Poesias

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

BARRACÃO DE ZINCO - CAPÍTULO 1

São Paulo, década de quarenta. Ruas tranqüilas, pacatas. Como barulho, somente a buzina de alguns carros que circulam pela cidade, assim como alguns vendedores de jornal e de outros produtos da época.
Nessa época era tudo muito calmo, e seria muito mais, não fosse a dura vida dos operários. Época de sonhos, mas época também de lutas.
Enquanto alguns viviam no fausto, na riqueza, outros não tinham nada para oferecer além de sua miséria.
Pobreza em fartas porções, para os pobres trabalhadores; operários e funcionários das fábricas da localidade.
Nada além disso, para oferecer.
Pobres, miseráveis, viviam em miseráveis casebres, nas mais desumanas condições.
Trabalhavam doze, quatorze, dezesseis, dezoito horas por dia.
Não tinham direito a nada.
Descanso, somente o indispensável para se manterem em pé durante a jornada laborativa.
E assim, dia após dia, trabalhavam durante horas em fábricas, sujeitos aos arbítrios de patrões intolerantes e intransigentes.
Mas tenazes, não temiam o trabalho. Também, valorosos, não temiam a luta, e por isso, conscientes de que tal exploração não podia continuar, passaram a ser organizarem em grupos.
Grupos esses de luta operária. Grupos esses, que acreditavam na melhoria das condições de trabalho dos operários. Que acreditavam em uma vida melhor para todos os trabalhadores.
Acreditavam em uma causa.
E assim, embasados em uma forte corrente ideológica, passaram a lutar. Lutar por sua dignidade. Contra as desigualdades. Lutar contra a exploração do trabalho humano.
Dessa forma, os operários, organizados em grupos de luta operária, passaram a lutar fortemente contra essas injustiças.
Redigindo jornais e amealhando pessoas para engrossarem as filas de manifestantes operários, esses valorosos soldados da justiça, queriam acabar com a exploração do homem pelo homem.
Esses homens e mulheres valorosos, queriam ter melhores condições de trabalho.
Queriam também, dignidade.
Por conta disso, uma jovem, chamada Clarissa, tomada de uma forte consciência social, passou a fazer parte de um desses movimentos.
Voraz leitora de alguns dos principais jornais operários da época, a garota, profunda admiradora dos movimentos internacionais em prol de melhores condições de trabalho, queria por que queria, fazer parte de algum desses grupos.
No entanto, seus parentes eram totalmente contra.
Isso por que, seus tios e tia sabiam que se envolver com esse tipo de luta, acabaria por colocá-la em confusão. Por isso, faziam tudo o que podiam para impedi-la.
Mas Clarissa era teimosa.
Ao começar a trabalhar em uma fábrica, fez todo o possível para se tornar conhecida dos operários e se engajar na luta por melhores condições de trabalho.
Todavia, não foi fácil para a jovem, enfrentar a família e participar das reuniões que aconteciam constantemente após a jornada de trabalho na fábrica.
Diversas vezes, Clarissa teve que burlar a vigilância da família que insistia em mantê-la afastada de toda essa confusão.
Convencidos de que o melhor para a moça era se conformar com a dura condição em que viviam, Clarissa sempre lhes respondia que:
-- Se vocês preferem se acovardarem a lutar pelas injustiças, tudo bem. Quanto a isso, eu não posso fazer nada. Mas não me peçam para fraquejar, por que isso eu não o farei. Eu não vou me acovardar.
E assim, a garota encerrava a conversa.
Muito embora Raquel, Bartolomeu e Ludovico ficassem desapontados ao ouvirem tais palavras da moça, os mesmos não desistiam de convencê-la a não se envolver com os obscuros movimentos operários.
Isso por que, todos eles, operavam na clandestinidade.
Por isso, dia após, dia, Raquel, Ludovico e Bartolomeu voltavam a carga para convencê-la a desistir de se envolver com o dito movimento.
Diziam:
-- Minha sobrinha, esqueça esse movimento. Você vai acabar se metendo em confusão.
Mas Clarissa não lhes dava ouvidos.
Para ela a explicação de sua existência, talvez residisse no fato dela estar participando de algo assim.
Assim, ao abrir mão de uma posição individualista, a moça estava dando um grande passo para algo maior. Uma coisa que talvez, não fosse nem para ela, mas que com certeza, faria muita diferença na vida de alguém.
Sim, quanto a isso, não havia a menor dúvida, visto que arriscava-se, se envolvendo com esses movimentos clandestinos. Todavia, jamais poderia ser se esquecer que esta luta era coletiva.
Isso por que, os operários estava lutando por algo muito maior do que suas próprias existências.
Era por isso, por esse valor maior, que Clarissa desde cedo, se interessara em fazer parte desse tipo de movimento. Acostumada a ler sobre o assunto, ainda muito cedo já se fazia notar seu interesse pelo tema.
Em razão disso, por muito anos, acalentou o sonho de fazer parte desta luta, e agora finalmente, ainda que com muito custo – haja vista o trabalho que tinha para despistar os tios, quando necessário, para participar de uma reunião –, Clarissa estava conseguindo alcançar o seu objetivo.
Muito embora estivesse gostando de participar das reuniões que os operários – seus colegas de trabalho – realizavam, Clarissa sentia que podia fazer mais em prol da luta.
Mas seus colegas, sabendo que a moça era ainda muito jovem e estava há pouco tempo com eles, insistiam em dizer-lhe, que ainda não era chegada a hora. Contudo, assim que surgisse uma boa oportunidade para ela fazer algo maior, nenhum deles esqueceria de seu oferecimento.
E assim, só restava a moça, esperar. Esperar pacientemente, até o momento certo de agir.
Enquanto isso, aproveitava para ouvir atentamente as reivindicações dos trabalhadores. Entre elas estavam: a redução da jornada de trabalho; a eliminação do trabalho infantil nas fábricas; melhores salários e melhores condições de trabalho para as mulheres. Quanto às mulheres, é preciso salientar, que elas e as crianças, ganhavam menos que um homem, mesmo trabalhando a mesma quantidade de tempo. Ou seja, um grande absurdo.
Para eles, tudo isso tinha que ser mudado.
No entanto, precisavam pensar na melhor maneira de se chegar a este resultado.
Por isso a necessidade de constantes reuniões. Para que assim, todos pudessem discutir e encontrar a melhor solução para resolver a questão.
E assim, discutindo entre si, chegaram a conclusão de que precisavam de uma forte liderança.
Com isso, deixando um pouco de lado suas reivindicações e visando um interesse maior, nas semanas seguintes, passaram a deliberar sobre quem seria a pessoa mais indicada para tal mister.
Em razão disso, após muito discutirem, chegaram a conclusão de que, para tal encargo, seria necessário uma pessoa que soubesse se impor. Uma pessoa que conhecesse os caminhos da luta. Enfim, uma pessoa experiente.
Por esta razão, escolheram, Bruno. Este, apesar de jovem, reunia as condições necessárias para ser um líder. Isso por que, além de já ter feito parte de outros movimentos operários, sabia como ninguém o que seria necessário fazer para que os operários alcançassem seus objetivos.
Assim, após a escolha, como primeiro gesto em direção a consecução dos objetivos da luta, Bruno sugeriu a confecção de um jornal operário, nos moldes de vários semanários que vinham sendo publicados clandestinamente.
No entanto, para isso, precisariam de dinheiro.
Por isso, diante de tal empecilho, o rapaz comprometeu-se a encontrar uma forma de resolver o problema.
Realmente, um sério problema.
Bruno tinha então, uma intrincada questão para resolver. Como faria para conseguir dinheiro e publicar um jornal?
Dias a fio, ficou a pensar no assunto, tentando encontrar a melhor forma para resolver o problema. Contudo, a única coisa que conseguia enxergar como provável solução, seria se todos, dentro de suas possibilidades contribuíssem.
Mas mesmo para isso, era muito complicado.
Afinal, o movimento ainda era inexpressivo. Poucos operários faziam parte dele. Com isso ficava muito difícil exigir deles ainda mais esse sacrifício.
Além do mais, o pouco dinheiro que ganhavam com seu trabalho, muitas vezes, mal dava para se manterem em condições dignas. Então, como poderiam ajudar financeiramente na criação de um jornal?
Bruno realmente, estava diante de um impasse.
Clarissa então, ao perceber que todos estavam em dificuldades, tratou logo de agir.
Sem comentar nada com ninguém, nem mesmo com seus colegas operários, passou a discretamente, em constantes visitas a vizinhança, pedir colaborações em dinheiro aos vizinhos.
Usando de um discurso envolvente e apaixonado, a garota convenceu muitos deles a colaborarem, e dentro de suas parcas possibilidades, a ajudarem uma instituição social, que lutava duramente contra as opressoras condições de trabalho a que estavam submetidos.
E assim, ao fim do dia, tinha conseguido uma pequena quantia.
Contudo, por não saber se já era o suficiente, continuou, nos dias seguintes a procurar pessoas interessadas em colaborar com a causa.
Dizendo se tratar de uma instituição social que ajudava os pobres e desvalidos, foi arrecadando, junto a alguns colaboradores, módicas quantias em dinheiro.
Desse modo, ao fim de alguns dias, julgando ter consigo uma razoável quantia em dinheiro, aproveitou, para em uma das reuniões do grupo, apresentar o dinheiro que tinha angariado, oferecendo-o para a criação e confecção do jornal.
Ao fazer isso, colocou-o em cima de um dos caixotes de madeira que estavam próximos de Bruno.
O rapaz então, ao ver tão razoável quantia em dinheiro, perguntou a moça:
-- Senhorita. Posso saber como você conseguiu esse dinheiro?
No que ela respondeu prontamente:
-- Sim, claro. Este dinheiro eu consegui, graças a algumas contribuições que alguns conhecidos meus, fizeram à causa.
Ao ouvir isso, o rapaz perguntou novamente:
-- Mas então, você contou sobre nós?
-- Não. Não se preocupem, exceto para os conhecidos, que já sabem das minhas convicções, eu não contei para ninguém, qual seria a finalidade desta contribuição.
-- Desta contribuição?
-- Sim. Por que se eu falasse que era para a confecção de um jornal operário, provavelmente, muito poucas pessoas iriam contribuir. Para dissipar qualquer desconfiança das pessoas, eu apenas disse que se tratava de uma instituição social, que cuidava dos pobres e desvalidos.
Bruno então, encarou a jovem, admirado.
Como uma garota pudera ter tanta vivacidade para se arriscar em algo tão perigoso, mas feito de maneira tão engenhosa?
Foi então, que diante de tão surpreendente atitude, que nem sequer, ele próprio havia pensado, ele perguntou a ela:
-- Qual a sua graça?
-- Meu nome é Clarissa. – respondeu.
-- Pois então Clarissa, diante de seu empenho e dedicação, quero que seja minha auxiliar na confecção deste jornal no qual te empenhaste tanto em conseguir o dinheiro. Está bem?
Clarissa, ao ouvir isto, ficou radiante. Mal podia crer no que estava ouvindo.
Por isso, ao ouvir o inesperado convite, demorou para dar uma resposta.
Em razão disso, Bruno fez novamente a pergunta.
Nisso, Clarissa que estava entusiasmada com a novidade, ao ouvir novamente a pergunta respondeu:
-- Sim. Mas é claro que está bem. Obrigada.
De tão feliz que ficou com o convite, por dias a fio, ficou pensando sobre o que poderia ser matéria do jornal.
No entanto, apesar de sua recente felicidade, sabia perfeitamente, que esta, não poderia ser compartilhada com sua família. Se ela, Clarissa, cometesse a imprudência de comentar sobre a novidade com a família, fatalmente seria posta de castigo, e impedida de sair de casa, a menos que fosse trabalhar.
Tia Raquel e os tios Bartolomeu e Ludovico, jamais concordariam com isto.
Por isso, sempre que precisava sair para participar de uma reunião, dizia que tinha que trabalhar até mais tarde.
Com isso, crédulos que eram, acreditavam na sobrinha. Afinal de contas, por que ela mentiria para eles?
Além disso, para despistá-los e embotar qualquer desconfiança que tivessem nela, Clarissa aproveitou, para disfarçar seus interesses.
Alegando estar cansada de ler tanto sobre lutas sindicais e sobre os proletários, – grupo do qual fazia parte – a moça resolveu aproveitar, para ouvir um pouco mais de rádio.
E nisso ficava por algumas horas, ouvindo músicas.
Certa vez Raquel, ao retornar do trabalho, vendo que a sobrinha se entretinha ouvindo rádio-novela, ficou deveras satisfeita. Isso por que, para ela, era mais do que um sinal de que a sobrinha estava mudando seus interesses.
Até por que, para a sobrinha, esse tipo de entretenimento, não passava de uma grande bobagem. Essas historietas, não passavam de grandes besteiras que só serviam para desviar a atenção dos assuntos realmente importantes. Para ela, rádio novela, era uma forma de alienação.
Por isso, Raquel, ao ver a sobrinha se distraindo com este tipo de programa, ficou feliz. Muito embora considerasse um pouco repentina a mudança, Raquel sempre desconfiou que a sobrinha ouvia este tipo de programa, escondida deles.
No entanto, no cortiço em que viviam, seria um pouco difícil Clarissa ligar o rádio e ouvir alguma coisa, sem que eles tomassem conhecimento. Afinal só havia um rádio e os cômodos da casa, eram todos muito próximos. Assim, exceto quando ficava sozinha em casa, em sua morada não havia nada que pudesse fazer escondida.
Mas voltemos a rádio novela.
Nos últimos dias, havia estreado uma rádio novela intitulada ‘Encontro com o Desconhecido’.
Era a história de uma garota rica que resolveu ser espiã.
Contudo, não se sabia ao ser certo sua nacionalidade.
O que se conhecia da moça, era que esta havia vivido em vários países da Europa. Sofisticada, percebia-se desde logo que nunca passara por dificuldades financeiras. Além disso, era extremamente versátil e habilidosa. Conseguia facilmente, descobrir as informações que lhe interessavam.
E assim, começou mais uma história da espiã misteriosa.
Enquanto tomava seu café da manhã, vestida com um bonito casaco de inverno, Eleonora, – como era conhecida pela misteriosa organização na qual trabalhava – foi chamada para mais uma missão.
Através de um bilhete trazido pelo garçon, é que a moça tomou ciência do chamado.
Dessa forma, ao ler o recado, levantou-se e retornou ao seu quarto.
Nisso, em poucos minutos, recebeu uma ligação informando-a de todos os detalhes da operação. Como era uma missão secreta, as mensagens vinham cifradas. Somente quem conhecia os códigos conseguiria descobrir o conteúdo das mensagens.
Além disso, quando Eleonora entrou na organização, foi instada a fazer um juramento, o qual consistia, em que caso de prisão, nunca revelar segredos de seu mister.
Com isso, queriam dificultar sobremaneira, o acesso as informações sigilosas.
Ademais, a heroína partiu em mais uma misteriosa e perigosa missão.
Fazendo-se passar por garçonete, conseguiu emprego na cozinha de um grande hotel em Berlim.
Lá seria realizado, um jantar com as mais altas autoridades da Alemanha. Nesse jantar políticos e membros da Gestapo, estariam presentes.
De formas que, seria uma grande oportunidade para se descobrir algo sobre os planos dos alemães, com relação ao desenrolar da Grande Guerra.
Assim, enquanto servia os convidados do banquete, Eleonora, aproveitando-se da situação propícia, procurou escutar o maior número possível de conversas. Discretamente, sempre que percebia um copo vazio, perguntava ao convidado se ele gostaria de ter mais um pouco de bebida.
Com isso, freqüentemente era chamada por algum dos convidados, para servi-los mais uma vez. Dessa forma, como os mesmos não estavam nem um pouco preocupados em esconder as conversas que entabulavam, Eleonora foi percebendo que o assunto principal deles, era o modelo de Estado que Hitler queria implantar na Alemanha e a perseguição aos judeus. Para eles, assim como para o restante da população, os judeus eram uma raça inferior e mereciam morrer.
Eleonora, ao ouvir as duras palavras dos oficiais da Gestapo, e de alguns dos políticos que ali estavam, ficou assombrada. De tão impressionada, chegou até a quebrar uma garrafa de bebida.
Tal fato lhe rendeu uma severa admoestação.
Contudo, a moça não intimidou. Desculpou-se pelo incidente e continuou servindo os convidados. Recuperada do choque das afirmações dos convidados, continuou o seu trabalho.
E assim, durante algumas horas, pôde ouvir, os mais absurdos comentários feitos aos judeus, bem como pôde constatar que a Guerra, se desenrolava sobretudo, para satisfazer os interesses expansionistas do führer.
Mas entre essas conversas, depois de algum tempo, chegou a ouvir de alguns dos convivas, que eles estavam planejando no dia seguinte levar um bom número de judeus, para um campo de concentração.
Ao tomar ciência da informação, pensou logo em uma forma de avisar a organização dos planos dos oficiais.
Para isso, no entanto, precisaria de desvencilhar da incômoda presença do chefe de cozinha, que insistia em lhe atrapalhar, sempre que podia.
Por esta razão, quando surgiu a oportunidade de ir até a cozinha e buscar mais garrafas de bebidas, aproveitou para sair, discretamente do hotel. Para tanto, trocou suas roupas e saiu pelos fundos. Não podia chamar a atenção.
Ao sair do hotel, olhou em todas as direções, se denotando o extremo cuidado que teve, em não ser seguida. E assim, caminhando apressadamente, chegou ao local do encontro e informou ao seu superior, que os oficiais se preparavam para retirar mais alguns judeus dos guetos. Contudo, precisavam agir depressa, já que os oficiais iriam agir ainda pela manhã.
Dessa forma, de posse de tal informação, seu superior tratou logo de comunicar o fato a organização. Isso por que, precisavam agir rapidamente.
Nisso, Eleonora retornou ao hotel. Lá, vestiu novamente seu uniforme.
Contudo, diferente do que esperava, o chefe estava enfurecido, procurando por ela.
Por isso, Eleonora, ao perceber a situação, fez o que pôde para se desvencilhar do insistente senhor.
Todavia, a certa altura da noite, não foi mais possível se esconder. Ao término do jantar, foi imediatamente chamada por ele, para tentar explicar, o por quê de sua ausência durante alguns minutos.
Eleonora então explicou que sumiu, por que estava procurando na adega um vinho que um dos convidados havia pedido. Era um vinho muito bom, de uma antiqüíssima safra.
Todavia, o mesmo não ficou convencido. Por ser um grande chefe de cozinha, por que a moça não pediu a ele para lhe informar se havia o tal vinho?
Eleonora ficou então, diante de uma situação difícil.
O que poderia fazer para se explicar? Foi então que, pensando, pensando, acabou chegando a uma solução. Como a certa altura no jantar, o chefe teve que retornar para a cozinha e cuidar pessoalmente da comida que estava sendo preparada, a moça achou por bem, não incomodar. Além disso, era o seu trabalho servir os convidados. E assim o fez.
Com isso, a dúvida se desfez.
No entanto, para azar da moça, o chefe então perguntou:
-- E então, fräulein, conseguiu encontrar a famigerada safra?
Ao ouvir a pergunta, a moça se viu novamente envolvida, em uma situação difícil. Afinal, o que poderia responder, se nem ao menos entrara na adega?
Precisava pensar.
Assim, sem entrar em pânico respondeu que sim, havia encontrado. Além disso, comentou que o convidado gostou tanto da bebida, que ofereceu-a aos amigos e que, em razão disso, beberam todo o conteúdo da garrafa.
Mas o chefe não estava satisfeito.
Por isso, ao ouvir a resposta da moça, resolveu olhar a carta de vinhos. Foi então, que para sua decepção, descobriu que a aludida safra de vinho, estava incluída entre as demais opções do restaurante. Fato este, que nem mesmo ele se lembrava.
Diante disso, sem ter como continuar importunando a moça, apenas disse:
-- Está bem. Pode voltar para casa.
E nisso Leonora saiu.
Por volta das quatro horas da manhã, voltou para o hotel onde estava hospedada. Era um lugar simples, completamente diferente do hotel onde estivera hospedada quando da convocação para esta missão.
Isso por que, não poderia chamar a atenção. Se ficasse em hotel requintado poderia ser facilmente reconhecida por algum dos convidados do jantar.
Apesar de boa parte dos convidados ser ali da cidade, havia alguns estrangeiros que compactuavam com os ideais nazistas e por isso, foram igualmente convidados para o jantar.
Sim, como espiã, Eleonora tinha que se proteger.
Além disso, a organização para a qual trabalhava, pensava em tudo, quando executava um plano. Assim, não poderiam haver falhas.
Desta forma, em retornando para o referido hotel, Eleonora trocou de roupa.
Já estava pronta para dormir, quando foi novamente chamada para dar prosseguimento a missão.
Sua missão era, auxiliar outros espiões a retirarem os judeus do gueto, sem chamar a atenção dos moradores da região e muito menos dos membros da Gestapo.
Sim, depois de quase três horas do encerramento do jantar, a organização já tinha um plano para ajudar alguns judeus. No entanto, precisavam agir rápido.
E assim o fizeram.
Eleonora prontamente trocou sua roupa simples por um uniforme militar estrategicamente providenciado para esta ocasião.
Assim, como seus demais companheiros, estava pronta e uniformizada.
Com isso, todos estavam preparados para a missão.
Esta missão seria talvez, o passo mais importante que ela já havia dado, trabalhando para a organização. Muito embora nunca tivesse participado de uma missão tão complexa, sentia-se totalmente preparada. Era como se tivesse nascido fazendo isso.
Contudo, tinham pouco tempo para agir. Por isso, precisavam ser ágeis.
Dessa forma, dado o adiantado da hora, resolveram esperar os oficiais retirarem os judeus do gueto e os levarem até o trem.
Observando de longe, com a ajuda de binóculos, o trabalho dos oficiais alemães, aguardaram então, o momento oportuno para agir. Seguindo-os de longe e discretamente, os espiões que analisavam os passos dos oficiais, e repassavam cada detalhe aos colegas que os aguardavam na estação.
Estava tudo indo muito bem.
Quando então os oficiais embarcaram os judeus em um trem, alguns espiões, disfarçados, aproveitando-se da grande quantidade de pessoas que estavam na estação, aproveitaram para se misturarem com os judeus.
Dessa forma, viajando em condições precárias, os agentes puderam tomar contato com a dimensão do sacrifício que estava sendo imposto aos mesmos. Mas, discretos, procuraram agir como se fossem parte do grupo.
Nisso, enquanto o trem partia rumo a um campo de concentração, outro grupo de espiões acompanhava-o de longe. Nesse grupo estava Eleonora, que desde a saída dos judeus do gueto, acompanhava os passos dos oficiais nazistas.
Eram três grupos, sendo que dois deles estavam unidos no presente momento.
Assim, enquanto os oficiais levavam os mesmos para um campo de concentração, Eleonora, bem como os demais espiões da organização, poderiam aproveitar a oportunidade, e interceptar o trem, da forma mais audaciosa que já se viu.
E assim o fizeram.
A certa altura da viagem, recebendo o sinal que aguardavam, começaram a agir.
De dentro dos vagões, os espiões infiltrados diziam para que os judeus não tivessem medo, posto que seriam levados para fora dali, bem longe de qualquer campo de concentração. Contudo, precisavam ficar quietos e calmos, pois, se os oficiais percebessem qualquer coisa errada, fatalmente iriam apurar.
Nisso, mesmo receosos, os judeus concordaram em colaborar para que o plano desse certo.
Com isso, depois de alguns minutos, os vários jipes distados, aumentando sua velocidade e por meio de alguns atalhos, conseguiram se aproximar de surpresa do trem. Contudo, prevendo resistência por parte dos oficiais, alguns agentes invadiram os vagões de luxo do trem, e renderam os oficiais.
Se aproximando do trem pelo último vagão, com a ajuda do treinamento que receberam e dos equipamentos que tinham disponíveis, subiram até o teto dos vagões, e andando em cima do trem, chegaram, até as cabines onde estavam os oficiais, bem como a cabine de controle, onde estava o maquinista.
Rendido, o maquinista teve de parar o trem.
Nisso, os agentes, prenderam os oficiais nos banheiros dos vagões do trem.
Assim, amarrados e trancados, não tinham como fugir.
No mais, os vagões de carga, nos quais estavam os judeus e os agentes, foram todos abertos e os judeus libertados.
No entanto, havia uma grande problema a se resolver.
Como fazer para levar milhares de pessoas para fora do país, sem chamar a atenção de ninguém?
Para a surpresa de Eleonora, até nesse detalhe já haviam pensado.
Com o sucesso da operação, um avião de carga pousou em meio a descampado próximo dali. Nesse avião, foram levados os judeus.
Ao entrarem nesse avião, abririam mão de uma vida de dores e sofrimentos e recomeçariam em um novo país, em outro continente. Para isso foram providenciadas roupas e documentos falsos para eles.
Além disso, por se tratar de um avião de carga, poderiam facilmente viajar, sem serem incomodados. Contudo, para evitarem problemas, em meio aos passageiros clandestinos, tiveram o cuidado de também colocarem mercadorias no avião.
E assim, quase oito mil judeus foram embarcados para fora da Alemanha.
Eleonora ficou impressionada.
Curiosa, de tanto pensar, chegou a seguinte conclusão:
Provavelmente empresários colaboraram para que a missão desse certo. Isso por que, mesmo a organização sendo forte, não havia como fazer tudo sozinha. Provavelmente era financiada por alguns empresários, inclusive de outros países.
Mas só pensou. Não comentou nada disso com ninguém.
Enquanto isso, o aludido feito, foi manchete de inúmeros jornais na Alemanha e em outros países. Para desespero dos alemães.
Contudo, o feito, foi motivo de orgulho para os espiões que se empenharam em livrar os judeus de um trágico fim.
Para Eleonora, o resgate dos judeus foi uma rara oportunidade de mostrar que tinha capacidade para o trabalho.
Sim, poderia se tornar uma excelente espiã. E foi justamente por isso, que abandonou uma vida de luxo. Seu sonho sempre fora viver um grande desafio. E para ela, não havia algo mais desafiante de que atuar como espiã.
Mas enfim, o grande feito estava encerrado.
Por conta disso, e os demais profissionais envolvidos no resgate, aproveitaram para se divertirem em um curto período de férias.
Isso por que, após certas missões, era imperativo que os envolvidos saíssem de circulação por algum tempo. Para que assim, não pudessem ser reconhecidos e associados aos eventos de que participaram.
Todo esse cuidado era por um simples motivo.
Se algum dos espiões fosse pego, a própria organização ficaria a um passo de ser descoberta. E esse era um risco que não poderiam correr.
E assim, Eleonora aproveitou para tomar refrescantes banhos de mar na Riviera Francesa.
Enquanto não era chamada para desempenhar uma nova missão, a moça aproveitava para se deleitar com a paisagem praiana do país.
E assim, terminou a transmissão da rádio novela. A seguir vieram os programas musicais, que eram a essência desse meio de comunicação.
Raquel, sua tia, ao saber que o próximo programa tocaria grandes sucessos da época, pediu a Clarissa que não desligasse o rádio.
Assim, enquanto tocavam os sucessos de Ari Barroso, Dorival Caymi, entre outros, Raquel sonhava acordada com a possibilidade de um dia vir a conhecê-los.
Ao ouvir isso, Clarissa então, despediu-se da tia, dizendo que precisava dar uma volta, saiu de casa e só voltou tarde.
Seus tios, Bartolomeu e Ludovico, preocupados com o seu possível sumiço, advertiram a moça, de que ela não deveria ficar até tão tarde na rua.
Clarissa contudo, ao perceber a preocupação dos tios, disse aos mesmos, que eles não deveriam se preocupar, já que tinha chegado em casa bem. Afinal de contas, São Paulo era uma cidade tranqüila e não havia nada de mais em passear por ali.
Mas eles, preocupados com seu comportamento, lhe disseram então, que ela estava proibida de ficar até tarde na rua.
Porém, mesmo diante de tal proibição, a moça insistia em ficar por longas horas longe de casa.
Por mais que ralhassem com ela, Clarissa não obedecia às suas recomendações.
Alegando que estava fazendo serão, dizia sempre aos seus tios que estava voltando tarde do trabalho, em razão disso. Por conta das horas a mais que tinha que trabalhar, acabava tendo que atrasar sua volta para casa.
No entanto, com o passar do tempo, seus tios não estavam mais muito convencidos disso.
Afinal mesmo fazendo serão quase todas as noites, a moça voltava muito tarde para casa. Muito mais tarde do que seria o esperado.
Diante disso, precisavam tomar uma atitude.
Contudo, não sabiam direito o que fazer.
Apesar de confiarem na moça, o comportamento estranho de Clarissa ultimamente, dava margem a muitas desconfianças. Por isso mesmo, resolveram que a partir daí, passariam, sempre que pudessem, perto da fábrica.
Lá, junto aos demais funcionários, tomariam conhecimento dos serões e das horas extraordinárias. Isso por que, quando havia hora extras, praticamente todos os funcionários tinham que permanecer na fábrica, até o término do trabalho.
Contudo, mesmo tal controle seria complicado.
Isso por que, todos, em razão das dificuldades, tinham que trabalhar.
Mesmo Raquel, que ficava boa parte do tempo em casa, trabalhava para ajudar a família.
Como forma de auxiliar nas despesas domésticas, Raquel lavava e passava as roupas das freguesas abastadas que tinha na cidade.
Já Bartolomeu e Ludovico, trabalhavam em uma fábrica de macarrão. Lá, na linha de produção ajudavam a preparar o produto para venda. Cortando e embalando a massa, ganhavam o suficiente para sobreviverem.
E a moça, que também trabalhava, ao perceber que seus tios estavam de olho nela, resolveu então, tomar cuidado.
Clarissa então, percebendo que os mesmos a estavam vigiando, resolveu tomar uma atitude. Para evitar a desconfiança dos tios, Clarissa se ofereceu para fazer alguns serviços para eles.
Assim, após o término de seu trabalho na fábrica, a moça sempre que podia, aproveitava para ir até a padaria e comprar pães para levar para casa. De vez em quando também, aproveitava para ir até o açougue comprar carne.
Contudo, em razão dos tempos de guerra, os produtos começaram a ser racionados.
Por isso, muitas vezes para se conseguir comprar algum produto, se tinha que ficar por horas a fio em uma fila, aguardando a vez.
Com isso, Raquel, Bartolomeu e Ludovico desanuviaram seus pensamentos, e passaram a confiar mais na sobrinha.
Isso por que, se ela mesma estava se dispondo a fazer algumas compras era porque tinha disponibilidade de tempo para isso. Sim.
Desta forma, a moça não teria mais tempo para reuniões clandestinas com grupos operários.
Seus tios então, puderam respirar aliviados.
Entretanto, a recém adotada atitude da moça, era só um disfarce para desviar a atenção dos tios.
Isso por que, sempre que podia, freqüentava as reuniões da associação operária.
Conforme já foi dito antes, a própria Clarissa foi quem angariou fundos para a criação de um jornal, que ajudasse a divulgar o movimento. Por conta disso, Clarissa passou a ser então, o braço direito de Bruno.
Este, certa vez ao vê-la se aproximar, depois de algum tempo sumida, comentou espantado:
-- Criatura, onde foi que você se meteu? Nós estamos precisando de toda a ajuda possível. Sabia?
-- Desculpe-me. Mas razões imperiosas fizeram-me afastar.
-- Que razões foram estas? – perguntou Bruno, impaciente.
-- Sinto em não poder dizer-te. Mas as tais razões já foram sanadas.
-- Eu espero que sim, Clarissa. Isso por que, eu não posso ficar o tempo todo esperando por você, mesmo você sendo de suma importância para nossa luta. Assim como todos os que aqui estão, você precisa conhecer todos os detalhes, todas as nossas ações.
-- Decerto. – respondeu a moça – Prometo que isso não vai mais se repetir. Está bem?
-- Está certo. Mas agora, mudemos de assunto, por que temos muito o que fazer. Conforme estávamos conversando antes da senhorita chegar... Já conseguimos, graças a sua colaboração e mais a ajuda de alguns de nossos operários, comprar o maquinário necessário para a confecção do nosso jornal. Agora o que precisamos, é de idéias. Idéias essas que nos ajudem a escrever algumas matérias, as quais serão de suma importância para a conscientização dos demais operários que poderão a vir engrossar o nosso movimento.
Nisso então, o pequeno grupo de pessoas que ali estava, passou a cochichar entre si.
Todos estavam tentando encontrar idéias para a pauta do jornal. Contudo, ninguém conseguia achar uma solução. Muito embora conversassem entre si, no intuito de encontrarem uma saída para resolverem a questão, ninguém conseguia sugerir uma boa idéia.
Nisso, vendo que a discussão resultou infrutífera, Clarissa sugeriu então, redigirem uma matéria, relatando os revezes da Revolução Industrial. Nessa matéria poderiam facilmente explicar, como a situação chegou a tão deplorável estado. Em outras matérias, poderiam ainda, falar dos movimentos operários do início dessa era e reivindicarem melhores condições de trabalho. Como matéria inicial, poderia falar sobre a redução da jornada de trabalho, por exemplo.
Bruno então, observando o comportamento de Clarissa, percebeu que havia feito uma ótima escolha indicando-a para ser seu braço direito.
Sim, Clarissa, apesar de jovem era bastante engajada. Dedicada a causa, sempre que podia, sugeria ótimas idéias.
Por isso, e conforme se verá ao longo desta história, a moça, cada vez mais, passou a ter importância para a causa.
Mas voltemos ao que interessa.
Após uma pequena deliberação, os operários então, chegaram a um bom termo a respeito das matérias que seriam feitas.
Como Clarissa havia sugerido, falariam da Revolução Industrial, dos primeiros movimentos operários internacionais, mas, ao contrário do havia proposto, quanto as reivindicações do grupo, os participantes do movimento decidiram que melhor seria falarem dos direitos das mulheres a um salário melhor.
No entanto, como já era hora alta, Bruno então, resolveu dispensar os operários.
Por isso, no dia seguinte, estavam todos convocados a participarem de uma nova reunião. Nesta, seriam discutidos, e até quem sabe, elaborados, os prováveis textos a serem impressos.
Ao sair da reunião, Clarissa estava entusiasmada. Finalmente poderia exteriorizar tudo o que pensava a respeito da opressão a que os operários estavam submetidos. Cansada de ser explorada, poderia finalmente bradar seu inconformismo.
Isso por que, desde que passara a viver com os tios, nunca pôde expressar verdadeiramente o que sentia.
Muito embora tivesse tido uma boa acolhida, não pôde contar a eles, tudo o se passava em sua mente. Agora mesmo, para poder lutar por seus ideais, tinha que mentir para os tios. Sempre que chegava tarde, tinha que usar como desculpa, o fato de estar fazendo serão.
Muito embora não ficasse feliz com isso, Clarissa sabia perfeitamente, que se dissesse a verdade, fatalmente seria proibida de continuar indo e participando das reuniões. Por isso mentia.
E nessa mentira, permaneceria por muito tempo ainda.
Com isso, chegando em casa, ao perceber o adiantado da hora, tratou de retirar os sapatos e caminhou lentamente até a direção da porta.
Quando então se deparou com a porta encostada, procurou girar lentamente a maçaneta. Isso por que, não queria fazer barulho.
E assim, pé ante pé, seguiu até os fundos do cômodo, no lugar onde ficava sua cama. Ao lá chegar, despiu-se com todo o cuidado e se jogou na cama.
Transida de sono, imediatamente adormeceu.
No dia seguinte, no entanto, para conseguir se levantar, teve que ser chamada por sua tia, em razão da hora em que foi se deitar.
Mas atenta, logo que foi chamada, se levantou e tratou de vestir uma roupa para ir trabalhar.
Raquel contudo, percebendo que a sobrinha dormira tarde, decidiu ter uma conversa séria com ela.
Assim, enquanto a moça se trocava, perguntou:
-- Onde é que a senhorita passou a noite, posso saber?
Surpreendida com a pergunta, Clarissa, por um instante, parou de se vestir, para logo em seguida, continuar o que vinha fazendo.
E assim, sem ter o que dizer, posto que fora surpreendida, Clarissa simplesmente perguntou:
-- E quem foi que te falou que eu cheguei tarde?
-- Mocinha. Não se faça de sonsa. Pois se você não tivesse chegado tarde, precisaria ter sido chamada? Você que sempre se levantou sozinha?
-- É que eu perdi a hora, madrinha.
-- Não adianta me chamar de madrinha, Clarissa, você não vai me fazer mudar de assunto. Conte. Eu quero saber onde você esteve. Por acaso você andou se envolvendo com algum estróina?
No que a sobrinha respondeu:
-- Não tia. Mas é claro que não. Por quem me tomas?
-- Pois então, me explique o seu sumiço, por que até a hora em que eu fui dormir, a senhorita não tinha ainda chegado em casa. Seus tios, Bartolomeu e Ludovico, estavam deveras preocupados. Chegaram até a cogitar a possibilidade de irem até seu encontro na tecelagem.
Ao ouvir isso, Clarissa ficou preocupada. Isso por que, se seus tios tivessem ido até lá, fatalmente teriam descoberto sua farsa.
Mas, para sua sorte, não foi dessa vez que descobririam seu embuste.
Diante disso, respirou aliviada.
Mas, percebendo que sua mentira estava por um fio, decidiu então, que passaria a ter mais cuidado.
Com isso, ao perceber que Raquel, sua tia, ansiava por uma resposta, disse:
-- Está certo tia. Eu errei, é que depois do trabalho, eu e mais algumas colegas ficamos andando pelo centro, observando algumas vitrines de lojas. Vimos coisas lindíssimas! Muitas daquelas peças, fomos nós que confeccionamos, sabia? Dava gosto de ver. Tão lindas! Tão lindas e tão caras! Peças que apesar de feitas por nós trabalhadoras, nunca pertencerão a nós, por que nós nunca teremos dinheiro para comprá-las.
Raquel então, percebendo o rumo que a conversa poderia tomar, simplesmente comentou:
-- Realmente, esta situação é muito injusta. Mas não cabe a nós discutir quanto a isso. Além do mais, você ainda tem que tomar seu café, antes de ir para o trabalho. Está bem?
Com isso, Clarissa, foi até a cozinha e tomou um pouco de leite quente com um pedaço de pão. Escovou os dentes, utilizando-se da água de um copo, e após foi trabalhar.
Dessa forma, despediu-se de seus tios e caminhou até o ponto de bonde. Assim, quando finalmente passou um bonde, entrou e nele seguiu até seu trabalho.
Quando então chegou até o local, teve que esperar, juntamente com os demais operários, o apito.
Apito esse, que de tão afamado, virou um grande sucesso de Noel Rosa. Na composição ‘Três Apitos’, Noel Rosa, retratava o universo fabril e um frustrado relacionamento de um homem com uma operária.
Essa música, para Clarissa, era o retrato de uma dura realidade da qual muitos faziam parte.
Por isso esta canção para ela, significa muito mais do que uma bela letra, criada por um grande compositor. Era uma música que trazia implícita, segundo ela, uma idéia de liberdade.
Mas, enfim, voltemos a fábrica.
Ao soar do apito, todos, operários e operárias caminharam em direção aos portões que eram abertos.
De lá podiam ver mulheres, crianças, homens e velhos caminhando pelo pátio. De lá seguiriam para suas máquinas e seus afazeres.
Sim, a industrialização não poupou ninguém. Todos tinham que trabalhar.
E assim, durante sua jornada de trabalho na fábrica, em uma linha de produção, sua tarefa era trançar os fios, que eram fiados por outras colegas suas.
Assim, enquanto elas pegavam determinadas matérias primas e as transformavam em delicados fios, Clarissa, bem como outras operárias, tratavam de trançar esses fios, tecendo-os e os tornando tecidos.
Com isso se denota que a moça trabalhava em uma tecelagem. Nesse trabalho ficava por horas a fio. Entre preparar os fios e tecê-los, o trabalho parecia nunca terminar. Serviço era o que não faltava.
A exploração também. Parecia que nunca acabaria.
Sempre que o dono da fábrica achava necessário, as operárias tinham que ficar até tarde trabalhando. E assim, seguidas vezes, Clarissa teve realmente que fazer serão.
Quando isso, acontecia, todos tinham que trabalhar até tarde. As crianças, os idosos, os homens e as mulheres. Não bastassem a já extenuante jornada de trabalho que tinham, os operários tinham que suportar trabalhar horas a mais, sem nada receberem por isso.
Mas, para sorte de Clarissa, dessa vez, não houve trabalho extraordinário. Assim, depois de doze horas de trabalho, pôde finalmente, se reunir com seus colegas.
Tendo em vista a elaboração de matérias para o jornal que estavam criando, os sectários se reuniram novamente para tentarem redigir as aludidas matérias.
Por conta disso, passaram as horas seguintes conversando sobre os temas.
Mas, em razão da complexidade de alguns dos assuntos, os operários sentiram algumas dificuldades com relação a alguns dos temas.
Por isso Clarissa, tendo-se em vista que há muito tempo lia sobre o assunto, se prontificou a ajudá-los na redação das matérias. Para tanto, traria revistas, alguns livros, artigos de jornais, enfim, tudo o que poderia auxiliá-los na hora de escreverem sobre alguns dos assuntos.
Com isso, antes do que imaginava, Clarissa voltou para casa.
Por ter voltado mais cedo do que de costume, seus tios até estranharam.
Foi então que ela explicou que dessa vez não foi necessário que ela ficasse até mais tarde. No entanto, segundo ela própria comentou, não seria sempre que isso aconteceria.
Mas, para seus tios, o simples fato de estar voltando cedo para casa, já era uma grande notícia. A melhor que eles estavam tendo, depois de semanas em que Clarissa voltava muito tarde para casa.
Para eles, isso era um sinal de que Clarissa não estava se metendo em confusões.
Enfim, era um alívio para eles. Assim, sem ter mais com o que se preocupar, aos poucos poderiam deixar de controlar os horários da moça.
Até por que, como todos ali trabalhavam, não tinham disponibilidade de tempo para tomar conta de Clarissa. Muito embora a moça ainda não tivesse se envolvido em nenhuma confusão, temiam que ela pudesse estar fazendo parte de algum movimento de luta operária clandestino.
Por isso o cuidado com a moça.
Apesar de aparentemente estar tudo bem, seus tios conheciam suas convicções.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O DIA EM QUE O BRASIL INTEIRO ...

Terça-feira, véspera de um memorável feriado

Honorável Nove de Julho de 1932
Dia da Revolução Constitucionalista
Onde soldados paulistas lutaram por um sonho de revolução

Quantas mortes sofridas,
Quanto sangue derramado,
Quantos sonhos desperdiçados
Memórias esquecidas, vidas escondidas e não sabidas
Celebradas em novel monumento em forma de Obelisco

Soldados abandonados
Lutando sós contra um ditador empedernido
Luta inglória, mas nunca vã
Por que nos brindou com uma Constituição, ainda que tardia
Nos idos tempos de 1934

Pois bem, tarde de Oito de Julho de 2014
Dia inesquecível para todos os brasileiros
Mesmo para aqueles que não prezam tanto o futebol

Nesta tarde, em um jogo contra a Germânica Seleção
O Brasil se deixou levar pelo desespero
A falta de confiança, nos fez nossos próprios adversários

E dominados pelo medo e falta de confiança
Deixamos-nos contagiar pelo clima de nervosismo
E a novel Seleção Germânica nos goleou ...

Foi um gol, seguindo de um segundo gol,
Um terceiro gol que balançou a rede,
Um quarto gol nos chocou,
Caso ainda não estivemos bastante chocados,
Com a insólita situação

E mais um gol, ainda no tempo primeiro
No Jogo da Seleção
Terra Brasilis, no estado das Minas Gerais, do ouro do Brasil
Dos tempos coloniais,
Ontem palco, de uma disputa desportiva
Cenário de tantas penas,
Palco de tão grande desdita

A pátria de chuteiras se quedou apática
Numa aparente pendurada de chuteiras

Nem a torcida pode acreditar em tal cenário
Pessoas chorando, crianças desoladas, desconsoladas
Gente abandonando o Estádio

E a apatia a acompanhar todo o jogo

No segundo tempo,
A Teutônica Seleção, ainda nos brindou com mais dois gols
Fina ironia

Júlio César, a atuar como jogador, chutando a bola no campo,
Mais parecendo campo de batalha,
E a defender
A tentar defender,
E novamente ser acusado de frangueiro,
Quando pouco poderia fazer para impedir o desastre

Quanta tristeza e perplexidade
Mal pude acreditar!

Mas a incredulidade pela goleada,
Só não suplantou a minha surpresa pela apatia

E um gol brasileiro só veio,
Ao final do segundo tempo

Inacreditável, é a palavra que me vem a mente
Mas não a única,
Decepção vem depois

Até o momento, não consegui entender o que se passou
Seria medo, insegurança?
O que terá sido então?
Não consigo entender

Mesmo assim, este será um dia,
Que não mais vou esquecer
O dia em que o Brasil inteiro não acreditou no que via
E chorou a desdita
E a Seleção Canarinha se despedia,
De seu sonho de ser Hexacampeão,
Na Eterna Pátria de Chuteiras
Amada Terra Brasileira
Terra das palmeiras e dos sabiás!

A tristeza que aqui se abateu,
Nunca mais será esquecida, onde quer que se vá
Ou será que nossa vida sofrida,
Nos ensinou a levantar,
Sacudir a poeira, e dar a volta por cima

Enfim, o sonho acabou,
Ao menos por enquanto
Mas sempre que o sonho acaba,
Sempre existe,
A possibilidade de encontrá-lo em uma próxima esquina
Ou quem sabe, em outra padaria
Fina ironia,
Quem vai saber?

A nós só resta torcer

E o tempo a amainar a dor e a tristeza
Do Dia Em Que O Brasil Inteiro ... Chorou,
Desesperou-se, Não acreditou ...

E a Seleção a jogar melhor
Ou nunca mais sentiremos a agradável sensação,
De ganhar um título

É só o que eu espero!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

Vagas

Uma boa ideia perdida, não regressa mais
Voa para longe, em busca de campos mais férteis
E voos mais duradouros

Um texto perdido, um tema perdido
Não tem retorno
Permanece no campo morredouro

Ou talvez parta para novos rumos,
A ser trabalhado por melhores mãos
Uma boa ideia, não volta nunca mais

Para sempre perdida
Sempre lembrada
Embora não se saiba exatamente como

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

1 TERRAS DO PASSADO

Em passeios por terras do passado
Ficar a contemplar lindas telas enamorado
Quanta virtude, energia e beleza em vigorosas pinceladas
Imponentes esculturas em bronze,
Ou materiais diversos
Da impressionante construção de tijolos a vista
Que ocupam a visão, os olhares do passeio
De largas ruas e corredor de coqueiros
Do jardim que já serviu de cartão postal para histórias

De pessoas com suas roupas domingueiras a passear
Em família pelo bonito jardim
Em suas ruas de plantas, os bancos
A emoldurar muitas histórias de amor
A serem fotografados em máquinas e chapas a soltarem fumaça
Nas câmaras do tempo e da saudade

Pinturas abstratas, portraits, naturezas mortas
Desenhos e gravuras
As escadarias da mármore,
As esculturas a enfeitarem as passagens
E o tempo passado a nos trazer,
Pequenos fragmentos de momentos distantes
Em portraits, retratos de presidentes, de famílias de escol

A bela moça de cabelos médio, levemente anelados
Qual teria sido seu passado?
Teve vida ditosa? Foi feliz?
Vivente em tempos passados,
A mostrar seu semblante em retrato

Pinacoteca do Estado
Morada eterna de Brecheret’s, Décios e Dário Villares,
Almeidas Junior, Anitas Malfatis, entre tantos outros
Entre diversos passeios, disperso
Museu de meus passeios, de minhas viagens ao passado
Pois nos caminhos do templo,
Em seus corredores, e em seus amplos salões
Muitas histórias para se imaginar

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

TERRAS DO PASSADO

Em passeios por terras do passado
Ficar a contemplar lindas telas enamorado
Quanta virtude, energia e beleza em vigorosas pinceladas
Imponentes esculturas em bronze,
Ou materiais diversos
Da impressionante construção de tijolos a vista
Que ocupa a visão, os olhares do passeio
De largas ruas e corredor de coqueiros
Do jardim que já serviu de cartão postal para histórias
Encontros e despedidas
Abraços e sorrisos, das pessoas
Viandantes, viajores do tempo

De pessoas com suas roupas domingueiras a passear,
Em família pelo bonito jardim
Em suas ruas de plantas, os bancos
A emoldurar muitas histórias de amor
A serem fotografados em máquinas antigas,
E cujas chapas ficavam a soltar fumaça
Branca fumaça a eternizar momentos belos, felizes, fugazes
Nas câmaras do tempo e da saudade

Muitos vestidos rendados, jóias, colares, pulseiras
As belas damas, adornadas com pequenos chapéus
Mocinhas melindrosas de cabelos channel e luvas,
Soltos vestidos longos
Os cortes dos cabelos a se alongarem,
E os cabelos a se cachearem
As mulheres de vestidos, longas saias rodadas
Homens engravatados e de terno, chapéus

Os tubinhos, sapatos de salto, as maquiagens pesadas
Olhos negros, delineados
O tempo a ditar as regras e as modas
As carruagens que a circundar ficavam o parque,
Lugar deram a carros luxuosos, caros
E mais tarde, veículos menos sofisticados,
Populares a todos, simples carros

Dos tempos em que se fazia o footing e se andava de bonde
Primeiramente puxados por cavalos, e depois, elétricos
Do Parque da Luz,
Confrontado com a centenária Estação Férrea
Majestático cenário!

E na magnífica Pinacoteca
Pinturas abstratas, portraits, naturezas mortas
Desenhos e gravuras
Prodígios de engenho e arte
As escadarias de mármore,
As esculturas a enfeitarem as passagens
E o tempo passado a nos trazer,
Pequenos fragmentos de momentos distantes
Em portraits, retratos de presidentes,
De famílias de escol

Telas a exporem as histórias de nossos tempos
Retratos de famílias, bustos, pinturas
E a bela moça de cabelos médios, levemente anelados
Com seu semblante enigmático,
Nos leva a pensar:
Qual teria sido seu passado?
Teve vida ditosa? Foi feliz?
Vivente em tempos passados,
A mostrar seu semblante em retrato
Fiel aos modismos de seu tempo

Pinacoteca do Estado
Morada eterna de Brecheret’s, Décios e Dário Villares,
Almeidas Junior, Anitas Malfatis, Portinaris, entre tantos outros
Entre diversos passeios, dispersos
Museu de meus passeios, de minhas viagens ao passado

A imaginar festejos e bailados,
Com a mais fina flor da sociedade paulistana!
Bailes nos clubes da cidade
Com seus crooners a entoarem belas canções do rádio
Todos a usarem trajes de gala
Lindas moças elegantemente vestidas em seus longos,
Senhores repletas de jóias e luxo
E os homens de fraque
A dançarem ao som das lindas canções
Dançando e vivendo emoções

Revistas antigas, fotografias amareladas,
Retratos em preto e branco
A contar nossos melhores momentos
A esconder nossas dores
Dores, velhas dores do mundo,
As quais nunca mudam de forma,
Apenas mudam de lugar!

E as moças e os moços a sonhar ...
E as moças a imaginarem,
Como seriam os rostos de seus cantores queridos
Emoções advindas das ondas de uma estação de rádio
Objeto de fortes freqüências,
De madeira, imponente, imenso,
A parte fazerem, do cotidiano das pessoas

Pinacoteca querida!
Tantas histórias tenho para contar-te
Das minhas impressões pessoais
Pois nos caminhos do templo,
Em seus corredores, e em seus amplos salões
Muitas histórias para se imaginar
Muitas pinturas e esculturas para se admirar
Depositário das memórias de nossas gentes,
De nosso povo,
Orgulho de São Paulo!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

Sem título

I
Caos, trânsito,
Superpopulação, superlotação
Transportes públicos transbordantes de gentes,
Empurra empurra,
Integração e baldeação demais
Linhas de transportes extintas,
Sob alegação de que as estações não as comportam

E nós, quanto suportamos?
Até quando teremos que suportar tanto descaso?

Pensando nisto,
E na classe política que em grande parte,
Só pensa em seus próprios bolsos,
Chega-se a seguinte conclusão:

O bom senso adverte;
Viver em sociedade, faz mal a saúde!

II
Pensamentos políticos:
Gostaria de escrever versos políticos
Destes que servem para as pessoas pensarem,
Refletirem sobre suas realidades!

Como que a mostrar,
O quanto a política interfere em nossas vidas
Em nossas práticas cotidianas,
Sem que sequer percebamos

Por onde começo?
Pelas bombas, atentados terroristas?
Campos de refugiados?

Nos campos de refugiados
Pessoas acorrem em desespero
Lugar onde pessoas e crianças famélicas,
Esperam ajuda humanitária

E voluntários procuram fazer o melhor
Na precária situação em que se encontram

Gente desamparada rumando sem rumo
Estrangeiros sem pátria,
A fugirem das guerras de seus países de origem
Da fome e da miséria

O sonho de uma vida melhor,
Onde a dor e o sofrimento
Não o habitem,
Fazendo dele a sua morada

Triste esperança, quase sem esperança
Vida muitas vezes,
Sem perspectiva e sem futuro

Comento o drama,
Das minas terrestres em países da África?
Contingência de guerras civis
Pessoas mortas ou mutiladas

Os vivos, que precisam retomar suas vidas
Na sua esperança de a guerra ser longínqua
Retomada de esperança, em tempos de paz

Digo de nossas tristes mazelas?
Por qual delas começo?
Os tributos, as taxas?

Impostos a nos sobretaxarem por tantos meses
Onerando nossa economia,
Nossa paciência,
E nossa folha de pagamento
Não se refletindo em serviços de qualidade

Pois tudo o que precisamos,
Necessitamos pagar à parte
Saúde, educação, segurança

E quem não quer sofrer,
Em transporte de má qualidade
Paga seu carro, caro
Sem contar o preço dos imóveis na estratosfera

Nossos políticos,
Cada dia mais desmascarados em suas falcatruas
A ladroagem correndo a descoberto

Elevação do preço das passagens de transporte
O qual anda cada vez mais abarrotado de gente

Tranquilidade somente ao descer do coletivo
Poucos passos para se chegar em casa

E ao ligar a tevê,
Mais notícias trágicas
Atentados na Síria,
Político convalescente,
A demonstrar possuir um coração,
De maneira indiscutível!

Eleições na França,
A hipocrisia a condenar alguém por ter dinheiro

Mas por que?
O mal não é o dinheiro honesto que do bolso sai,
E sim, o dinheiro escuso que o penetra

Berthold Brecht a dizer
Que o preço do pão, de nossa escova, etc.,
E tantos serviços colocados a nossa disposição,
São resultado de um processo político

E que se trata de um tolo,
Quem diz com isto não se importar
Afinal,
Como não se importar com o próprio viver?

O preço do combustível, dos dentifrícios,
Dos cosméticos, dos produtos de higiene,
Do transporte, da água e do esgoto, da luz,
Do telefone, da internet, da tevê a cabo,
Dos alimentos, das bebidas, sucos, refrigerantes,
Do álcool, da palha de aço,
Dos produtos de limpeza, etc.

Enfim, o preço dos produtos,
E serviços que nos cercam,
Bem como da guerra e da paz
Tudo é resultado das decisões políticas!

Majorados pelos impostos,
E suas alíquotas definidas por leis
Oriundas de processos legislativos

Nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas,
Câmara dos Deputados, Senado,
Unidos no Congresso Nacional

São eles, os políticos,
Que ditam leis majorando alíquotas de impostos,
Que aumentam o preço dos produtos
Onerando o custo de vida

Vez por outra, os criam ou os extinguem,
Ora criam leis isentando-os

São os homens da vida pública,
Os quais decidem em grande parte,
Pela guerra e pela paz!

Muito embora a guerra,
Não faça parte de nossa realidade
Pelo menos não a declarada
Muito embora ocorram muitas outras silenciosas

Rezemos então por nossos irmãos que sofrem,
Neste ou em outros continentes,
Ajudemos no que for preciso!

Mas voltemos aos políticos ...
São eles que através dos impostos, taxas e tarifas,
Interferem no preço das mercadorias e dos serviços

Não bastassem as estiagens e demais problemas,
Decorrentes de chuvas ou da falta delas,
A elevar o preço dos produtos agrícolas

Aumento de tributo muitas vezes,
Sem nenhum proveito para nós!

São os mesmos políticos,
Que argumentam ser impossível,
Aumentar aposentadorias,
Em razão do impacto,
Na folha de pagamento da Previdência
Mas que aumentam seus próprios salários,
Em que pesem o impacto em nossa folha de pagamento,
Já onerada por tantos impostos

Milhões retirados de possíveis investimentos sociais
Sem falar nos milhões, bilhões desviados dos cofres públicos,
Das mais diversas e criativas formas
Novamente sem proveito para nós

Mas então,
Por que ao abordar tão espinhoso tema?
Não se é possível se apegar a platitudes, afinal?

Por que platitudes são inúteis
Por que a vergonha assoma,
E os descaso por vezes incomoda
Em que pese a aparente indiferença,
Usada apenas como forma de se sobreviver,
Em um mundo cão!

E nisto a insatisfação prossegue
A eterna mania de em tudo,
Querer levar vantagem
A impunidade a grassar,
A falta de interesse em fiscalizar

E tudo a mudar para continuar como se está
Mudam os nomes das obras,
Para nada se modificar!

Gostaria de escrever versos
Que finalmente pudessem as coisas mudar
E as pessoas em pensando
Procurassem com isto,
Escolher melhores representantes

E que com isto, as coisas mudassem
Revolução silenciosa
A se operar apenas com o poder do voto!

É Pena! Que Pena!
Por que as coisas não podem ser assim?

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

IDEIAS

I
Entre deliberações
A livre escolha
Do azo livre
Liberdade, alvedrio
Arraso

II
Pensamentos por vezes me distraem
Conclusões que se esvaem
Pelos desvãos do pensamento
Decisões inconclusas que em perdem
Na contagem rara do momento

Idéias pouco claras
A navegar em mar de ideias
Lento e sequioso de alento

Por que a resposta não nos chega?
Desalento em cada vão momento
Arremedo de pensamento

Saudade de um tempo das mais belas conclusões
A enfeixar um pensamento
Quanto desidério

Perguntas sem respostas
Angustias sem consolos
E a dúvida a abismar:
Por que assim é o mundo?

Em triste cenário absurdo
Tento me confortar
E pairar por entre abismos
A me admirar dos paroxismos

A lua bela,
Sempre branca e redonda lua,
A me encantar

Em cenários de claridade
Pouca escuridão
Nas madrugadas a ausência de luz
A nos trazer confusão

A de pé esperar pela condução
Que quase sempre chega,
Ou sempre nunca chega

Caos, problemas, confusão
Pessoas em profusão
E a gente a tentar sobreviver em meio ao caos

Triste a solidão das multidões sempre vazias
E eu a ler meus surrados papéis e apostilas
Quem sabe na vã esperança
De fazer de meu tempo,
Algo melhor do que uma desconsolação
E um tédio mortal

A observar sempre as mesmas coisas
Olhares vazios, cenários vazios
Vida vazia de significado
Cenário triste e desolado
Habitáculo de seres de passagem
Em uma triste e penosa viagem

Há! Quantos caminhos por devassar
Cordões e correntes a se arrebentar

Pois a vida não há de ser um oceano,
De emaranhados pensamentos aprisionados
E das ideias puras
Pensamentos puros, acrisolados

Mas e essa tal liberdade
Por onde andará?
E a vida será que algum dia,
Enfim, diferente será?

A podermos deliberarmos livremente
E vivermos conforme o que queremos
Ou seremos sempre autômatos seres?

III
Borboletas rareiam a vagar
Em pleno jardim de maravilhas

E eu a caminhar
Divagando em diletante
Doce e sonora amante das canções
Beletrismo a nos compor os dias
Nas mais belas poesias

IV
Nas setas, nas retas
E nas curvas
Nos intrincados caminhos

Nas confluências e entroncamentos,
Com os mais variegados movimentos gesticulares
Deslindes sem deslizes,
Ou acidentes de percurso

V
Estudantados dias
Em cujos ditosos anos
Conhecimentos formoseiam

A dilapidarem mais,
E novos conhecimentos

Em mundo em ebulição,
Convulsionado em revoluções,
Resoluções, faltas e soluções,
Sem nada resolver

Mas estudantes,
Sempre aplicados a aprender
Em seus passeios da ditosa escola da vida
A novos conhecimentos adquirirem

A acompanhar a transformação das coisas,
Da história e da própria vida,
A conhecerem novos lugares

A visualizarem vivos seres pulsáteis,
Seguindo o sentido das marés,
Ou a deitarem-se nas areias a se deixar levar,
Em suas gelatinosas e coloridas formas

Vibrantes descobertas
De um tempo sem igual

Na escola da vida,
A aplicar os conhecimentos adquiridos em aula

VI
Altares ricamente decorados
A ilustrar santas vidas em seu retábulos

Painéis ricamente adornados,
A enfeitarem os altares das igrejas
Com colunas, imagens e ornamentos

Dedicados artistas a esculpirem obras de vulto
Em altíssimo nível e inestimado valor
Raro esplendor

VII
Frases de efeito
A seguir os passos e os pensamentos
Odores, licores e sabores
Albores de novos tempos

Idas e vindas de ideias insuladas
Isoladas em si mesmas

Sonhos nababescos
Jardins suspensos
Modesta morada

DICIONÁRIO:
paroxismo /cs/
substantivo masculino MEDICINA 1. espasmo agudo ou convulsão.
2. momento de maior intensidade de uma dor ou de um acesso.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.