Poesias

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 70

E assim, foi dado início ao tratamento.
Com paciência, Andressa começou a fazer os exercícios e a melhorar sua dicção.
Dedicada, surpreendeu Patrícia que comentou que o tratamento era demorado.
Augusto, porém, sabedor da determinação de Andressa, afirmou que para ele, os progressos de Andressa, não eram nenhuma novidade.
Com isso, pouco a pouco, Andressa voltou a falar.
Augusto, ao tomar conhecimento da evolução de Andressa, ficou exultante.
Desta forma, Andressa depois de um curto tratamento, voltou a falar normalmente.
Seus amigos de escola, que nunca a viram falando, ficaram surpresos.
Andressa, porém, sentia-se livre. 
Agora podia dizer com todas as letras, que estava retomando sua vida.
Com isso, noutra noite, Andressa teve um sonho muito curioso.
Animada, assim que pôde revelou ao professor, que sonhara que estava numa avenida movimentada da cidade de São Paulo e encontrou uma estranha caixa. 
Curiosa, Andressa entrou nela e foi parar na França.
Augusto ao ouvir estas palavras, ficou curioso. 
Tanto que pediu para que a garota descrevesse o lugar por onde havia andado.
Para seu espanto, Andressa descreveu alguns dos lugares mais famosos de Paris. 
O que era mais curioso, é que a garota nem sequer tinha ouvido falar na existência de tais lugares. 
Tanto que para descrevê-los, Andressa não soube nominá-los corretamente.
Como se nem os conhecia? 
Assim, só restou-lhe descrevê-los um por um.
Augusto ao se dar conta disso, ficou deslumbrado. 
Para ele, tal fato só poderia significar uma coisa: 
Muito provavelmente, Andressa já vivera ali, em algum momento da história.
A garota ao ouvir as conjecturas do professor, caiu na risada.
Augusto, porém, estava convicto de que suas idéias não eram de todo, absurdas.
Com isso, nessa convivência gostosa, eles passam longos meses.
Prestativo, Augusto ensinou tudo o que podia a Andressa. 
Assim, além da escola, a moça também continuava a ter aulas particulares.
Quanto ao vestuário, Augusto, quando a levou para sua casa, ao perceber que ela só tinha a roupa do corpo, tratou logo de providenciar sua vestimenta. 
Com a ajuda de Patrícia – que mesmo contrariada resolveu ajudá-lo – comprou algumas roupas para Andressa.
No tocante a isso, cumpre ressaltar que, no dia seguinte ao sumiço da moça, lá estava ele na casa de Paulina. 
Surpreso, foi quando Augusto descobriu que Andressa havia sumido.
Desta forma, não levantou suspeitas da mulher.
Mesmo assim, o delegado Francisco, mandou Alexandre e João segui-lo. 
Porém, quando percebeu que o professor não sabia do paradeiro da moça, liberou os policiais da ingrata tarefa.
No entanto, certa vez, João, percebendo Andressa andando nos arredores da casa do professor, comentou com o delegado:
-- Engraçado! Outro dia eu vi aquela garota perto da casa daquele professor.
Francisco ao ouvir o comentário, repreendeu o policial:
-- Por que você não me disse isso antes?
João então lhe explicou que vira a moça por acaso, por que tivera que cumprir uma diligência naquelas proximidades. 
Estava saindo de uma loja e virou-se. 
Foi quando a viu andando perto da casa do tal Augusto. 
Nisso, procurando desculpar-se por ter demorado a contar o fato, comentou que quando voltou a delegacia, ele havia saído. 
Além disso, somente agora conseguira falar-lhe.
Francisco ao ouvir tal história, ligou imediatamente para Paulina.
Ao saber disso, Paulina ficou inconformada. 
Tanto que exigiu que o delegado prendesse o professor. 
Dizendo que não admitiria esse tipo de absurdo, comentou que queria Andressa em sua casa, o mais rápido possível.
Francisco respondeu então, que tomaria as providências cabíveis.
Ao desligar o telefone, Francisco resolveu ir até a casa de Augusto.
Numa atitude bastante irregular, ameaçou o professor. 
Dizendo que ele estava seriamente encrencado, exigiu ver Andressa.
A garota ao perceber a confusão, tratou logo de se esconder. 
Trancando a porta de seu quarto, começou pegar suas roupas. 
Nervosa, preparou uma trouxa.
Enquanto isso, Francisco sugeriu a Augusto que ele pagasse uma módica quantia.
Dizendo que assim poderia se livrar de maiores problemas, comentou que só era preciso entregar a garota.
Irritado, Augusto respondeu dizendo que Andressa não estava ali. 
Alegando que não a vira mais, salientou que estava atrasado para um compromisso e que tinha que ir.
Francisco então, respondeu:
-- Pois então, professor! Vamos acabar com essa história! Entregue a garota.
Augusto, ao ouvir tais palavras, insistiu em dizer que Andressa não estava lá.
Foi quando Francisco ameaçou vasculhar a casa.
Augusto ao perceber a intenção do delegado, retrucou:
-- Doutor, dê-me licença. Tenho que sair.
Francisco, demonstrando que não pretendia sair dali, comentou que iria olhar a casa.
Irritado, Augusto perguntou-lhe se tinha ordem judicial.
Surpreso o delegado respondeu negativamente.
Foi quando Augusto disse:
-- Pois então doutor, trate de conseguir uma. Sem ela, o senhor não pode fazer nada.
-- Não mesmo? Eu já estou aqui dentro. – retrucou Francisco.
-- Não mesmo. E se o senhor me ameaçar, eu o denuncio.
Atrevidamente Francisco respondeu que tinha as costas quentes.
-- Pois se o senhor tem quem o proteja, não tem por que se preocupar. Quando o senhor voltar com a ordem judicial, eu ainda vou estar morando aqui.
Francisco não gostou nem um pouco da brincadeira.
Augusto então, insistindo que precisava sair, pediu ao delegado que se retirasse.
Francisco vendo que não podia agir de forma arbitrária, resolveu se retirar. 
Foi quando já no portão, perguntou ao professor se ele não ia sair.
Augusto respondeu que precisava pegar uns papéis.
O delegado então se despediu.
Nisso, Augusto entrou novamente em casa. 
Nervoso, bateu na porta do quarto onde Andressa dormia.
Como ninguém respondia, resolveu verificar se a porta estava aberta. 
Para seu espanto, descobriu que Andressa havia sumido.
Ao perceber isso, tratou logo de pegar uma pasta, e, dirigindo-se a casa de Patrícia, revelou-lhe o que estava acontecendo.
Após, voltando para casa percebeu uma carta jogada no chão. 
Era uma carta de Andressa, explicando que fugira para não complicá-lo. 
Dizendo que não queria ser achada, pedia a ele que não a procurasse.
Pesaroso, Augusto comentou consigo mesmo: 
‘Por que ela fez isso? Eu poderia resolver este problema!’
Preocupado, sentou-se na cama e começou a pensar onde Andressa estaria. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 69

Nessa época, Andressa passou a sonhar com outras vidas, outras épocas.
Em uma noite, Andressa, sonhou com o fatídico dia em que sofrera o acidente em que perdera a fala. 
Lembrando-se da perseguição de Cléber, a garota teve um pesadelo horrível.
Sonhando com sua desesperada tentativa de fuga, recordou-se que caiu. 
Por conta disso, ficou hospitalizada. 
Assustada, começou a balbuciar algumas palavras.
Para seu desespero, porém, as palavras pareciam presas em sua garganta. 
Angustiada, em seu sonho, Andressa começou a se debater. 
Lutando para se desvencilhar de Cléber, caiu.
Foi nesse momento que Andressa acordou e gritou.
-- Não!
Augusto, que dormia no quarto ao lado, ao ouvir o berro, foi ver o que estava acontecendo.
Quando percebeu Andressa sentada na cama, de olhos arregalados, surpreendeu-se.
Assustado, perguntou se foi ela quem gritou.
Nervosa, Andressa, meneou a cabeça afirmativamente.
Admirado, Augusto comentou:
-- Meu Deus! Você voltou a falar!
Andressa espantou-se.
Augusto, porém, insistiu:
-- Sim Andressa! Você pode falar!
Andressa gaguejou.
Augusto então, pediu para que ela dissesse alguma coisa.
Andressa que estava há muito tempo sem falar, não tinha coragem de pronunciar nenhuma palavra.
Augusto, porém, insistiu. 
Dizendo que ela precisava se esforçar um pouco, incentivou-a a proferir algumas palavras.
Com isso, diante de muita dificuldade, finalmente a moça pronunciou algumas palavras. 
Titubeante, Andressa, contou o seguinte:
-- So... son...sonho...sonhei com a que... que... queda. E... eu ta...ta...tava caindo. Fi...fi...fi...fiquei sem vo...voz!
Augusto, ao ouvir estas palavras ditas com sofreguidão, percebeu que Andressa falava do acidente que a fizera ficar sem voz. 
Compreendendo a gravidade da situação, Augusto comentou animado, que sua mudez era psicológica. 
Sim, se ela voltara a falar dessa maneira, é por que não tinha nenhuma lesão nas cordas vocais.
Andressa ansiosa, respondeu então:
-- Co...co...como eu faaaço pra vol....voltaaaar a fa...fa...falaaar, normalmeeente?
Augusto respondeu-lhe que provavelmente necessitaria da ajuda de uma fonaudióloga. 
Comentando que Patrícia poderia ajudá-la, tratou logo de telefonar para a noiva.
Surpresa, ao receber a ligação de Augusto àquela hora, perguntou preocupada:
-- Está tudo bem?
Foi então que Augusto, eufórico, comentou que Andressa havia voltado a falar.
Incrédula, Patrícia perguntou:
-- Como assim?
Pacientemente, Augusto revelou em detalhes, tudo o que havia acontecido.
Patrícia comentou então que a garota precisava começar o tratamento o quanto antes.
Augusto então, pediu a ela que começasse logo.
Patrícia concordou. 
Marcando a data para o início do tratamento, comentou que nodia seguinte, falaria com ela.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 68

Com isso, no dia seguinte, o professor lhe contou o que se sucedeu no jantar.
Alegando que tudo transcorrera às mil maravilhas, Augusto mal cabia em si de contente.
Andressa, fingindo admiração, comentou por meio da linguagem dos sinais, que foi dormir logo depois que Patrícia chegou.
Augusto, não acreditou muito nessa história. 
Todavia, interessado que estava em contar suas impressões sobre o encontro, comentou que ele e Patrícia estavam noivos.
Andressa felicitou o amigo.
Quando Patrícia foi visitar o agora noivo, Andressa também a cumprimentou pela novidade.
Sim, as duas eram amigas.
Muito embora no começo, Patrícia não tivesse gostado nada da idéia de ter uma estranha na casa de Augusto, ao perceber que Andressa não era nenhuma ameaça a ela,
acabou relaxando.
Tanto que aos poucos, acabou se tornando sua amiga também.
Patrícia, que não era professora, adorava ouvir Augusto ensinando, história, literatura e artes a Andressa. 
Por isso sempre que podia, acompanhava as aulas da garota.
Todavia, a despeito desse clima de harmonia, uma coisa a preocupava profundamente.
Ao saber que Andressa era filha de uma ilustre senhora da sociedade, Patrícia preocupou-se.
Aflita, comentou com Augusto que continuar com a menina dentro de casa, era o passaporte mais rápido para futuras encrencas.
Augusto, porém, alegando que a moça precisava de apoio, revelou que não tinha coragem de entregá-la para Paulina. 
Dizendo sabia o quanto Andressa sofria naquela casa, comentou que Jorge e Cristina viviam a infernizá-la.
Patrícia ao ouvir tais palavras, ficou penalizada. 
Tanto que parou de insistir na idéia de que Andressa deveria voltar para sua casa.
Assustada, Andressa ao ouvir os comentários de Patrícia, gesticulou nervosa. 
Por meio da linguagem dos sinais, Andressa pediu encarecidamente para que eles não a levassem de volta para aquela casa. 
Insistindo nisso, gesticulando, Andressa afirmou que preferia viver na rua a ter que voltar para aquela casa.
Patrícia, percebendo o nervosismo de Andressa, olhou para Augusto.
Augusto a censurou com um olhar de reprovação.
Foi então que a mulher pediu desculpas a Andressa. 
Dizendo que não tivera a intenção
de deixá-la nervosa, Patrícia comentou que só estava preocupada com a situação de Augusto.
Augusto, porém, não se importava. 
Tanto que além de escondê-la em sua casa, sempre que podia a levava para cinemas, teatros. 
Certa vez, levou-a até para assistir um show.
Com isso, Andressa, cada vez mais acostumada a conviver com o casal, passou a freqüentar uma escola pública.
Graças à intervenção de Augusto, Andressa voltou a estudar, e agora, convivendo com pessoas que tinham noção do que era viver com dificuldades, conseguiu finalmente se
enturmar.
A certa altura, já adaptada, pode-se dizer que conseguiu até, ter algumas amizades.
Mesmo sem poder pronunciar as palavras, Andressa utilizava-se da mímica e conseguia fazer com todos a entendessem. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 67

Até que numa tarde, depois de uma séria discussão, Andressa fugiu de casa.
Aproveitando um momento de distração de Paulina e dos empregados, finalmente a garota conseguiu ganhar a rua.
Paulina ao dar por falta da menina, ficou desesperada. 
Culpada, sentiu que errou por duas vezes com Andressa. 
Mesmo assim, aflita com o que poderia acontecer com a garota, chamou a polícia.
Nisso, Andressa perambulou durante algum tempo, pelas ruas. 
Decidida a não ser encontrada, a garota dormia cada dia num lugar diferente.
Foi quando, conheceu Marina – assistente social – que, convivendo com a realidade das ruas, e, percebendo que Andressa necessitava de ajuda, a auxiliou muitas vezes.
Preocupada com a garota, a encaminhou a abrigos, ofereceu-lhe comida, roupa limpa.
Prestativa, aconselhou-a.
A primeira vez que a viu, dormindo próxima a um viaduto, Marina perguntou-lhe o que estava fazendo dormindo na rua.
Andressa, tentando desconversar, começou a gesticular.
Marina não entendeu. 
Dizendo que ela parecia ter vindo de uma boa casa, comentou que não parecia uma garota de rua.
Foi quando Andressa gesticulou novamente. 
Tocando em seu rosto, Andressa tentava dizer que ‘quem vê cara, não vê coração’.
Desconfiada, foi difícil à aproximação. 
Temendo que fosse alguém da parte de Paulina, Andressa rechaçava Marina.
Com paciência, porém, Marina conseguiu finalmente, ganhar a confiança da garota.
Foi quando começou a se sentir gratificada por seu trabalho. 
Feliz, Marina não se cansava de dizer aos filhos, o quão estava feliz com seu trabalho.
Com isso, em suas andanças, Andressa foi descoberta pelo professor Augusto. 
Assustada, ao ser descoberta, Andressa fugiu.
Preocupado com a garota, Augusto bem que tentou segurá-la, mas Andressa, ágil, conseguiu fugir. 
Habituada a dormir em bancos de praça, no chão, enfim, em qualquer lugar, Andressa não se apertou.
A certa altura reencontrou Clau e Robson, que se espantaram ao vê-la usando uma roupa tão boa.
Andressa então contou por meio de gestos, o que lhe acontecera desde que fora levada das ruas.
Quando Clau e Robson ouviram a história, não acreditaram. 
Alegando que era tudo muito fantasioso, começaram a dizer que Andressa estava tirando uma com a cara deles.
Ao ouvir isso, Andressa tentou argumentar, mas era sempre interrompida pelos comentários maliciosos dos amigos. 
Desta forma, acabou desistindo. 
Foi então que percebeu que sua vida nunca mais seria a mesma.
Quando perguntou de Mateus, foi informada de que ele fora morto em outra chacina, na mesma época em que ela fora levada dali. 
Ao ouvir tais palavras, Andressa ficou chocada.
Nisso, o professor Augusto continuou a procurá-la. 
Interessado em trabalhos sociais, acabou por encontrar Andressa novamente, em uma das inúmeras noites em que foi servir como voluntário num projeto social.
Foi assim que se solidificou uma grande amizade.
Vencendo a resistência de Andressa, Augusto conseguiu fazer com que a garota ficasse em sua casa.
Mesmo desconfiada, a garota acabou concordando em seguir com ele.
Assim, Augusto mostrou sua casa a ela.
Vivendo com este novo amigo, Andressa descobriu um novo mundo. 
Mundo este fascinante. 
Foi neste lar, que passou a ter novamente o sentimento do que era fazer parte de uma família. 
Coisa que nem mesmo na casa de Paulina conseguiu sentir.
Convivendo com Augusto e sua noiva Patrícia, que Andressa aprendeu a enxergar o mundo com novos olhos.
Aliás, foi convivendo com o casal que pôde acompanhar a evolução da relação de ambos. 
Já íntima dos dois, foi Andressa quem ajudou o professor a preparar o jantar onde ele pediria Patrícia em casamento.
Feliz pelo professor, Andressa observou escondida o casal cear.
Quando finalmente Augusto tomou coragem e revelou sua intenção, Patrícia, que não esperava ser pedida em casamento, obviamente, espantou-se.
O professor, porém, não se deixou intimidar pela reação da moça.
Com isso, acostumando-se melhor com a idéia, Patrícia acabou concordando com o pedido.
Isso por que, ao mostrar-lhe a aliança de noivado, Augusto usou de toda sua argumentação para convencê-la a aceitar o pedido.
Patrícia, que já namorava Augusto, há quase quatro anos, percebeu então, que já era chegada à hora de dar o próximo passo. 
Assim, após algumas delongas, acabou aceitando o pedido.
Andressa, que observava o casal, escondida, por pouco não atrapalhou o jantar. 
Isso por que, distraidamente, acabou por derrubar uma caneca. 
Quando Patrícia ouviu o barulho, perguntou imediatamente, o que estava acontecendo.
Augusto, desconfiado que fosse obra de Andressa, comentou que não era nada demais. 
Provavelmente, alguma coisa que caiu na cozinha.
Patrícia, todavia, não acreditou totalmente na história. 
Tanto que a certa altura, perguntou de Andressa.
Foi quando Augusto comentou que ela fora dormir mais cedo.
-- Estranho! Até onde sei, Andressa não está acostumada a dormir cedo. – comentou Patrícia.
-- Mas sempre tem uma primeira vez. – insistiu o professor.
Andressa então, temerosa de atrapalhar o romance dos dois, resolveu se deitar e fingir que estava dormindo.
Nisso, depois do jantar, os dois se dirigiram ao quarto onde Andressa estava.
Percebendo que a garota dormia, resolveram não incomodá-la.
Augusto, porém, mal podia esperar para contar-lhe a novidade.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 66

Com o passar do tempo, Andressa, começou a não se importar mais com nada disso.
Mesmo assim, avessa a qualquer aproximação com Paulina, à garota fazia questão de deixar bem claro, mesmo sem conseguir pronunciar uma palavra sequer, que não queria viver
naquele lugar.
Quando via o quão difícil era sua vida entre aqueles muros, Andressa sentia verdadeiramente necessidade de voltar para as ruas.
Paulina ficava mortificada quando via Andressa olhando a rua pela janela, saudosa dos tempos em que tinha o céu por abrigo.
Por conta disso, a certa altura, Paulina, passou de mãe extremada, para severa. 
E assim, sempre que podia, e a todo o momento dizia a filha sobre a grande oportunidade que ela vinha tendo.
Andressa, no entanto, parecia não ouvir sua mãe.
Certa vez, cansada de ser ignorada, Paulina pegou a filha pelo braço e ameaçou bater-lhe. 
Porém, ao ver Andressa se protegendo com as mãos, se arrependeu do gesto que tencionara fazer e lhe pediu desculpas.
Chorando, Paulina trancou-se no quarto. 
Não sabia o que fazer. 
Já fazia quase um ano que Andressa estava em sua casa, e nada da garota demonstrar carinho e agradecimento pelo que estava fazendo. 
Isso a magoava profundamente.
Durante uma certa tarde, Paulina, andando pelas ruas da cidade, encontrou Cleide – amiga dos tempos em que trabalhava num Banco – a qual não via há quase dezesseis anos.
Paulina, ao vê-la, fez logo questão de chamar-lhe.
Cleide ao vê-la bem vestida, impressionou-se. 
Por um momento chegou a não acreditar no que estava vendo.
Até que Paulina começou a dizer:
-- Cleide! Não está me reconhecendo? Sou eu, Paulina.
Cleide comentou então, espantada:
-- Paulina, como você está elegante!
Nisso as duas se abraçaram.
Cleide revelou então, que se casou com Claudionor – colega de Ricardo, seu irmão – e que tivera dois filhos com ele, Luana e Rodrigo – com treze e catorze anos, respectivamente.
Paulina ao saber disso, a felicitou. 
Dizendo que também se casou, comentou que teve Jorge e Cristina, com seu falecido marido Antenor.
Curiosa, Cleide, um pouco sem jeito, perguntou sobre seu filho com Clóvis.
Foi quando Paulina revelou que era uma menina. 
Sim, tratava-se de uma menina.
Mas, por falta de condições financeiras, Paulina resolveu deixá-la em um orfanato. 
Crédula de que a menina teria um futuro melhor numa instituição, do que passando fome a seu lado, Paulina abandonou a filha.
Contudo – revelou Paulina –, a vida da garota, foi uma sucessão de tropeços. 
Isso por que, adotada por uma família, acabou depois da morte do pai adotivo, deixada em um orfanato. 
Nesse lugar viveu por cerca de dois anos, até que, cansada de ser maltratada, fugiu.
Nisso, viveu durante alguns anos nas ruas, foi pega furtando objetos de valor, e ficou algum tempo na FEBEM. 
Durante uma confusão ocorrida na instituição, fugiu de lá. 
Voltou a viver na rua. 
Ameaçada por um rapaz, tornou a viver com a mãe adotiva. 
Acidentou-se, e ficou algum tempo, ficou internada. 
Ao ser liberada, voltou a viver com a mãe adotiva, mas depois de algum tempo, percebendo que não teria paz no cortiço em que vivia, tornou a viver na rua.
Agora – contou Paulina –, a menina estava vivendo em sua casa, junto de seus filhos legítimos, fruto de seu casamento.
Cleide ao ouvir o relato da amiga, ficou impressionada. 
Perguntando sobre como estava sendo lidar com essa situação, descobriu que Paulina estava aturdida. 
Mesmo tentando por meses conquistar a filha, Andressa se mostrava cada dia mais relutante em aceitá-la.
Foi quando Cleide revelou que sua situação também não estava fácil. 
Isso por que, abandonada por seu marido, Cleide se viu na delicada situação de ter de voltar a trabalhar.
Sim, por que só assim conseguiria sustentar seus filhos ainda pequenos, e sem condições de manterem.
Emocionada, Paulina, finalmente tomou coragem e perguntou de Ricardo.
Cleide, mencionando que ele se casara por duas vezes, relatou em seu primeiro casamento, a mulher, desejosa de filhos, não conseguiu convencê-lo a tê-los. 
Em razão disso, depois de algum tempo, a relação se deteriorou. 
No segundo casamento, ao conhecer Isadora, Ricardo estava convencido de que havia encontrado a mulher de sua vida, mas ela depois de algum tempo, passou a também desejar filhos. 
Como Ricardo estava decidido a não tê-los, o casamento também acabou.
Por fim, dizendo que acreditava que ele nunca superara a traição de Paulina, Cleide revelou que a considerava leviana pelo que fizera a seu irmão.
Paulina, percebendo um certo rancor por parte de Cleide, comentou que ela fora infantil demais para perceber o quanto poderia magoar os sentimentos de alguém. 
Dizendo que quando engravidara de Clóvis teve que viver num lar de mães solteiras, revelou que depois que abandonou a filha, viveu durante meses em uma pensão imunda. 
Chegou até, a passar fome. 
Até que conseguiu arrumar trabalho, e nesse trabalho, conheceu Antenor.
Depois disso, sua vida mudou radicalmente.
Desconfiada de que Cleide não acreditava que ela tivesse realmente gostado do marido, Paulina revelou que enquanto esteve casada, nunca o traiu. 
Pesarosa pelo que havia feito anteriormente, não se atreveu a trair Antenor com ninguém.
Cleide ironicamente disse:
-- Entendo!
Paulina, que não estava nem um pouco interessada em brigar, fingiu não ouvir a palavra irônica. 
Tanto que perguntou sobre Marina.
Cleide então lhe contou, que a amiga havia enviuvado fazia alguns meses.
Paulina ficou chocada. 
Cleide então revelou que Marina, durante o curto tempo em que viveu com Antônio, foi muito feliz. 
Com ele teve os gêmeos Marta e Marcos. 
Agora, em razão das dificuldades encontradas, voltou a trabalhar. 
Dedicada, estudava para passar em um concurso público.
Paulina ficou atarantada. 
Ao saber de tantas novidades, ficou sem saber o que pensar.
Foi quando perguntou sobre Tiago e soube que ele havia se mudado há muitos anos para o interior.
Com isso, ao final de horas, as duas amigas se despediram. 
Prometendo se encontrar, trocaram telefones e endereços.
Após, Paulina retornou para sua casa.
Novamente enfrentaria uma rotina de distanciamento com sua filha.
Arisca, Andressa fazia de tudo para não se aproximar de Paulina.
Paulina por sua vez, sem paciência para aturar os melindres da garota, tornou a entrar em atrito com ela. 
Cobrando atenção e agradecimento, só conseguiu afastar mais ainda Andressa.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 65

Com isso, Andressa voltou a manifestar sua insatisfação de viver naquela casa.
Paulina, porém, não se deixou intimidar.
Dizendo que ali era seu lugar, com o passar do tempo, percebendo que Andressa estava mais preparada, Paulina, começou a cogitar a idéia de matriculá-la em uma escola.
Dito e feito. 
Assim que pode, matriculou Andressa no mesmo colégio em que Jorge e Cristina estudavam.
Foi o bastante para os dois tornarem a vida da garota ainda mais difícil.
Isso por que, não bastasse a convivência forçada dentro de casa, Andressa ainda tinha aturá-los na escola.
Quando Cristina e Jorge souberam da novidade, ficaram revoltados. 
Dizendo que não aceitariam se misturar com ‘aquela garota’, disseram que se ela passasse a estudar na mesma escola que eles, preferiam mudar de ambiente.
Paulina ao ouvir isso, gritou com os filhos. 
Dizendo que eles estavam abusando do direito de serem mimados, comentou que Andressa precisava de ajuda e não de agressão.
Jorge e Cristina, no entanto, não se importavam com o sofrimento da garota. 
Dizendo que isso não era problema deles, continuaram a argumentar que ela estava ocupando o lugar deles.
Paulina ao ouvir tais palavras, respondeu que não era nada disso.
Cristina e Jorge, todavia, pareciam não acreditar em suas palavras.
Por essa razão, mimados, Jorge e Cristina faziam de tudo para infernizar a vida da moça. 
Inconformados com a atenção que Paulina dispensava a Andressa, os dois irmãos não perdiam a oportunidade de tentar humilhá-la.
Como sabiam que Andressa estava atrasada com seus estudos, viviam dizendo que ela era burra demais para acompanhá-los, e que quem nasceu para lagartixa, nunca chegaria
a jacaré.
Paulina ao saber da tirania dos filhos, tratou de tomar providências.
Assim, novamente, chamou-lhes a atenção.
No que tange o fato de Andressa estar atrasada em seus estudos, Paulina já havia providenciado um professor particular, que a auxiliou a superar a defasagem decorrente dos
anos em que ficou longe da escola. 
Com isso, Andressa agora podia ingressar em uma turma em todos os alunos tivessem a mesma idade que ela.
Sim, Andressa, acabou por conseguir adiantar seus estudos e ir para a primeiro colegial.
Todavia, não foi fácil se adaptar a escola. 
Embora tivesse facilidade em aprender o que era ensinado, Andressa não conseguia se enturmar.
Isso por que os alunos, frutos de uma elite, ao saberem de sua origem pobre, passaram a discriminá-la.
Nesse aspecto, cabe ressaltar, que os comentários maldosos de Jorge e Cristina foram de grande valia. 
Muito embora omitissem o fato de que Andressa era irmã deles, os dois conseguiram complicar a vida da garota. 
Por conta disso, Andressa, acabou por não se enturmar direito com o pessoal da escola. 
Sempre sozinha, a garota aproveitava para caminhar, ler, etc. 
Muito embora fosse discriminada no colégio, nunca reclamou.
Para complicar ainda mais sua situação, Jorge e Cristina, ao saberem das dificuldades de Andressa em arrumar amigos, começaram a ridicularizá-la.
Paulina ficava inconformada com a crueldade de Jorge e Cristina. 
Tanto que vivia a repreendê-los. 
Em vão.
Isso por que, embora ficassem bravos e parassem um pouco com as provocações, era apenas Paulina virar às costas, para que os dois voltassem a atormentar Andressa. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 64

Com isso, no dia seguinte, interessado em conhecer a moça, Augusto resolveu comparecer à casa de Paulina.
A mulher, ao vê-lo, o cumprimentou. 
Após oferecer-lhe um café, comentou que Andressa era uma garota muito especial, que necessitava de uma dedicação especial. 
Um pouco constrangida, Paulina comentou que estava disposta a tudo para ajudar sua filha.
Dizendo que Andressa estava há muitos anos longe da escola, Paulina pediu a ele que lhe ensinasse tudo o que pudesse. 
Comentando que Andressa gostava muito de ler, ressaltou que ela não conseguia falar.
Ao ouvir isso, Augusto ficou espantado.
Paulina percebendo isso, comentou que ela sabia ler e escrever. 
Portanto não haveria empecilho para que ela pudesse estudar. 
Além disso, um dia ela falou. 
Mas por uma infelicidade, perdera a fala em decorrência de um trauma.
Augusto, percebendo que Paulina não queria entrar em detalhes, preferiu perguntar:
-- E quando eu começo?
-- Agora mesmo se o senhor quiser. – respondeu Paulina, satisfeita com a iniciativa do professor.
Curioso, Augusto indagou:
-- Pois então, onde está minha aluna?
Foi então que Paulina respondeu que iria chamá-la.
Assim, foi questão de minutos para que Paulina fosse buscar Andressa e apresentá-la a Augusto.
Quando Andressa se viu diante do professor, a simpatia foi imediata. 
Tanto que Augusto imediatamente começou a lecionar.
Atenta Andressa procurou reter tudo que lhe era dito.
Paulina de longe acompanhava a aula e ficava encantada com o interesse da filha.
Percebendo o interesse de Andressa, Augusto começou a falar de história, da Idade Média, as cantigas de trovador, etc.
Paulina, que nunca se interessara em estudar, admirou-se ao notar a atenção com que Andressa ouvia tudo o que o professor falava. 
Sinceramente, isso ela não tinha herdado dela.
A aula durou um longo tempo.
A certa altura, percebendo que já era hora de interromper os estudos, Paulina foi até a cozinha e pediu a Jurema que providenciasse um café-da-manhã para ambos.
Em questão de minutos, Juraci apareceu na sala com uma bandeja repleta de comes e bebes.
Sem graça, Augusto recusou o café. 
Dizendo que já tinha tomado um café quando saiu de casa, ouviu Paulina dizer:
-- Mas eu exijo que o senhor coma alguma coisa! Afinal de contas, já faz quase três horas que está falando praticamente sem parar! ... Vamos! Coma alguma coisa, ou eu ficarei
ofendida!
Sem jeito o professor pegou um pãozinho e começou a comer.
Andressa, já sem nenhuma cerimônia, também começou a se servir. 
Foi quando derrubou a xícara de chá no chão.
Paulina, ao ver a xícara se espatifar, pediu a Andressa que tivesse um pouco mais de cuidado.
Andressa desculpou-se.
Paulina então, percebendo a falta de jeito de Andressa em manusear copos, pratos e talheres, resolveu ajudá-la. 
Primeiramente, pediu a Juraci que providenciasse uma outra xícara.
Foi o que a mulher fez.
Com isso, Paulina ensinou sua filha a segurar a xícara. 
Depois, ensinou-lhe como segurar o bule. 
Aos poucos lhe ensinou a comer croissantes, entre outras iguarias.
Foi assim. 
Pouco a pouco as coisas começaram a entrar nos eixos.
Com as aulas particulares, Andressa começou a se mostrar menos arredia e um pouco mais disposta a aceitar a ajuda de Paulina.
Para Paulina, isso era uma ótima notícia.
Com isso, após algumas aulas, percebendo que não havia combinado como pagaria o salário do professor, Paulina resolveu fazer um cheque num valor simbólico.
Augusto, ao ver a soma registrada no cheque, ficou espantado. 
Dizendo que era muito dinheiro, fez menção de que recusaria a oferta.
Paulina, porém, dizendo que era o justo, fez questão de que Augusto aceitasse o dinheiro. 
Afirmando que um bom trabalho merecia ser bem recompensado, Paulina comentou que no Brasil, os professores são muito mal pagos. 
O que para ela era um absurdo, já que são os professores os maiores responsáveis pela formação intelectual de um ser humano.
Augusto ao ouvir tais palavras, agradeceu a deferência.
E assim, as aulas prosseguiram.
Cada vez mais animada com as aulas, era cada vez mais raro ver Andressa se indispondo com Paulina.
Ocupada com seus afazeres, Andressa freqüentava as aulas para aprender a linguagem dos sinais, tinha aulas particulares, lia muito. 
Então agora, com pouco tempo ocioso, o que lhe restava era ouvir os conselhos de boas maneiras dados por sua mãe.
Mesmo assim, a garota continua intrigada com o súbito interesse daquela mulher por ela. 
Afinal de contas, como ela poderia ser filha daquela madame, se sua mãe era Andréia?
Andressa não conseguia entender. 
Contudo como tudo estava correndo bem, Andressa desistiu temporariamente, de lutar contra isso.
Desta forma, tudo ia bem, até que Cristina e Jorge resolveram voltar para casa.
Quando os dois irmãos viram aquela garota estranha, em sua casa, pensaram logo que se tratava de uma visita. 
Contudo, depois de pensarem um pouco, se lembraram da história que sua mãe havia contado sobre uma suposta filha que havia abandonado.
Irritadíssimos, Cristina e Jorge foram logo conversar com Paulina, que lhes contou que finalmente encontrara sua filha. 
Porém, evitando entrar em detalhes, Paulina comentou conseguiu localizá-la, graças a ajuda de um detetive particular.
Revoltada, Cristina respondeu:
-- Eu não acredito nisso!
Jorge também parecia estar inconformado.
Irritados e enciumados, os dois insistiram para que Paulina colocasse aquela garota na rua. 
Dizendo que não dividiriam sua casa com uma estranha, começaram a conjecturar de onde ela teria vindo.
Paulina querendo encerrar aquele assunto, comentou que Andressa tivera uma vida muito sofrida. 
Contudo aquele não era o momento para falar sobre isso. 
Dizendo queAndressa precisava de atenção, Paulina pediu aos filhos que fossem compreensivos com ela.
Cristina e Jorge, porém, disseram que não estavam nem um pouco preocupados com ela. 
Dizendo que Andressa que se lixasse, comentaram que no que dependesse deles, a vida daquela garota iria se transformar num inferno.
Nisso, Jorge e Cristina deixaram a mulher sozinha.
Paulina ao ouvir tais palavras, ficou extremamente preocupada.
Jorge e Cristina então, interessados em azucrinar Andressa, passaram a procurá-la.
Ao verem-na diante da piscina, tencionaram jogá-la na água.
Não fosse a aparição de Paulina e eles teriam posto em prática a idéia.
Mas a mulher, conhecendo os filhos como conhecia, tratou logo de ficar de olho nos dois. 
Ao vê-los de longe, rondando Andressa, Paulina percebeu imediatamente qual era a intenção de ambos.
Furiosa, assim que pôde, Paulina chamou-os para uma conversa. 
Decepcionada com o comportamento dos filhos, disse-lhes poucas e boas.
Jorge e Cristina por sua vez, inconformados, tentavam a todo momento retrucar.
Paulina, por sua vez, não estava a fim de desculpas. 
Dizendo que eles não tinham o direito de fazer maldades com a garota, comentou que Andressa não pedira para nascer. 
Além disso, não tinha culpa nenhuma pelo que estava acontecendo.
-- Não tem culpa! E eu tenho! – retrucou Jorge.
-- É claro que não! O erro foi meu. – respondeu Paulina.
-- E por causa de seu erro, nós é que vamos ser punidos? – perguntou Cristina.
Paulina tentou explicar, mas Jorge e Cristina, não queriam mais saber de conversa.
Irritados, deixaram-na falando sozinha.
Paulina gritou, exigiu que eles não a deixassem falando com as paredes, mas eles não a obedeceram.
Em razão disso, Paulina, se viu obrigada a chamar a atenção de ambos por várias vezes. 
Irritados, ao verem que Andressa não tinha a mesma desenvoltura que eles à mesa, começaram a ridicularizar a garota.
Paulina ao notar o ar de desdém dos filhos, chamou-lhes a atenção. 
Em seguida, cuidando para que Andressa não ficasse constrangida à mesa, ensinou-lhe pacientemente, a manusear os talhares.
Jorge e Cristina, só ficavam a olhar a moça. 
Furiosos, se pudessem, a matariam com o olhar.
Andressa, porém, entretida em aprender a como se comportar a mesa, não percebeu o ar de irritação dos irmãos.
Com isso, sua estada na casa se tornou mais difícil.
Isso por que, não bastassem as dificuldades para se adaptar a nova vida, Andressa tinha que lidar agora, com duas feras.
Sim por que, raivosos com sua presença, Jorge e Cristina faziam de tudo para irritar Andressa.
Com isso, procurando evitá-los, Andressa passou a ficar cada vez mais tempo em seu quarto.
Paulina, percebendo isso, começou a levar Andressa para fazer passeios pela cidade.
Sequiosa de tornar sua filha preparada para enfrentar o mundo, Paulina começou a levá-la a cinemas, teatros, museus, parques, etc.
Isso só serviu para deixar Cristina e Jorge mais enciumados.
Porém o que fazer? 
Sempre que os chamava para acompanharem Andressa, os dois se recusavam firmemente.
Sim, a convivência estava difícil.
Por esta razão, Paulina ficava cada vez mais tempo longe de casa. 
Preocupada com Andressa, sempre a levava para sair.
Quando precisava ir até a loja, deixava Andressa sob os cuidados dos empregados, que a essa altura, já se tornaram amigos da moça. 
Para desespero de Paulina que achava que devia haver uma distância entre patrões e empregados.
Andressa, no entanto, acostumada a viver na pobreza, não via diferença entre as pessoas.
Mas para Paulina, havia sim, uma diferença fundamental. 
Disposta a ensinar sua filha este ponto, acabou por criar atritos com Andressa.
Irritada, toda a vez que Paulina dizia que os empregados não deveriam ser tratados com tanta atenção, Andressa se revoltava.
Já um pouco mais familiarizada com a linguagem dos sinais, Andressa argumentou que naquela casa, os empregados foram os únicos que a aceitaram de verdade. 
Com o auxílio da linguagem dos sinais, Andressa disse que até mesmo ela não a aceitava como era de verdade.
Paulina tentou retrucar, mas Andressa insistiu na idéia de que eles eram seus verdadeiros amigos.
Desta forma, a mulher não teve como argumentar.
Até por que, estando em companhia deles, Jorge e Cristina evitavam se aproximar da garota.
Porém, quando Andressa estava sozinha em algum canto da casa, lá estavam eles contando piadinhas, ridicularizando sua maneira de ser. 
Andressa irritada, tratava de se dirigir a cozinha. 

Luciana Celestino dos Santos 
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