém poderia cuidar melhor de Josie, do que sua avó.
Fabrício disse-lhe que havia prometido deixar a moça partir.
Mohamed retrucou dizendo que não poderia abandonar a jovem naquele momento. Pediu ao homem para que deixasse ele cuidar um pouco da moça. Insistiu em dizer que não estava aprisionando a moça.
Fabrício por sua vez, aceitou a hospedagem.
Respondeu que não iria deixar Josie sozinha.
Nos dias que se seguiram, a moça ficou mais tempo dormindo do que acordada.
Sentia calafrios, dores no corpo, febre.
Por diversas vezes Samara precisou trocar as roupas de cama.
Dias depois, um pouco melhor, Josie, acompanhada por Mohamed, conheceu a casa, os cômodos, a criadagem.
Deparou-se com uma bela vista do Cairo. Das tamareiras.
Fabrício, ao vê-la de pé, perguntou-lhe se estava bem.
Josie, abatida, respondeu que sim.
Mohamed por sua vez, levou-a até a mesa, numa sala toda enfeitada.
Ajudou a moça a se acomodar em uma almofada.
Serviu-lhe muitas frutas, sucos. Perguntou-lhe o que gostaria de comer.
Como Josie não tinha fome, Mohamed insistia.
A certa altura, Samira recomendou ao neto que não fosse tão afoito.
Mohamed porém, continuava insistindo.
Samira então, percebendo a situação da moça, recomendou-lhe que comesse alguma coisa ou seu neto não a deixaria em paz.
Josie bebeu um pouco dos sucos que lhe foram oferecidos, e comeu um pouco de frutas.
Depois do café, Mohamed perguntou-lhe se gostaria de fazer alguma coisa.
Quem sabe assistir um filme.
A moça contudo, estava apática.
Mohamed levou a jovem até uma sala.
Lá havia um projetor antigo e alguns rolos de filme.
Tentando entreter a moça, Mohamed mostrou-lhe filmes de Rodolfo Valentino, e outras películas antigas. Geralmente filmes mudos.
Samira vigilante, em dado momento foi até a sala para verificar o que estava acontecendo.
Josie parecia entretida com os filmes.
Mohamed se ocupava de posicionar os rolos no projetor e trocá-los.
A jovem e o muçulmano permaneceram na saleta por algumas horas.
Mais tarde, Samira convidou-os para almoçarem.
Gentil, perguntou a moça se estava gostando da estada no Egito.
Josie ficou surpresa com a pergunta.
Samira respondeu-lhe então, que Mohamed havia lhe contado que estava a trabalho, que vinha do Brasil, e estava conhecendo um pouco da cultura do país.
Razão pela qual convidou-a para conhecer o Egito sob o ponto de vista de um morador do lugar, argumentou.
A moça não sabia o que responder.
Isto porque, sem nem ao menos conhecê-la, Samira acolheu-a no seio de sua família e a tratou com extrema dedicação.
Quando agradeceu a dedicação, a mulher respondeu que fez o que qualquer bom muçulmano faria. Comentou que a solidariedade era uma característica da religião de Maomé.
Josie se encantou com as maneiras gentis da mulher.
Exímia artesã, a mulher confeccionava bonitas roupas, belas almofadas e enfeites para a casa.
Possuía um tear.
Josie ficou encantada com a máquina.
Comentou que num Brasil distante no tempo, as mulheres trabalharam em uma máquina parecida com aquela.
Fabrício ao ver a máquina de tear, comentou que já vira máquinas iguais aquelas em uma das empresas que seu pai possuía no Brasil. Comentou que além de advogado e trabalhar na área, o homem investia em inúmeras atividades, entre elas a tecelagem. Respondeu que vira diversas máquinas parecidas com aquela, na fábrica.
Josie respondeu que sua mãe, que adorava antiguidades, conseguiu adquirir uma máquina antiga como aquela e começou a fazer tecidos. Mantas, cobertores. Disse que isto era uma terapia para ela.
Saudosa, a moça comentou que sua mãe era uma mulher coragem, e que durante os tempos da ditadura precisou se esconder com o marido, militante de esquerda, nas terras de um estranho que resolveu os acolher.
Josie respondeu que não fosse esta ajuda, seus pais certamente seriam mortos e ela não estaria ali.
Mohamed, ao ouvir as palavras da moça, segurou sua mão e beijou-a. Em seguida disse-lhe:
- Ainda bem que ainda existem pessoas abnegadas neste mundo! Que Allá te abençoe.
Samira convidou todos para jantar.
Os dias se seguiram calmos.
A moça foi melhorando aos poucos.
Certa noite, Mohamed convidou a jovem para jantar fora.
Por insistência de Fabrício, Josie concordou.
O homem contou-lhe que Mohamed a levou para sua casa, por que ali ela ficaria mais bem instalada e sendo cuidada por uma mulher devotada, como Samira.
Fabrício respondeu-lhe que tentou levá-la para sua casa, mas não houve negociação. Mencionou que quando Mohamed a viu desmaiando, amparou-a imediatamente e decidiu levá-la para sua casa.
Carregando-a nos braços, pediu para a avó auxiliá-lo.
Fabrício comentou que o jovem muçulmano afligiu-se ao vê-la tão indisposta. Alegou que o moço pensou em ouvir uma segunda opinião médica.
Rindo, comentou que Mohamed gostava muito dela.
Argumentou que o moço se arriscara ao levá-la para sua casa, pois quando Samira soubesse o que ele fizera, certamente não iria concordar com sua conduta.
Nisto o homem comentou que ela deveria procurar uma saída pacífica para o conflito.
Argumentou que nos últimos anos de vida de seu pai, viveu em conflito com ele, e que não era bom ela deixar uma situação mal resolvida para trás.
Pesaroso, comentou que seu pai falecera, sem que tivessem se entendido antes.
Entristecido, recompôs-se.
Acrescentou, que se ela estava passando por aquela dificuldade, era por que tinha discernimento suficiente para separar o que era bom do que era ruim, e a enfrentar as adversidades com galhardia.
Fabrício pediu-lhe para que desse uma oportunidade do rapaz demonstrar seu afeto.
Diante disto, a moça concordou em jantar com Mohamed.
Durante o jantar, o casal acompanhou uma apresentação de dança do ventre.
Josie elogiou a apresentação. Disse que a dança era linda.
Mohamed respondeu-lhe que a cultura árabe era muito bela.
No jantar foram servidas carnes, saladas, suco. Pratos típicos.
Tabule, folhas de uva, entre outras iguarias.
Josie se encantava com a apresentação das iguarias.
Mohamed perguntou-lhe então, sobre seu trabalho no Brasil.
Josie respondeu-lhe que sem o seu telefone celular, ficava difícil manter contato com seu chefe em São Paulo, e que ele deveria estar preocupado com a falta de notícias.
Mohamed desconcertado, respondeu-lhe que devolveria o celular.
Em seguida, perguntou-lhe se sentia-se melhor.
Josie indagou o por quê da curiosidade.
Mohamed disse-lhe que precisava conhecer as pirâmides.
Brincando, disse-lhe que sem as pirâmides, não teria uma exata dimensão do que era o Cairo.
Josie perguntou-lhe então, quando poderia partir.
Desapontado, Mohamed respondeu que só a deixaria ir, quando tivesse certeza de que ela estava bem.
Como a moça adoecesse novamente, o passeio pelas pirâmides, precisou esperar mais um pouco.
Josie ficou novamente gripada.
Mohamed, ao receber o diagnóstico da moça, ficou intrigado.
Comentou que num calor abrasador como aquele, era inconcebível alguém ficar gripado.
Samira respondeu-lhe que no deserto a temperatura caía muito bruscamente, e que isto deve ter favorecido a gripe da moça.
Mohamed ao ouvir esta explicação, comentou que isto justificava a primeira gripe, mas e a segunda?
Com isto, o chamou outro médico para examinar a moça.
O segundo médico respondeu que a jovem estava debilitada.
Desta forma, Josie ficou novamente sob os cuidados de Samira.
Chorando, a moça dizia que queria voltar ao Brasil.
Ao ouvir os murmúrios de Josie, Samira perguntou ao neto o motivo da lamúria.
Mohamed tentou desconversar, mas a mulher sagaz, percebeu que havia algo errado.
Pressionando o neto, descobriu que ele fizera a moça de prisioneira.
Perplexa, perguntou-lhe qual era sua intenção ao submeter a jovem a seus caprichos.
Mohamed aborrecido, respondeu que não procedera desta forma para abusá-la, e sim por ser esta a única forma, no seu entender, de fazer com que Josie o enxergasse de verdade.
Samira, ao ouvir os impropérios do moço, respondeu que ele havia passado uma péssima imagem para a moça. Argumentou que ela devia pensar que todos os muçulmanos eram selvagens.
Aborrecida, a mulher perguntou ao moço quando ele iria deixar a moça livre.
Mohamed transtornado, alegou que a jovem estava enferma, e que não poderia ficar só.
Samira concordou, mas recomendou-lhe que não fizesse da moça sua eterna prisioneira.
Argumentou que em assim procedendo, acabaria por matá-la de tristeza.
Sábia, respondeu que a moça estava sofrendo uma recaída por que não estava certa de que Mohamed a deixaria partir. Comentou que enquanto vivesse esta incerteza, Josie não ficaria inteiramente bem.
O muçulmano desolado, comprometeu-se diante da avó, em liberar a moça, após o passeio nas pirâmides. Alegou ainda, que ela só poderia fazer o passeio, se estivesse totalmente recuperada.
Samira calou-se.
Continuou cuidando da moça.
Nos dias que se seguiram, Fabrício se ocupou de fazer companhia a moça.
Já havia voltado para sua casa.
Brincando, disse que estava sentindo falta de sua companhia.
Ao ouvir isto, a moça caiu em prantos.
Samira recomendou-lhe que saísse do quarto.
Por diversas vezes, Samira ouviu a moça mencionar o nome de um rapaz de nome Olavo.
Quando Mohamed soube disto, ficou chateado.
Conversando com Fabrício, o jovem árabe comentou que não havia conseguido conquistar a moça.
O homem, censurando-o, disse que com suas atitudes, havia conseguida apenas fazer com que a moça fosse capturada por ele.
Ao ouvir isto, Mohamed encheu-se de dor.
Por fim, confessou ao homem que gostaria de realizar um passeio ao lado da moça.
Respondeu-lhe que em Josie se recuperando, ela poderia voltar ao Brasil, quando bem entendesse. Afirmou que não iria importuná-la mais.
A noite, enquanto a moça dormia, o rapaz agachou-se e tocando seus cabelos, disse-lhe para que melhorasse logo, pois assim poderia voltar para o Brasil.
Assim o prometeu.
Em melhorando, fariam um último passeio juntos, e em seguida ela regressaria ao Brasil.
Com efeito, a moça foi melhorando.
Nos dias que se seguiram, Josie foi se alimentando melhor.
Conversando com a moça, Fabrício disse-lhe que Mohamed havia prometido a ele e a Samira, que ela regressaria ao Brasil.
Josie respondeu que não acreditava.
Mais tarde, Mohamed conversou com ela. Disse que ela precisava ficar bem, ou não regressaria ao Brasil.
Falou-lhe que precisava conhecer as pirâmides.
Como Josie não acreditasse em suas palavras, o moço providenciou duas passagens para os próximos dias.
Mostrou-a Josie.
A moça, ao se deparar com duas passagens, perguntou para quem seria a segunda passagem.
Mohamed respondeu-lhe que Fabrício a acompanharia ao Brasil.
Dizendo que o homem se prontificara a acompanhá-la, argumentou que assim ficaria mais tranqüilo.
Olhando-a atentamente, Mohamed disse-lhe ainda estava abatida.
Nisto Samira adentrou o quarto, oferecendo uma sopa para a moça.
Josie tomou a sopa inteira.
A mulher admirou-se.
Nos dias que se seguiram, Josie acompanhou a mulher em suas orações.
Observou Mohamed caminhar em direção a uma das muitas mesquitas da cidade.
Samira voltou a se ocupar de seu tear.
A mulher dizia orgulhosa de suas peças, que era uma herança dos tempos nômades.
Josie por sua vez, comentou que as peças confeccionadas por ela, eram muito delicadas.
Envaidecida, a mulher tentou ensinar a moça a mexer no tear.
Enquanto mexia na velha máquina, Josie recordou-se dos pais.
Das brincadeiras no final da tarde, no quintal da casa em que moravam.
De andar de bicicleta pelos parques da cidade.
Recordou-se da morte dos pais.
De Olavo, do trabalho na revista.
Começou então, a chorar.
Samira, ao vê-la em prantos, procurou consolá-la.
Josie então contou-lhe sobre seus pais, que eram uruguaios radicados no Brasil, que sofreram com a ditadura brasileira, mas não chegaram a sair do país. Que viveram muito tempo escondidos, e que quando as coisas se acalmaram, retomaram sua vida em outra localidade, até falecerem em um acidente.
Triste, a moça não gostava de se recordar dos detalhes do ocorrido.
Tamanha era sua tristeza, que deixou escapar que fora noiva e que o moço faleceu em um acidente de carro.
Samira perguntou-lhe se isto havia acontecido há muito tempo.
Josie respondeu que fazia anos que os pais haviam falecido, e que Olavo morrera há poucos meses.
A mulher ficou penalizada com a tristeza da moça.
Com isto, assim que teve uma oportunidade de conversar com o neto, disse-lhe que Josie estava sofrendo muito, e que cabia a ele confortá-la sempre que ela necessitasse de um ombro amigo.
Mohamed ficou intrigado com as palavras da avó.
Cerca de três semanas depois, Mohamed, Fabrício e Josie se encaminharam para as pirâmides.
Restabelecida, a moça andou de camelo.
Não sem antes pechinchar o preço do passeio.
Josie também, foi abordada por vendedores de falsas preciosidades.
Mohamed afastava a todos.
Dizia:
- La.
E um não de Mohamed, era não.
Josie ao observar as milenares pirâmides, percebeu que as construções estavam um tanto deterioradas.
Mohamed argumentou que a ação do tempo, consumia as construções.
Comentou também, que a cidade, estava invadindo o deserto.
Fabrício relatou que a cidade estava muito próxima das pirâmides.
Mais tarde, o trio se deparou com um show de luzes.
Fabrício, percebendo que o muçulmano pretendia ficar a sós com a moça, procurou afastar-se.
Josie, encantou-se com o espetáculo.
Tímida, tentou dizer algo ao moço.
Mohamed lhe disse:
- Pode falar. Sautek muftáh el janéh!
Como Josie não compreendeu o que o homem disse, o mesmo explicou-lhe instando-a a falar, que sua voz era a chave do paraíso.
Josie disse-lhe que as luzes realçavam o que os monumentos possuíam de melhor.
Mohamed concordou.
Tencionou tocar as mãos nas cabelos da moça, que entretida com o espetáculo, não percebeu.
Ao término do show de luzes, o casal foi procurar Fabrício.
Neste momento, Mohamed e Josie foram abordados por alguns homens armados.
Gritando palavras em árabe, apontavam as armas para o casal.
Josie ficou apavorada.
Mohamed, tentando proteger a moça, tentou dialogar com os homens. Em vão.
Com isto, foram levados em um veículo para um lugar ermo.
Antes de entrarem no carro, tiveram suas mãos amarradas e os olhos vendados.
Nervosos, os homens mandaram Mohamed se calar.
Fabrício ao perceber uma movimentação estranha no lugar, foi ao encontro de Mohamed e Josie.
Procurou o casal mas não o encontrou.
Ao perceber a movimentação de policiais ao redor do monumento, Fabrício tentou conversar com os homens.
Perguntou-lhes em inglês:
- What’s happen?
O policial explicou que foram informados sobre um seqüestro de turistas, e estavam recomendando a todos que evacuassem a área.
Aflito, Fabrício perguntou onde estavam os outros turistas.
O homem respondeu que estavam todos sendo orientados a sair do local.
Fabrício falou que estava procurando um casal.
O policial recomendou-lhe que procurasse o casal em outro lugar. Respondeu que provavelmente eles deveriam estar longe dali.
Com isto, Fabrício retornou a casa do muçulmano.
Como Samira lhe dissesse que seu neto e a moça não haviam chegado ainda, o homem encheu-se de preocupação.
A mulher preocupada, perguntou-lhe se não houve um desencontro.
Fabrício respondeu que ocorreu um evento nas pirâmides, mas percebendo o ar de preocupação de Samira, resolveu acionar a polícia.
Diante do prestígio da família, os policiais foram quase que imediatamente a casa do rapaz.
Fabrício, auxiliado por um empregado da família, comunicou aos policiais o desaparecimento de Josie e de Mohamed. Relatou o evento ocorrido nas pirâmides.
Nervoso, o homem solicitou que fosse informado de todos os passos da investigação.
Os policiais prometeram colocar-lhe a par de tudo.
Samira, tentando manter a calma, a certa altura, não conseguiu se conter. Caiu em prantos.
Fabrício, meio sem jeito, tentou consolá-la.
Ofereceu-lhe um lenço limpo para que enxugasse as lágrimas.
O homem disse que Josie e Mohamed seriam localizados rapidamente.
Relatou que ele mesmo se empenharia em localizá-los.
Samira observou-a admirada.
Fabrício, conversando com os criados de Mohamed, perguntou-lhes se a ação poderia estar relacionada a algum movimento terrorista.
Ao ouvir isto, um dos criados respondeu, que havia homens dispostos a tudo, e que geralmente quando isto acontecia, turistas eram mortos, o que ocasionava uma crise no país, que vive quase que exclusivamente do turismo.
Fabrício perguntou então, se Mohamed possuía inimigos, pessoas que tivessem interesse em se vingar dele, ou de sua família.
Outro criado respondeu que o patrão era invejado sim, mas não ao ponto de ser alvo de um seqüestro. Comentou que Mohamed era muito respeitado e deixou claro que quem se atrevesse a tal façanha, certamente não teria um final muito feliz nas prisões do país.
Pensando, pensando, Fabrício cismou com a hipótese de ato terrorista.
Tal constatação gerou um arrepio em sua espinha.
Preocupado, ficou pensando como um terrorista agiria em uma situação igual àquela. Onde esconderia as vítimas?
Enquanto isto, Fabrício e Josie foram levados para um esconderijo.
Amarrados, ficaram a pão e água.
Josie ficou presa em um quarto e Mohamed em outro.
A moça não sabia onde estava.
Nervosa, prestava atenção em cada barulho.
Quem sabe para se localizar.
Mohamed fazia o mesmo.
Atento, procurava ouvir rumores de conversas. Algo que indicasse onde estava, e quais eram os planos daqueles homens.
O jovem muçulmano não conseguia compreender o por quê do seqüestro. Tencionavam pedir resgate? E Josie, fora levada junto com ele por qual motivo? Seriam terroristas ou meros seqüestradores?
Com efeito, ainda de madrugada, Fabrício foi informado que não houve ameaça de bomba.
Fato este que deixou o homem deveras intrigado.
Com isto, a policia egípcia passou a empreender buscas em lugares propícios ao abrigo de seqüestrados. Invadiram casas, construções abandonadas.
Abordaram pessoas nas ruas.
Por semanas, reviraram a cidade do Cairo.
Nada de localizar o casal.
Samira e Fabrício estavam desesperados.
Mohamed a certa altura, tentando negociar com os homens, disse que tinha muito dinheiro, que poderia comprar a sua liberdade.
Argumentou que a moça era uma estranha, que tivera a infelicidade de estar no lugar errado no momento errado.
Dizia que não conhecia a jovem, desconhecendo seu nome e sua origem. Alegando que a moça devia ser uma garota pobre, sugeriu que os homens a soltassem, que a libertassem.
Argumentou que poderia oferecer um bom dinheiro para eles. Comentou que dinheiro era uma coisa boa.
Irritado, o seqüestrador começou a discutir com ele.
Chamou-o de infiel, de traidor da causa.
Ao ouvir estas palavras, Mohamed concluiu que se tratava de um grupo terrorista.
A certa altura, depois de muito vociferar, o homem deixou-o só.
Mohamed temeu pelo pior.
Ao concluir que se tratavam de terroristas, chegou a se perguntar por que não o haviam matado ainda. Por que o mantinham vivo? Qual era a intenção do grupo?
Vasculhando o quarto em que era cativo, o moço começou a escavar uma pedra.
Josie por sua vez, também procurava uma saída.
Fingindo dormir, a moça escutou uma conversa em árabe.
Todavia, como não era versada no idioma, não conseguiu apreender quase nada do que diziam.
O pouco que pode perceber era que invocavam o nome de Allá e que ocorrera uma altercação entre eles.
Como se houvesse dissidências no grupo.
Enquanto isto, a moça continuava a procurar uma saída, um meio de fugir do cativeiro.
Com efeito, os modos agitados dos homens, já começavam a chamar a atenção dos vizinhos.
Houve denúncia.
Mohamed por sua vez, fingindo estar passando mal, atraiu um dos bandidos para o quarto onde estava.
O homem, desarmado, foi rendido pelo muçulmano, que aplicou-lhe uma gravata.
Ao deixar o bandido desacordado, Mohamed pegou suas roupas e vestiu-as.
Por sua vez, deixou seus trajes no corpo do terrorista.
Com isto, tirou a chave do bolso do homem e saiu do quarto.
Aflito, Mohamed tentou localizar Josie, mas a necessidade fez com ele saísse da residência rapidamente.
Ao ganhar a rua, o homem tentou descobrir onde estava.
Caminhando apressadamente, percorreu becos e vielas, lojas, comércio cheios de quinquilharias. Alguns estabelecimentos, possuíam objetos de prata, artigos de luxo.
Intranqüilo, procurou um telefone. Precisava contatar sua família.
Com isto, o jovem muçulmano continuou caminhando.
Até encontrar um telefone.
Adentrou uma loja, e disse que precisava realizar uma ligação.
O dono da loja, ao reconhecê-lo, deixou que fizesse a ligação.
Nisto, Fabrício recebeu uma ligação.
Haviam localizado o cativeiro de Josie e Mohamed.
Aflito, o homem foi correndo para o local.
A esta altura, Mohamed já havia sido localizado pela polícia e acompanhou a operação.
Estava ansioso por reencontrar a moça.
Aflito, o jovem pediu para entrar com os policiais no cativeiro. Argumentou que poderia auxiliá-los a encontrarem a moça.
Com isto, os bandidos, ao se verem cercados, instalaram uma bomba no imóvel.
Ameaçando acionar o dispositivo que iniciava o funcionamento da bomba, exigiram a presença de Mohamed.
O muçulmano concordou em trocar de lugar com Josie.
Assim, se eles a libertassem, ele ficaria em seu lugar como refém.
Fabrício por um instante, tentou reter o moço, segurando-o pelo braço. Recomendou-lhe que tivesse cuidado.
Nisto o tempo foi passando.
Como os bandidos não deram sinal de que aceitaram a proposta do jovem muçulmano, Mohamed decidiu invadir o imóvel, acompanhado pelos policiais.
Fabrício advertiu-lhe que era muito arriscado.
Mohamed insistiu.
Desta forma, o jovem entrou.
Os policiais invadiram o imóvel.
Renderam os bandidos.
Aflito, Mohamed percorreu o imóvel a procura de Josie.
Ao se deparar com uma porta trancada, arrombou-a.
Lá estava Josie, de pé.
Sua expressão era de aflição. Porém, ao ver Mohamed diante de si, ficou pasma.
Ao vê-la, o homem aproximou-se. Abraçou-a. Perguntou se estava bem.
Josie respondeu que naquele momento estava.
Nisto, surgiu um homem atrás de Mohamed.
Ao vê-lo se aproximar, Josie gritou para que o jovem tivesse cuidado.
Mohamed então, ao ver um dos seqüestradores diante de si, travou luta corporal com o homem.
O bandido, ao perceber que estava em desvantagem, apontou uma arma para o muçulmano.
Josie, ao notar que saíra do campo de observação do sujeito, pegou um vaso e acertou na cabeça dele.
Com isto, a arma do homem disparou.
Mohamed, ao escutar o disparo, jogou-se no chão.
Josie, ao vê-lo deitado, julgou que o mesmo havia levado um tiro.
Aflita, acorreu em sua direção.
Segurou o homem nos braços, e começou a observá-lo.
Fabrício, ao entrar no ambiente, deparou-se com Josie chamando o moço.
Mohamed por sua vez, demorou para se manifestar.
Aturdido com o tiro, perguntou se havia sido atingida.
Josie respondeu que não.
Com efeito, quando a polícia adentrou o recinto, Josie permanecia abraçada ao moço.
A todo o momento lhe perguntava se estava tudo bem.
Mohamed respondia que sim.
Nisto os policiais entraram no quarto e prenderam o bandido.
Fabrício, percebendo que Josie e Mohamed precisavam ficar a sós, pediu aos policiais que aguardassem um pouco. Salientou que estava tudo bem.
Josie perguntou então ao moço, por que havia se arriscado entrando no lugar onde ela estava.
Mohamed respondeu que os seqüestradores estavam todos presos.
Explicou-lhe que estavam livres. Argumentou que queria ser o primeiro a lhe dar a boa notícia.
Ao ouvir isto, a moça abraçou o rapaz.
Chorou.
Mais tarde, Mohamed disse que ela precisaria ficar por mais alguns dias no país, até que fossem esclarecidas as razões dos criminosos.
Desculpando-se, Mohamed comentou que foi uma péssima idéia visitarem as pirâmides.
Ao ouvir isto, Josie, para espanto do rapaz, comentou que o passeio foi maravilhoso. O que ocorreu de ruim, foi o desdobramento do passeio.
Mohamed respondeu que precisava se redimir.
Josie argumentou que precisava retornar ao Brasil. Mencionou que não contatava seu chefe há tempos, e que precisava saber se ainda tinha um emprego.
E assim, o casal foi conduzido a uma delegacia.
Lá, prestaram depoimentos a respeito do ocorrido.
Relataram o desespero por não saberem o que iria acontecer, onde estavam, há quanto tempo estavam presos. Entre outros detalhes.
Curiosamente os bandidos não contataram a família de Mohamed. Tampouco pediram resgate.
Segundo as autoridades policiais, tratava-se de um seqüestro e não de um ato terrorista.
Mas se era seqüestro, por que não pediram resgate?
Nisto, um dos envolvidos na ação, respondeu que a intenção era esperar as coisas se acalmarem um pouco, e levar o casal para outro país.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
sexta-feira, 19 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 38
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 37
Nos dias que se seguiram, Josie demonstrou menos hostilidade para com Mohamed.
Atenta, procurava ouvir o que o moço tinha a dizer-lhe.
Quando Mohamed perguntou-se estava gostando das histórias das “Mil e Uma Noites”, Josie respondeu que sim. Argumentou que Sherazade era uma mulher de coragem, que sabia transformar uma situação desvantajosa, em que algo favorável.
Mohamed riu.
Simpático, disse-lhe que se havia gostado tanto assim das narrativas, poderia ficar com o livro.
Josie agradeceu.
Em seguida, retirou-se.
Mohamed comentou com a moça, que assim que fosse possível, ela partiria com Fabrício. Disse-lhe só estava esperando um pouco, por que tinha algo para resolver na região, e em poucos dias, ela poderia voltar para o Cairo.
Josie sorriu.
Nos dias que se seguiram, a moça fez vários passeios pelo deserto.
Quando Mohamed se desvencilhou de suas obrigações, informou-a para preparar suas malas que partiriam de volta ao Cairo.
Tenso, pediu-lhe para que o deixasse fazer um último passeio em sua companhia, levando-a para ver as pirâmides na periferia do Cairo.
Josie concordou.
Horas mais tarde, o moço disse-lhe que gostaria de apresentá-la a Luxor.
Curiosa, a moça perguntou se ficava muito longe do Cairo.
Mohamed disse que sim, mas que ela poderia tirar bonitas fotos dos monumentos da cidade, e ilustrar a matéria que estava fazendo sobre o país.
A moça, ao ouvir isto, perguntou:
- E o Cairo?
Mohamed respondeu que seria o próximo destino, com as pirâmides.
Por fim, a deixaria no hotel onde se hospedara.
Disse que a partir daí, não a importunaria mais.
Josie argumentou que ele a estava enrolando.
Irritado, o moço respondeu que tinha palavra, e ela não dava voltas, ou fazia curvas.
Fabrício, percebendo o clima tenso, tentou acalmar os ânimos.
Gesticulando, fez sinal para que a moça concordasse com o moço, e também para que tivesse calma.
Contrariada, depois de muita insistência de Fabrício, a jovem acabou concordando.
Com isto, pediu licença ao jovem. Disse que gostaria de fazer um passeio a cavalo.
O jovem muçulmano concordou.
E assim, Fabrício conversou com Mohamed.
- Acalme-se meu jovem. – recomendou o homem.
Mohamed argumentou que Josie era uma pessoa muito difícil.
No que o homem riu:
- Você arrebata a moça, priva-a da convivência de tudo o quanto ela está acostumada, impõe seu modo de ver as coisas, a enche de ordens e quer que ela seja dócil?
Mohamed argumentou que muitas mulheres deviam sonhar em serem levadas para o deserto, por um homem valente e corajoso.
Argumentou que já havia visto isto em uma fita americana.
Fabrício comentou que havia tempos que não ouvia falar de filmes envolvendo tal temática.
Nisto o homem respondeu que era um filme mudo.
Fabrício, ao ouvir a expressão ‘filme mudo’, comentou:
- Até imagino que filme seja. Minha mãe era fanática por estas fitas, adorava Douglas Fairbanks e o Rodolfo Valentino... A propósito, o nome do filme é: “O Sheik” ou “O Filho do Sheik”?
Mohamed ficou desconcertado.
Fabrício respondeu-lhe então, que muito provavelmente Josie nem saberia dizer quem foi Rodolfo Valentino. Tampouco vira seus filmes.
O homem respondeu que as moças do ocidente estavam acostumadas com filmes mais ousados para os padrões religiosos dos egípcios.
Ao ouvir isto, Mohamed respondeu nervoso que estivera por alguns anos no Brasil e que conhecia o costume dos brasileiros irem quase pelados a praia.
- Não é bem assim! – respondeu Fabrício – Não vamos quase pelados a praia. Até por que a nudez não é tolerada em locais públicos.
Mohamed comentou sobre as praias de nudismo.
No que Fabrício lhe disse que ele estava bem informado sobre o assunto.
Nervoso, o muçulmano perguntou se a moça costumava ir a praias do tipo.
Fabrício, um tanto constrangido, respondeu que conhecera a moça ali no Egito, mas que ela não parecia ser o tipo de moça que freqüentava este tipo de praia.
Neste momento, Mohamed recordou-se de Olavo, e do fato de que Josie já fora noiva. Enciumado, o moço perguntou se ele achava que Josie ainda era casta.
Fabrício, percebendo que caminhava em terreno pantanoso, comentou que esta questão não lhe dizia respeito.
Mohamed porém, não estava disposto a ouvir evasivas.
Insistiu para que dissesse o que pensava a respeito.
Fabrício, titubeando, respondeu que sexo fora do casamento não era pecado.
Mohamed ao ouvir isto, perguntou-lhe quantos anos tinha.
- Oitenta e um.
Nisto o muçulmano perguntou-lhe se já fora casado.
Fabrício respondeu que sim.
Em seguida, o jovem perguntou-se se ao se casar era casto ou não.
Fabrício respondeu-lhe que vivia em outra época, em que as pessoas tinham menos liberdade.
Como o muçulmano insistisse, respondeu que não.
Mohamed ficou perplexo:
- Como não?
- Pelo fato de que levei alguns bons anos para me casar. Casei com a mulher que escolhi, mas tive que esperar por ela.
Mohamed não compreendeu.
O homem explicou-lhe então, que se apaixonara pela namorada do irmão, e que Cecília se casou com seu irmão, mas que o casamento não foi feliz.
Razão pela qual a moça resolveu refazer sua vida, sozinha.
Num tempo em mulheres separadas eram mal vistas, ela ousou se separar do marido.
Fabrício comentou que procurou a moça por muito tempo, até encontrá-la em uma cidadezinha do interior do estado de São Paulo. Ao encontrá-la, falou que prometeu a si mesmo, que a não a deixaria escapar. E assim, tanto fez, que acabou convencendo-a a partir para o Uruguai, onde se casaram.
Fabrício falou, para espanto de Mohamed, que a moça obteve o desquite para que pudessem se casar no país. Com isto, criou os dois filhos que a esposa tivera com o irmão, e teve uma filha com a mulher. Melancólico, comentou que viveu feliz com a esposa, até ela falecer.
Disse que poucos meses depois de seu falecimento, decidiu aproveitar uma oportunidade de negócio, para trabalhar no Egito. Onde permanece desde então.
Mohamed censurou-o por fazer sua mulher separar-se do marido.
Fabrício comentou que não se escolhe a quem se ama. Argumentou também, que Cecília era maltratada por seu irmão.
O moço perguntou-lhe se nunca mais voltara ao Brasil.
O homem respondeu que não.
Fabrício argumentou, que Cecília tinha medo que o ex-marido tomasse seus filhos.
Desta forma, comentou que preferiu respeitar a vontade da esposa.
Curioso, Mohamed perguntou onde estavam os filhos.
Fabrício relatou que voltaram ao Brasil, onde se casaram. Segundo destacou, suas crianças voltaram a ter contato com a família, com Pedro – seu irmão – e com seus avós.
Triste, comentou que fazia anos que não tinha mais contato com sua família. Disse que sua filha Carolina, não entrava em contato com ele, desde que se casara com um brasileiro.
Mohamed se compadeceu do homem, disse-lhe que entendia seu sofrimento.
Argumentou que devia ser muito triste não ter notícias dos parentes.
Nisto, o homem segurou o seu braço e disse que entendia seu jeito torto de demonstrar afeto. Comentou que poucas coisas na vida seguiam uma linha reta, e que ele era a maior prova disto.
Rindo, o homem comentou que Mohamed era um cabeça dura e que Josie era teimosa. Uma combinação explosiva. Irônico, disse que sempre acreditou que eram os opostos que se atraíam.
Pensando, o homem comentou que Mohamed havia se metido em uma encrenca e que seria muito difícil convencer a moça de que agira de forma tão intempestiva, por não encontrar outra maneira de chamar sua atenção.
Nisto Mohamed confessou que ele fora o homem que mandou um de seus empregados oferecer uma soma em dinheiro para comprar Josie.
Fabrício ficou perplexo. Falou que ele não deveria em nenhum hipótese, contar este fato a Josie, ou ela não perdoaria. Contou que ela ficou furiosa com a proposta.
Fabrício argumentou que Josie é uma autentica moça de seu tempo. Independente, cuida da própria vida, tem sua própria casa, cuida de suas coisas.
Mohamed não gostou das palavras.
Fabrício por sua vez, aconselhou o moço a tentar entender o mundo dela, seu modo de ver as coisas. Argumentou que ela fora criada de forma diferente da dele, e que nenhuma das formas de viver estavam erradas. Apenas eram formas diversas de verem e viverem a vida.
Rindo, comentou que o ser humano é muito criativo, e para onde ele for, irá encontrar novos modos de viver.
Mohamed concordou.
Argumentou que o Egito era um país moderno, e que muitas mulheres trabalhavam fora. Porém, não havia necessidade de Josie, estando a seu lado, trabalhar fora.
Respondeu que podia proporcionar uma vida bastante confortável a moça. Disse que ao seu lado, ela seria como uma verdadeira princesa.
Fabrício respondeu que não era só a necessidade que fazia a moça ter vontade de trabalhar. Argumentou que Josie gostava do que fazia. Comentou que sentia o prazer que a moça tinha em executar seu trabalho, o quanto era cuidadosa ao abordar as pessoas para fazer perguntas, nas fotos que tirava das crianças, dos egípcios e das egípcias.
Contou que a moça ficara triste em ver as ruas sujas, mendigos e tanta pobreza na cidade.
Fabrício comentou que em muitos aspectos, o lugar lembrava São Paulo, ou mesmo o Brasil. Um país de contrastes.
Mohamed disse que o Brasil lhe parecera um pais religioso, assim como o Egito.
Comentou que já na antiguidade, os egípcios já acreditavam na imortalidade da alma.
Nisto, o jovem contou que um dos maiores exemplos da importância que a imortalidade da alma tinha para o povo e para a religião egípcia, era o mito de Osíris. Mito este, representado em inúmeras pinturas, em monumentos... Argumentou que o mito era essência de toda a tradição egípcia antiga.
Nisto, começou a dizer:
- Conta a lenda que Osíris, filho de Geb (a Terra), com ajuda de sua mulher Ísis, ensinou aos homens a agricultura (a principal atividade econômica do Egito antigo). Nisto, seu irmão Seth, tomado de ciúmes, afoga Osíris no rio Nilo, e depois o esquarteja e espalha seus pedaços pelo Egito. Ísis, por sua vez, recolhe todos os pedaços, refaz-lhe o corpo e o ressuscita. Passando ele a viver no céu. Do relacionamento de Osíris com Ísis, nasceu Hórus, seu filho, o qual mata Seth, vingando Osíris, e como prêmio recebe o trono do Egito.
Fabrício ouviu o relato com atenção.
Mohamed comentou que a lenda justificava a divindade dos faraós, posto que sinalizava serem eles, descendentes de Osíris, bem como a imortalidade da alma e a reencarnação.
Fabrício, ao ouvir isto, comentou que havia uma religião, e uma doutrina ocidental, que dizia a mesma coisa, só que sem as alegorias que ele utilizara. Disse que o Brasil foi uma pátria que acolheu com muito carinho a crença, embora nem todos compartilhem dela.
Mohamed respondeu que sabia do que ele estava falando.
Disse que conversando com Josie, descobriu que a moça acreditava na imortalidade da alma, e na possibilidade da reencarnação.
Curioso, o homem respondeu que Josie não havia conversado com ele sobre isto.
Fabrício disse-lhe que aos poucos Mohamed estava começando a chegar no coração da moça.
Diante disto, confessou que não poderia ser ele, uma pedra no caminho. E assim, concordou em auxiliá-lo a conquistar a moça.
Mohamed sorriu. Argumentou que todo auxílio seria bem-vindo.
Nisto, todos se ocuparam de fazer as malas.
Auxiliada por Mohamed, a moça colocou seus pertences em um camelo.
Fabrício também foi auxiliado na colocação de suas malas.
Em seguida, as tendas foram desmontadas.
Mohamed seguiu a frente com Josie, Fabrício e alguns homens de sua confiança.
Caminharam por cerca de uma hora até uma estrada.
Lá o jovem muçulmano, colocou as malas dentro de um grande veículo.
Nisto, o grupo seguiu viagem.
Mais tarde hospedaram-se em um hotel.
Os demais criados, desarmaram as tendas e seguiram para o Cairo.
Josie, Fabrício, Mohamed e os homens, descansaram um pouco.
Josie estava acompanhada de Samara.
Na frente do quarto, dois homens guardavam a entrada.
A moça, ao saber disto, ficou aborrecida.
Fabrício disse a moça que Mohamed só estava cuidando dela, mas Josie continuou contrariada.
No dia seguinte, o grupo seguiu em direção a cidade de Luxor.
Viajaram em meio a paisagem do deserto, até chegarem a cidade.
Lá, hospedaram-se em um hotel.
No dia seguinte, o grupo foi passear pelos lugares históricos da cidade.
Mohamed explicou a Fabrício e Josie, que a cidade também era cortada pelo Rio Nilo.
Explicou que a cidade cresceu a partir das ruínas da antiga cidade de Tebas, com vestígios da antiga civilização egípcia.
Comentou que iniciariam o passeio pela margem oriental, onde encontram-se inúmeros monumentos egípcios.
Nisto, o grupo seguiu em direção ao Templo de Karnak, o maior dos templos do antigo Egito.
Mohamed explicou que os vestígios que existentes, são dedicados a tríade tebana divina de Amon, Mut e Khonshu, e que foram sucessivamente aumentados pelos diversos faraós, tendo levado mais de mil anos a construírem os complementos da construção. Relatou que constitui uma mescla de vários templos fundidos num só.
Josie observou o monumento composto de pedras, imponente e sofrendo as ações do tempo.
Belas e altivas ruínas.
Em seguida, caminharam pela Grande Sala Hipostila.
Novamente o muçulmano comentou sobre os detalhes arquitetônicos da construção, dizendo que o teto era suportado por cento e trinta e quatro enormes colunas, ainda existentes, e consideradas como as maiores do mundo.
Josie e Fabrício caminharam e atentos, procuraram observar cada detalhe da imponente sala.
Observaram as colunas do monumento.
Quando chegaram ao Templo de Luxor, Mohamed explicou que o monumento foi iniciado na época de Amenhotep III e só foi acabado no período muçulmano. É o único monumento do mundo que contém em si mesmo documentos das épocas faraônica, greco-romana, copta e islâmica, com nichos e frescos coptas e até uma Mesquita (Abu al-Haggag).
O grupo caminhou por entre as ruínas, as esculturas de faraós. Pela ampla área histórica.
Mohamed fez questão de mostrar a mesquita, a jovem.
O muçulmano contou a moça que os árabes rezam até cinco vezes ao dia voltados para Meca.
Josie e Fabrício ficaram impressionados com a imponência da construção e suas imensas esculturas e estátuas, de vários metros de altura, a adornar o monumento.
Josie aproveitou para tirar fotos.
Em seguida, o grupo seguiu para o Museu de Luxor.
Mohamed explicou que era um museu pequeno. Mencionou que este possuí uma importante coleção de de peças de todas as épocas do Egito Antigo.
Caminhando pelo museu, viram descobertas arqueológicas de Luxor.
Mohamed comentou que a noite, o templo fica todo iluminado.
Josie perguntou se poderia apreciar o espetáculo.
Mohamed concordou.
E assim, a noite a moça apreciou o espetáculo das luzes iluminando as esculturas, as estátuas, o grande monumento e suas ruínas sendo iluminadas.
No caminho, Josie observou hotéis luxuosos e muitas palmeiras.
No dia seguinte, o grupo realizou um passeio de barco pelo Nilo.
Mais tarde, se encaminharam para a margem Ocidental de Luxor.
Passearam pelo Vale dos Reis.
Mohamed explicou tratar-se da principal necrópole real do Império Novo do antigo Egito, possuindo 62 túmulos dos faraós desse período e também os túmulos dos faraós Tutankamon, Ramsés IX, Seti I, Ramsés VI e o de Horemheb. Relatou que ainda hoje se continuam a retirar jóias dos túmulos dos filhos de Ramsés II. Os túmulos aí existentes designam-se pelas siglas KV (significando Kings Valley, Vale dos Reis) seguidas de um número, sendo este atribuído consoante a ordem cronológica da descoberta de cada túmulo. No total existem 62 túmulos, sendo o mais importante precisamente o número 62, o do Faraó Tutankhamon, em virtude do espólio do achado. Neste local, encontrou-se o maior e mais complexo túmulo do Vale dos Reis. Julga-se ter encontrado o túmulo dos 52 filhos de Ramses II.
O grupo passeou pelo Vale das Rainhas.
Mohamed, começou a dizer que ali se destacam os túmulos do Príncipe Amenkhepchef, da Raínha Ti e o da Raínha Nefertari, esposa do Faraó Ramses II. Mencionou que o túmulo dispõe de alguns dos mais bem conservados e coloridos hieróglifos egípcios.
Visitaram também, o templo mortuário da rainha Hatshepshut.
Mohamed mencionou que o mesmo foi projetado e construído por Senenmut, arquiteto da rainha Hatshepsut. Rainha, da 18ª Dinastia, governou como um autêntico faraó, sendo assim considerada a primeira mulher chefe do Governo na História. Templo este talhado parcialmente na rocha. Monumento que se funde com a encosta de pedra que lhe serve de apoio.
O muçulmano informou que o templo foi posteriormente alterado por Ramses II e pelos seus sucessores, e mais tarde os cristãos transformaram-no num mosteiro (daí o nome Deir al-Bahri, que significa "Mosteiro do Norte").
Continuaram passeando pelos templos, túmulos e ruínas.
Nisto Mohamed, informou que próximo ao templo principal situam-se as ruínas do Templo de Montuhotep II, Faraó da 11ª Dinastia que unificou o Egito, e o Templo de Tutmósis III, sucessor da rainha Hatshepsut.
Relatou que o Vale dos Nobres, contém vários túmulos, e que as paredes destes túmulos estão decoradas com cenas da vida quotidiana. As mais famosas são as dos túmulos de Ramose, de Najt e de Mena. O Templo de Medinet Habu, é compreendido por vários outros templos, a começar pelo Ramsés III.
Josie observou os hieróglifos, as cenas do cotidiano do Egito.
No dia anterior se impressionou com os artefatos antigos, as enormes estátuas de pedra dos faraós, as ruínas. As luzes e as cores iluminando o Templo de Luxor.
Durante o passeio de Barco, Mohamed relembrou que o Egito era uma dádiva do Nilo.
Foram três dias de passeio.
Mohamed comentou durante o almoço, que sentia-se voltando no tempo, quando pisava aquele solo sagrado.
Josie por sua vez, tirara muitas fotos do lugares turísticos.
Durante o almoço, a moça fez alguns apontamentos sobre os lugares que visitara.
Fabrício comentou com Mohamed, que fazia parte do processo de trabalho dela.
Mohamed, pediu licença para Josie.
Perguntou se podia ler o que ela escrevera.
A moça respondeu que não.
Fabrício, percebendo o clima tenso, sugeriu ao grupo, que observasse os barcos percorrendo o Rio Nilo.
Mais tarde, o grupo seguiu rumo ao Cairo.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 36
Depois sentou-se e começou a ler o seu livro.
Fabrício curioso, perguntou a jovem, o que estava lendo.
Josie respondeu que as histórias da obra “As Mil e Uma Noites”.
Desta forma, a jovem contou-lhe a história de Aladin e sua lâmpada maravilhosa.
Rapaz de origem pobre, que em nada auxiliava a mãe, que vivia de fiar e tecer algodão para sustentar o filho.
Certo dia, o moço foi visto por um estranho que se apresentou como irmão de seu pai, já há muito falecido.
Disse-lhe que apareceria em casa de sua mãe para jantar.
Nisto, o jovem contou a mãe que um homem se aproximara dizendo ser seu tio.
No que a mulher argumentou que nem ela, nem o falecido marido, tinham irmãos.
Entretanto, ainda assim, procurou preparar um bom jantar.
Com efeito, o estranho comeu regaladamente.
Gentil, comentou que Aladin era um belo garoto. Perguntou-lhe de suas ocupações.
O jovem ficou constrangido.
Sua mãe disse que o filho não ajudava em nada.
No que o estranho respondeu que isto não era bom. Argumentou que passara os últimos quarenta anos viajando. Razão pela qual não era conhecido da família.
Ao ver que o moço não tinha ocupação, prometeu montar uma loja, para que o rapaz pudesse trabalhar.
Para tanto providenciou boas roupas, sapatos para o moço.
Sua mãe, quando o viu tão bem alinhado, ficou encantada.
Mais tarde, Aladin e o homem, partiram em uma aventura.
Cearam e depois o homem lhe disse que teriam que caminhar por um vale estreito e escuro.
Aladin o acompanhou.
Depararam-se com a escuridão, que foi dissipada pelo fogo, e a terra abriu, depois de proferidas algumas palavras mágicas pelo estranho.
Aladin assustou-se e só não correu em disparada, por que o homem o reteve dizendo que se seguisse suas instruções, poderia ficar muito rico.
O rapaz concordou. Com isto, abriu a fenda que se mostrava com uma argola.
Nisto o tio lhe disse que deveria atravessar três ricos salões repletos de vasos cheios de ouro e prata. Orientou o rapaz para que não tocasse nas preciosidades. Em seguida, adentraria um salão que teria saída para um belo pomar, repleto de belas frutas, até encontrar um muro, onde havia uma lâmpada iluminada.
O homem então, instruiu o sobrinho a pegar a lâmpada, e não encostar nas paredes, pois se o fizesse, morreria instantaneamente.
Por fim, deu-lhe um anel mágico, argumentando que o mesmo o protegeria contra todos os males.
Aladin, enchendo-se de coragem, aceitou o desafio e desceu em direção aos salões.
Desceu os degraus da escadaria, e deparou-se com os salões repletos de ouro e prata.
Disciplinado, o moço não tocou em nada.
Com isto, percorreu o último salão, e ao ver-se diante de frutas tão bonitas e suculentas, encheu os bolsos com algumas delas. As frutas tinham um brilho que nunca vira antes.
Finalmente chegou no lugar onde estava a lâmpada.
A mesma fora colocada em um nicho, brilhava muito.
O rapaz pegou então a lâmpada, percorreu os salões, e se encaminhou para a passagem.
Contudo, com o peso das preciosidades que carregava consigo, o moço não conseguiu chegar a superfície.
Nisto o estranho pediu-lhe que entregasse a lâmpada.
Aladin respondeu-lhe que assim que chegasse a superfície lhe entregaria o artefato.
Irritado, o homem atirou fogo ao incenso e proferiu algumas palavras mágicas, fechando a entrada.
Aladin ficou preso no lugar.
Aflito tocou as mãos como se fosse rezar.
Foi então que apareceu um gênio perguntando-lhe o que desejava.
O jovem pediu para ser levado de volta para casa.
Quando chegou em casa, sua mãe admirou-se em vê-lo.
Aladin pediu-lhe algo para comer.
A mulher pesarosa, respondeu que nada tinha, mas que havia fiado um pouco de algodão e que iria vendê-lo.
No que Aladin disse que poderiam vender a lâmpada.
Como a lâmpada estava muito suja, sua mãe esfregou o artefato.
Foi então que apareceu um gênio e perguntou o que desejava.
Informou que quem esfregava a lâmpada, tinha direito a ter seu desejo atendido.
Como sua mãe se assustara com a aparição, Aladin resolveu ele próprio fazer o pedido.
Desejou um bom jantar.
Nisto o gênio trouxe doze pratos argênteos e bandeja também de prata, com rico repasto.
Sua mãe e ele se regalaram com as iguarias providenciadas pelo gênio.
Disseram que nunca haviam se servido de uma refeição tão deliciosa.
Mais tarde, aproveitaram a louça de prata e venderam-na.
Fato este que fez com que vivessem com conforto por um longo tempo.
A certa altura, uma jovem nobre, desejosa de um banho de mar, percorreu as ruas do lugar cercada de aias.
Como seu pai, não quisesse que a moça fosse observada pelos homens do lugar, ordenou que as ruas fossem esvaziadas.
Aladin no entanto, escondeu-se em uma ramagem, de onde observou a jovem.
Neste momento, a moça retirou o véu do rosto.
Aladin ao ver tão grande beleza, desejou casar-se com a moça.
Nisto contou a mãe a beleza que vira, e o intento de se casar com a jovem.
A mulher tentou então, demovê-lo da idéia.
O moço por sua vez, sugeriu que sua mãe conversasse com o pai da jovem.
Para impressioná-lo, poderia levar algumas das frutas que colhera no pomar. Argumentou que na realidade não eram frutas e sim jóias, de um esplendor e valor sem iguais.
Sua mãe então, colocou as jóias e um prato, e observando-as, percebeu um brilho sem igual.
Convenceu-se de que eram jóias de valor.
Desta forma, deixou as mesmas em um prato e envolveu-a em um tecido.
Com isto, dia após dia, a mulher se postou diante do sultão.
Em dado momento o homem finalmente percebeu-a. Conversou com a mulher.
Ela então, enchendo-se de coragem, contou que seu filho tinha interesse em casar-se com sua filha.
Neste momento retirou o tecido que envolvia o prato e exibiu as jóias para o sultão, que ficou encantado com a beleza das gemas.
Solicito, comentou que a mão de sua filha estava prometida a um de seus oficiais, mas que se o rapaz trouxesse quarenta tinas iguais aquela, por quarenta escravos negros, cada qual precedido de um branco, todos ricamente vestidos, teria a mão de sua filha.
A mulher então, retirou-se.
Comentou com o filho o que ocorrera no castelo do sultão, no intuito de fazer com que o rapaz desistisse de tão insana idéia.
O jovem porém, não se deu por vencido.
Ordenou ao gênio que providenciasse as quarenta tinas repletas de pedras preciosas, com os quarenta escravos negros, precedidos cada qual, de um escravo branco. Todos majestosamente vestidos.
O gênio atendeu prontamente o pedido.
Os escravos caminharam pelas ruas da cidade, encantando a todos os passantes com o luxo de suas vestimentas.
O sultão, ao ser atendido em seu pedido, concordou no casamento da filha com tão valoroso jovem.
Aladin por sua vez, pediu ao gênio lindas roupas, sapatos, e um banho perfumado, além de um bonito cavalo, tão belo quanto o do sultão.
E assim, o rapaz se dirigiu a morada do sultão, sendo recebido com festa.
Com isto, solicitou ao gênio um imponente castelo, com belos móveis, jóias, cavalos, cocheiras, para sua morada e de sua esposa.
O casamento de Aladin com sua princesa, encantou a todos pelo luxo.
O moço, em reconhecimento ao valor de sua lâmpada mágica, depositou-a em um móvel a vista de todos.
Em dado momento, precisou ausentar-se do castelo.
Foi a deixa para que o mágico, utilizando-se de um expediente escuso, se dirigisse a sua propriedade.
E assim, certo dia, um mágico bateu a porta do castelo, oferecendo-se para trocar lâmpadas velhas, por novas.
A princesa, que não tinha conhecimento do valor da lâmpada, acabou concordando em trocá-la.
O mágico então, encantado com a beleza do palácio, bem como da princesa, levou-os consigo.
O sultão, ao tomar conhecimento do fato, buscou o genro e intimou-a a encontrar sua filha. Disse-lhe que teria quarenta dias para trazê-la de volta ao reino, ou teria sua cabeça cortada.
Aladin por sua vez, auxiliado pelo gênio do anel, foi conduzido ao local onde o mágico tinha levado sua esposa.
A princesa ao vê-lo abraçou-o e chorou de alegria.
Aladin contou-lhe os prodígios da lâmpada e a princesa confessou que vendera o artefato, pois acreditou que o mesmo não tinha nenhum valor.
Nisto, o casal arquitetou um plano, para recuperarem a lâmpada.
A princesa então, ofereceria bebida ao mágico, para que ele adormecesse.
Aladin por sua vez, adquiriu um pozinho, e levando-o para a esposa, orientou-a a depositar na taça em que o mágico sorveria uma bebida.
E assim a princesa o fez.
Gentil, ofereceu ao homem uma bebida, o qual, encantado com tanta amabilidade, sorveu o líquido.
Foi questão de minutos para que o homem adormecesse.
Aladin então, recuperou sua lâmpada, já que o homem a levava consigo para todos os lugares onde ia.
Desta forma, ele, a princesa e o castelo, retornaram ao local de origem.
Quando o mágico despertou, ficou atordoado ao se ver sem o castelo, sem princesa, e em meio a rua.
Sem perceber o movimento das carroças, o homem acabou sendo esmagado por uma besta.
Nisto, em honra a vitória de Aladin, o sultão providenciou uma festa que durou dias.
O casal a partir de então, foi feliz para sempre.
Nisto, após o falecimento do sultão, Aladin ocupou o trono, governando a região, por longos anos.
Fabrício adorou o relato. Comentou que enquanto Josie relatava a história, ficava a imaginar as personagens, suas vestimentas, suas casas, enfim, todo o cenário, seus costumes, e o desenrolar da história. Brincando, disse-lhe que parecia uma verdadeira Sherazade.
Josie riu.
Fabrício então, bebeu um pouco da água do regato, e por fim, a dupla retornou para a tenda.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 35
Na manhã do dia seguinte, a jovem foi cavalgar com Fabrício pelo deserto.
Durante o passeio, a moça comentou que estava estudando a possibilidade de descobrir um caminho e fugir dali.
Nisto, perguntou ao amigo, se ele sabia qual era o caminho de volta.
Fabrício respondeu então, em que pese os anos em que morava no Egito, os caminhos do deserto eram todos iguais para ele. Sem um guia, não sabia qual direção seguir.
Josie ficou desolada.
Aflita, começou a chorar copiosamente.
Dizia que estava perdida, que Mohamed iria matá-la.
Ao ouvir isto, Fabrício respondeu que ele jamais faria isto com ela.
A certa distância, os homens de Mohamed os acompanhavam no passeio.
Em dado momento, Josie começou a correr com seu cavalo.
No meio do caminho parou. Avistou alguns cameleiros.
Frenética, a moça começou a acenar para os homens.
Dizia em inglês:
- Here! Here! Isa bitrid.
Mesmo implorando, a moça não foi vista pelos homens.
Desolada, a jovem ficou parada, observando os cameleiros seguirem viagem.
Nisto, Fabrício aproximou-se da moça.
Perguntou-lhe se estava bem.
Josie começou a chorar novamente.
Fabrício a abraçou.
Os homens de Mohamed aproximaram-se da dupla e os conduziram de volta as suas respectivas tendas.
Quando o muçulmano tomou conhecimento da tentativa de fuga de Josie, ficou furioso.
Disse que ela havia se arriscado inutilmente.
Argumentou que ninguém ousaria levá-la dali. Salientou que era um homem muito influente na região, e que todos o respeitavam.
Josie voltou a chorar.
Desconsolada, recusou-se a comer.
Não fosse a intervenção de Fabrício, e Mohamed a teria obrigado a se alimentar.
O homem argumentou porém, que ele não deveria fazê-lo. Disse que conversaria com a moça e a convenceria a comer, nem que fosse um pouquinho.
No que Mohamed acrescentou que ele poderia conversar com ela, mas que não se conseguisse convencê-la, iria fazê-la comer, nem que ela fosse obrigada a isto.
Josie permanecia reclusa.
Durante a noite, enquanto dormia, dizia o nome de Olavo. Perguntava por que ele ainda não viera buscá-la.
Mohamed aflito, decidiu permanecer na tenda onde a moça estava.
Enquanto Josie dormia, entrou em seu quarto, e ouviu a jovem chamar por um certo Olavo.
Mohamed ficou enciumado.
No dia seguinte, ao conversar a sós com Fabrício, perguntou-lhe quem era Olavo.
Como o homem dissesse não saber de quem se tratava, Mohamed argumentou que se eles eram tão amigos, seria improvável que a moça não tivesse comentado quem era o rapaz.
Fabrício então, recordou-se das palavras de Josie em um jantar, dizendo que tivera um noivo que falecera.
Mohamed, percebendo que o homem estava distante, perguntou-lhe o que estava havendo.
Fabrício respondeu então, que Josie lhe dissera que havia um noivo, mas que o mesmo falecera.
O jovem muçulmano ficou perplexo.
- Noivo? Como assim? Que noivo?
Fabrício respondeu então, que não sabia detalhes da relação, e tampouco o nome do rapaz. Todavia, para Josie dizer aquelas palavras, aquele nome, provavelmente estava se referindo ao noivo falecido.
Mohamed demonstrou descontentamento.
Nisto, quando a moça despertou, Samara tratou logo de chamar Mohamed.
Ao chegar na tenda, o moço pediu a criada para que visse como a moça estava.
Disse que a criada avisasse que em seguida, entraria no quarto.
Samara retirou-se num gesto de reverência ao jovem.
Minutos depois, retornou dizendo que Josie estava se arrumando e que iria ao encontro dele.
Usando uma túnica toda enfeitada, com os cabelos a mostra, Josie respondeu que tinha o direito de se vestir a moda ocidental, pelo menos enquanto estivesse dentro da tenda.
Argumentou que havia sido informada que as mulheres tinham que usar o icharb e a túnica apenas quando saiam de casa. Ademais, salientou que não era árabe e que portanto, não tinha que obedecer costumes tão rígidos.
Por fim, comentou que cansou de ver homens vestidos em trajes ocidentais e até algumas mulheres.
Mohamed argumentou que somente as turistas se vestiam de forma escandalosa.
Josie irritou-se.
Virando as costas para o moço, tencionou sair da tenda.
No que foi proibida pelo jovem.
Mohamed comentou que ela não estava bem, que deveria se alimentar. Dessarte, as saudades de Olavo não lhe fariam bem.
Ao ouvir isto, Josie voltou-se para o moço.
Espantada, perguntou ao jovem, de onde ele havia tirado o nome.
Mohamed respondeu que o nome Olavo havia saído da própria boca da jovem. Explicou-lhe que havia chamado por Olavo enquanto dormia.
Josie ficou sem palavras.
Irritado, Mohamed exclamou que naquela tenda só havia lugar para duas pessoas, e que um terceiro não iria diminuir o espaço. Furibundo, exigiu que Josie explicasse quem era Olavo.
Josie porém, continuava muda.
A certa altura, o homem segurou a moça pelo braço e começou a chacoalhá-la. Insistia em dizer que tinha direito a uma explicação.
Josie, cansada, a certa altura, ameaçou cair.
O jovem muçulmano, ao perceber isto, amparou-a.
Percebendo que Josie não conseguiria permanecer em pé, segurou-a nos braços e carregou-a até seu quarto.
Aflito, perguntou se precisava de algo.
Josie respondeu que sentia falta de ar.
Mohamed então, pegou um livro, e começou a abaná-la.
Fabrício, preocupado, encaminhou-se para a tenda.
Ao ver o muçulmano cuidando da moça, tranqüilizou-se.
Afirmou ter tido a impressão de que o jovem estava brigando com a moça, razão pela qual invadira o quarto. Com isto, pediu desculpas e se afastou.
Em dado momento, Mohamed perguntou se Josie estava melhor.
Josie respondeu então, que estava um pouco melhor.
O moço deste modo, carregou-a para fora do quarto e ajudou-se a se sentar nas almofadas.
Mohamed respondeu-lhe que tomaria um café da manhã brasileiro.
Nisto chamou Samara e pediu para que providenciasse frutas e leite para o café da manhã.
Como Josie não quisesse se alimentar, Mohamed pegava o mamão cortado e oferecia a fruta de colherada a moça.
Por fim, a jovem acabou se alimentando.
Josie levantou-se então, e sentou em uma cadeira, recostando o corpo. Parecia cansada.
Mohamed também se levantou e tocou no rosto da moça.
Ao perceber que Josie não tinha febre, recomendou que descansasse.
Fabrício ficou algum tempo com a moça.
Ao vê-lo, a moça começou a chorar.
Fabrício, tentando acalmá-la, argumentou que aquela situação era transitória.
Mais tarde, Mohamed voltou a tenda para verificar se Josie estava melhor.
Prometeu-lhe levá-la de volta ao Cairo.
Ao ouvir isto, Josie perguntou-lhe onde estava sua mala.
Mohamed respondeu que seus pertences seriam todos devolvidos.
Mais tarde, Josie almoçou.
Comeu carne, salada. Tomou suco.
Fabrício, que a acompanhou no almoço, respondeu que finalmente degustava a comida brasileira. O homem respondeu que fazia muito tempo que não comia a comidinha de sua terra.
Mais tarde, Samara e outros dois criados, trouxeram as malas da moça.
Josie mal podia acreditar.
Comentou com Fabrício que estava tudo ali.
Feliz, respondeu que poderia terminar o trabalho que havia começado.
Fabrício ficou espantado.
Tanto que foi conversar com o moço para tentar entender o que havia feito com que mudasse de idéia em relação a Josie. Argumentou que sua inflexibilidade beirava a obsessão.
Mohamed respondeu desolado, que não poderia competir com outro homem.
Desolado, pediu para Fabrício cuidar dela.
O homem prometeu que Josie não ficaria desamparada.
Nos dias que se seguiram, a moça voltou a usar suas roupas.
Mohamed recomendou-lhe que continuasse a usar as túnicas quando saísse da tenda.
Josie porém, insistia em usar as roupas que estava acostumada a vestir no Brasil.
Nisto aproveitava as manhãs para passear.
Um dia, Josie encontrou um lugar com água e vegetação em volta.
Empolgada, chegou a comentar com Fabrício que era um oásis.
De modos que a moça aproveitou para beber um pouco da água.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 34
Mais tarde, um empregado de Mohamed foi até o hotel onde a moça estava hospedada, realizando a entrega dos tecidos.
Josie deu uma gorjeta do moço, que agradeceu em inglês.
A moça depositou os pacotes em cima da mesa.
Abriu-os.
Realmente eram belos tecidos.
Quando a moça abriu o pacote do tecido presenteado por Mohamed, percebeu bilhete no meio do tecido.
Leu-o.
No texto, o homem a convidava para um passeio pelas ruas da capital. Dizia que somente um egípcio a faria sentir de fato a vida no país.
Na missiva, combinou de se encontrar com a moça, logo cedo, às oito horas da manhã.
Josie achou-o abusado.
Isto por que já havia combinado um passeio com Fabrício.
Com isto, quando a moça saiu do hotel, deparou-se com Mohamed, que a esperava de carro.
Josie ao cumprimentá-lo, disse que havia combinado um passeio com Fabrício, e que não poderia deixar o homem esperando-a.
Mohamed perguntou onde o homem estava, pois iria buscá-lo.
O moço, ao vê-la trajando roupas ocidentais, perguntou-lhe quando usaria os tecidos.
Josie respondeu que não sabia como usar os tecidos à moda dos muçulmanos.
Mohamed prometeu presenteá-la com uma indumentária apropriada.
Achou graça na falta de conhecimento da moça, sobre os costumes árabes.
Com isto, em alguns minutos, encontraram Fabrício.
O homem elogiou o país. Disse ao jovem muçulmano que aquela terra continha muita história.
Mohamed levou-os para visitarem o Museu do Cairo e conhecerem os utensílios do Egito antigo. Comentou sobre os túmulos dos faraós, as pinturas no interior das pirâmides, o laborioso trabalho de levar pedras enormes deserto afora, e empilhá-las de forma a erigir o famoso monumento.
O moço mostrou a Josie vasos, esculturas de deuses, pinturas.
A jovem ficou deslumbrada com o tamanho das salas do museu.
Enormes, abrigando toda a sorte de objetos que fizeram a riqueza e o passado do país.
Percebendo o interesse da moça, o rapaz comentou que aquele acervo era tão rico quanto acervo existente em outros países. Sugeriu a jovem, que o acompanhasse na exposição sobre objeto de Tutankamon, o faraó que morrera extremamente jovem.
Josie observou sarcófagos, urnas funerárias, objetos do faraó.
Imensas esculturas, pergaminhos, utensílios de uso pessoal. Monumentos.
A mulher respondeu que nunca vira nada tão impressionante.
Mohamed sorriu.
A certa altura, perguntou a moça se estava gostando do passeio.
Josie respondeu que era uma cultura bem interessante.
Nisto começou a tirar fotos.
Mohamed, recomendou-lhe que não tirasse fotos com flash no interior do museu.
Josie desculpou-se.
Desativou a função e passou a tirar algumas fotos do lugar.
Mohamed perguntou-lhe o porquê de utilizar um equipamento profissional.
A moça respondeu que era jornalista.
O jovem muçulmano perguntou-lhe se estava no Egito a trabalho.
Josie respondeu que sim.
Curioso, o moço perguntou-lhe se viajava acompanhada.
Josie, respondeu que não.
Mohamed argumentou que devia ser bem solitário viajar sozinha, mesmo sendo a trabalho.
Josie continuou a olhar as peças expostas.
Ficou impressionada com um sarcófago. Perguntou a Mohamed se haviam múmias no museu.
O jovem respondeu que não.
Argumentou também, que se o acervo do museu local era imponente, o que poderia se dizer do acervo que compunha os museus da Europa e dos Estados Unidos, repletos de peças egípcias.
Ao término da visita, Mohamed perguntou a moça, onde gostaria de almoçar.
Como Josie dissesse que não conhecia nenhum dos restaurantes das proximidades, o moço perguntou a Fabrício se tinha alguma preferência.
Como o senhor dissesse que ele poderia escolher, Mohamed respondeu que iria levá-los para comerem as melhores iguarias do lugar.
E assim, conduzindo-os em seu carro, em meio ao frenético trânsito local, o moço levou seus convidados para comerem na Torre da TV.
Fabrício, já acostumado com o trânsito caótico da cidade, aconselhou apenas, que o moço tentasse ter um pouco de cuidado.
Josie, ao ouvir o comentário do amigo, ficou um pouco aflita.
Mohamed brincando, disse que o carro da frente amortecia o impacto do carro atrás. Por fim, completou com um: Mafísh mushkêla! (Não tem problema!).
Fabrício começou a rir.
Josie por sua vez, respondeu que não via a menor graça naquelas brincadeiras.
Nisto, Mohamed deu partida no carro. Começou a dirigir pelas ruas da capital, da maneira que podia.
Freadas bruscas, a toda a velocidade.
A moça estava apavorada.
Nisto o trio se encaminhou para a Torre da TV.
Ao chegarem no restaurante, Mohamed foi logo recepcionado por um hostess.
O homem usava túnica branca, cirwal (calça larga – usada por baixo da túnica), cafia (pano quadrado preso por uma tira chamada egal). Em seu pulso direito, um imponente relógio de ouro e prata.
O homem estava impecável.
Josie, com seu jeans e sua camisa branca, ficou constrangida ao se deparar com tão luxuoso restaurante. Argumentou que não estava apropriadamente vestida para freqüentar o lugar.
Mohamed comentou sorrindo, que ela estava muito bem vestida para a ocasião, tendo em vista que vinha de um longo passeio pela cidade.
O trio serviu-se de: uára al-áinab (um bolinho de arroz e tempero enrolado em folha de videira); de kóshari (composto de arroz, tomate, macarrão, pimenta, salsa e cebola frita), além de carne de cordeiro e salada. Apreciaram a panqueca fitir (composta de vários ingredientes, entre eles o queijo).
Por fim, o trio serviu-se de khusháf (a base de tâmaras e frutas cristalizadas com leite).
A tarde seguiu encantadora.
O jovem muçulmano levou Fabrício e Josie para um passeio de carro pelas ruas do Cairo.
A moça aflita, tentou recusar o convite.
No que foi impedida por Fabrício.
A certa altura, nervosa, a moça se pôs a chorar.
Fabrício e Mohamed se entreolharam, atônitos, sem saber o que fazer.
Preocupado, Fabrício aproximou-se da moça e perguntou o que estava acontecendo.
Josie respondeu aos prantos, que nada.
O homem porém, percebendo o nervosismo da jovem, conversou reservadamente com Mohamed.
Depois de um certo tempo, o muçulmano conduziu Fabrício e Josie de volta.
De volta ao hotel, a moça tratou de se jogar na cama. Exausta, dormiu quase que imediatamente.
Nisto, Mohamed levou Fabrício para sua residência.
No caminho, o homem comentou com o rapaz, que pretendia levar a moça para conhecer as pirâmides.
Mohamed disse-lhe que seria um bonito passeio.
Ao despedir-se de Josie, e posteriormente de Fabrício, Mohamed fez um gesto cerimonioso e se despediu.
A noite, a moça foi jantar em um restaurante especializado em comida francesa.
Resolveu vestir calça e blusa sociais.
Enquanto caminhava, Josie teve a impressão de que era seguida.
Assustou-se.
Para sua surpresa, deparou-se com Fabrício, que caminhava na mesma direção.
No que a moça disse:
- O senhor quase me matou de susto!
Fabrício, ao reconhecê-la, pediu-lhe desculpas. Disse que não tivera a intenção de assustá-la. Comentou que pretendia comer algo diferente e que pretendia jantar em um restaurante de comida francesa.
Josie respondeu que tivera a mesma idéia. Argumentou que recebeu uma boa recomendação dos funcionários do hotel em que estava hospedada.
Nisto o homem ofereceu o braço a jovem.
Seguiram juntos para o restaurante.
Fabrício comentou que percebera que ás vezes notava que ela tinha o olhar distante.
Brincando com a moça, insinuou que Mohamed parecia interessado nela.
Josie parecia distraída.
O homem então lhe disse:
- Eu não sei que te faz ficar com este olhar perdido, mas uma mulher não notar um homem, é sinal de que ou ela já é comprometida, ou não está interessada no rapaz.
Josie respondeu que não era nada disto.
No que Fabrício perguntou se ela tinha alguém no Brasil.
Josie respondeu que não.
A voz da moça era triste.
Fabrício insistiu, perguntando-lhe se havia brigado com o namorado.
A jovem respondeu que não tinha namorado para brigar. Chorando, respondeu que seu noivo havia morrido.
Fabrício ficou perplexo.
Tentando consolá-la, abraçou a jovem.
Quando a jovem se acalmou, Fabrício pediu crepe para os dois.
Começaram por comer crepes salgados, e finalizaram com um crepe doce, como sobremesa.
Josie adorou o prato. Comentou que fazia muito tempo que não comia crepe.
Mais tarde, o homem pediu a conta.
Acompanhou a jovem até o hotel.
No caminho, Fabrício pediu-lhe desculpas.
Josie respondeu que não fora nada.
Nisto o homem se despediu.
A moça adentrou o hotel.
No dia seguinte Mohamed foi homenageado em uma festividade ocorrida na região.
O moço, por sua vez, dizia não ser merecedor da aludida homenagem.
A noite houve festa.
Comemoração reservada para poucos convidados.
Fabrício, que havia combinado com Josie de jantar em um restaurante oriental, foi barrado na entrada do estabelecimento sob o argumento de que o local estava alugado para uma festa.
O homem ficou surpreso.
Josie por sua vez, ao ver que se tratava de uma festa para Mohamed, comentou que isto deveria ter sido informado com antecedência.
Nisto o jovem passou com sua comitiva.
Josie do lado de fora, observou-o entrar.
O moço sorriu para ela.
Fabrício cumprimentou o rapaz à distância.
Mohamed retribuiu o cumprimento.
Em seguida, adentrou o restaurante.
Lá havia dança, música e garçons servindo os convidados.
Josie ao ouvir o burburinho dentro do salão, sentiu curiosidade.
Sua vontade era adentrar o salão para verificar o que se passava no local.
Fabrício por sua vez, resolveu levá-la para jantar em outro lugar.
Mais tarde, a moça pediu para Fabrício levá-la novamente até o restaurante onde estava acontecendo a comemoração.
O homem comentou que lá havia apresentação de música típica e danças.
Josie pediu a Fabrício para levá-la para o hotel.
Mais tarde, a moça pegou um dos tecidos que havia ganho de presente.
Ao ver os tecidos dispostos na cama, pegou um deles e passou a cobrir os cabelos com a peça.
Como não possuía traje árabe típico, resolveu pedir um, emprestado.
Nisto contatou a portaria do hotel, onde pediu o auxilio de uma camareira.
Quando a mulher apareceu, a mesma tentou lhe explicar como fazia para vestir-se a moda árabe.
Ao ver que Josie não possuía nada além de panos, sugeriu que a moça adquirisse um traje árabe.
A jovem perguntou a funcionária onde encontraria alguém disposto a lhe vender uma túnica.
No que a moça respondeu que poderia resolver o problema, emprestando-lhe uma roupa.
Josie agradeceu. Prometeu que pagaria o empréstimo.
Com efeito, ao se ver no espelho, a mulher admirou a imagem.
A funcionária disse-lhe que nem parecia que vinha de fora, que era uma estrangeira.
- Thank’s. – agradeceu Josie.
Em seguida, depositou algumas cédulas de libra egípcia nas mãos da moça, que agradeceu.
Nisto, a funcionária fez um gesto cerimonioso e se despediu.
A jovem então encaminhou-se novamente para o restaurante.
O recepcionista do restaurante disse-lhe que não poderia entrar.
Josie perguntou o porquê.
O funcionário respondeu que se tratava de uma festa apenas para convidados, e que nenhuma mulher havia sido convidada.
Ao ouvir isto, a jovem ficou desapontada.
Nisto, o recepcionista retirou-se da entrada.
Josie, aproveitando a oportunidade, esgueirou-se pela entrada, adentrando o salão.
Nisto observou as dançarinas realizarem sua apresentação.
Discreta, sentou-se em uma almofada e ficou a observar a dança.
O que ela não esperava, é que notariam sua presença em poucos minutos.
Dois seguranças, ao perceberem sua presença, tentaram conduzi-la para fora do salão.
No que foram impedidos pelo homenageado que insistiu em ver a moça.
Ao ver que era Josie, o homem ficou espantado.
Por fim, achando graça, perguntou o que tão bela flor estaria fazendo naquele lugar. Brincando, perguntou-lhe se não era um lugar inconveniente para ela.
Josie respondeu apreensiva, que tinha curiosidade em conhecer os costumes da região.
Mohamed respondeu-lhe que havia formas melhores de se conhecer os costumes de um povo.
Nisto, o homem tirou a capa que cobria a túnica da moça.
Elogiou a roupa.
Acuada, a moça pegou uma faca.
Mohamed percebendo isto, comentou que ela não precisava ter medo.
Em que pese a cultura milenar muito diversa dos ocidentais, ela não estava em meio a selvagens. Argumentou que todos ali a respeitariam.
Josie então, diante do olhar sério do moço, colocou a faca de volta a mesa.
Nisto, o jovem muçulmano a conduziu até o hotel onde Josie estava hospedada.
A moça seguiu calada até o hotel.
Ao conduzir Josie até a entrada do estabelecimento, o rapaz disse-lhe que ela teria outras oportunidades melhores de conhecer a cultura do país.
Por fim, se afastou.
Aturdida, a moça dirigiu-se a seu quarto.
De madrugada, ao retirar-se da festa em que era homenageado, o moço pediu para alguns músicos o acompanharem até um hotel.
Lá o moço começou a cantar músicas árabes.
Josie que dormia um sono leve, depois de alguns minutos, ao ouvir uma melodia, levantou-se.
Aproximou os ouvidos da janela.
Curiosa, abriu a janela.
O som parecia cada vez mais próximo.
Mohamed que não queria ser identificado, escondeu-se entre as plantas.
Josie parecia gostar da música.
Intrigada, perguntou-se para quem estaria cantando.
A certa altura, a moça fechou a janela.
Os músicos continuaram a apresentação por algum tempo, até se afastarem.
Mohamed escalou a fachada do hotel, e sorrateiro, entrou no quarto da moça, que a esta altura, dormia novamente.
O homem cuidadosamente observou o quarto, os pertences da moça.
Ficou olhando-a dormir.
Por fim, retirou-se do aposento pela mesma janela por onde entrara.
Para se despedir, cantou uma melodia para a moça.
Josie despertou novamente.
Quando Mohamed chegou em sua casa, já era dia claro.
Josie por sua vez, acordou agitada.
Conforme combinado com Fabrício, a dupla seguiria para a região das pirâmides.
A moça então, de malas prontas, encerrou sua conta no hotel.
Seguiria viagem para o local, onde se hospedaria no mesmo hotel em que Fabrício ficaria.
O homem por sua vez, alugou um carro para viajar.
Assim, foi buscar a moça no hotel.
Fabrício auxiliou-a com a bagagem.
Animado, comentou que fazia tempo que não se divertia tanto.
Josie perguntou-lhe se era casado.
Fabrício respondeu-lhe que fora casado por muito tempo, mas que Deus havia levado sua esposa. Era viúvo.
A moça ao ouvir estas palavras, pediu-lhe desculpas. Comentou que lamentava a perda.
Fabrício sorrindo, disse-lhe que não havia necessidade de tantos pruridos. Com um olhar triste, comentou que ele também tinha sofrido uma perda, mas em compensação, tinha coisas muito bonitas para se lembrar.
Josie sorriu triste.
Fabrício, colocando a mão em seu ombro, disse-lhe que aquele não era o momento para lembranças tristes. Comentou que séculos de história exigiam que a mente estivesse quieta e o coração tranqüilo.
Sorrindo, Josie respondeu que esta era a letra de uma canção muito querida para ela.
O homem respondeu que sua mulher ouvira esta canção e gostara muito da letra. Resultado, sempre que sentia medo, preocupação, ou mesmo desespero, lembrava-se da música. Fabrício comentou que Cecília procurava ouvir os sons da música. Ocupando-se disso, acaba se acalmando.
Disse que Cecília era uma pessoa muito positiva. Mesmo nos piores momentos, não se desesperava.
Nisto o homem ajudou-a a entrar no carro.
Durante a viagem, a moça respondeu-lhe que já ouvira falar neste nome. Comentou que uma parente sua tinha este nome. Só não soube precisar que parente era, já que sua família não entrava em detalhes sobre os antepassados. Mencionou ter a impressão de que se tratava de uma sua avó.
Fabrício lamentou o fato. Comentou que conhecer detalhes sobre a família, era descobrir algo mais sobre a própria origem.
Josie concordou.
Nisto, enquanto percorriam o país, se deparavam com pequenas cidades, vilarejos, o deserto, pobreza, miséria.
Tamareiras.
Ao saírem do Cairo, se depararam com as pirâmides, próximas a um bairro da cidade.
Homens e seus rebanhos de camelos.
Josie se encantou com as árvores. Dizia que se sentia em um cenário bíblico.
Fabrício respondeu que o Egito fazia parte da história contada na Bíblia.
Durante o trajeto, ao chegar em um vilarejo, a dupla resolveu parar.
Fabrício aproveitou para colocar gasolina no carro.
Josie resolveu descer do veículo.
Ficou a admirar o deserto.
Distraída, não percebeu a aproximação de outros turistas.
A certa altura, os turistas sumiram.
Só permaneceu no posto a jovem e o senhor.
Nisto, um grupo de homens cercou a jovem.
Fabrício encontrava-se em um escritório efetuando o pagamento do combustível.
Josie se assustou.
Sem conseguir reagir, foi empurrada para dentro de um veículo, que saiu em disparada em direção ao deserto.
A certa altura, a moça, que se debatia dentro do carro, foi levada até Mohamed, que a esperava em um cavalo.
Josie ao ver o altivo árabe, ficou tomada de espanto.
Mohamed, colocou então, a jovem a sua frente, e despedindo-se dos homens, partiu deserto afora.
O moço cavalgou até uma tenda, adrede armada para abrigar a moça.
Nisto, Fabrício ao sair do escritório, notou que a moça não se encontrava no posto.
Preocupado, cogitou chamar a polícia.
Neste momento, um passante informou que a moça ao lado do veículo, fora levada e empurrada por alguns homens para dentro de um carro. Nervoso, o homem comentou que se tratavam de ladrões, já que haviam levado a bagagem também.
Fabrício perplexo, procurou sua bagagem.
A mesma estava intocada.
Já a bagagem de Josie não se encontrava mais no veículo.
Intrigado, o homem se perguntou qual o interesse na moça.
Diante dos fatos, dirigiu-se a uma delegacia.
Lá perdeu algumas horas para registrar a ocorrência.
Aflito disse que a moça estava correndo perigo.
Os policiais disseram-lhe que fariam todo o possível para resgatar a jovem.
Fabrício assinou então, um documento em árabe.
Segundo lhe disseram, era o registro da ocorrência.
Por fim, disseram em um inglês sofrível, que ele deveria aguardar por notícias.
Razão pela qual o homem permaneceu na cidade.
Como o vilarejo não distava muito da cidade, o homem dirigiu-se rapidamente para lá.
Josie por sua vez, ao descobrir que Mohamed a levara até o deserto, tentou resistir a investida, mas cansada que estava de se debater, acabou desmaiando.
Mohamed, acreditando que a moça fazia charme, riu da situação.
Disse-lhe que ela era uma pequena tola.
Nisto o moço cavalgou por cerca de uma hora, até chegar em uma tenda armada para a moça.
Josie então despertou.
O moço ajudou-a, a descer do animal.
Atencioso, Mohamed estendeu o braço, sinalizando que a moça entrasse na tenda.
Josie resistiu.
O jovem, ao perceber a recusa da moça, ficou visivelmente irritado.
Olhando-a firme nos olhos, deixou bem claro que ela não tinha escolha.
Aborrecida, Josie abaixou os olhos e em entrou na tenda.
O homem a acompanhou.
Josie assustada, se afastava de Mohamed.
Conforme o homem tentava se aproximar, ela se esgueirava.
Mohamed achou graça.
Josie por sua vez, estudava os gestos do jovem.
Mohamed, olhando-a nos olhos, começou a se aproximar da jovem.
Beijou-a.
Josie ficou se debatendo.
O jovem, ao ver a moça passando a mão nos lábios como se estivesse limpando o beijo, ficou desapontado.
Ao se sentir desprezado, exigiu que a moça se arrumasse para o jantar. Disse que mais tarde voltaria a tenda.
Josie sentiu desespero, medo. Não sabia o que esperar.
Sem alternativa, a moça vestiu a roupa deixada em uma cama.
Receosa, olhou por todos os cantos da tenda, verificando se ninguém a observava.
Vendo-se sozinha, a moça dirigiu-se para fora da tenda.
Dois homens vestidos a moda árabe, vigiavam a entrada.
Sem alternativa, a moça retornou a tenda e dirigindo-se ao quarto, ficou observando o vestido deixado ali.
Trajou um vestido delicado, de alças e decote nas costas.
Ao vê-la arrumada, uma criada aproximou-se.
Percebendo o espanto da moça, a mulher respondeu que sabia falar inglês e português.
Josie respondeu então, que preferia que ela falasse português.
Nisto a mulher disse que se quisesse, poderia usar um pouco de maquiagem.
A moça sentou-se diante de uma mesinha com espelho.
Em uma penteadeira ricamente adornada, havia maquiagem, perfume e algumas jóias.
Mais tarde, Mohamed retornou a tenda.
Foram servidas iguarias para a moça.
Arroz pilaf – com açafrão, abacaxi e uvas passas, charutinhos de repolho e arroz, fatuche – salada com pepino, alface, tomate, rabanete, hortelã, pão sírio – acompanhada de molho feito de azeite e suco de limão. Além de suco de Amr al-din – damasco seco.
A refeição foi servida em bandejas cobertas, em uma pequena mesa.
Como cadeiras, confortáveis almofadas.
Usando túnica, cirwal – calça larga usada debaixo da túnica, e turbante, galante, o moço perguntou-lhe se estava com fome.
Josie respondeu com desdém, que não.
Mohamed comentou que a recusa era considerada uma desfeita.
Josie respondeu então, que ele poderia servir um pouco das iguarias.
Mohamed chamou uma criada que os serviu.
A moça por sua vez, permanecia em pé, e a todo o momento olhava para a entrada da tenda.
O homem, ao notar isto, aproximou-se da moça. Dispensou a criada.
Segurando o braço da moça, voltou-a para si. Beijou-a.
Josie tentou se desvencilhar do moço.
Mohamed afastou-se um pouco, no que a jovem aproveitou para correr até a entrada da tenda.
Quando saiu, recebeu uma rajada de vento, que cobriu o rosto com areia.
Mohamed, saiu da tenda, e ao ver a moça cobrindo o rosto, envolveu-a com sua abaia – sua longa capa de lã.
Conduziu-a de volta a sua tenda.
Josie foi auxiliada por uma das criadas.
A moça lavou o rosto e os olhos.
Em seguida, Josie foi levada até a sala da tenda, onde finalmente experimentou as iguarias.
Foi servida carne de cordeiro, suco de frutas, arroz, salada quente, pão sírio com molhos, sobremesa com tâmaras e leite.
Triste, a jovem comeu pouco, para preocupação de Mohamed que insistia para que ela comesse mais.
Por fim, a moça pediu licença.
O jovem muçulmano, respondeu que ela só poderia se retirar quando ele autorizasse.
Josie permaneceu sentada.
Ao término do jantar, Mohamed ajudou a moça a se levantar.
Comentou que poderiam fazer um passeio pelo deserto.
Sugeriu-lhe que poderiam conhecer as pirâmides.
Ao ouvir falar em deserto, a moça perguntou de Fabrício.
Argumentou que ele deveria estar preocupado com sua ausência.
Mohamed respondeu então, que no momento certo, ele teria notícias dela.
Com efeito, ao se hospedar em um hotel da região, o homem recebeu um recado da recepcionista.
Pegou o bilhete. Dentro, havia um recado dizendo que ele não deveria se preocupar com Josie, pois ela estava em boas mãos.
Fabrício ficou perplexo. Ao término do bilhete, a assinatura de Mohamed.
O jovem muçulmano, comentou que ela tinha muito o que aprender ,no que dizia respeito a cultura egípcia. Disse-lhe que poderia indicar alguns livros.
Comentou que o Egito era um país milenar, cheio de mistérios.
Ao ver o olhar desconfiado da moça, Mohamed comentou que antigamente se acreditava que as lágrimas de Isis pela morte de seu marido, Osíris, eram responsáveis pelas cheias anuais do Rio Nilo. Rio de prosperidade e fartura em uma terra desértica. Isis mãe de Hórus. Sacerdotisa do amor, da maternidade, da fertilidade, símbolo de uma cultura milenar.
Josie comentou que não conhecia aquela história.
Mohamed disse-lhe que havia muitas coisas que ela ainda não conhecia. Falou-lhe que a lenda era apenas uma metáfora.
A moça não compreendeu.
O jovem muçulmano riu. Disse com o tempo, entenderia o que ele queria dizer.
Contou-lhe também uma lenda egípcia, sobre a história de um peixinho vermelho, que vivia em um lugar repleto de animais marinhos exuberantes, vivendo uma vida mansa e folgada.
O peixinho por sua vez, só tinha migalhas para se contentar.
Porém, cansado daquela limitação, começou a perceber os limites do poço, seus ladrilhos, e as pequenas falhas do mesmo. Decidido a estudar uma forma de buscar melhores alimentos, adequou-se fisicamente, de forma a poder passar por um dos vãos existentes nos ladrilhos.
Ridicularizado e desprezado, o peixinho sentiu necessidade de encontrar novos rumos.
E assim, enfrentou a adversidade e o desconhecido.
Ao ultrapassar o obstáculo, o peixinho deslumbrou-se com um bonito cenário. Mar aberto, contemplou peixes coloridos, anêmonas, corais, cetáceos.
O peixinho, nadou por entre barbatanas.
Aos poucos, foi conquistando a confiança dos seres marinhos. Passou a habitar o lugar.
A certa altura, o peixinho sentiu necessidade de revelar a descoberta a seus antigos companheiros.
Razão pela qual retornou ao poço, onde tentou alertar a todos sobre a necessidade de ampliarem seus horizontes, posto que viviam em um ambiente muito limitado.
Contudo, em que pesem os esforços envidados pelo peixinho, seu intento resultou estéril, pois ninguém lhe dera crédito.
Com isto, retornou para o mar aberto, enquanto as demais criaturas, empedernidas que eram, permaneceram no poço.
Nisto, o habitáculo, aos poucos foi desmoronando, e todos pereceram na lama.
Mohamed sorriu. Disse que ela estava diante de uma oportunidade ímpar de conhecer uma nova cultura. Um novo mundo.
Simpático, o moço lhe emprestou um livro de poesias e outro sobre a cultura egípcia.
Entregou-os nas mãos de Josie.
Por fim, disse-lhe que poderia se retirar.
Josie afastou-se.
Maçal el kheir, respondeu o moço.
Nisto, ao perceber o ar de interrogação da moça, traduziu a expressão desejando-lhe um boa noite, a sua flor de lótus.
Josie fechou-se em um quarto.
Sozinho na sala, o moço desejou um boa noite, a princesa do deserto.
No dia seguinte, uma criada ofereceu a moça, trajes típicos muçulmanos.
Josie ao se deparar com as vestes, argumentou que não poderia usar aquelas roupas. Perguntou de seus pertences.
A criada respondeu em português que Mohamed havia providenciado aquelas roupas para a moça.
Josie disse a criada, que não usaria roupa alguma, bem como exigiu que o jovem muçulmano aparecesse. Brigou com a mulher dizendo que não usaria aqueles trajes.
Mohamed, ao ouvir a altercação, adentrou o quarto da jovem.
Josie usava uma camisola.
Ao notar a presença do moço, a jovem se cobriu com um cobertor.
Nervosa, perguntou-lhe o que havia feito com sua roupa.
Mohamed riu.
- Então este é o motivo da briga!
Irritada, a moça indagou-o novamente.
Mohamed, em tom altivo, respondeu que suas novas roupas se compunham de trajes muçulmanos. Argumentou que ela aprenderia novos hábitos e novos costumes, para se tornar uma boa muçulmana.
Josie ao ouvir tais palavras, argumentou que não tinha nenhuma intenção de mudar de religião.
Ao falar que estava ali a trabalho, ressaltou que tinha prazo para voltar ao Brasil, e uma tarefa a desempenhar.
O muçulmano, ao ouvir tais palavras, começou novamente a rir.
Falou-lhe que sua vida havia mudado, e que ela não precisaria mais trabalhar fora.
Josie irritada, avançou contra ele.
Começou a esmurrá-lo.
Ao fazê-lo, a jovem deixou o cobertor cair.
Mohamed ao ver a moça em trajes mínimos, ficou observando-a com ar de curiosidade.
Furiosa, a jovem não percebeu que o cobertor estava no chão.
A certa altura, cansada de esmurrá-lo, a mulher percebeu que estava de camisola diante do moço.
Constrangida, a moça pegou o cobertor do chão e se cobriu novamente. Pediu para ele se afastar.
Mohamed respondeu-lhe que não precisava ficar nervosa, pois estava se retirando.
Não sem antes dizer para que ela vestisse os trajes, ou não poderia sair da tenda.
Em seguida, retirou-se do quarto.
Josie passou então a procurar a roupa que usara na noite anterior.
A criada respondeu-lhe que seus pertences haviam sido recolhidos.
Sem outra opção, a moça vestiu o traje islâmico.
Sabáh hel khéir, disse o homem, pronunciando o kh com som de dois erres.
Disse-lhe Bom Dia.
Ao ver a moça usando o traje muçulmano – composto de túnica, calça social e icharb – lenço que cobria os cabelos –, o moço elogiou-lhe. Disse que se assemelhava muito as princesas árabes.
O muçulmano segurou a mão da moça e beijou-a.
Josie virou o rosto, contrariada.
Mohamed disse-lhe que poderia sair da tenda, respondendo-lhe que seus homens a acompanhariam.
Aborrecida, a moça caminhou pelo deserto, vindo a sentar-se próximo de uma nascente.
Lá ficou a ler sobre “As Mil e Uma Noites”.
Ficou a ocupar-se das histórias de Sherazade, e sua estratégia de toda a noite contar uma história para o sultão, sendo deixado o desfecho, para a noite seguinte. Tudo isto, como estratégia para escapar da morte certa, pelas mãos de um homem cruel e sanguinário.
Mais tarde, a moça retornou a tenda.
Lá se deparou com o moço cantarolando uma canção árabe.
A jovem, ao vê-lo cantando, perguntou-lhe qual era o tema da música.
O jovem respondeu que era um tema simples que tratava da amizade. Comentou que um seu amigo o viria visitar e fazer um pouco de companhia a moça.
Provocando a jovem, o rapaz disparou:
- O que a senhorita pensou que fosse?
Josie respondeu que não havia pensado em nada.
Com isto, seguiu para o quarto.
Mohamed percebeu o ar desolado da moça.
Sentiu-se vitorioso.
Depois de se ocupar de alguns afazeres, o moço retornou a tenda.
Ao chegar ali, foi informado pela criada, que a jovem não comera nada por todo o dia.
Recusara-se a comer as tâmaras e demais frutas que foram servidas a ela.
Como Mohamed e a criada falassem em árabe, a moça não compreendeu o que estavam falando.
O jovem por sua vez, ao tomar conhecimento do fato, ficou contrariado.
Ordenou a criada que preparasse uma lauta refeição. Assegurou a jovem comeria tudo. Recomendou a mulher que preparasse comidas ao gosto oriental.
Samara, afastou-se.
Nisto solicitou também que arrumasse para a jovem, um bonito vestido à moda ocidental.
A serviçal afastou-se.
A mulher apresentou-se para a moça e mostrou-lhe um vestido.
Disse-lhe que eram recomendações de seu senhor.
Mohamed por sua vez, vaidoso que era, tratou de se arrumar com um de seus melhores trajes.
Trajou-se com o cirwal – calça larga, tarbush – chapéu de feltro, usado em conjunto com seu turbante, além da túnica.
O turbante consiste em um pedaço de pano, arrumado cuidadosamente sobre a cabeça.
Tecido este composto de pedrarias.
Ao terminar de se arrumar, o homem perfumou-se.
Um criado o ajudava a compor-se.
Ao terminar de se arrumar, o moço dirigiu-se a sala.
Poucos minutos depois, a jovem apresentou-se.
Usava um bonito vestido de alças.
Mohamed a observou atentamente.
Em seguida chamou-a para sentar-se a mesa.
Ofereceu-lhe damascos.
Josie recusou a oferta.
Mohamed então, provocando-a, começou a comer a fruta, e a elogiar o seu sabor. Dizia que estavam dulcíssimas.
Ao perceber o olhar de interesse da moça, pegou uma fruta e exibiu para ela.
- Perceba seu cheiro! Não é uma bela fruta? – riu. – Experimente, você não irá pro inferno se degustar uma fruta tão especial.
Josie tentou resistir.
Mas a fome era tanta, que acabou capitulando e comendo algumas frutas.
A moça esvaziou o recipiente em que a fruta estava.
Nisto, foi servida uma suculenta salada que Josie recusou.
Mohamed por sua vez, serviu-se de uma generosa porção da mesma.
Enquanto comia, fazia grandes elogios a cozinheira.
Josie nervosa, ameaçou levantar-se.
O jovem respondeu-lhe que era falta de educação deixar uma pessoa sozinha a mesa.
Irônico perguntou-lhe se sua mãe não havia lhe ensinado boas maneiras.
Ao ouvir isto, a moça tencionou retrucar, mas o muçulmano foi mais rápido. Disse-lhe que ela estava sob seus cuidados.
No que Josie retrucou respondendo que não precisava de cuidados.
Rindo, Mohamed falou que todos precisavam de cuidados. Principalmente os homens.
Josie ficou de costas para ele.
Brincando o moço respondeu que não seria possível comer de costas para a mesa.
No que Josie respondeu-lhe que não iria comer.
Mohamed exigiu que ela não ficasse de costas para ele.
Como a moça insistisse em permanecer naquela posição, o moço aproximou-se.
Disse-lhe que não aceitava desafios e que não costumava ter suas ordens desobedecidas.
Josie respondeu que não estava acostumada a receber ordens absurdas.
Impaciente, o homem segurou os braços da moça exigindo que ela se levantasse.
Ela se recusou.
Foi o bastante para o moço segurá-la com força e levantá-la.
Mohamed não a soltou.
Josie, assustada, disse-lhe para que a soltasse.
No que Mohamed sinalizou que não o faria.
Nisto beijou a moça.
Josie, passou a esmurrá-lo.
Quando ele a soltou, a moça estava chorando.
O jovem muçulmano ficou desapontado.
Com isto, foi servido o uára al-áinab – que nada mais é que um bolinho de arroz, com variados temperos e enrolado em folha de videira.
A criada serviu a iguaria e depois se retirou.
Nisto o homem indagou-lhe que comesse algo. Argumentou que não gostaria que adoecesse.
Chorando, a moça lhe pediu para que a deixasse voltar para o Cairo.
Irritado, o homem disse-lhe para que ficasse em seu quarto.
Josie retirou-se, e ao sair da sala, deitou-se na cama e começou a chorar.
Nisto, a criada se aproximou.
Ao perceber que ninguém tocara no prato, comentou que se o amo gostaria que o jantar continuasse sendo servido.
Nervoso, Mohamed pediu a criada para que verificasse o que estava acontecendo com a moça.
Disse que se ela tivesse fome, poderia servi-la no quarto.
Com isto, a criada dirigiu-se ao quarto de Josie, onde a moça chorava copiosamente.
A mulher procurou consolá-la. Abraçou-a.
No dia seguinte, a jovem vestiu um novo traje árabe.
Ao se compor, dirigiu-se a sala.
Mohamed a aguardava.
Enquanto a esperava, servia-se de uma bebida quente, doce e leitosa, misturada com passas, amêndoas e coco chamada de sahleb.
Josie tinha o ar abatido.
O moço, ao notar o ar cansado da jovem, perguntou-lhe se ela estava bem.
Josie respondeu com voz desanimada, que não.
Mohamed, percebendo a fraqueza da moça, insistiu para que ela tomasse o sahleb. Argumentou que a bebida faria com que se sentisse menos fraca.
Como Josie resistisse a idéia, o homem segurou-a nos braços, e abrindo a boca da moça, forçou-a tomar a bebida.
Ao fazer menção de que iria chorar, o moço respondeu em tom imperativo, para que bebesse o líquido.
Josie então, sorveu o líquido.
Mohamed insistiu novamente.
Josie bebeu mais um pouco.
Por fim, a moça tomou todo o conteúdo do copo.
Mohamed comentou feliz que sempre conseguia fazer com que as pessoas fizessem o que ele queria, e ali não havia sido diferente.
Nisto, Josie pediu para que ele se afastasse.
Mohamed soltou-a.
A moça então, começou a afastar do rapaz.
Contudo, ao perder o equilíbrio, foi novamente amparada pelo jovem, que levou-a para o quarto e deitou-a na cama.
Preocupado, o homem chamou a criada, recomendou-lhe que servisse o café da manhã no quarto da jovem.
Josie tentou argumentar dizendo que não comeria nada, mas Mohamed respondeu que comeria tudo o que fosse servido. Ressaltou que caso ela se recusasse a comer, seria proibida de fazer passeios pelo deserto. Mohamede disse que permaneceria dentro da tenda, sob forte vigilância.
Percebendo que Mohamed cumpriria a ameaça, a jovem disse ao jovem que não precisava servir o café em seu quarto.
Josie levantou-se, e caminhou apoiando-se nos móveis que guarneciam a tenda.
Mohamed auxiliou-a.
Ajudou a moça a sentar-se nas almofadas.
O jovem muçulmano serviu-lhe pão sírio com diversos molhos.
Ofereceu-lhe um suco.
Samara recomendou-lhe que não fizesse a moça comer tudo de uma vez, ou ela acabaria passando mal.
Mohamed por sua vez, insistia para que a Josie comesse mais.
Preocupado, o moço respondeu que não seria bom ela caminhar em meio ao sol forte do deserto.
Razão pela qual recomendou-lhe que descansasse.
Dias mais tarde, Mohamed trouxe um amigo.
Quando Josie se viu diante de Fabrício, mal pode acreditar.
O homem, ao vê-la usando trajes árabes, ficou perplexo.
Nisto, Fabrício abraçou a moça. Disse que havia ficado preocupado.
Foi então que percebeu o ar triste da moça.
Josie não parecia feliz.
Preocupado, o homem foi conversar com o jovem. Argumentou que aqueles não eram modos de se tratar uma dama.
Mohamed ficou irritado ao ser censurado.
Mencionou que a única forma que encontrara para tentar conhecer a moça um pouco melhor, fora esta. Dizia que Josie era muito altiva e muito atrevida.
Razão pela qual não lhe dera a oportunidade de se mostrar como era verdadeiramente.
Com olhar compungido, o moço comentou que precisava fazer com que a moça visse que ele não era mau.
Fabrício argumentou que Josie não estava acostumada a ser tratada daquela forma.
Mohamed, ao ouvir estas palavras, perguntou se ele sabia alguma coisa sobre o passado da moça.
O homem, apreensivo, respondeu que os brasileiros não tinham por hábito arrebatar as mulheres, levando-as para viverem junto de si, à força.
Ao ouvir isto, o jovem muçulmano riu.
Argumentou que muitos brasileiros batiam em suas mulheres, as maltratavam, e que em muitos casos, não eram bons exemplos de namorados, maridos, e até mesmo amantes.
Fabrício resolveu calar-se.
Mohamed por sua vez, insistiu em dizer que ela estava feliz. Só não queria reconhecer o fato.
O homem, demonstrou não estar muito convencido disto. Lançou um olhar de reprovação sobre o moço.
Contudo, não desejando dar início a uma discussão, deu o assunto por encerrado.
Com isto, Mohamed encaminhou o homem para sua tenda.
Argumentou que Josie precisava descansar.
Luciana Celestino dos Santos
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