Poesias

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 30

Por dias a fio rezou. 
Rezou muito para que sua prece fosse atendida. 
Incomodada com a amolação das garotas mais velhas, que viviam dizendo-lhe que ela nunca conseguiria sair daquele orfanato, que não gostavam dela e que ela nunca seria
feliz, Andressa queria sair dali.
Carmem, ao vê-la tão sofrida, conversou com ela. 
Ao saber que algumas garotas a ficavam chateando, repreendeu-as.
Esta atitude de Carmem não melhorou nem um pouco a situação de Andressa.
Isso por que, furiosas, as meninas passaram a mais e mais, implicar com a garota, que a todo tempo, tentava se livrar delas.
A situação chegou a um ponto, que para intrigar Andressa com as funcionárias do orfanato, Larissa e suas amigas, começaram a criar mal entendidos envolvendo a menina.
Primeiro começaram a jogar bolinhas de papel em Francisca, que sem perceber a autora da brincadeira, ao ouvir de Larissa que a responsável por ato fora Andressa, tratou
logo de repreendê-la.
Mesmo assustada, Andressa tentou se defender. 
Mas sempre que abria a boca para dizer algo, era interrompida por Francisca, que não parava de dizer impropérios.
Acabrunhada, ao ouvir que como castigo ficaria sem jantar, saiu correndo. 
Chorando, se encolheu em sua cama.
Mas essa não seria a primeira diabrura arquitetada por Larissa. 
As próximas confusões seriam bem piores.
Certa vez, insinuando que Andressa sumira com um objeto pessoal seu, Larissa conseguiu novamente atrair a fúria de Francisa contra a garota.
Irritada, Francisca pressionou Andressa de todas as formas, para que ela confessasse onde tinha colocado a presilha de Larissa.
Como a menina não havia pego o objeto, não tinha como responder onde o mesmo estava.
Por conta disso, Francisca decidiu colocá-la de castigo. 
Colocando-a ajoelhada em cima de grãos de milho, exigiu que a menina rezasse pedindo perdão por seus pecados.
Atenta, mandou Talita vigiar a garota, para que a punição fosse cumprida.
Por conta disso, Andressa ficou por mais de uma hora rezando sobre o milho. 
A cada vez que ameaçava se levantar, Talita a mandava ficar ajoelhada.
Em dado momento, sem agüentar mais a dor, a menina começou a chorar. 
Dizendo que não havia pego nenhuma presilha, comentou que Larissa sumira com o objeto de propósito.
Foi o suficiente para deixar Talita irritadíssima.
-- Cale-se! Eu não quero saber de mentiras! – respondeu.
-- Mas eu não estou mentindo. – insistiu a menina.
Talita então, percebendo que Andressa continuaria insistindo nisso, ameaçou-a dizendo:
-- Se você não parar de mentir, eu vou ser obrigada a chamar Dona Francisca. Ela certamente, vai lhe impor um castigo bem pior que esse.
Ao ouvir estas palavras, Andressa calou-se.
Embora estivesse cansada, a menina continuou rezando. 
Ao final do castigo, levantou-se e sentou em sua cama.
Talita retirou-se. 
Mas não sem antes dizer, que ela não estava na casa dela, e que por isso mesmo, teria que aprender a se comportar.
Andressa ouviu calada. 
Como Carmem estava de férias, Larissa encontrou a oportunidade ideal para agir.
Sem a interferência da funcionária, poderia intrigar a menina o quanto quisesse, com as funcionárias da instituição.
Por esta razão, a perseguição continuou por um longo tempo.
Certa vez, provocando Andressa, Larissa conseguiu atrair a menina para um outra armadilha.
Isso por que, ao bater em uma menina mais nova, Isabel, Andressa não teve como se explicar. 
Sim, por que as próprias funcionárias que presenciaram a briga, a viram estapeando a menina.
Isabel, já convivia há muito tempo com Larissa, ao se ver levando a pior, caiu no choro.
Andressa então, tentando se explicar, tentou dizer que Isabel que começara a confusão.
Mais quem disse que Francisca a deixou falar? Muito pelo contrário. 
Cada vez mais aborrecida com o comportamento de Andressa, tratou logo de repreendê-la. 
Dizendo que se portava de maneira vergonhosa, insistiu na idéia de que ela era um péssimo exemplo para as outras internas. 
Por conta disso, novamente impôs um castigo.
Só que desta vez, o castigo foi bem pior.
Entendo que Andressa não poderia continuar convivendo com as outras crianças,
Francisca mandou Talita levar a garota para um cômodo isolado e úmido.
Lá a garota ficou por alguns dias.
Até ficou doente.
Carmem ao saber o que fizeram com Andressa, ficou furiosa. 
Dizendo que tudo aquilo era um absurdo, ameaçou denunciar Francisca e Talita.
Francisca ao ouvir as ameaças, comentou que ninguém acreditaria em suas palavras.
Furiosa, Carmem insistiu:
-- Pois se atrevam a tocar novamente nesta menina para ver se eu não denuncio vocês. Eu faço um escarcéu. Convoco até a imprensa se for preciso. A polícia.
-- E você vai se arriscar a perder seu cargo? Sim, por que, se algo acontecer com nossos empregos, eu mesma me encarrego de fazer a mocinha perder o seu também. –
ameaçou Francisca.
-- Pois eu não me importo. Desde que vocês deixem Andressa em paz. – respondeu rispidamente.
Em seguida, foi procurar Andressa.
Preocupadas, Francisca e Talita se entreolharam.
Cautelosas, ficaram algum tempo a perseguirem a garota.
Mesmo, assim, Andressa continuou sofrendo com a hostilidade das funcionárias do lugar. 
Não bastasse isso, tinha que ouvir piadinhas o tempo inteiro, sobre os castigos que sofrera.
Atrevida, Larissa certa vez, ameaçou agredi-la.
Não fosse a intervenção de Carmem, e a menina teria apanhado, já que a outra garota era bem maior.
E assim, as coisas foram se tornando mais e mais complicadas.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 29

Os dias passam.
Muito embora Andressa possa contar com o apoio de Carmem, nem todos os funcionários do orfanato são gentis como ela.
As crianças também.
Embora algumas meninas tenham tentado se aproximar e fazer amizade, muitas a desprezaram.
Por se tratar de um orfanato, havia crianças de várias idades.
Bebês, crianças bem pequenas, adolescentes.
Enfim, era uma verdadeira escadinha.
As meninas maiores por exemplo, viviam judiando das menores.
Mas havia crianças pequenas com um histórico de vida muito sofrido.
Essas, raramente queriam saber de amizade.
Não confiavam nas pessoas.
Haviam sido maltratadas por seus pais, espancadas, humilhadas.
Algumas sofreram até, abuso sexual.
Outras viviam na rua, e acabaram levadas para lá.
Muitas, foram abandonas por suas mães, logo que nasceram.
Poucas tinham o histórico de Andressa, foi deixada por lá, depois de crescida, entregue por sua mãe.
Muitas a invejavam por ser alvo de atenção e carinho de Carmem, muito embora a funcionária fosse dedicada a todas as crianças.
Mas Andressa era nova, e isso despertava ciúmes e curiosidade.
Por conta disso, algumas meninas se aproximaram nos primeiros dias para conversar.
Estavam curiosas em saber como ela havia parado lá.
Andressa, sem vontade de conversar, dizia apenas que sua mãe a deixara por lá.
Algumas garotas ao ouvirem isso, se desinteressavam dela, outras ficavam, tentando se aproximar.
Mas Andressa era arredia.
Somente com muita paciência, é que algumas garotas conseguiram fazer amizade com ela.
Mesmo assim, a menina era muito desconfiada.
Carmem, percebera este fato com pesar.
Contudo, ela não era o caso mais complicado.
Havia, como já dito, crianças em situação pior.
Certo dia, caminhando pelos ambientes do orfanato, uma dessas crianças a abordou.
Dizendo que ela não era bem vinda naquela lugar, sugeriram que ela fugisse dali.
Assustada, ao ouvir isso, Andressa, saiu correndo do recinto.
Aflita, foi até a gruta.
Lá começou a rezar.
Como já havia aprendido algumas orações a Carmem, tratou logo de fazer um pedido.
Angustiada, queria que sua mãe voltasse para buscá-la.
Não queria mais ficar ali, naquele orfanato.
Queria voltar para casa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 28

Pensando em seu pai e sua mãe, recordou-se do dia em que ambos a levaram ao circo, e ela se encantou com os palhaços, os malabaristas e os acrobatas.
O circo, era um desses circos grandes, com um amplo espaço para as arquibancadas.
Havia muita luz e cor no espetáculo.
A tocha humana, na qual um homem e uma mulher, passavam fogo no próprio corpo.
Foi um dia muito feliz.
Mais tarde, Juscelino, explicou a Andressa, que ela não deveria tentar reproduzir o que vira, com seus coleguinhas de escola.
Isso por que, brincar com fogo era muito perigoso.
Dizendo que muitas pessoas se ferem gravemente todos os dias, por mexer com fogo, Juscelino acabou assustando um pouco Andressa.
Percebendo isso, disse:
-- Não precisa ficar assustada. Eu não falei isso para que colocar medo. Eu só estou te alertando. Não mexa com fogo! Não toque em palitos de fósforos. Não se aproxime do
fogão, nem do botijão de gás. É perigoso. Quando precisar usar faca, peça para Andréia, cortar o pão para você. Seja cuidadosa e nada de mal vai te acontecer. Nada de mal.
Como nada de mal poderia lhe acontecer, se já estava acontecendo?
Por conta disso, novamente Andressa, chorou.
Talita, que sempre passava pelos corredores para observar se todos estavam dormindo, ao ouvir um choro de criança, foi ver o que era.
Ao ver Andressa sentada em sua cama, mandou que se deitasse.
No entanto, a menina parecia não ouvir o que lhe falavam.
Ao perceber a distração da garota, Talita, irritada, puxou-a pelo braço e disse:
-- Deite-se agora. Durma. Eu não quero voltar aqui e ver você acordada.
Assustada, Andressa se deitou.
Mas não conseguiu dormir.
Demorou para pegar no sono.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 27

No dia seguinte, ainda abalada com o abandono, Andressa permanecia retraída.
Triste, raramente conversava com alguém.
Só ficava de longe observando as outras crianças brincarem.
Carmem – uma das funcionárias do orfanato –, ao notar o ar de desânimo de Andressa, chamou-a para conversar.
Preocupada com toda aquela tristeza, a mulher fez de tudo para chamar a atenção da menina.
Dizendo que entendia seu pesar, Carmem ofereceu-se para ser sua amiga.
Andressa porém, estava triste demais para aceitar qualquer oferta.
Carmem então, percebendo que não seria fácil entrar no mundo daquela criança, resolveu ficar atenta.
Desta forma, quando viu a menina isolada no refeitório, sem tocar na comida, Carmem se aproximou.
Gentil, perguntou-lhe se não estava com fome.
Lacônica, Andressa respondeu que não.
Carmem, ao ouvir isto, respondeu:
-- Menina! Coma pelo menos um pouquinho! Senão você some.
Andressa não respondeu.
Carmem, notando o desinteresse da menina, ficou preocupada.
Afinal de contas, diante das circunstâncias, não podia obrigar a criança a comer.
Mas o que fazer afinal?
Quando a história da recusa de Andressa em se alimentar caiu nos ouvidos, de uma das funcionárias responsáveis pelo orfanato, aí é que a situação se complicou.
Isso por que, Francisca, ao tomar conhecimento da situação, ficou aborrecida.
Sem ter muito jeito para lidar com crianças, quis logo obrigar a menina a comer.
Mesmo diante dos apelos de Carmem, Francisca se dirigiu até o jardim, e perguntando a uma das funcionárias quem era a menina que não queria comer, descobriu que se tratava de
Andressa.
Rapidamente, mandou a funcionária chamar a menina para uma conversa.
Andressa então, conduzida pela funcionária, caminhou em direção a Francisca.
Irritada a mulher perguntou:
-- Por que a mocinha não quer comer?
Intimidada com Francisca, a menina se assustou.
Francisca, percebendo que Andressa não tinha coragem de responder sua pergunta, disse:
-- Responda menina. Eu te fiz uma pergunta.
Andressa continuava muda.
Francisca então, ficou mais irritada ainda.
Puxando a menina pelo braço, respondeu:
-- Menina! Você é surda? Quando eu te fizer uma pergunta, responda. - Eu não aceito falta de educação. Insolente!
Andressa, ao ouvir estas palavras, começou a chorar.
Carmem, que observava a cena de longe, ao notar que Francisca se excedia, resolveu intervir.
Aflita, pediu insistente para que Francisca soltasse o braço da menina.
Francisca, ao ouvir os apelos de Carmem, não ficou nada satisfeita.
Dizendo que aquele não era assunto dela, respondeu que faria Andressa entender que ali não ela não podia fazer o que quisesse.
Carmem porém, não se deixou intimidar.
Dizendo que precisava conversar com Andressa, pediu encarecidamente para Francisca, deixa-la a sós com a garota.
Francisca contrariada, retrucou dizendo que não era hora de passar a mão na cabeça de ninguém.
Carmem, por sua vez, insistiu.
Precisava muito conversar com a menina.
Dizendo que se responsabilizaria por tudo o que Andressa fizesse, finalmente conseguiu fazer com que Francisca atendesse seu pedido.
Não sem antes ouvir, o seguinte:
-- Tudo bem! Está certo! Mas ouça bem! Você se responsabilizou por tudo o que esta garota fizer daqui para frente. Então, faça se comportar com se deve, ou você vai sofrer as
conseqüências.
Nisso se afastou do jardim.
Carmem então, se aproximou de Andressa.
Dizendo que ela não precisava ficar com medo, comentou que Francisca só estava um pouco nervosa.
Argumentando que ela não a agredira por mal, tentava consertar a situação.
Mas Andressa estava desconfiada daquelas maneiras.
Carmem, percebendo que não estava sendo convincente o bastante, perguntou-lhe novamente por que não queria comer.
Andressa não respondia.
Ao constatar que não adiantaria fazer perguntas a meninas, estendeu sua mão para Andressa.
Dizendo que gostaria de levá-la para um lugar muito especial, conseguiu finalmente despertar o interesse de Andressa para alguma coisa.
E assim, mesmo ressabiada, a menina segurou a mão da gentil mulher.
E as duas caminharam pelo jardim.
Como se tratava de um terreno grande, as duas caminharam durante algum tempo.
Durante este trajeto, Carmem comentou que aquele era um lugar muito acolhedor.
Andressa parecia não acreditar.
-- Apesar de tudo. De todas as histórias tristes que essas crianças trazem consigo, ainda assim é possível haver espaço para a alegria. Eu sou feliz por trabalhar aqui. Mesmo
convivendo com tantas histórias tristes, eu vejo que as crianças tentam ser felizes a sua maneira, e isso é bom. É sinal de que existe algo por que lutar.
Andressa, não conseguia compreender o que Carmem estava dizendo.
Percebendo que estava confundindo a menina, Carmem se desculpou.
-- Eu não sei onde estou com a cabeça, para falar de um assunto tão sério com uma criança.
Nisso, as duas chegaram a uma gruta.
Carmem, mostrou a Andressa uma bica d’água que existia dentro da gruta.
Curiosa, a menina se aproximou.
Foi quando percebeu que haviam vários objetos espalhados pela gruta.
Carmem, percebendo o interesse da menina em saber o porquê dos objetos espalhados pela gruta, começou a explicar:
-- Esses objetos foram aqui deixados, como forma de agradecer um pedido atendido.
Andressa, ao ouvir tais palavras, timidamente, perguntou:
-- Que pedido?
Carmem, ao ouvir a pergunta, satisfeita, respondeu:
-- São pedidos que as crianças fazem para serem felizes, encontrarem uma nova família ... enfim, qualquer coisa.
-- São sempre atendidas? – perguntou novamente Andressa.
-- Quase sempre. É que para um pedido ser atendido, tem que ser feito com muita fé.
Muita confiança.
E nem sempre é atendido de forma imediata.
Sem entender muito bem o que Carmem dizia, Andressa perguntou para quem devia ser feito o pedido.
A mulher respondeu:
-- A quem você quiser. A seu Anjo da Guarda, ao seu Santo de devoção, diretamente a Deus. Você é quem sabe. Peça do seu jeitinho. Nem é preciso saber uma oração de cor.
Aliás, você sabe rezar?
Envergonhada, Andressa respondeu que não.
Prestativa, Carmem que iria lhe ensinar todas as orações que conhecia.
A seguir, aproveitando que havia conseguido despertar a atenção de Andressa, começou a conversar com ela sobre sua tristeza.
Dizendo entender suas dificuldades em se adaptar àquele ambiente, a mulher comentou que ela não podia se deixar abater.
Andressa ao ouvir tais palavras, emudeceu novamente.
Mas Carmem insiste.
Dizendo que ela precisa se alimentar, conta que as crianças são como plantinhas, e assim, para crescerem fortes, precisam de alimentos.
Curiosa, Andressa pergunta como as plantinhas fazem para comer.
Carmem sorri.
-- Elas se alimentam com o que tem no solo.
-- Mas eu nunca vi uma planta comendo o que tem no chão.
-- É que elas se alimentam através de suas raízes, que estão cravadas no solo. Nós não podemos ver.
Andressa fez sinal de parecer entender.
-- Assim, como você pôde notar, até mesmo as plantas precisavam de alimento. É assim que elas crescem. As crianças também precisam se alimentar. É assim que crescem
fortes e determinadas para enfrentarem a vida. E é por isso que você precisa comer. Senão você vai ficar fraquinha, e vai sumir, sumir, até desaparecer.
-- Eu não tenho fome. – respondeu a menina.
-- Mesmo assim, coma pelo menos um pouquinho. Coma, brinque. Não se ocupe com problemas que não são da sua idade. Deixe que nós nos preocupemos com a vida de vocês.
Tente ser feliz, mesmo vivendo neste lugar. Não deixe que as tristezas lhe tirem o ânimo para fazer o que se tem vontade. Seja feliz, apesar de tudo!
Andressa, ao ouvir estas palavras, começou a chorar.
Lembrou-se de seu pai, e da maneira carinhosa como ele sempre respondia todas as suas dúvidas.
De como ele sempre que podia ia buscá-la na escola.
E mesmo quando estava cheio de trabalho, deixava de lado um pouco suas obrigações, somente para lhe dar um pouco de atenção.
Triste, lembrou-se destes momentos, mas não os revelou a Carmem, que prontamente a abraçou e procurou consolá-la.
Durante o jantar, Andressa ao ver o prato de comida a sua frente, fez um esforço para comer um pouco.
Embora a comida não fosse saborosa, a menina finalmente tocou no prato e comeu um pouco.
Carmem, que a observava à distância, ficou deveras feliz com o esforço da criança.
A noite, quando todas as crianças foram se recolher, mais uma vez Andressa, ficou sentada em sua cama.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 26

Naquele momento, só restava chamar a polícia.
A polícia chegou, recolheu o corpo.
Tempos depois, o homem foi enterrado.
Andréia e Andressa, abaladas com a morte de Juscelino, não conseguiam parar de chorar.
A menina, muito apegada ao pai, foi quem mais sofreu.
Foi um duro golpe.
Um dos piores que teria que suportar.
Sim, por que seu sofrimento só estava começando.
Em razão das dificuldades financeiras enfrentadas, Andréia decide mandar Andressa para o orfanato.
A garota, ao saber que seria abandonada por sua mãe, fica decepcionada.
Contudo, o que uma criança pode fazer?
E assim, mesmo sem saber, a menina volta a viver em um orfanato.
Negligenciada, Andressa sofre com a falta de atenção.
Isso por quê, as funcionárias do lugar, não tem tempo nem paciência para cuidar de todas as crianças que habitam o lugar.
Tendo somente a companhia de outras crianças, Andressa foi obrigada a conviver com essas pessoas.
Inicialmente, ao chegar no orfanato, acompanhada de Andréia, a menina foi apresentada a algumas funcionárias do lugar.
Ressabiada, Andressa relutou em aceitar a idéia de que teria que ficar ali.
Andréia no entanto, foi enérgica.
Advertindo a garota de que ela levaria umas boas palmadas se não ficasse quieta, acabou por convencer a menina.
Andressa então, silenciou.
Triste, ficou o dia inteiro calada.
Não almoçou e nem jantou.
A noite, ao ser levada ao dormitório, onde dividiria espaço com outras crianças, Andressa sentou-se em sua cama
e escondida de todos, chorou.
Chorou quase a noite inteira.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 25

Até o dia em que Juscelino, voltando tarde da noite, foi abordado por um homem suspeito.
Surpreendido pela abordagem, Juscelino não se mostra disposto a reagir.
Mesmo assim, o assaltante, temendo a reação de sua vítima, covardemente o atinge com um tiro.
Sem ter tempo de ser socorrido o homem morre na frente de sua casa.
Andréia, que a esta hora dormia, ao escutar o tiro, foi correndo para a sala.
Andressa que também acordara com o barulho do tiro, estava assustada.
Preocupada, Andréia mandou a garota ficar dentro de casa.
Cautelosa foi até o portão da residência.
Foi quando viu o corpo de Juscelino, estirado no chão.
Aterrada, só conseguiu gritar.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 24

E a menina cresce.
Vivendo com a família que acredita ser a sua, Andressa, aos seis anos de idade, passa a freqüentar uma escola que está a poucos quarteirões de sua casa.
Acompanhada de Andréia, a menina passa a ter contato com seus primeiros coleguinhas.
Assustada, a menina resiste a idéia de ir a escola, mas Juscelino, carinhoso, lhe explica que ela precisa ir.
Dizendo que ela está crescendo, comenta que ela precisa conviver com outras crianças.
Pessoas da mesma idade.
Andressa contudo, está temerosa.
É quando Juscelino pega-a no colo e diz:
-- Você está com medo?
-- Sim. – responde ela timidamente.
-- Não tenha. Você vai ver. Daqui a pouco não vai querer outro lugar. Vai ser escola, casa dos amiguinhos. Vai ser uma briga você querer ficar conosco.
Andressa não acreditou.
Juscelino insistiu:
-- Vai sim, você vai ver!
Quando a menina viu seu pai proferir estas palavras, finalmente acreditou no que ele estava dizendo.
Sim por que desde que se entendia por gente, seu pai nunca mentiu para ela.
Criancinha de colo, sempre que ela pegava e ela sentia medo de cair, ele respondia:
-- Não precisa ter medo. Eu não vou te derrubar.
Andréia sempre que via a cena, ficava preocupada.
Temendo que o marido derrubasse a menina, pedia sempre para colocá-la no chão.
Juscelino atendia a esposa.
Andréia, mais sossegada, aproveitava para repreender.
O homem ouvia tudo pacientemente.

Paulina, por sua vez, depois de se casar com Antenor, deu luz a Jorge – em 1981 – e Cristina, no ano seguinte.
Nessa época, a mulher raramente se lembrava da filha que abandonara.
Vivendo uma vida de rainha, Paulina só pensava em cuidar de seus filhos e viver bem com Antenor.
Estava com o futuro assegurado.
Marina e Antônio, casados há alguns meses, passaram então, a se preocupar com a
chegada de um herdeiro.
Foi assim, que com quase um ano de casados, tiveram os gêmeos, Marta e Marcos.
Otávio, que acompanhara a gravidez da filha desde o início, ao saber que sua filha teria gêmeos, ficou exultante.
Isso por que, no seu entender, seria avô por duas vezes.
Quem não ficou nem um pouco feliz com a novidade foi Adélia, que preocupada com a situação da filha, só ficava a pensar em como eles fariam para cuidar de duas crianças.
Otávio, ponderado, ao perceber que a preocupação da esposa, tinha razão de ser, procurou tranqüilizá-la.
Dizendo que para tudo se dá um jeito, o homem disse, que fosse preciso, ele empregaria parte de sua aposentadoria para cuidar dos netos.
Adélia ao ouvir isso, censurou-o.
Isso por que o valor que ele recebia de aposentadoria não era nenhuma fortuna.
Mas Otávio, dizendo que poderia economizar, comentou que ainda poderia ajudar sua família, se fosse necessário.
Adélia então calou-se.
A seguir, Cleide e Claudionor, tiveram seus filhos.
Primeiro, viera Luana, que nasceu em 1982, alguns meses depois dos gêmeos Marta e Marcos.
Mais tarde, veio Rodrigo, que nasceu em 1983.
O casal de filhos veio consolidar esta família que já era feliz.
Com os filhos, a felicidade se tornou maior.
Tiago, a essa altura, já morava há dois anos no interior.
Ricardo, sentindo que seu casamento não tinha mais futuro, preparava-se para a separação.
Eleonora que nessa época já estava casada há quase quatro anos, ao constatar que não havia possibilidade de convencer seu marido a viver a vida que tanto queria ter, decide
que não quer continuar nesta situação.
Disposta a se separar, comunicara Ricardo de sua decisão.
Como não havia filhos, a dissolução do casamento seria menos traumática.
Contudo, tal separação não se deu antes haver muitas brigas e desavenças.
Eugênia já não agüentava mais tanta confusão.
Sim por que sempre que o casal aparecia nas festas da família, brigavam.
Eugênia, Cleide, seu marido e seus filhos, mesmo que não quisessem, eram obrigados a presenciar as brigas terríveis do casal, que não poupavam nem um detalhe de sua vida conjugal.
As cenas eram constrangedoras.
Eleonora, dizendo que seu marido não era homem de verdade, abandonara-a.
Sem disposição para o casamento, sem vontade de ter filhos, só a fazia sentir cada vez mais sozinha.
Ricardo retrucava.
Dizendo que ela não era o que ele esperava, insistia na idéia de que ela fora um erro.
A mulher não fazia por menos.
Chamando-o de covarde, em uma das inúmeras discussões que travara com Ricardo, Eleonora jogou bebida no rosto.
Não fosse a intervenção de Eugênia e ele teria batido na esposa.
Eugênia percebeu então, que não adiantava tentar fazer os dois se entenderem.
A separação era iminente, e pior, seria ruidosa.
Foi o que se deu.
Brigando pela casa em que morava com Ricardo, Eleonora ficou com a única propriedade do casal.
Isso por que Ricardo, disposto a se separar a todo custo de Eleonora, prometeu-lhe que daria tudo o que tivesse para se livrar dela.
A mulher, ao ouvir isso, exigiu a casa em que morava.
Ricardo tentou discutir, mas, percebendo que esta atitude resolveria sua vida, concordou.
E assim, a separação se deu.
Quando Eleonora se tornou a única proprietária da residência, tratou logo de vendê-la e se mudar dali.
Decepcionada com Ricardo, a mulher não queria nem ouvir falar em seu nome.
Por conta disso, sumiu no mundo.
Cleide e Eugênia, nunca mais ouviram falar no nome dela.

Nisso, Andressa passa todos os dias a ir a escolinha.
Lá conhece outras crianças.
Aprende novas coisas.
De vez em quando, visitava seus coleguinhas e brincava com eles.
Era pega-pega, esconde-esconde, brincadeiras de roda, etc.
Até aí, tudo ia bem.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.