Depois sentou-se e começou a ler o seu livro.
Fabrício curioso, perguntou a jovem, o que estava lendo.
Josie respondeu que as histórias da obra “As Mil e Uma Noites”.
Desta forma, a jovem contou-lhe a história de Aladin e sua lâmpada maravilhosa.
Rapaz de origem pobre, que em nada auxiliava a mãe, que vivia de fiar e tecer algodão para sustentar o filho.
Certo dia, o moço foi visto por um estranho que se apresentou como irmão de seu pai, já há muito falecido.
Disse-lhe que apareceria em casa de sua mãe para jantar.
Nisto, o jovem contou a mãe que um homem se aproximara dizendo ser seu tio.
No que a mulher argumentou que nem ela, nem o falecido marido, tinham irmãos.
Entretanto, ainda assim, procurou preparar um bom jantar.
Com efeito, o estranho comeu regaladamente.
Gentil, comentou que Aladin era um belo garoto. Perguntou-lhe de suas ocupações.
O jovem ficou constrangido.
Sua mãe disse que o filho não ajudava em nada.
No que o estranho respondeu que isto não era bom. Argumentou que passara os últimos quarenta anos viajando. Razão pela qual não era conhecido da família.
Ao ver que o moço não tinha ocupação, prometeu montar uma loja, para que o rapaz pudesse trabalhar.
Para tanto providenciou boas roupas, sapatos para o moço.
Sua mãe, quando o viu tão bem alinhado, ficou encantada.
Mais tarde, Aladin e o homem, partiram em uma aventura.
Cearam e depois o homem lhe disse que teriam que caminhar por um vale estreito e escuro.
Aladin o acompanhou.
Depararam-se com a escuridão, que foi dissipada pelo fogo, e a terra abriu, depois de proferidas algumas palavras mágicas pelo estranho.
Aladin assustou-se e só não correu em disparada, por que o homem o reteve dizendo que se seguisse suas instruções, poderia ficar muito rico.
O rapaz concordou. Com isto, abriu a fenda que se mostrava com uma argola.
Nisto o tio lhe disse que deveria atravessar três ricos salões repletos de vasos cheios de ouro e prata. Orientou o rapaz para que não tocasse nas preciosidades. Em seguida, adentraria um salão que teria saída para um belo pomar, repleto de belas frutas, até encontrar um muro, onde havia uma lâmpada iluminada.
O homem então, instruiu o sobrinho a pegar a lâmpada, e não encostar nas paredes, pois se o fizesse, morreria instantaneamente.
Por fim, deu-lhe um anel mágico, argumentando que o mesmo o protegeria contra todos os males.
Aladin, enchendo-se de coragem, aceitou o desafio e desceu em direção aos salões.
Desceu os degraus da escadaria, e deparou-se com os salões repletos de ouro e prata.
Disciplinado, o moço não tocou em nada.
Com isto, percorreu o último salão, e ao ver-se diante de frutas tão bonitas e suculentas, encheu os bolsos com algumas delas. As frutas tinham um brilho que nunca vira antes.
Finalmente chegou no lugar onde estava a lâmpada.
A mesma fora colocada em um nicho, brilhava muito.
O rapaz pegou então a lâmpada, percorreu os salões, e se encaminhou para a passagem.
Contudo, com o peso das preciosidades que carregava consigo, o moço não conseguiu chegar a superfície.
Nisto o estranho pediu-lhe que entregasse a lâmpada.
Aladin respondeu-lhe que assim que chegasse a superfície lhe entregaria o artefato.
Irritado, o homem atirou fogo ao incenso e proferiu algumas palavras mágicas, fechando a entrada.
Aladin ficou preso no lugar.
Aflito tocou as mãos como se fosse rezar.
Foi então que apareceu um gênio perguntando-lhe o que desejava.
O jovem pediu para ser levado de volta para casa.
Quando chegou em casa, sua mãe admirou-se em vê-lo.
Aladin pediu-lhe algo para comer.
A mulher pesarosa, respondeu que nada tinha, mas que havia fiado um pouco de algodão e que iria vendê-lo.
No que Aladin disse que poderiam vender a lâmpada.
Como a lâmpada estava muito suja, sua mãe esfregou o artefato.
Foi então que apareceu um gênio e perguntou o que desejava.
Informou que quem esfregava a lâmpada, tinha direito a ter seu desejo atendido.
Como sua mãe se assustara com a aparição, Aladin resolveu ele próprio fazer o pedido.
Desejou um bom jantar.
Nisto o gênio trouxe doze pratos argênteos e bandeja também de prata, com rico repasto.
Sua mãe e ele se regalaram com as iguarias providenciadas pelo gênio.
Disseram que nunca haviam se servido de uma refeição tão deliciosa.
Mais tarde, aproveitaram a louça de prata e venderam-na.
Fato este que fez com que vivessem com conforto por um longo tempo.
A certa altura, uma jovem nobre, desejosa de um banho de mar, percorreu as ruas do lugar cercada de aias.
Como seu pai, não quisesse que a moça fosse observada pelos homens do lugar, ordenou que as ruas fossem esvaziadas.
Aladin no entanto, escondeu-se em uma ramagem, de onde observou a jovem.
Neste momento, a moça retirou o véu do rosto.
Aladin ao ver tão grande beleza, desejou casar-se com a moça.
Nisto contou a mãe a beleza que vira, e o intento de se casar com a jovem.
A mulher tentou então, demovê-lo da idéia.
O moço por sua vez, sugeriu que sua mãe conversasse com o pai da jovem.
Para impressioná-lo, poderia levar algumas das frutas que colhera no pomar. Argumentou que na realidade não eram frutas e sim jóias, de um esplendor e valor sem iguais.
Sua mãe então, colocou as jóias e um prato, e observando-as, percebeu um brilho sem igual.
Convenceu-se de que eram jóias de valor.
Desta forma, deixou as mesmas em um prato e envolveu-a em um tecido.
Com isto, dia após dia, a mulher se postou diante do sultão.
Em dado momento o homem finalmente percebeu-a. Conversou com a mulher.
Ela então, enchendo-se de coragem, contou que seu filho tinha interesse em casar-se com sua filha.
Neste momento retirou o tecido que envolvia o prato e exibiu as jóias para o sultão, que ficou encantado com a beleza das gemas.
Solicito, comentou que a mão de sua filha estava prometida a um de seus oficiais, mas que se o rapaz trouxesse quarenta tinas iguais aquela, por quarenta escravos negros, cada qual precedido de um branco, todos ricamente vestidos, teria a mão de sua filha.
A mulher então, retirou-se.
Comentou com o filho o que ocorrera no castelo do sultão, no intuito de fazer com que o rapaz desistisse de tão insana idéia.
O jovem porém, não se deu por vencido.
Ordenou ao gênio que providenciasse as quarenta tinas repletas de pedras preciosas, com os quarenta escravos negros, precedidos cada qual, de um escravo branco. Todos majestosamente vestidos.
O gênio atendeu prontamente o pedido.
Os escravos caminharam pelas ruas da cidade, encantando a todos os passantes com o luxo de suas vestimentas.
O sultão, ao ser atendido em seu pedido, concordou no casamento da filha com tão valoroso jovem.
Aladin por sua vez, pediu ao gênio lindas roupas, sapatos, e um banho perfumado, além de um bonito cavalo, tão belo quanto o do sultão.
E assim, o rapaz se dirigiu a morada do sultão, sendo recebido com festa.
Com isto, solicitou ao gênio um imponente castelo, com belos móveis, jóias, cavalos, cocheiras, para sua morada e de sua esposa.
O casamento de Aladin com sua princesa, encantou a todos pelo luxo.
O moço, em reconhecimento ao valor de sua lâmpada mágica, depositou-a em um móvel a vista de todos.
Em dado momento, precisou ausentar-se do castelo.
Foi a deixa para que o mágico, utilizando-se de um expediente escuso, se dirigisse a sua propriedade.
E assim, certo dia, um mágico bateu a porta do castelo, oferecendo-se para trocar lâmpadas velhas, por novas.
A princesa, que não tinha conhecimento do valor da lâmpada, acabou concordando em trocá-la.
O mágico então, encantado com a beleza do palácio, bem como da princesa, levou-os consigo.
O sultão, ao tomar conhecimento do fato, buscou o genro e intimou-a a encontrar sua filha. Disse-lhe que teria quarenta dias para trazê-la de volta ao reino, ou teria sua cabeça cortada.
Aladin por sua vez, auxiliado pelo gênio do anel, foi conduzido ao local onde o mágico tinha levado sua esposa.
A princesa ao vê-lo abraçou-o e chorou de alegria.
Aladin contou-lhe os prodígios da lâmpada e a princesa confessou que vendera o artefato, pois acreditou que o mesmo não tinha nenhum valor.
Nisto, o casal arquitetou um plano, para recuperarem a lâmpada.
A princesa então, ofereceria bebida ao mágico, para que ele adormecesse.
Aladin por sua vez, adquiriu um pozinho, e levando-o para a esposa, orientou-a a depositar na taça em que o mágico sorveria uma bebida.
E assim a princesa o fez.
Gentil, ofereceu ao homem uma bebida, o qual, encantado com tanta amabilidade, sorveu o líquido.
Foi questão de minutos para que o homem adormecesse.
Aladin então, recuperou sua lâmpada, já que o homem a levava consigo para todos os lugares onde ia.
Desta forma, ele, a princesa e o castelo, retornaram ao local de origem.
Quando o mágico despertou, ficou atordoado ao se ver sem o castelo, sem princesa, e em meio a rua.
Sem perceber o movimento das carroças, o homem acabou sendo esmagado por uma besta.
Nisto, em honra a vitória de Aladin, o sultão providenciou uma festa que durou dias.
O casal a partir de então, foi feliz para sempre.
Nisto, após o falecimento do sultão, Aladin ocupou o trono, governando a região, por longos anos.
Fabrício adorou o relato. Comentou que enquanto Josie relatava a história, ficava a imaginar as personagens, suas vestimentas, suas casas, enfim, todo o cenário, seus costumes, e o desenrolar da história. Brincando, disse-lhe que parecia uma verdadeira Sherazade.
Josie riu.
Fabrício então, bebeu um pouco da água do regato, e por fim, a dupla retornou para a tenda.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
sexta-feira, 19 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 36
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 35
Na manhã do dia seguinte, a jovem foi cavalgar com Fabrício pelo deserto.
Durante o passeio, a moça comentou que estava estudando a possibilidade de descobrir um caminho e fugir dali.
Nisto, perguntou ao amigo, se ele sabia qual era o caminho de volta.
Fabrício respondeu então, em que pese os anos em que morava no Egito, os caminhos do deserto eram todos iguais para ele. Sem um guia, não sabia qual direção seguir.
Josie ficou desolada.
Aflita, começou a chorar copiosamente.
Dizia que estava perdida, que Mohamed iria matá-la.
Ao ouvir isto, Fabrício respondeu que ele jamais faria isto com ela.
A certa distância, os homens de Mohamed os acompanhavam no passeio.
Em dado momento, Josie começou a correr com seu cavalo.
No meio do caminho parou. Avistou alguns cameleiros.
Frenética, a moça começou a acenar para os homens.
Dizia em inglês:
- Here! Here! Isa bitrid.
Mesmo implorando, a moça não foi vista pelos homens.
Desolada, a jovem ficou parada, observando os cameleiros seguirem viagem.
Nisto, Fabrício aproximou-se da moça.
Perguntou-lhe se estava bem.
Josie começou a chorar novamente.
Fabrício a abraçou.
Os homens de Mohamed aproximaram-se da dupla e os conduziram de volta as suas respectivas tendas.
Quando o muçulmano tomou conhecimento da tentativa de fuga de Josie, ficou furioso.
Disse que ela havia se arriscado inutilmente.
Argumentou que ninguém ousaria levá-la dali. Salientou que era um homem muito influente na região, e que todos o respeitavam.
Josie voltou a chorar.
Desconsolada, recusou-se a comer.
Não fosse a intervenção de Fabrício, e Mohamed a teria obrigado a se alimentar.
O homem argumentou porém, que ele não deveria fazê-lo. Disse que conversaria com a moça e a convenceria a comer, nem que fosse um pouquinho.
No que Mohamed acrescentou que ele poderia conversar com ela, mas que não se conseguisse convencê-la, iria fazê-la comer, nem que ela fosse obrigada a isto.
Josie permanecia reclusa.
Durante a noite, enquanto dormia, dizia o nome de Olavo. Perguntava por que ele ainda não viera buscá-la.
Mohamed aflito, decidiu permanecer na tenda onde a moça estava.
Enquanto Josie dormia, entrou em seu quarto, e ouviu a jovem chamar por um certo Olavo.
Mohamed ficou enciumado.
No dia seguinte, ao conversar a sós com Fabrício, perguntou-lhe quem era Olavo.
Como o homem dissesse não saber de quem se tratava, Mohamed argumentou que se eles eram tão amigos, seria improvável que a moça não tivesse comentado quem era o rapaz.
Fabrício então, recordou-se das palavras de Josie em um jantar, dizendo que tivera um noivo que falecera.
Mohamed, percebendo que o homem estava distante, perguntou-lhe o que estava havendo.
Fabrício respondeu então, que Josie lhe dissera que havia um noivo, mas que o mesmo falecera.
O jovem muçulmano ficou perplexo.
- Noivo? Como assim? Que noivo?
Fabrício respondeu então, que não sabia detalhes da relação, e tampouco o nome do rapaz. Todavia, para Josie dizer aquelas palavras, aquele nome, provavelmente estava se referindo ao noivo falecido.
Mohamed demonstrou descontentamento.
Nisto, quando a moça despertou, Samara tratou logo de chamar Mohamed.
Ao chegar na tenda, o moço pediu a criada para que visse como a moça estava.
Disse que a criada avisasse que em seguida, entraria no quarto.
Samara retirou-se num gesto de reverência ao jovem.
Minutos depois, retornou dizendo que Josie estava se arrumando e que iria ao encontro dele.
Usando uma túnica toda enfeitada, com os cabelos a mostra, Josie respondeu que tinha o direito de se vestir a moda ocidental, pelo menos enquanto estivesse dentro da tenda.
Argumentou que havia sido informada que as mulheres tinham que usar o icharb e a túnica apenas quando saiam de casa. Ademais, salientou que não era árabe e que portanto, não tinha que obedecer costumes tão rígidos.
Por fim, comentou que cansou de ver homens vestidos em trajes ocidentais e até algumas mulheres.
Mohamed argumentou que somente as turistas se vestiam de forma escandalosa.
Josie irritou-se.
Virando as costas para o moço, tencionou sair da tenda.
No que foi proibida pelo jovem.
Mohamed comentou que ela não estava bem, que deveria se alimentar. Dessarte, as saudades de Olavo não lhe fariam bem.
Ao ouvir isto, Josie voltou-se para o moço.
Espantada, perguntou ao jovem, de onde ele havia tirado o nome.
Mohamed respondeu que o nome Olavo havia saído da própria boca da jovem. Explicou-lhe que havia chamado por Olavo enquanto dormia.
Josie ficou sem palavras.
Irritado, Mohamed exclamou que naquela tenda só havia lugar para duas pessoas, e que um terceiro não iria diminuir o espaço. Furibundo, exigiu que Josie explicasse quem era Olavo.
Josie porém, continuava muda.
A certa altura, o homem segurou a moça pelo braço e começou a chacoalhá-la. Insistia em dizer que tinha direito a uma explicação.
Josie, cansada, a certa altura, ameaçou cair.
O jovem muçulmano, ao perceber isto, amparou-a.
Percebendo que Josie não conseguiria permanecer em pé, segurou-a nos braços e carregou-a até seu quarto.
Aflito, perguntou se precisava de algo.
Josie respondeu que sentia falta de ar.
Mohamed então, pegou um livro, e começou a abaná-la.
Fabrício, preocupado, encaminhou-se para a tenda.
Ao ver o muçulmano cuidando da moça, tranqüilizou-se.
Afirmou ter tido a impressão de que o jovem estava brigando com a moça, razão pela qual invadira o quarto. Com isto, pediu desculpas e se afastou.
Em dado momento, Mohamed perguntou se Josie estava melhor.
Josie respondeu então, que estava um pouco melhor.
O moço deste modo, carregou-a para fora do quarto e ajudou-se a se sentar nas almofadas.
Mohamed respondeu-lhe que tomaria um café da manhã brasileiro.
Nisto chamou Samara e pediu para que providenciasse frutas e leite para o café da manhã.
Como Josie não quisesse se alimentar, Mohamed pegava o mamão cortado e oferecia a fruta de colherada a moça.
Por fim, a jovem acabou se alimentando.
Josie levantou-se então, e sentou em uma cadeira, recostando o corpo. Parecia cansada.
Mohamed também se levantou e tocou no rosto da moça.
Ao perceber que Josie não tinha febre, recomendou que descansasse.
Fabrício ficou algum tempo com a moça.
Ao vê-lo, a moça começou a chorar.
Fabrício, tentando acalmá-la, argumentou que aquela situação era transitória.
Mais tarde, Mohamed voltou a tenda para verificar se Josie estava melhor.
Prometeu-lhe levá-la de volta ao Cairo.
Ao ouvir isto, Josie perguntou-lhe onde estava sua mala.
Mohamed respondeu que seus pertences seriam todos devolvidos.
Mais tarde, Josie almoçou.
Comeu carne, salada. Tomou suco.
Fabrício, que a acompanhou no almoço, respondeu que finalmente degustava a comida brasileira. O homem respondeu que fazia muito tempo que não comia a comidinha de sua terra.
Mais tarde, Samara e outros dois criados, trouxeram as malas da moça.
Josie mal podia acreditar.
Comentou com Fabrício que estava tudo ali.
Feliz, respondeu que poderia terminar o trabalho que havia começado.
Fabrício ficou espantado.
Tanto que foi conversar com o moço para tentar entender o que havia feito com que mudasse de idéia em relação a Josie. Argumentou que sua inflexibilidade beirava a obsessão.
Mohamed respondeu desolado, que não poderia competir com outro homem.
Desolado, pediu para Fabrício cuidar dela.
O homem prometeu que Josie não ficaria desamparada.
Nos dias que se seguiram, a moça voltou a usar suas roupas.
Mohamed recomendou-lhe que continuasse a usar as túnicas quando saísse da tenda.
Josie porém, insistia em usar as roupas que estava acostumada a vestir no Brasil.
Nisto aproveitava as manhãs para passear.
Um dia, Josie encontrou um lugar com água e vegetação em volta.
Empolgada, chegou a comentar com Fabrício que era um oásis.
De modos que a moça aproveitou para beber um pouco da água.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 34
Mais tarde, um empregado de Mohamed foi até o hotel onde a moça estava hospedada, realizando a entrega dos tecidos.
Josie deu uma gorjeta do moço, que agradeceu em inglês.
A moça depositou os pacotes em cima da mesa.
Abriu-os.
Realmente eram belos tecidos.
Quando a moça abriu o pacote do tecido presenteado por Mohamed, percebeu bilhete no meio do tecido.
Leu-o.
No texto, o homem a convidava para um passeio pelas ruas da capital. Dizia que somente um egípcio a faria sentir de fato a vida no país.
Na missiva, combinou de se encontrar com a moça, logo cedo, às oito horas da manhã.
Josie achou-o abusado.
Isto por que já havia combinado um passeio com Fabrício.
Com isto, quando a moça saiu do hotel, deparou-se com Mohamed, que a esperava de carro.
Josie ao cumprimentá-lo, disse que havia combinado um passeio com Fabrício, e que não poderia deixar o homem esperando-a.
Mohamed perguntou onde o homem estava, pois iria buscá-lo.
O moço, ao vê-la trajando roupas ocidentais, perguntou-lhe quando usaria os tecidos.
Josie respondeu que não sabia como usar os tecidos à moda dos muçulmanos.
Mohamed prometeu presenteá-la com uma indumentária apropriada.
Achou graça na falta de conhecimento da moça, sobre os costumes árabes.
Com isto, em alguns minutos, encontraram Fabrício.
O homem elogiou o país. Disse ao jovem muçulmano que aquela terra continha muita história.
Mohamed levou-os para visitarem o Museu do Cairo e conhecerem os utensílios do Egito antigo. Comentou sobre os túmulos dos faraós, as pinturas no interior das pirâmides, o laborioso trabalho de levar pedras enormes deserto afora, e empilhá-las de forma a erigir o famoso monumento.
O moço mostrou a Josie vasos, esculturas de deuses, pinturas.
A jovem ficou deslumbrada com o tamanho das salas do museu.
Enormes, abrigando toda a sorte de objetos que fizeram a riqueza e o passado do país.
Percebendo o interesse da moça, o rapaz comentou que aquele acervo era tão rico quanto acervo existente em outros países. Sugeriu a jovem, que o acompanhasse na exposição sobre objeto de Tutankamon, o faraó que morrera extremamente jovem.
Josie observou sarcófagos, urnas funerárias, objetos do faraó.
Imensas esculturas, pergaminhos, utensílios de uso pessoal. Monumentos.
A mulher respondeu que nunca vira nada tão impressionante.
Mohamed sorriu.
A certa altura, perguntou a moça se estava gostando do passeio.
Josie respondeu que era uma cultura bem interessante.
Nisto começou a tirar fotos.
Mohamed, recomendou-lhe que não tirasse fotos com flash no interior do museu.
Josie desculpou-se.
Desativou a função e passou a tirar algumas fotos do lugar.
Mohamed perguntou-lhe o porquê de utilizar um equipamento profissional.
A moça respondeu que era jornalista.
O jovem muçulmano perguntou-lhe se estava no Egito a trabalho.
Josie respondeu que sim.
Curioso, o moço perguntou-lhe se viajava acompanhada.
Josie, respondeu que não.
Mohamed argumentou que devia ser bem solitário viajar sozinha, mesmo sendo a trabalho.
Josie continuou a olhar as peças expostas.
Ficou impressionada com um sarcófago. Perguntou a Mohamed se haviam múmias no museu.
O jovem respondeu que não.
Argumentou também, que se o acervo do museu local era imponente, o que poderia se dizer do acervo que compunha os museus da Europa e dos Estados Unidos, repletos de peças egípcias.
Ao término da visita, Mohamed perguntou a moça, onde gostaria de almoçar.
Como Josie dissesse que não conhecia nenhum dos restaurantes das proximidades, o moço perguntou a Fabrício se tinha alguma preferência.
Como o senhor dissesse que ele poderia escolher, Mohamed respondeu que iria levá-los para comerem as melhores iguarias do lugar.
E assim, conduzindo-os em seu carro, em meio ao frenético trânsito local, o moço levou seus convidados para comerem na Torre da TV.
Fabrício, já acostumado com o trânsito caótico da cidade, aconselhou apenas, que o moço tentasse ter um pouco de cuidado.
Josie, ao ouvir o comentário do amigo, ficou um pouco aflita.
Mohamed brincando, disse que o carro da frente amortecia o impacto do carro atrás. Por fim, completou com um: Mafísh mushkêla! (Não tem problema!).
Fabrício começou a rir.
Josie por sua vez, respondeu que não via a menor graça naquelas brincadeiras.
Nisto, Mohamed deu partida no carro. Começou a dirigir pelas ruas da capital, da maneira que podia.
Freadas bruscas, a toda a velocidade.
A moça estava apavorada.
Nisto o trio se encaminhou para a Torre da TV.
Ao chegarem no restaurante, Mohamed foi logo recepcionado por um hostess.
O homem usava túnica branca, cirwal (calça larga – usada por baixo da túnica), cafia (pano quadrado preso por uma tira chamada egal). Em seu pulso direito, um imponente relógio de ouro e prata.
O homem estava impecável.
Josie, com seu jeans e sua camisa branca, ficou constrangida ao se deparar com tão luxuoso restaurante. Argumentou que não estava apropriadamente vestida para freqüentar o lugar.
Mohamed comentou sorrindo, que ela estava muito bem vestida para a ocasião, tendo em vista que vinha de um longo passeio pela cidade.
O trio serviu-se de: uára al-áinab (um bolinho de arroz e tempero enrolado em folha de videira); de kóshari (composto de arroz, tomate, macarrão, pimenta, salsa e cebola frita), além de carne de cordeiro e salada. Apreciaram a panqueca fitir (composta de vários ingredientes, entre eles o queijo).
Por fim, o trio serviu-se de khusháf (a base de tâmaras e frutas cristalizadas com leite).
A tarde seguiu encantadora.
O jovem muçulmano levou Fabrício e Josie para um passeio de carro pelas ruas do Cairo.
A moça aflita, tentou recusar o convite.
No que foi impedida por Fabrício.
A certa altura, nervosa, a moça se pôs a chorar.
Fabrício e Mohamed se entreolharam, atônitos, sem saber o que fazer.
Preocupado, Fabrício aproximou-se da moça e perguntou o que estava acontecendo.
Josie respondeu aos prantos, que nada.
O homem porém, percebendo o nervosismo da jovem, conversou reservadamente com Mohamed.
Depois de um certo tempo, o muçulmano conduziu Fabrício e Josie de volta.
De volta ao hotel, a moça tratou de se jogar na cama. Exausta, dormiu quase que imediatamente.
Nisto, Mohamed levou Fabrício para sua residência.
No caminho, o homem comentou com o rapaz, que pretendia levar a moça para conhecer as pirâmides.
Mohamed disse-lhe que seria um bonito passeio.
Ao despedir-se de Josie, e posteriormente de Fabrício, Mohamed fez um gesto cerimonioso e se despediu.
A noite, a moça foi jantar em um restaurante especializado em comida francesa.
Resolveu vestir calça e blusa sociais.
Enquanto caminhava, Josie teve a impressão de que era seguida.
Assustou-se.
Para sua surpresa, deparou-se com Fabrício, que caminhava na mesma direção.
No que a moça disse:
- O senhor quase me matou de susto!
Fabrício, ao reconhecê-la, pediu-lhe desculpas. Disse que não tivera a intenção de assustá-la. Comentou que pretendia comer algo diferente e que pretendia jantar em um restaurante de comida francesa.
Josie respondeu que tivera a mesma idéia. Argumentou que recebeu uma boa recomendação dos funcionários do hotel em que estava hospedada.
Nisto o homem ofereceu o braço a jovem.
Seguiram juntos para o restaurante.
Fabrício comentou que percebera que ás vezes notava que ela tinha o olhar distante.
Brincando com a moça, insinuou que Mohamed parecia interessado nela.
Josie parecia distraída.
O homem então lhe disse:
- Eu não sei que te faz ficar com este olhar perdido, mas uma mulher não notar um homem, é sinal de que ou ela já é comprometida, ou não está interessada no rapaz.
Josie respondeu que não era nada disto.
No que Fabrício perguntou se ela tinha alguém no Brasil.
Josie respondeu que não.
A voz da moça era triste.
Fabrício insistiu, perguntando-lhe se havia brigado com o namorado.
A jovem respondeu que não tinha namorado para brigar. Chorando, respondeu que seu noivo havia morrido.
Fabrício ficou perplexo.
Tentando consolá-la, abraçou a jovem.
Quando a jovem se acalmou, Fabrício pediu crepe para os dois.
Começaram por comer crepes salgados, e finalizaram com um crepe doce, como sobremesa.
Josie adorou o prato. Comentou que fazia muito tempo que não comia crepe.
Mais tarde, o homem pediu a conta.
Acompanhou a jovem até o hotel.
No caminho, Fabrício pediu-lhe desculpas.
Josie respondeu que não fora nada.
Nisto o homem se despediu.
A moça adentrou o hotel.
No dia seguinte Mohamed foi homenageado em uma festividade ocorrida na região.
O moço, por sua vez, dizia não ser merecedor da aludida homenagem.
A noite houve festa.
Comemoração reservada para poucos convidados.
Fabrício, que havia combinado com Josie de jantar em um restaurante oriental, foi barrado na entrada do estabelecimento sob o argumento de que o local estava alugado para uma festa.
O homem ficou surpreso.
Josie por sua vez, ao ver que se tratava de uma festa para Mohamed, comentou que isto deveria ter sido informado com antecedência.
Nisto o jovem passou com sua comitiva.
Josie do lado de fora, observou-o entrar.
O moço sorriu para ela.
Fabrício cumprimentou o rapaz à distância.
Mohamed retribuiu o cumprimento.
Em seguida, adentrou o restaurante.
Lá havia dança, música e garçons servindo os convidados.
Josie ao ouvir o burburinho dentro do salão, sentiu curiosidade.
Sua vontade era adentrar o salão para verificar o que se passava no local.
Fabrício por sua vez, resolveu levá-la para jantar em outro lugar.
Mais tarde, a moça pediu para Fabrício levá-la novamente até o restaurante onde estava acontecendo a comemoração.
O homem comentou que lá havia apresentação de música típica e danças.
Josie pediu a Fabrício para levá-la para o hotel.
Mais tarde, a moça pegou um dos tecidos que havia ganho de presente.
Ao ver os tecidos dispostos na cama, pegou um deles e passou a cobrir os cabelos com a peça.
Como não possuía traje árabe típico, resolveu pedir um, emprestado.
Nisto contatou a portaria do hotel, onde pediu o auxilio de uma camareira.
Quando a mulher apareceu, a mesma tentou lhe explicar como fazia para vestir-se a moda árabe.
Ao ver que Josie não possuía nada além de panos, sugeriu que a moça adquirisse um traje árabe.
A jovem perguntou a funcionária onde encontraria alguém disposto a lhe vender uma túnica.
No que a moça respondeu que poderia resolver o problema, emprestando-lhe uma roupa.
Josie agradeceu. Prometeu que pagaria o empréstimo.
Com efeito, ao se ver no espelho, a mulher admirou a imagem.
A funcionária disse-lhe que nem parecia que vinha de fora, que era uma estrangeira.
- Thank’s. – agradeceu Josie.
Em seguida, depositou algumas cédulas de libra egípcia nas mãos da moça, que agradeceu.
Nisto, a funcionária fez um gesto cerimonioso e se despediu.
A jovem então encaminhou-se novamente para o restaurante.
O recepcionista do restaurante disse-lhe que não poderia entrar.
Josie perguntou o porquê.
O funcionário respondeu que se tratava de uma festa apenas para convidados, e que nenhuma mulher havia sido convidada.
Ao ouvir isto, a jovem ficou desapontada.
Nisto, o recepcionista retirou-se da entrada.
Josie, aproveitando a oportunidade, esgueirou-se pela entrada, adentrando o salão.
Nisto observou as dançarinas realizarem sua apresentação.
Discreta, sentou-se em uma almofada e ficou a observar a dança.
O que ela não esperava, é que notariam sua presença em poucos minutos.
Dois seguranças, ao perceberem sua presença, tentaram conduzi-la para fora do salão.
No que foram impedidos pelo homenageado que insistiu em ver a moça.
Ao ver que era Josie, o homem ficou espantado.
Por fim, achando graça, perguntou o que tão bela flor estaria fazendo naquele lugar. Brincando, perguntou-lhe se não era um lugar inconveniente para ela.
Josie respondeu apreensiva, que tinha curiosidade em conhecer os costumes da região.
Mohamed respondeu-lhe que havia formas melhores de se conhecer os costumes de um povo.
Nisto, o homem tirou a capa que cobria a túnica da moça.
Elogiou a roupa.
Acuada, a moça pegou uma faca.
Mohamed percebendo isto, comentou que ela não precisava ter medo.
Em que pese a cultura milenar muito diversa dos ocidentais, ela não estava em meio a selvagens. Argumentou que todos ali a respeitariam.
Josie então, diante do olhar sério do moço, colocou a faca de volta a mesa.
Nisto, o jovem muçulmano a conduziu até o hotel onde Josie estava hospedada.
A moça seguiu calada até o hotel.
Ao conduzir Josie até a entrada do estabelecimento, o rapaz disse-lhe que ela teria outras oportunidades melhores de conhecer a cultura do país.
Por fim, se afastou.
Aturdida, a moça dirigiu-se a seu quarto.
De madrugada, ao retirar-se da festa em que era homenageado, o moço pediu para alguns músicos o acompanharem até um hotel.
Lá o moço começou a cantar músicas árabes.
Josie que dormia um sono leve, depois de alguns minutos, ao ouvir uma melodia, levantou-se.
Aproximou os ouvidos da janela.
Curiosa, abriu a janela.
O som parecia cada vez mais próximo.
Mohamed que não queria ser identificado, escondeu-se entre as plantas.
Josie parecia gostar da música.
Intrigada, perguntou-se para quem estaria cantando.
A certa altura, a moça fechou a janela.
Os músicos continuaram a apresentação por algum tempo, até se afastarem.
Mohamed escalou a fachada do hotel, e sorrateiro, entrou no quarto da moça, que a esta altura, dormia novamente.
O homem cuidadosamente observou o quarto, os pertences da moça.
Ficou olhando-a dormir.
Por fim, retirou-se do aposento pela mesma janela por onde entrara.
Para se despedir, cantou uma melodia para a moça.
Josie despertou novamente.
Quando Mohamed chegou em sua casa, já era dia claro.
Josie por sua vez, acordou agitada.
Conforme combinado com Fabrício, a dupla seguiria para a região das pirâmides.
A moça então, de malas prontas, encerrou sua conta no hotel.
Seguiria viagem para o local, onde se hospedaria no mesmo hotel em que Fabrício ficaria.
O homem por sua vez, alugou um carro para viajar.
Assim, foi buscar a moça no hotel.
Fabrício auxiliou-a com a bagagem.
Animado, comentou que fazia tempo que não se divertia tanto.
Josie perguntou-lhe se era casado.
Fabrício respondeu-lhe que fora casado por muito tempo, mas que Deus havia levado sua esposa. Era viúvo.
A moça ao ouvir estas palavras, pediu-lhe desculpas. Comentou que lamentava a perda.
Fabrício sorrindo, disse-lhe que não havia necessidade de tantos pruridos. Com um olhar triste, comentou que ele também tinha sofrido uma perda, mas em compensação, tinha coisas muito bonitas para se lembrar.
Josie sorriu triste.
Fabrício, colocando a mão em seu ombro, disse-lhe que aquele não era o momento para lembranças tristes. Comentou que séculos de história exigiam que a mente estivesse quieta e o coração tranqüilo.
Sorrindo, Josie respondeu que esta era a letra de uma canção muito querida para ela.
O homem respondeu que sua mulher ouvira esta canção e gostara muito da letra. Resultado, sempre que sentia medo, preocupação, ou mesmo desespero, lembrava-se da música. Fabrício comentou que Cecília procurava ouvir os sons da música. Ocupando-se disso, acaba se acalmando.
Disse que Cecília era uma pessoa muito positiva. Mesmo nos piores momentos, não se desesperava.
Nisto o homem ajudou-a a entrar no carro.
Durante a viagem, a moça respondeu-lhe que já ouvira falar neste nome. Comentou que uma parente sua tinha este nome. Só não soube precisar que parente era, já que sua família não entrava em detalhes sobre os antepassados. Mencionou ter a impressão de que se tratava de uma sua avó.
Fabrício lamentou o fato. Comentou que conhecer detalhes sobre a família, era descobrir algo mais sobre a própria origem.
Josie concordou.
Nisto, enquanto percorriam o país, se deparavam com pequenas cidades, vilarejos, o deserto, pobreza, miséria.
Tamareiras.
Ao saírem do Cairo, se depararam com as pirâmides, próximas a um bairro da cidade.
Homens e seus rebanhos de camelos.
Josie se encantou com as árvores. Dizia que se sentia em um cenário bíblico.
Fabrício respondeu que o Egito fazia parte da história contada na Bíblia.
Durante o trajeto, ao chegar em um vilarejo, a dupla resolveu parar.
Fabrício aproveitou para colocar gasolina no carro.
Josie resolveu descer do veículo.
Ficou a admirar o deserto.
Distraída, não percebeu a aproximação de outros turistas.
A certa altura, os turistas sumiram.
Só permaneceu no posto a jovem e o senhor.
Nisto, um grupo de homens cercou a jovem.
Fabrício encontrava-se em um escritório efetuando o pagamento do combustível.
Josie se assustou.
Sem conseguir reagir, foi empurrada para dentro de um veículo, que saiu em disparada em direção ao deserto.
A certa altura, a moça, que se debatia dentro do carro, foi levada até Mohamed, que a esperava em um cavalo.
Josie ao ver o altivo árabe, ficou tomada de espanto.
Mohamed, colocou então, a jovem a sua frente, e despedindo-se dos homens, partiu deserto afora.
O moço cavalgou até uma tenda, adrede armada para abrigar a moça.
Nisto, Fabrício ao sair do escritório, notou que a moça não se encontrava no posto.
Preocupado, cogitou chamar a polícia.
Neste momento, um passante informou que a moça ao lado do veículo, fora levada e empurrada por alguns homens para dentro de um carro. Nervoso, o homem comentou que se tratavam de ladrões, já que haviam levado a bagagem também.
Fabrício perplexo, procurou sua bagagem.
A mesma estava intocada.
Já a bagagem de Josie não se encontrava mais no veículo.
Intrigado, o homem se perguntou qual o interesse na moça.
Diante dos fatos, dirigiu-se a uma delegacia.
Lá perdeu algumas horas para registrar a ocorrência.
Aflito disse que a moça estava correndo perigo.
Os policiais disseram-lhe que fariam todo o possível para resgatar a jovem.
Fabrício assinou então, um documento em árabe.
Segundo lhe disseram, era o registro da ocorrência.
Por fim, disseram em um inglês sofrível, que ele deveria aguardar por notícias.
Razão pela qual o homem permaneceu na cidade.
Como o vilarejo não distava muito da cidade, o homem dirigiu-se rapidamente para lá.
Josie por sua vez, ao descobrir que Mohamed a levara até o deserto, tentou resistir a investida, mas cansada que estava de se debater, acabou desmaiando.
Mohamed, acreditando que a moça fazia charme, riu da situação.
Disse-lhe que ela era uma pequena tola.
Nisto o moço cavalgou por cerca de uma hora, até chegar em uma tenda armada para a moça.
Josie então despertou.
O moço ajudou-a, a descer do animal.
Atencioso, Mohamed estendeu o braço, sinalizando que a moça entrasse na tenda.
Josie resistiu.
O jovem, ao perceber a recusa da moça, ficou visivelmente irritado.
Olhando-a firme nos olhos, deixou bem claro que ela não tinha escolha.
Aborrecida, Josie abaixou os olhos e em entrou na tenda.
O homem a acompanhou.
Josie assustada, se afastava de Mohamed.
Conforme o homem tentava se aproximar, ela se esgueirava.
Mohamed achou graça.
Josie por sua vez, estudava os gestos do jovem.
Mohamed, olhando-a nos olhos, começou a se aproximar da jovem.
Beijou-a.
Josie ficou se debatendo.
O jovem, ao ver a moça passando a mão nos lábios como se estivesse limpando o beijo, ficou desapontado.
Ao se sentir desprezado, exigiu que a moça se arrumasse para o jantar. Disse que mais tarde voltaria a tenda.
Josie sentiu desespero, medo. Não sabia o que esperar.
Sem alternativa, a moça vestiu a roupa deixada em uma cama.
Receosa, olhou por todos os cantos da tenda, verificando se ninguém a observava.
Vendo-se sozinha, a moça dirigiu-se para fora da tenda.
Dois homens vestidos a moda árabe, vigiavam a entrada.
Sem alternativa, a moça retornou a tenda e dirigindo-se ao quarto, ficou observando o vestido deixado ali.
Trajou um vestido delicado, de alças e decote nas costas.
Ao vê-la arrumada, uma criada aproximou-se.
Percebendo o espanto da moça, a mulher respondeu que sabia falar inglês e português.
Josie respondeu então, que preferia que ela falasse português.
Nisto a mulher disse que se quisesse, poderia usar um pouco de maquiagem.
A moça sentou-se diante de uma mesinha com espelho.
Em uma penteadeira ricamente adornada, havia maquiagem, perfume e algumas jóias.
Mais tarde, Mohamed retornou a tenda.
Foram servidas iguarias para a moça.
Arroz pilaf – com açafrão, abacaxi e uvas passas, charutinhos de repolho e arroz, fatuche – salada com pepino, alface, tomate, rabanete, hortelã, pão sírio – acompanhada de molho feito de azeite e suco de limão. Além de suco de Amr al-din – damasco seco.
A refeição foi servida em bandejas cobertas, em uma pequena mesa.
Como cadeiras, confortáveis almofadas.
Usando túnica, cirwal – calça larga usada debaixo da túnica, e turbante, galante, o moço perguntou-lhe se estava com fome.
Josie respondeu com desdém, que não.
Mohamed comentou que a recusa era considerada uma desfeita.
Josie respondeu então, que ele poderia servir um pouco das iguarias.
Mohamed chamou uma criada que os serviu.
A moça por sua vez, permanecia em pé, e a todo o momento olhava para a entrada da tenda.
O homem, ao notar isto, aproximou-se da moça. Dispensou a criada.
Segurando o braço da moça, voltou-a para si. Beijou-a.
Josie tentou se desvencilhar do moço.
Mohamed afastou-se um pouco, no que a jovem aproveitou para correr até a entrada da tenda.
Quando saiu, recebeu uma rajada de vento, que cobriu o rosto com areia.
Mohamed, saiu da tenda, e ao ver a moça cobrindo o rosto, envolveu-a com sua abaia – sua longa capa de lã.
Conduziu-a de volta a sua tenda.
Josie foi auxiliada por uma das criadas.
A moça lavou o rosto e os olhos.
Em seguida, Josie foi levada até a sala da tenda, onde finalmente experimentou as iguarias.
Foi servida carne de cordeiro, suco de frutas, arroz, salada quente, pão sírio com molhos, sobremesa com tâmaras e leite.
Triste, a jovem comeu pouco, para preocupação de Mohamed que insistia para que ela comesse mais.
Por fim, a moça pediu licença.
O jovem muçulmano, respondeu que ela só poderia se retirar quando ele autorizasse.
Josie permaneceu sentada.
Ao término do jantar, Mohamed ajudou a moça a se levantar.
Comentou que poderiam fazer um passeio pelo deserto.
Sugeriu-lhe que poderiam conhecer as pirâmides.
Ao ouvir falar em deserto, a moça perguntou de Fabrício.
Argumentou que ele deveria estar preocupado com sua ausência.
Mohamed respondeu então, que no momento certo, ele teria notícias dela.
Com efeito, ao se hospedar em um hotel da região, o homem recebeu um recado da recepcionista.
Pegou o bilhete. Dentro, havia um recado dizendo que ele não deveria se preocupar com Josie, pois ela estava em boas mãos.
Fabrício ficou perplexo. Ao término do bilhete, a assinatura de Mohamed.
O jovem muçulmano, comentou que ela tinha muito o que aprender ,no que dizia respeito a cultura egípcia. Disse-lhe que poderia indicar alguns livros.
Comentou que o Egito era um país milenar, cheio de mistérios.
Ao ver o olhar desconfiado da moça, Mohamed comentou que antigamente se acreditava que as lágrimas de Isis pela morte de seu marido, Osíris, eram responsáveis pelas cheias anuais do Rio Nilo. Rio de prosperidade e fartura em uma terra desértica. Isis mãe de Hórus. Sacerdotisa do amor, da maternidade, da fertilidade, símbolo de uma cultura milenar.
Josie comentou que não conhecia aquela história.
Mohamed disse-lhe que havia muitas coisas que ela ainda não conhecia. Falou-lhe que a lenda era apenas uma metáfora.
A moça não compreendeu.
O jovem muçulmano riu. Disse com o tempo, entenderia o que ele queria dizer.
Contou-lhe também uma lenda egípcia, sobre a história de um peixinho vermelho, que vivia em um lugar repleto de animais marinhos exuberantes, vivendo uma vida mansa e folgada.
O peixinho por sua vez, só tinha migalhas para se contentar.
Porém, cansado daquela limitação, começou a perceber os limites do poço, seus ladrilhos, e as pequenas falhas do mesmo. Decidido a estudar uma forma de buscar melhores alimentos, adequou-se fisicamente, de forma a poder passar por um dos vãos existentes nos ladrilhos.
Ridicularizado e desprezado, o peixinho sentiu necessidade de encontrar novos rumos.
E assim, enfrentou a adversidade e o desconhecido.
Ao ultrapassar o obstáculo, o peixinho deslumbrou-se com um bonito cenário. Mar aberto, contemplou peixes coloridos, anêmonas, corais, cetáceos.
O peixinho, nadou por entre barbatanas.
Aos poucos, foi conquistando a confiança dos seres marinhos. Passou a habitar o lugar.
A certa altura, o peixinho sentiu necessidade de revelar a descoberta a seus antigos companheiros.
Razão pela qual retornou ao poço, onde tentou alertar a todos sobre a necessidade de ampliarem seus horizontes, posto que viviam em um ambiente muito limitado.
Contudo, em que pesem os esforços envidados pelo peixinho, seu intento resultou estéril, pois ninguém lhe dera crédito.
Com isto, retornou para o mar aberto, enquanto as demais criaturas, empedernidas que eram, permaneceram no poço.
Nisto, o habitáculo, aos poucos foi desmoronando, e todos pereceram na lama.
Mohamed sorriu. Disse que ela estava diante de uma oportunidade ímpar de conhecer uma nova cultura. Um novo mundo.
Simpático, o moço lhe emprestou um livro de poesias e outro sobre a cultura egípcia.
Entregou-os nas mãos de Josie.
Por fim, disse-lhe que poderia se retirar.
Josie afastou-se.
Maçal el kheir, respondeu o moço.
Nisto, ao perceber o ar de interrogação da moça, traduziu a expressão desejando-lhe um boa noite, a sua flor de lótus.
Josie fechou-se em um quarto.
Sozinho na sala, o moço desejou um boa noite, a princesa do deserto.
No dia seguinte, uma criada ofereceu a moça, trajes típicos muçulmanos.
Josie ao se deparar com as vestes, argumentou que não poderia usar aquelas roupas. Perguntou de seus pertences.
A criada respondeu em português que Mohamed havia providenciado aquelas roupas para a moça.
Josie disse a criada, que não usaria roupa alguma, bem como exigiu que o jovem muçulmano aparecesse. Brigou com a mulher dizendo que não usaria aqueles trajes.
Mohamed, ao ouvir a altercação, adentrou o quarto da jovem.
Josie usava uma camisola.
Ao notar a presença do moço, a jovem se cobriu com um cobertor.
Nervosa, perguntou-lhe o que havia feito com sua roupa.
Mohamed riu.
- Então este é o motivo da briga!
Irritada, a moça indagou-o novamente.
Mohamed, em tom altivo, respondeu que suas novas roupas se compunham de trajes muçulmanos. Argumentou que ela aprenderia novos hábitos e novos costumes, para se tornar uma boa muçulmana.
Josie ao ouvir tais palavras, argumentou que não tinha nenhuma intenção de mudar de religião.
Ao falar que estava ali a trabalho, ressaltou que tinha prazo para voltar ao Brasil, e uma tarefa a desempenhar.
O muçulmano, ao ouvir tais palavras, começou novamente a rir.
Falou-lhe que sua vida havia mudado, e que ela não precisaria mais trabalhar fora.
Josie irritada, avançou contra ele.
Começou a esmurrá-lo.
Ao fazê-lo, a jovem deixou o cobertor cair.
Mohamed ao ver a moça em trajes mínimos, ficou observando-a com ar de curiosidade.
Furiosa, a jovem não percebeu que o cobertor estava no chão.
A certa altura, cansada de esmurrá-lo, a mulher percebeu que estava de camisola diante do moço.
Constrangida, a moça pegou o cobertor do chão e se cobriu novamente. Pediu para ele se afastar.
Mohamed respondeu-lhe que não precisava ficar nervosa, pois estava se retirando.
Não sem antes dizer para que ela vestisse os trajes, ou não poderia sair da tenda.
Em seguida, retirou-se do quarto.
Josie passou então a procurar a roupa que usara na noite anterior.
A criada respondeu-lhe que seus pertences haviam sido recolhidos.
Sem outra opção, a moça vestiu o traje islâmico.
Sabáh hel khéir, disse o homem, pronunciando o kh com som de dois erres.
Disse-lhe Bom Dia.
Ao ver a moça usando o traje muçulmano – composto de túnica, calça social e icharb – lenço que cobria os cabelos –, o moço elogiou-lhe. Disse que se assemelhava muito as princesas árabes.
O muçulmano segurou a mão da moça e beijou-a.
Josie virou o rosto, contrariada.
Mohamed disse-lhe que poderia sair da tenda, respondendo-lhe que seus homens a acompanhariam.
Aborrecida, a moça caminhou pelo deserto, vindo a sentar-se próximo de uma nascente.
Lá ficou a ler sobre “As Mil e Uma Noites”.
Ficou a ocupar-se das histórias de Sherazade, e sua estratégia de toda a noite contar uma história para o sultão, sendo deixado o desfecho, para a noite seguinte. Tudo isto, como estratégia para escapar da morte certa, pelas mãos de um homem cruel e sanguinário.
Mais tarde, a moça retornou a tenda.
Lá se deparou com o moço cantarolando uma canção árabe.
A jovem, ao vê-lo cantando, perguntou-lhe qual era o tema da música.
O jovem respondeu que era um tema simples que tratava da amizade. Comentou que um seu amigo o viria visitar e fazer um pouco de companhia a moça.
Provocando a jovem, o rapaz disparou:
- O que a senhorita pensou que fosse?
Josie respondeu que não havia pensado em nada.
Com isto, seguiu para o quarto.
Mohamed percebeu o ar desolado da moça.
Sentiu-se vitorioso.
Depois de se ocupar de alguns afazeres, o moço retornou a tenda.
Ao chegar ali, foi informado pela criada, que a jovem não comera nada por todo o dia.
Recusara-se a comer as tâmaras e demais frutas que foram servidas a ela.
Como Mohamed e a criada falassem em árabe, a moça não compreendeu o que estavam falando.
O jovem por sua vez, ao tomar conhecimento do fato, ficou contrariado.
Ordenou a criada que preparasse uma lauta refeição. Assegurou a jovem comeria tudo. Recomendou a mulher que preparasse comidas ao gosto oriental.
Samara, afastou-se.
Nisto solicitou também que arrumasse para a jovem, um bonito vestido à moda ocidental.
A serviçal afastou-se.
A mulher apresentou-se para a moça e mostrou-lhe um vestido.
Disse-lhe que eram recomendações de seu senhor.
Mohamed por sua vez, vaidoso que era, tratou de se arrumar com um de seus melhores trajes.
Trajou-se com o cirwal – calça larga, tarbush – chapéu de feltro, usado em conjunto com seu turbante, além da túnica.
O turbante consiste em um pedaço de pano, arrumado cuidadosamente sobre a cabeça.
Tecido este composto de pedrarias.
Ao terminar de se arrumar, o homem perfumou-se.
Um criado o ajudava a compor-se.
Ao terminar de se arrumar, o moço dirigiu-se a sala.
Poucos minutos depois, a jovem apresentou-se.
Usava um bonito vestido de alças.
Mohamed a observou atentamente.
Em seguida chamou-a para sentar-se a mesa.
Ofereceu-lhe damascos.
Josie recusou a oferta.
Mohamed então, provocando-a, começou a comer a fruta, e a elogiar o seu sabor. Dizia que estavam dulcíssimas.
Ao perceber o olhar de interesse da moça, pegou uma fruta e exibiu para ela.
- Perceba seu cheiro! Não é uma bela fruta? – riu. – Experimente, você não irá pro inferno se degustar uma fruta tão especial.
Josie tentou resistir.
Mas a fome era tanta, que acabou capitulando e comendo algumas frutas.
A moça esvaziou o recipiente em que a fruta estava.
Nisto, foi servida uma suculenta salada que Josie recusou.
Mohamed por sua vez, serviu-se de uma generosa porção da mesma.
Enquanto comia, fazia grandes elogios a cozinheira.
Josie nervosa, ameaçou levantar-se.
O jovem respondeu-lhe que era falta de educação deixar uma pessoa sozinha a mesa.
Irônico perguntou-lhe se sua mãe não havia lhe ensinado boas maneiras.
Ao ouvir isto, a moça tencionou retrucar, mas o muçulmano foi mais rápido. Disse-lhe que ela estava sob seus cuidados.
No que Josie retrucou respondendo que não precisava de cuidados.
Rindo, Mohamed falou que todos precisavam de cuidados. Principalmente os homens.
Josie ficou de costas para ele.
Brincando o moço respondeu que não seria possível comer de costas para a mesa.
No que Josie respondeu-lhe que não iria comer.
Mohamed exigiu que ela não ficasse de costas para ele.
Como a moça insistisse em permanecer naquela posição, o moço aproximou-se.
Disse-lhe que não aceitava desafios e que não costumava ter suas ordens desobedecidas.
Josie respondeu que não estava acostumada a receber ordens absurdas.
Impaciente, o homem segurou os braços da moça exigindo que ela se levantasse.
Ela se recusou.
Foi o bastante para o moço segurá-la com força e levantá-la.
Mohamed não a soltou.
Josie, assustada, disse-lhe para que a soltasse.
No que Mohamed sinalizou que não o faria.
Nisto beijou a moça.
Josie, passou a esmurrá-lo.
Quando ele a soltou, a moça estava chorando.
O jovem muçulmano ficou desapontado.
Com isto, foi servido o uára al-áinab – que nada mais é que um bolinho de arroz, com variados temperos e enrolado em folha de videira.
A criada serviu a iguaria e depois se retirou.
Nisto o homem indagou-lhe que comesse algo. Argumentou que não gostaria que adoecesse.
Chorando, a moça lhe pediu para que a deixasse voltar para o Cairo.
Irritado, o homem disse-lhe para que ficasse em seu quarto.
Josie retirou-se, e ao sair da sala, deitou-se na cama e começou a chorar.
Nisto, a criada se aproximou.
Ao perceber que ninguém tocara no prato, comentou que se o amo gostaria que o jantar continuasse sendo servido.
Nervoso, Mohamed pediu a criada para que verificasse o que estava acontecendo com a moça.
Disse que se ela tivesse fome, poderia servi-la no quarto.
Com isto, a criada dirigiu-se ao quarto de Josie, onde a moça chorava copiosamente.
A mulher procurou consolá-la. Abraçou-a.
No dia seguinte, a jovem vestiu um novo traje árabe.
Ao se compor, dirigiu-se a sala.
Mohamed a aguardava.
Enquanto a esperava, servia-se de uma bebida quente, doce e leitosa, misturada com passas, amêndoas e coco chamada de sahleb.
Josie tinha o ar abatido.
O moço, ao notar o ar cansado da jovem, perguntou-lhe se ela estava bem.
Josie respondeu com voz desanimada, que não.
Mohamed, percebendo a fraqueza da moça, insistiu para que ela tomasse o sahleb. Argumentou que a bebida faria com que se sentisse menos fraca.
Como Josie resistisse a idéia, o homem segurou-a nos braços, e abrindo a boca da moça, forçou-a tomar a bebida.
Ao fazer menção de que iria chorar, o moço respondeu em tom imperativo, para que bebesse o líquido.
Josie então, sorveu o líquido.
Mohamed insistiu novamente.
Josie bebeu mais um pouco.
Por fim, a moça tomou todo o conteúdo do copo.
Mohamed comentou feliz que sempre conseguia fazer com que as pessoas fizessem o que ele queria, e ali não havia sido diferente.
Nisto, Josie pediu para que ele se afastasse.
Mohamed soltou-a.
A moça então, começou a afastar do rapaz.
Contudo, ao perder o equilíbrio, foi novamente amparada pelo jovem, que levou-a para o quarto e deitou-a na cama.
Preocupado, o homem chamou a criada, recomendou-lhe que servisse o café da manhã no quarto da jovem.
Josie tentou argumentar dizendo que não comeria nada, mas Mohamed respondeu que comeria tudo o que fosse servido. Ressaltou que caso ela se recusasse a comer, seria proibida de fazer passeios pelo deserto. Mohamede disse que permaneceria dentro da tenda, sob forte vigilância.
Percebendo que Mohamed cumpriria a ameaça, a jovem disse ao jovem que não precisava servir o café em seu quarto.
Josie levantou-se, e caminhou apoiando-se nos móveis que guarneciam a tenda.
Mohamed auxiliou-a.
Ajudou a moça a sentar-se nas almofadas.
O jovem muçulmano serviu-lhe pão sírio com diversos molhos.
Ofereceu-lhe um suco.
Samara recomendou-lhe que não fizesse a moça comer tudo de uma vez, ou ela acabaria passando mal.
Mohamed por sua vez, insistia para que a Josie comesse mais.
Preocupado, o moço respondeu que não seria bom ela caminhar em meio ao sol forte do deserto.
Razão pela qual recomendou-lhe que descansasse.
Dias mais tarde, Mohamed trouxe um amigo.
Quando Josie se viu diante de Fabrício, mal pode acreditar.
O homem, ao vê-la usando trajes árabes, ficou perplexo.
Nisto, Fabrício abraçou a moça. Disse que havia ficado preocupado.
Foi então que percebeu o ar triste da moça.
Josie não parecia feliz.
Preocupado, o homem foi conversar com o jovem. Argumentou que aqueles não eram modos de se tratar uma dama.
Mohamed ficou irritado ao ser censurado.
Mencionou que a única forma que encontrara para tentar conhecer a moça um pouco melhor, fora esta. Dizia que Josie era muito altiva e muito atrevida.
Razão pela qual não lhe dera a oportunidade de se mostrar como era verdadeiramente.
Com olhar compungido, o moço comentou que precisava fazer com que a moça visse que ele não era mau.
Fabrício argumentou que Josie não estava acostumada a ser tratada daquela forma.
Mohamed, ao ouvir estas palavras, perguntou se ele sabia alguma coisa sobre o passado da moça.
O homem, apreensivo, respondeu que os brasileiros não tinham por hábito arrebatar as mulheres, levando-as para viverem junto de si, à força.
Ao ouvir isto, o jovem muçulmano riu.
Argumentou que muitos brasileiros batiam em suas mulheres, as maltratavam, e que em muitos casos, não eram bons exemplos de namorados, maridos, e até mesmo amantes.
Fabrício resolveu calar-se.
Mohamed por sua vez, insistiu em dizer que ela estava feliz. Só não queria reconhecer o fato.
O homem, demonstrou não estar muito convencido disto. Lançou um olhar de reprovação sobre o moço.
Contudo, não desejando dar início a uma discussão, deu o assunto por encerrado.
Com isto, Mohamed encaminhou o homem para sua tenda.
Argumentou que Josie precisava descansar.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 33
Mais tarde, a moça resolveu caminhar pelas ruas do Cairo.
Usava calças, fato este que chamou a atenção dos habitantes da cidade.
Calçava mocassins, e vestira uma blusa de manga curta.
Também usava um chapéu, para tentar se proteger do calor, ou então, do sol.
Alguns homens dirigiam-lhe gracejos que a moça não compreendia.
Expressões como “mabçuta” – que exprime contentamento ao se dirigir a uma mulher; “va habibiti” – meu amor.
Josie observava os olhares de encantamento com certa apreensão.
Com isto, um homem idoso aproximou-se, dizendo-lhe em inglês que todos a olhavam por que usava calças compridas.
Josie, ao voltar-se para trás, percebeu o homem.
O mesmo apresentou-se.
Disse se chamar Fabrício.
A moça, ao ouvir o nome português, perguntou-lhe em vernáculo, se sabia falar português.
Como o homem demorasse para responder, fez a mesma pergunta em inglês.
Fabrício então, respondeu que sim, falava português, e que assim como ela, era brasileiro.
Josie abriu um sorriso. Apresentou-se.
Nisto o homem pediu licença. Perguntou-lhe se estava há muito tempo na cidade.
Josie respondeu que havia acabado de chegar.
Fabrício disse que deveria ter cuidado em sair sozinha. Divertido, perguntou-lhe se já havia sido abordada por um egípcio.
A moça respondeu que fora as expressões ouvidas há poucos minutos, que não.
No que homem respondeu:
- Pois se prepare, pois isto cedo ou tarde acontecerá! Os egípcios são muito galanteadores, principalmente quanto souberem que você é brasileira.
Josie riu.
Fabrício conversando com a moça, disse que estava no país há alguns anos.
Comentou que há décadas não tinha notícias de seus familiares, e que viajar para um país distante, fazia com que a dor e a saudade parecessem menores.
Ao ouvir isto, Josie sentiu-se entristecer. Seus olhos ficaram cheios d’água.
Fabrício, percebendo isto, desculpou-se.
Disse que não tinha direito de trazer a tona, fantasmas que eram apenas seus.
Josie por sua vez, retrucou dizendo que aquilo lhe parecia muito familiar.
O homem ao ouvir tais palavras, disse:
- Vejo que você carrega uma grande dor.
Josie então, tentando desconversar, enxugou as lágrimas e disse que o país parecia muito interessante.
Fabrício, ao notar que a moça não queria tocar em um assunto que parecia doloroso para ela, resolveu mudar o rumo da conversa. Comentou que sim, era um país fascinante.
Nisto o homem convidou-a para tomar um café.
Josie, faminta que estava, pediu um lanche.
A moça depois de alguns minutos, foi servida de um pão achatado e redondo, tendo como recheio carne de cordeiro cortada em tiras bem finas, acompanhado de salada e tahina – pasta feita de gergelim. O recheio é enrolado no pão sírio. E o prato é conhecido como Schawarma.
Sugestão de Fabrício, ao notar que a moça estava com fome.
Josie adorou o lanche.
Comentou que a carne era macia e saborosa.
Fabrício por sua vez, respondeu que sempre que queria comer uma comida rápida e saborosa, se servia do lanche.
Gentil, perguntou a moça se ela fazia idéia do que gostaria de conhecer primeiro.
Josie respondeu que havia visto mapas, guias, pesquisado em sites. Argumentou que gostaria em primeiro lugar, de conhecer a cidade do Cairo, o Nilo, sua arquitetura, seus prédios.
Comentou chegou a ver o Nilo quando se dirigia do aeroporto para o hotel onde estava hospedada.
Fabrício comentou que deveria fazer um passeio às margens do rio.
Atencioso, prontificou-se a acompanhá-la em seu primeiro passeio. Disse que estava de folga, e que não haveria nenhum problema nisto. Acrescentou que ela também poderia contratar um guia, se achasse necessário.
Josie agradeceu.
A moça estava hospedada em um hotel em estilo moderno. Lugar próximo as construções mais tradicionais da cidade.
Acompanhada de Fabrício, a moça observou de longe algumas mesquitas.
O homem explicou-lhe que a religião era algo muito presente em boa parte das culturas, e que com os islâmicos não era diferente. Comentou que havia necessidade de uma mesquita sempre próxima de onde as pessoas moravam.
Josie comentou que eram lindas construções, com arcos compostos de inúmeras curvas, cheios de detalhes, com impressionantes torres – conhecidas como minaretes.
Enquanto caminhavam, passaram por algumas tendas e se depararam com vendedores extremamente galanteadores e insistentes.
Irritado, o homem respondia a todo o momento:
- No thank’s!
Aconselhou Josie a caminhar apressadamente pelo corredor.
Os vendedores insistiam em vender suas mercadorias aos turistas.
Josie, desacostumada com aquele ambiente, achava graça.
Rindo, comentou com Fabrício que não compreendia nada do que diziam.
O homem, retrucou dizendo que também não. Contudo, ao ver os homens exibindo suas mercadorias, percebeu logo que estavam tentando vender os objetos. Argumentou que se tratava de uma prática comum. Ressaltou que os egípcios são useiros e vezeiros em empurrar objetos inúteis aos incautos turistas.
Tanto que aconselhou a moça a ter cuidado em suas compras, já que os egípcios sempre empurravam o preço de seus produtos para as alturas. Argumentou que sempre que ela fosse comprar algo, deveria pechinchar.
Josie ouvia o homem com toda a atenção.
Enquanto caminhavam juntos, a moça deparou-se com uma profusão de aromas. Alguns agradáveis, outros nem tanto.
Nisto, a jovem parou em frente uma loja onde eram vendidos temperos.
Josie respondeu que só podia ser de lá que vinham os agradáveis aromas que estava sentindo.
Fabrício, ao perceber uma vendedora se aproximando, sugeriu que ela apertasse o passo.
Por fim, levando-a para um lugar um tanto distante dali, o homem comentou que lojas e tendas vendiam os temperos que enchiam o ar de aromas agradáveis.
E assim, apontou para a moça outros comércios onde eram vendidos temperos.
Josie comentou então, que o cheiro agradável dos temperos contrastava com o ar de abandono das ruas, que tinham um aspecto sujo, de abandono.
Fabrício concordou.
Caminhando um pouco mais, Josie e Fabrício se depararam com um outro aspecto da cidade. O seu lado moderno, com prédios em estilo ocidental.
A moça respondeu que em alguns aspectos, a cidade lhe parecia familiar, pois lembrava São Paulo. Admirada, a jovem comentou que o trânsito da cidade parecia ser mais caótico que o da grande metrópole latino americana.
Fabrício riu.
- O Tejo é o mais belo rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é o mais belo rio que corre pela minha aldeia.
Josie olhou-o com curiosidade.
O homem explicou-se.
- Do particular se chega ao universal, e do universal se chega ao particular. Este cenário te pareceu familiar por que lembrou-te do lugar de onde veio, mas da mesma forma que te é familiar, não é a sua casa, não é familiar, é apenas algo muito parecido. É o Tejo, mas não é o Tejo. Te lembra São Paulo, mas não é São Paulo. É parecido, mas não é igual.
Josie concordou. Comentou que os versos ditos por Fabrício, demonstravam a profunda sabedoria de Fernando Pessoa.
Fabrício emendou dizendo que se tratava de um poeta.
Por fim, despediram-se.
Nisto, combinaram um passeio para o dia seguinte.
A noite, Josie foi procurar um restaurante para jantar.
Admirou-se com as luzes da cidade.
Andou por entre construções modernas, prédios. Lugares que lembravam uma cidade do ocidente.
Caminhando pelas ruas do lugar, sentiu-se observada.
Em que pese a grande quantidade de pessoas que circulavam pelo local, Josie sentiu-se insegura.
Enquanto andava, teve a impressão de estar sendo seguida.
Por isto, a todo o momento, olhava para trás.
Nervosa, Josie entrou no primeiro restaurante que encontrou.
Era um lugar onde se servia comida italiana, e a moça procurou servir-se de uma boa macarronada.
Para acompanhar, pediu um refrigerante.
Com isto, ao terminar a refeição, receosa de voltar a rua, solicitou usar o telefone do restaurante para chamar um táxi.
Nisto o garçom respondeu que ele mesmo chamaria o táxi para ela.
Quando o veículo chegou, o funcionário a informou.
Com isto, Josie saiu do restaurante acompanhada pelo garçom, que ao vê-la caminhando em direção ao veículo, encaminhou-se novamente para dentro do restaurante.
A moça então encaminhou-se para o táxi.
Um homem aproximou-se e abriu a porta do veículo para ela.
Josie recuou, se afastando.
O homem gentil, insistiu para que ela se aproximasse. Disse que não faria nada de mal.
Josie então aproximou-se e entrou no táxi.
O motorista então, usando de um inglês rebuscado, tentou dizer a moça, que se tratava de um homem de muitas posses na região.
Contudo a moça não conseguiu compreender o inglês do motorista.
Nervosa, Josie pediu ao homem, para que dirigisse até o hotel onde estava hospedada.
Insistiu para que saíssem logo dali.
Com isto, o taxista contornou o passeio, mostrou-lhe por alguns instantes as belezas de um Nilo enfeitado pela iluminação dos prédios que circundavam as margens.
O rio divide a cidade.
A moça, apesar do nervosismo, admirou-se com a paisagem.
Chegou a pedir para o homem diminuir a velocidade. De longe avistou palmeiras, árvores diversas, barcos e transatlânticos cruzando o rio.
O famoso rio. O Egito, dádiva do Nilo. Comentou em voz alta.
Durante o passeio, o motorista foi fechado algumas vezes, precisando frear o carro.
Quando o homem freava o táxi de forma brusca, Josie pedia para chegar viva em seu hotel.
Dizia a todo o momento para o homem ter cuidado.
Nisto, o homem a deixou em frente ao hotel onde estava hospedada.
Josie pagou o taxista, a quantia solicitada.
Por um instante se esqueceu do evento ocorrido na porta do restaurante.
Estava feliz.
Ao chegar no quarto do hotel, a moça sentou-se em sua casa e acompanhou o noticiário local.
Tentou pelo menos, haja vista que não falava árabe.
Mudando de canal, viu um filme com mulheres e homens vestidos com túnicas e lenços cobrindo os cabelos. Percebeu que se tratava de um filme sobre a cultura árabe.
Cansada que estava da viagem, dormiu no meio do filme.
Quando acordou, a emissora estava fora do ar.
Josie desligou o aparelho e colocou uma camisola.
Voltou a dormir.
No dia seguinte, ao despertar, tratou de tomar um banho.
Como fazia calor, a colocou uma calça leve, e uma blusa de manga curta. Calçava um sapato confortável.
Desceu, e no salão do hotel, tomou um café da manhã, com comidas típicas do lugar.
Josie se encantou com as tâmaras.
Também comeu pão sírio – um pão de formato achatado e redondo, com saladas e diversos acompanhamentos. No café havia damasco, leite, café, e iogurte.
Josie experimentou colocar damascos no iogurte. Achou a mistura deliciosa.
Por fim, foi ao encontro de Fabrício.
O homem, ao vê-la se aproximando, perguntou-se se estava preparada para uma longa caminhada.
Josie respondeu que sim.
Fabrício então, estendeu o braço para a moça, que o segurou.
Nisto a dupla caminhou pelas ruas do Cairo.
Enquanto caminhava com o amigo, Josie observava que muita gente a olhava com curiosidade.
No que o homem insistiu em dizer que deveria providenciar roupas parecidas com as que os egípcios usavam. Falou-lhe, que se ela continuasse a se vestir ao modo ocidental, causaria muito furor.
Ao ouvir o comentário, Josie argumentou que ele estava exagerando.
No que ele respondeu que não.
Josie protegia o rosto com um chapéu.
Fabrício prometeu-lhe um lenço, como os que as egípcias e alguns egípcios usavam.
Nisto, a dupla deu início ao passeio.
Caminharam pela parte moderna da cidade, com seus edifícios modernos. O Rio Nilo ao fundo, a emoldurar a paisagem.
Josie observou novamente a beleza dos jardins às margens do rio. Gramado bem cuidado, árvores, palmeiras. Barcos ao fundo, de todas as envergaduras e calados.
Fabrício pontuou ela deveria observar as diversas pontes que cortavam o rio e faziam o elo entre as duas partes da cidade separada pelo rio.
Nisto, o homem comentou que havia um passeio de barco feito pelo rio.
Ressaltou que a paisagem era muito bonita de dia, mas que a noite era melhor ainda.
Josie concordou.
Respondeu que quando fora jantar, pode comprovar que o rio ficava ainda mais bonito a noite.
Em sua fala, disse que se afigura um espetáculo muito bonito, as luzes da cidade enfeitando o rio.
Com isto, a dupla continuou a caminhada.
A certa altura, Fabrício lhe mostrou a Torre da TV, informando-a que na mesma, havia um restaurante, e uma vista espetacular da cidade.
Durante o trajeto a moça fotografou alguns lugares. Fez perguntas.
Fabrício ao observar o equipamento fotográfico da moça, perguntou-lhe se era jornalista.
Josie respondeu que sim. Comentou que estava ali para documentar a cultura da região. Iria fazer uma matéria turística.
O homem respondeu que então havia muito o que ser mostrado a ela.
Comentou sobre as pirâmides, os hieróglifos, os antigos deuses egípcios, o Nilo, as praias.
Josie comentou com o homem, que havia experimentado as tâmaras.
Fabrício comentou que era um fruto delicioso.
Almoçaram.
Degustaram pratos típicos, com muita salada e molhos de acompanhamento.
Havia grãos com fava, grão de bico e lentilha. Além do molho Baba Ghanoug (mistura de tahina – pasta de gergelin, com alho e berinjela).
Sendo servido também, o Kebabs, que é um prato muito popular feito de carne de carneiro ou frango, cortada em pedaços, marinada e grelhada. A carne, foi servida acompanhada de arroz, e salada.
Josie adorou a comida.
Enquanto almoçava, comentou que a culinária do país era muito saborosa, e que se continuasse a comer daquela forma, acabaria engordando.
Fabrício riu do comentário.
Ressaltou que ela não corria o risco de ficar obesa.
Mais tarde, caminharam em direção a parte onde haviam construções tipicamente árabes. Caminharam por entre tendas, lojas, casas.
No comércio, mercadorias em profusão, espelhos, objetos dourados, lenços, tecidos, esculturas, objetos sofisticados e imitações baratas.
O homem, comentou que ela deveria ter cuidado com os comerciantes. Nunca aceitar o primeiro preço, e sempre ter cuidado com ótimos negócios, pois egípcios adoravam dizer que seus produtos eram originais, quando não passam de cópias muitas vezes grosseiras de originais.
Nisto, a dupla adentrou uma loja de tecidos, onde Fabrício lhe mostrou um bonito estampado de seda.
O vendedor, ao perceber o interesse da dupla na mercadoria, disse em um inglês sofrível, que custava cem dólares.
Fabrício questionou o preço.
Logo deu-se início ao costume de pechinchar.
Fabrício ofereceu vinte dólares.
O vendedor irritado, argumentou que era muito pouco. Ressaltou a qualidade do tecido, feito de matéria-prima nobre e cara.
Negociando de um lado e de outro, Fabrício adquiriu a mercadoria pelo valor de trinta dólares.
Ao olhar para a moça, o homem procurou se afastar da loja e comentou com a moça que ele não tivera prejuízo. Argumentou que eles jogavam o preço para cima, com vistas a forçar uma negociação e aumentar a margem de lucro. Disse que se tratava de um costume local.
Josie por sua vez pontuou:
- Deve ser daí que alguns brasileiros adotam o costume de pechinchar.
No que Fabrício concordou:
- A julgar pelo fato de que há muitos brasileiros descendentes de portugueses e espanhóis, e que estes países sofreram influência da cultura moura, provavelmente foi daí que adveio o costume, já um tanto quanto abandonado.
Josie concordou.
A certa altura do passeio, um homem se aproximou da moça, observando-a atentamente.
Em seguida, dirigiu-se a Fabrício, perguntando em inglês:
- How much?
O homem achou graça.
Como o estranho insistisse na pergunta, Fabrício respondeu também em inglês, que a moça não estava a venda. Argumentou que ela não era sua propriedade e que não poderia vendê-la.
O estranho porém, argumentou que não estava preocupado com valores. Disse que ele poderia cobrar o que quisesse por tão fina mercadoria.
Josie ao perceber isto, ficou furiosa. Ameaçando dizer poucas e boas ao homem, Fabrício a reteve, sinalizando para que não discutisse.
Fabrício então, agradeceu a oferta, mas disse que a moça era apenas uma amiga e que não poderia vendê-la.
Nisto, o homem agradeceu e retirou-se.
Josie e Fabrício ficaram observando o homem se afastar.
A certa altura, a moça observou camelos. Havia alguns próximos a uma praça da cidade.
Com isto, Josie e Fabrício continuaram a caminhar pelas ruas estreitas, com seus cheiros, suas lojas, seus vendedores. Enfim, pelo comércio da cidade.
Enquanto caminhavam, se deparam com alguns homens de túnica e cáfia (pano quadrado preso por uma tira). Um deles, ao ver que Josie segurava uma câmera, perguntou-lhe em inglês, se ela não estava interessada em um fotografia com um típico homem do Egito.
A moça, achando uma boa idéia, perguntou-lhe quanto cobraria pela foto.
No que o homem respondeu que gostaria de receber vinte dólares.
Josie ficou perplexa. Argumentou que não trazia consigo dólares, e tampouco tal montante.
O homem não gostou do que ouviu.
Fabrício, intervindo, sugeriu ao homem a importância de dez dólares, ressaltando que ainda assim, o valor era alto.
O egípcio concordou.
Josie tirou uma foto de um homem todo empertigado em seu traje típico.
Caminhando pela parte antiga da cidade, a moça percebeu que boa parte da população, não priva do conforto oferecido aos estrangeiros que vão para lá.
Fabrício disse que boa parte da população vive pobremente, mas que há homens ricos no Egito.
Nisto, enquanto caminhavam pelas ruas estreitas, observavam mesquitas e casas típicas árabes, e um homem, que dirigia um dos muitos carros em estado de má conservação que circulavam pelas ruas da cidade, o qual começou a soltar pedaços de sua lataria, sendo os mesmos, devidamente segurados a base de remendos.
Josie ficou perplexa.
- Mas parece o Brasil!
Fabrício riu.
Completando as palavras da moça, o homem respondeu que os egípcios tinham algo em comum com os brasileiros. Rindo, argumentou que era por isto que havia escolhido o lugar para morar.
Curiosa, Josie perguntou no que homem trabalhava.
Fabrício respondeu então, que fora para o Egito para trabalhar como engenheiro civil, e que mesmo depois de sua aposentadoria, havia decidido permanecer no país. Argumentou que estabelecera laços com a tão rica cultura.
Mais tarde, quando Josie resolveu comprar um tecido, Fabrício aconselhou a pechinchar bastante.
Nisto a moça, que havia estudado um pouco do vocabulário do lugar, resolveu tentar conversar com os homens em árabe.
Contudo, os mesmos, ao perceberem que se tratava de uma estrangeira, fizeram de tudo para conversar em um inglês de difícil compreensão para ela. Muitas vezes, a moça precisava gesticular.
Fabrício, percebendo a dificuldade, auxiliou-a.
Isto por que o comerciante preferia negociar com um homem.
Por fim, Josie conseguiu comprar um bonito tecido.
Brincando, Fabrício respondeu-lhe que ela estava aprendendo.
Após, moça continuou a observar as casas, as construções.
Em alguns monumentos históricos, percebia traçados e detalhes de arquitetura conhecidos através das histórias das “Mil e Uma Noites”.
Fabrício respondeu-lhe então, que o encantamento seria maior, quando conhecesse o deserto e se deparasse com os beduínos. Comentou que era um povo milenar que preservava as tradições.
Ocorre porém, que após a Primeira Grande Guerra, o estilo de vida deste povo, passou a entrar em franca decadência. Isto por que, a esta altura, não podia mais se movimentar pelos territórios com a mesma liberdade de antes. Razão pela qual passaram a adotar estilo de vida cada vez mais sedentário.
Fabrício comentou então, que era um povo que se dividia em várias tribos, as quais possuíam um líder tribal denominado sheik.
Por fim, o homem disse, que era cada vez menor o número de beduínos, e com isto, cada vez menor, a probabilidade de encontrá-los em andanças pelo deserto.
Mudando o tema, disse também, que as pirâmides poderiam ser avistadas dentro do perímetro da cidade, fato este que causou espanto em Josie, que custou a acreditar na informação.
A moça argumentou que para ela, as pirâmides ficavam no deserto.
Fabrício respondeu que sim, mas que a cidade, expandindo-se, começou a alcançar as pirâmides. Disse que nas proximidades do lugar haviam hotéis luxuosos, e que durante a noite, era apresentado um bonito espetáculo de luzes, mostrando as nuances dos monumentos.
Encantada, a jovem comentou que devia ser um belo espetáculo.
O homem concordou, mas acrescentou que os monumentos símbolo do país, estavam se deteriorando. Argumentou que se o país vivia basicamente do turismo, deveria haver um cuidado maior com os símbolos nacionais. Uma preocupação de fato, em preservá-los em suas características originais.
Josie ouvia o homem atentamente.
Durante o almoço, a moça fez alguns apontamentos em um caderno.
Fabrício curioso, perguntou do que se tratava.
A moça respondeu que precisava anotar de forma resumida, tudo o que vira, o que achara interessante, para depois colocar tudo no papel em um bela matéria.
Comentou que esta era uma forma de organizar suas idéias.
Fabrício falou que era um processo interessante.
Mais tarde, no jantar, o homem sugeriu que comessem algum prato típico do lugar.
Como Josie conhecia pouco da culinária do país, pediu ao homem que se sugerisse algo.
Fabrício solícito, sugeriu um frango assado, pombo recheado ou uma carne grelhada.
Josie perguntou o gosto da carne do pombo.
Fabrício respondeu que era saborosa, e que ela poderia experimentar.
A moça concordou.
Mais tarde, o pombo foi servido acompanhado de arroz e massa, além de um prato quente de verdura.
Fabrício respondeu que a verdura, a salada, poderia ser uma alternativa aos pratos com carnes.
Mais tarde, a dupla foi servida.
Ao provar a comida, moça elogiou novamente a escolha do amigo.
Comentou que a iguaria não era nada má.
Ao término da refeição, o garçom, trajado à moda árabe, perguntou-lhe se gostariam de saborear uma sobremesa, nisto, ofereceu: Mohallabeyya (creme à base de farinha de arroz, perfumado com água de rosas e com pistache); Om´ali (finas folhas de massa cozida banhadas em leite muito açucarado e misturadas com coco e pistache) e Konafa (uma espécie de massa de pistache, avelãs e nozes, envolta em aletria e mel).
Enquanto fazia as sugestões, explicava a composição dos ingredientes das sobremesas.
Josie, em dúvida, resolveu escolher a Mohallabeyya.
Palavra a qual teve muita dificuldade em pronunciar.
Ao experimentar a sobremesa, a moça comentou com Fabrício que assim, como o pombo, tinha um sabor diferente.
Argumentou que o nome da sobremesa era difícil, mas a iguaria era gostosa.
Fabrício disse que tinha um sabor suave.
A seguir, o homem pediu um karkadeh, feito de pétalas secas da flor do hibisco.
Ofereceu a bebida a moça.
Nisto, o garçom perguntou a Josie, se gostaria de servir-se da bebida fria ou quente.
Josie respondeu que preferia a bebida fria.
Fabrício por sua vez, pediu um suco de frutas.
Durante a refeição, enquanto comiam, Fabrício disse que achou graça na proposta de compra, do jovem egípcio.
Josie, ao relembrar-se do fato, argumentou que não via a menor graça em tudo aquilo.
Fabrício respondeu-lhe que se tratava de um povo machista.
A jovem concordou. Argumentou que somente uma pessoa com uma mentalidade muito atrasada, pensaria em comprar um ser humano como se fosse uma mercadoria, um objeto.
No que Fabrício argumentou que os brasileiros já fizeram isto, com os índios e com os negros.
Josie retrucou dizendo que isto fora há mais de um século, e que hoje não existia mais escravidão no Brasil.
O homem por sua vez, respondeu que escravidão de fato não existia, mas que em muitos rincões do país, havia gente reduzida à condição análoga a de escravo.
Josie concordou. Mas disse também, que lá nenhum homem tentaria comprar uma mulher.
Fabrício respondeu que de forma tão direta não. Porém, havia outras formas de fazê-lo, até mais indelicadas, comentou.
Josie respondeu-lhe que ele era impossível.
Fabrício disse-lhe então, que era apenas alguém mais vivido do que ela. Alguém que poderia lhe conceder bons conselhos.
- Então o senhor concorda com o que aquele homem fez! – retrucou a jovem, inconformada.
- Absolutamente! Só acho que a senhorita não deveria se aborrecer com isto. – respondeu calmamente o homem.
Por fim, ao término da refeição, o homem pagou a conta.
Josie por sua vez, insistiu em pagar sua parte.
No que Fabrício comentou:
- Quando eu pago sua conta, só estou querendo fazer uma gentileza. Está bem?
Josie retrucou dizendo que ele já havia pago sua compra, oferecido-lhe presente, além de haver pago outras refeições suas, e que já estava demais pagar também seu jantar.
Fabrício argumentou que gostaria de pagar. Que não havia problema algum nisto, e que não estava tentando comprá-la. Argumentou que as mulheres estavam tão acostumadas a serem independentes que se desacostumaram com um gesto de gentileza.
Ao ouvir isto, Josie respondeu que não era bem assim.
Fabrício respondeu que iria pagar a conta.
Josie respondeu:
- Está certo!
Ao saírem do restaurante, a moça observou as palmeiras e comentou que tudo aquilo criava uma atmosfera magnífica, que a encantava. Comentou perplexa, ter tido a impressão de já haver visto algo parecido em outro lugar.
Fabrício perguntou-lhe se já havia conhecido algum país muçulmano antes.
Josie respondeu que não.
O homem argumentou que talvez conhecesse um cenário parecido, pelo cinema.
Nisto continuaram a caminhar pelas ruas da cidade.
Fabrício comentou que no Egito havia muita burocracia. Maior até que no Brasil.
Josie ficou surpresa com o fato.
A certa altura do passeio, um homem passou diante da dupla.
Era o mesmo que havia aberto a porta do táxi para Josie, na noite anterior.
Ao reconhecer a jovem, perguntou-lhe em inglês, se precisava de algo.
- No thank’s. – respondeu a moça.
Nisto o homem respondeu que na cidade havia um bom comércio, e muitos belos lugares para se conhecer. Em seguida, convidou-os para entrarem em uma loja.
Fabrício reconheceu o jovem.
Percebendo a resistência da moça, o homem insistiu para que entrassem na loja. Disse que poderiam olhar as mercadorias sem compromisso.
Josie adentrou o estabelecimento acompanhada de Fabrício e do jovem.
Nisto, o jovem se apresentou. Chamava-se Mohamed. Em seguida, perguntou a moça, como se chamava.
A jovem respondeu que se chamava Josie.
Ao ouvir a palavra Josie, Mohamed perguntou-lhe a origem do nome.
A moça respondeu em inglês que não era um nome próprio e sim, um apelido.
Mohamed insistiu para saber mais detalhes.
Josie respondeu-lhe que seu nome era Maria Josefa.
- Maria Josefa! Portuguese name!
- Brazilian name! – insistiu a moça.
Curioso, o moço perguntou qual era o nome de sua família.
Josie não compreendeu.
Nisto, o moço perguntou-lhe o sobrenome.
- Andrade Camargo. – respondeu.
Mohamed, ao ouvir a palavra brasileiro, ficou encantado. Comentou que sabia falar português.
Fabrício, que estava a certa distância, ao ouvir o jovem dizer que sabia falar português, admirou-se. Respondeu que agora a conversa ficava mais fácil.
Nisto o homem apresentou-se.
Quando Mohamed ia dizer-lhe quem era, Fabrício respondeu-lhe que o conhecia de vista, e sabia sobre sua influência na cidade.
Mohamed respondeu modestamente, que a fama era maior do que a influência que de fato exercia.
Nisto o homem fez um gesto de cumprimento para a moça, e pediu licença para se afastar por alguns minutos. Disse que tinha um assunto para resolver.
O jovem afastou-se.
Fabrício então, segredou-lhe que se tratava de um homem influente do local. Comentou que era rico e que possuía muitos negócios na cidade, inclusive algumas lojas de tecidos.
Josie contou a Fabrício, que já tinha o visto antes.
Curioso, o homem perguntou onde.
Ao ver o jovem retornando, a moça mudou de assunto. Começou a observar um tecido.
Mohamed, ao perceber o interesse da jovem, comentou que se tratava de uma seda finíssima, ótima para uma túnica arábe.
Gentil, pediu a moça que sentisse o toque do tecido.
Josie respondeu que de fato era muito macio.
Com isto, o moço respondeu:
- É seu!
A moça tentou recusar.
Mohamed por sua vez, mandou embrulhar o tecido. Disse que era cortesia da loja.
Josie ao ouvir isto, insistiu em pagar.
Como o jovem dissesse não estar interessado em seu dinheiro, a moça tentou argumentar.
No que Fabrício respondeu:
- Ora, aceite! É apenas um presente.
Com isto, Josie aceitou o tecido. Respondeu que era uma bonita peça.
Mohamed disse-lhe então, que se quisesse, poderia deixar os embrulhos em sua loja, que mais tarde entregaria em seu hotel.
Josie agradeceu, mas recusou a oferta.
Fabrício, sugeriu a jovem, que aceitasse o oferecimento. Comentou que pretendia caminhar mais um pouco e que ficar cidade afora carregando embrulhos seria incomodo.
Nisto a moça concordou em deixar os pacotes na loja.
Mohamed anotou o endereço e prometeu que ao final da tarde os tecidos estariam em suas mãos.
Josie agradeceu.
- De nada. – respondeu o moço, olhando-a nos olhos.
Josie e Fabrício saíram da loja.
Mohamed acompanhou-os com o olhar, até sumirem de vista.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 32
Enquanto Roberta finalmente conseguiu contatar Leonardo, foi informada que ele havia se ferido ao realizar uma matéria, em pleno campo de batalha; Josie por sua vez, ficou por quase uma semana sem receber qualquer ligação de Olavo.
Aborrecida, nos primeiros três dias, pensou que em razão da correria, o moço se esquecera de ligar.
Contudo, como os dias iam passando, Josie começou a se preocupar.
Lucineide aconselhou a amiga a ligar para o moço.
Foi o que Josie fez.
Olavo contudo, não atendia as ligações.
Por fim, a moça recebeu uma ligação dos pais de Olavo.
Josie, ao ouvir a voz de Otaviano, perguntou aflita, se estava tudo bem.
Silêncio do outro lado da linha.
A moça, nervosa, insistiu:
- Alô! Está tudo bem?
Otaviano, percebendo que precisava dizer alguma coisa, comentou que os planos para o fim de ano estavam cancelados. Não haveria festa, e o convite para ir até o Sul não poderia se realizar.
Josie ficou perplexa.
Nisto o homem, enchendo-se de coragem, respondeu que Olavo sofrera um acidente de carro, enquanto dirigia para a vinícola, numa das estradas que davam acesso a região. Contou que durante a noite, enquanto dirigia pela estrada sem iluminação, foi fechado por um carro, vindo a bater em outro e a capotar.
Como não conseguisse dizer mais nada, Josie concluiu que Olavo não sobrevivera ao acidente.
Nisto Vilma, ao ver o marido chorando pegou o telefone e confirmou que Olavo falecera.
Em choque, Josie despediu-se da mulher e desligou o telefone.
Lucineide precisou consolar a amiga, que estava em prantos.
Roberta por sua vez, tentou consolar Josie, mas ela também precisava de ajuda, já que não sabia da gravidade do estado de Leonardo.
Lucineide estava atordoada. Ora precisava acalmar Roberta, dizendo que provavelmente não acontecera nada demais com Leonardo; ora passava ora consolando Josie, que perdera o noivo inesperadamente.
Roberta ao perceber que Josie precisava de ajuda, ofereceu-se para acompanhá-la no funeral de Olavo.
Lucineide espantou-se com a gentileza.
Comentou emocionada que não esperava um gesto tão nobre de sua parte, ainda mais em um momento complicado de sua vida.
No que a moça respondeu:
- Talvez por isto mesmo eu estou me oferecendo, já que minha vida está tão tumultuada. Eu acho que oferecendo apoio para alguém que está precisando mais de ajuda do que eu, vou conseguir por minhas idéias no lugar.
O olhar de Roberta estava cheio de angústia.
Lucineide por sua vez, conversou com Medeiros.
Comentando que ambas precisavam se afastar por alguns dias, perguntou se ele poderia autorizar uma licença para as duas.
O homem, ao tomar conhecimento dos fatos, disse que estavam liberadas para ficar o tempo necessário no Sul e acompanhar o funeral do jovem.
Chocado, Medeiros desejou condolências a Josie. A Roberta, recomendou juízo e tranqüilidade, pois acreditava que o ferimento de Leonardo não devia ser grave.
Quanto a Lucineide, disse-lhe que era uma boa amiga e que se Josie e Roberta não estavam bem, não poderiam ficar sozinhas.
Medeiros recomendou que ela acompanhasse as moças.
Lucineide ficou surpresa.
O homem respondeu que ela havia dado mostras suficientes de profissionalismo, e que nunca abusara de sua confiança. Razão pela qual estava ganhando alguns dias para viajar.
A jovem agradeceu.
Nisto o trio, tratou de arrumar as malas para viajar para o Sul.
No aeroporto de Porto Alegre, pegaram um táxi para a rodoviária. De lá, seguiram para a cidade onde Olavo morava.
Quando chegaram a rodoviária da cidade, foram recebidos por amigos da família que conduziram o trio até a propriedade.
Josie, ao adentrar o galpão onde o corpo estava sendo velado, percebeu que o caixão estava lacrado.
Vilma, desolada, abraçou a moça chorando e dizendo que não pudera ver o filho pela última vez.
Depois Otaviano veio falar-lhe. Estava arrasado.
Josie se fazia de forte, mas ao lado das amigas, caía em prantos.
Desesperada, dizia que pela terceira vez na vida, havia perdido o chão.
Triste, comentou que desde que perdera seus pais, nunca sentira uma dor tão grande.
Roberta abraçou a amiga e disse que a dor iria passar.
Comentou que ela jamais se esqueceria de Olavo, mas que aquele sofrimento não era eterno.
Lucineide também consolava a amiga dizendo que Olavo estava bem, em um bom lugar.
Longe das maldades do mundo.
Atenciosa, Lucineide, consolou Vilma e Otaviano dizendo que alguém que fizera tanta gente feliz, só poderia estar em um bom lugar.
Emocionada, Vilma abraçou a moça.
Chorou.
Roberta por sua vez, sempre que se via a sós, procurava ligar o celular e verificar se havia alguma mensagem.
Mas nada.
Lucineide, ao dar um calmante a Josie, procurou ver como Roberta estava.
Perguntou-se havia conseguido algum contato com Leonardo, no que a moça respondeu que não.
Lucineide tentando tranqüilizá-la disse-lhe que se houvesse uma piora no estado do moço, ela seria informada.
Nisto, abraçou Roberta, que se desmanchou em lágrimas.
Com isto a moça respondeu que sentia muito mal de estar preocupada consigo, quando via Josie se acabar de tanto chorar pela perda de alguém tão caro. Comentou que se não fosse tão leviana, Leonardo não teria brigado com ela e poderia estar bem na Europa.
Lucineide respondeu-lhe que sua culpa era infundada, já que Leonardo sempre fez o que quis. Comentou que ela própria dissera que mesmo antes das brigas e do desentendimento que tiveram, o moço trabalhara como correspondente de guerra. Argumentou que ele tinha gosto por aventura.
Nisto, insistiu para que Roberta se acalmasse, pois tudo ficaria bem.
Roberta abraçou-a e agradeceu a amizade.
- Não por isto. – respondeu Lucineide. – Você sabe que independente de nossas brigas, eu gosto de você de graça.
No dia seguinte, Josie acompanhou o funeral de Olavo.
O moço foi enterrado no cemitério da cidade.
Josie e Vilma levaram camélias para serem jogadas no caixão do moço.
Otávio estava inconsolável.
Ao ver Josie, tratou de ir ao seu encontro, e chorando, comentou que deveria estar mais presente.
Josie respondeu que ele não poderia adivinhar o que aconteceria, posto que ninguém esperava por isto.
A moça começou então a chorar.
Otávio, dizendo que muito embora pudesse parecer, ela não estava sozinha.
Comentou que muito embora Olavo tivesse partido, dizia que não gostaria de perder o contato com ela. Argumentou que vê-la, fazia lembrá-lo de bons momentos ao lado do irmão.
Ao ouvir as palavras do moço, Josie começou a chorar.
Visando consolá-la, Otávio a abraçou.
Nisto a família seguiu até o cemitério, onde acompanhou a colocação do caixão no jazigo da família.
Antes do lançamento das pás de terra sobre o caixão, Josie e Vilma jogaram flores.
A despedida foi triste para todos.
De volta para casa, Vilma estava impassível.
Otaviano por sua vez, estava com os olhos cheios de lágrimas.
Otávio tentava consolar os pais, em vão.
Como estava de férias da faculdade, o moço resolveu tomar a frente dos negócios da família.
Negociou a produção da vinícola, tratou das vendas pela internet. Tudo para que os negócios não ficassem parados.
Nos dias que se seguiram a partida do irmão, Otávio manteve contato com Josie, dizendo que estava preocupado com os pais. Insistia para que a moça assim que pudesse, fosse visitá-los. Falava que sentia falta do irmão.
Em um de seus contatos com a moça via skype, disse que iria enviar-lhe um email com as fotos e as gravações que Olavo havia feito com ela.
Josie agradeceu o cuidado.
Quando abriu o email e viu as fotos, caiu em prantos.
Assistir o vídeo era ainda mais triste. Olhar as imagens do moço, era como tê-lo vivo ainda.
Lucineide, ao ver a amiga entregue ao desânimo, disse que ela não deveria tornar a ver aquelas imagens. Não enquanto estivesse abalada com a despedida do moço.
Josie chorando, dizia sentir muita saudade do rapaz.
Argumentava que não estava agüentando mais sentir tanta dor.
Roberta por sua vez, nos dias que se seguiram, finalmente descobriu a gravidade dos ferimentos do marido.
Leonardo, havia ferido uma das pernas.
Segundo foi informada, havia o risco de amputação.
Ao ouvir isto, Roberta ficou chocada. Ficou a se perguntar como ele devia estar.
Aconselhada por Lucineide, a moça viajou para a Europa para se encontrar com o moço.
Ao chegar na Europa, a moça enviou um email para Lucineide, dizendo que a situação do moço era pior do que pensava.
Leonardo estava abatido, todo machucado e com o problema na perna.
Como havia ferido os olhos, passava o tempo com uma proteção no rosto.
Ao ser visitado por Roberta, o moço esperneou dizendo que preferia ficar sozinho.
Ao vê-la se aproximar, disse que ela o havia abandonado.
Roberta perguntou-lhe como estava.
Irônico, Leonardo disse que estava bem.
Agressivo, disse que ela devia estar brincando para fazer uma pergunta tão cretina. Em tom de choro, argumentou que ela deveria estar se divertindo ao vê-lo tão destruído.
Roberta por sua vez, respondeu que ele não era o único que deveria se sentir castigado pela vida.
Nisto, comentou que Josie havia perdido o noivo em um acidente de carro. Disse que a amiga não pode nem se despedir do moço. Nem a um último abraço tivera direito. Ressaltou que para a morte não havia jeito, mas que a situação dele poderia ser revertida.
Triste, Leonardo comentou que não gostaria de viver pela metade, e que não queria que ninguém tivesse pena dele.
Gritando, pediu para Roberta se afastar.
A moça, desconsolada, partiu.
Chorou em um canto do hospital.
Mas não desistiu do moço.
Nos dias que se seguiram, Roberta visitou-o, sem se identificar.
Quando o jovem perguntou-lhe o nome, procurou disfarçar a voz, dizendo que estava ali para ver um paciente, mas que ao vê-lo sozinho, resolveu ir até seu quarto fazer-lhe companhia.
Leonardo agradeceu o gesto dizendo que estava sozinho na Europa.
Comentou amuado, que nem a ingrata da esposa, se importara de verdade com ele.
Enquanto isto, aos poucos Josie retomou seu trabalho na redação.
Insistiu com Medeiros para que a designasse para um trabalho importante. Comentou que sentia necessidade de se ocupar.
Medeiros, ao notar os olhos tristes de Josie insistiu para que descansasse por mais alguns dias.
No que Josie retrucou dizendo que estava cansada de pensar em Olavo, e que não agüentava mais se dar conta do vazio que ele havia deixado.
Argumentou que Roberta precisara se afastar para resolver problemas pessoais e que a redação estava desfalcada.
Pediu, insistiu para que o chefe a deixasse trabalhar. Disse que o trabalho faria com que ocupasse o tempo e se esquecesse de seus problemas.
Ao constatar que Josie estava determinada, Medeiros perguntou-lhe se estava disposta a viajar para outro país e fazer uma ampla matéria sobre sua cultura, história, lugares turísticos.
Os olhos da moça brilharam.
Josie respondeu que sim.
Nisto Medeiros comentou que há tempos estava pensando em realizar uma matéria sobre o Egito, mas nunca encontrava a oportunidade para fazê-la. Ora o orçamento, que não permitia uma viagem internacional, ora não havia gente apta a tal trabalho.
Comentou então que o orçamento para a viagem era curto, e que precisava de alguém criativo para driblar as dificuldades da viagem.
Confessou que havia pensado inicialmente em seu nome para o trabalho, mas diante dos últimos acontecimentos, resolvera poupá-la.
Josie retorquiu dizendo que não queria ser poupada.
Argumentou que precisava se esquecer dos seus problemas.
Medeiros disse-lhe que este era o tipo de coisa que não se esqueceria facilmente.
Josie fingiu não ouvir.
O homem então, percebendo que a moça estava resolvida, concordou.
Sim, Josie iria para o Egito, realizar uma matéria para a revista.
Medeiros então, providenciou passagens e hospedagem para a moça.
Comentou que ela ficaria em um bom hotel, mas que estivesse preparada para conhecer o lugar. Disse que o país, assim como o Brasil, tinha muitos contrastes, pobreza e riqueza, entre outras coisas que ela iria descobrir com a viagem.
Josie argumentou que estava preparada para tudo.
Nisto, o homem desejou-lhe boa viagem.
Josie agradeceu.
Nos dias que se seguiram, Josie fez pequenas matérias para a revista.
Tratou também, de preparar suas malas para a longa viagem que faria para o Egito.
Lucineide, ao tomar conhecimento de que Josie faria uma longa viagem para o exterior, perguntou se ela estava realmente certa do que estava fazendo. Comentou que ela havia acabado de sofrer uma perda e que talvez devesse se poupar um pouco.
Josie por sua vez, argumentou que estava cansada de chorar. Disse que gostaria de voltar a viver.
Lucineide percebendo que a amiga se agarrava àquela oportunidade como a uma tábua de salvação, abraçou-a. Desejou-lhe uma boa viagem e recomendou que fizesse um bom trabalho.
Curiosa, Lucineide perguntou-lhe quem a acompanharia no trabalho.
Josie respondeu que por ser fotografa, viajaria só.
A moça ficou chocada.
Percebendo isto Josie recomendou-lhe que não ficasse preocupada.
Argumentou que falava bem o inglês, e que por lá havia muitos receptivos e guias, que a conduziriam em segurança pelas ruas da capital e paisagens do país. Asseverou que Medeiros lhe passou alguns telefones, entre eles, seu celular, e que em caso de emergência, poderia ligar para ele.
Ao ouvir isto, Lucineide tranqüilizou-se.
Por fim, disse que também poderia ligar para ela, e que se sentisse não estar em condições de concluir a viagem, deveria ligar para ela, que trataria de conversar com Medeiros.
Josie sorrindo, respondeu que não havia este risco.
Estava determinada.
Com isto, na data ajustada, dirigiu-se ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, onde pegou um vôo para a África.
Lucineide e Medeiros acompanharam a moça até a fila de embarque.
Antes de partir, a moça conferiu seus pertences, seus equipamentos profissionais: como câmera e filmadora.
Os equipamentos eletrônicos levava juntamente com sua bagagem de mão.
Durante a viagem, contemplou as nuvens, a geografia, as imagens como se fora fotografias de satélite.
Com efeito, ao chegar no continente, precisou fazer uma escala.
E assim, pegou um outro avião para o Egito, numa companhia aérea do próprio país.
Procedimento este, que foi um pouco demorado.
Razão pela qual Josie resolveu tomar um café em uma das lanchonetes que havia no aeroporto.
Aproveitou para abrir seu guia sobre o Egito, e ler algumas matérias sobre o país.
Nisto, finalmente foi possível adentrar em um novo avião.
Josie prosseguiu em sua viagem.
Ao descer do avião, dirigiu-se ao salão de desembarque onde retirou suas malas e saiu do aeroporto.
Ao chegar na capital do Egito, a moça pegou um táxi.
Dirigindo-se ao motorista em inglês, pediu para que ele a deixasse no hotel onde havia uma reserva para ela.
Durante o percurso deparou-se com construções luxuosas, mas também muita pobreza e miséria.
“Como Medeiros me dissera”. Pensou.
Também sentiu uma certa adrenalina com o modo de dirigir do taxista. Ora o homem avançava bruscamente os sinais; ora percorria velozmente ruas e avenidas, além de realizar conversões perigosas.
Josie sentiu o coração aproximar-se da boca.
Por várias vezes dirigiu ao motorista:
- Be carefull!
- Maalêsh! – retrucou o motorista.
Josie, que havia lido no guia, que a expressão significava “Deixa pra lá, ou Dane-se”, pensou que somente Deus realmente poderia protegê-la.
Com isto, ao fim de cerca de meia hora de adrelina, o homem a deixou em frente ao hotel em que ficaria hospedada.
Ao chegar no hotel, pagou o taxista com o dinheiro local.
Ao perguntar o valor da corrida, a moça se assustou com o preço.
Contrariada, pagou o valor que considerou exorbitante.
Antes de viajar, Josie dirigiu-se a uma casa de câmbio. Comprou um pouco de libra egípcia, para arcar com suas despesas de viagem.
Com efeito, o homem a auxiliou com as malas, levando sua bagagem até a recepção do hotel.
- Shukran! – agradeceu a moça.
O homem, com um gesto cerimonioso, afastou-se.
Com isto, ao chegar na recepção, Josie preencheu uma ficha em inglês.
A seguir, foi conduzida a seu quarto.
Um funcionário carregou sua bagagem, depositando-a em um carrinho, e levando-a até seu quarto.
Ao deixar as malas no quarto, o rapaz estendeu a mão como se esperasse uma gorjeta.
Josie, ao perceber isto, respondeu em inglês que lhe daria cinqüenta piastres.
O jovem fez-lhe um gesto de mesura e retirou-se.
Josie ficou observando o quarto. A cama, o guarda-roupa.
A moça, ao se dirigir ao banheiro, percebeu louças antigas.
Procurou então, abrir as torneiras. Lavou o rosto.
Resolveu tomar um banho.
Água quente.
Com o calor que fazia, resolveu molhar os cabelos.
Ensaboou o corpo.
Por fim, desligou o chuveiro.
Enrolada em uma toalha, a moça pode constatar que estava bem instalada.
Trocou de roupa.
Luciana Celestino dos Santos
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