Poesias

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 72

Vanessa, preocupada com Andressa, assim que pôde foi conversar com ela.
Desconfiada, Andressa perguntou-lhe:
-- O que você quer? Não basta tripudiar em cima de mim? Quer me humilhar publicamente? Deixe-me em paz!
Tencionando deixá-la sozinha, Andressa ouviu o seguinte apelo:
-- Por favor! Escute-me. Eu não vim aqui te humilhar. Eu vim te pedir desculpas.
Andressa parecia não acreditar no que ouvia.
Vanessa então, comentando que havia pensado muito no que Andressa dissera, confessou estar profundamente arrependida por dito aquelas palavras. 
Afirmando que ela não tinha o direito de usar seu passado para atingi-la, comentou que não sabia o quão dura era a vida de uma garota de rua.
Andressa, porém, parecia não acreditar.
Vanessa insistiu. 
Dizendo que não poderia imaginar o quanto era cruel tocar neste assunto, perguntou a Andressa, o que poderia fazer para minorar seu erro. 
Afirmando estar disposta a consertar a situação, Vanessa pediu insistentemente para que a garota a desculpasse.
Demonstrando um grande arrependimento, Andressa finalmente aceitou suas desculpas.
Vanessa sentiu-se aliviada. 
Foi quando perguntou o que poderia fazer para se redimir.
Andressa, um pouco impaciente com toda essa história, respondeu secamente:
-- Nada não!
Com isso, procurou deixar Vanessa sozinha.
Vanessa percebeu então, que não estava tudo zerado. 
Constatando que precisava fazer algo mais para consertar a situação constrangedora que provocara, começou a buscar maneiras de se desculpar publicamente pelo que fizera.
Assim, toda vez que alguém se aproximava dela para falar do fatídico dia em que ela expôs Andressa ao ridículo, Vanessa sempre afirmava que fora boba e cruel. 
Alegando que Andressa sofrera muitos maus pedaços vivendo na rua, Vanessa vivia pedindo a todos que esquecessem aquela história. 
Dizendo que ninguém escolhia a vida que levava, sempre comentava que Andressa não tivera escolha.
Algumas pessoas, curiosas, perguntavam-lhe como sabia tanto assim sobre Andressa.
Vanessa respondeu:
-- Eu não sei! Apenas percebo que se passa ao meu redor!
Com isso, a certa altura, o assunto estava parcialmente encerrado.
Parcialmente, por que os alunos do colégio onde Andressa estudavam, de quando em vez, ainda comentavam o incidente.
Isso por que, Jorge e Cristina, ao saberem do que se sucedera, faziam questão de deixar a história mais viva. 
Percebendo a deixa, de vez em quando aproveitavam para comentar o incidente. 
Além disso, sempre que podiam, alegavam o quão difícil era convivência entre eles e Andressa.
Sim por que, a essa altura, todos já sabiam que Andressa morava com eles.
O que os alunos do colégio não sabiam, nem mesmo os amigos da garota, era que ela era irmã dos dois despeitados.
Discreta, sempre que perguntavam por que ela morava com Paulina, Andressa respondia que era uma situação momentânea, até que sua vida com sua família verdadeira se
resolvesse.
Ao ouvirem isso, Marta, Marcos, Luana e Rodrigo cessaram suas perguntas.
Vanessa, por sua vez, cada vez mais próxima de Cristina e Jorge, acabou por descobrir que Andressa já vivera na rua. 
Por conta disso, usou a história, para humilhar a garota.
Agora, no entanto, tentava consertar o estrago que tinha feito.
Cleide e Augusto, ao saberem do que ocorrera, criticaram Vanessa. 
Dizendo que não tinha o direito de fazer o que fizera, comentaram que ela abusara do direito de ser cruel.
Envergonhada, Vanessa ouviu a tudo calada.
Em seguida, dizendo que precisava remediar a situação, pediu ajuda aos professores.
Cleide e Augusto, percebendo que Vanessa tentava se desculpar, prometeram auxiliá-la.
Preocupados com a situação de Andressa, os dois começaram a dizer em todas as salas de aulas, que nem todos tinham a sorte de nascer em uma família abastada, com muitos
recursos. 
Comentando que muitos viviam na miséria, passavam fome e necessidade, alegaram que Andressa vivera na rua, por absoluta falta de opção.
Curiosos, ao ouvirem tais palavras, os alunos passaram a se perguntar o que teria mudado na vida da garota para que ela passasse a viver na casa de Paulina.
Foi então que ambos perceberam que precisavam explicar melhor a história. 
Cleide sugeriu chamar Paulina para uma conversa. 
Augusto que estava estremecido com ela desde que Andressa passara uma temporada em sua casa, concordou.
Cleide então, chamou Paulina para uma conversa.
Aflita, assim que recebeu a ligação de Cleide, Paulina tratou logo de marcar uma data para conversar sobre este assunto. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 71

Com isso, Andressa voltou a viver nas ruas. 
Sozinha, dormiu algumas noites em um banco de praça. 
Para poder se alimentar tornou a pedir esmolas. 
Desta forma foi se virando.
Sua fuga, no entanto, não durou muito tempo.
Isso por que depois de alguns dias perambulando pelas ruas, Andressa foi novamente encontrada por Paulina.
Com a ajuda do detetive Arthur, Andressa foi novamente encontrada. 
Com isso, foi questão de tempo para Andressa se ver forçada a voltar a conviver com sua mãe.
Isso por que, Paulina, determinada a ter Andressa de volta, fez de tudo para trazê-la para casa.
Qual não foi sua fúria ao saber, que por conta da falta de cuidado do delegado, Andressa tinha fugido? 
Sim por que, para ela, Andressa estava mesmo na casa do professor, mas Francisco, agindo de forma atabalhoada, quase pôs tudo a perder. 
Por conta disso, Paulina ‘disse poucas e boas’ ao delegado.
Francisco, porém, não ouviu o sermão calado. 
Dizendo que ela o estava desacatando, comentou que estava somente cumprindo com o seu dever.
Arthur, percebendo o perigo, pediu para que Paulina se acalmasse.
Paulina então se aquietou. 
Mas jurou que encontraria Andressa. 
Custasse o que custasse.
Dito e feito. 
Novamente com a ajuda da justiça, conseguiu obrigar Andressa a voltar para sua casa.
Desta forma, sem alternativas, agora, com quase dezesseis anos, Andressa passou viver como Paulina almejava. 
Percebendo que não adiantava lutar com esta mulher, Andressa fingiu aceitar viver com Paulina e seus filhos.
Quando Jorge e Cristina perceberam que a mãe não desistiria de Andressa, os dois, mesmo contrariados, desistiram de implicar com a moça. 
Mas ignorando-a, pensaram estar atingindo-a.
Andressa, porém, nunca considerou ninguém daquela família como ente querido, assim, nada do que eles faziam a atingia.
Com isso, mesmo isolada, Andressa prossegiu com sua vida.
Ignorando-os, evitava se aborrecer.
Paulina ao perceber isso, ficou profundamente decepcionada. 
Em vão tentou por diversas vezes, convencer Jorge e Cristina a aceitarem Andressa.
-- Aceitar? Nunca! – respondeu Jorge.
-- Não pra mim. Eu não sou obrigada a aceitar uma estranha em minha família! – afirmou Cristina.
Com isso, nada dos irmãos se aproximarem.
Mesmo com a insistência de Paulina, nem Jorge, nem Cristina, muito menos Andressa, sentiam vontade de se aproximarem.
Muito pelo contrário, os dois irmãos, viam Andressa como uma completa estranha.
Andressa por sua vez, não se sentia fazendo parte de uma família, por isso também, não se esforçava para tentar uma aproximação.
Paulina ficava desolada. 
Contudo, como, não podia obrigar os dois a aceitarem Andressa, também, não podia obrigar a moça a aceitar seus irmãos.
Ainda descrente de que Paulina lhe dizia a verdade, Andressa não conseguia entender o porquê de tanto interesse daquela senhora, em sua pessoa. 
Por que? 
Por mais que pensasse, não conseguia chegar a uma conclusão. 
Desconfiada, porém, prometeu a si mesma que iria descobrir a razão de tudo aquilo.
Voltando a freqüentar o colégio particular, Andressa acabou por conhecer os filhos da professora Cleide.
Com isso, acabou por se tornar amiga deles. 
Sim, Andressa se tornou amiga dos filhos de Cleide e Marina, que estudavam no mesmo colégio.
Embora tivessem idades diferentes, acabaram por se tornarem grandes amigos. 
Marta e Marcos quase dois anos mais novos que Andressa, a admiravam. 
Luana, por sua vez, tinham quase a mesma idade dos gêmeos. 
Já Rodrigo era o mais novo do grupo, com treze anos.
A amizade e admiração eram mútuas.
E Andressa, por ser a mais velha, era uma espécie de líder do grupo.
Luana, Rodrigo, Marta e Marcos, conheceram Andressa, em suas andanças.
Embora estudassem em turmas diferentes – por meio de Cleide –, Andressa acabou por conhecer a todos. 
Foi numa tarde quando foi até a casa da professora Cleide. 
Andressa, precisava tirar dúvidas a respeito de uma matéria.
Ao chegar na casa da mestra, estavam os quatro conversando animadamente.
Cleide então, apresentou Andressa a turma.
Ao verem-na, comentaram que já a conheciam de vista, por circular pelos corredores da escola.
Andressa comentou então que estudava lá.
Curiosos, os quatro amigos começaram a perguntar-lhe em que turma estava, se conhecia Cleide havia muito tempo, etc.
Andressa atenciosa, respondeu a todas as perguntas.
Foi então que Cleide, percebendo que Andressa precisava esclarecer algumas dúvidas, pediu a todos que lhe dessem licença.
Luana, Rodrigo, Marta e Marcos, concordaram. 
Foram para o quintal.
Nisso, Andressa esclareceu suas dúvidas com Cleide.
Por fim, Cleide, após esclarecer às dúvidas da garota, ofereceu-lhe um chá.
Andressa, comentando que o motorista a aguardava, afirmou que precisava voltar para casa.
Cleide, percebendo a situação, insistiu. 
Dizendo que Andressa poderia chamá-lo, pediu para que ficasse mais um pouco.
Andressa foi até o carro. 
Pedindo a Cristóvão que descesse, comentou que ele fora convidado para tomar um chá.
Sem graça, o motorista tentou recusar o convite, mas Andressa, dizendo que Cleide insistia, acabou por fazê-lo descer do carro. 
Assim, Cristóvão acompanhou Andressa.
Luana, Rodrigo, Marta e Marcos também estavam presentes.
Com isso, de forma descontraída, todos conversaram.
Este foi o início de uma grande amizade.
Quando então voltaram para casa, Cristóvão comentou:
-- Muito simpática sua professora!
Andressa concordou.
Sim, sua professora de literatura era muito simpática. 
Tão simpática, que sempre que podia a auxiliava em seus estudos. 
Percebendo que Andressa gostava muito de suas aulas, por diversas vezes, Cleide, insistiu para que a moça aprofundasse seus estudos. 
Dizendo que ela não precisava ficar adstrita só ao que era lecionado em classe, Cleide passou-lhe uma lista de vários livros para ler.
Andressa ao ver a lista, foi logo se inteirar para saber se na casa onde morava havia os tais livros. 
Com isso, vasculhou a biblioteca da casa de Paulina. 
Para sua admiração, quase todos estavam lá.
Interessada que estava em aprender, Andressa passou a ler mais e mais.
Em razão disso, seu desempenho nas provas melhorou muito.
Paulina ao ver as notas de Andressa, comentava orgulhosa:
-- Muito bem! Que belas notas!
Quem não gostava nada disso eram Jorge e Cristina, que ao mostrarem seu boletim, só tinham notas medianas.
Quando Paulina via isso, só reclamava. 
Pior! 
Muitas vezes comparava o desempenho de Andressa na escola com o desinteresse deles.
Isso só piorava as coisas.
Jorge e Cristina, irritados com a comparação, ficavam ainda mais reticentes em relação a Andressa.
Nisso, Andressa, ao freqüentar as aulas de Augusto, comentou o quão difícil estava sendo viver na casa de Paulina.
Curioso, o homem perguntou se não havia problemas em ela conversar com ele.
Irritada, Andressa respondeu que Paulina já havia conseguido o que queria. 
Agora não poderia também se tornar senhora de todos os seus passos.
Foi quando Augusto comentou que ela não devia ter fugido de sua casa.
-- E o que eu poderia fazer? Complicar sua vida?
Augusto comentou então, que ficou muito preocupado com seu sumiço.
Andressa retrucou dizendo que não ficara tanto tempo sumida. 
Dizendo que pouco tempo depois, voltou a freqüentar a escola, foi interrompida por Augusto:
-- É! Eu sei! Eu quase não acreditei quando a vi de volta.
-- Eu também! Sempre achei que depois do que ocorreu, Paulina fosse me matricular em outro colégio. – respondeu ela.
-- Mas eu sei por que ela não fez isso.
-- Por que? – perguntou Andressa curiosíssima.
Augusto, respondeu então:
-- Primeiro! Ela não tem como provar nada. Segundo! Eu não posso fazer nada. Estou de pés e mãos atados. Ela sabe disso.
Andressa, concordou.
Ademais, com a proibição de Augusto freqüentar sua casa, Paulina havia conseguido evitar que eles convivessem tão próximos quanto antes. 
Além do mais, constatando que Andressa tinha um temperamento difícil, Paulina, não queria se indispor com ela. 
Desta forma, não proibiu totalmente a convivência dos dois.
Sim, Paulina era esperta.
Com isso, evitava que Andressa se rebelasse e tivesse novos motivos para fugir.
E assim, as coisas foram caminhando.
Certo dia, caminhando distraída pelos corredores do colégio, Andressa esbarrou em Vanessa. 
Irritada, a garota perguntou:
-- Desastrada! Não olha por onde anda, não é!?
Surpresa com a reação da garota, Andressa comentou que até pensou em pedir desculpas, mas, diante de sua falta de educação, mudou de idéia. 
Com isso, foi embora, deixando-a falar sozinha.
Vanessa, ao ser deixada no vácuo, ficou furiosa. 
Gritando, diz:
-- É, vai embora, sua mal-educada!
Com isso, sempre que as duas garotas se encontravam, se estranhavam.
Vanesa, que não simpatizara nem um pouco com ela, sempre que podia, esnobava Andressa.
Usando de provocações, vivia a insinuar que Andressa não tinha nível pra freqüentar aquela escola. 
Quando soube que a garota já havia estudado em escola pública, é que as coisas ficaram piores.
Isso por que sempre que podia, Vanessa dizia que Andressa devia estudar numa escola como essas. 
Afirmando que ela se sentiria mais à vontade num lugar onde as pessoas tinha o mesmo nível de educação que ela, Vanessa, finalmente conseguiu irritá-la.
Certa vez, ao ouvir tais comentários, Andressa resolveu tomar satisfação.
Vanessa, atrevida que era, não se deixou intimidar. 
Dizendo que não estava nem um pouco arrependida, continuava a dizer que aquele não era ambiente para ela.
Foi quando Andressa perguntou:
-- Ah é?! E desde quando você conhece o suficiente da minha vida para saber que ambientes eu devo freqüentar?
Vanessa ao ouvir tais palavras, comentou que ouvira de Jorge e Cristina que ela havia morado na rua. 
Triunfante, achou que dizendo isso, conseguiria humilhar Andressa.
A moça, porém, dizendo que tinha muito orgulho de seu passado, comentou que não tivera escolha na vida. 
Por isso, quando a única alternativa que surgiu foi a de dormir na rua, não pestanejou, enfrentou a dura realidade. 
Dizendo que havia sofrido muito, Andressa indagou se ela teria coragem para enfrentar tudo o que ela teve que enfrentar.
Vanessa respondeu:
-- Deus me livre!
-- Pois então, não julgue o que você não sabe! Não critique uma realidade que você nunca viveu, e espero sinceramente que você nunca tenha que viver! Por que é difícil. Eu não desejo isso, nem para o meu pior inimigo. É muito ruim se sentir sozinha, abandonada, vazia. É muito ruim não ter o afeto de quem mais deveria gostar da gente! – encerrou Andressa já quase chorando.
Vanessa, ao ver a expressão de tristeza no rosto de Andressa, pela primeira vez desde que a conhecera, teve pena.
Andressa, porém, percebendo que todos a olhavam, saiu correndo do pátio.
Envergonhada, não queria que ninguém a visse chorar. 
Assim, foi se esconder na sala dos professores.
Vanessa então, preocupada, percebendo que havia se excedido, passou a procurá-la.
Vasculhando a escola inteira, não conseguiu achá-la.
Nisso, escondida em um canto, Andressa acabou sendo encontrada por Cleide que ao vê-la tão amuada, quis logo saber o que estava acontecendo.
Andressa, no entanto, não estava interessada em conversas. 
Insistindo em dizer que precisava ficar sozinha, perguntou a professora se poderia ir para casa.
Surpresa com o pedido, Cleide perguntou a Andressa o que estava acontecendo.
Melancólica, Andressa respondeu que nada de mais.
Cleide ao ouvir a resposta da moça, não insistiu.
Com isso, autorizada pelo diretor, Andressa foi embora para casa.
Caminhando a pé, começou a pensar na vida. 
Pela primeira vez, resolveu analisar tudo o que vivera até o presente momento. 
Foi então que se lembrou de sua família – seu pai, sua mãe. 
Lembrou-se do dia em que Juscelino morreu. 
Recordou-se de quando passou a viver em um orfanato, dos anos em que morou na rua. 
Do tempo que passou na FEBEM. 
De quando voltou a viver com sua mãe, de Cléber. 
Do acidente. 
De Paulina, e como sua vira se transformara desde que ela resolveu cuidar dela.
Quando chegou em casa, Paulina, ao vê-la chegar a pé, espantou-se.
Andressa, que não estava interessada em conversar, comentou que a aula havia acabado mais cedo, e para não ficar esperando à toa, resolveu voltar para casa.
Paulina, ao ouvir tais palavras, não desconfiou. 
Sabendo que a filha era uma assídua aluna, dedicadíssima aos estudos, a mulher não se achou no direito de duvidar de suas palavras.
Fosse Jorge ou Cristina que aparecessem com esse tipo de argumento, Paulina trataria logo de averiguar se era verdade ou não.
Com isso, Andressa trancou-se em seu quarto. 
Sem fome, respondeu a Paulina que almoçaria mais tarde. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 70

E assim, foi dado início ao tratamento.
Com paciência, Andressa começou a fazer os exercícios e a melhorar sua dicção.
Dedicada, surpreendeu Patrícia que comentou que o tratamento era demorado.
Augusto, porém, sabedor da determinação de Andressa, afirmou que para ele, os progressos de Andressa, não eram nenhuma novidade.
Com isso, pouco a pouco, Andressa voltou a falar.
Augusto, ao tomar conhecimento da evolução de Andressa, ficou exultante.
Desta forma, Andressa depois de um curto tratamento, voltou a falar normalmente.
Seus amigos de escola, que nunca a viram falando, ficaram surpresos.
Andressa, porém, sentia-se livre. 
Agora podia dizer com todas as letras, que estava retomando sua vida.
Com isso, noutra noite, Andressa teve um sonho muito curioso.
Animada, assim que pôde revelou ao professor, que sonhara que estava numa avenida movimentada da cidade de São Paulo e encontrou uma estranha caixa. 
Curiosa, Andressa entrou nela e foi parar na França.
Augusto ao ouvir estas palavras, ficou curioso. 
Tanto que pediu para que a garota descrevesse o lugar por onde havia andado.
Para seu espanto, Andressa descreveu alguns dos lugares mais famosos de Paris. 
O que era mais curioso, é que a garota nem sequer tinha ouvido falar na existência de tais lugares. 
Tanto que para descrevê-los, Andressa não soube nominá-los corretamente.
Como se nem os conhecia? 
Assim, só restou-lhe descrevê-los um por um.
Augusto ao se dar conta disso, ficou deslumbrado. 
Para ele, tal fato só poderia significar uma coisa: 
Muito provavelmente, Andressa já vivera ali, em algum momento da história.
A garota ao ouvir as conjecturas do professor, caiu na risada.
Augusto, porém, estava convicto de que suas idéias não eram de todo, absurdas.
Com isso, nessa convivência gostosa, eles passam longos meses.
Prestativo, Augusto ensinou tudo o que podia a Andressa. 
Assim, além da escola, a moça também continuava a ter aulas particulares.
Quanto ao vestuário, Augusto, quando a levou para sua casa, ao perceber que ela só tinha a roupa do corpo, tratou logo de providenciar sua vestimenta. 
Com a ajuda de Patrícia – que mesmo contrariada resolveu ajudá-lo – comprou algumas roupas para Andressa.
No tocante a isso, cumpre ressaltar que, no dia seguinte ao sumiço da moça, lá estava ele na casa de Paulina. 
Surpreso, foi quando Augusto descobriu que Andressa havia sumido.
Desta forma, não levantou suspeitas da mulher.
Mesmo assim, o delegado Francisco, mandou Alexandre e João segui-lo. 
Porém, quando percebeu que o professor não sabia do paradeiro da moça, liberou os policiais da ingrata tarefa.
No entanto, certa vez, João, percebendo Andressa andando nos arredores da casa do professor, comentou com o delegado:
-- Engraçado! Outro dia eu vi aquela garota perto da casa daquele professor.
Francisco ao ouvir o comentário, repreendeu o policial:
-- Por que você não me disse isso antes?
João então lhe explicou que vira a moça por acaso, por que tivera que cumprir uma diligência naquelas proximidades. 
Estava saindo de uma loja e virou-se. 
Foi quando a viu andando perto da casa do tal Augusto. 
Nisso, procurando desculpar-se por ter demorado a contar o fato, comentou que quando voltou a delegacia, ele havia saído. 
Além disso, somente agora conseguira falar-lhe.
Francisco ao ouvir tal história, ligou imediatamente para Paulina.
Ao saber disso, Paulina ficou inconformada. 
Tanto que exigiu que o delegado prendesse o professor. 
Dizendo que não admitiria esse tipo de absurdo, comentou que queria Andressa em sua casa, o mais rápido possível.
Francisco respondeu então, que tomaria as providências cabíveis.
Ao desligar o telefone, Francisco resolveu ir até a casa de Augusto.
Numa atitude bastante irregular, ameaçou o professor. 
Dizendo que ele estava seriamente encrencado, exigiu ver Andressa.
A garota ao perceber a confusão, tratou logo de se esconder. 
Trancando a porta de seu quarto, começou pegar suas roupas. 
Nervosa, preparou uma trouxa.
Enquanto isso, Francisco sugeriu a Augusto que ele pagasse uma módica quantia.
Dizendo que assim poderia se livrar de maiores problemas, comentou que só era preciso entregar a garota.
Irritado, Augusto respondeu dizendo que Andressa não estava ali. 
Alegando que não a vira mais, salientou que estava atrasado para um compromisso e que tinha que ir.
Francisco então, respondeu:
-- Pois então, professor! Vamos acabar com essa história! Entregue a garota.
Augusto, ao ouvir tais palavras, insistiu em dizer que Andressa não estava lá.
Foi quando Francisco ameaçou vasculhar a casa.
Augusto ao perceber a intenção do delegado, retrucou:
-- Doutor, dê-me licença. Tenho que sair.
Francisco, demonstrando que não pretendia sair dali, comentou que iria olhar a casa.
Irritado, Augusto perguntou-lhe se tinha ordem judicial.
Surpreso o delegado respondeu negativamente.
Foi quando Augusto disse:
-- Pois então doutor, trate de conseguir uma. Sem ela, o senhor não pode fazer nada.
-- Não mesmo? Eu já estou aqui dentro. – retrucou Francisco.
-- Não mesmo. E se o senhor me ameaçar, eu o denuncio.
Atrevidamente Francisco respondeu que tinha as costas quentes.
-- Pois se o senhor tem quem o proteja, não tem por que se preocupar. Quando o senhor voltar com a ordem judicial, eu ainda vou estar morando aqui.
Francisco não gostou nem um pouco da brincadeira.
Augusto então, insistindo que precisava sair, pediu ao delegado que se retirasse.
Francisco vendo que não podia agir de forma arbitrária, resolveu se retirar. 
Foi quando já no portão, perguntou ao professor se ele não ia sair.
Augusto respondeu que precisava pegar uns papéis.
O delegado então se despediu.
Nisso, Augusto entrou novamente em casa. 
Nervoso, bateu na porta do quarto onde Andressa dormia.
Como ninguém respondia, resolveu verificar se a porta estava aberta. 
Para seu espanto, descobriu que Andressa havia sumido.
Ao perceber isso, tratou logo de pegar uma pasta, e, dirigindo-se a casa de Patrícia, revelou-lhe o que estava acontecendo.
Após, voltando para casa percebeu uma carta jogada no chão. 
Era uma carta de Andressa, explicando que fugira para não complicá-lo. 
Dizendo que não queria ser achada, pedia a ele que não a procurasse.
Pesaroso, Augusto comentou consigo mesmo: 
‘Por que ela fez isso? Eu poderia resolver este problema!’
Preocupado, sentou-se na cama e começou a pensar onde Andressa estaria. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 69

Nessa época, Andressa passou a sonhar com outras vidas, outras épocas.
Em uma noite, Andressa, sonhou com o fatídico dia em que sofrera o acidente em que perdera a fala. 
Lembrando-se da perseguição de Cléber, a garota teve um pesadelo horrível.
Sonhando com sua desesperada tentativa de fuga, recordou-se que caiu. 
Por conta disso, ficou hospitalizada. 
Assustada, começou a balbuciar algumas palavras.
Para seu desespero, porém, as palavras pareciam presas em sua garganta. 
Angustiada, em seu sonho, Andressa começou a se debater. 
Lutando para se desvencilhar de Cléber, caiu.
Foi nesse momento que Andressa acordou e gritou.
-- Não!
Augusto, que dormia no quarto ao lado, ao ouvir o berro, foi ver o que estava acontecendo.
Quando percebeu Andressa sentada na cama, de olhos arregalados, surpreendeu-se.
Assustado, perguntou se foi ela quem gritou.
Nervosa, Andressa, meneou a cabeça afirmativamente.
Admirado, Augusto comentou:
-- Meu Deus! Você voltou a falar!
Andressa espantou-se.
Augusto, porém, insistiu:
-- Sim Andressa! Você pode falar!
Andressa gaguejou.
Augusto então, pediu para que ela dissesse alguma coisa.
Andressa que estava há muito tempo sem falar, não tinha coragem de pronunciar nenhuma palavra.
Augusto, porém, insistiu. 
Dizendo que ela precisava se esforçar um pouco, incentivou-a a proferir algumas palavras.
Com isso, diante de muita dificuldade, finalmente a moça pronunciou algumas palavras. 
Titubeante, Andressa, contou o seguinte:
-- So... son...sonho...sonhei com a que... que... queda. E... eu ta...ta...tava caindo. Fi...fi...fi...fiquei sem vo...voz!
Augusto, ao ouvir estas palavras ditas com sofreguidão, percebeu que Andressa falava do acidente que a fizera ficar sem voz. 
Compreendendo a gravidade da situação, Augusto comentou animado, que sua mudez era psicológica. 
Sim, se ela voltara a falar dessa maneira, é por que não tinha nenhuma lesão nas cordas vocais.
Andressa ansiosa, respondeu então:
-- Co...co...como eu faaaço pra vol....voltaaaar a fa...fa...falaaar, normalmeeente?
Augusto respondeu-lhe que provavelmente necessitaria da ajuda de uma fonaudióloga. 
Comentando que Patrícia poderia ajudá-la, tratou logo de telefonar para a noiva.
Surpresa, ao receber a ligação de Augusto àquela hora, perguntou preocupada:
-- Está tudo bem?
Foi então que Augusto, eufórico, comentou que Andressa havia voltado a falar.
Incrédula, Patrícia perguntou:
-- Como assim?
Pacientemente, Augusto revelou em detalhes, tudo o que havia acontecido.
Patrícia comentou então que a garota precisava começar o tratamento o quanto antes.
Augusto então, pediu a ela que começasse logo.
Patrícia concordou. 
Marcando a data para o início do tratamento, comentou que nodia seguinte, falaria com ela.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 68

Com isso, no dia seguinte, o professor lhe contou o que se sucedeu no jantar.
Alegando que tudo transcorrera às mil maravilhas, Augusto mal cabia em si de contente.
Andressa, fingindo admiração, comentou por meio da linguagem dos sinais, que foi dormir logo depois que Patrícia chegou.
Augusto, não acreditou muito nessa história. 
Todavia, interessado que estava em contar suas impressões sobre o encontro, comentou que ele e Patrícia estavam noivos.
Andressa felicitou o amigo.
Quando Patrícia foi visitar o agora noivo, Andressa também a cumprimentou pela novidade.
Sim, as duas eram amigas.
Muito embora no começo, Patrícia não tivesse gostado nada da idéia de ter uma estranha na casa de Augusto, ao perceber que Andressa não era nenhuma ameaça a ela,
acabou relaxando.
Tanto que aos poucos, acabou se tornando sua amiga também.
Patrícia, que não era professora, adorava ouvir Augusto ensinando, história, literatura e artes a Andressa. 
Por isso sempre que podia, acompanhava as aulas da garota.
Todavia, a despeito desse clima de harmonia, uma coisa a preocupava profundamente.
Ao saber que Andressa era filha de uma ilustre senhora da sociedade, Patrícia preocupou-se.
Aflita, comentou com Augusto que continuar com a menina dentro de casa, era o passaporte mais rápido para futuras encrencas.
Augusto, porém, alegando que a moça precisava de apoio, revelou que não tinha coragem de entregá-la para Paulina. 
Dizendo sabia o quanto Andressa sofria naquela casa, comentou que Jorge e Cristina viviam a infernizá-la.
Patrícia ao ouvir tais palavras, ficou penalizada. 
Tanto que parou de insistir na idéia de que Andressa deveria voltar para sua casa.
Assustada, Andressa ao ouvir os comentários de Patrícia, gesticulou nervosa. 
Por meio da linguagem dos sinais, Andressa pediu encarecidamente para que eles não a levassem de volta para aquela casa. 
Insistindo nisso, gesticulando, Andressa afirmou que preferia viver na rua a ter que voltar para aquela casa.
Patrícia, percebendo o nervosismo de Andressa, olhou para Augusto.
Augusto a censurou com um olhar de reprovação.
Foi então que a mulher pediu desculpas a Andressa. 
Dizendo que não tivera a intenção
de deixá-la nervosa, Patrícia comentou que só estava preocupada com a situação de Augusto.
Augusto, porém, não se importava. 
Tanto que além de escondê-la em sua casa, sempre que podia a levava para cinemas, teatros. 
Certa vez, levou-a até para assistir um show.
Com isso, Andressa, cada vez mais acostumada a conviver com o casal, passou a freqüentar uma escola pública.
Graças à intervenção de Augusto, Andressa voltou a estudar, e agora, convivendo com pessoas que tinham noção do que era viver com dificuldades, conseguiu finalmente se
enturmar.
A certa altura, já adaptada, pode-se dizer que conseguiu até, ter algumas amizades.
Mesmo sem poder pronunciar as palavras, Andressa utilizava-se da mímica e conseguia fazer com todos a entendessem. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 67

Até que numa tarde, depois de uma séria discussão, Andressa fugiu de casa.
Aproveitando um momento de distração de Paulina e dos empregados, finalmente a garota conseguiu ganhar a rua.
Paulina ao dar por falta da menina, ficou desesperada. 
Culpada, sentiu que errou por duas vezes com Andressa. 
Mesmo assim, aflita com o que poderia acontecer com a garota, chamou a polícia.
Nisso, Andressa perambulou durante algum tempo, pelas ruas. 
Decidida a não ser encontrada, a garota dormia cada dia num lugar diferente.
Foi quando, conheceu Marina – assistente social – que, convivendo com a realidade das ruas, e, percebendo que Andressa necessitava de ajuda, a auxiliou muitas vezes.
Preocupada com a garota, a encaminhou a abrigos, ofereceu-lhe comida, roupa limpa.
Prestativa, aconselhou-a.
A primeira vez que a viu, dormindo próxima a um viaduto, Marina perguntou-lhe o que estava fazendo dormindo na rua.
Andressa, tentando desconversar, começou a gesticular.
Marina não entendeu. 
Dizendo que ela parecia ter vindo de uma boa casa, comentou que não parecia uma garota de rua.
Foi quando Andressa gesticulou novamente. 
Tocando em seu rosto, Andressa tentava dizer que ‘quem vê cara, não vê coração’.
Desconfiada, foi difícil à aproximação. 
Temendo que fosse alguém da parte de Paulina, Andressa rechaçava Marina.
Com paciência, porém, Marina conseguiu finalmente, ganhar a confiança da garota.
Foi quando começou a se sentir gratificada por seu trabalho. 
Feliz, Marina não se cansava de dizer aos filhos, o quão estava feliz com seu trabalho.
Com isso, em suas andanças, Andressa foi descoberta pelo professor Augusto. 
Assustada, ao ser descoberta, Andressa fugiu.
Preocupado com a garota, Augusto bem que tentou segurá-la, mas Andressa, ágil, conseguiu fugir. 
Habituada a dormir em bancos de praça, no chão, enfim, em qualquer lugar, Andressa não se apertou.
A certa altura reencontrou Clau e Robson, que se espantaram ao vê-la usando uma roupa tão boa.
Andressa então contou por meio de gestos, o que lhe acontecera desde que fora levada das ruas.
Quando Clau e Robson ouviram a história, não acreditaram. 
Alegando que era tudo muito fantasioso, começaram a dizer que Andressa estava tirando uma com a cara deles.
Ao ouvir isso, Andressa tentou argumentar, mas era sempre interrompida pelos comentários maliciosos dos amigos. 
Desta forma, acabou desistindo. 
Foi então que percebeu que sua vida nunca mais seria a mesma.
Quando perguntou de Mateus, foi informada de que ele fora morto em outra chacina, na mesma época em que ela fora levada dali. 
Ao ouvir tais palavras, Andressa ficou chocada.
Nisso, o professor Augusto continuou a procurá-la. 
Interessado em trabalhos sociais, acabou por encontrar Andressa novamente, em uma das inúmeras noites em que foi servir como voluntário num projeto social.
Foi assim que se solidificou uma grande amizade.
Vencendo a resistência de Andressa, Augusto conseguiu fazer com que a garota ficasse em sua casa.
Mesmo desconfiada, a garota acabou concordando em seguir com ele.
Assim, Augusto mostrou sua casa a ela.
Vivendo com este novo amigo, Andressa descobriu um novo mundo. 
Mundo este fascinante. 
Foi neste lar, que passou a ter novamente o sentimento do que era fazer parte de uma família. 
Coisa que nem mesmo na casa de Paulina conseguiu sentir.
Convivendo com Augusto e sua noiva Patrícia, que Andressa aprendeu a enxergar o mundo com novos olhos.
Aliás, foi convivendo com o casal que pôde acompanhar a evolução da relação de ambos. 
Já íntima dos dois, foi Andressa quem ajudou o professor a preparar o jantar onde ele pediria Patrícia em casamento.
Feliz pelo professor, Andressa observou escondida o casal cear.
Quando finalmente Augusto tomou coragem e revelou sua intenção, Patrícia, que não esperava ser pedida em casamento, obviamente, espantou-se.
O professor, porém, não se deixou intimidar pela reação da moça.
Com isso, acostumando-se melhor com a idéia, Patrícia acabou concordando com o pedido.
Isso por que, ao mostrar-lhe a aliança de noivado, Augusto usou de toda sua argumentação para convencê-la a aceitar o pedido.
Patrícia, que já namorava Augusto, há quase quatro anos, percebeu então, que já era chegada à hora de dar o próximo passo. 
Assim, após algumas delongas, acabou aceitando o pedido.
Andressa, que observava o casal, escondida, por pouco não atrapalhou o jantar. 
Isso por que, distraidamente, acabou por derrubar uma caneca. 
Quando Patrícia ouviu o barulho, perguntou imediatamente, o que estava acontecendo.
Augusto, desconfiado que fosse obra de Andressa, comentou que não era nada demais. 
Provavelmente, alguma coisa que caiu na cozinha.
Patrícia, todavia, não acreditou totalmente na história. 
Tanto que a certa altura, perguntou de Andressa.
Foi quando Augusto comentou que ela fora dormir mais cedo.
-- Estranho! Até onde sei, Andressa não está acostumada a dormir cedo. – comentou Patrícia.
-- Mas sempre tem uma primeira vez. – insistiu o professor.
Andressa então, temerosa de atrapalhar o romance dos dois, resolveu se deitar e fingir que estava dormindo.
Nisso, depois do jantar, os dois se dirigiram ao quarto onde Andressa estava.
Percebendo que a garota dormia, resolveram não incomodá-la.
Augusto, porém, mal podia esperar para contar-lhe a novidade.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 66

Com o passar do tempo, Andressa, começou a não se importar mais com nada disso.
Mesmo assim, avessa a qualquer aproximação com Paulina, à garota fazia questão de deixar bem claro, mesmo sem conseguir pronunciar uma palavra sequer, que não queria viver
naquele lugar.
Quando via o quão difícil era sua vida entre aqueles muros, Andressa sentia verdadeiramente necessidade de voltar para as ruas.
Paulina ficava mortificada quando via Andressa olhando a rua pela janela, saudosa dos tempos em que tinha o céu por abrigo.
Por conta disso, a certa altura, Paulina, passou de mãe extremada, para severa. 
E assim, sempre que podia, e a todo o momento dizia a filha sobre a grande oportunidade que ela vinha tendo.
Andressa, no entanto, parecia não ouvir sua mãe.
Certa vez, cansada de ser ignorada, Paulina pegou a filha pelo braço e ameaçou bater-lhe. 
Porém, ao ver Andressa se protegendo com as mãos, se arrependeu do gesto que tencionara fazer e lhe pediu desculpas.
Chorando, Paulina trancou-se no quarto. 
Não sabia o que fazer. 
Já fazia quase um ano que Andressa estava em sua casa, e nada da garota demonstrar carinho e agradecimento pelo que estava fazendo. 
Isso a magoava profundamente.
Durante uma certa tarde, Paulina, andando pelas ruas da cidade, encontrou Cleide – amiga dos tempos em que trabalhava num Banco – a qual não via há quase dezesseis anos.
Paulina, ao vê-la, fez logo questão de chamar-lhe.
Cleide ao vê-la bem vestida, impressionou-se. 
Por um momento chegou a não acreditar no que estava vendo.
Até que Paulina começou a dizer:
-- Cleide! Não está me reconhecendo? Sou eu, Paulina.
Cleide comentou então, espantada:
-- Paulina, como você está elegante!
Nisso as duas se abraçaram.
Cleide revelou então, que se casou com Claudionor – colega de Ricardo, seu irmão – e que tivera dois filhos com ele, Luana e Rodrigo – com treze e catorze anos, respectivamente.
Paulina ao saber disso, a felicitou. 
Dizendo que também se casou, comentou que teve Jorge e Cristina, com seu falecido marido Antenor.
Curiosa, Cleide, um pouco sem jeito, perguntou sobre seu filho com Clóvis.
Foi quando Paulina revelou que era uma menina. 
Sim, tratava-se de uma menina.
Mas, por falta de condições financeiras, Paulina resolveu deixá-la em um orfanato. 
Crédula de que a menina teria um futuro melhor numa instituição, do que passando fome a seu lado, Paulina abandonou a filha.
Contudo – revelou Paulina –, a vida da garota, foi uma sucessão de tropeços. 
Isso por que, adotada por uma família, acabou depois da morte do pai adotivo, deixada em um orfanato. 
Nesse lugar viveu por cerca de dois anos, até que, cansada de ser maltratada, fugiu.
Nisso, viveu durante alguns anos nas ruas, foi pega furtando objetos de valor, e ficou algum tempo na FEBEM. 
Durante uma confusão ocorrida na instituição, fugiu de lá. 
Voltou a viver na rua. 
Ameaçada por um rapaz, tornou a viver com a mãe adotiva. 
Acidentou-se, e ficou algum tempo, ficou internada. 
Ao ser liberada, voltou a viver com a mãe adotiva, mas depois de algum tempo, percebendo que não teria paz no cortiço em que vivia, tornou a viver na rua.
Agora – contou Paulina –, a menina estava vivendo em sua casa, junto de seus filhos legítimos, fruto de seu casamento.
Cleide ao ouvir o relato da amiga, ficou impressionada. 
Perguntando sobre como estava sendo lidar com essa situação, descobriu que Paulina estava aturdida. 
Mesmo tentando por meses conquistar a filha, Andressa se mostrava cada dia mais relutante em aceitá-la.
Foi quando Cleide revelou que sua situação também não estava fácil. 
Isso por que, abandonada por seu marido, Cleide se viu na delicada situação de ter de voltar a trabalhar.
Sim, por que só assim conseguiria sustentar seus filhos ainda pequenos, e sem condições de manterem.
Emocionada, Paulina, finalmente tomou coragem e perguntou de Ricardo.
Cleide, mencionando que ele se casara por duas vezes, relatou em seu primeiro casamento, a mulher, desejosa de filhos, não conseguiu convencê-lo a tê-los. 
Em razão disso, depois de algum tempo, a relação se deteriorou. 
No segundo casamento, ao conhecer Isadora, Ricardo estava convencido de que havia encontrado a mulher de sua vida, mas ela depois de algum tempo, passou a também desejar filhos. 
Como Ricardo estava decidido a não tê-los, o casamento também acabou.
Por fim, dizendo que acreditava que ele nunca superara a traição de Paulina, Cleide revelou que a considerava leviana pelo que fizera a seu irmão.
Paulina, percebendo um certo rancor por parte de Cleide, comentou que ela fora infantil demais para perceber o quanto poderia magoar os sentimentos de alguém. 
Dizendo que quando engravidara de Clóvis teve que viver num lar de mães solteiras, revelou que depois que abandonou a filha, viveu durante meses em uma pensão imunda. 
Chegou até, a passar fome. 
Até que conseguiu arrumar trabalho, e nesse trabalho, conheceu Antenor.
Depois disso, sua vida mudou radicalmente.
Desconfiada de que Cleide não acreditava que ela tivesse realmente gostado do marido, Paulina revelou que enquanto esteve casada, nunca o traiu. 
Pesarosa pelo que havia feito anteriormente, não se atreveu a trair Antenor com ninguém.
Cleide ironicamente disse:
-- Entendo!
Paulina, que não estava nem um pouco interessada em brigar, fingiu não ouvir a palavra irônica. 
Tanto que perguntou sobre Marina.
Cleide então lhe contou, que a amiga havia enviuvado fazia alguns meses.
Paulina ficou chocada. 
Cleide então revelou que Marina, durante o curto tempo em que viveu com Antônio, foi muito feliz. 
Com ele teve os gêmeos Marta e Marcos. 
Agora, em razão das dificuldades encontradas, voltou a trabalhar. 
Dedicada, estudava para passar em um concurso público.
Paulina ficou atarantada. 
Ao saber de tantas novidades, ficou sem saber o que pensar.
Foi quando perguntou sobre Tiago e soube que ele havia se mudado há muitos anos para o interior.
Com isso, ao final de horas, as duas amigas se despediram. 
Prometendo se encontrar, trocaram telefones e endereços.
Após, Paulina retornou para sua casa.
Novamente enfrentaria uma rotina de distanciamento com sua filha.
Arisca, Andressa fazia de tudo para não se aproximar de Paulina.
Paulina por sua vez, sem paciência para aturar os melindres da garota, tornou a entrar em atrito com ela. 
Cobrando atenção e agradecimento, só conseguiu afastar mais ainda Andressa.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.