Poesias

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

MULHER

I
Ser de mil dons encantado
De posse de sortilégios adornado
A possuir a inteligência de se saber delicada
E a seguir e decidir as regras de sua vida

Com seus mil dons, a tecer delicadeza, cor e beleza
Na trama da vida,
Com suas mil teias cinzas, pretas, coloridas
E de toda a tristeza e miséria extrair um rico ornato
A lembrar a delicadeza das flores

Flores com mil formas, com mil cores e cheiros
A trazerem beleza e encantamento para seus dias
Dias diários, corridos, atarefados

Donas de mil rótulos, preconceitos
Aos poucos aprendendo a desbravar a dura vida
E a superar as incompreensões, covardias e injustiças

Não se aviltando por baixezas e vilanias cotidianas
E a tecer seu caminho de belezas diário
Em que em nada se desfaz de ordinário

Existência extraordinária,
Por trazer a vida outros seres
E a tornar tudo melhor, quando o quer
Só poderia mesmo ser você,
Mulher

II
Entre tramas de rendas coloridas,
De mil modos feitas,
Delicados bordados

Unhas enfeitadas com brilho e cores,
De esmaltes variados
Cabelos arrumados,
Feitos com inúmeros penteados

Corpo aromatizado,
Composto de variegados matizes,
Odores de perfume

Seres que enfeitam os pés de saltos:
Agulha, anabela, meia-pata, sapatilhas

Roupas que mil formas contém,
Mil corpos tocam e abraçam

Com suas saias, calças, blusas,
Casacos, luvas e vestidos
Lenços coloridos a enfeitar

Falares e dizeres discretos,
Ou espalhafatosos,
Ou não!
Que dizer então?

Senão, parabéns por um dia, apenas
Quando em todos deveria ser lembrada e respeitada,
A você, mulher!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

SAMBAQUIS

Li em algum lugar
Sobre a ancestral existência de estruturas antigas
Feitas por povos indígenas que habitaram o litoral brasileiro
Muito antes da nobre raça existente
Em razão de sua culinária, seus hábitos e seus costumes
Muito diferentes dos tupi guaranis

Os quais deixaram inscritos em sambaquis,
Sua origem e sua história

E esses monumentos arqueológicos
São denominados: concheiros, cascaqueiros ou, berbigueiros
Nada mais sendo, que depósitos de materiais calcários
Empilhados pela ação humana,
Desses antigos homens

A sofrerem com a ação do tempo,
A serem fossilizados quimicamente
Sofrendo mudanças em suas estruturas originais
Os quais passaram por intempéries,
Que deformaram a estrutura dos moluscos, mariscos, ostras,
Das conchas e dos ossos enterrados,
E demais materiais

Os quais foram calcificados e petrificados
Transformando-se em paredes com vários metros
Algumas com até trinta metros

Construções algumas muito antigas,
A se iniciarem nos tempos das pirâmides
A abrigarem história e admiração,
Das pessoas que hoje apreciam,
E estudam os sítios arqueológicos

De onde surgiram templos religiosos,
Cujas ruínas mostram sua origem, e seus materiais

Sambaquis, origem de depósitos indígenas

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

RUÍNAS

Li há pouco tempo, simples matéria em um jornal
Onde contada a história
De uma antiga igreja erigida
Em imemoriais tempos

Hoje tornada ruína,
Com preciosos sambaquis
E em uma pia batismal, ainda original
Líquido recolhido pelos fiéis e devotos
A renovarem sua crença e devoção
Em um Deus de poder e mistérios

Com pessoas a se guiarem por um caminho de matas
Diariamente
Pescadores a viveram em isoladas praias,
A acessarem o íngreme caminho
Lindo cenário de beleza
Onde circularam povos indígenas
Provavelmente construtores do templo

Com pessoas a dizerem
Que a antiga igreja,
Ainda resistiu intacta até os tempos de antanho,
Década de cinquenta

E o tempo, sempre implacável a tudo consumir
Transformando a antiga igreja,
Restando apenas algumas paredes de pedras

Caminhos do litoral
Seguem os passos
De um tempo assaz distante
Tempos de antigas vilas, capitanias, governos gerais
Construções coloniais, prédios, igrejas
Hoje apenas ruínas de um tempo remoto

Prédios históricos, alguns resistem
A acenarem a memória de um tempo distante
Arquitetura de variados ornatos, esculturas, vitrais

E assim, ao ler a delicada notícia
Lembro-me das ruínas de uma antiga igreja
Erguida em elevado morro,
Com escadaria de pedras, quase toda tomada pela grama
E as meias paredes em pedra
Aberturas, e a visão do mar e de bairros
Sítio arqueológico, com suas áreas demarcadas, delimitadas

Quanto a pia batismal,
A mesma fora levada há tempos,
Para o mais paulista dos museus,
Museu do Ipiranga

Igreja, onde provavelmente foram celebradas missas aos nativos do lugar
Circundada por inúmeras árvores
Hoje enfeitadas de bromélias coloridas
Ponto turístico do lugar

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

QUEM UM CONTO CONTA, UM CONTO AUMENTA

Melopéias de uma tarde tristonha
A despedir-se dos mil sóis,
De uma tarde fagueira
Belos luscos-fuscos,
Emoldurados por coloridos raios
Amarelos, laranjas,
E um céu azulado e violeta

As estrelas a enfeitarem o firmamento
Cintilando a cobertura celeste de brilhos

E a triste tarde
A contrastar com todo este esplendor
E o céu a despejar suas águas,
Das brancas e vaporosas nuvens

As gotas de chuva a correr pelas vidraças
Janelas salpicadas das águas que caem das alturas
Chuva de vento, que a tudo revolve
Pensamentos que a mim e a todos envolve
Muitas e boas idéias a fervilharem a mente
E o som no rádio, e na rede,
A fascinarem nossos ouvidos
E a tarde que se despede,
E a noite se faz por chegar

Saudades de uma rede vermelha
Para nas tardes, me balançar

E o pensamento vagueia
Percorrendo mil idéias desconexas
Tempos de infância
A recordar-se de inúmeros contos de fada

Com suas belas e delicadas princesas
Jovens moças que entoam maviosas canções
Tristes e suaves melopéias
Com seus olhares profundos e puros

E seus príncipes valorosos, a enfrentarem feras
E a erguerem espadas, altivos
Portando imensas e exuberantes capas

Em ingênuas narrativas
Em que sapos viram príncipes
Donzelas adormecem por cem anos,
A espera de um beijo de amor
Ou então, presas estão, no alto das torres,
A espera de um príncipe para salvá-las

Em contraponto,
Um conto de fadas, nada convencional
Onde o interior dos seres
Mais conta do que a beleza exterior
Beleza das mensagens, das vivências
Mil e lindas experiências

E a tarde cai, os pensamentos vagueiam
As idéias, aos poucos rareiam
E os pensamentos pululam as mentes
Edificantes posturas

Em contraste a isto, tristes histórias
Lembranças dos que se foram
Partindo desta vida
Mas nunca de nós se separando
Ao menos não em definitivo

Nisto, procurando se distrair
A ouvir novas canções
E a triste tarde a se despedir
Sorrateira, dando lugar a noite e ao luar

E aqueles que tão cedo partiram,
Apressados, antes de nós,
Nunca de vós esqueceremos!

Pois entre nós viveram
E antes de partir,
Deixaram entre nós seus melhores pensamentos,
Os seus nobres ensinamentos
E também as coisas menos edificantes,
Que para trás deixaremos

Que todos sigam suas trajetórias
Em todos os planos espirituais
Temporais, e atemporais
E que os contos a serem contados,
Um conto aumentem,
Na conta de todos nós, endividados!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Por-se ao Sol

Avistar lindas paisagens,
Dispersas por entre a ramagem,
Da selva de concreto,
A assolar as cidades

E um por do sol alaranjado
Com sol amarelado,
Envolvido em tons laranja,
Desfalecendo

O astro, luminoso satélite
A se esconder, em meio a construções
As feias construções,
Ao longo do lugar,
A obstaculizar o acesso,
A tão lindo espetáculo!

Entre uma passagem e outra,
A se revelar aos poucos,
Em todo o seu esplendor
A certa altura,
Depois de brincar de aparecer e se esconder,
A por completo desaparecer

E o azul a predominar no cenário
A noite pouco a pouco a tomar conta do lugar
Paisagem sem lua,
Com uma estrela imponente a brilhar

Árvores secas,
Com suas folhas abandonadas,
A contrastar com a escuridão da noite,
Revelando suas formas sutis

Mil tarefas a cumprir,
Atividades a desempenhar,
No novo dia que irá chegar

Distração e lazer,
Nas poucas horas que se tem,
Para enfim poder descansar

Tevê, internet,
Um mundo inteiro para se devassar,
Coisas novas para se saber,
A vida inteira para se descobrir,
Entre músicas, melodias, escritos,
Encantamento
Quanto deslumbramento,
A vida nos traz
Surpresas inigualáveis,
Lindas posturas, gestos, vozes,
Desempenho

E a presença da inventividade humana,
Esta força avassaladora,
Que a tudo constrói,
E que a tudo pode destruir

Uma vida interior para se criar
E assim a melhorar a atmosfera ao redor
Tornando nossa existência,
Algo melhor para contar!

Colocar-se diante da vida,
Por-se ao sol,
Apreciando lindos cair da tarde,
Amanheceres de novas esperanças,
Melhores alentos

Em um por-do-sol,
Amarelo alaranjado,
Com um sol deitado,
A exibir em todo seu esplendor,
Sua arredondada forma,
Enfeitando um cenário de parcas árvores

Verde área, ladeada por alguns ciprestes
A natureza a brigar por seu espaço
A mostrar que o concreto,
Não predominar deve,
Em meio ao cenário citadino
Neste meio também havendo espaço,
A plantas e flores,
No passeio de carros e ônibus

E o por-do-sol,
A se acompanhar!
Lindo espetáculo da vida!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Por um instante

I
O azedume das pessoas a se fazer assaz distante
Palavras duras, ideias preconceituosas
Gentes que em vão criticam
Sem ao menos conhecer o objeto de seus malefícios

Palavras ferinas proferem, sem o saber da causa
E sem caírem em si, e sem ao menos darem-se conta,
De que estão a falar de si mesmos,
Quando pensam estar a falarem dos outros

E assim, após chegar a esta conclusão
Nunca mais tempo perdi,
Com pessoas e coisas que não valem a pena

Por que a pena, é valiosa demais,
Para se deixar levar por leviandades
E por que o todo é válido,
Se a alma for grande o suficiente para se aperceber disto

E assim, tento fazer por merecer,
Este belo pensamento em forma de poesia ...

II
Se todos ouvissem antes de falar
Se todos pudessem ler as palavras que escrevo
Quem sabe de lição serviria para todos nós,
Que falamos sem pensar!

Fica aqui o recado:
Antes de invejar e criticar,
Procure fazer sua parte, procure fazer melhor!

III
Tempos frios,
E o sol a dardejar seus louros raios de sol
Por um horizonte lúgubre de sombras e nuvens
Tímido sol por entre a tarde chuvosa

Céu azul triste e chuvoso
Ventos bravios percorrem a costa,
A devassar os mares
Mares de águas azuis, quase límpidas
E a revirarem sombrinhas

Tempos frios, de muitas águas
Chuvas perenes, quase a fazer parte da paisagem
Eternais!

Muito embora não sejam as de março
Chuvas a regarem os jardins
As plantas, as flores de manacás repleto de botões

Chuva que nos faz ficar introspectivos, pensativos
A curtir, sons e alegrias de novas melodias
Novas canções e novos jeitos de se ver a vida
Com cada artista imprimindo seu jeito próprio de fazer as coisas
Beleza em forma de poesia

Passeios de guarda-chuvas, pés molhados, capas de chuva
Poças d’água, plantas regadas por águas celestiais
Manancial de vida, fertilidade, providencial
E o dia a findar-se,
Com os tímidos raios louros do sol, por se afastar

IV
Mais tempo para se pensar na vida
Refletir, trazer a tona, o que traz dentro de si
Reverberar para fora, o que se traz ínsito em si

Deixar para trás as mágoas e os rancores
Deixar quem se pensa vítima do mundo, de lado

Cada qual com seus traumas e medo
Que eu também tenho os meus para cuidar
Minhas feridas para curar,
Já que ninguém cuidará delas para mim

Já que não importa o que faça,
Não fará diferença para muitos,
Então, ao menos que o faça para mim

Que eu seja feliz,
Apesar dos olhares maldosos,
Das palavras maldosas,
Dos pensamentos maldosos

Não vim ao mundo,
Com a obrigação de agradar gregos e baianos
Vim ao mundo apenas com a obrigação de ser feliz

E se puder,
Contribuir de alguma forma para melhorá-lo
Assim como tantos outros,
Que nasceram com esta destinação
E que ainda não se aperceberam disto

Pensar na vida, como forma de fazê-la melhor
Não para cuidar da vida dos outros
Pois quem assim age é frustrado

E eu que ainda tenho tantos sonhos para correr atrás
E quem sabe alcançá-los e com eles caminhar,
E quem sabe ao lado deles ser feliz e me realizar

Refletir, pensar, reverberar,
Os pensamentos e sonhos bons que tenho na vida
As boas coisas que trago em meu peito
Que por vezes chora em prantos
De dor, de tristeza e de revolta
Mas que também é capaz de chorar de alegria

V
Acompanhar lindas apresentações,
Na tela do computador
Como a da jovem moça ...

A cantora, envolta em atmosfera de brumas
Como se em nuvem estivesse a pisar
Com as projeções do telão, a mostrar folhas em planta a crescer
Impressão causando, de leve voo
Estando a cantora, a certo momento a pousar

Como uma cenografia em pedras
A singela cantora, com sua imponente voz,
Sentada neste cenário, tendo ao fundo, imagens de cachoeira
Linda, com seu top rebordado em brilhos, calça jeans justa
Cintura delicada, delgada,
Mais assemelhada a uma sereia

Em outra parte do show a dar lugar a uma menina do interior
Caipirinha, a cantar suas próprias canções,
Entre sucessos de muitos cantores de antanho
Em cenário a lembrar as festas juninas
A recordar em fotografias,
Seus tempos de criança

Cabelos repartidos em dois longos rabos de cavalo,
Violão enfeitado de fitas coloridas e encapado de flores
Forró e sertanejo a se misturarem
Com muito gingado
E o bailado a reinar animado

Em dado momento, com um vestido longo amarelo,
A moça canta a bordo de uma lua prateada
Sentada em sua curva, tendo ao lado seu violão
Cantando mais uma bela canção

Muitos efeitos especiais,
Telão a frente do palco, e outro logo atrás
Mergulho a bordo de um lindo e simples vestido branco

Em outro momento do espetáculo
Floresta de árvores secas no telão
Capuz e postura estática a cantar mais uma canção
Para ao final da apresentação,
Lançar a capa com o capuz ao chão

E logo em seguida,
Adotar uma nova postura e entoar canções mais animadas
Até o fim, ao som especial, a bordo
De um “Pássaro de Fogo”
Com belas imagens de um cavalo, e flores ao fundo

Lindo dom de encantar!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Poéticas

I
As flores claras iluminam os dias
E as flores de matizes escuros, clareiam o luar
A escuridão dissipa as flores e os tons
Obumbra os limites, as divisões
Sinto saudades das canções
E da sutileza dos detalhes

II
A alegria chama imensurável felicidade

III
Passadas na areia, a molhar os pés na água azul do mar
Mar azul profundo, de ondas brancas, a revolver o fundo, as areias
Areias que tingem de escuro, as águas revoltas do mar
E gelam os pés dos caminhantes da sua margem
Ir e vir das ondas, as vagas
Os desenhos das águas a recortarem as areias de azuis ondeantes
Areias ondulantes, envoltas em água e espumas
Lindo sol a brilhar no mar
A contrastar com o vento a gelar os corpos dos passantes
Tempo inconstante
Passeios constantes, em meio as frias águas da praia

IV
Ninguém é feliz o tempo inteiro e tampouco infeliz a todo o momento
A vida se compõe de venturas e desventuras afinal

V
As pessoas não são somente felizes,
Muito menos inteiramente tristes
E quem ó é, pobre miserável!
Não sabe o que é a vida,
E tampouco entende a vida que tem!

VI
A vida só gosta de quem gosta dela
E nós somente amamos, a quem verdadeiramente gosta de nós
Ao menos, deveríamos lutar, para assim sermos
Amarmos a vida para que ela a nós ame,
Como no sábio adágio,
E devotarmos nossos afetos, apenas a quem bem merecê-los
Nada de lamentações inúteis,
De nos ocuparmos do que não nos interessa
Entender o feio, o triste, o desagradável
Mas não deixar que as veleidades nos contaminem
E assim, amarmos a vida, não só no que tem de belo,
Mas ainda assim, amarmos, pois só assim ela nos mostrará o belo

VII
Em sendo a dor inevitável,
Muitas vezes também é preciso vivenciar o sofrimento
Deixar que ele se desenvolva,
Nasça, cresça e morra, dentro de nós
Para que não mais volte a nos assombrar
A fuga, melhor opção não é
E o sofrimento pode ser opcional,
Mas nem sempre, empreender fuga, produz bom resultado

VIII
O sol nasceu para todos,
Mas a sombra é somente para quem bem merecê-la
São os dizeres graficamente dispostos nos muros da vida

IX
Como já dizia, melodiosa canção
De repente, as coisas mudam de lugar
E quem perdeu, pode ganhar
A velha máxima do mundo que muitas voltas dá
E quem no poder agora está,
Amanhã não mais poder terá
No ostracismo posto serás, se o bem merecer
E reconhecido pela história, se o bem fizer
Nos ciclos enfindos da vida

X
Faças o melhor que puder com a vida que tiveres,
Pois o melhor dos mundos retornará para você

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.