Poesias

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Sortilégios

Suave pendão auriverde de minha terra. Longínquas fragatas lançadas ao sabor das borrascas e dos ventos alísios. Tempestade, calma, serenidade. O langor do corpo lasso que intrépido outrora, neste instante se queda inerte. Passos largos se aproximam como num lento suspirar. A combinar com o sabor dos ventos, um odor almiscarado. Ao fundo, um jardim, repleto de madressilvas que rivalizando com as maravilhas da lua, eram todas elas de uma beleza sem igual, edulcoradas que eram pela natureza agreste do lugar.

Infância

Templo do amor-perfeito, onde tudo e todos tem um quê de onírico. As recordações que tenho da minha infância são silentes, mas de certa forma também são eloqüentes, posto que remetem ao um tempo de magia e de muitas brincadeiras. Tudo é motivo para encantamento, deslumbramento. Os canudos multi-coloridos usados para tomar refrigerante, se tornam uma festa sem igual nas mãos de uma criança imaginativa.
Buliçosa que de traquina apronta mil aventuras em sua fértil imaginação. Os bonequinhos do bolo se transformam em mil e uma brincadeiras, cada qual, uma forma de contar variadas histórias. Os amigos, a praça defronte a nossa casa, as noites enluaradas em meio a brincadeiras e balanços, alegrias, choradeiras, confusões...

Pérolas de Sabedoria

Desde as priscas eras o ser humano tentava explicar de alguma forma, o fenômenos e os elementos que circundavam sua vida. Assim a chuva pode ser a ira de alguma divindade que, descontente, lançava raios furiosos para amedrontar os homens, e assim por diante. Para explicarem o surgimento de algo tão maravilho como a pérola foi preciso mais. Foi preciso se criar um mito para que fosse apreciada sua adoração. Dizem que as pérolas são as lágrimas de uma deusa em tributo à eterna infelicidade, pois, despojada de seu maior desejo, perdeu o significado da vida ... Muitos povos acreditaram durante muito tempo, que por toda a eternidade essa deidade ficara a lacrimar ... Outras lendas existem ainda para tentar explicar a magnitude de tão maravilhosa criação, mas nenhuma capaz de suplantar com seu esplendor a beleza da mais bela criação divina definida como um glóbulo, duro, brilhante e nacarado, que se forma nas conchas dos moluscos bivalves. A pérola.

Algumas Palavras

Palavras são como fúrias ao vento. Dão vida ao mais singelo papel desde que devidamente empregadas. Se mal empregadas só farão por diminuir o encanto e o deleite que repousam sobre a folha de papel. Não temas as palavras, deixem-nas tocarem com suas liras o coração humano mais insensível. Toquem-nas com a alma, como quem toca as teclas de um piano. Assim como a brisa dos ventos tocam nossos cabelos, deixem que o fervor das palavras tome conta de sua vida. Deixem que as palavras se liqüefaçam nos seus interiores, assim como a água entra em ebulição e o papel encontra em seu elemento, numa perfeita simbiose com as letras, palavras que combinadas formam um texto. Como já dizia Caetano Veloso, “a nossa flor do Lácio”. Flor que encanta, mas que também pode assustar...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Sonhos

Recordo-me do sonho de ontem. Foi um sonho que eu tive e que por sinal foi bem interessante, era assim.
Uma bela e imensa construção, que aos que de fora olhavam, a imaginavam média. somente ao entrar nela se podia dava conta de sua grandiosidade.
Por fora da casa, toda pintada de amarelo claro se dava a impressão de ser uma casa de tamanho razoável, realmente, não era muito pequena. Só que ao fundo da construção, se esta pudesse ser visível para quem de fora olhasse, poderia se perceber a magnificência da vasta construção. A casa fora estrategicamente construída para que ninguém pudesse perceber quais eram suas reais dimensões. Nem mesmo quem lá trabalhava, sabia exatamente o seu tamanho. Os únicos que conheciam detalhes da casa, eram os pais da referida moça. Nem mesmo ela conhecia todos os segredos da casa.
Em seu interior, a casa era bem maior do que parecia, tão grande, que mais parecia um labirinto cheio de secretas passagens e muito suntuoso. Cheio de móveis antigos, esculturas que remontam do período grego, grandes pinturas nas paredes, flores, abajour’s caríssimos.
A cozinha por exemplo, abrigava um exército de trabalhadores que preparavam durante todo o dia o ambiente para as refeições da família, suas festas, e seu dia-a-dia. Neste ambiente, cujo piso era de mármore, havia vários fornos, fogões, armários para guardar os utensílios domésticos, e até uma mesa de mármore para preparar as refeições dos patrões. Parecia uma cozinha industrial, tamanha a quantidade de equipamentos que lá havia. Em outro cômodo da casa mais armários guardavam as louças e as pratarias da dona do imóvel. A despensa era imensa, possuía todas as espécies de alimentos que se podia imaginar. Cumpre salientar que esta dependência da cozinha, era de uso exclusivo dos donos da casa.
Atrás da cozinha estava a lavanderia, com vários cômodos. Num deles, inúmeros tanques de lavar roupa. No outro ficava o depósito com armário para guardar os produtos de limpeza, ferros de passar, as tábuas que ficavam escamoteadas no armário, sabões, etc.. Ali também havia um outro espaço para se guardar as roupas passadas e tudo o que fosse necessário, e por último, uma grande área reservada só para os varais, ainda dentro da casa.
Com efeito, resta falar de um depósito de quinquilharias que existia ao fundo da casa, onde estavam guardadas as tralhas imprestáveis da família.
Num imenso corredor que saía da cozinha, se avistavam os quartos de empregados, em torno de uns trinta e cinco quartos. Tais quartos consistiam em: uma entrada e uma sala com sofás de madeira com tecido salmão, com mesa de centro e uma pequena estante com rádio e outros produtos de consumo da época. Lá também havia uma mesa com quatro lugares, para celebrar as refeições do fim do dia, bem com em alguns quartos, havia uma pequena cozinha. No mesmo ambiente, estava ainda o quarto dos filhos, geralmente com duas camas e três aparadores(geralmente), amplos armários, toilet com chuveiro, pia e sanitário, além de uma pequena sala repleta de brinquedos. No quarto propriamente, um ambiente com cama de casal e dois aparadores de cada lado da cama, um sofá de tecido salmão aos pés da cama, penteadeira com cadeira revestida também de veludo salmão, ao fundo um pequeno closet, e um toilet com chuveiro, uma pequena banheira, pia com um grande espelho e sanitário.
Esta é basicamente a composição dos quartos dos empregados, com poucas diferenças. Geralmente quem trabalhava na casa levava sua família junto.
Agora, com relação o local das refeições dos empregados, o piso deste era de um mármore singelo, possuía cerca de umas quarenta mesas de vidro com pés de mármore e quatro cadeiras cada, todas de espaldar alto. Tal cômodo ficava em outro setor da casa, onde ficava também a cozinha onde preparavam a comida que os outros criados da casa iriam comer. Havia também uma imensa dispensa para esta cozinha. Para os serviçais, havia também uma lavanderia, quase do mesmo tamanho da dos patrões, para que pudessem cuidar de suas roupas.
Na área da casa onde ficava a cozinha havia um enorme local para refeições, onde havia fornos especiais para se prepararem pizzas, entre outras delícias, e era onde a família e os amigos eventualmente se reuniam, geralmente em finais de semana. Enfim, a casa era um verdadeiro palácio. Magnifico.
A seguir pude ver outros ambientes na casa: a entrada, suntuosa com grandes esculturas de pedra, colunas de mármore, e piso igualmente de mármore; após, a sala, com sofás de madeira trabalhada e recoberto por fino tecido, além de mesinhas e aparadores cheios de fotos, abajour’s e algumas esculturas. Havia uma mesa de centro também em madeira, onde repousava um imenso vaso com flores e onde se tinha uma vista deslumbrante de um jardim de inverno que ficava dentro da casa.
Ao fundo havia ainda outras salas, uma com lareira, esta adornada com ricas esculturas de gesso como também com móveis de madeira e sofás recobertos de veludo verde e mesinhas e aparadores, como na outra sala. Ao lado desta a sala de descanso, com inúmeros pufes para amparar as pernas cansadas dos moradores do majestoso lar. Quanto a decoração, nada de sofás de madeira recobertos de tecido, e sim de tecido, ricamente revestido de veludo salmão. Ao centro do cômodo um sofá redondo, no mesmo estilo. E ao fundo uma pequena estante com divisórias para as correspondências dos moradores, bem um como um bar com sete lugares, igualmente feito em madeira, e repleto de bebidas, atrás dele, uma adegada climatizada.
Na casa havia também uma sala de som, um estúdio para as músicas, um cômodo para guardar filmes, e uma sala íntima, com muitos sofás e de onde se podia avistar um dos inúmeros jardins internos da casa. Num desses jardins existia um pergolado, e várias espécimes de flores, bem uma praça com esculturas e fonte de onde jorrava água.
Na outra sala estava um piano de calda, e também estava adornada a semelhança das salas anteriores. Entre as inúmeras salas pude ver uma colossal escada, e ao me aproximar dela, pude constatar a presença ainda, de uma sala de almoço com umas vinte ou até mais, cadeiras e uma mesa de vidro com pés de mármore, bem como de alguns móveis ao redor do que deve ser a sala de jantar, assim como imensos arranjos de flores e algumas pequenas esculturas clássicas. Ao lado, uma sala de almoço, com uma mesa redonda, umas quinze cadeiras, e uma ornamentação um pouco mais simples.
No escritório havia toilet, uma biblioteca de livros técnicos, sala de espera e uma pequena copa, tudo para que o senhorio pudesse trabalhar em casa. Duas secretárias organizavam sua agenda, em uma sala só para elas, e lá mesmo ele atendia seus clientes.
Pude ver ainda outras duas salas, uma de estudos, com várias carteiras de madeira de lei, uma imensa biblioteca dividida em várias seções e que pelo tamanho devia ter uns trezentos ou quatrocentos metros quadrados. Também pude ver uma farta sala de brinquedos, com tantas bonecas e brinquedos, que mais parecia uma loja. Tudo isso meu pareceu imenso, se fosse calcular a dimensão destes cômodos, acredito eu, que dariam cada um uns cem metros quadrados ou mais.
Pude avistar ainda uma enorme piscina olímpica, assim com os salões de jogos, com área para jogar pingue-pongue e uma quadra poli esportiva, bem como salão de festas, que possuía serviço de cozinha própria, toilet’s separados e tudo mais o que fosse necessário, até um barzinho com cinco lugares cada e com sua própria adega.
Havia ainda sala de ginástica, com vários ambientes, vestiário, e sauna. No ambiente externo havia vestiários para a piscina, churrasqueira, barzinhos, uns três, com oito lugares, várias varandas e alpendres.
A casa possuía ainda uma capela com cem lugares, para os empregados rezarem, assim como os moradores da casa. A capela era tão imponente que possuía inúmeros vitrais, confessionário, e um grande altar com inúmeras imagens de santos. E uma sala de costuras, com três ambientes para que a mãe pudesse se distrair durante o dia. E ainda, uma garagem para uns cinqüenta carros.
Ademais, não posso deixar de esquecer de fazer menção de quem, em todos os ambientes da casa existem toilet’s ou lavabos sem exceção.
Por fim, surgiu o corredor que dava acesso aos quartos, no andar superior da casa, e neste pude ver o magnifico quarto onde a moça repousava, com móveis antigos, trabalhados, em madeira. Nesse quarto, uma imensa janela dava acesso a uma bela vista do lugar (este só visível para quem lá morava), e que poderia ficar escondida pela rica cortina azul que ficava sobre a janela. Ainda neste ambiente havia uma penteadeira, com objetos de uso pessoal e uma cadeira com estofamento em veludo azul, um sofá comum também revestido de veludo na mesma cor, e ao redor da cama de casal, cortinas azuis. Próximo a janela ficava a escrivaninha, acompanhada de uma cadeira de espaldar alto e revestida de azul, e uma estante, com livros e os objetos e estudo. Ao lado da cama, um pequeno móvel de madeira de cada lado com abajour’s trabalhados datando da belle époque. Na saleta que fazia parte do quarto, estavam os sofás de madeira revestidos do mesmo tecido, uma mesa de centro de madeira de lei, com flores, dois pequenos móveis de madeira atrás dos sofás, uma mesa com dois lugares e ao fundo se podia ver a porta do toilet e antes um imenso closet onde havia uma passagem.
Os demais quartos em muito se assemelhavam com esse, e por isso seria desnecessários descrevê-los, só atente para o fato de eram uns trinta quartos ao longo de um imenso corredor, sendo quase todos com varandas e algumas passagens secretas.
No último andar ficava um sótão também mobiliado e com alguns ambientes ricamente decorados e aparentemente abandonados, os quais nem a filha dos donos tem acesso.
Pois bem, nesta casa morava uma jovem moça. E neste sonho, a jovem moça estava procurando algo que eu saberia explicar. Procurou, procurou, chegou a sair de sua casa escondida para que pudesse encontrar o que almejava. Não conseguiu.
Por essa razão, em boa parte do sonho, ela estava fora da casa. Somente no final do sonho é que ela entrou na casa. Ao entrar foi logo recebida por uma empregada que cuidou para não a vissem entrando. Nervosa, a empregada cobriu-a e a levou para o quarto.
A moça, devia viver como uma verdadeira lady neste monumento da arquitetura.
E tudo seguiria calmamente, não fosse o fato de a moça ter um amigo muito impertinente e atrevido. Amigo este que conseguiu adentrar o palácio e se esconder nos aposentos da jovem mulher. Viveu um bom período escondido a lhe fazer companhia, e quase foi descoberto, não fosse sua vivacidade e esperteza ao se esconder numa das passagens escondidas da casa a tempo. Isso porque uns dos empregados de seu pai adentrou seu quarto inesperadamente.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Saudosa

“No escurinho do cinema
Chupando drops de anis
Longe de qualquer problema
Perto de um final feliz

Se a Débora Kerr que o Gregory Peck
Não vou bancar o santinho
Minha garota é meio west
Eu sou o chique Valentino

Mas de repente
O filme pifou
E a turma toda logo vaiou
Acenderam as luzes,
Cruzes
Que flagra, flagra...”

Rita Lee, “No Escurinho”

Lembrei-me dos tempos de outrora
Os tempos de minha antiga meninice
Onde recordo com saudade...
As lembranças que nunca tive
De um tempo suave e breve,
Revolto e sisudo
Lembranças de tempos que não são meus...

Nas ondas do rádio,
Tão longínquas e dolentes
As canções magníficas que eu já gostava de ouvir
Saudosas canções nostálgicas
Doces baladas, melodias românticas
Jackson’s Five, Beatles, Elvis Presley
Lindas canções que remetem
As mais belas épocas

Uma época de saudades
De um tempo que não vivi
Recordo-me que em criança, deitada, dormindo
Sonhava com esse mundo
Que a mim não pertencia...
Ao acordar, não entendia
Porque sentia tão vívida em mim
As lembranças dessas décadas
Recordações tão vivazes!

Os anos cinqüentas
Sua moda, suas vestimentas
Seus vestidos bufantes, compridos e inesquecíveis
E suas camélias a enfeitar
As saias rodadas com poás
Anáguas, blusas, pulseiras coloridas
A pesada maquiagem de suas mulheres
O cabelo cuidadosamente penteado com gel
“Brilhantina”, fazendo as cabeças masculinas
Sapatos, plataformas, scarpins
Jaquetas de couro, camisetas brancas
Calças jeans, botas de cano curto

No imaginário da época
Havia ainda as Lambretas, Romisetas
Os carros, o deleite da sociedade
A sociedade consumo que começava a se formar
Limusines, carros conversíveis
Buick’s, Mustangues, Landaus, Cadillac’s
Gordinis, e até mesmo Fuscas
Tudo para encher as ruas de roncos e barulhos de motor

As épicas construções do início do século passado
O século XX ...
Surgem nesse momento ...
Repaginadas, com ares modernos
Móveis coloridos, televisões antigas,
Imagens em branco e preto
As séries de TV sucesso no momento
“Papai Sabe Tudo”, programas nacionais
“O Céu é o Limite”, Jota Silvestre
“Almoço com as Estrelas”, “Repórter Esso”
As grandes rádios e os ídolos da época
As novelas saídas do rádio, agora nas telinhas
“Sua Vida me Pertence”, e outras

Como forma de entretenimento
Namoricos na praça...
Lugares bucólicos, aprazíveis
Fontes monumentais,
Belos passeios,
Jardins esplendorosos,
Jardim da Luz, o Parque do Ibirapuera, recém inaugurado
As flores, os monumentos históricos
Saudade de uma época que não mais existe
De uma educação esmerada
De lindas canções de amor, de romances...
De sonhos
Que de leves a brisa os desfez

“Blue Moon”, “Moon Light Serenade”, Frank Sinatra
Ray Connif, “My Way”
Tudo era divertido, um eterno bailar
Luvas brancas, tomara-que-caia
Poás brancos, vermelhos
No jardim, belas esculturas renascentistas
Com a banda ao fundo tocando algum sucesso
“Noturne”, não seria nada mal
Coca-cola, “Bossa Nova”, João Gilberto
Juscelino Kubstchek, “O Presidente Bossa Nova”
Na ilustre canção de Juca Chaves

No cinema, as pessoas trajadas elegantemente
Homens de terno e gravata
“Givenchi”, o sonho de consumo das mulheres
Os desfiles de Moda
A tranqüilidade do centro bem cuidado
Da terra da garoa
A outrora acolhedora cidade de Castro Alves
E os poetas românticos,
Que com sua neblina envolvente e sedutora
Deu-me vontade de conhecer-te
No seu passado de glória
Que pena não poder te ver assim
Cidade querida

No Rio de Janeiro
O Hotel Quitandinha, em seu eterno esplendor
Os Concursos de Miss
Ah! O Brasil parou para olhar
O ideal de beleza que não mais existe...

“O Cruzeiro”, “Revista Manchete”
Marilyn Monroe e “O Pecado Mora ao Lado”
“Sabrina”, Audrey Hepburn
“A Place in Sun”, Montgomery Clift, Elizabeth Taylor
“Here from to Eternity”, com Burt Lancaster
“Absolutamente Certo”, com Anselmo Duarte
“Apasionata”, “Tico-tico no Fubá”
No eminente estúdio Vera Cruz

A derrota de 1950 e a grande conquista de 1958
O sonho do futebol
O torneio de Winbledon, o tênis
Maria Esther Bueno, a grande conquistadora...

James Dean e sua eterna
“Juventude Transviada”
O rebelde sem causa
E o desidério das jovens dessa geração
As chanchadas da Atlântida, na cidade carioca
Grande Othelo, Oscarito, Derci Gonçalves
Grandes estrelas do nosso cinema nacional

A seguir surgem
Os anos sessentas
Com suas cores psicodélicas, roupas curtas
Minissaia, Mary Quant e suas cortinas
Jovem Guarda, Roberto Carlos, Wanderléa,
Eramos, Wanderley Cardoso, Eduardo Araújo e companhia
TV Record, MPB
Elis Regina, Jair Rodrigues, “O Fino da Bossa”
Jorge Bem
Os filmes estrelados por essas pessoas maravilhosas

Ditadura, Anos de Chumbo
Da rosa que tortura e mata
Tropicália, Os Mutantes
“Divino Maravilhoso”
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque
Gal Costa, Maria Bethânia
Os Hippies, a Contra-Cultura
Geraldo Vandré, os Festivais da Canção

E pensar que todas essas elegantes referências
Pairavam na minha infância
Sem que eu as percebesse
Posto que nunca as sonhara
Somente a eterna sensação de nostalgia
De uma vida que não vivi
De alguma coisa que nunca tive
Tendo somente por companhia,
As minhas saudosas lembranças...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Rosa

 

          “Tu és, divina graciosa

          Estátua Majestosa

          Do amor, por Deus esculturada

          E formada com ardor

          Da alma da mais linda flor

          Que mais a ti volor

          E que na vida

          É preferida pelo beija-flor...


          Perdão, se ouso confessar-te

          Eu hei de sempre amar-te

          Ó flor, meu peito não resiste

          Ó meu Deus o  quanto é triste

          A incerteza de um amor

          Que mais me faz penar...”

          (Rosa - Pixinguinha)


          Reza a lenda que a Lua Jaci, é a Lua Mãe, protetora dos índios. Índios, civilização que dera nome a ti apesar de sua ascendência portuguesa. Além desta, outras lendas remetem a palavra Mãe, como a Lenda da Iara, conhecida igualmente como Mãe D’água.

          O dicionário Aurélio, p. 1063, assim define a palavra Mãe: Mulher que dá a luz á um ou mais filhos. Pessoa muito boa, dedicada, desvelada. Fonte, origem, berço. Madre. Materno, maternal. Muito grande, forte intenso. Mãe de Deus - Nossa Senhora. Mãe de Família - Mulher casada e com filhos. Nossa Mãe - Nossa Senhora.

          Ou  seja, até os anjos conspiram em favor de tal vocábulo Mãe. Por isso, tudo a ti é pouco em consideração a teu nome, querida.

          Feliz efeméride, feliz dia-das-mães, minha flor!


Luciana Celestino dos Santos 

É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 


Subjetividade

Com o meu pensamento posso transformar, toda uma realidade que me incomoda. Modificar o tédio, e as coisas enfadonhas. O dia pode tornar-se alegre, apenas com minha disposição em vê-lo por melhores ângulos.
Observar um lusco-fusco, pode tornar melhor seu dia. Desde que você observe os contornos indivisos ganharem forma. As brumas darem vez ao sol. Contemplar o colorido do céu, mesmo que diante de uma janela de trem. Mesmo em meio a multidão. Pessoas alheadas da sublime constatação de que felicidade está aqui, e não em outro lugar. Que a felicidade está em todos os lugares, e quase sempre a nos acompanhar.
Embora não a percebamos.
E existem muitas pessoas que em busca de uma felicidade fajuta, são capazes de desperdiçar os melhores e bons momentos, e somente se darem conta de que eram felizes, quando a felicidade, o tal pássaro azul, levantou asas e voou.
Ser feliz é apreciar uma lua bonita quando da noite escura. É observar as nuances do céu durante o cair da tarde. Tomado de várias cores, vivo e misturado.
Ser feliz é se ver lua cheia, redonda, perfeita, branca e cheia de luz. Possivelmente rodeada de algumas estrelas. É contemplar vaga-lumes a beira da estrada, ou um belo portal a desejar boas vindas aos viajantes.
É viajar, conhecer novos lugares, novas culturas, novos saberes. É regressar a um lar, depois de longas horas de trabalho longe de casa.
É executar um bom trabalho, mesmo que não seja o trabalho de seus sonhos.
Ouvir boa música e sair cantando, cantarolando, mesmo que errando a letra, sempre procurando acertar.
Ser feliz é adormecer ouvindo música, as boas coisas da vida, e despertar ainda em companhia das melhores canções.
É poder apreciar uma boa história, seja em uma novela, um filme, uma minissérie, ou os bons e velhos livros. Ó! A quanto tempo não os leio. Tenho sentido muitas saudades suas. Mas tenho lido lindas poesias.
Poesias nutrem e enriquecem o dia!
Ser feliz é se contentar com os detalhes agradáveis do cotidiano, e deixar os desagradáveis de lado.
Apreciar as belas coisas. Uma linda flor, uma árvore frondosa ou não. Um chão repleto de folhas ressequidas, flores caídas, ou do alto das árvores. Observar as flores da primavera, do verão e do outono.
Sim, elas existem!
É dançar mesmo sem querer dançar, como na canção.
Procurar, em momentos de tédio, se distrair com coisas úteis, como os estudos, ou agradáveis, como a música. Se possível, tudo junto e misturado.
Leio no trem, no metrô. Livros, provas, me preparo para a vida, e para os concursos. E em me preparando, aprendo sempre coisas novas.
E a vida é assim! Um eterno aprender, sempre novidadeira. Até por que, sem ser assim, não teria graça!
Ser feliz, é tomar um banho quente, poder vestir uma roupa boa e bonita, se sentir bem. Cuidar da vaidade, pois quem não se enfeita, se enjeita. Como queremos ser agradáveis aos outros, se não formos agradáveis a nós mesmos? Se olhamos no espelho e não gostamos do que vemos?
Ser feliz é estar feliz consigo mesmo, mesmo em não sendo a vida, aquilo que queremos, e mesmo que muitas vezes fracassemos, em nossos melhores propósitos.
Por que sempre existe uma possibilidade para melhorarmos, enquanto ainda houver vida, e enquanto as pessoas nos permitirem mostrarmos o nosso melhor. Por que se assim não for, também não esforçarei. Não tentarei provar nada para quem já possuí uma ideia preconcebida de mim. Nunca gostei de rótulos, e tento ao máximo, não aplicá-los aos outros, embora falhe nesta tarefa, mais do que gostaria.
Gosto da natureza, embora não tenha muito contato com ela. Sinto-me feliz na praia, em meio a flores, plantas e árvores. Em não sendo possível tê-los perto de mim todos os dias, contemplo seus pequenos mistérios em meio a cidade, selva de concreto.
Ser feliz, é um cabelo bem arrumado, sapatos bonitos e confortáveis. Os que apertam são horríveis, por sua falta de praticidade. É colorir as unhas das cores mais discretas ou mais inusitadas. E se sentir bonita ao se admirar em frente ao espelho. É descobrir um novo jeito de se arrumar o cabelo.
Ser feliz é não se submeter a um padrão de beleza inalcançável e irreal. É se aceitar sendo o que se é.
Ser feliz é poder assistir aos filmes preferidos, aos programas de tevê preferidos, ir ao cinema, ainda que de vez em quando, e assistir um bom filme. Ouvir uma historia, não importa em qual plataforma seja.
É abrir o facebook encontrar postagens divertidas, curiosas, interessantes, irônicas, culturais, bem humoradas ou críticas. Navegar em meio a rede mundial de computadores.
Ter uma família ao lado.
Tentar driblar ou superar as dificuldades. Nesta equação, eu sempre perco.
Curtir um sol de verão, e estar bem agasalhada no inverno.
Nunca estar só. Sempre em boa companhia. Podendo ser esta companhia, ou um bom livro.
É usar saia, short, ou vestido, ainda que de vez em quando. Exibir um bronzeado bonito. Nadar no mar, apreciando toda aquela beleza. É resgatar sonhos perdidos de infância e aprender a andar de bicicleta, já adulta.
É ter uma infância feliz, apesar de todas as dificuldades que fazem parte da vida. Momentos especiais para guardar de minha adolescência, dos tempos de estudos e da faculdade.
É passar pela vida e dizer que apesar dos pesares, ela foi muito bem aproveitada por mim.
Rir à toa, rir de tudo, ou pelo menos, de tudo o que for possível, do ridículo, e das pessoas ridículas.
E assim, minha vida é muito bela, por que ela é muito diversa do que o olhar das demais pessoas podem alcançar. Para elas verem o meu viver, e sentirem o meu sentir, teriam que pousar seus olhos e o seu sentir, e os mergulhar para dentro de mim.
Coisa impossível de se fazer.
Assim, só podemos conhecer o modo de viver e sentir de outrem, através de suas palavras.
Talvez algumas coisas nos escapem por seus gestos ou maneira de agir. Não sei. Ainda não aprendi a fazer este tipo de leitura.
Enfim, ser feliz é saber aproveitar cada vão momento, e descobrir mesmo em meio as coisas mais insuspeitas, instantes de felicidade. Afinal ela é efêmera, inconstante, e arisca. Mas às vezes, podemos segurá-la.
Eu acho, pelo menos para mim o é, ser feliz, é aproveitar os instantes, os minutos, aqueles que de fugidios, podemos deixar passar despercebidos. A felicidade está nos detalhes. Um instante pode nos trazer intensa felicidade.
Subjetividade, olhar pessoal impresso sobre o que é a vida.
Enfim, aproveitem o dia. Todo o dia, os seus menores e melhores momentos.
Por fim, “carpe diem”.
 
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Dispersos

A vida cheia de riscos é
De formas que devemos nos arriscar,
Posto que o máximo de derrota que podemos ter
É nada levar
E assim sendo, permanecermos de mãos vazias
Mas plenos de experiências e sensações vividas
Por procurarmos não deixar a vida apenas passar

Pensamento

Pensamentos dispersos,
E de pensamento em pensamento
Acaba por se chegar a alguma conclusão
Ou a sabedoria

Divagações

Aproveitando o dia em gostosas leituras
Contemplo o universo da literatura
Com seus grandes, pequenos poemas
Quantas experiências à disposição
De existências tão ávidas de vivências

Da vida morna, repetida e cotidiana
As horas passam, passam as horas
E finalmente o dia chega ao fim
Quem sabe um dia teremos a vida

Assim como a desejamos ter
Vivê-la, como merecemos viver

Por enquanto vamos saboreando,
Os pequenos movimentos alegres
Os instantes de saborosa diversão

Por que?

Por que tanta ignorância
Por que tanta gente Meu Deus?
Por que todos correm na contramão?
Por que a vida é assim?
Eterna busca pelo sucesso que nem todos terão?

Não pelo menos da forma como imaginam
Por que percorremos tão longas distâncias?
Nunca chegamos em lugar algum,
Apenas as mesma instâncias frias de sempre
Por que não podemos aproveitar,
Os finais de tarde para passear?
Por que não podemos trabalhar,
Sem nos demorar em sua ida e sua volta?

Por que a vida é tão insana?
Por que o mundo tão irracional?
Por que tudo funciona tão mal?
Por que nossas instituições são tão falhas?
Por que temos que aguentar tantos desaforos?
Por que temos que ser humilhados, desrespeitados, ofendidos?
Por que não podemos fazer da nossa vida o que queremos?

E assim, poder contemplá-la em sua inteireza
E não pela metade, quase sempre com pressa
Pressa de não poder chegar, de se atrasar, de a vida complicar
Por que a cada instante que passa,
Mais a vida grita:
Tem mais gente para chegar,
Apresse-se ou então, tudo vai tumultuar!

Sinto-me sendo expulsa do próprio lugar em que habito!
Ser humano, grande homem
Capaz de grandes prodígios,
Mas incapaz de pensar o bem estar do próprio humano
Ó grande falha humana!
Ou será o homem, grande falha da divina criação?
Sinceramente não sei,
E nisto fico a pensar então

Enamorar, enumerar

As brumas encobrem as estradas,
As ruas, outrora nítidas, ganham contornos indivisos
Árvores floridas de manacá ao longo dos caminhos,
Árvores frondosas de flores amarelas
E um longo caminho a percorrer

Para se chegar em lugar de calma e contentamento
Do alto da serra se avista, o contorno das cidades,
Os mangues, as matas, os ajuntamentos das gentes, civilização

Atravessando túneis e caminhos, se percebe as cidades se aproximando
Ao longo da rodovia, as edificações ganham forma,
Transformam-se em cidades
Que entre as construções, se faz por revelar entre uma e outra, uma nesga de mar

O mar, finalmente, para lá vou chegar
Festa de água, sal, céu, sol e ar
As gaivotas na areia a espreitar,
O próximo passo, o próximo voo,
E até o mergulho a realizar
Andando na areia, com suas asas recolhidas
Inopinadamente a alçarem voo
Mostrando suas asas imensas
A rasgar os céus de nuvens intensas, imensas

Casais a andar de mãos dadas pela praia
Moças esbeltas a desfilarem com suas roupas de praia,
Biquínis, saídas de praia
Cabelos longos, curtos, lisos, ondulados
A conversarem, ideias trocarem
Casais e pessoas a brincarem nas águas rasas e revoltas do mar

Águas frias a empurrar os banhistas para o lado oposto onde entraram
Pais e crianças pequenas a brincarem na água
Crianças a correrem a toda a velocidade em direção ao mar
Casais a ouvirem músicas nos quiosques
Interagindo com os cantores, nem sempre afinados
De longe a se apreciar um mar ora azulado
Ora verde esmeralda

E a lua minguante a refletir-se nas água do mar

O sol se despedindo de nós
A apresentar um espetáculo de tons e semi tons,
Que precisamos voltar os olhos para admirar

Caminhando pelas ruas de paralelepípedos,
Ruas asfaltadas, também se pode ver ciclistas, corredores
Os coqueiros e o mar ao fundo,
Com belas construções a enfeitar as quadras

E como tudo, que tem prazo e pressa
O retorno a vida pulsante das cidades,
Das multidões,
Dos enxames de abelhas, as colmeias das gentes
Do salve-se quem puder,
E se puder me salve também

Casais a se abraçarem em frente ao metrô
Cena que de tão rara, fica a lembrar roteiros de filme
A quebrarem a fria rotina da cidade apressada
Pinturas bonitas nas estações,
Instalações artísticas, esculturas
Painéis, a mostrar a frieza das coisas sólidas
A multidão apressada, inconstante,
Eu também impaciente

Tudo tarda,
Demora nesta terra de baldeações e integrações constantes
E o metrô, ao abrir suas portas,
A servir de abrigo, aos trabalhadores fatigados da viagem diária
Muitos a se escorarem nos espaços livres

Mas também, tem os cansados recostados as estruturas metálicas, as portas
Atrapalhando o fluxo das pessoas e da vida,
Como sempre acontece aos lugares onde circula muita gente

E o verde a disputar espaço em meio a floresta de concreto
A natureza a brigar com a dureza das humanas, ou desumanas criações
Com árvores e plantas florindo em meio ao concreto e a poluição
Nos caminhos e desvãos em que se avista a cidade
E embora haja gente mergulhada em seu cansaço, e em sua rotina

Ainda se pode ver, gente interessada em mudar
Com seus rostos entretidos em suas leituras
Além das expressões de tédio diárias
E como já dizia o poeta,
Acaso tudo se referindo ao amor,
Que o tédio, rime com prédio,
Em sua rotina de desinteresse diário
Sinto saudades de minha praia!

E o amor residindo nas coisas mais prosaicas,
E nas mais inesperadas, demonstrações de afeto!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A Vida

A vida da gente
Dizem que a vida da gente
É a vida que a gente leva
Devemos portanto, muito bem aproveitá-la
Pois ao dela partirmos, nada dela levamos
A não ser as experiências vividas
Bem ou mal experienciadas!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.