Poesias

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Fragmentário

I
Enquanto a ampulheta do tempo gira
Fico eu a imaginar
Será o tempo relativo,
Ou eu que por um instante fiquei a sonhar?
Roda mundo, mundo gira
Gira a roda, roda do tempo
Que gira, gira sem cessar

II
Estando a bailar
No vai e vem das valsas
Vem e vai, vai e vem
Balanço cadenciado
Dançar conforme a música
Movimentar-se
A consciência de seu corpo ter
A deixar os movimentos por acontecer

III
Movimentos cadenciados,
Ritmados, como a lembrar passos de dança
Mas rápidos, frenéticos

Pedalar cada vez mais apressadamente
O vento a impor sua força,
Opondo-se ao corpo fraco que luta para transpô-lo
E a luta por resistir
Fazendo com que se pedale cada vez mais rápido
E assim, fazer o corpo ficar, em constante movimento

IV
Na bela cidade,
Repleta de encantos,
Embora circundada de tantos descuidos

Céu e mar,
Peruíbe a encantar
Com seu amplo e rico cenário
Deslumbramento dos sentidos
Riqueza de sensações
Atividades várias

V
E mais tarde regressar
A rotina retomar
Trabalho e atividades para recomeçar
Atividades físicas para se iniciar
Novo mundo de possibilidades

A pedalada em um banco azul
O sobe e desce do step,
Nas estepes do pensamento
Voo para as geografias do mundo
Relembrando lugares, paragens,
Coisas simples do viver

E a lua com sua beleza delicada, delgada
Estrelas poucas no céu,
No firmamento, a salpicá-lo em brilhos

Pernas indo e vindo
Braços se levantando,
Ávidos por movimento,
Em busca de musculatura

O pêndulo a balançar o corpo
Alongando, exercitando
Movimentando o corpo no espaço

E a lua a nos acompanhar,
Em todos os eventos
A nos ter por velha amiga
Esperança de melhores tempos

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

FLORES MARMÓREAS

Flores que encantam
Bravas plantas,
Flores a desabrochar no jardim da vida,
Depois de germinadas
A crescerem invadindo os espaços,
A espalhar suas folhagens verdes,
Sua delicadeza de pétalas,
Seu verde de flor
A colorir o verde do jardim

A desenvolver-se em suas floradas,
Lindas e exuberantes flores,
Coloridas, cheias de pétalas,
Com seus odores
Algumas com seus perfumes,
A todo o jardim invadir

A despetalar seus pedaços
Fenecendo,
Desfalecendo-se para novamente,
E aos poucos, refazer-se,
E novamente em exuberâncias,
Desabrochar,
Com suas novas e coloridas flores

Lindo jardim,
Visitado por pássaros diversos,
Coloridas borboletas,
Com suas imponentes asas,
Entre outros aéreos seres

Assim é a natureza,
A sempre se renovar
Como os seres,
Sempre tendo uma função neste mundo,
Para que possa se afirmar

E assim são os seres,
As mulheres a sempre serem,
Comparadas as flores
Por sua suposta delicadeza, sutilezas
E por sempre estarem a se renovar

Transfigurando-se,
Transformam a dura realidade,
Em flores delicadas
Assaz coloridas, e diversas,
Em seus formatos de pétalas, e ornatos

E o universo dorido,
A encher-se de belas e delicadas flores fica
O ar perfumado,
A exalar os melhores pensamentos
Dos adoráveis seres,
Pelos homens admirados!

Alentos nas difíceis horas,
A fortalecerem-se em caule,
A crescer vigoroso,
E a se espalhar pelos jardins,
Nos confins de nossas existências

Por vezes, a se encher de espinhos,
Com vistas a melhor se proteger
Delicadeza ladeada a fortaleza
Abrigo da beleza,
Monumento a vida

A despejar-se em vasos de maravilhas
A transmutar o mundo
Fantásticos seres
Inimagináveis criaturas!

As marmóreas flores
Com seus braços, pernas,
Músculos e sentidos,
Seus mil tons de pele,
Seus cabelos, seus jeitos,
Seus modos, seu falar,
Seu calar, seu caminhar, seu cantar,
Seu pulsar

Delicadas mulheres,
Inspiradamente esculpidas,
Admiráveis seres
A envolver os seres, os homens,
A percorrer o mundo em um abraço
Inimitáveis criaturas!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Estelares

I
Céu estrelado
Coroado de brilhos, enfeitado de estrelas
Lua minguando em seus contornos
Mas ainda com brilho acentuado

Acompanha-me,
Em meus passeios madrugadeiros
Sentada em um trólebus
Contemplo a atmosfera noturna
Por detrás das janelas do coletivo

II
Passeios por Paranapiacaba
Avistando a lua altaneira
Em dia azul e claro a riscar os céus

Onde branca e redonda a surgir no horizonte azul
A fazer par com belo castelo
Erigido em monte
A descortinar a bela paisagem do lugar
Passarela em madeira, com archotes iluminados

Escadarias de pedra conduzem ao lugar
E a noite o Castelinho majestoso, fica a brilhar
E o show tão aguardado, de uma banda tão memorável
A nos brindar a noite, ao som das estrelas

Que de tão vivas,
Ocupam os palcos da vida a nos encantar
Nos velhos trilhos de trem

Os passeios em terra brumosa de outrora
A locomotiva a apitar majestosa
E as moças a acenar com seus lencinhos
Belos tempos

E na atualidade, um belo festival a nos encantar
Ornamentada em um palco
Bela banda com boas músicas
Apresentando sempre muita qualidade,
E a pedir bis
14 Bis

III
Eram belos e belas, imponentes
Deuses e déias do Olimpo
Heróis de velhos combates
A trazerem consigo,
Lindas e possantes medalhas

Lutadores, guerreiros, brigadores
Mas, as vezes muitas, que pena!
Heróis sem medalha

Esperança de tempos melhores que virão
A espera de maiores incentivos
Que belo país o Brasil seria,
Então!

IV
Passeios pela cidade paulistana
Em caminhos inóspitos
Edifício paulista em estilo clássico
Mármores, gradis decorados,
Portas de metal e vidro entalhadas
Muitos detalhes e frisos
Belíssima construção!

Exposição de belos quadros impressionistas
Claude Monet, Manet, Degas, Renoir
Entre outros expoentes
Pinturas a produzir grandes efeitos à distância!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
 

Essa palavra bendita!

Viver alegre,
Cada vão momento
A expressar em verdade e sentimento

A divagar e pensar
Neste pequeno mistério
Amor, esta palavra
Quanto significado terá?
Fico a pensar ...

Não quero a isto me furtar
As tuas mãos hei de tocar
Teus lábios doces irei beijar

E até de um breve bocejar
Terei um mundo inteiro para contemplar

Dorme querido, dorme
Dorme profundamente
Neste ninho e leito de amor
Delicadamente construído
Para que este sentimento perdure

Puro deleite
E assim, durando para sempre
Sigamos sempre felizes
Mas não durma eternamente
Em sua torre de marfim
Como as princesas encantadas,
De um conto de fadas
Alheamento sem fim

Não seja poltrão
Não ajas como se fora um covarde
Não tenha medo de ser feliz
Ainda que por um breve instante
Mesmo esteja assaz distante
Viva este sentimento verdadeiro

Não roubes a esperança
De encontrar um valor em essência
E desta forma nem mesmo
À distância
Pode afetos dissolver

Resolva viver
Um dos melhores sentimentos
Que a vida pode trazer!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

ENLUARADAS!

As manhãs despontando
Despedindo-se da aurora madrugadeira
Onde uma lua minguante,
Desponta no mais alto dos céus,
Ladeada por algumas estrelas brilhantes
Cenário discreto
Lua acompanhar as horas primeiras da manhã

As flores desfalecidas de um ipê roxo,
Caídas ao chão,
E varridas pelo vento

As árvores sem folha,
Mostrando seus galhos ávidos por vida,
A contrastar com as horas do dia
O tons claros dos azuis do céu,
Pouco a pouco escurecidos,
Pelo cair da tarde,
E o acréscimo das horas

Outrora, noites entristecidas,
Sem o clarão da lua,
Obscura por sobre o firmamento

Mas eis que surpreendente,
Surge na abobada celeste,
Agora uma lua discreta,
Partida em seu esplendor

Ah! quanto tempo,
Não ver uma estrela o céu a riscar!
Cenário raro,
Nos atuais dias de minha vida
Dias de luas de cores diversas,
Em fumaça e poluição envolvida

Cenário onde falta, as cores cambiantes,
De antigos pores-do-sol
Alaranjados, dourados e violetas

Caminho meus apressados passos,
Acompanhada pela escuridão das noites
Hoje lua a despontar no céu,
Junto ao amanhecer das horas

O firmamento a se clarear
Para deixar novamente,
Um novo dia acontecer

Horas de esperança alvissareira
A afastar os afamados desencantos,
Os desenganos que a vida nos traz!

E assim o dia a passar,
As horas a passar
Mil estações do ano,
Em apenas algumas horas!

E assim a vida segue,
Com suas cores,
Dores e encantamento

Para mitigar o desalento,
Instrumentos utilizados para mitigar as dores
Tristezas sentidas dos viveres

Boa música a escutar
Em suas suaves,
Outras vezes tristes melodias
Leituras diversas,
Conhecimentos vários

A tudo transformar o viver
Em um nada normal, caminhar
Pois o melhor da vida,
Não é normalidade se ter!

A irrealidade,
A se transformar em plena realidade,
Tornar a ser,
O mundo das idéias,
Materializado ser

E as dores para longe,
Afastadas ser
Pois se a vida é,
O mundo que para nós construímos,
Que então, sejamos felizes
E enchamos este mundo de beleza e esplendor!
Da minha madrugada enluarada!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Enluado

A lua em seu círculo raro
Tendo ao lado, uma linda estrela
A imponentemente,
Resplandecer no firmamento

Por vários dias, esta lua a nos acompanhar,
Escondida no alto zênite,
Oculta aos nossos olhares primeiros,
Fugidios
A exibir seu branco arco,
Num céu profundamente escuro

Nas primeiras horas da noite,
Um escuro azul marinho,
A revelar a cidade ao fundo,
Os prédios, as árvores secas, desfolhadas,
O parco verde a resistir,
Na árida concretude da cidade

A poucos passos da Nova Lua,
Para tudo novamente começar
Corpo celeste a se transmudar,
Ante nossos olhos desatentos,
Esquecidos das pequenas maravilhas da vida

A lua a sumir no horizonte,
A novamente surgir,
E aos poucos, em seu formato crescente,
Encher-se de beleza e encanto
Donairosa em seus fetiches,
A resplender maravilhas e luar

E num distante lugar,
O menino a tudo isto contemplar,
No escuro quintal de seu lar

Feliz dizia a seu pai:
Quantas maravilhas no mundo há!
E o pai com tudo concordando,
Pois percebia que tudo era bom e belo!

E o cachorro no quintal
A latir, espantado com a presença,
Das gentes no quintal

O menino por sua vez, a chamar o cão,
E com ele a brincar,
Dizendo-lhe estar apreciando a beleza da lua

E a se recordar do dia que um eclipse viu,
A lua imensa, cheia, branca
Como nas melhores canções
Pouco a pouco perdendo o esférico ornato,
Metamorfoseando-se em minguante,
Até por completo desaparecer

Encantado, Felipe perguntou ao pai,
Do que se tratava,
E o homem a calmamente lhe explicar,
Tratar-se de fenômeno astronômico,
Ocasionalmente a ocorrer,
Sendo a lua obscurecida,
Por um astro a lhe cobrir a visão

E o menino a perguntar,
De que astro ele estava falar
E o pai então, lhe respondeu,
Que tratava-se da sombra da terra,
No astro lunar projetada,
A afirmar que isto, tal efeito causa,
Obscurecimento
E a lua obumbrada,
A se esconder na sombra terrestre

Embora a continuar por lá,
Uma sombra a encobre,
Obstaculizando a visão!

Que lega!
O menino dizia,
Depois do aludido fenômeno, contemplar

E nisto seu pai a lhe recomendar,
A casa adentrar
E o menino a protestar,
Dizendo que mais queria ver

Nisto Carlos ficou a lhe dizer que o eclipse,
Ocorrido havia,
E que não havia mais nada para se olhar
E assim, relutando,
O menino a casa adentrou...

No dia seguinte na escola,
O menino a descobrir,
Que nem todos o fenômeno viram

Os garotos a comentar que,
Somente brumas viram,
Não podendo divisar a lua,
Em meio aos etéreos vapores

Que pena!
Felipe ficou a pensar,
Pois nem todos oportunidade tiveram,
De o fenômeno visualizar

Felipe também ficou a lembrar,
Do dia em que um cachorrinho encontrou
O cãozinho a latir e a balançar o rabinho,
Acompanhava os passos do menino,
Que da escola regressava

Em sozinho se encontrando,
O menino tentou se apartar do cachorro
Dizia para ele se afastar
Mas o cãozinho renitente,
Parecia fingir não ouvir

E assim, se afastava um pouco,
Para após, novamente retornar,
E a certa altura,
Para o menino latiu

Felipe por seu turno,
Interrompeu a caminhada,
E a observar o cachorro ficou
O animal ficou então, a correr a sua volta

Felipe a coçar a cabeça,
Ficou pensando em uma maneira,
De os pais convencer,
A com o bichinho ficar

Pensando alto, ficou a se perguntar:
O que vou fazer,
Caso em meu lar chegue, com você?
Meus pais certamente não concordarão,
Em me deixar ficar contigo!

Nisto o cachorrinho
A sentar ficou,
Olhando o garoto, com olhos suplicantes

Felipe então, respondeu que:
Tá certo! Tá bom!
Eu te levo para casa,
Só não garanto a boa acolhida!

E nisto, o cãozinho,
A acompanhá-lo continuou

Desta forma, Felipe em casa chegando,
Trazia consigo um cachorro
A mãe ao ver o cão, logo questionou:
De quem é este cãozinho,
Que o vem acompanhando?

E o menino gaguejando,
A explicar começou,
Dizia que o cãozinho dono não tinha,
E que o vinha seguindo,
Praticamente desde a saída da escola,
Com olhos súplices,
A pedir-lhe guarida

E a mãe, para o cachorrinho a olhar,
Comentou:
Com o cãozinho não poderemos ficar!

E o menino, a pedir,
A insistir dizendo que poderiam sim,
E que tudo faria para ajudar

Mas a mãe insistia para o cãozinho deixar,
Para quem dele pudesse cuidar,
E o menino a chorar,
Prometia ajudar, a dele cuidar

E o chororô se fez tão pungente,
Que a pobre, alternativa não restou,
Senão com o pai conversar,
E deliberar sobre a permanência ou não,
Do cãozinho no lar

Carlos, o pai,
Consciencioso, e a tudo acautelar,
Por fim, ao perceber o empenho do menino,
Na permanência do cão
Com ele ajustou:
Deverás auxiliar nos cuidados,
Lembrando os horários das refeições,
Dos banhos, as visitas ao veterinário,
Os diários passeios com o animal!

E Felipe a tudo ouvia com atenção,
E a tudo prometia,
O maior cuidado tomar

Carlos por sua vez,
Prometia a tudo assessorar,
Mas salientando de Felipe ser,
A responsabilidade pelo cão

E assim, os dias se seguiram
Uma casinha para cachorrinho,
Foi providenciada,
A ração, as visitas ao veterinário,
Felipe, auxiliado pelos pais,
De tudo se encarregou

Quanto ao banho,
O menino, ao tentar lavar o cachorrinho,
Todo molhado ficou

Carlo ao ver a cena,
Rindo ficou,
E a ajudar o menino se dispôs

E assim, com a ajuda do pai,
O cão um banhou tomou,
Atlas limpinho ficou,
A balançar os pelos molhados,
E a enxugado ser pelo menino

Mais tarde, Felipe levou Atlas para um passeio,
Nas ruas do bairro,
Sempre um plástico carregando,
Para assim recolher, os dejetos do animal!

Certo dia,
Acompanhado pelo pai,
Felipe levou o fiel amigo para passear,
No lindo parque que havia no lugar

E o cãozinho a correr ficou,
Latiu para uma borboleta linda,
Que então pousou,
Em uma planta florífera

Felipe ao ver a cena, censurou o gesto,
Dizendo-lhe que não poderia,
Espantar a espécie
E o cachorrinho envergonhado, calou-se

Quando o cãozinho adoeceu,
O menino entristecido ficou,
E o vê-lo tão debilitado,
Felipe chorou, temendo o serzinho se findar
No que foi consolado pelos pais,
Que lhe disseram que Atlas iria se recuperar

E o tempo em sendo,
O senhor da razão,
Demonstrou ao menino,
Através da melhora do cãozinho,
Que seus pais razão tinham no dizer!

E com isto, o menino a brincar,
Com seu dileto amigo ficou
Brincava de jogar bola ao cão,
Para fazer com que ele buscasse o objeto
Ao andar de bicicleta,
Colocava o bichinho em um cesto,
Na traseira da magrela

E a vizinhança admirava o bom comportamento,
Do disciplinado cãozinho

Certa vez, Felipe apresentou-se disfarçado,
Ao atento cachorro,
Que em não o reconhecendo,
Começou a latir para ele,
E o menino então, trancou-se na casa
Carlos e Irene, muito riram da brincadeira

Felipe por sua vez questionou,
Argumentando se o cachorrinho,
O reconhecido não havia,
Por seu cheiro

Carlos então, respondeu que na dúvida,
Era melhor não se disfarçar
E o menino a lastimar e a dizer:
Fazer o quê!

Tantas lembranças,
Visto que Felipe entretinha-se com elas
Carlos seu pai, ficava a lhe chamar,
Dizia para em casa entrar,
Pois tarde estava,
E não queria pegar o sereno da madrugada

O menino por seu turno, comentou que gostava,
Do orvalhar das plantas

Carlos então prometeu,
Que mais cedo poderiam acordar,
E assim, observar as plantas,
A umedecidas pelo orvalho serem

E assim ajustados,
Após mais uma noite de contemplação,
Dos astros celestes
Pai e filho, a casa adentraram

O menino, de dentes escovados,
Pijama posto,
Em sua cama deitou-se,
Sendo coberto por seu pai,
E a mãe a lhe desejar um terno boa noite

O menino então, ficou a pedir,
Para uma história contar
E o pai a lhe dizer que tarde estava

Como o menino insistisse,
O homem começou a narrar,
A singela história de um beija-flor
Que a procurar estava,
Uma perfeita flor,
Para recolher o pólen

E a seguir, espalhar o material,
Oriundo de boa matriz,
Para outras plagas
E assim, a espalhar a beleza e a perfeição!

Maravilhado com a narrativa,
O menino a dizer ficava:
Que bonita história!

E Carlos, a narrativa continuava
Dizia que o pássaro em sua procura,
Deixava de lado,
A tudo que não considerasse perfeito
E com isto, muitas flores,
Deixaram de ter seu pólen recolhido

E muitas flores deixaram de ser semeadas,
Fato este que ocasionou a redução,
Dos números de flores na região,
Pois em somente se germinando o pólen,
Das flores perfeitas,
A nascer não estava,
As flores diversas do jardim,
Pois em nem todas sendo belas,
Oportunidade não tinham,
De o melhor mostrarem

Pois em apenas se pautando pela beleza,
A imponente ave,
Deixava de levar em conta,
A essência da natureza,
Onde todos espaço tem

Em não se prevalecendo a beleza
Algum encanto há,
Nas espécimes nem sempre tão belas,
Pois em feias nascendo,
Chances tem de se aperfeiçoar,
Melhores polens produzindo,
Para as novas gerações
Flores e flores, nascendo e morrendo,
Para dar lugar a novas flores

E em belas nascendo,
Fenecem, despindo-se,
De suas materiais, belezas

Com isto, demonstrando,
A inconstância da vida,
Sua efemeridade
Às vezes sua feiúra,
A qual não pode ser abandonada,
Tampouco de lado posta!

Pois se tudo belo fosse,
Não saberíamos apreciar a beleza das coisas
Vivemos pois, de contrastes,
Finalizou o pai,
Sob aplausos de um filho entusiasmado

Em seguida,
Dizendo que se fazia hora de dormir,
Beijou a fronte do filho
E apagando a luz do quarto,
Desejou-lhe boa noite e bons sonhos

Felipe então, deitado em sua cama
Em sua cama esticou-se,
E a dormir ficou
E os mais diversos sonhos, sonhou

Sonhou com crianças muitas,
Com sua escola,
Suas brincadeiras com os amigos,
Os passeios em um parque diverso
O qual possuía lindas árvores,
Pássaros coloridos, grandes, pequenos,
De cantos canoros

Nos sonhos, se viu índio
A viver de caça e pesca,
A banhar-se em rio de claras águas,
Fonte cristalina a percorrer vales,
Tendo a sua volta,
Verdejantes margens, lindas paragens!

Ao despertar, foi logo chamado pelo pai
O homem então chamou o filho,
Para ir até o jardim
E lá o menino pode contemplar,
As árvores, as plantas, as flores diversas,
Orvalhadas

A manhã despejava um manto de bruma,
Fumaça branca despregada do firmamento
O ar gélido de tudo tomava conta

Assim, após alguns minutos,
De precioso contemplar,
O pai recomendou,
A casa novamente adentrar

Com isto, a família tomou café da manhã
Pão fresco, leite, suco de laranja,
Frutas, frios, manteiga

Carlos e Irene surpreenderam-se,
Pois, Felipe comia seu lanche avidamente
Tinha pressa em se divertir!

A seguir,
Vestido com uma calça comprida,
E uma blusa de manga comprida
O menino ficou a observar o jardim

Pela janela contemplava a chuva,
Que desabou logo após o término do café
A Felipe então, só restava ver tevê

Carlos e Irene por sua vez,
Disseram que muito provavelmente,
A chuva logo pararia

Com isto, o menino poderia no quintal brincar
E assim, Felipe esperou, esperou
E quando finalmente a chuva parou,
O garoto dirigiu-se ao quintal,
E Atlas chamou,
Que feliz, foi logo abanando o rabinho,
Encaminhando-se ao seu encontro

E assim, ficaram o restante da manhã a brincar
E o cheiro de terra molhada,
A invadir o ar
Ampla atmosfera que a tudo envolve,

Sonhos, projetos e realizações
E o dia a seguir,
Calmamente entrecortado,
De risos e brincadeiras!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

ENFASTIO

Em se confiando e vendo os sonhos ruírem
Por que ainda insistir em acreditar?
Será então o mundo, um bom lugar para se viver?
Por que devemos nos transformar,
Se não podemos mudar o mundo em que vivemos?

Mundo, indevassável mundo
Universo infinito em possibilidades
Quantas quimeras criastes,
Quantos sonhos destruístes

Por que a vida, dura lida,
É só rotina?
Pegar ônibus, trólebus, trem, metrô, expressos da vida
Trabalhar, trabalhar, trabalhar
Cumprir regras,
Ser um exemplar cidadão, ou uma exemplar cidadã
Cumprir regras, muitas regras
Cada vez mais regras

Não devemos ser ríspidos e agressivos,
Mesmo com gentes que assim o são conosco
Não devemos nos exaltar,
Mesmo quando tudo parecer nos tirar do sério
Devemos ser sempre compenetrados e conformados
Aceitarmos falsetas, traições e decepções
Pois a vida é um eterno desengano,
Muito embora entrecortada de alguns encantos!

Gostaria de ter uma vida que não tenho
De trabalhar em alguma coisa que gostasse
Poder ter entusiasmo não só nas pequenas,
Mas também nas grandes realizações,
No duro e tedioso cotidiano

Gostaria que a vida não fosse esta eterna luta,
Eterna corrida
Em busca de um lugar mais confortável para se viver
A luta dos medíocres,
Para ver quem se destaca afundar-se,
No eterno cipoal da maledicência
Que a inveja desapareça da face terrena!

Que a vida não seja uma luta,
Para ver quem consegue ir sentado em uma condução
Nem que seja preciso se matar para conseguir isto
Em busca de sempre levar em tudo vantagem
De pisar e desrespeitar os outros
Achando que se está bom para si,
Dane-se o resto!

Chega de correr para sair de casa ainda de madrugada,
Em busca de transportes públicos,
Menos cheios e com menos problemas
Eh, vida complicada!

Onde até para se fazer um pequeno percurso,
É preciso realizar uma viagem infindável
Em conduções, em pé, sem conforto,
Por mais de uma hora,
Rezando para que tudo dê certo,
Que nenhum transporte apresente problemas

E que as obras que estão alongando a viagem diária,
Visto que se tem que pegar mais um trem para trabalhar,
Um dia finalmente acabem!

Que um dia, possa trabalhar mais perto de casa,
Certas pessoas sejam mais educadas e menos hostis,
Que haja mais bom senso e respeito,
Na humana convivência

Que a liberdade de um termine,
Quando começa a liberdade do outro
Que liberdade não é um viver desbragado e sem sentido
Onde um acha que se diverte,
Aborrecendo os outros
Isto é complexo de inferioridade!

Que os espaços públicos sejam respeitados,
Como terra de todos,
E principalmente, cuidados

A propósito,
Tento cuidar de meus bens,
Minha casa, meu quintal
Mas sei que isto não é o suficiente,
Embora seja razoável para mim
Pois se não posso mudar o mundo inteiro,
Posso ao menos mudar o meu mundo,
E transformar a forma como vejo a realidade!

Tento tornar meus dias menos tediosos,
Minhas tardes mais alegres
E valorizar meu emprego,
Embora não seja o trabalho que gostaria de fazer
E espero ter a oportunidade de outros trabalhos conhecer
E quem sabe um dia,
Poder me dedicar apenas ao que gosto,
E aos poucos ir realizando sonhos,
Desejos, vontades
Sinto que aos poucos estou conseguindo

Mas ainda falta muito para chegar onde quero
Gostaria de experimentar,
Menos decepções com o mundo e com as pessoas
Embora saiba não ser isto possível

Em contraponto a estas amarguras,
Ás vezes a vida me soa plena e feliz!
Acredito que a existência,
É uma composição de pequenos quadros e textos
Cada qual,
Nos trazendo uma experiência e uma sensação diferentes,
Muito embora algumas sejam bem parecidas!

E assim a gente aprende a conviver com o tédio,
Com as regras, com o dia-a-dia
A todo o momento tentando espantá-lo,
E afastá-lo
Com um sorriso,
Uma sensação de prazer, de alegria, ou de satisfação
Ou então, tudo junto e misturado
Tentando se não,
Trazer todas coisas belas para o nosso mundo,
Ao menos tentando fazer dele um lugar mais belo para nós

Por isto, corro, pego muitas conduções,
Trabalho, estudo,
Ouço música, assisto televisão,
De vez em quando leio literatura, assisto filmes,
Viajo física e mentalmente,
Me imaginando em outros lugares
E assim, procuro me divertir
Com alguma coisa engraçada,
Algo interessante lido, ou visto em algum lugar
Enfim!

Pois apesar de muitas coisas ruins acontecendo,
Ainda é possível se divertir
Assim acredito!

Estou tentando aprender a rir de tudo,
Até de mim
Mas é difícil não levar nada a sério,
Quando quase tudo ou quase nada é sério!

Não se deixar abater pelas vicissitudes da vida,
Pelas mazelas do mundo,
Pelas desgraças e violências,
Pelas contrariedades!

Muitas vezes, nos menores gestos
Como alguém mais forte,
Tentando tirar vantagem de alguém mais frágil,
Como normalmente acontece,
Covardia!

Mas apesar de vocês, eu estou bem
Apesar de um mundo medíocre e mesquinho,
Eu consigo encontrar boas coisas, boas gentes,
Embora às vezes tenha a impressão de que aqui,
Só impera a maldade!

Mas aos poucos, boas almas me mostram
Outros ângulos para onde posso direcionar meu olhar,
E assim,
Não me decepcionar com tantas coisas erradas acontecendo,
Ao mesmo tempo e em tantos lugares diversos!

Lindas almas a comporem e entoarem lindas canções,
A realizarem lindas criações do engenho humano,
Na literatura, na arte, no cinema, na tevê,
Na ciência,
Multiplicadores das luzes e do conhecimento
Que não se diminuem,
Não obstante as misérias do mundo,
Não se encolhem,
Mesmo ante as maiores dificuldades
Gentes que nem sempre apoio, tiveram
Que muitas vezes,
Lutar contra moinhos de vento, tiveram
Para finalmente chegarem em algum patamar
E hoje realizados,
Nos transmitem grandes lições!

Entre as quais,
Que ninguém está aqui a passeio
E quem assim o crê,
Cedo ou tarde perceberá grandes chances desperdiçadas!

Ensinam que existem diferentes formas de se doar,
E o bem fazer,
Não apenas com assistencialismo
Pois tudo o que oferecemos ao mundo,
Ajuda a outros caminhantes e andarilhos
Um gesto e uma atitude,
Atinge e repercute em pessoas insuspeitas,
E muitas vezes um bem,
Atinge a quem não esperávamos alcançar
E uma atitude,
Ajuda ou atrapalha,
Quem nem sequer imaginávamos!

Lindos ensinos para quem está aqui somente de passagem,
Muito embora não seja passageira,
E tampouco esteja no mundo a passeio!

Caminho atenta,
Mas não tento controlar meus passos
Tento não deixar meu dia demasiado lento,
Muito embora, na maioria das vezes,
Faça-se por demais corrido,
Demasiado curto
Tento apreciar as pequenas belas coisas
Como uma lua se delineando em um céu azul claro
Bem branquinha, quase pálida
Contemplar as parcas manifestações naturais
Com as quais ainda tenho contato,
Apreciá-las, antes que acabem
Temo que o mundo se transforme demais,
E que algum dia eu não mais o reconheça!

Não gostaria de ser melancólica
Mas algumas coisas boas,
Deveriam permanecer intactas

Sabemos porém, que isto não acontecerá
Daí a necessidade de cultivarmos nosso mundo interior,
Enfeitá-lo de flores,
Como um lindo e exuberante jardim,
Cercado de belas lembranças
E não se deixar contaminar por picuinhas estéreis,
Bobagens cotidianas
Pois minha paz interior é maior que isto!

E assim, a ocuparmos nossos dias, nossos pensares
Afastamos o tédio,
Procurando nos divertir,
Ainda que nas pequenas coisas,
Ficamos menos enfastiados!

Viva a fartura que a miséria ninguém atura!
Pois muito luxo, não faz bem para o buxo!
Devemos viver como pudermos,
Sem nos privarmos de prazeres e pequenas alegrias,
Pois o luxo só serve para nós,
Se nós dele usufruirmos,
Não nos tornando dele escravos
E um pouco de luxo mal a ninguém faz

Pois todos gostam de conforto,
E vida boa, e um interior de riquezas,
Afastam os fantasmas das agruras e das decepções,
Pois sabemos que tudo na vida passa,
Mesmo as mais sólidas contribuições!

Todos nós passaremos também
E o que vale,
É o que deixaremos de exemplo
O que de bom legaremos,
Para quem vier depois de nós!

Luciana Celestino dos Santos
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