Poesias

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

VENTO DE MAIO

‘Vento de maio 
Rainha de raio
Estrela cadente
Chegou de repente 
O fim da viagem ...
Apenas já não da mais
Pra voltar atrás ...

Apenas para chover
No meu pequenique ...
Assim meu sapato
Coberto de barro
Apenas já não dá mais
Pra voltar atrás ...

Sol girassol
Se ardendo de tanto esperar ....
E quase que eu esqueci 
Que o tempo não para nem pode esperar
Vento de maio 
Rainha dos raios de sol ...’
(Vento de Maio – Elis Regina)

Manhã de abril. O astro-rei já prenunciava que uma bela tarde de sol estava por vir.
O que seria ótimo, pois assim, os jovens poderiam aproveitar o dia e passear pelo parque. Por aquelas paragens havia um lindo parque, repleto de árvores, flores, pássaros, cores. E a certa altura do parque, havia um lago, que nos dias de sol, refletia as lindas cores do astro-rei. 
E assim, as horas foram se passando. 
A tarde surgiu. Como de costume, vários estudantes combinaram de se encontrar no parque. Conversavam sentados a beira do lago. E assim, as horas foram passando, passando. 
A tarde seguia ensolarada. E os jovens aproveitavam o dia para conversarem sobre assuntos diversos.
Como era bom, passear por aquele lugar, admirar as flores, as plantas, os arvoredos. Freqüentar o local que já fora palco das mais lindas histórias. Para todas elas, músicas inspiradas a eternizá-las. Muitos viveram naquele ambiente. Paraíso perdido de uma juventude sonhadora e idealista. Idílio romântico de quase todos os moços que por ali passaram.  
Por entre os arvoredos, muitos choraram suas mágoas, lamentaram suas tristezas. Mas também, em meio as cores dos jardins do parque, viveram muitos dos momentos mais felizes de suas vidas.  
Entretanto, para alguns, conforme os dias passavam, sentiam eles, que o dia da despedida chegaria. Que depressa, teriam que de deixar de ser apenas jovens para se tornarem adultos. Abandonar a cidade em que viviam, se despedir dos amigos e partirem em busca de outros horizontes mais amplos. 
Por esta razão, muitos dos jovens estudantes do terceiro ano do colegial, estavam melancólicos. Antes mesmo de saírem do colégio, já sentiam saudade dos amigos, da escola, da cidade em que viviam, e do parque. 
Dentro de cada um deles, um sentimento de nostalgia os invadia. Temiam, o dia em que, definitivamente, teriam que abandonar o mundo sem grandes compromissos que tinham, para abraçar um mundo talvez muito maior que eles. Não se sentiam preparados, muito menos animados, para abandonarem a cidade em que viveram toda a vida, para morarem longe dos pais, sem amigos. Tendo por companhia, somente a lembrança dos tempos outrora felizes. 
Sabedores de que tal experiência seria extremamente dolorosa, os jovens combinaram que passariam mais tempo juntos no último ano. Assim teriam mais coisas boas para recordar no dia em que, definitivamente, teriam que se separar. Talvez, para nunca mais se verem.
Ah! A amizade. Como era bom ter amigos naquela tarde. Alguém para conversar, para dividir as dúvidas, o medo das mudanças, as alegrias, e as tristezas. Como era bom ter alguém de quem sentir a falta, ter saudades. E, mesmo depois de anos sem ver, poder se lembrar com carinho, nostalgia, e sentir que aquela pessoa é insubstituível, pois marcou para sempre sua vida. 
Como era bom ter naquela tarde, a sensação de que todos os amigos são para sempre, eternos e inesquecíveis. Que quanto mais o tempo passasse, mais importantes se tornariam em sua vida. Que por mais que o tempo voasse, sentiria sempre aquela insistente vontade de revê-los pelo menos mais uma vez na vida. Se sabedores do seu infortúnio ou mesmo do seu passamento, sentiriam muita tristeza. 
Ah! Como era duro ter amigos. Como seria triste a sensação de perdê-los, de talvez nunca mais os verem.
Sentados a beira da lagoa, acariciados pelo calor do sol, que mais uma vez refletia o esplendor de sua luminosidade no lago, mal sabiam eles o quanto poderia ser dolorosa a separação e a vida fora de sua cidade natal. Todavia temerosos, os jovens sabiam que não seria nada fácil, a vida em outro lugar.
Por isso, muitos nem sequer ousavam pensar nisso. Tentavam se concentrar na alegria ao lado dos amigos. As tardes no parque. Os encontros amorosos. Os bailes. A escola. Enfim, queriam guardar para sempre em seus corações, as lembranças do seu mundo de estudante.
Entretanto, não obstante, o temor da separação, alguns deles pensavam seriamente na formatura. Pensavam em como deveria ser organizada, quais as músicas deveriam ser tocadas. Como a grande maioria deles havia crescido ouvindo música popular brasileira, então, boa parte do repertório seria de música brasileira. Das músicas que, felizes, deram um colorido especial a suas tardes no parque. Adornaram suas vidas, e se tornaram seus hinos de amor. As músicas de suas vidas.
Nostálgicos, passaram a tarde a se lembrar dos momentos felizes que ali passaram.
De por exemplo, quando houve uma mostra de balé na cidade. 
Pois bem. No corpo de baile, havia uma linda bailarina que encantou um dos jovens da platéia. Em todas as apresentações feitas na cidade, pelo menos um rapaz esteve sempre presente. Tentou até, conversar com ela, mas as pessoas em volta não o deixaram se aproximar. Marcos, o jovem, que ficou encantado com a bailarina, tentou se aproximar dela das mais diversas formas. 
Durante os quatro dias em que o corpo de baile ficou na cidade, o pobre rapaz, tentou desesperadamente encontrar a bailarina para poder falar-lhe. Entretanto, não obstante seu empenho, não logrou êxito em seu intento. Marcos fora extremamente mal sucedido. Por conta disso, ficou fazendo plantão na pensão em que a moça estava hospedada, na esperança de que a jovem saísse de lá para fazer alguma coisa. Esperava por horas. Por conta disso, Marcos, chegou até a tomar chuva esperando a saída da moça da pensão.  
Em razão disso, deixou os amigos um pouco de lado. Isso por que, Marcos, só aparecia no parque quando o corpo de baile ía se apresentar. 
Contudo, infelizmente, nada deu certo. Como a moça não saía da pensão, não teve jeito. Marcos não pôde encontrar-se com ela. Entristecido, o rapaz passava tardes inteiras ouvindo ‘Beatriz’, lindamente cantada por Milton Nascimento, em seu rádio.
Nas ondas do rádio, caminhando nos fios estendidos do poste da companhia de energia elétrica, a música parecia penetrar em seu ser. Marcos, sentia uma estranha nostalgia toda vez que a ouvia. Mesmo assim, gostava de ouvir, pois fazia-lhe sentir próximo de sua querida. Fazia-lhe acreditar que a amada possuía um belo nome.

‘Olha, será que de louça  ...
Será que de éter
Será que ao contrário... 

Será que é pintura
Será que é cenário
O rosto da atriz  ...

A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela mora num quarto de hotel
E se eu pudesse, entrar na sua vida ...

Sim, me leva para sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão ...
Para sempre, por um triz ...’
(Milton Nascimento – Beatriz)

E nessa melancolia, Marcos permaneceu durante alguns meses. Tamanho foi o encantamento com a jovem bailarina, que o rapaz, durante muito tempo, permaneceu com a lembrança da moça em sua memória. Se lhe perguntassem, Marcos descreveria com detalhes o colante que a bela bailarina usando. 
Segundo, ele era um colante de gala, feito de veludo azul e pedrarias na mesma cor, muito bonito. E a descrever o traje e a aparência da moça, o rapaz poderia permanecer a tarde inteira falando. 
Diante da situação, seus amigos começaram a ficar preocupados. Como fazê-lo esquecer a moça? Tentaram de tudo. Pensaram em apresentá-lo para outras garotas. Quem sabe conhecendo outra pessoa, ele não esqueceria a jovem bailarina, sua Beatriz.
A situação se agravou ainda mais, quando, nas aulas de literatura, foi de certa forma, apresentado ao autor Dane Aligieri, o escritor, eternamente apaixonado por uma jovem, chamada Beatriz. Exatamente, como no caso de Marcos, um amor não concretizado. Um amor de contemplação.
Isso, só contribuiu para que seu estado de melancolia se agravasse. E assim, nada o demovia da idéia fixa de encontrar sua querida. Para Marcos, era o amor de sua vida. Se não a encontrasse, nunca mais poderia ser feliz.
Coisas de jovem. Como diziam seus pais. Quem que, quando jovem, nunca passou por isso? Paixonite é normal nessa idade. E assim, deixaram para lá.
Só que, para espanto deles, a tristeza não ía embora. A cada dia, Marcos ficava mais melancólico e introspectivo. Preocupados, seus pais resolveram levá-lo a um médico. Como a tristeza não passava, pensaram se tratar de alguma doença. Algo que precisava de tratamento.
O doutor, ao constatar o abatimento do rapaz, perguntou-lhe sobre o que estava se passando. Como não obteve uma resposta satisfatória, o médico insistiu. Calmamente foi fazendo perguntas. E pacientemente esperou pelas respostas. Com isso diante do quadro, concluiu tratar-se de um quadro leve de melancolia. No entanto, se não fosse tratada, poderia se agravar e tornar-se uma depressão, ou talvez até algo mais sério. Para tanto, Marcos deveria colaborar e aceitar fazer o tratamento.
Com isso, mesmo com sua resistência inicial em aceitar o tratamento, Marcos por fim, acabou aceitando. Por isso, passou a se cuidar e depois dos tratamentos, nunca mais sentiu melancolia, nem saudade da antiga amada. Queria mais, é recuperar o tempo perdido e estudar para as provas do final do ano letivo, pois o mesmo se aproximava e ele não queria definitivamente, perder o ano, por conta de um amor mal resolvido. E assim, resolveu esquecê-la. No momento, estava precisando de um amor possível, não de algo platônico.
E assim, ‘Beatriz’, deixou de fazer parte de sua trilha sonora. Agora Marcos só queria saber de ouvir outras músicas. Adorava Música Popular Brasileira. No seu rádio tocavam agora, variadas canções.

‘Vento solar 
E estrela do mar 
Um girassol da cor do seu cabelo ...

Vento solar
E estrela do mar
Você ainda quer morar comigo? 
Se eu morrer não chore não 
É só poesia 
Eu só preciso
Ter você por mais um dia ... 

Bom dia 
Como vai você
Você vem ... 
Ou será que é tarde demais ...

O meu pensamento tem a cor de seu vestido 
Como um girassol 
Que tem a cor de seu cabelo ...’
(Vento Solar)

Variadas canções, agora acalentavam seu coração e o deixavam esperançoso. Marcos, agora, acreditava que poderia encontrar alguém. E esse alguém não seria inatingível e inalcançável. Enfim, seria um amor possível, palpável. Ademais, o rapaz já estava cansado de pensar na bailarina. Assim, queria alguém de verdade, pra poder gostar. Enquanto isso não acontecia, Marcos retornou a sua vida normal. Deixou de procurar em cada moça, a imagem da suave bailarina que o encantara tempos atrás. Por isso, voltou a encontrar seus amigos, e se deleitar com a natureza exuberante do parque da cidade. Tudo voltou ao normal.
Hoje, se questionado sobre esta história, Marcos se nega a comentar o assunto, diz que esqueceu a moça, que agora só quer saber de estudar. Não quer perder seu tempo com alguém que nem sabe que ele existe.
Realmente, diante do que ele já passou, é razoável sua atitude. Como reflexo do acontecido, até hoje é alvo de pilhéria dos amigos. Sempre que o querem alugar, comentam a história.
Em razão disto, às vezes Marcos se distancia do grupo, e fica sozinho, passeando pelo parque. Aliás, Ás vezes prefere mesmo ficar só. Tendo por única companhia os próprios pensamentos. Gosta da solidão. Muito embora goste muito dos amigos, às vezes prefere a solidão, tendo-a em conta de uma boa conselheira. Ás vezes, prefere ficar ouvindo o silêncio, admirando o vôo dos pássaros, a verdura da vegetação, a beleza do lugar, pois esta também, é uma forma de adquirir uma consciência maior de si mesmo.
Seus amigos, no entanto, achavam este hábito muito estranho. Mas respeitavam a sua necessidade de ficar só.
Enfim, depois de contada esta história, os jovens passaram a se lembrar de outras. Muitas outras. Lembraram-se do pequenique no parque. Dos passeios a luz da lua no lugar. Os casais de namorados que por ali passavam. 
Recordaram-se até, das tardes frias e chuvosas, que infelizmente, os impedia de passearem no  parque, obrigando-os a ficarem reclusos em suas casas.
Alguns dos moços, desanimados, só sabiam pensar no que perderiam ao sair da cidade. Outros, um pouco menos infelizes, só sabiam pensar na formatura. Afinal, precisavam celebrar suas saídas da escola.
E para tanto, a formatura deveria ser um dos mais belos momentos de suas vidas. Um acontecimento memorável!
Por isso, apesar dos rapazes não serem muito fãs de festas rebuscadas, todos eles concordaram em participar. Não só como convidados, mas também dos seus preparativos. Todos eles queriam estar juntos, no momento da despedida. Afinal, estavam juntos praticamente desde que começaram a freqüentar a escola. A partir daí, boa parte deles nunca mais se separou.
Obrigatoriamente, a música ‘Coração de Estudante’, não poderia faltar. E como sugestão, ficou acordado que ela seria tocada no momento da entrega dos diplomas. Assim, enquanto um deles estivesse se levantando para ir até o palco pegar o canudo, a música não poderia deixar de ser tocada.
Os jovens, pensaram também em fazer uma homenagem para alguns dos professores da escola. Para isso, poderia ser tocada a música ‘To Sir with love’ (Ao Mestre com carinho). Assim, poderiam preparar um discurso, e, no momento da homenagem, a canção seria executada. 
-- Se fosse feito assim, ficaria lindo. – disse Melissa. 
-- É verdade. Mas se preparem, por que organizar esta festa vai dar trabalho. – comentou Pedro.
-- Mas vai valer a pena. – reforçou Marcos.
-- E se vai valer a pena, deve ser feito. Afinal de contas, será o momento da despedida. – completou Marcelo.
-- Talvez, o último momento em que nos veremos. Por isso, tem que ser especial. – disse animado, Manoel.
-- Aliás, eu tenho para mim, que este vai ser o melhor ano de nossas vidas. Devemos fazer alguns bailes também. Assim, nos preparamos para o grande dia. Podemos começar, organizando os bailes do nosso clube. – emendou Fábio.
-- Clube. Que clube? – perguntaram Pedro, Flávio e Ricardo.
-- É que eu estou pensando em criar um clube. – respondeu Fábio.
-- Pra que? – perguntou Manoel.
-- Para que nós pudessemos nos reunir durante o ano, organizar festas, estudar juntos, e adquirir uma imagem de maior responsabilidade.
-- Como é que é? – perguntou Marcos.
-- Simples. Organizados, possuiremos mais credibilidade. Poderemos organizar a festa de formatura. Ai, teríamos mais força para cobramos a festa. Além do mais, organizando outras festas, passaríamos a ter mais condições de organizar a nossa formatura. Algo com certeza, bem mais complicado que uma simples festinha. Poderíamos recolher verbas para as festas e ninguém poderia nos acusar de angariar fundos para fins obscuros. – falou Fábio.  
-- Eu concordo. É uma ótima idéia. – respondeu Marcos.
Diante do exposto, e por ser uma boa idéia, todos acabaram concordando. Até porque, seria uma ótima maneira de angariar fundos para financiar o tão sonhado baile. E também, por que, dada a dimensão da festa, precisariam além de organização e preparo, de conhecimento. De saber como se organiza uma festa desse porte.
Assim, todos concordaram. 
No entanto, o clube precisava de um nome. 
-- E qual será o nome do clube? – perguntaram Marcelo, Manoel, Flávio e Melissa.
-- Eu sugiro que se chame ‘Clube da Esquina’, em homenagem ao grandes cantores mineiros de MPB. – respondeu Pedro. 
Fábio, que já havia pensado neste nome, concordou. Os demais, não se opuseram. Enfim, com a concordância de todos, o clube passaria a se chamar ‘Clube da Esquina’.
E assim, depois de muita conversa, com a progressiva diminuição da claridade do dia, os jovens se aperceberam de que as horas voaram e que já era quase sete horas da noite. 
Diante do adiantado das horas, não havia outra solução senão irem para casa, e no dia seguinte, na escola, continuarem o assunto. De lá iriam depois de almoçar, diretamente ao parque, para se divertirem e continuarem conversando sobre a formatura e a criação do clube.
Com isso, cada um seguiu seu rumo, indo para diferentes lugares.
A seguir chegando em casa, os jovens jantaram, assistiram um pouco de televisão e foram dormir. 
Quando amanheceu novamente, já era hora de levantar, lavar o rosto e ir para a escola. Por isso, faziam uso do despertador. Para que pudessem acordar na hora certa. 
O curioso foi que, ao tocar o despertador em algumas das casas, uma música foi ouvida vinda da rádio local. Esta música falava exatamente do sentimento de todos eles. E entoada pelo inconfundível Milton Nascimento se chamava, ‘Coração de Estudante’:

‘Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda  
Deve estar dentro do peito 
Ou caminha livre pelo ar 
Pode estar aqui do lado 
Bem mais perto que pensamos 

A folha da juventude 
É o nome certo deste amor 
Coração de estudante ...
Ah, que se cuidar do broto 
Pra que a vida nos dê flor e fruto...

Alegria e muito sonho
Espalhado no caminho ...
Planta e sentimento ...
Folha, coração, juventude e fé’
(Coração de Estudante – Milton Nascimento)

Atentos, todos ouviram acorde por acorde da canção. Para eles, o símbolo do momento pelo qual estavam passando. 
Enternecidos, os jovens ficaram com a música em mentes por toda a manhã. Música que ecoava em suas cabeças, causando uma sensação de nostalgia. Um sentimento de que tudo estava por se encerrar. 
No entanto, apesar disso, estavam felizes. Isso por que, eles tiveram o privilégio de ouvir mais uma vez uma das mais belas músicas já feitas. A canção que falava ao coração de todos os estudantes. 
A canção que simbolizava a despedida deles. 
E assim, enquanto o professor explicava trigonometria, alguns deles estavam bem longe dali. Pensando em coisas bem mais interessantes que números e fórmulas de matemática. 
Distraídos, os jovens pensavam em como seria suas vidas depois que deixassem a escola. Em como seria depois que terminassem o colegial. 
Estavam tristes. Tão tristes que não conseguiam nem prestar atenção na aula. Mas também pensavam em como aproveitar o restante do ano letivo. E assim, estavam felizes, também. 
E por isso, queriam comemorar. Queriam celebrar tudo. Queriam organizar o clube e por em prática suas idéias.
E assim, combinaram na hora do intervalo, que se encontrariam no parque mais tarde, para discutirem a idéia de organizar o clube. 
Ademais, os jovens aproveitariam também, para passearem. Adoravam as árvores, o lago e a beleza do lugar. Adoravam aquelas horas em que, esquecidos de suas vidas, ficavam a caminhar por entre aquela natureza toda. Por entre toda aquela maravilha.
Encantados, passavam horas e horas em meio àquelas paisagens.
Muitas vezes, quando queriam ficar sós, era só se afastarem do grupo, e se dirigirem a um lugar mais recluso do parque. 
Assim, era só permanecerem nesse lugar mágico e estava garantido o sossego de quem por lá ficasse. Portanto, esse era o sinal que todos deveriam respeitar. Quando alguém quisesse ficar só, o fato de estar neste ponto do parque, era a senha dada para que não fosse incomodado. Era o sinal de que queria realmente ficar só.
Nesse lugar, diversas vezes Marcos se recolheu. Nesses momentos de reclusão, ficava a ler suas poesias preferidas, dentre elas, a de seu poeta preferido, Olavo Bilac, o então, denominado ‘Príncipe dos Poetas’. Contudo, como bom leitor que era, e visto que adorava poesia, Marcos não dispensava a leitura de outros grandes poetas brasileiros.
Aliás, em virtude do seu extremo interesse por literatura, todos os seus os amigos o admiravam. Apesar de quase todos serem muito estudiosos, nenhum deles tinha tanto interesse pelas letras quanto ele.
Assim, sempre que podiam, pediam-lhe ajuda nos deveres escolares. Afinal, era Marcos que era o aluno mais aplicado da turma.
Mas, estou se afastando demais do que interessa. Então voltemos ao assunto principal.
E assim à tarde, conforme o planejado, todos se encontraram no parque. Ao lá chegarem, os moços começaram a conversar sobre a idéia de montar um clube. O almejado ‘Clube da Esquina’, em homenagem aos cantores que todos adoravam.
E conversando, chegaram a conclusão, de que, para ter um clube e este ser respeitado na região, era necessário que este tivesse uma sede. Um lugar fixo para que se fizessem as reuniões.
Quanto a isso, todos concordaram. Contudo, o desejo de todos era que a sede do clube, fosse montada ali no parque. Mas, para isso, os jovens precisavam da autorização da administração do lugar, para construírem uma casinha no alto de uma das árvores, para que lá pudessem se reunir e conversar sobre os rumos do clube.
Ademais, os estudantes, precisariam montar o clube em um lugar bem afastado do parque. Um lugar onde poucas pessoas passassem. Isso por que, os jovens não queriam ser incomodados. Não queriam ter estranhos rondando o lugar.
E assim, ao longo de um mês, os jovens insistiram com a administração do parque, para que lhes autorizassem a construírem uma casa no alto de uma das árvores, para que pudessem se reunir sempre que quisessem, no clube que iriam montar.
 Com isso, diante de tanta insistência, ao final do mês, os administradores do lugar, finalmente concordaram com a idéia, e deixaram os jovens construírem uma casa na árvore. Contudo, eles queriam saber onde tal casa iria ser construída. 
Como resposta, os administradores foram informados que somente ao término da construção, eles saberiam onde esta ficaria, e que não deveriam contar a ninguém sobre o que estava sendo feito. Para tanto, os jovens, alegaram, que não queriam a presença de curiosos.
Desconfiados, os administradores impuseram a seguinte condição. Somente liberariam a construção, se fossem informados do exato local em que a casa seria construída.
Sem outra saída, só restou aos estudantes contarem onde ficaria a casa na árvore. Mas, como já se sabe, os jovens pediram sigilo absoluto sobre o assunto. Não queriam que as pessoas soubessem da casa. Comentaram que era uma surpresa. Daí o segredo.
E assim, os homens concordaram com a idéia.
Prestativos, chegaram até a se oferecerem para ajudar na construção.
Com isso, foi utilizada para a montagem da casa, muita madeira. Quanto isso, os próprios administradores do parque, emprestaram um pouco desse material, para que os estudantes construíssem uma bela casa na árvores. Prestativos, os administradores doaram também tinta, e auxiliaram no trabalho braçal.
Resultado. Ao final de mais um mês, uma bela casa na árvore havia sido construída. 
Demorou. Mas a demora se deveu ao fato de que todos eles tinham suas ocupações. Assim, só nos momentos livres, é que podiam realizar este trabalho. Diante disto, a casinha, demorou algum tempo para ficar pronta. 
No entanto, quando finalmente estava construída, foi um encantamento só. Isso por que a pequena construção, estava exatamente do jeito que os jovens imaginaram. No alto de uma bela árvore, carinhosamente realizada. Ampla, possuía dois andares, e um belo lance de escadas levava até a construção.
Agradecidos, os estudantes elogiaram o empenho de todos os que, colaboraram com a edificação. Isso por que, os jovens, não tinham como retribuir o enorme favor concedido.
No que os administradores disseram:
-- Não tem de que.
E mais do que depressa, se retiraram. Afinal, tinham outras coisas para fazer.
Nisso encantada, a turma mal cabia em si de contentamento e satisfação. Realmente a construção tinha ficado muito bonita. Tão bonita que dava vontade de ficar só olhando. Contudo, era necessário entrar, para que pudessem ver como tudo estava. E assim o fizeram. Cada um dos componentes do clube tomou o devido cuidado e subiu as escadas. Um de cada vez. 
Ao final, quando todos estavam reunidos no alto da casa, ficaram admirados com a delicadeza e precisão dos detalhes. A construção parecia uma casa de verdade. Porém, faltava algo. 
Foi então que Flávio e Manoel sugeriram providenciar mesas, cadeiras, armários, além de artigos de escritório. Tudo para que aquela atividade revelasse a intenção de ser algo sério. Assim, com essas melhorias, os sócios do clube teriam mais conforto e poderiam tomar suas decisões com mais calma. 
Com isso, não demorou duas semanas, para que os móveis que precisavam, fossem providenciados, e com a ajuda dos funcionários do parque, fossem levados até a altura da casa, tornando-a mais habitável. 
Assim, depois, das últimas providências, não faltava mais nada. Estava tudo pronto. Pronto para o mais lindo sonho daqueles estudantes obstinados. 
E assim, com o clube organizado, a primeira coisa que os estudantes planejaram foi organizar uma comemoração para inaugurar o clube. Porém, como aquele clube só era de conhecimento daquela seleta turma, somente eles participariam da comemoração.
Diante disso, lá foram eles comprar comes e bebes e levar tudo para a casa na árvore, o famigerado ‘Clube da Esquina’.
Animados, Marcos, Melissa, Marcelo, Manoel, Pedro, Flávio, Ricardo e Fábio, comemoraram com petiscos, salgadinhos e refrigerantes. 
Marcos, de tão empolgado, chegou a levar um rádio. Os demais participantes da festa, ao verem a máquina maravilhosa, pediram logo para ele fosse ligado.
O rapaz atendeu prontamente os pedidos. Ao ligar o aparelho, qual não foi o encantamento dos estudantes ao ouvirem a música que justificava o nome do clube –  intitulada ‘Clube da Esquina’, era o hino da maior criação dos amigos:

‘Foi no Clube da Esquina
Ou num bar em troca de pão
Que muita gente boa 
Pôs o pé na profissão 
De tocar um instrumento
E de cantar 

Não importando 
Se quem pagou quis ouvir
Foi assim

Cantar era buscar o caminho que vai dar pro sol
Tenho comigo as lembranças do que eu era ...
Para cantar nada era longe
Tudo tão bom
Pé, estrada de terra na boléia de um caminhão
Era assim...

Com a roupa encharcada 
E a alma coberta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando não me desfaço ...
E não me canso de viver, 
Nem de cantar
Foi assim ...’
(Milton Nascimento – Nos Bailes da Vida)

Marcos, de tão admirado, chegou a comentar:
-- Realmente, algo de muito bom espera por nós! Até as música do nosso clube, a nossa canção, tocaram no rádio. Vai dar tudo certo.
Os demais, ao ouvirem as palavras do amigo, trataram logo de concordar. E assim, a festa desenrolou até as nove horas da noite. 
Depois ... os amigos se despediram, e cada qual voltou para sua casa. 
Durante toda a noite, sonharam com a festa e com os planos que colocariam em prática, para tornar o clube conhecido de todos. Os jovens fariam muitas festas, até chegarem a derradeira, que fecharia o ciclo das comemorações. 
Em razão disso, todos estavam muito animados. Animados e confiantes no êxito do projeto. 
Ansiosos, no dia seguinte, durante o horário do intervalo, os amigos se reuniram e já começaram a planejar o primeiro baile que fariam. 
Conforme os planos de Fábio, o baile se chamaria ‘Baile do Clube da Esquina’. Animado, o rapaz sugeriu que durante a festa, deveria ser tocada ‘Rua Ramalhete’, para fazer todos dançarem de rosto colocado. 
Melissa, ao ouvir isso, concordou. Entusiasmada com a idéia de produzir um baile, a moça sugeriu outras músicas igualmente belas. Quanto ao dia, ela sugeriu que a festa fosse realizada no sábado a noite, e com presença exclusiva dos jovens. Adulto não deveria entrar. Pelo menos não naquela primeira festa. 
Com relação a isso, todos os integrantes do clube concordaram. Nesse primeiro momento, eles deveriam organizar uma festa somente para os jovens. Porém, como não estavam para brincadeira, queriam organizar uma senhora festa. No entanto, os jovens não dispunham de fundos suficientes para a ela. 
Diante do primeiro obstáculo, Ricardo sugeriu, que eles deveriam pensar primeiramente, em que lugar poderia ser organizada a festa, e depois, venderiam convites para quem quisesse participar. Assim, conseguiriam reunir dinheiro suficiente para organizar a festa.
Pedro e Marcelo, quando ouviram a proposta de Ricardo, elogiaram a inteligência do amigo. Todavia, antes de atribuírem um determinado preço ao convite, precisavam saber antes, o quanto iriam gastar. Isso por que teriam que contratar um grupo para tocar, alugar um salão, elaborar uma lista de comes e bebes, selecionar as músicas que seriam tocadas, decorar o salão. Além disso, qual seria o traje a ser adotado?
Melissa, empolgada com a idéia de um baile, sugeriu que a festa deveria ser a fantasia. 
Quando Marcos, Fábio, Marcelo e Manoel perguntaram o tema da fantasia, a moça não titubeou nem por um instante. Foi dizendo logo:
-- Anos sessentas.
Porém, havia um problema. As músicas que eles pretendiam tocar na festa, não tinha nenhuma relação com o tema. Melissa então, percebendo que não seria possível que festa tivesse aquele tema, sugeriu, que as mulheres usassem longo, e os homens se fantasiassem de militares. 
Marcelo e Marcos, espantados, perguntaram o porque, daquela imposição.
A garota então respondeu:
-- Não é por nada não. É só para dar um clima mais romântico para a festa. Se for o caso, as mulheres podem se vestir então, como as grandes divas do cinema. Eu só não gostaria que todos estivessem com a mesma roupa, senão, a festa vai perder a metade da graça. 
-- E o que você sugere então? – perguntou Flávio.
-- Eu sugiro que assim que forem vendidos os convites, se dê um prazo para que cada pessoa defina o traje que irá usar. Nós anotaremos a informação, e aí a pessoa não vai poder mudar de idéia. Se mudar, terá que nos comunicar, ou então correrá o risco de encontrar outra pessoa usando a mesma roupa.
Flávio, ouvindo a sugestão de Melissa, elogiou a criatividade da moça e concordou com ela. Como os demais membros do clube não se opuseram a iniciativa, ficou acertado que assim procederiam. Além disso, estudariam um pouco sobre o assunto, para que pudessem fazer algumas sugestões. Assim, ninguém ficaria perdido, sem saber o que vestir. 
Nisso, soou a campainha, avisando que o intervalo tinha se encerrado, e que era hora de voltar para a sala. 
Porém, quem disse que eles conseguiam se concentrar e prestar atenção no que estava sendo ensinado? Permanecer ali naquela sala de aula, era necessário, mas os pensamentos de todos, voavam. A exceção de Marcos, nenhum deles estava inteiramente presente naquela classe. Sonhar com o baile que realizariam, era a única coisa na qual conseguiam pensar. 
Porém, os jovens sabiam que se não queriam ter problemas com as notas, deveriam se dedicar mais aos estudos. Por esta razão, quando foram se encontrar no clube, os amigos, combinaram que além de se reunir para organizar a festa, deveriam organizar um grupo de estudos, e estudando juntos eles se preparariam para as provas. 
Além disso, o parque era um bom lugar para passar o tempo. 
Um lugar tão bom, que boa parte dos estudantes aproveitava para ficar o dia inteiro lá. Sim, o ambiente era um conhecido ponto de encontro da moçada da região. 
Com isso, enquanto se reuniam para discutir os detalhes da festa, os amigos aproveitavam também para estudar. Por conta disso, cada vez mais livros foram ficando no clube. Tanto que à certa altura, os jovens  já tinham formado uma pequena biblioteca no clube. E assim, diante desse fato, os amigos, tinham a desculpa perfeita para sair de casa. Precisavam estudar. 
E lá se iam. Empolgados, muitas vezes, só voltavam para casa, tarde da noite, quando não tinham por que, permanecerem no parque. 
Com isso, conforme os dias foram passando, os amigos, depois de confeccionarem os convites, passaram a vendê-los. Com base na pesquisa que fizeram anteriormente, os jovens constataram que os alunos estavam mais do que interessados em uma festa. Ainda mais uma festa de arromba como aquela. 
Assim, diante da confirmação, os jovens passaram a vender os convites. 
Porém, qual não foi a surpresa deles ao venderem todos os convites em apenas em um dia. 
No entanto, o mais surpreendente ainda estava por vir. No dia seguinte, mais pessoas apareceram, interessadas em comprar convites para a festa. Todavia, quando ouviram dos garotos que todos os convites haviam sido vendidos, os potenciais compradores, ficaram deveras desapontados. 
Marcelo, Manoel, Ricardo, Flávio, Fábio, Pedro, Marcos e Melissa, percebendo isso, ao constatarem que o salão poderia abrigar mais alguns convidados, resolveram confeccionar mais alguns convites. Mais tarde, foram vendê-los.
Outra surpresa. Todos os convites foram vendidos, em questão de horas. Com isso eles conseguiram resolver pelo menos em parte a questão dos convidados. 
Todavia, mesmo tendo o cuidado de vender mais ingressos, ainda assim, tinha gente que não iria conseguir participar do baile. 
No entanto, diante disso, não havia mais nada o que ser feito. O salão estava alugado, os espaços já estavam todos distribuídos e não havia mais como fazer convites. Se o fizessem e vendessem, as pessoas não se acomodariam confortavelmente no salão.
Diante disso, a despeito de alguns rostos desapontados, os jovens conseguiram realizar o almejado intento. Com o dinheiro dos ingressos, pagaram o aluguel do salão, o buffet, a banda que tocaria no baile, a decoração, entre outros detalhes. Para firmar o contrato de aluguel os pais dos jovens compareceram no salão e se responsabilizaram pelos mesmos. 
Em razão disso, com tudo acertado, os jovens combinaram as músicas que seriam tocadas, bem como as homenagens que seriam feitas. Tudo com vistas a uma preparação para a festa de formatura.  
Por fim, era só aguardar o dia da festa. Como tudo estava saindo como fora planejado, os jovens não tinham com que se preocupar. As fantasias, a essa altura estavam todas prontas, pois os próprios organizadores da festa, se encarregaram de providenciá-las. Para tanto, pegaram as medidas de todos os convidados e encaminharam para as costureiras que fariam as peças. Além disso, com a idéia das roupas em mente, os próprios organizadores do baile, se encarregaram de mostrar para a costureira, como as roupas deveriam ser feitas, cuidando desde do tecido, e da cor, até os pequenos detalhes. Uma trabalheira. A única coisa da qual os jovens não se encarregaram, foi dos preços das fantasias. Assim, os próprios convidados se encarregaram desses pagamentos.
Com isso, os estudantes tiveram que se desdobrar para conseguirem tempo para estudar e se prepararem a festa.
Contudo, no final, tudo acabou dando certo. 
E assim, os jovens só precisavam agora, esperar. Logo a festa se realizaria, e todos os seus sonhos também. 
Sim, um sonho. Aliás, um dos inúmeros sonhos que toda aquela turma sonharia, e o que é melhor, colocariam em prática. 
Assim, embalados com expectativa da festa, os jovens não se cansavam de ouvir músicas. 
Melissa, ao ligar o rádio em sua casa certa vez, ouviu a seguinte música:

‘...São José da Costa Rica 
Coração civil
Me inspire da justiça
Os sonhos de amor 
Do meu país...

E sonhar que 
Que a justiça pode ser real...
Vou sonhar com
As coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal ....’ 
 (Coração Civil – Milton Nascimento)

Esta linda música entoada pelo eminente Milton Nascimento para ela era a mais completa tradução dos sonhos de um país ideal, sonhado por todos os brasileiros. 
Mas enquanto ela ouvia músicas aleatoriamente, Marcos e Marcelo, por exemplo, só se preocupavam em ouvir as músicas que tocariam na festa. Isso por que, os moços queriam que tudo saísse perfeito. 
Contudo, o zelo era desnecessário, pois como os seus amigos disseram, estava tudo perfeito. Assim, não tinham com o que se preocupar. 
Todavia, quem disse, eles conseguiam se acalmar? Desta forma, dias antes da festa, Marcos e Marcelo resolveram passar horas diante do aparelho de som, tudo para ouvirem atentamente a trilha sonora da festa, e ver se estava tudo certo. 
Com isso, conforme os dias se seguiram, era chegado o momento da festa. 
Ansiosos, depois de tanto esperar, agora que finalmente o dia da festa havia chegado, os amigos mal podiam se conter. Nervosos, alguns deles chegaram a cogitar não aparecer na festa. 
Todavia, seus pais, percebendo a bobagem que fariam se não comparecessem, trataram logo de lhes chamar a atenção, advertindo os que eles tinham que ir. Se não fossem, se arrependeriam pelo o resto de suas vidas. Além disso, eles haviam se comprometido com os demais, e assim, não podiam deixar seus amigos na mão. De formas que esses jovens, não tiveram escapatória.
Diante disso, todos os amigos participaram da festa. 
Conforme haviam planejado, tudo estava perfeito. O salão, repleto de flores, estava muito bem decorado. A banda, na hora em que entraram estava tocando, ‘Todo Azul do Mar’:

‘Foi assim, como ver o mar
Da primeira vez, que meus olhos
Se viram no seu olhar
Não tive a intenção, de me apaixonar
Mera distração e já era
Momento de se gostar

Quando eu dei por mim
Nem tentei fugir
Do visgo que me prendeu
Dentro do seu olhar ...

Fui dono do mar azul
De todo azul do mar ...
Daria para beber 
Todo azul do céu 
Dava pra encher o universo
Do da vida que eu quis pra mim 

Tudo que eu quis 
Foi me confessar 
Escravo do seu amor
Livre para amar...’
(Todo o Azul do Mar / 14 Bis)

Curiosamente, Marcos foi tomado de um estranho efeito em relação a essa música. Isso por que, logo que entrou no salão, percebeu que uma linda moça vestida de vermelho, que distraidamente olhava para ele. 
Mal sabia ele, que dançaria com a moça naquele baile. 
Isso por que, quando entrou no salão, Marcos pensou que ele e seus amigos, passariam a noite toda cuidando de detalhes da festa. No entanto, como tudo estava perfeito, não tiveram com o que se preocupar. 
Com o que se refere a festa, a única coisa que tinham que fazer dali para frente é se divertirem, e muito. Era a única coisa a ser feita. 
Desta forma, mais do que depressa, todos se dispersaram e trataram de se divertir. 
Depois de verificarem que tudo estava certo, os amigos aproveitaram o baile. 
Melissa, a única amiga do grupo, assim, se viu no meio do salão, foi logo convidada por um elegante rapaz fardado, para dançar.
Marcos, por sua vez, ainda teve que andar um pouco. Muito embora algumas moças demonstrassem interesse em dançar com ele, o rapaz não dançou com nenhuma delas. Com isso,  foi até o jardim, e por lá, permaneceu durante cerca de meia hora.
Distraído, nem percebeu que a moça vestida de vermelho estava sentada, ao lado de uma das esculturas próxima a ele. 
Envolvido em seus pensamentos, Marcos mal conseguia prestar atenção no que acontecia em volta. Feliz com a realização do baile, queria ao menos a possibilidade de contemplá-lo de longe, por alguns instantes. Marcos fazia isso, por que queria memorizar o maior número de detalhes da festa. Gostava de observar as pessoas dançando e gostava de perceber a satisfação das pessoas em participar da festa. 
Assim, o rapaz ficou extasiado com o cenário.
Finalmente, quando deu-se conta de que a moça, estava a poucos passos dele, resolveu se aproximar e perguntou-lhe timidamente, se estava gostando da festa.
-- Estou. – respondeu a moça. – Muito bonita a idéia dos organizadores de alugar o salão para festejar. Além disso, esse jardim é magnífico. Nunca vi uma coisa assim tão bela.
Marcos, admirado com os comentários da moça, encheu-se de coragem e perguntou-lhe então:
-- Desculpe perguntar, mas qual é o seu nome?
A moça então respondeu:
-- Érica. 
Marcos animado, resolveu convidar a moça para dançar.
Érica, mesmo um pouco surpresa com o pedido, aceitou o convite. 
E assim, os dois dançaram a noite inteira. 
Porém, pararam algumas vezes. Assim, Érica e ele se sentaram um pouco. 
Como Marcos foi chamado pelos amigos para integrar a mesa de honra da festa, o rapaz tratou de convidar Érica, para se sentar à mesa. 
Mas, primeiramente, Marcos fez questão de apresentá-la a todos. Assim, apresentou-a a Melissa, Pedro, Marcelo, Manoel, Fábio, Ricardo e Flávio. 
Depois, gentilmente convidou-a a se sentar. Com isso, assim que Érica se sentou, o rapaz ajeitou sua cadeira, para que ela pudesse ficar à vontade.  
Enquanto isso, os amigos conversaram. Conversaram e se regalaram com os comes e bebes servidos durante a festa. Animados, todos só comentavam sobre o sucesso da festa, e dos projetos de organizar o baile de formatura. 
Nisso, Marcos aproveitando a oportunidade, convidou Érica para dançar com ele mais uma vez. 
Assim, enquanto, tocava a música ‘Serra do Luar’, o casal dançando, nem percebia o que estava acontecendo em volta.

‘ Amor, vim, te buscar, em pensamento
Cheguei agora, no vento 
Amor, não chora de sofrimento 
Cheguei agora no vento ... 

Eu só voltei pra te contar 
Viajei, fui pra Serra do Luar 
Mergulhei, ai eu quis voar ... 
Agora eu sei 
Vim pra terra descansar ... 

Viver é afinar o instrumento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora 
A todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro ...

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranqüilo...’
( Serra do Luar)

Nisso Marcos e Érica, envolvidos com a música, nem sequer ouviram os comentários de Melissa e do restante da turma, que atentos aos passos de ambos, só elogiavam a habilidade deles para a dança. 
Diante disso, Melissa, feliz pelo amigo, ressaltou também que:
-- Que bom que o Marcos conseguiu encontrar uma garota legal na festa. Tomara que dê tudo certo para ele.
Manoel concordou:
-- Ele é uma pessoa muito legal. Merece que tudo dê certo pra ele. 
Nisso Flávio gritou para o amigo:
-- É isso aí, Marcos, dance a noite inteira. Por que a noite é uma criança!
Érica e Marcos, que até então estavam dançando, ao ouvirem os gritos de Flávio, caíram na risada. 
Feliz, o rapaz comentou com Érica:
-- Não liga não. O pessoal é meio maluco, mas no fundo, no fundo, todo mundo aqui, é muito gente boa.
Érica ao ouvir o comentário do rapaz, respondeu então que Flávio era engraçado, por isso riu. 
E assim, o baile prosseguiu. A certa altura da noite, tocou a seguinte canção:

‘Já nem lembro, o seu nome
Já nem sei, onde vou parar ...
Luz, estrada pó
O jipe amarelo ...
Manoel o audaz...

 Iremos deixar
Vamos aprender 
Vamos lá ...

E no ar livre, corpo livre
Aprendendo ou mais tentar...’
(Manoel o Audaz)

Flávio e Ricardo, brincando com Manoel, comentaram que esta música havia sido feita especialmente para ele, que além de muito intrépido, para ajudar, era loiro. Com isso, sempre que se tocava essa música, Manoel que se preparasse, por que lá vinham as gozações. 
Mas ao contrário do que se poderia imaginar, o rapaz não se incomodava nem um pouco com as brincadeiras. Porém, nem sempre foi assim. 
Na primeira vez que o Manoel ouviu a brincadeira, não gostou nada nada da piada. Isso por que, para ele ser comparado a um jipe, não tinha a menor graça. 
Contudo, conforme o tempo foi passando, Manoel foi percebendo de que nada adiantaria brigar por conta disso. Isso por que, seria brigar, e automaticamente, seus amigos atormentariam ele com essa gozação. Assim, o rapaz resolveu deixar de lado a provocação, e depois de algum tempo, começou a levar tudo na esportiva. Tudo por que, não queria se desavir com seus amigos. 
E assim ficou. O bom amigo Manoel, ficou sendo conhecido como ‘Manoel, o Audaz’. 
Marcelo percebendo que o amigo estava todo cheio de si, certa vez, chegou até a comentar:
-- O ‘Manoel Audaz’, tá se achando heim? 
Manoel ao ouvir isso, não ligou. Isso por que, com o passar o tempo, passou a gostar de ser comparado com o jipe da música, e também a ser chamado de ‘Manoel o Audaz’. Para ele, um raro privilégio.
Contudo, voltemos ao baile. O belo baile.
Nisso, a banda tocou a ‘Canção do Novo Mundo’, uma belíssima canção que foi gravada pelo mineiro Beto Guedes:

‘... Quem tomou o trem da história
Por querer ...
Quem perdeu o trem da história
Por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi um covarde a se esconder 
Diante de um novo mundo ...

Como pode acontecer
Um simples canalha mata o rei
Em menos de um segundo

Ó! Minha estrela amiga
Por que você não fez 
A bala parar ...

Ali o vento amigo
Nem a força bruta 
Pode um sonho, apagar...’
(Canção do Novo Mundo – Bete Guedes)

Essa música, sempre tocou muito os amigos. Tudo em razão do fato de se tratar de uma singela homenagem a Jonh Lenon, que foi estupidamente assassinado por um fã, no início da década de oitenta. Assim, sempre que a música era tocava, os amigos se lembravam do motivo pelo qual a mesma havia sido produzida, e se emocionavam. 
A música, lindíssima, era realmente uma bela homenagem a um ídolo, o qual iguais a ele, nunca haverá. Nem igual, nem ao menos parecido. Uma pena realmente, uma morte tão estúpida!
Flávio, percebendo isso, tratou o logo de avisar a banda para não mais tocar aquela música. Ressaltando o clima de festividade, ao falar no microfone, o rapaz comentou que aquela era a primeira das inúmeras festas que ainda seriam realizadas durante aquele ano letivo, até o grand finale, que seria a derradeira festa, a festa de formatura. Assim, o momento era de alegria.
Os convivas, ao ouvirem as palavras do cicerone Flávio, ficaram ainda mais animados, e imbuídos no espírito de alegria da festa, trataram de aproveitar mais o baile. 
O rapaz, então, aproveitando a situação, pediu para a banda para tocar algo especial. Sim por que diante do anúncio, uma bela música deveria coroar suas palavras. 
E assim, conforme o combinado, a banda resolveu tocar:

‘Daqui ninguém mais ficará 
Depois do sol
No final será o que não sei
Mas será
Tudo de mais 
Nem o bem, nem o bem
Só o brilho calmo dessa luz

O Planeta Sonho será a Terra
A dissonância será bela
E lá no fim daquele mar
Os meus acórdes vão terminar
Não haverá
Outro som pelo ar...

Aqui também é bom lugar 
De se viver 
Bom lugar será 
O que não sei
Mas será

Algo a fazer bem melhor 
Que a canção,
Mais bonita que alguém lembrar

 A harmonia será bela
A dissonância será bela
E lá no fim daquele mar
Os meus acordes vão terminar

Não haverá
Outro som pelo ar...’
(Planeta Sonho – 14 Bis)

Diante disso, a festa prosseguiu, animada.
Manoel, Marcelo, Melissa e Fábio, ao ouvirem a música, trataram logo de aplaudir sua execução. 
Os convidados, vendo os quatro aplaudirem, também começaram a bater palmas, e o que era pra ser um gesto discreto, se tornou um dos grandes momentos da festa. 
Entretanto, conforme as horas foram se passando, foi se aproximando o momento do encerramento do baile. E assim, para coroar o encerramento da festa, a banda, a pedido dos organizadores, tocou ‘Rua Ramalhete’, canção muito conhecida na voz de Tavito:

‘Sem querer fui me lembrar
De uma rua e seus ramalhetes
Do amor anotado em bilhetes
Daquela tarde

No muro do Sacre Coeur
De uniforme e olhar de rapina 
Nossos bailes no Clube da Esquina
Quanta saudade ...

Muito prazer, 
Vamos dançar
Qu’eu vou falar no seu ouvido
Coisas que vão
Fazer você tremer dentro do vestido

Vamos deixar tudo rodar
E o som dos Beatles na vitrola
Será que algum dia 
Eles vem aí 
Cantar as canções 
Que a gente quer ouvir...’
(Rua Ramalhete – Tavito)

Esta foi a deixa para Marcos dançar ainda mais próximo de Érica. 
O rapaz, encantado com a moça, só queria ficar mais um pouco com ela. Porém, conforme os minutos se passavam, mais e mais distante ficava dela. Isso por que, a festa estava chegando ao fim, e apesar de terem dançado juntos durante boa parte da noite, o rapaz pouco sabia a respeito da moça. 
Mas o pouco que sabia era suficiente para ele. Isso por que, acreditava que com o passar do tempo, acabaria por conhecer melhor a moça. 
Não obstante a animação de Marcos em relação a Érica, a moça, sem nenhum motivo aparente, depois do término da execução da música, pediu para ele levá-la até o jardim do salão.
Nisso Marcos, mesmo sem entender bem o motivo do estranho pedido, atendeu a moça. Assim, conduziu-a até o jardim. 
Lá, Érica, preocupada, sentou-se em um dos inúmeros bancos que havia no jardim. Triste, ficou pensativa. Por alguns minutos, ficou calada, tendo por única distração, as magníficas esculturas do jardim. 
Contudo, foi só a banda tocar uma última música, para Érica se movimentar, e, abandonando sua letargia, pedir para o rapaz acompanhá-la em mais uma dança. A última segundo ela.
Marcos, aceitou o convite, e assim, enquanto tocava ‘Tanto Amar’, cantada por Ney Matogrosso, os dois dançaram abraçados:

‘Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita ...
Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E o outro olho a me arregalar
Sua pepita ...

A metade do seu olhar
Tá chamando pra luta aflita
E metade quer madrugar
Na Bodeguita ...

Tem um olho sempre a boiar
Outro que agita...
... Já pensamos em nos casar
Em Puerto Rico ...’
(Tanto Amar – Ney Matogrosso)

Com isso, Érica, repentinamente, desvencilhou-se dos braços de Marcos, e saiu correndo salão adentro. 
Foi assim, sem nem ao menos se despedir, que a moça partiu. Porém, em razão da pressa que tivera, deixou no chão, um pequeno objeto, uma delicada rosa que adornara suas negras madeixas.
Marcos, ao se ver sozinho no jardim, pensou em ir atrás dela. Contudo, ao perceber que ela deixara cair um mimoso pertence, se deteve por um instante. Abaixou-se e pegou o delicado mimo. Com isso ao segurar a rosa nas mãos, deu-se conta de que talvez não a encontrasse mais no salão. 
Todavia, desejoso de saber como fazer para encontrar a moça, Marcos foi logo perguntando a Melissa, se ela havia visto Érica, passar por ela. 
Melissa, ao ouvir a pergunta, respondeu o seguinte:
-- Olha Marcos, muito estranha essa garota. Primeiro se enturma com a gente, depois sai correndo do nada, atravessa o salão e nem cumprimenta a gente? Muito estranho. A menos que vocês tenham brigado... Foi isso o que aconteceu? 
Marcos, então balançou negativamente a cabeça. 
Melissa não entendeu nada.
Marcos explicou-lhe então, que também não sabia o que estava acontecendo. Porém, desconfiado de que poderia ser que ela estivesse se escondendo de alguém, Marcos prometeu que iria tentar descobrir o que havia acontecido.
Melissa, que havia estranhado o comportamento da moça, comentou com o amigo, que ele deveria ter cuidado para não se meter em encrenca.
Marcos, percebendo a apreensão da amiga, prometeu que não envolveria em nenhuma confusão.
Melissa porém, desconfiada, comentou:
-- Olha lá, heim? Eu não quero ver você arrasado de novo.
-- Prometo. Eu não vou me envolver com ela sem ter a certeza de que ela é a pessoa certa. Está bem?
Melissa concordou. Nisso, ao perceber o adiantado da hora, a moça comentou que já era hora de estar em casa, dormindo o sono dos justos. 
Marcos concordou. Afinal de contas, a essa altura, até a banda que tocara na festa já não estava mais no salão. Ademais, todos os convidados, já haviam voltado para suas casas, assim como Pedro, Marcelo, Manoel, Fábio, Ricardo e Flávio. 
Diante disso, os dois trataram de ir para suas casas. Felizes, estavam deveras satisfeitos com o sucesso da festa. 
Nisso, Marcos, ao chegar em casa, tratou logo de ir para seu quarto. Lá ligou o rádio, e ficou a ouvir o ‘Trem Azul’, na versão gravada pela inesquecível Elis Regina:
 
‘Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito por dizer
Na canção do vento, não se cansam de voar

Você pega o trem azul
O sol na cabeça
O sol pega o trem azul
Você na cabeça
O sol na cabeça ...’ 
(Trem Azul – Elis Regina)

Enquanto isso, o rapaz aproveitou para trocar de roupa. Assim, a bela farda – traje usado na festa – foi cuidadosamente pendurado num cabide e guardado dentro do armário. Após, o rapaz, quando estava se preparando para dormir, ouviu mais uma bela música:

‘Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos...
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou...

Juntos outra vez
Já sonhamos muito
Semeando as canções no vento...

Já choramos muito
Muitos se perderam
No caminho
Mesmo assim não inventar
Uma nova canção
Que venha trazer
Sol de primavera

Abrir a janela 
Do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender...’ 
(Sol de Primavera – Beto Guedes)

Por fim, quando já estava quase dormindo, ouviu ‘O mundo é um moinho’ – composição de Cartola –, na voz magnífica de Cazuza:

'... Ouça-me bem amor
Mal começaste 
A conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Em pouco tempo 
Não serás mais o que és...

Ouça-me bem amor
Preste atenção
O mundo é um moinho
Vai triturar seus sonhos
Tão mesquinhos
Vai reduzir suas ilusões a pó...

Abismo que cavaste
Com teus pés...’ 
( O Mundo é um Moinho – Cazuza )

Pronto, o noite estava coroada. 
Algumas das melhores músicas já compostas, foram tocadas naquele dia, especialmente para aqueles jovens. Tudo para que eles pudessem desfrutar da companhia uns dos outros, e perceber que a beleza de um grande evento, não se faz com uma bela decoração ou com muita gente. Um belo momento, se faz com pessoas e com acontecimentos inesquecíveis. Foi isso que se deu naquela linda festa. As canções só serviram para coroar de esplendor, o que por si só, já era magnífico. A amizade de todos aqueles jovens, que adoravam a companhia uns dos outros. 
Essa era a grande festa!
E infelizmente, era dessa grande festa que todos tinham que se despedir. 
Na segunda feira, quando se deu início a mais uma semana de aulas, não se falava em outra coisa na escola. 
Os estudantes, animados com o baile, não se cansavam de elogiar a iniciativa de toda aquela turminha do ‘Clube da Esquina’. Felizes, os participantes, comentavam que queriam convites para as próximas festas.
Com isso, quem não comprou os convites e não pôde participar, ao saber que a festa tinha sido tão boa, comentou com os organizadores do baile, que na próxima festa, todos os alunos tinham que estar presentes. 
Melissa, Manoel e Flávio, concordaram. E assim, os três jovens prometeram, que não se furtariam de convidar ninguém para a próxima festividade.
Com isso, enquanto as aulas, trabalhos e provas eram marcados, os oito jovens, aproveitavam para se reunirem todas as tardes na casa da árvore. Lá mesmo, no parque, estudavam juntos e planejavam a nova festa. 
E assim, percebendo eles, que não seria difícil vender ingressos para as próximas celebrações, começaram a pensar em uma nova festa. 
Animados, todos davam sugestões.
Marcos no entanto, a despeito da animação de seus amigos, não se cansava de lembrar de Érica. Sem entender por que ela havia saído intempestivamente do salão, tentou durante toda a manhã, encontrá-la na escola, inutilmente.
Melissa, percebendo o desânimo do amigo, comentou que ele não tinha ficar daquele jeito por causa de uma garota que ele mal conhecia.
Marcos contudo, dizia que não era simplesmente um sentimento de pesar. Sentindo que ela estava precisando de sua ajuda o rapaz comentou com Melissa, que não podia desistir de encontrá-la, ao menos para entender o que estava acontecendo. 
Melissa então respondeu-lhe, que quando desanuviassem seus pensamentos podia integrar o grupo e também sugerir idéias para o próximo baile.
Marcos, agradeceu a gentileza, mas não conversou com o grupo. Estava amuado. E ele, quando ficava assim, preferia ficar sozinho.
Assim o fez. Em dado momento, cansado de ficar na casa da árvore, Marcos desceu, e começou a caminhar pelo parque. 
A essa hora, a tarde já se ia e a noite, começava a dar os primeiros sinais de sua presença. Todavia, o colorido do final da tarde, atraía Marcos para um passeio, e apesar do frio que fazia, ele continuou a caminhar.
A beleza do lusco-fusco vespertino o encantava. Ver o sol em diversos tons se despedindo da tarde, deixava-o emocionado. Tanto que foi assim que ficou pensando, pensando, até chegar a uma conclusão. Se desejava tanto encontrar-se novamente com Érica, devia se empenhar mais em organizar a próxima festa. Quem sabe lá novamente aparecesse? Isso por que, não podia desistir, pois precisava continuar procurando-a. 
E assim, novamente motivado, o rapaz voltou para casa. No dia seguinte na escola, conversaria com os amigos, e participaria da organização da próxima festa. 
Dito e feito. No dia seguinte, na escola, conversando com os amigos, Marcos sugeriu que o baile se realizasse no mesmo salão. 
Ricardo, achando que talvez não coubesse todo mundo, sugeriu que a festa se realizasse ao ar livre.
Manoel e Fábio, ao ouvirem a sugestão de Ricardo, rejeitaram logo a idéia. Argumentando que caso chovesse, a festa acabava, acabaram convencendo-o a abandonar a idéia.
Melissa, ao perceber o impasse, concordou com Marcos. Sim, o baile poderia perfeitamente ser realizado no mesmo lugar. 
Contudo, o fato de que possivelmente haveria mais gente participando da festa, atrapalhava um pouco os planos.
A moça, então, pensando em uma solução, sugeriu o aluguel de um outro salão, que ficava ao lado daquele e que estava fechado.
Pedro, Marcelo e Manoel, ao ouvirem a sugestão de Melissa, comentaram que não sabiam quem era o dono do imóvel.
Ricardo então, comentando que conhecia o dono, prometeu que conversaria com ele o mais rápido possível para acertar tudo.
Enquanto isso, a turma continuou se reunindo para discutir detalhes da festa, estudar, fazer os trabalhos e também para conversar.
É, o ano estava sendo bastante movimentado para eles. 
Certa vez, Ricardo e Flávio, comentando que nunca tiveram tanto o que fazer, alegaram que ainda assim, sentiriam saudades daquelas tardes. 
Isso por que, conforme os meses se sucediam, mais o fim do ano se aproximava. Enfim, estava se aproximando o momento da despedida. 
Marcos, Melissa, Manoel, Marcelo, Fábio, Flávio, Pedro e Ricardo, ao se darem conta disso, ficavam pesarosos. 
Mal sabiam eles, que o melhor de tudo, ainda estava por vir.
Isso por que, Ricardo, ao conseguir convencer o dono do imóvel a alugar o espaço para uma festa, foi logo chamando os amigos para conhecerem o lugar.
Marcos, foi quem abriu as portas do imóvel e chamou todos para entrar. 
Ao entrar, qual não foi a surpresa de todos ao descobrirem que o imóvel precisava de reparos. 
Decepcionados, os jovens quase desistiram de fazer a festa lá. 
Pedro no entanto, ao perceber que tudo poderia ir por água abaixo, sugeriu eles cuidassem das instalações do lugar.
Manoel ficou espantando. Dizendo que não era eletricista nem pintor, comentou que mesmo que quisesse, não saberia o que fazer para transformar aquele ambiente em um lugar adequado para se organizar uma festa. Ademais, a responsabilidade pela conservação do imóvel, cabia ao dono da propriedade e não a eles.
Melissa, ao ouvir as palavras de Manoel, concordou com ele.
Ricardo então, percebendo a dificuldade, sugeriu aos amigos conversar com o dono e propor a ele, que fizesse os reparos necessários. Com isso, ele faria jus a uma percentagem no valor dos convites.
Ao obter o consentimento de todos os membros do ‘Clube da Esquina’, o rapaz então foi conversar com o dono do imóvel.
Nisso, o proprietário, ao ouvir a oferta, resistiu um pouco. Mas, ao perceber que se não fizesse os reparos necessários, não alugaria o imóvel, acabou concordando em arcar com os gastos desde que recebesse o combinado.
Por conta desse percalço, levou meses para que o salão ficasse pronto para a festa. 
Enquanto isso, os garotos faziam provas, estudavam, redigiam trabalhos e prosseguiam em suas tardes no parque, muitas vezes admirando o belo pôr-do-sol que fazia lá. 
Foi assim que finalmente Marcos encontrou Érica. 
Depois de vários meses procurando-a pelos corredores da escola, finalmente o rapaz a encontrou indo para sua sala. Feliz, Marcos foi logo puxando conversa com a moça. 
Érica no entanto, não foi nada cortês com ele. Dizendo que estava com pressa, pediu insistentemente para deixá-la ir. 
Contudo, mesmo diante dos protestos da moça, Marcos continuou insistindo em conversar com ela. Dizendo que não sairia dali enquanto ela não prometesse falar com ele, o rapaz acabou convencendo-a a ir à tarde até o parque.
Após, Érica adentrou a sala de aula.
Com isso, na hora combinada, lá estava ele, aguardando Érica. Ansioso, Marcos acabou chegando quase uma hora antes do combinado.
Érica contudo, não foi nem um pouco pontual. Diante disso, somente meia-hora depois do combinado, é que ela finalmente conseguiu chegar no parque. 
Marcos ao vê-la, ficou extremamente feliz. Tão feliz que chegou até a comentar:
-- Que bom! Alvissaras! Pensei que não viesse mais.
A moça se desculpou. Constrangida com o atraso, comentou que não fora nada fácil driblar a vigilância de seu pai, para que pudesse sair. 
Marcos, notando um pouco de apreensão no semblante da moça, perguntou-lhe por que ela havia fugido dele durante o baile, e por que o evitara durante todo esse tempo. 
Ao ouvir as perguntas, Érica respondeu  que não queria tocar no assunto. 
Contudo, Marcos insistia em dizer que tinha direito a uma explicação. 
Assim, diante das circunstâncias, a moça encheu-se de coragem e começou a contar o que tinha se sucedido. 
Alegando que uma pessoa a estava seguindo, Érica explicou que precisou sair do baile por que estava com medo de que esta se aproximasse, e causasse confusão. 
Marcos não entendeu nada.
Érica contou então, que há algum tempo atrás, havia namorado um rapaz. No entanto, o namoro não deu certo. Em razão do comportamento do rapaz, ela acabou se aborrecendo com ele e terminou o namoro. 
O rapaz no entanto, não aceitou tranqüilamente o rompimento. Dizendo que cabia a ele tomar a iniciativa do rompimento, comentou que ela ainda iria se arrepender por isto. 
E a partir de então, este se tornou uma sombra em sua vida. Em todos os lugares que ela ía, lá estava ele a cercando. Ela já não sabia mais o que fazer. 
Isso por que, durante o baile, o mesmo não parava de olhar para ela. Por esta razão, resolvera ficar no jardim. Lá ela conseguiu ficar um pouco sossegada.
Nisso, Marcos comentou:
-- Foi no jardim que nós nos conhecemos.
Érica explicou então:
-- Sim. Dançamos a noite inteira. Foi muito bom.
-- Mas se você gostou da minha companhia, por que não pediu minha ajuda?
A moça respondeu:
-- Por que eu tinha quase certeza de que se você interviesse para me ajudar, acabaria acontecendo uma confusão e isso estragaria a festa.
-- Eu entendo. Mas tem uma coisa. A festa estava praticamente acabando. Quase não havia mais gente no salão. – retrucou.
-- Eu sei. Mas mesmo assim, se vocês brigassem, mesmo não tendo quase ninguém na festa, no dia seguinte, todos saberiam do ocorrido. Com isso, a festa deixaria de ser o assunto principal, e a briga seria alvo de comentários. O que prejudicaria vocês, que cuidaram de tudo com tanto esmero.
Marcos então, mesmo aceitando as explicações da moça, não conseguia entender por que ela o evitava. Mesmo sabendo de sua história mal resolvida com o ex-namorado, Marcos não conseguia entender o por que de sua atitude. 
Érica então completou:
-- Olha, Marcos, eu sei que é difícil acreditar em tudo o que eu estou falando. Mas creia, é a mais profunda verdade. Eu ainda não consegui me livrar dele, e enquanto ele estiver na minha cola, eu não quero envolver mais ninguém nessa confusão.
Marcos, ao ver o ar de preocupação de Érica, perguntou-lhe se ele a havia ameaçado. Érica, ao ouvir isso, ficou bastante nervosa. 
Marcos percebendo isso, perguntou-lhe novamente se ele a havia ameaçado. 
Érica, ao ser inquirida novamente, respondeu:
-- Nã... nã... não. – respondeu titubeando.
Marcos porém, não se convenceu da resposta.
Conversando longamente com a moça, Marcos pediu reiteradas vezes, para que ela deixasse de ter medo do ex-namorado e passasse a ter mais confiança nele. Dizendo que ela não tinha do que ter medo, Marcos prometeu que sempre estaria presente, quando ela precisasse.
Érica ao ouvir isso, começou a rir gostosamente.
O rapaz, percebendo isso, passou a dizer, em tom de brincadeira:
-- Do que você está rindo? Não está vendo minha capa de cavaleiro andante? Pois saiba que eu sou um nobre príncipe, que está há muito tempo em busca de uma princesa. E em busca de uma mulher que transforme minha vida, atravessei vales e montanhas. Tudo em busca dessa pessoa radiosa.
Érica não se cansava de rir. 
Marcos, percebendo isso, respondeu que desde que a conhecera, percebeu que ela era a pessoa certa para ele, e que sendo assim, se nada os impedia de ficarem juntos. Se ela era livre e desimpedida, não seria um ex-namorado que iria atrapalhá-los. Comentou.
Érica, ao ouvir as palavras confiantes de Marcos, sentindo-se insegura ainda, comentou que não queria criar nenhuma confusão. 
O rapaz disse a ela para que deixasse de bobagem. 
E assim, os dois começaram a namorar. Felizes, os dois desfilavam pela escola inteira juntos.
Quem não gostou nada disso, foi o referido ex, que sem se conformar com o término do namoro, não se cansava de persegui-la. Certa vez, chegou ao cúmulo de dizer, que se ela voltasse para ele, nunca mais teria motivos para terminar o namoro novamente. 
Érica no entanto, dizendo que estava muito bem com seu novo namorado, comentou que não estava nem um pouco interessada nisso.
O rapaz, ao ouvir isso, se irritou. Segurando-a pelo braço, ameaçou dizendo que ela tinha que voltar a namorá-lo. 
Pedro, amigo de Marcos, vendo que a moça precisava de ajuda, foi se aproximando. O rapaz, percebendo isso, tratou logo de sair dali.
Pedro, revoltado, comentou com a moça:
-- Mas é um belo de um covarde! Na hora em que está diante de você, é um valentão. Na hora de enfrentar um homem, foge como um rato.
Irritado, Pedro chegou a comentar com a moça, que contaria ao amigo o que estava acontecendo. 
Érica, ao perceber isso, fez de tudo para demovê-lo da idéia, mas ele, argumentando que precisava contar ao amigo o que estava acontecendo, comentou que não podia esconder dele, algo tão grave.
A moça então, percebendo que seria inevitável Marcos vir a saber do incidente, pediu a Pedro, que tivesse tato no momento em que fosse tocar no assunto. 
Pedro então, prometeu a Érica, que teria cuidado em revelar o ocorrido. 
Assim o fez. 
Mesmo assim, Marcos, ao saber do ocorrido, ficou profundamente irritado. 
Pedro, percebendo isso, comentou que o sujeitinho merecia uma lição. 
Marcos concordou.
Com isso, os dois prometeram que na primeira oportunidade que tivessem, chamariam o ex-namorado de Érica as falas. 
Nisso, quando o rapaz foi se aproximar da moça, certa vez, sem que ela percebesse, Marcos, o chamou. Dizendo que precisava conversar com ele, foi logo puxando-o pelo braço até sair do campo de visão de Érica, que a esta hora, entrava na sala de aula.
Contudo, enquanto Marcos o arrastava para longe da escola, o rapaz tentava sair de fininho. Marcos percebendo isso, o segurava com mais força. E assim só o soltou quanto os dois chegaram no local combinado. Nisso o rapaz tentou ir embora. Mas ao tentar sair, deu de cara com Pedro.
O percebendo isso, o rapaz constatou, que Marcos queria acertar as contas com ele.
Dito e feito. Marcos e Pedro então, trataram logo de lhe dar um susto. Dizendo que estavam de olho nele, prometeram que da próxima vez que o pegassem azucrinando a paciência de Érica, arrebentariam ele de pancada.
Depois disso, o sujeito nunca mais foi aborrecer a moça.
Assim, com tudo entrando nos eixos, foi se aproximando o momento do baile de formatura. 
Com o imóvel pronto, com o salão alugado, comes e bebes providenciados, banda contratada, só faltava escolher o tema da festa.
Ademais, como o fim de ano se aproximava, a turma resolveu esperar o término das aulas, para finalmente dar a festa.
Enquanto isso, todo mundo cobrava a festa. Eles por sua vez, diziam que o baile agora, era de formatura.
Diante disso, pais e professores foram convidados. Os familiares também. 
Com isso, a festa tornou-se grandiosa. 
Cheios de expectativa, os alunos que não participaram do primeiro baile, trataram logo de comprar os convites, que foram vendidos meses antes da festa.
Nisso, uma semana antes do baile, foi feito um coquetel, para acalmar um pouco os alunos impacientes – ansiosos com o baile –, e realizar as cerimônias de praxe. 
No coquetel, os estudantes conversaram, bebericaram  e se divertiram. 
Foi nesse evento que os amigos, já formados, foram pegar seus diplomas de conclusão de curso. 
Muitos pais, orgulhosos de seus filhos, não paravam de tirar fotos dos mesmos indo até o palco buscarem seus diplomas.
Durante cerimônia de colação de grau, todos estavam usando suas becas e seus chapéus.
No momento em que os professores desejaram a todos que se divertissem no baile, os parabenizando por terem terminado o colegial, os estudantes pegaram seus chapéus e os lançaram para o ar. 
Depois, aplaudindo o discurso, deram encerramento a cerimônia de colação de grau.
A seguir, tirando suas becas, os estudantes foram se esbaldar com o coquetel.
Contudo, o coquetel não era um baile. Diante disso, quando finalmente o grande momento chegou, estavam todos animados.
Ao adentrarem o salão, os oito integrantes do ‘Clube da Esquina’, foram aplaudidos de pé, por todos os convidados da festa, que já estavam presentes. 
Emocionados, os jovens agradeceram e mais do que depressa deram início a festa. 
Quando começou a tocar ‘Quando Te Vi’, entoada na voz de Beto Guedes, Marcos foi logo convidando Érica para dançar com ele.
A moça, relutou um pouco, mais depois, acabou aceitando o convite para dançar. E assim:

‘Nem o sol, nem o mar
Nem o brilho das estrelas
Tudo isso não tem valor
Sem ter você

Sem você 
Nem o som 
Da mais linda melodia
Nem os versos dessa canção
Irão valer

Nem o perfume
De todas as rosas 
É igual
A doce presença
Do seu amor... 
Quando te vi.’ 
(Quando Te Vi – Bete Guedes)

Melissa dançando com o seu par, não ficou nem um minuto parada.
Pedro, Marcelo, Manoel, Fábio, Ricardo e Flávio, que também não eram bobos, trataram logo de arranjar alguém para dançar.
A noite foi dos casais. 
Por isso mesmo, era um tal de dançar coladinho que marcou para sempre aquela festa. 
Embalados com as músicas e sequiosos de dançarem com seus pares, boa parte dos alunos, dançou a noite inteira.

‘Ó meu grande bem
Só vejo pistas falsas
Muda seu véu

Cada estrada aberta
Me tem mais fechado em mim...

Peço o luar, ao mesmo tempo
Luz e mistério 
Como encontrar
A chave desse teu riso sério...’
(Beto Guedes)

Enfim, um grande momento na vida de todos aqueles jovens.
O baile foi realmente, um evento inesquecível.
Durante muito tempo, aquelas moças e rapazes se lembrariam com prazer dos risos, do som, do sabor dos comes e bebes e até da roupa dos parceiros, naquele imenso salão de dança que fora o baile.
O baile de suas vidas.
Antes porém, de cada um seguir com sua vida em uma cidade diferente, Ricardo, Flávio, Fábio, Manoel, Marcelo, Pedro, Melissa, Marcos, e agora Érica, foram se encontrar no parque. Desejando se despedir antes de partirem, os nove amigos foram se encontrar, no grande lugar onde se desenrolara boa parte de suas vidas.
Os jovens, estavam tão tristes por saberem que aquele era seu último momento juntos, que desejavam aproveitá-lo mesmo envolto em muita tristeza.
Nessa aura de tristeza e de saudade antecipada é que os amigos se despediram.
Nisso, um carro de propaganda passou dentro do parque. Tocando ‘Canção da América’, os jovens ouviram atentamente a música:

‘Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção
Que na América ouvi

Mas quem cantava chorou 
Ao ver seu amigo partir
Mas o que ficou 
O pensamento voou
Com a lembrança 
Que o outro cantou

Amigo é coisa pra se guardar
Do lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo 
E a distância 
Digam não
Mesmo esquecendo a canção

E o que importa 
É ouvir a voz 
Que vem do coração
Seja o que quiser
Venha o que vier
Qualquer dia amigo 
Eu volto a te encontrar
Qualquer amigo a gente
Vai se encontrar...’
(Milton Nascimento – Canção da América)

Emocionados, ao terminarem de ouvir a música, os jovens não conseguiam se afastar uns dos outros.
Mas infelizmente tinham que fazê-lo. Era chegado o momento da partida. E assim, cada um seguiu para um lado. 
Todos construíram suas vidas em diferentes lugares.
Seus pais, permaneceram na cidade. Mas eles, muitos deles. Nunca mais voltaram.
Contudo, nenhum deles se esqueceu dos amigos que por lá deixou.
E hoje, mesmo com suas vidas construídas em outros lugares, a maioria, casada e com filhos, ainda guarda as vívidas lembranças do baile, que perfumado de rosas, ainda exala o doce perfume de suas vidas, em suas mais cálidas lembranças. Em suas tristezas. Em suas saudades.
Saudades de um tempo que passou e não volta mais.
Agora as músicas que tocam em seus corações são outras.
Mesmo assim, eles guardam com alegria os doces momentos da juventude:

‘...Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda a vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão

Ele fala de coisas bonitas
Que eu acredito 
Que não deixaram de existir
Amizade, bondade, coragem
Alegria e amor

Pois não aceitar ...
Essa gente
Insiste em viver ....
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem 
Ser coisa normal

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente 
Lá no meu quintal
Toda a vez que a tristeza 
Me alcança o menino 
Me dá a mão...

Bola de meia, bola de gude
O solitário não quer solidão 
Toda vez  que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão...’
(Bola de meia, bola de gude)

É assim que todos se lembram com carinho, dos tempos de estudante.

‘Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania ...

Por que se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem

Em meio a tantos gases lacrimogêneos
Ficam calmos, calmos
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
E basta conta consigo
Que a chama não tem pavio

De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio
E lá se vai mais um dia

Um rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio

Esquina de um milhão
Quero ver a gente, gente, gente
E lá se vai mais um dia
(Clube da Esquina 2  –  Flávio Venturini)

E assim termina nossa história. 
A história de amor e amizade de um grupo de jovens, que soube viver esse sentimento em toda sua plenitude. E em todo o seu esplendor.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria. 

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 9

Laura então, ao perceber que Angela não havia contado nada sobre ela para a garota, ficou profundamente desapontada.
A mulher, ao contar a Benedita, o que estava acontecendo, ouviu da amiga, o seguinte:
-- Minha cara. Mas o que você esperava? Afinal de contas não foi você mesma que disse que Angela adotou a menina? Você realmente achou em algum momento, que ao tomar essa atitude, ela iria revelar sua existência à Cláudia?
Laura, respondeu então, que não. Porém, acreditava que ao ser apresentada para a menina, as coisas mudariam de figura. Talvez a garota passasse a gostar dela, e aí as coisas se tornariam mais fáceis. Isso por que, ela tinha um emprego estável, uma casa montada e uma vida organizada. Enfim, tudo o que acreditava ser necessário para cuidar de uma criança.
Mas não era bem assim.
Depois do encontro inesperado com Laura no parque, Angela nunca mais levou Cláudia para lá. Ressabiada, não queria correr o risco de encontrar novamente com a irmã. Isso por que Angela, temia que mais cedo ou mais tarde, Laura pusesse a boca no mundo, e contasse a menina que ela não era sua verdadeira mãe.
Com isso, toda vez que Laura ia ao parque, nada de encontrar as duas. Ao perceber isso, tentou diversas vezes ir ao apartamento da irmã. Contudo sem lograr êxito em seu intento.
Decepcionada e preocupada, Laura não sabia mais o que fazer para se aproximar da filha. Isso por que, cada minuto que ela continuava longe da menina, só contribuía para afastá-las ainda mais.
Mas Laura era obstinada. E assim, durante muito tempo, tentando se aproximar da Cláudia, ficou a fazer plantão próxima do prédio, sempre aguardando uma oportunidade de se aproximar e dizer a ela que era sua mãe.
Mas nunca conseguia, pois Angela, ressabiada, sempre que precisava sair com a garota, não desgrudava nem um minuto dela. Era um inferno. Na única vez que Laura conseguiu conversar um pouco com a menina, Angela surgiu furiosa, dizendo que se ela se aproximasse de novo de Cláudia, a mandaria direto para a cadeia.
Cláudia, ao ouvir isso, ficou assustada. Perguntando a Angela se Laura havia sido presa, a mulher disse que sim.
Angela então, percebendo o temor da garota, aconselhou-a então, a entrar no prédio e aguardá-la na entrada.
Cláudia atendeu prontamente o pedido de Angela.
E estando a sós com a irmã, Angela advertiu Laura que ela estava pisando em terreno perigoso. Se não tomasse cuidado, poderia voltar o quanto antes para a prisão.
Laura então comentou que não tinha como ela voltar para a prisão.
Angela contudo, ameaçando-a, disse que tinha conhecidos na polícia e que com apenas um telefonema, podia mudar toda sua situação.
Laura ao ouvir isso, não se intimidou nem um pouco.
Angela, então, comentou que conhecia sua situação.
Laura ao ouvir a irmã falando que sua liberdade era condicional, ficou deveras preocupada. Sim, por que se Angela sabia daquele detalhe, era por que devia amigos da polícia como ela mesma havia dito. Percebendo que Angela estava controlando a situação, Laura perguntou-lhe então, o que ela queria.
Angela respondeu:
-- Quero que você se afaste de Cláudia. Durante todos esses anos, a menina nunca precisou de você. Por que justamente agora precisaria?
Laura tentou argumentar. Mas que argumentos tinha? Nem mesmo tinha poder sobre sua filha, já que quem tinha a guarda e poder sobre ela era Angela. Diante disso só restou a moça, aceitar a imposição da irmã e ir embora.
Com isso, temendo as ameaças da irmã, durante algum tempo Laura não chegou nem perto do prédio onde as duas moravam.
Contudo, cansada de ameaças, quando finalmente tomou coragem para voltar a olhar a menina de longe – após algum tempo –, Laura descobriu que as duas haviam se mudado dali. Ao inquirir o porteiro para saber onde as duas estavam, o mesmo respondeu que não fazia menor idéia.
Laura então, ao descobrir que poderia nunca mais colocar seus olhos sobre sua filha, entrou em desespero. Acreditando que havia perdido definitivamente qualquer possibilidade de ter sua filha de volta, começou a chorar no ombro de Benê, sua fiel amiga.
E, tentando consolá-la, Benê começou a dizer que nem tudo estava perdido. Certamente ela acabaria encontrando-as.
Mas Laura não acreditava nisso. Temendo que nunca mais as encontrasse, a mulher ficou por dias a fio, triste e acabrunhada. Não havia o que a fazia se esquecer disso.
Porém, como não podia mais contar com isso, Laura, percebeu que não podia ficar o tempo todo se lamentando. Como tinha que cuidar de sua vida, ela passou a dedicar-se exclusivamente ao trabalho.
Benê, percebendo isso, alertou a amiga. Dizendo que ela não podia fazer do seu trabalho sua única fonte de motivação, comentou com ela que as duas eram ainda muito novas para se enterrarem numa vida sem lazer nem diversão.
Laura, ao ouvir as palavras da amiga, comentou:
-- Quem te viu e quem vê. Quem te conheceu há dez anos atrás, jamais pensaria que um dia você gostaria tanto da noite.
Benedita contou então a amiga, que desde que passara a acompanhá-la em suas agitações noturnas, passou a se interessar cada vez mais pela noite. Assim, mesmo depois de ter cortado relações com ela, Benedita passou a aproveitar cada vez mais a noite.
Laura ficou surpresa ao ouvir isso.
Porém, uma coisa Laura tinha que admitir. Desde que voltou a conversar com a amiga, Benê estava muito diferente. Mais vaidosa, estava mais bonita e até mais afável.
Compreensiva, ao se deparar com Laura e ao tomar conhecimento de sua situação, prontamente a recebeu em sua casa. Atenta, ouviu tudo o que ela tinha a dizer. Percebendo então, que não estivera presente no momento em que Laura mais precisou dela, Benê se sentiu muito culpada.
Laura percebendo isso, comentou que ela não tinha nada que se sentir culpada. Como sempre dissera, Rafael não era uma boa pessoa e só ela não via isso. Até Angela não simpatizara com o rapaz. Sem nem mesmo conhecê-lo, Angela já o abominava. Além disso, ela nunca contou a amiga o que verdadeiramente se passava.
Benedita então, argumentou:
-- Mas eu também não dei nenhuma possibilidade de aproximação. Depois do que eu te disse, você não tinha nem como se aproximar.
Laura então comentou, que sabia que o que ela havia dito, tinha sido da boca para fora.
Benedita então respondeu, que se ela a tivesse ajudado, não precisaria estar passando por tudo o que estava passando.
Laura, ao ouvir as palavras da amiga, caiu no choro. Ao se lembrar da filha, ficou deveras triste. Mesmo já se conformando com o fato de que havia perdido Cláudia para sempre, toda vez que se lembrava que a menina estava longe, esse fato lhe causava um profundo pesar.
Benedita, então, vendo a tristeza da amiga, fazia de tudo para consolá-la. Levava-a para passear, apresentava-a a seus amigos, sugeria que ela voltasse a estudar. Tudo com vistas a fazer com que ela se interessasse de novo pela vida.
Mas nada.
Foi só quando surgiu a Era Disco, que Benedita, animada com a novidade, insistindo para que a amiga fosse com ela pelo menos uma vez para ver como era uma discoteca, é que Laura, cansada de dizer sempre não a amiga, acabou saindo com ela.
Usando calça boca-de-sino, sandália plataforma, e uma blusa colorida, Laura se encantou com as músicas e com as luzes coloridas. Deslumbrada com o cenário, tratou logo de aprender alguns passos da nova dança.
Ao final da noite, animada com a novidade, Laura prometeu a amiga, que sairia mais vezes. Encantada com tudo, Laura aprendeu mais do que depressa, a dançar aquelas músicas. Benê, percebendo o empenho da amiga, chegou até a elogiá-la.
Feliz por ver a amiga bem de novo, Benedita não cabia em si de contente. Para ajudar, havia arrumado um namorado, o qual já vinha falando em casamento.
Laura, ao saber disso, ficou feliz. Feliz por a amiga ter finalmente encontrado alguém que a merecesse.
Benê, animada, comentou com Laura, que ela também encontraria alguém.
Nesse tempo, Cláudia, já mais crescida, era agora uma mocinha. Com quatorze anos, fazia parte de um grupo. Rebelde como toda adolescente, ao saber da nova moda, começou a insistir com Angela para ir dançar a noite. Mas Angela, resistia a novidade.
Cláudia, percebendo então, que não seria nada fácil convencer a sua mãe a deixá-la sair a noite, resolveu combinar com sua turma, para irem todos juntos. Acreditando que assim ela não teria como vetar sua saída, a garota empenhou-se para conseguir a adesão de todos. E assim, ao conseguir mobilizar todos os seus colegas, contou a Angela, que ela não iria sozinha.
Angela então, comentou que esse não era o problema.
Cláudia então lhe perguntou, qual era a questão.
Foi aí que Angela lhe explicou que nesses lugares, só entram pessoas maiores de idade.
Cláudia, ao ouvir isso, respondeu a mãe, que ao contrário do que ela pensava, havia horários para que pessoas como ela freqüentassem as discotecas.
Angela ficou desconfiada.
Cláudia então explicou, que um dos donos dessas discotecas, era pai de um de seus colegas. Assim, se eles conseguissem formar uma grande turma, eles poderiam arrumar um horário e ter o lugar só para eles.
Angela, ao ouvir as explicações da menina, não muito convencida disso, resolveu telefonar para o tal pai do amigo. Ao fazer a ligação, a mulher acabou descobrindo que aquilo tudo era verdade. Diante disso, Angela não tinha mais como discordar. E assim, acabou concordando, e deixando a menina sair à noite.
Foi assim que Cláudia e seus amigos, se esbaldaram em uma discoteca. Animados, dançaram até a manhã. Só saíram do local, por que foram convidados a se retirarem. Animados, combinaram diversas vezes fazer isso.
E assim, Cláudia começou a dançar dance. Ficou tão boa nisso, que chegava até a ensinar para seus amigos mais desajeitados.
Como freqüentadora assídua, Cláudia passou a ser alvo de alguns olhares. Mas a moça, distraída que era, nem sequer percebia.
Laura, que também passou a freqüentar com uma certa freqüência esses lugares, ao ver aquela menina dançando tão bem quanto ela, chegou a ficar impressionada. Perguntando aos amigos da garota, quem era aquela menina e o que ela estava fazendo lá, Laura descobriu que ela se chamava Cláudia.
Ao ouvir o nome, Laura ficou surpresa. Contudo, mesmo acreditando se tratar de uma simples coincidência, ainda assim, resolveu conhecer a história até o final. Foi assim que ela ficou sabendo que a menina de vez em quando, era convidada juntamente com seus amigos, pelo dono do estabelecimento, a ficar por ali a noite. Sob os cuidados dos seguranças, os menores não podiam tomar bebidas alcoólicas, nem aceitar drogas.
Laura, ao saber do trato que o dono da discoteca fizera com os menores, ficou tranqüila. Isso por que, apesar de saber que aquele ambiente era extremamente pernicioso para pessoas tão jovens, descobriu que estas estavam sendo observadas com atenção.
Foi assim que os amigos de Laura, conheceram Cláudia. Estes ao saberem que ela havia aprendido a dançar sozinha, comentaram com Laura que a menina era muito dedicada.
No tocante a isso, Laura ficou intrigada. Como eles sabiam tanto sobre a garota?
Foi aí que ela descobriu que como boa dançarina, a moça acabou atraindo a atenção de muita gente. Exatamente por isso, seus amigos descobriram tanto sobre a moça. Perguntando aos amigos da garota sobre ela, descobriram esses detalhes. Além disso, a própria Cláudia já havia conversado com eles.
Laura, curiosa, resolveu então também se aproximar da moça.
Assim, como quem não queria nada, ao ver Cláudia um breve instante sozinha, Laura resolveu conversar com ela.
Nisso Cláudia, foi extremamente receptiva com ela. Sem se lembrar do episódio do parque e do prédio, a moça conversou abertamente com Laura. Dizendo que adorava dançar, contou que antes mesmo de poder freqüentar um lugar daqueles, já havia aprendido a dançar. Tudo para não fazer feio na pista de dança. Além disso, adorava os filmes de Jonh Travolta. Ver o ator deslizando nas pistas com aquela habilidade, era espetacular.
Cláudia, também revelou, que não foi nada fácil convencer a mãe, de que poderia freqüentar um lugar daqueles. Porém, sua mãe, ao saber que um dos amigos dela era filho do dono e que havia um acordo entre eles, acabou concordando.
Laura curiosa, perguntou então, qual era o nome da mãe dela.
Cláudia respondeu então, que sua mãe se chamava Angela.
Laura ficou impressionada. Tanto que perguntou a moça, quantos anos ela tinha.
Cláudia respondeu então, que tinha catorze anos.
Nisso, Laura cada vez mais intrigada, passou fazer mais e mais perguntas para a garota.
Foi então, que um rapaz se aproximou. Querendo conversar, perguntou a Laura, se ela se importava em lhe dar licença.
Laura concordou e saiu.
O rapaz, que a tempos, ficava paquerando Cláudia de longe, finalmente resolveu se aproximar. Insistindo em conversar com a moça, o rapaz acabou convencendo-a dançar com ele, um dia desses.
Nisso quando Cláudia chegou em casa, tratou logo de dormir. No dia seguinte, a moça contou a Angela, que havia conhecido uma mulher muito simpática com quem ficou conversando durante um longo tempo.
Angela então, perguntou a Cláudia, qual era seu nome.
A garota respondeu então:
-- Puxa vida! Conversei longamente com ela e agora esqueci seu nome.
-- Mas ela se apresentou? Não?
-- Lógico, mãe. Mas eu esqueci seu nome.
Angela então deixou pra lá.
Cláudia, então almoçou.
Enquanto isso, Laura conversava com Benedita. Dizendo que aquela menina era sua filha, não sabia o que pensar.
Benedita vendo a excitação da amiga, alertou para que ela não criasse muitas expectativas, ou acabaria se frustrando. A moça poderia não ser sua filha.
Laura ao ouvir isso, insistiu em dizer que aquela era sua Cláudia. Argumentando que havia conversado durante algum tempo com ela na discoteca, Laura, descobriu que sua mãe se chamava Angela. Que ela freqüentou durante muito tempo um parquinho. Que viveu no mesmo prédio onde ela passou sua adolescência e parte de sua vida adulta... Enfim, Laura descobriu que aquela menina era sua filha. A filha que Angela conseguiu por muito tempo esconder.
Benedita, preocupada então, perguntou a amiga:
-- Ai, ai,ai,ai,ai! E o que você pretende fazer? Veja lá.
Laura contou então, que precisava primeiramente, conhecê-la melhor. Só depois, é que poderia decidir.
Foi assim que Laura passou a freqüentar cada vez mais a discoteca. Ansiosa por encontrar Cláudia, ia todos os dias. Contudo, a moça só freqüentava o espaço, juntamente com seus amigos, no final de semana.
Laura, ao saber disso, passou a restringir suas idas para lá.
Porém, ía sempre que havia alguma possibilidade de encontrar a moça.
Cláudia também. A jovem sempre que via Laura, fazia questão de ir até ela e conversar um pouco. Quando ela arrumou um namorado, Laura foi a primeira pessoa a saber.
Ao ouvir de Cláudia que ela tinha arrumado um namorado, Laura encheu a moça de perguntas. Querendo saber que ele era um bom rapaz, se a tratava bem, se era atencioso, se não estava a pressionando a fazer o que não queria ..., Laura chegou a assustar Cláudia. Surpresa a moça comentou que ela estava parecendo sua mãe.
Laura não acreditou quando ouviu isso. Mas ao contar a Benedita a história, acabou se convencendo que realmente havia se excedido.
Assim, quando pôde finalmente se reencontrar com Cláudia, desculpou-se. Dizendo que não tinha o direito de se intrometer em sua vida, comentou que só fez aquele monte de perguntas por que ficou preocupada.
Com isso Laura comentou que tinha uma filha da mesma idade que ela, e que não conhecia a moça, por que com pouco tempo de vida a levaram dela. Diante disso, ao ver Cláudia começando sua vida amorosa, Laura lembrou-se da filha, e imbuída num sentimento materno, passou a se comportar com se fora mãe dela.
Cláudia, ao ouvir isso, aceitou as desculpas e comentou que não havia problema nenhum com seu namorado. Até por que ela já havia apresentado o rapaz para a mãe, e ela adorou saber que eles estavam namorando. A moça comentou então, que sua mãe conhecia há muito a família do rapaz, e vendo o mesmo de perto, Angela logo simpatizou com ele. O único senão, era que o rapaz tinha dezoito anos e ela só catorze.
Laura então comentou que a mãe dela era muito extremosa.
Cláudia, concordou. A moça chegou comentar até que a mãe costumava ser exagerada algumas vezes, tamanho o zelo com que cuidava dela.
Laura gostou de ouvir isso. Gostou tanto, que chegou a ficar enternecida. Percebendo o belo trabalho que a irmã tinha feito com a filha, Laura pediu a Cláudia para um dia ir até sua casa. Sugerindo um almoço, falou que queria conhecer sua mãe.
Cláudia concordou.
E assim, três dias depois, conforme haviam combinado, Laura encheu-se de coragem, passou numa floricultura e comprou o maior e mais belo arranjo de flores que viu. Para Cláudia, comprou algumas bijuterias. Estava decidida. Foi assim, que de posse do novo endereço das duas, no horário combinado, Laura avisou o porteiro, que a deixou entrar. Depois, apertou a campainha do apartamento.
Angela atendeu a porta.
Nisso Laura, cobrindo o rosto com as flores, cumprimentou Angela. Foi aí que ela mostrou o rosto.
Ao se ver diante da irmã, Angela ficou chocada. Mas não o suficiente para deixar de pedir a Cláudia para que fosse para seu quarto.
Laura, ao ver a menina se retirar da sala, comentou então:
-- Você acha que eu vou destruir a mentira que você construiu?
Angela ao ouvir as palavras de Laura, ficou morrendo de raiva. Sua ira era tão evidente que ela chegou a expulsar a moça de sua casa.
-- Fora daqui!
Laura por sua vez, respondeu, fechando a porta atrás de si:
-- Não saio! Temos que conversar. Eu não vim aqui para brigar. Eu juro. Me deixe conversar com você. Eu sei que apesar de nossas diferenças, você foi maravilhosa com Cláudia.
Angela, temendo que Cláudia estivesse ouvindo a conversa, mandou Laura se calar.
Laura comentou então:
-- Sua tola. Você criou muito bem sua filha. Cláudia está no quarto dela. Oh, Meu Deus do Céu! Será que nem em sua filha você confia?
Angela irritada, ameaçou Laura. Dizendo a ela para que não a provocasse, exigiu mais uma vez que ela saísse de sua casa.
Laura, ao dizer mais uma vez que não sairia, comentou que diria tudo o que estava entalado em sua garganta.
Angela então avançou contra Laura e começando dar-lhe uns puxões, começou a dizer, que ela nunca mais voltasse ali, ou se arrependeria do dia em que nasceu.
Laura por sua vez, comentou que se tinha alguém que deveria se arrepender do havia feito era ela. Isso por que expulsou-a de sua vida, e relutou muito para aceitar cuidar de Cláudia. Depois, resolveu tirar a posse da menina dela. Ao adotá-la, mentiu e não falou sobre ela para a criança.
Angela ao ouvir as palavras da irmã, perguntou:
-- E o que você queria que eu fizesse? Que eu contasse para ela que sua mãe era uma presidiária? Que belo exemplo, que você deu para sua filha! Não bastasse ser mãe solteira, ainda cometeu um crime.
Laura irritada, respondeu:
-- Se eu cometi um crime, ou vários, foi por que faltou alternativas. Ou você acha que eu não tentei conseguir as coisas de um modo honesto? Mas naquela época ninguém me estendeu a mão. Nem você nem ninguém. E tem mais! Mesmo assim, eu consegui viver um longo tempo sem a ajuda de ninguém! O que me complicou foi que descobriram que eu era mãe solteira, e por isso eu não consegui trabalhar.
-- Mas então, por que você não pediu a ajuda de ninguém? – perguntou Angela, já parando de brigar.
-- Por que eu havia brigado com as duas pessoas com quem eu poderia contar. Por causa de Rafael, até com Benedita eu cortei relações. Assim, eu fiquei sem ter a quem recorrer.
-- Que bela amiga, essa tal de Benedita!
-- Ah! Angela. Não fale assim. Eu dei motivos para ela brigar comigo. Eu acreditei demais em quem não merecia. Fui tola!
-- Eu bem que desconfiava que esses seus namorados não eram boas biscas! – comentou Angela.
-- Não eram mesmo. Nem um, nem outro. Pois, por mais incrível que pareça, foram os únicos namorados sérios que eu tive.
-- Eu acredito. – respondeu Angela. – Eu sempre soube que você não era tão destrambelhada assim. Eu sempre soube que ainda havia um pouco de juízo em você. Porém, para minha sorte, Cláudia, é muito mais ajuizada que você.
Laura sorriu. Depois respondeu:
-- Também, com uma mãe dessas, quem não aprenderia a ter juízo?
-- Não sei se eu sou tão boa assim em criar filho dos outros. Eu não acertei com você. – lamentou.
Laura então comentou:
-- Mas eu já estava criada. Você só deu continuidade ao que nossos pais fizeram. Mas .... por falar nisso, por que você deixou o nome que eu dei a ela?
Angela respondeu então:
-- Por que nem eu conseguiria dar um nome tão bonito.
As duas sorriram. Sorriram e se abraçaram.
Conversando agora calmamente sobre tudo o que havia acontecido, Laura percebeu que Angela havia criado muito bem sua filha.
Comentando com a irmã, que estava muito orgulhosa dela por haver criado tão bem sua filha, Laura confessou que jamais conseguiria fazer um trabalho melhor. Por ser exigente e firme, Angela conseguiu não só cativar a menina, como também, educá-la da melhor maneira possível. Angela realmente era uma mãe impecável. Certamente muito melhor que ela, que sempre foi muito coração mole.
Duvidando de que teria pulso para controlar uma adolescente, Laura comentou, que apesar da maldade que a irmã fizera, deixando-a sem poder ver a menina, não tinha raiva dela. Pelo contrário, ao ver a doçura da menina, Laura finalmente compreendeu, por que Angela não queria abrir mão da garota. Ademais, Cláudia estava acostumada demais com ela para aceitar, de uma hora para outra, conviver com outra pessoa.
E assim, Laura revelou a irmã, que não brigaria pela guarda da menina.
Angela agradeceu. Agradeceu e chorou. No entanto, sentindo-se em dívida com Laura, prometeu que contaria a filha que ela era sua mãe.
Nisso Angela saiu da sala e chamou Cláudia, que estava ouvindo rádio.
A moça depois de uns dez minutos saiu do quarto.
Finalmente o almoço foi servido. Durante o almoço as três mulheres riram, conversaram, se divertiram.
Mais tarde, Angela, a sós com Cláudia, contou que ela tinha uma segunda mãe.
Cláudia não entendeu nada, mas diante das explicações de Angela, ela finalmente entendeu que Laura não era apenas uma amiga. Era sua mãe. Todavia, diante da confusão que tornara sua vida, ela teve de abrir mão da filha. Nesse ponto Angela passou a fazer parte da história da garota.
Cláudia então, ao ouvir todo o relato, inicialmente irritada, não aceitou as explicações de Angela. Revoltada, ficou bastante tempo sem falar com ela e evitando se aproximar de Laura.
Angela ficou irritadíssima com o comportamento de Cláudia. Ameaçou até dar-lhe uma surra. Só não bateu na garota por que a própria Laura pediu para que não o fizesse.
Nisso, durante os instantes de rebeldia, Laura passava cada vez mais tempo com seu namorado. Carlos, foi muito paciente com ela. Certa vez chegou até a hospedá-la em sua casa. Claramente com o aval da mãe. Cauteloso, assim que se viu sozinho, ele próprio ligou para Angela avisando que Cláudia estava bem.
Quando a moça descobriu o que rapaz havia feito, ficou um tanto quanto aborrecida com ele. Contudo, depois de algum tempo, ela acabou o desculpando. Desculpou também Angela e Laura.
Com isso, sentindo que devia explicações, Cláudia contou ao namorado a história, que apesar do espanto, continuou ao seu lado.
Nisso, depois de três anos, os dois se casaram.
Laura e Angela foram as madrinhas. Como padrinhos, o pai de Carlos e um amigo do rapaz.
Felizes as duas mulheres, finalmente se entendendo, acompanharam emocionadas a cerimônia, que foi um marco em suas vidas. Mas apesar de felizes, Angela e Laura lamentavam a partida de Cláudia.
Nessa época, Benedita já estava casada há quase dois anos. Grávida de seu primeiro filho, fez questão de convidar Laura para ser madrinha da criança.
Enfim, tudo estava se acertando, e Laura estava feliz. Tão feliz, que foi ela, que depois de algum tempo, ao viajar para o exterior, acabou por encontrar sua companhia ideal, Igor. Por lá também se casou, quase dois anos depois do casamento da filha.
Feliz, convidou a irmã, a filha, o genro, o netinho, a amiga, seu marido, o afilhado, Eugênia, Renata e Ronaldo, para participarem da cerimônia.
Estava com trinta e oito anos. E mais bela do que nunca.
Benedita e seu marido, que foram os padrinhos no casamento, pediram para que ela tivesse outros filhos.
Laura prometeu que os teria.
 
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 8

E apesar de não ter para onde ir, Laura não admitiu nem por um momento que a irmã fizesse pouco dela. Decidida, prometeu a si mesma que dali por diante, passaria a tomar conta de sua própria vida. 
Contudo, não seria nada fácil dar essa guinada. 
Isso por que, desde que passara a ser cuidada por sua irmã, era sempre Angela que se preocupava com tudo. 
Assim, pode-se notar que Laura não tinha a menor condição de ficar sozinha. 
Pelo menos num primeiro momento, ela precisava que alguém a ajudasse. Porém, a quem recorrer? Ninguém sabia de sua situação, e Benê, sua amiga de todas as horas, havia brigado com ela. 
Desesperada, Laura não sabia a quem recorrer. 
Sem saber onde ir, a moça acabou batendo na porta de Renata, que apesar de viver numa casa pequena, acabou acolhendo-a, pelo menos por alguns dias. 
E assim, Laura, ficou sossegada por alguns dias.
Todavia, ao final de uma semana, Renata comentou que não tinha como ela ficar  mais tempo por lá. Laura concordou com a amiga. A casa era muito pequena.
Assim, depois de alguns dias, Laura foi passar algum tempo na casa de Eugênia. Lá também não deu para ficar muito tempo. Ao final de duas semanas, lá estava ela de novo, sem ter para onde ir.
Benedita, brigada com a amiga, nem sequer imaginava o que estava acontecendo. Isso por que, sempre que Renata e Eugênia tocavam no nome de Laura, Benedita aborrecida, saía logo de perto. Dizendo que não estava interessada naquela conversa, fazia de tudo para não tocar no nome dela.
É, a briga tinha sido feia.
Diante disso, Laura, acabou indo se hospedar em uma pensão, bem baratinha.
Isso por que, apesar de estar guardando algum dinheiro, precisava pensar na criança que estava para nascer. Nas coisinhas que teria que comprar para ela, no lugar que teria que arrumar para viver, e no tempo que levaria para arrumar um novo trabalho. Sim por que, assim que, assim que Ronaldo descobrisse que ela estava grávida, certamente a demitiria. Por esta razão, Laura precisava pensar em seu futuro, que ao menos por enquanto, era incerto.
Dito e feito. Quando a moça estava próxima de sete meses de gravidez, sem ter mais como esconder sua gestação, acabou sendo demitida por Ronaldo. Este porém, percebendo a situação da moça, pagou todas as verbas trabalhistas que ela fazia jus. Não deixou nada de lado. E assim, em razão de a moça trabalhar ali há quase cinco anos, ou seja, desde que entrara no mercado de trabalho, Laura acabou por receber uma boa quantia em dinheiro.
Eugênia e Renata, atônitas, ao saberem da novidade, não sabiam o que pensar. Então foi por isso que Laura passou a ficar cada vez mais recolhida?
Benedita, que até então, não tinha conhecimento da situação pela qual passava Laura, ficou chocada. Mas, apesar de brigada, ofereceu sua ajuda a moça. 
Laura porém, ao invés de ficar agradecida, recusou. Recusou, e assim que recebeu seus direitos trabalhistas, nunca mais voltou até a loja. Desempregada, a moça, percebendo que precisava encontrar uma casa para morar, alugou uma residência próxima ao centro da cidade. 
Com isso, enquanto a criança não nascia, a moça procurava trabalho. Porém, de nada adiantava. Isso por que, os empregadores, ao verem sua barriga, recusavam-se veementemente a contratá-la. Foi assim até o final da gravidez.
Quando então, a criança nasceu, Laura, que tinha uma casa para morar, assim que recebeu alta do hospital, levou a criança para lá. 
E assim, Cláudia, durante os seus primeiros meses de vida, esteve em uma ótima condição com sua mãe. 
Contudo, a vida boa e confortável, só durou alguns meses. Isso por que, sem ter com quem deixar a criança, Laura teve que esperar a menina crescer um pouquinho para poder matriculá-la em uma creche. E assim, só depois disso é que ela passou a procurar emprego. 
Enquanto isso, as reservas monetárias de que dispunha, iam se tornando pouco a pouco, diminutas. Laura, percebendo isso, passou a se candidatar a qualquer trabalho.
E foi assim que a moça conseguiu uma vaga de balconista. 
Diligente e atenciosa, Laura procurava executar da melhor maneira possível seu trabalho. Dedicada fazia o melhor.
No entanto, mesmo sendo dedicada e paciente no atendimento ao público, seu patrão ao descobrir que a moça era mãe solteira, acabou a demitindo.
Laura então, vendo que tinha pouco dinheiro, e que não daria para ficar muito tempo sem trabalhar, ficou desesperada. Ao procurar trabalho e nada encontrar, ao ver que as reservas monetárias se acabavam, a moça começou a ficar cada vez mais intranqüila. E foi assim, num gesto de desespero que Laura começou a pensar nas coisas mais absurdas. 
Ao ver que as contas chegavam e ela não tinha como pagá-las, Laura aturdida, só ficava a pensar no que faria para resolver sua situação. 
Nisso, quando começou a sofrer cobranças em razão da falta de pagamento de aluguéis, conta de água, de luz, entre outras, Laura percebeu que seria apenas uma questão de tempo para ser despejada. 
Sem saber o que fazer, ao ver que faltava comida em casa, Laura começou a praticar pequenos furtos em mercados. 
No começo ninguém percebeu, mas a uma certa altura, ao pegar um pacote de um quilo de arroz e esconder em seu casaco, um dos funcionários do mercado, notando a traimóia, tratou de alertar o dono do estabelecimento, que ao ver o pacote de arroz escondido no casaco da moça, chamou logo a polícia. 
Os policiais, percebendo que se tratavam de um furto, levaram-na para a delegacia.
Ao ser conduzida até o distrito policial, Laura, tentando explicar que pegara o arroz para dar o que comer a filha, falou que nunca mais faria isso de novo.
Os policiais no entanto, sabendo que a moça havia praticado um delito, levaram-na logo para a cadeia. Desta forma, Laura ficou presa durante algum tempo.
A moça, preocupada, ao se ver encarcerada, pediu ao delegado que entrasse em contato com sua irmã. Isso por que Cláudia não podia ficar sozinha. Por ser um bebê novo, a criança necessitava de cuidados. 
O delegado vendo a preocupação da moça, atendeu prontamente o pedido. E assim, ao telefonar para Angela, o homem comentou que Laura estava presa por ter praticado um furto. Alegando que a moça tinha uma filha que precisava de cuidados, o delegado pediu a ela para que ficasse com a criança pelo menos por enquanto. Até por que, se ela não ficasse com a menina, a mesma iria para um orfanato.
Angela, por sua vez, resistiu o quanto pôde ao pedido do delegado. Todavia, ao perceber que se não tomasse uma atitude a criança iria parar num orfanato, ela acabou concordando em ficar com a menina. 
-- Está certo. Por enquanto eu fico com a menina. – respondeu.
 Diante disso, Angela tratou logo de tomar nota do endereço de Laura e da creche onde a criança ficava, quando ela precisava sair.
Ao chegar lá, Angela comentou com a diretora da creche, que ela tinha ido buscar a menina por que Laura estava trabalhando até tarde, e portanto não tinha como ir até lá. A mulher então, acabou concordando em deixá-la levar a criança. Contudo, ao entregar a menina para Angela, a diretora fez algumas recomendações para ela. Angela agradeceu e levou a menina para sua casa. 
 Todavia, a criança necessitava de roupas, fraudas, comida e brinquedos. Por esta razão, Angela preocupada com o conforto de Cláudia, percorreu várias lojas para fazer compras. Durante duas horas, Angela se viu em meio a fraldas, roupinhas, brinquedos, e alguns alimentos específicos para bebê. 
E assim, ao chegar em casa com a menina e ver que ela precisava ser trocada, tratou logo de lhe dar um banho e vesti-la com uma das roupinhas que havia comprado. Depois, deu-lhe uma papinha que também havia comprado.
Nisso, ao ver que Cláudia era uma criança calma, Angela começou a brincar com a menina. 
Foi assim que Angela, começando a criar laços com a menina, decidiu ficar com ela. Precavida, a mulher resolveu adotá-la. Ao saber que Laura ficaria ainda muito tempo presa, Angela resolveu entrar com o pedido de guarda.
E assim, regularizando a situação, Angela assumiu a criação da menina. 
Laura, ao saber que Angela estava cuidando da menina, tranqüilizou-se. Sem saber quanto tempo permaneceria presa, achou que fora muito bom avisar a irmã de sua situação.
Com isso, enquanto a menina crescia sob os cuidados de Angela, Laura, lutava para sair da prisão. Ao ser condenada por crime de furto, a moça tinha uma pena para cumprir.
No entanto, por ter tido um bom comportamento, a moça acabou cumprindo somente uma parte da pena. Com o benefício da liberdade condicional, Laura, após algum tempo, voltou a viver em sociedade.
Decidida a retomar sua vida, a moça, recomendada por seu trabalho durante o tempo em que ficou presa, apesar da pecha de ex-presidiária, acabou encontrando um emprego, com relativa facilidade. 
Dedicada, era só elogio dos patrões que comentavam que fora uma ótima idéia contratá-la. Laura, ao ouvir os elogios, agradecia e continuava seu labor.
Depois de algum tempo, com algumas reservas monetárias, Laura, decidida, sentindo-se pronta para reencontrar a filha, alugou um apartamento e passou a mobiliá-lo. 
Diante disso, confiante, Laura resolveu conversar com sua irmã. Sabendo que a mesma havia entrado com um pedido de guarda, e que era portanto a responsável legal pela menor, Laura sabia que tinha que tomar cuidado ao se aproximar das duas. Por não saber o que Angela havia dito a seu respeito para a filha, ou se havia dito alguma coisa, Laura não podia aparecer simplesmente exigindo a presença de Claúdia. 
Cautelosa, Laura cuidadosamente, passou a observar as duas de longe. 
Cláudia, nessa época uma criança alegre e vivaz, brincava num parque, sob os olhares atentos e vigilantes de Angela.
E assim, sem perceberem que Laura as observava, as duas tranqüilamente sorriam.
Com isso, durante muito tempo, Laura ficou a olhar as duas à distância. Isso por que, ao saber que as duas iam sempre para aquele parque, sempre que podia Laura ia até lá. Encantada com a filha, Laura não se cansava de olhar para ela. E assim, após muitos anos afastada, era muito bom saber que a menina estava sendo bem cuidada por Angela.
O único senão se dava ao fato de Angela ter tirado dela a guarda da menina. 
Temendo nunca mais recuperar a filha, Laura tentava a todo o custo ser cautelosa. Não queria por tudo a perder. 
Assim, durante longos meses, só ficou a olha-las. 
Certa vez, Benedita – a amiga de anos atrás, a qual Laura passou a procurar depois de retornar para a vida em sociedade –, vendo a tristeza dela, argumentou que ela devia tomar uma atitude.
Laura, ao ouvir os conselhos da amiga, concordou. Benê estava certa. Aliás, essa velha amiga, estava sempre certa, mesmo quando ela não queria admitir. Como há tempos atrás, com relação a Rafael, que nunca fora sincero com ela.
E assim, Laura concordou. Realmente não podia se acovardar. Se não tomasse uma atitude logo, nunca mais conseguiria recuperar a guarda da menina. 
Diante disso, decidida, Laura resolveu aparecer no parque em que a irmã levava Cláudia. Sem cerimônias, apresentou-se, e dizendo que queria conversar com ela, exigiu que Angela lhe contasse tudo sobre a menina. 
Angela, pega de surpresa, tentou pegar Cláudia e sair dali, mas Laura, hábil, tratou logo de dizer-lhe que se ela fizesse isso, contaria a menina que era sua verdadeira mãe.
A mulher, intimidada, percebendo que Laura não estava de brincadeira, acabou concordando. Pedindo para que Cláudia fosse brincar em outro lugar, conversou longamente com Laura.
Nisso Angela, dizendo que a adotara para que a garota tivesse uma família, comentou que subornou alguns funcionários para que conseguisse isso. E assim, Cláudia, para todos os efeitos era filha dela e de seu falecido marido. 
Laura ao ouvir isso, não acreditou. 
Chocada, chegou a comentar:
-- Angela! Até que ponto chega a sua insanidade!
Ao ouvir isso, Angela aborrecida, ameaçou ir embora, caso ela continuasse a ofendê-la. Isso por que Laura não tinha o direito de criticá-la.
Laura então se calou.
Isso por que em um ponto, Angela tinha razão. Durante todos os anos em que ela ficou presa, quem cuidou de Cláudia para ela, foi sua irmã, a quem sempre criticou. Assim, ela não tinha realmente, o direito de criticá-la.
Mas Laura, queria conversar pelos menos um pouco com a filha. Prometendo a Angela que não se apresentaria como a mãe da garota, disse que só queria saber como ela estava, como era sua vida, nada mais.
Angela, porém, não concordou com o pedido de Laura. Dizendo que Cláudia estava muito bem longe dela, insistiu para que ela não se aproximasse da menina, que naquele momento brincava contente com outras crianças.
Diante disso, Laura, ao ser rechaçada pela irmã, ficou arrasada. Contudo, a mulher, não desistiu de conversar com a filha. E assim, ao ver que não seria nada fácil convencer Angela a deixá-la ficar um instante a sós com a menina, Laura começou a correr na direção de Cláudia, tudo com vistas a se apresentar a garota, como uma amiga.
Angela, percebendo a intenção de Laura, pediu a criança que viesse até ela, e que não saísse de perto dela.
Cláudia, obediente, foi se aproximando lentamente de Angela. 
Laura, então, resolveu enfrentar a irmã. Insistindo em dizer que só queria conversar com as duas, comentou que não queria fazer nada de mal. Dizendo que era uma velha amiga de Angela, insistiu que queria conhecer a menina.
Cláudia, ao observar o comportamento de Laura, não conseguia entender por que 
Angela estava tão estranha. Isso por que, Laura parecia uma pessoa comum. Então, não havia nada de mais, em conversar um pouco com ela. 
Mas Angela não queria saber. E assim, a mulher, puxando a menina pelo braço, insistia em dizer-lhe que precisavam ir embora.
Cláudia, contudo, a todo instante, ficava a olhar para Laura, intrigada com o comportamento de Angela – sua mãe.
Sim, para ela, Angela era sua verdadeira mãe. Acostumada com ela desde a mais tenra infância, só conhecia a ela como mãe. Mesmo assim, não parava de olhar para Laura, que tristemente, se despedia da garota.
E assim, Angela e Cláudia foram embora.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 7

Contudo, cabe ressaltar, que a atitude impensada de Laura, diga-se de passagem, transformou não só a sua vida, como a vida de todas as pessoas que cercavam.
Ao aceitar os convites do namorado para ficar a sós com ele, Laura, acabou se deixando levar por um impulso. Sem pesar as conseqüências, a moça acabou por fazer o que não devia.
Ainda mais naqueles tempos, em poucas coisas eram permitidas as mulheres.
Laura, em razão disso, acabou por engravidar.
Este fato, foi um complicador a mais para sua vida, que já era por si só bastante conturbada. Seu relacionamento tumultuado com Angela, não deixava a menor dúvida disso. E agora, para ajudar, uma gravidez.
Laura, ao perceber isto, constatou que sua situação era muito delicada. Conhecendo muito bem o temperamento de Angela, como faria para contar isso?
Desesperada, Laura não sabia o que fazer. Também não tinha com quem conversar sobre o assunto. Benê, cansada de alertá-la, desistiu definitivamente de querer impor sua opinião. Além disso, já havia avisado-a, de que caso algo assim ocorresse, ela não iria nem querer saber.
Com isso, só restou a ela contar a Rafael. Crédula, achou que contando ao rapaz sobre o que se passava, tudo estaria resolvido.
Como estava enganada!
O rapaz, ao receber a notícia, ficou desesperado. Sem saber o que fazer, começou a dizer que aquele filho não era dele, e que portanto não tinha nenhuma obrigação quanto a isso.
Laura, ao ouvir isso, comentou:
-- Assim você me ofende! Você sabe muito bem que não saí com mais ninguém além de você, portanto não tem o direito de me dizer essas palavras.
Rafael retrucou:
-- Tenho sim. Afinal de contas, onde já se viu isso? Quem me garante que realmente o filho é meu? Ora ... é muito fácil você vir aqui, com o filho de outro, me dizer que eu sou o pai. Como eu vou ter certeza?
Laura, ao ouvir isso, continuou insistindo que o filho era dele, mas o rapaz teimava em dizer que não era o pai.
Diante disso a moça, percebendo de que nada adiantava discutir, resolveu ir embora. Chateada, Laura comentou que não valia a pena insistir nisso. Isso por que, se depois ele resolvesse assumir a paternidade, era ela que não queria mais saber dele em sua vida. Decidida, Laura resolveu não mais procurá-lo.
Contudo, o problema continuava. O fato de Rafael não querer assumir sua responsabilidade, deixava-a em uma situação mais delicada ainda.
E agora, o que ela ia fazer? Não tinha a quem recorrer.
Contudo, conforme se passavam os dias, Angela, percebendo que a moça estava estranha, passou a desconfiar de que alguma coisa estava errada.
Vigiando a moça, Angela, apreensiva, começou a achar que Laura tinha um problema sério de saúde. Preocupada, Angela começou a espreitar a irmã. Pressionando-a Angela tentava de todas as formas, descobrir o que estava se passando.
Mas Laura, mesmo sentindo-se acuada, acabava encontrando alguma forma de escapar das perguntas insistentes da irmã. Contudo, ia chegar um momento em que não seria mais possível mentir. Conforme a gravidez fosse se tornando cada vez mais evidente, não seria mais possível esconder sua situação.
Contudo, Laura faria o possível para adiar o dia em que contaria a verdade.
Assim, conforme os meses foram se passando, e sua barriga foi se avolumando, Laura começou a prender sua barriga com uma cinta. Cautelosa, sempre que ia sair do quarto, a moça tratava de disfarçar sua barriga.
Angela, que há tempos vinha vigiando a irmã, estranhava sobremaneira a demora da moça em sair de seu quarto. Contudo, como não tinha como provar suas desconfianças, só restava a ela, esperar.
Preocupada com Laura, certa vez, cansada das evasivas da moça, Angela aproveitou que a mesma estava trabalhando, para fazer uma devassa em seu quarto. Bisbilhotando os pertences da moça, observou roupas, sapatos, livros, entre outras coisas. No entanto, não encontrou nada de comprometedor no armário da moça.
Porém, Angela, ao verificar que não havia nada suspeito no armário, mesmo assim, continuou desconfiada. E assim, não satisfeita em revirar o armário da moça, Angela, olhando para o criado e para a cama, começou a vasculhar as gavetas. Lá estavam as calcinhas e sutiãs da moça. Não bastasse isso, Angela olhou para a cama da moça. Desconfiada, virou o colchão. Foi assim que ela descobriu umas cintas, guardadas no estrado da cama.
Angela ao ver aquelas peças, não entendeu nada. Afinal de contas, por que razão, Laura precisaria usar aquele tipo de roupa? Justo agora que as roupas eram mais soltas, não precisando de cinta, nem de combinação.
Angela se deparando com esse fato, passou a ficar deveras desconfiada. Porém, antes de tomar qualquer atitude precipitada, conversaria com Laura.
Isso por que, se a moça estava se escondendo, era por que algo realmente muito sério estava acontecendo. Sim, por que ultimamente, a moça passava cada vez mais tempo fechada em seu quarto.
Mas o que ela não sabia era que Laura se escondia por que não queria que ela descobrisse sua gravidez. Com isso, a única forma que Laura tinha para esconder este fato era passar o menor tempo possível com a irmã. Até por que, quando estava na rua, tinha que fazer o possível para esconder sua barriga. Nem mesmo suas colegas sabiam que ela estava grávida. Porém, sempre que ficava sozinha em casa, ou podia descansar um pouco, aproveitava para afrouxar a cinta. Nesses instantes, ficava aliviada.
Isso por que, conforme os meses foram se passando, ficava cada vez mais difícil para Laura, esconder a barriga. Porém, precisava continuar a manter as aparências. Isso por que, precisava de dinheiro. Se descobrissem sua gravidez, certamente ela seria demitida, e sendo demitida, ficaria nas mãos da irmã, que certamente ao descobrir a poria para fora de casa. Não, Laura, não podia arriscar. Assim, a moça precisava continuar trabalhando, mesmo em adiantado estado gravídico.
E assim continuou trabalhando.
No entanto, conforme o sua barriga crescia, ficava cada vez mais difícil escondê-la.
Tanto que Angela, desconfiada, ao ver a mudança na silhueta da moça, bem como seu comportamento estranho, preocupada, passou a vasculhar seu quarto, tentando encontrar algum indício de que algo estava errado com ela. Foi assim que Angela acabou encontrando a cinta – conforme já dito.
Com isso, quando Laura retornou do trabalho, o circo já estava armado.
A moça, ao ver seu quarto revirado, foi prontamente tomar satisfações com Angela. Aborrecida com o comportamento da irmã, Laura estava pronta para dizer-lhe poucas e boas. Assim, foi logo bater na sua porta.
Angela, por sua vez, esperando por Laura, assim que ouviu as batidas na porta de seu quarto, tratou de atender.
Laura visivelmente irritada, começou dizendo a irmã, que ela não tinha o direito de mexer em suas coisas, até por que, era exatamente por isso que cada uma tinha seu quarto.
Angela então, perguntou a irmã, se ela tinha o direito de esconder o que estava acontecendo.
Laura, então dizendo não saber do que ela estava falando, por um momento ficou sem saber o que fazer.
Foi então que Angela mostrou-lhe uma cinta. Em seguida, percebendo o olhar de espanto da irmã, perguntou:
-- Era por isso que você estava procurando?
-- O quê? O que está acontecendo? – perguntou Laura atônita.
-- Eu é que pergunto. Por que você está usando cinta? Por acaso é para esconder algo que eu não posso saber? – perguntou Angela, intrigada.
-- Você está louca! – respondeu Laura, tentando desconversar, pronta para sair do quarto de Angela.
-- Um momento! Eu não terminei de conversar com você. – respondeu ela segurando Laura.
Laura, que não estava gostando nem um pouco da conversa, pediu reiteradas vezes para que a irmã a soltasse.
Angela retrucou dizendo que não a soltaria enquanto não dissesse o que estava acontecendo.
Mas Laura teimosa, insistia em dizer que não havia nada de errado. Só estava cansada e queria ir para seu quarto.
Angela contudo, insistia.
Laura, então, tentando, sair do quarto da irmã, disse que precisava ir até o banheiro.
Angela perguntou-lhe se não havia ido ao banheiro antes de sair do trabalho.
A moça respondeu que sim, mas que agora, em razão do tempo que levava para voltar para casa, precisava ir ao banheiro novamente.
Angela, percebendo que Laura não estava nem um pouco bem, resolveu deixá-la ir. Mas desconfiada, resolveu acompanhá-la até a porta do banheiro. Isso por que, não queria que a moça se trancasse novamente em seu quarto, e mais uma vez, conseguisse escapar de suas perguntas.
Dito e feito. Angela, como se fora um leão de chácara, ficou o tempo todo ao lado da porta do banheiro, aguardando a saída de Laura.
Conforme o tempo passava, Angela passou a ficar preocupada com a irmã. Isso por que, depois de quase meia-hora é que a moça finalmente saiu do banheiro. Tal fato era realmente muito estranho. O que contribuiu e muito para aumentarem as desconfianças de Angela, a respeito de Laura.
A mulher, desconfiada do comportamento caseiro da irmã, passou a perguntar cada vez mais por Rafael, que há muito tempo, não era assunto das conversas entre as duas.
Com relação a seus hábitos de ultimamente, até suas colegas vinham estranhando seu comportamento.
Benê por sua vez, apesar de preocupada com a amiga, fazia de tudo para não demonstrar isso. Contudo, mesmo estando aparentemente indiferente, a moça estava preocupada com a mudança de comportamento de Laura. Isso por que, Laura, agora recolhida, não saía mais com os amigos.
Até mesmo Renata e Eugênia, estavam preocupadas com Laura.
Porém, toda vez que alguém vinha lhe perguntar o que estava acontecendo, Laura respondia com evasivas. Dizendo que não estava acontecendo nada de mais, tratava logo de desconversar.
E assim, a moça ía levando a vida. No entanto, não daria para esconder sua gravidez para sempre.
E agora que Angela estava desconfiada, seria ainda mais difícil esconder o que estava acontecendo.
Por isso, quando a moça finalmente saiu do banheiro, Angela levou-a para o quarto vasculhado e trancando a porta, começou a exigir que ela lhe explicasse o que estava acontecendo.
Laura, respondeu irritada, que não tinha nada a responder.
Angela, autoritária, continuou a insistir:
-- Quero uma explicação. – dizia.
-- Mas eu não tenho que explicar nada.
-- Ah, é? Então por que a senhorita está usando cinta, a uma altura dessas? Acaso tem algo a esconder?
Laura então, sem ter o que responder, disse o seguinte:
-- Não. É que eu andei engordando um pouco e não queria que as pessoas percebessem.
Angela, não muito convencida da resposta da irmã, comentou que ela era muito magrinha para estar se preocupando com aumento de peso. Que isso era preocupação das pessoas mais velhas.
Laura, no entanto, continuou insistindo em dizer que precisava emagrecer um pouco.
Angela ainda desconfiada, perguntou então, quanto ela havia engordado.
A moça respondeu então que havia engordado uns três quilos.
Angela, ao ouvir a resposta da irmã, ficou intrigada. Isso por que, vendo-a sempre usando roupas largas, mal poderia imaginar que Laura havia engordado tanto. Em razão disso, Angela curiosa, pediu a irmã para que mostrasse a ela o quanto havia engordado.
A moça ao ouvir o pedido da irmã, ficou apavorada. Isso por que, Angela não podia ver sua barriga ou então descobriria que ela estava grávida.
Mas não teve jeito. Por mais que ela tentasse esconder, Angela pressionou-a e Laura acabou tendo que revelar a verdade.
Isso por que, Angela, cansada da resistência de Laura, resolveu ela mesma olhar a barriga da moça. Ao ver a cinta segurando a barriga, mandou a irmã afrouxar a cinta para que ela visse, se havia engordado tanto quanto dissera.
Laura se recusou.
Nisso, Angela irritada, ao se deparar mais uma vez com a teimosia da irmã, ameaçou lhe dar uma surra se não lhe contasse o que realmente estava acontecendo. Aborrecida, avançou para cima de Laura e ela mesma abriu a cinta.
E qual não foi seu espanto ao ver a barriga imensa da moça, escondida em meio aqueles panos todos. Laura estava grávida, e há bastante tempo. Ao perceber que a moça a enganava há muito tempo, Angela ficou furibunda. Sentindo-se enganada, perguntava a todo o momento:
-- Onde foi que eu errei?
Laura, desesperada, tentou a todo custo explicar o que havia acontecido, mas Angela, toda a vez que ouvia a voz da irmã, mandava-a calar a boca. Furiosa com tanta mentira, queria ficar sozinha. Foi então que ela abriu a porta do quarto da moça.
Laura, então tentando se aproximar dela, foi empurrada para longe.
Angela então, aproveitando isso, trancou a irmã no quarto. Depois foi para o seu quarto.
E enquanto pensava em que atitude tomar, Laura gritava em seu quarto, pedindo a Angela que abrisse a porta para que ela pudesse sair.
Mas Angela, pensando no que estava acontecendo, mal tinha tempo para ouvir os apelos de Laura. Tanto que somente no dia seguinte é que ela se dignou a abrir a porta para que a irmã saísse do quarto.
Laura abatida, assim que saiu do quarto, foi até o banheiro.
Angela então, esperou pacientemente que a moça voltasse para seu quarto.
Assim, depois de cerca de quarenta minutos, Laura finalmente voltou para o quarto. Lá estava Angela, sentada no sofá.
Laura, sem dizer uma palavra, abriu o armário, e pegou uma roupa para vestir, já que havia tomado um banho e precisava de roupas limpas. Por isso, ao pegar as roupas, tratou de voltar ao banheiro. Lá se vestiu e depois, retornou ao quarto.
Angela continuava ali, sentada.
Laura então, fingia não ver a irmã. E assim, diante dos últimos acontecimentos, a moça começou a pegar seus pertences e colocar em uma mala. Calmamente, Laura ia pegando suas coisas e guardando-as.
Angela só observava.
E Laura não se incomodava nem um pouco com a presença da irmã em seu quarto. Isso por que, depois do acontecera, não havia mais motivos para que ela permanecesse na casa da irmã. Se ficasse, fatalmente seria expulsa por Angela.
Por isso, a moça tratou de arrumar suas malas. Quando estava tudo pronto, Angela perguntou então:
-- Acabou? Pegou tudo o que queria?
-- Peguei. – respondeu Laura secamente. – Agora posso ir embora.
-- Não. Ainda não. Não enquanto eu não disser o que está entalado na minha garganta já há muito tempo. E você vai me ouvir. – respondeu Angela, segurando a irmã pelo braço.
Laura tentou resistir dizendo para que a soltasse, mas Angela não a soltou.
Nisso Angela, começou a dizer que ela estava coberta de vergonha. Que a atitude da irmã era inadmissível.
Laura, então respondeu:
-- Então, pra você, acreditar em alguém, é uma vergonha? Gostar de alguém é algo inadmissível?
Angela então retrucou:
-- Não, não é. Se a pessoa se portar com dignidade, realmente não é. Mas não foi o seu caso. E tem mais! Faz muito bem em arrumar suas malas. Mostra que tem ao menos um pouco de desconfiômetro. Ainda bem. Por que se você não tomasse essa atitude, eu teria que tomá-la. Porém, eu não quero ser taxada de megera. Sei que você não tem para onde ir. Então se precisar, você pode ficar alguns dias em casa, aqui, até encontrar um lugar para ficar. Eu não me importo, desde que você não abuse da minha hospitalidade.
Laura, ao ouvir as palavras da irmã, caiu na risada:
-- Hospitalidade? Eu não estou precisando da sua hospitalidade. Dispenso-a. Eu não preciso de nenhum favor. Eu sou capaz de resolver meus problemas sozinha.
Agora foi a vez de Angela rir:
-- Realmente. Sua habilidade para resolver problemas pessoais é notória. Estou vendo! Uma mulher jovem e solteira, com uma criança na barriga. Você realmente é mestra em resolver seus problemas pessoais.
Laura irritada com os comentários da irmã, respondeu que dispensava suas ironias. A seguir, pegando suas malas, foi embora.
Nem por um minuto Laura pediu a Angela para ficar. Pelo contrário, não aceitou nenhuma provocação da irmã.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 6

Laura, ao ouvir a proposta do rapaz, não gostou nada disso.
Ao ouvir a proposta, a moça ficou tão ofendida que ameaçou voltar para sua morada, caso ele não parasse com aquela conversa, que para ela não fazia o menor sentido.
Rafael, então percebendo que não seria nada fácil convencê-la, desculpou-se e prometeu que não tocaria mais no assunto. Porém, conforme o tempo foi passando, e a moça esquecendo do incidente, novamente o rapaz, voltou a convidá-la para ficarem a sós.
Laura, desconversando, sempre dizia que ainda não era a hora.
Mas Rafael continuava insistindo.
Hábil, o rapaz fazia questão de sempre se fazer presente na vida de Laura. Assim, para diminuir a desconfiança de Benê, com relação a sua pessoa, Rafael pediu a namorada para que convidasse mais a amiga para sair junto com eles.
Ao ouvir a sugestão do namorado, Laura estranhou sua atitude. Afinal de contas, para quem até pouco atrás não queria conhecer os amigos dela, o rapaz estava agora muito interessado em sua vida. E Laura, atônita, não conseguia entender nada.
Rafael, então percebendo a desconfiança da namorada, explicou que no começo não queria ser apresentado a ninguém, por que não sabia se o namoro iria progredir. Assim, não criava expectativas com relação a ninguém. Mas agora, que tudo estava dando certo, que os dois estavam bem e já namoravam há algum tempo, já era mais do que hora dele ser apresentado aos amigos da moça.
Além disso, durante suas incursões pela noite, Rafael já tivera a oportunidade de conhecer Eugênia e Renata, ao menos de vista. Agora precisava conhecer a família e a melhor amiga da moça.
Laura então comentou que já havia apresentado Benedita a ele.
Rafael ao ouvir as palavras da namorada, continuou insistindo que eles deviam sair mais em grupo, para que pudessem se conhecerem um pouco melhor. Ademais, diante das circunstâncias, já era tempo dele ser apresentado a Angela.
Laura, ao ouvir o nome da irmã, passou a ficar nervosa. Isso por que, não estava preparada para apresentar ninguém a irmã. Até por que, Angela, sempre exigente, com seu jeito intolerante, tornava praticamente impossível apresentar qualquer pessoa de suas relações. Isso tudo, em razão da última briga que tiveram, na qual Angela deixou bem claro que não estava gostando nem um pouco do comportamento da irmã.
Dessa forma, se ela não estava gostando da atitude da irmã, dificilmente gostaria de sua companhia, no caso Rafael.
Nisso o rapaz, mesmo ao ouvir as palavras desalentadoras da namorada, continuou a insistir. Queria por que queria ser apresentado a pessoa maravilhosa que cuidou de sua Laura quando seus pais faltaram. Isso por que, de acordo com suas palavras, a despeito de tudo o que Laura falava, uma pessoa que teve o desprendimento de cuidar de uma irmã órfã, não deve ser tão ruim assim. Se fosse, teria deixado ela vivendo num orfanato, até completar a maioridade.
Laura, ao ouvir as palavras de Rafael, concordou em termos com ele. Contudo, como Angela não era uma pessoa fácil de se lidar, ela pediu a ele, que a deixassem preparar o terreno. Sim, por que se os apresentasse agora, ela provavelmente seria rude com ele.
Rafael, ao ouvir isso, cheio de confiança, comentou que ninguém, depois de trocar algumas palavras com ele, deixava de gostar dele.
Realmente, Rafael era muito hábil com as palavras.
Todavia, Laura sabia que com Angela, somente palavras doces não bastariam. Quando ela não gostava de alguém, não adiantava esse alguém adulá-la que ainda assim, a antipatia permanecia.
Dito e feito.
Quando Laura aventou a possibilidade de apresentar seu namorado a irmã, Angela, desafiou-a. Isso por que, desconfiando que o rapaz não era boa coisa, indagou a razão da irmã só estar apresentando-o agora.
Laura, um pouco desconcertada, comentou que ainda não havia chegado o momento oportuno para que esse encontro acontecesse.
Angela então desdenhou:
-- Momento oportuno. Momento oportuno. Era só o que me faltava. Isso é só uma desculpa que você arrumou.
Laura, ao ouvir isso, ficou irritada com a irmã. Contudo, como não estava interessada em arrumar uma briga, resolveu deixar de lado a provocação. Determinada a promover um encontro entre os dois, Laura estava empenhada em que Angela tivesse uma boa impressão do moço.
Assim, tentando possibilitar o encontro, Laura não se cansava de elogiar o namorado na frente da irmã. Dizendo que desde que o namoro começou a ficar sério, ele passara a ficar mais cuidadoso com ela, acreditava que assim convenceria a irmã de que Rafael era uma boa pessoa.
Angela só ouvia. Sem fazer qualquer comentário, deixava Laura falar à vontade.
Com isso a moça continuava dizendo que sempre que podia, o rapaz ia buscá-la em seu trabalho. Cuidadoso, sempre acompanhava-a em suas saídas com as amigas. Animada, chegou a dizer, que desde que passara a andar com ele, não tivera mais problemas com suas amigas. Isso por que, como as mesmas estavam namorando, estando ela na mesma situação, uma não atrapalhava a outra.
Angela, ao ouvir a explicação de Laura, ficou revoltada. Contudo, não quis falar nada. Até por que seria falar e arrumar uma briga séria com a irmã, que queria a todo custo, impingir a presença de Rafael, a ela.
Contudo, cansada de ouvir tantos elogios com relação ao rapaz, Angela, certa vez, resolveu depois de um longo dia, se deitar um pouco.
Laura, ao notar a atitude de desdém da irmã, ficou profundamente desapontada. Chateada, chegou até a comentar com Rafael que não seria nada fácil apresentá-lo a sua irmã. Angela estava determinada a não conhecê-lo.
O rapaz, ao ouvir as palavras da moça, tomado de uma certa curiosidade, perguntou a ela se Angela havia dito claramente que não queria conhecê-lo.
A moça, respondeu que não.
Rafael então, percebendo isso, comentou com ela, que enquanto Angela não dissesse claramente que não queria conhecê-lo, não havia motivo para que ela desanimasse. Até por que, conhecer Angela era apenas uma questão de tempo. De uma maneira ou de outra, os dois acabariam se conhecendo. Além disso, prometendo que não a envergonharia nem por um minuto diante da irmã, Rafael disse a Laura, que se empenharia em causar uma boa impressão.
Enquanto isso, Benê, convidada pela amiga para acompanhá-los, resolveu chamar um amigo para lhe fazer companhia. Isso por que não queria servir de vela e atrapalhar o namoro dos dois. Desta forma, a moça passou a conhecer Rafael melhor.
Contudo, por mais que o rapaz parecesse ser uma boa pessoa, Benedita não conseguia se convencer disso. Acreditando que tudo aquilo era puro teatro, não conseguia deixar de desconfiar de sua atitude.
Isso por que, no começo do namoro, Rafael não queria que nenhum dos amigos de Laura o conhecesse. Agora, da noite para o dia, estava ele tentando fazer de todas as formas possíveis, a política da boa vizinhança. Intrigada, Benedita se perguntava constantemente, qual seria a razão para tudo isso. Contudo, por mais que ficasse a pensar, não conseguia chegar a uma resposta clara.
Porém, desconfiada do que poderia ser, sempre que ficava a sós com a amiga e ela tocava no assunto, Benê encontrava uma forma de dar um toque para a amiga. Desconfiada de que tudo não passava de um golpe, ela aconselhou Laura a ficar muito esperta com o rapaz.
Laura, contudo, não ouvia as palavras da amiga. Dizendo que ela estava parecendo sua irmã Angela, argumentava que suas desconfianças não tinham razão de ser. Rafael era uma ótima pessoa.
Benê ao ver-se sendo comparada com Angela, não gostou nem um pouco disso. Contudo a despeito disso, continuou a dizer a amiga, para que ela tomasse cuidado com ele. Mas, ao perceber com o passar do tempo, que Laura fazia ouvidos de mercador, a tudo o que ela dizia, Benê, cansou-se.
Certa vez, dizendo que estava cansada de alertá-la, Benedita falou a amiga, que nunca mais discutiriam sobre isso. No entanto, quando ela se desse mal com o rapaz, não ia querer nem saber. Benedita, irritada com a amiga, comentou que se alguma coisa desse errado com relação a esse namoro, que ela fosse chorar no ombro de outra coitada, que ela não estava ali para amparar gente desmiolada.
A moça, ao ouvir as duras palavras de Benedita, aborrecida com a amiga, prometeu também, que nunca mais a incomodaria com seus problemas.
E foi assim, que uma grande amizade, ficou por muito tempo estremecida.
Sem falar com a amiga, Laura ficou sem o apoio de sua conselheira, de sua confidente. Enfim, de sua grande amiga. Chateada, Laura chegou a comentar com tristeza a Rafael, que havia rompido relações com sua melhor amiga.
O rapaz, percebendo a tristeza da moça, comentou:
-- Não se preocupe. Cedo ou tarde vocês acabaram fazendo as pazes. Até por que, uma amizade tão grande quanto a de vocês duas, não pode acabar assim, de uma hora para outra. Não se preocupe. Toda a vez que duas pessoas brigam, ficam chateadas, mas acabam voltando as boas. Não tem erro. Pode acreditar!
Laura, agradeceu o conselho. E apesar de chateada por ter brigado com Benedita, a moça ficou feliz de saber que poderia contar com uma pessoa tão legal quanto ele.
Quanto a isso Laura acreditava que era a pessoa mais afortunada do mundo por ter ao seu lado uma pessoa tão legal quanto Rafael.
Prestativo como nunca fora antes, o rapaz dava a impressão de que era realmente a pessoa certa para ela. Por isso mesmo, sempre que alguém o criticava, ela ficava aborrecida. Afinal de contas, como uma pessoa tão gentil e legal com ela podia estar fingindo, ou estar sendo mal intencionada? Por acaso ela não merecia que alguém gostasse dela?
Essa desconfiança de Angela e Benê deixava-na profundamente desapontada.
E assim, convencida de que Rafael era uma boa pessoa, Laura acabou dando um grande passo. Um passo que mudaria sua vida completamente.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.  

VEM DANÇAR COMIGO? - CAPÍTULO 5

 Nisso, uma nova semana começou, e com ela, mais trabalho. Foi durante o expediente que Laura comentou com Benê sobre a briga e a reconciliação com sua irmã. 
Benê que até então só discordara de Angela, pela primeira vez concordou com ela. Ao conhecer o teor da última desavença das duas, Benê, apesar de considerar extremada a atitude de Angela, concordou com sua preocupação, pois Laura realmente estava agindo muito estranhamente nos últimos tempos. 
Segundo Benedita, Laura estava se comportando muito mal. Em suas palavras, se Laura morava com Angela, ao menos alguma satisfação ela devia dar a irmã. 
Além disso, Eugênia e Renata não eram boas companhias. Isso por que, como só pensavam em namorar, cedo ou tarde acabariam envolvendo Laura em alguma confusão. 
Laura, depois de ouvir a amiga, respondeu:
-- Olha Benê, eu até entendo que você não goste das duas, mas daí dizer que as duas não são boas companhias, já vai uma diferença muito grande.  
-- Laura, preste atenção! Eu não disse isso para te deixar mal com as duas. Eu não disse que Eugênia e Renata são más pessoas. Eu só estou dizendo, que elas são muito destrambelhadas. Repito, eu se fosse você tomaria cuidado com as duas, isso por que elas ainda vão acabar te envolvendo em alguma confusão. Fique atenta. 
Laura contudo, não dava crédito às palavras da amiga. Como achava Benê muito exagerada, não podia acreditar que tudo o que ela dizia, poderia se tornar verdade. 
Infelizmente, acabaria se tornando. Acabaria se tornando por que, com suas freqüentes saídas, Eugênia e Renata acabaram por arrumar namorados. Como saíam sempre sozinhas, os pretensos namorados acharam que não havia nada demais em ficarem até tarde da noite juntos com as moças.
Laura, contudo, não gostou nem um pouco disso. Temendo que aquele arranjo não acabasse bem, a moça alertou as amigas para o fato de que sair, altas horas da noite, em companhia de estranhos, não era uma boa idéia. 
Renata e Eugênia no entanto, acreditando que Laura estava exagerando, nem ligavam para as suas recomendações. Não bastasse isso, por conta da preocupação –  segundo elas –, excessiva de Laura, ambas começaram a dizer que a moça estava parecendo com sua irmã, Angela.
Laura, ao ouvir a brincadeira das colegas, não gostou nem um pouco. Aborrecida, foi embora deixando as duas sozinhas.
Assim ao chegar em casa, deparou com Angela, que surpresa, chegou até a comentar:
-- Laura! A essa hora em casa. Meus parabéns! Parece que está criando juízo nesta sua cabecinha.
Nisso, Laura, aborrecida, tratou de entrar em seu quarto. Trancou a porta, e se jogou na cama. 
Angela, vendo a atitude da irmã, ficou bastante preocupada. Por esta razão, ao ver que Laura não saía do quarto, começou a bater na porta do seu quarto. 
Suavemente, como raras vezes fazia, Angela perguntou a irmã se ela estava precisando de alguma coisa. No entanto, por mais que perguntasse, não ouvia nenhuma resposta. Suspeitando que a moça estivesse dormindo, acabou se despreocupando. Até por que, era melhor ver Laura recolhida em seu quarto, do que em companhia de pessoas estranhas e de má conduta. 
Todavia, não seria por muito tempo que as três amigas permaneceriam brigadas. Isso por que, Eugênia e Renata, percebendo que haviam se excedido, ao verem a colega chegando para trabalhar na loja, dias depois, trataram logo de conversar com ela e lhe pedir desculpas pelo ocorrido. 
Laura contudo, estava muito reticente para aceitar de imediato as desculpas das colegas. 
Renata e Eugênia, notando a atitude arredia de Laura, continuaram insistindo para que ela as desculpasse. Isso por que, segundo elas, as duas se aborreceram com Laura por que não gostaram de seus comentários a respeito de seus respectivos namorados. 
Porém, ao caírem em si, constataram que ela não havia dito aquilo por mal, fora apenas por cuidado. Com isso, constatando a intenção dela, Renata e Eugênia chegaram a conclusão de que lhe deviam desculpas. E era exatamente por isso, que estavam agora conversando com ela. Tentando se desculpar pela atitude intempestiva que tiveram, estavam agora pedindo desculpas. 
Laura, então, percebendo que não conseguiria se livrar das duas, acabou aceitando as desculpas. Entrementes, ao contrário do que vinha fazendo, não seria sempre que as três sairiam juntas. Isso por que, já que as duas tinham namorado, não fazia sentido nenhum nela, ser a vela do grupo. 
Renata e Eugênia divergiram da opinião da colega, mas, respeitando seu ponto de vista, não se opuseram. Assim, as três só sairiam juntas de vez em quando.
Nesse momento, Benê, chegando na loja, percebendo que as três estavam conversando, começou a arrumar sozinha a loja. Cumprimentando as três, começou a trabalhar logo que entrou na loja. Depois, percebendo que Laura também começara a trabalhar, resolveu se aproximar da moça, para saber o que estava acontecendo. 
Benê, como amiga que era de Laura, tomou logo conhecimento de que as três brigaram dias atrás. Mas agora, arrependidas vieram se desculpar. No entanto, como a situação se modificara, Laura pediu as amigas que as saídas diminuíssem. Até por que, se as duas tinham namorado, que sentido tinha em ela ir junto? Acabaria atrapalhando o namoro das duas.  
Benê percebendo que a amiga estava mais cuidadosa, tratou logo de elogiar sua atitude. Acreditando que Laura estava tomando a decisão certa, recomendou-lhe que continuasse agindo assim. Dessa forma, dificilmente se envolveria em algum tipo de encrenca.
No entanto, a despeito dela não se encontrar mais com tanta freqüência com suas colegas, a moça, em suas constantes incursões pela noite, acabou também, depois de algum tempo, encontrando um parceiro.
Benê ao saber da novidade, ficou bastante apreensiva. Isso por que, sabendo do que ocorrera com o último namoro da amiga, quis logo saber se o rapaz era boa gente.
Laura comentou então, que seu atual namorado era muito mais gentil que o anterior. 
Benedita entretanto, ao ouvir as palavras empolgadas da amiga, não ficou nem um pouco convencida disso. Tanto que pediu a Laura que apresentasse o pretenso namorado a ela.
Foi aí que Laura comentou que raramente saía com ele a noite, e portanto dificilmente Benê conheceria o rapaz. 
Benedita, então, percebendo que Laura faria o possível para esconder o rapaz, resolveu tomar uma decisão inesperada. Sabendo que a única maneira de conhecer o famigerado namorado era saindo com ela a noite, acabou finalmente aceitando um convite sair. 
Laura, surpresa com isso, mal podia acreditar, que sua amiga finalmente sairia com ela a noite. 
Mas Benê concordou. 
E assim sábado a noite, lá estava Benê, na portaria do prédio onde morava Laura, pronta para sair. A moça, assim que chegou, tratou de pedir ao porteiro, para interfonar para a amiga, avisando que ela já havia chegado. 
Laura, ao ser avisada, tratou de descer. Na portaria, encontrou Benê. A moça estava tão produzida, que nem parecia sua velha amiga de tempos. 
E assim, Laura, surpresa, mal reconheceu a amiga. Benê estava um arraso. 
Tanto que Laura chegou a comentar:
-- Quem diria! Benê você está uma verdadeira diva! 
Benê, respondeu então, que ela estava exagerando. 
Mas Laura insistiu. Como sempre a via usando roupas simples, quase sem maquiagem, mal podia imaginar toda aquela exuberância. Apesar de saber que a amiga era bonita, nunca a tinha visto tão bem assim. 
Benê então, pediu a amiga que se apressasse.
Laura atendeu o pedido da amiga, e lá foram elas.
As duas foram assistir um show. 
Como era de se esperar, Laura encontrou seu namorado por lá. Aproveitando o ensejo, foi logo apresentando, Rafael, para a amiga.
O rapaz, usando uma camisa azul, calça jeans justa, e botinha, estava completamente inserido no modismo do período. 
Benê ao cumprimentar o rapaz, achou-o um tanto quanto pretensioso. Contudo, procurando ser simpática, não fez nenhum comentário a respeito do rapaz, com a moça. Não queria estragar a noite. 
E assim, os três assistiram juntos ao show. Mais tarde, os três saíram para juntos para jantar.
Benedita, ao perceber que o casal estava indo para um restaurante, resolveu se despedir dos dois. Isso por que, percebendo que ambos queriam ficar sozinhos, sentiu que iria atrapalhá-los se acompanhasse o casal no restaurante. Assim, quando surgiu a primeira oportunidade, Benedita tratou de dizer que havia se lembrado de um compromisso, e que por isso, teria que se levantar cedo no dia seguinte. Por esta razão, precisava voltar para casa. Além disso, já havia comido um pouco antes de sair de casa.
Laura contudo, desconfiada de que aquela era apenas uma desculpa para deixá-los a sós, tentou de todas as formas possíveis, convencer a amiga a acompanhá-los. 
Mas Benê estava decidida a ir embora. 
Rafael, percebendo que Benedita estava constrangida, sugeriu a amiga que a deixasse ir, mas que antes, comesse alguma coisa. Depois, se ela tivesse vontade, poderia ir embora. 
Benê, meio sem jeito, acabou concordando, depois que Laura e Rafael disseram que ela, não precisava se preocupar. Afinal de contas, Benedita não estava atrapalhando ninguém. Se eles a convidaram, era por que queriam sua presença. 
Então, lá se foram eles para o restaurante. 
Famintos os três comeram um belo prato de ravioli. Como bebida, refrigerante.
Nisso Benê, depois de cear, sugerindo aos dois que pedissem a conta, comentou que precisava ir. 
Laura, ao perceber a pressa da amiga, comentou que ela não precisava se apressar.
Mas Benê, alegando que tinha um assunto para resolver no dia seguinte, comentou que precisava voltar para casa logo. 
Rafael e Laura que não tinham pressa, combinaram que eles pagariam a refeição dela. 
Benê não queria aceitar, mas o casal insistiu tanto, que ela acabou aceitando.
Com isso, Benedita se despediu, deixando os dois a sós.
Nisso, Rafael e Laura, aproveitaram para ficar mais um pouco no restaurante. E assim os dois saborearam uma boa sobremesa e depois foram embora.
Rafael, como quem não quer nada, sugeriu então a ela, que fossem para um lugar mais íntimo.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.