Poesias

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

MENTES PUTREFATAS

Quando as pessoas honestas se calam
Os pilantras fazem a festa
Não devemos nos omitir
Na terra profana
Onde todos só pensam em se locupletar
A vaca de divinas tetas
A alimentar uma corja de vampiros e sangue-sugas
Triste sociedade combalida de podres gentes
Que acham que dinheiro é tudo

Poder para pisar nas gentes, e destruir vidas
Num rastro de pungente desrespeito a vida
Matam e ferem a toda velocidade, destroem
E tudo fica por isto mesmo,
Como se dinheiro a tudo comprasse
Os arrogantes, e os vagabundos,
Que nada constroem
E muitos ainda nos furtam a esperança,
E os melhores projetos políticos
Corruptos e venais!

Sem contar os desocupados
A ocupar-se das alheias existências,
A falar mal das gentes
Inveja, que quando não mata, aleija!

Pessoas que pré-julgam
Que somente avaliam superficialmente as coisas
Que podre sociedade!

Escolhos que se julgam melhores que os outros,
Apenas por terem bens materiais
Como se o ter, valesse mais do que o ser
E quem tem um pouco de alma a oferecer,
Desconsiderado o é
Isto sem contar, os que vivem de aparência
Sem nada de seu possuir
Muito embora ostentem aparências
Quanto será que o ser, mais valioso será que o ter?

Mundo sem grandes atrativos
Poucas e interessantes gentes,
Tanta coisa boa, obscurecida com coisas vãs e tolas
Quanta saudade das gentes inteligentes e de prodígios,
Das pessoas que transformam em pequenos bons gestos,
Os tempos em que vivem

Interesse pelas melhores coisas do mundo
E com bons pensamentos, melhorar o tempo
E as mentes putrefatas,
Que a tudo decompõe com seu desamor e rancor,
Não consigam ofuscar as luzes do raiar do sol,
Aurora de um novo tempo

E os fracos de alma e pobres de espírito
Aprendam a olhar mais do que o próprio umbigo,
E a respeitar seu próximo,
Pois a prejudicar seu semelhante,
Poderão ser eles os próximos a se prejudicarem
Só não vê quem não quer!

Que os bons mostrem seus melhores projetos,
As coisas melhores da vida
A beleza das coisas mais simples, mais singelas

Não entendo esta inversão de valores
Onde quem é honesto e correto é ridicularizado,
Injuriado e menoscabado
Onde os bandidos e os desonestos e desleais, são heróis
E quem preza o bem, é desprezado
A escória passa a ter mais alto valor

E quem realmente valor merece ter, é vilipendiado
Fazer o bem, é viver na contramão do uso corrente
Onde ser bom é considerado chato
Ser correto é ser tolo
E ser espertinho e desonesto é que tem mais valia!
Socorro!

Como faço para viver num mundo assim?
Só espero não me corromper
E não ter que aqui viver, além do necessário
Pois estas vilezas, as injúrias, agridem e ofendem
E muito difícil é viver, em meio a tanta hostilidade
Se elevar é o caminho

Mas a vida muitas vezes se mostra assaz penosa,
E tortuosos os caminhos para se prosseguir no bem
Desânimo nos acompanha, pois mentes putrefatas
Contaminam as melhores intenções
Por que estamos vivendo em um mundo assim?

Só espero que esta infâmia não seja duradoura
E que as perspectivas se tornem melhores
Pois não sei se é possível
Agüentar tanta torpeza por tanto tempo

Tempo, sábio tempo
Mostre-nos as belezas naturais,
Lindos campos verdejantes,
As flores e as árvores a margem das estradas
O céu bem azulzinho ao cair da tarde,
Enfeitando o firmamento de vários tons
Nuvens brancas, areias molhadas
Ipês floridos, novos conhecimentos, descanso
Uma rede vermelha e aconchegante para me balançar
Chapéus de praia sem folha, primaveras floridas

Em contraste a tanta beleza,
A dissipar as maldades de tanta gente estúpida,
Que as mentes podres,
Apartem-se de mim, e das gentes de bem
Levem para longe seus pensamentos daninhos,
Sua atmosfera pútrida,
Precisamos de ares mais puros

E esta gente torpe e sem escrúpulos,
Experimentará toda a sorte de infortúnios
Mas se o amor, com amor se paga
O mal feito, se recompensa com maiores males
Pois tudo o que vem, também volta
E os piores investimentos se voltam contra quem os produz

Que tudo isto se afaste de nós
Que as criaturas acordem para uma melhor vida
Pois este mundo, assim poderá se tornar
Um melhor abrigo para as melhores mentes

Que as mentes pútridas se desfaleçam,
Desfaçam-se em suas pequenezes
E que o mundo se mostre mais radioso e feliz
Que os maus paguem por seus mal-feitos
Que a maldade não grasse no mundo
Que os valores novamente se invertam
E o que tem valor, volte a ser valorizado!
Abaixo os podres poderes, a ganância, a cupidez, a maldade
Que venha o ser, em detrimento do ter

Pois quem o bem reparte,
Sempre fica com a melhor parte
Pois quem fica com tudo e nada reparte,
Ou é tolo ou não tem arte!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Meninice

O menino a passear de mãos dadas com seu pai
A tudo contemplava
As brincadeiras das crianças
Seus pais empurrando seus filhos
O lago com patos e aves

O garoto a observar os bichos, pedia para seu pai
Que também olhasse para eles
Indagava ao homem sobre a beleza das paragens

Seu pai concordava com o encantamento da criança
Dizia que um espaço verde como aquele
Era um verdadeiro deleite
Regozijo para a alma

O menino indagou-lhe a significação das palavras
E o pai, pacientemente explicou-lhe
Que aquele parque era um lugar muito encantado e especial

Nisto a criança aproximou-se das flores
Perguntou-lhe as espécies
E o pai respondeu os nomes das flores que conhecia
Apontou-lhe girassóis amarelos, lírios, antúrios, hibiscos...
Nas árvores, mostrou-lhe os passarinhos a bicarem,
As frutas deixadas nos galhos
E o menino a tudo contemplava, extasiado

Maravilhado,
O menino não cessava de a tudo perguntar
Curiosidades enfindas
De criança, a despertar
Sua curiosidade infantil
Perguntas mil

Entre elas:
Como nascem as borboletas?
O pai zeloso e atento
Ficou a pensar
Como explicar tal mistério?

A pensar e pensar
A uma conclusão chegou
E resolveu explicar:
As borboletas nascem
Feiosas e com pelos urticantes
Os quais queimam, a quem neles se encostar
É sua defesa, contra o ataque dos predadores
Seus inimigos naturais

A criança por sua vez, não apreciou a explicação
Tanto que chegou a questionar:
Como pode um ser tão lindo
Ter tão feia aparição?

O pai, percebendo a incredulidade da criança
Explanou:
Mas não se trata de um estágio definitivo
De feia lagarta, que queima
A larva se encasula,
A qual nada mais é que uma nova fase
Em sua diversificada vida
E neste processo, se modifica
Embelezando-se e enchendo-se de cores e vida

A criança intrigada, a perguntar
O que significa encasular?
O pai diligente, trata logo de explicar:
Este singelo ser
Passa por um período em que perde
Suas urticantes células
Transformada em larva
É envolta em uma trama viscosa
Onde permanece acrisolada, se aperfeiçoando
Envolvida em uma cripta
A larva se desenvolve e se transforma
A se depurar e a transformar em voador ser

Curioso, o menino pergunta ao pai:
Como o bichinho faz para se libertar?
E o pai lhe responde, desvendando o mistério:
O bichinho feioso, agora transformado
Metamorfoseado em linda borboleta
A antiga crisálida envolvida em seu casulo
Luta com todas as suas forças contra a barreira,
Limite aparentemente instransponível,
Abre brechas, transpõe o limite,
E ganha a liberdade!
Livre e dotada de asas, voa
Voa, voa para muito longe

Está pronta para experienciar uma nova realidade
Muitos jardins para passear
A embelezar com sua gama de cores
A delicadeza de seu vôo
Pari passo com o vôo estilístico do beija-flor

O menino, sem muito compreender
As complicadas palavras do pai
Pergunta-lhe a significação das frases

Paciente, o pai lhe explica que a borboleta
Inicialmente taturana, transforma-se em um lindo ser
A qual, após passar por um processo de transformação
Liberta do obstáculo inicialmente instransponível
Ganha ares e mostra suas belas cores
Estampadas em suas duas asas

Nisto o menino pergunta sobre o beija-flor
O pai indaga sobre o que ele quer saber
O menino, sem saber o que dizer, pensa,
Pensa, pensa, coça sua cabeça,
E dispara:
Sei lá! Fale tudo o que você sabe!

O pai então, começa a explanar:
Trata-se de uma linda ave
Capaz de tirar o pólen das flores com seu longo bico
E a permanecer estático em pleno vôo
De cores azuladas, esverdeadas, belas penas,
Delicado porte, a cortejar as flores do jardim

Interessado na narrativa, o menino pergunta:
E como é este jardim?
O pai, respirando fundo, diz:
É um lindo jardim, cercado de muito verde
Repleto de flores, de cores e formatos diversos
Na entrada da casa, um caramanchão
Lindas esculturas, uma bela fonte
E mil passarinhos a brincar
Voam de um lado para outro no jardim
Fazem ninhos nas copas das árvores
Trazem sons agradáveis para o lugar

E o menino pergunta:
E as borboletas papai?
Também fazem parte do passeio?
Mas é claro que sim!
Responde o pai amoroso,
Sempre disposto a esclarecer seu curioso filho
E completando a explicação:
Neste jardim, as borboletas reinam soberanas
Ornadas de lindas cores, bonitos desenhos em suas asas
Fazem a inveja dos pardais, com sua penugem marrom
Pousam nas plantas do lugar
Beijam as lindas flores do jardim!

Neste ponto, o menino solta uma gostosa gargalhada:
Papai, você é muito engraçado!
O homem ri e pegando a criança nos braços
Começa a lhe fazer cócegas
O garoto, ri, e ri, ri até cansar
Em dado momento, pede para que o pai pare

O pai, o coloca então, novamente no chão
E o menino perguntador
Continua a elaborar perguntas

Como nascem os pássaros?
E o pai a explicar:
Nascem de ovos que são cuidados por suas mães
Estas aves constroem ninhos no alto das árvores
Para abrigar seus filhotes,
E cuidam deles levando-lhes comida,
Regurgitando em seus bicos
Ensinando os pequenos a voar
E estes com o tempo, ganham o mundo
Inicialmente temerosos, aos poucos
Ganham os ares em segurança

Sem compreender algumas das palavras paternas
O menino pergunta
E o pai lhe ensina:
As aves mastigam os alimentos,
E o levam digeridos a boca dos filhotes

O garoto, impaciente com as delongas, indaga:
A ave vomita a comida para os filhinhos?
O pai assente com a cabeça
Enojado, o menino diz que as aves são estranhas
O homem por sua vez ri
E diz que tudo na natureza tem uma motivação
As chuvas caem por necessidade de nutrir a terra
Devolvendo ao solo, o que lhe foi retirado na evaporação

Novas perguntas ao pai
O homem calmamente vai respondendo uma a uma
Evaporação, é o processo de absorção da água
A água evapora com a ação do sol
Acumula-se nas nuvens
Que após algum tempo, se precipitam sobre o solo
Na forma de muitas gotas de chuvas

Encantado o garoto respondeu que gostava
Gostava muito, de na chuva brincar
Bater os pés nas poças d’água e a tudo molhar
O pai contudo, ao ouvir as palavras do filho
Recomendou-lhe não fazer isto perto dos passantes
Isto por que ninguém gosta de na chuva se molhar

O menino comentou então
Que gostava de ver as gotinhas de chuva
A escorrerem pela janela, como a caminhar pelo vidro
Fazendo estranhos percursos
Rindo, o garoto respondeu que achava engraçado,
As janelas ficharem embaçadas

O pai neste ínterim, respondeu-lhe que as janelas ficavam assim
Por conta do frio externo, em contraste com o calor interno
O garoto encantado, dizia:
Gosto de na janela escrever,
Desenhos fazer, e mil coisas a conter

Em outro instante, reclamou do frio
Que vem lado a lado com a chuva
Estragando suas brincadeiras na rua,
Com seus coleguinhas
Sorrindo, o menino respondeu
Brincava de jogar bola, de pega-pega
Esconde-esconde, empinar pipa,
Andar de bicicleta, entre outros brinquedos

Neste momento, seu pai recomendou-lhe
Aos vizinhos não incomodar
Posto que quem não respeita a seu próximo
Não respeita a si mesmo
Argumentou sobre as voltas que o mundo dá
E que tudo nesta vida está para mudar
E o que hoje incomoda,
Amanhã poderá ser quem será, deveras incomodado

A criança procurou assimilar a preciosa lição
Comentou que não gostava de a ninguém incomodar
Mas dizia que muito poucos pareciam se importar
Com esta importante lição

O pai então, respondeu-lhe nem todos estavam prontos
Mas que o tempo de aprender
Para todos iria chegar
E que disto ninguém poderia escapar

Enigmático, dizia que todos os que aqui estão
Valiosa lição aprenderão
E quem mais disposto estiver a ela apreender
Mas facilmente se elevará

O garoto sorriu
Disse ser seu pai um homem muito sábio
No que o homem retrucou dizendo, que não e não
Nisto, o menino perguntou se sábio
Um dia também se tornaria,
Já que era um filhote seu

Rindo, o pai pegou novamente o menino nos braços
E amoroso respondeu:
Filhotes são os filhos das aves, dos animais em geral
Os filhos dos homens não são filhotes, e sim seus filhos
Obra de sua mais rica criação!

E assim, o garoto sorriu
Perguntou ao pai se ele uma pessoa importante
E o pai respondeu-lhe que sim
Disse que para todos os pais, e também para as mães
Os filhos são o que mais importa...
Nisto, pouco tempo depois, um tanto decepcionado,
O homem respondeu que ao menos,
Assim o deveria ser

A criança então, ao olhar em volta
Notou a presença de um homem andrajoso
Acompanhado de uma criança esfarrapada
Este homem era ríspido com o menino
Instando-o a mais depressa coletar o papelão,
Que levava em sua carroça

O menino então, indagou ao pai
Perguntou-lhe se aquele homem amava seu filho,
De tão terna e igual maneira

Suspirando o jovem pai respondeu:
Infelizmente, eu não acredito!
Nem todos os pais são amorosos com seus filhos
Nem todos os filhos respeitam seus pais
Mas a lição a que devemos seguir é de amar-nos,
Como o bíblico adágio de amar-nos uns aos outros

A criança olhou penalizada para o menino
A trabalhar tão duramente
Enquanto ele estava a brincar

Seu pai, ao perceber isto, comentou
Que ele não deveria se penalizar
Afinal de contas, não havia como a todos ajudar
Mas tentando confortá-lo, respondeu
Que poderia oferecer um pequeno auxílio
E assim, o rosto do menino se iluminou

Nisto o homem aproximou-se do catador
Perguntou-lhe se não poderia oferecer,
Um pouco de comida ao garoto
Irritado, o carroceiro mandou-lhe se afastar
E o rapaz tentando argumentar, êxito não obteve

A criança, ao presenciar a cena lamentou
Seu pai, ao notar a tristeza do garoto
Comentou que nem sempre toda ajuda é bem recebida
E que nem todos tratam bem as pessoas

Dizendo para seu filho a todos respeitar
Recomendou-lhe que ficasse atento àquelas cenas
E que quando pudesse fazer, ajudasse
Mas em percebendo não poder ajudar
Que se afastasse e respeitasse
Pois nem todos querem, ajudados ser
Argumentou que desta feita,
Não se pode apressar o entendimento das pessoas

A criança expressou inquietação
E seu pai respondeu-lhe que com o tempo
A lição entenderia
E cauteloso a saberia aplicar

Nisto o homem explicou-lhe:
Que nem todos ruins eram
Desta forma, o rapaz apontou para
As crianças que por lá passavam
Mostrou-lhe pais e mães amorosos,
Crianças felizes a brincar

Na praça, muitos pombos a comerem milho...
Quando o menino fez menção de delas se aproximar
Seu pai aconselhou-a a assim não proceder
Disse-lhe que as aves são bonitas
Mas transmitem doenças
E que o melhor a fazer era de longe contemplá-las
A criança lamentou, mas ao pai obedeceu

Nisto a dupla passeou pelas ruas da cidade
Passaram por estabelecimentos comerciais
Quando o menino se encantou com um brinquedo,
Exposto em uma enfeitada vitrine
O pai explicou-lhe que nem tudo na vida podemos ter
E que esta era uma outra lição, que ele deveria aprender

Sentando o filho em um banco, o homem falou-lhe:
O dinheiro limita as comerciais aquisições,
Mas sabendo administrar a contabilidade da vida,
Podemos de muitas coisas usufruir
Para tanto, devemos saber eleger,
As necessidades nossas

Afinal de contas:
Precisamos nos endividar e encher de mil coisas
Que tempo não teremos de usufruir,
Ou podemos escolher um entre tantos
E nos divertirmos bem
Abdicando de outras coisas que nem tão importantes, assim são?

Sorrindo, o menino entendeu
Disse que o brinquedo de fato bonito era
Mas ele possuía muitos brinquedos, e que muitos deles
Encostados estavam, sem uso e utilidade

E assim, o menino ficou a pensar e a pensar
Relembrou do garoto pobre
A papelão recolher
Imaginou qual triste era sua infância
Sem brincadeiras e divertimentos
Muito provavelmente, sem brinquedos

Pensativo, em dado momento
A seu pai perguntou:
Poderia eu doar alguns brinquedos meus
A crianças que menos tem do que eu?

O homem comovido, abraçou o filho
Disse-lhe que havia aprendido valiosa lição,
A qual não mais se esquecer poderia
E assentindo com a cabeça
Concordou com o pedido,
E ao em casa chegarem
Recolheram brinquedos em bom estado...
Dias depois a uma instituição encaminharam

Sorrindo, o menino respondeu que pode não ter conseguido
Àquela criança ajudar
Mas que a muitos outros poderia beneficiar

E o pai concordou
Argumentou que um pequeno gesto
A tudo pode transformar

E assim se afastaram
E a lição continuou
Pois sempre podemos algo novo aprender

A vida é assim!
Um eterno aprendizado
Na escola formal, no colégio, na faculdade
E na principal das escolas, a escola da vida!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Meneios


Crianças, essas eternas crianças!
Sempre a reinar
Imaginando as mais curiosas histórias

Ao voltar da escola,
Gostava de vestir um calçãozinho com rendinhas na barra
Vesti-lo era me preparar para horas de diversão
Livre da escola, da obrigação dos estudos
Ver tevê, desenhos animados

Criança sequiosa de descobrir novos mundos
Novas realidades
A sonhar com mundos repletos de eventos,
Acontecimentos

Menina a contemplar o vôo colorido das borboletas
O gramado imenso do jardim
O pinheirinho da entrada da casa
Modesta residência,
De uma pequena família

Os pássaros a passearem pelo imenso quintal
Pequenas rosas
Rosas diversas, Antúrios
Imenso quintal com árvores
Posteriormente concretado

A Dama da Noite misteriosa
A enfeitar os ares noturnos, com seu perfume
Faceira
Ladeada de outras plantas

Varais repletos de roupas
A tremularem ao sabor dos ventos

O radinho na área de serviço
A ouvir músicas enquanto fingia tentar estudar
Canções infantis
Alegria enfinda, reinações

A imaginar as histórias cantadas
Nas músicas que ecoavam pelas ondas do rádio
Perdia-me naquelas canções
Embrião talvez, das minhas literárias criações

A empinar pipas improvisadas
Montadas de forma desajeitada
Vontade de ver o mundo
Quando o mundo inteiro cabe dentro de si
A sonhar com uma bicicleta que não chegou

Na casa, construção inacabada
Palco de sonhos e fantasias
A se imaginar cantando
E a viver mil vidas diferentes
Em apenas uma vida

A ouvir antigas canções e a se emocionar
Sem nem ao menos compreender
O sentido de tal afeto

Sensação de identidade
Com coisas distantes
Vontade de entender o que nem mesmo sabia existir
Mundo que me parecia avassalador e assustador

Brincadeiras fagueiras em uma piscina de plástico
Alegria de muitos de meus dias
Festas juninas, ensaios, coreografias
A serem realizadas na quadra da escola

Em uma delas, blusinha branca, saia vermelha, meia-calça
Cabelos curtos, presos
Maquiagem, pose
Menina de cinco anos
Fotografada

As brincadeiras de carnaval
Criança fantasiada, a brincar de jogar confete
Ficava ali por horas

Os desenhos, as pinturas, as artes
O devanear
Os coleguinhas, as brigas, as amizades
Leituras em salas, ditados
As tormentosas aulas de matemática

A geografia de um mundo a descortinar
O sol da meia-noite
Detestado evento a estudar

Festinhas de final de ano
Danças
Comemorações
Brincar de boneca
Com uma aventura de Monteiro Lobato
O eterno faz de conta

A imaginar-se dama rica
A viajar de primeira classe
De navio, trem
Madame

Imaginar-se como personagem de novela
Noveleira que sempre fora
Algumas delas, marcantes

Programas infantis,
O eterno sonho de ser algo diferente do que se é
Demora em se aceitar
Enquanto ser humanamente limitado
E não a se espelhar apenas no que a televisão nos traz

Na escola, a imaginar mil mundos diversos
Snoopy, querido cãozinho
O balanço montado no fundo do quintal
A pracinha onde de vez em quanto,
Ficava a noite a brincar
A luz amarela do passeio a criar uma bonita atmosfera

O carrinho de hambúrguer
E o delicioso e completo lanche
Os passeios pelos arrabaldes
A contemplar as flores do mato
As construções, as casas
A imaginar e vivenciar a vida

Caminhadas
As idas na sorveteria
A me esbaldar com o sorvete servido
Quanta festa!

As brincadeiras com os bonequinhos de plástico
A enfeitarem a piscina de anis do bolo
Muitos deles, escondidos na areia
Numa das mais belas festas de aniversário que tive

Canudinhos coloridos
A tomarem formas diversas
Colares, a serem contados

Quantas saudades!
Da minha Araraquara de cores raras
A eterna Morada do Sol
Berço das minhas mais belas lembranças

Que ventura poder dizer
Tenho álacres lembranças
Belas coisas lindas para me recordar
A quantas gentes não fora dado tal privilégio!
A graça de se viver e de ter o que se contar

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Melhores Possíveis!

   

Guardadas as boas lembranças dos felizes momentos da vida
Embriaguei-me no espetáculo da vida
Apreciei os belos sons dos mais incríveis acontecimentos

Cantores a apresentarem o mais belo espetáculo,
Que são capazes de oferecer
A beleza de suas vozes, embalada a um show de luzes
Bonitos cenários, danças e alegria
A platéia a acompanhar o desempenho
E a cantar felizes e desafinados
Músicas, para os nossos ouvidos sedentos de encantamento!

Acaso a vida é evento,
Aproveitemos para conhecer suas melhores coisas
O conhecimento dos efeitos das luzes
O dínamo que nos permite energia em nossos dias
Neste mundo movido a eletricidade,
Gerada por hidroelétricas formas
E trazer luzes e brilhos as cidades

E os canhões de luzes azuladas, coloridas
Nos shows das belas vozes, a embalarem nossos dias
Com sua alegria, seu encantamento
Trazendo cor ao som

Ouvir muitas canções e melodias,
A acrescentar mais e mais, ao roteiro de nossas vidas

Fotografias a registrar, alguns especiais momentos eternizados
Outros tantos guardados apenas, em nossas cariciosas lembranças
Pois se o mundo é universo de possibilidades
O passado, e as memórias, são o registro de nossa passagem pelo mundo
Determinantes e construtores de nossa essência

E assim, aos poucos vamos construindo nossa história
O tempo, passa, passa
Assim como uma cena de filme
A tudo levar

E a noite, vem aos poucos se aproximar
Com seus variegados tons
De uma tarde azul, com um lindo sol ao fundo
A brilhar em meio ao cenário
De casas, prédios e construções
A brincar de aparecer e depois se esconder,
Em meio as habitações
Avaro em seu espetáculo de beleza

Quando finalmente me apercebo a noite já chegou,
E a tudo invadiu, roubando a luz
Faz seu império, ainda que por poucas horas

E no meio da noite, uma estrela altaneira no céu a brilhar
Linda, isolada de outros astros
Na misteriosa noite escura

De perto, seus tons imensamente escuros,
Azuis marinhos, de longe negros
O desenho dos prédios, as luzes a iluminar as moradas,
Formam um bonito cenário

O céu escurecido, a colorir seus fortes tons azuis,
A despontar na atmosfera,
A demonstrar os primeiros sinais do amanhecer
Dias gelados, de céus cinzentos

Agora consigo apreciar o movimento das nuvens brancas
A devassarem o céu com seu deslizar
Inconstantes!

Não vejo pássaro, e tampouco posso apreciar seu cantar
Mas consigo caminhar em meio a um chão repleto de folhinhas verdes
O pé de ipê roxo desnudo, a mostrar seu tronco, e sua trama de galhos secos,
A despontar no cenário,
Em contraste com a ausência de luar

Árvores de flores amarelas, formando cachos
Hibiscos vermelhos, eternamente fechados
Tímido jardim, em meio a selva de concreto

E o tempo passa, passa,
Passa passador
Apreciar o inclemente credor,
Que não permite negociação com esta mercadoria rara

E as boas idéias que se esvaem,
Na falta de um registro d’alma, mais profundo
Que pena, a perda das melhores idéias!

No palco da humana existência,
O desfile de dores, amores e vivências
As mais intensas ou não

Como bailarina a desfilar em palco ornamentado de flores
E a mostrar seu melhor desempenho,
Entre valsa e bailados
Com suas lindas vestes vaporosas, e sua melhor coreografia
E muitos passos em ponta de pé!

E a novela, a expor os imaginários dramas de suas personagens,
Tão intensamente vividas pelos atores,
Que até reais parecem!

Com seu encantado cordel
E seus bondosos cangaceiros,
Sertanejas que se tornam lindas princesas,
Valorosos heróis,
Príncipes que se tornam profetas, homens de fé,
Donzelas que resolvem tomar as próprias rédeas da vida pelas mãos

Maravilhoso conto de fadas dos modernos tempos,
Com jornalistas aventurosas e determinadas

Outras poucas, a abordarem temas pouco convencionais,
A este tipo de trama,
Fracassando ou não,
Mas a se tentar descobrir novos caminhos para a dramaturgia

No esporte, belas apresentações de rítmicas ginásticas
Com jovens desportistas a mostrarem grandes habilidades,
Com seus encantados laços de fita,
A desenharem mil formas graciosas no ar

As leituras a faltar,
Mas os eventos lidos e acompanhados
A aquilatarem toda uma existência!

Pois o todo vivenciado e experienciado,
A formatarem nosso ser
As aventuras no deserto de dunas, douradas areias beijadas pelo ardor solar
A criar aventuras de sheik’s, chefe de tribo,
A arrebatarem mocinhas resolutas
Anos vintes

Em modernos tempos,
Tramas outras a desvelarem os conflitos da região
Violência contra as mulheres,
Regimes políticos totalitários e ditatoriais

Em lugares outros, se percebe certas liberdades para as mulheres
Construções mouriscas, treliças, domos
Véus que escondem rostos e tristezas
Histórias de vida
Trazendo ínsitos, milênios de cultura e tradição!

Um mundo também de sonhos a desfilar com seus véus bordados,
Jóias, olhos fortemente marcados, ou não
A narrar a história de um amor impossível
Encontros e reencontros

Eterno contar e recontar de velhas e novas historias
A povoarem nosso imaginário de sonhos e imagens mentais
A enriquecer nossa existência de deslumbramento e beleza
Mas também, a nos fazer refletir
Sobre este louco mundo em que vivemos
Narrativas a revelarem dramas
Histórias mil, a passearem ante nossos olhos
Reais ou irreais, imaginosas ou não

As dunas de minha lembrança,
Em uma Praia dos Ingleses, perdida,
Nos confins do Sul do meu fantástico país
Viagens, passeios mil!
Imagem palpável, assemelhada ao deserto distante!

Lembranças da infância querida ...
E o trapezista a fazer mil desenhos no ar
Vestido com sua melhor roupa,
Dourada e repleta de enfeites
Números de mágica,
Gracinhas ditas por espevitados palhaços
Engolidor de fogo, a aquecer a lona do circo

E eu a me arrumar para os eventos festivos,
A vestir lindos vestidos e a usar maquiagem para as festividades,
A se pôr bonita para especiais momentos

Acompanhar as notícias do mundo
A embriagar-se de vida, tentando dele tirar os melhores ensinamentos
Especiais conhecimentos,
E belas lembranças, bons momentos

A visitar terra de experiências as mais diversas
Com espelhos em formatos diversos
Luzes colocadas em caixas e refletidas em espelhos,
A revelarem formatos diversos
Poço sem fundo,
Espelho a refletir o sumidouro do fosso
Esfera condutora de eletricidade, a liberá-la nas mais leves partes do corpo
Demonstração da resistência do ar, sobre um sólido corpo
Mega pixels aglutinados em grandes quantidades, ou não
Maiores e separados, menores e aglutinados, a melhor definir as imagens
Explicações sobre o funcionamento de hidroelétricas,
Em lugares, com inclinações pronunciadas
Aquários com peixes diversos
Pinguinário, com seus bichinhos ariscos,
Isolados em uma crosta de gelo,
Tendo apenas um desinibido a nadar

E eu a contemplar, a beleza das humanas criações
Pois quem ao feio ama,
Não entende nada de beleza!

E assim, a divagar, devanear
Melhor pensar,
Tantas coisas para se criar, se fazer, se raciocinar

E assim, guardadas as melhores lembranças das coisas da vida
Guardar em si, as coisas melhores possíveis
E tentar alcançar as intangíveis
Sempre tentando a vida transformar
E a se transportar, para um melhor caminho
Pois as pedras constantes, farão por vezes,
Nós, do caminho desviar,
Até finalmente encontrar, ou pensar encontrar o destino
Será isto, um desatino?

Creio que não,
E assim, fico a tentar recolher,
As experiências melhores possíveis do existir!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Mares

Preservar as memórias dos queridos entes
Guardar com carinho nos corações,
Os seus gostos, seus interesses da vida
A fim de que eles vivam eternamente em nossas lembranças

Perceber que em muitas alegrias
Existem alheias tristezas
A vida vem e vai
Ora nos trazendo alegrias, ora nos transmitindo tristezas
E mesmo nos maiores conflitos,
Descobrir a alegria, e um melhor jeito para se entender os desenganos,
Recorrentes nos desvãos da vida

Viver no mar
Oceano salpicado de barcos,
A circundarem os banhistas
Frias águas do tempo
De um tempo de felicidade passado
Mas que a qualquer momento pode ser retomado

Origem das primeiras cidades de uma terra brasilis
Índios a marcarem a história destas plagas
Cunhambebe a se estabelecer em Bertioga
E a depois lutar em território fluminense
Ao lado de Estácio de Sá

Anchieta e seu trabalho de catequizar os índios
A dormir em leito de pedras,
Circundado pelo brilho das estrelas
A iluminar de tímida forma, a cama
Do município litorâneo, com seu casario histórico

Jesuíta dotado de espírito aventureiro,
Como os demais sacerdotes,
A enfrentar serras íngremes
A fazer pouso em campo estrelado,
Tendo por leito apenas as pedras,
E o duro chão dos caminhos

A transmitir os ensinos de sua religião,
E conhecimento aos índios

Em suas caminhadas pelo litoral,
Ficava a escrever belos textos na areia molhada
Palavras que com a elevação da maré,
Seriam devoradas pelas águas
Que as lamberiam, em seu furor

Abarebebê, Leonardo Nunes
A percorrer de forma veloz, as regiões
Amontoado de aldeias indígenas
Aldeias e povoados, a receberem as luzes da doutrina cristã
E a reunir as gentes,
A construção de uma igreja de pedras,
Que hoje se faz em ruínas
Memória do município desmembrado de Itanhaém,
Peruíbe, Terra da Eterna Juventude
Com sua lama medicinal, a curar dores e vitalizar

Lugar de mar aberto, extenso
Linda serra verdejante ao fundo
Ultimamente salpicada de barcos pesqueiros
Com seu mar azul e lindo, contrastando com a espuma branca das ondas

Lua brilhante, acompanhada de estrelas,
Iluminam o céu escuro
A noite preta e densa, a envolver toda a atmosfera

Em contraste aos tempos passados,
Conforto em macios lençóis
Quartos arejados
Em tempos de antanho,
Homens desbravadores, dormindo ao relento
Os nobres padres jesuítas a descansarem seus corpos cansados,
Em céu de estrelas

A edificarem cidades e povoados
E escalando íngreme serra, colonizaram o interior
Marca de bravura e coragem,
E um grande contingente de violência

Índios foram escravizados, catequizados,
E transformados em servis criaturas
Auxiliaram na edificação dos povoados
Índias foram violadas,
Dando origem aos cafuzos
Paridos de cócoras
Primeira mistura brasileira

As mulheres brancas, raras,
Eram trazidas de Portugal
Mulheres que não tinham nada a perder em suas terras
Acreditavam na possibilidade de um bom casamento em terras tupiniquins
Acreditavam, ou eram levadas a acreditar
Mulheres brancas, objeto de cobiça dos portugueses
A habitarem estas plagas

Homens brancos,
Vinham na esperança de enriquecer,
De livrarem-se das pesadas penas impostas pela coroa portuguesa
Muitos indesejados em sua terra

Bandeirantes, a desbravarem os sertões
A percorrerem as entranhas do Brasil
A gerarem conflitos com os índios habitantes destas paragens
A imporem seu modus vivendi
Aculturando os índios, ou adaptando-os a sua cultura
Ora odiados, ora temidos pelos índios
Como o Anhagüera, ou Diabo Velho
A colocar fogo em aguardente, atemorizando os índios

Edificaram construções em taipa de pilão
Estruturas em ripas de madeira,
Cobertas de argila, estrume e sangue de animais
Grossas paredes, pintadas de cal
Com batentes de portas e janelas coloridos e verde, azul
Em seu interior, poucos móveis feitos em madeira de lei
Os alimentos a serem conservados de forma rudimentar
Água fresca guardada em cabaças e jarras de barro
Resultante do trabalho das índias
Inóspitas paragens,
A fazer das mulheres, seres dotados de muita coragem

Em muitos povoados, ataques diversos de índios
Como em Vila de Santo André da Borda do Campo,
A qual fora abandonada
Vindo o Cacique Tibiriçá, a índia Bartira, e o português João Ramalho
Este último, vindo a desposá-la
Todos a viver, junto com os demais habitantes da vila,
Em São Paulo de Piratininga, ou Piratinim
Vida dura, difícil, sacrificada, com muito pouco, ou quase nenhum conforto

Desbravadores,
Como o foram os primeiros portugueses a aportarem no Brasil
A oferecerem-lhe quinquilharias, em busca do Pau Brasil
Madeira nobre, da qual se extraía uma tintura vermelha,
A tingir as vestes espalhafatosas dos portugueses
Neste primeiro contato, a dominação dos índios,
O adoecimento dos nativos, a violação das índias
O deslumbramento dos navegadores,
Com a exuberância das matas,
A nudez, dos índios
Seu modo de vida simples

A viver da caça, da pesca, da coleta de alguns frutos
A prepararem o cauim,
Bebida feita do milho fermentado pela mastigação dos índios
Mandioca, base da culinária brasileira
Mistura de paladar português com gosto indígena, adaptado
As peculiaridades de cada local
E assim, surgiu a culinária paulista, a mineira, e assim por diante

Nordeste, Porto Seguro, lugar da primeira missa celebrada,
Em Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Brasil
Retratada de forma poética por Pedro Américo

No Nordeste, história de índios canibais,
A devorarem padres
Em Itanhaém, índios escravizaram Hans Staden,
O qual naufragou em águas brasileiras,
Vindo a se salvar do canibalismo, por sua bravura e coragem,
Em lutar ao lado dos índios

Conflitos de interesses, onde todos lutam pela vida
Em que pese a morte, quase sempre, à espreita

Engenhos de açúcar, e as formas em metal,
Chamadas de Pão de Açúcar
Com o tempo, passou-se a escravizar os negros
Os quais não conheciam a terra, e o modo de vida
O que dificultava a fuga

Muitos, reis e príncipes em suas terras,
A viverem de modo servil em plagas alheias
A sofrerem as maiores formas de humilhação,
E sofrimento no transporte das terras africanas,
Traídos que eram por seus pares
A morrerem muitos na jornadas
E muito pouco viverem nas senzalas

Em São Paulo, a trabalharem no comércio do café
Fazendas coloniais, com senzalas, pelourinhos
Grandes construções
Cenários de muito luxo e requintes, com interiores ricamente decorados
Em contraste com as moradas antigas dos bandeirantes

Brasil, terra de foro de privilégios
Com as sesmarias,
Criadas com o objetivo de estimular a ocupação do país
Sesmeiros ocuparam as terras, mas de extensas, perderam seu território
Poucos conseguindo mantê-los
E ainda assim, as terras foram desbravadas,
E o país, de dimensões continentais
Transformou-se em terra de diversas culturas,
Onde povos, vivendo nos mais distantes rincões,
Falam a mesma língua, portuguesa

Araribóia em apoio aos portugueses,
Contra os invasores holandeses
Por tributo aos seus bravos feitos,
Recebeu sesmarias, entre elas: “São Lourenço dos Índios,
Atualmente conhecida como Niterói
Dizem que em matança noturna, o índio seguiu a nado, pela baía,
A fim de emboscar os holandeses

Bravos índios,
Tão decantados nas poesias da fase primeira do romantismo
Especialmente na poesia de Gonçalves Dias

Ciclo do ouro, com o fausto e riqueza das construções barrocas de Vila Rica,
Atual Ouro Preto,
Palco de muitas fotografias,
Disparadas das câmeras digitais dos turistas e passantes do local

Cenário da Inconfidência Mineira, e de um bravo Tiradentes,
Morto e esquartejado,
Com seus pedaços espalhados pela cidade
Lembranças da brutalidade de outros tempos,
Os quais ainda infelizmente persistem em muitos aspectos

Tantas histórias, tanto passado,
História de um tempo, não tão distante
Memórias de uma época, e de lugares,
Próximos de nós

Ruínas abertas a visitação,
Pedaço da história de Peruíbe
Pensamentos distantes, a viajarem no tempo
Viver histórico, com a vida prosaica de cada dia

Com flor noturna a desabrochar,
Em um jardim sempre exuberante,
Com suas belas árvores de folhagem verdejante
As flores várias

As águas a invadir as areias,
E a formarem pequenas e singelas lagunas
Remansos de água salgada e doce

Mar azul
Céu azul, brancas nuvens, sol dourado,
A refletir na claridade das águas

Queima de fogos no reveillon
Cenário de luzes variegadas e formas, por muitos minutos

Barcos pesqueiros a circundarem a praia
Quiosques repletos das gentes, e das músicas variadas
Canais de água e correr o mar

Canal de pedras, divide a praia em duas
De lá saindo os barcos que singram as águas
Mar revolto, correntes de retorno

Lua cheia, céu estrelado
Flores de cera,
Hibiscos dobrados vermelhos, laranja, róseos;
Lantanas coloridas;
Flores miúdas de uma dama da noite perfumada

No caminho de volta ao lar citadino
A serra enfeitada de manacás floridos

Céu bonito,
Com imponentes formações de brancas nuvens na ida
Pôr do sol dourado em das viagens, várias

Lindo cenário de felicidade e de reflexão
O entender da vida
Crianças a correr para o mar, a brincar na areia

Caminhadas, muitas,
Novas construções,
As melhorias a caminharem a passos lentos

Carnaval com confete e serpentina
Herança dos tempos do Entrudo
Os corsos,
Com as mocinhas sentadas,
Em seus luxuosos carros conversíveis
Mascaradas,
Enroladas em confete e serpentina

Blocos carnavalescos
Desfiles em sambódromo,
A formação das escolas de samba,
A desfilarem inicialmente em avenidas

São Paulo a despontar neste cenário
E Adoniram Barbosa a demonstrar,
Ser a mais completa tradução,
De que São Paulo não é o túmulo do samba
Cidade aniversariante que nunca dorme!

E o entrar nas águas da praia,
Molhar o corpo, os cabelos,
Apreciar o cenário
E a ter a certeza do quanto se pode ser feliz,
Realizando algo tão simples
O segredo da felicidade, está na simplicidade

Assim como a música pode mudar o estado de ânimo de alguém
E um livro aperfeiçoar o modo como se vê o mundo
As pessoas são eternas em nossas memórias

E o tempo, este eterno inconstante,
Este só nos acrescenta
Só cabendo a nós não temê-lo

E os mares guiam a corrente, ou a corrente guia os mares
Mar, maré, mares, guia
Condutor de destinos ...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Mares Guia; ou as Madrugadas aos Mares

Madrugada de céu estrelado
Meia lua ainda mal apontada
Mal adormecida
Em céus de uma cidade escurecida,
Na madrugada adentro
Longa jornada

Madrugadas por hora cedem
E em seu lugar dão hora a luz do dia
E a jornada de trabalho a se cumprir
Para após, um merecido descanso dispôr

E assim, a vida segue
Com suas obrigações
E seus pequenos shows de cantores,
A transportarem contentamento por fios sutis
A nos ligarem os sons maviosos, aos ouvidos atentos
Gravações registradas nos HD's de nossos computadores
Remanso e descanso de nossos tédios
A nos impulsionar para o trabalho
Odisséia sem fim!

Estrelas a luzirem num céu de escuros véus
A desvendar os pequenos mistérios do dia
Dia-a-dia descamando as fibras da vida
A contar os passos dos homens
Através de seu relógio singelo de brilho e esplendor

Para enfim desfrutar
Passeios por entre mares azul esverdeados,
Ou melhor,
Esverdeantes azuis
Entrecortado de furibundas ondas
Brancas ondas
De ondulante espuma branca
Ondas de mar e mergulhos
Amplo mar, lindo mar

Ao lado de estonteante montanha
Serra verde, oculta por entre nuvens
Mistérios por desvendar
Amplos cenários

Em Torre de TV,
Acenas para uma verde vista alegre
Das casas a acompanhar
Tendo o mar como elemento, ao fundo

As ruínas de uma antiga igreja
E suas pedras por revelar
Um tempo de padre jesuítas
Índios por escravizar
E brancos senhores de terras

Caminhar por caminhos deslumbrantes
Casas imponentes, e coqueiros a dançarem
Na cadência e balanços dos ventos bravios do mar

Quiosques a servirem bebidas e iguarias
Água de coco saboreada à beira-mar
Esculturas na areia
E o sol a tocar a pele
Mudando o tom de suas cores

Corpo a molhar, ao tocar as águas do mar
Divertir-se e nadar,
Repousar em suas fortes águas
As águas a tocarem os pés, no ir e vir das vagas
O corpo a se banhar, nas águas em movimento

Barcos ancorados, em um Porto sossegado
A aguardar o movimento dos peixes e crustáceos
Vendidos em uma Peixaria de brancos e azuis

Barcos a singrarem os mares
A luzirem na escuridão das noites
De longe observados
Como se fora acenos de quem passa,
E acompanha os movimentos da vida

Madrugadas afora dando lugar ao lindo dia
Imponente sol a raiar
E as águas do mar, sempre a brilhar

Vida!
Longa vida a ti, ó deus dos mares
Longa vida a ti, que tanto de tua paz nos traz
Ó mar!
Mar dos mares!
Farol, Porto e abrigo dos meus melhores dias!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Intempéries

Desolação,
Desencanto
Triste ocaso das horas
Desinteresse
Intolerância
Os agentes da ignorância
A se perpetuarem mundo afora

Cansaço
Desta vida seca e vazia
Destas pessoas duras,
Empedernidas,
Sem nenhum alento no coração

Sinto pena
Profundo pesar
Pelo fato do mundo
Estar como está

Que pena que todos fechados estão
Para o respeito e a consideração
Que pena!

E pensar que o mundo
Bem melhor poderia ser
Apenas com um simples gesto
Atitude amistosa
Gestos gentis, atitudes delicadas

Quanto perdemos com a má educação
E as más escolhas feitas na vida
É pena!

Todavia, em que pese
Estas coisas brutas
Esta gente sem consideração
Estas coisas que magoam e ferem
Muitos melhores seres existem
A engrandecer este mundo,
Vasto e inóspito
A preenchê-lo de belezas,
Maravilhas e encantamento!

Que grande ventura
Por me descobrir brasileira
E que apesar de tantos defeitos
Brasileiro, ó povo!
É um povo de valor
Que busca transformar suas vidas
E muitos nesta busca,
A vida de outros também modificam

Amo os poetas
Em todos os gêneros
Cantadores dos livros,
Dos textos, das obras literárias,
Muitas imortalizadas
Outras tantas,
Em música transformadas
Quanta beleza
Este mundo mágico nos traz!

Em recente matéria
Porventura descobri
De eminente filósofo
Sua tese de que a música
É a essência e a explicação,
Do mundo

Em outras passagens
Afirmativas descobri
De que a música traz em si a matemática,
Em sua exatidão,
De idéias construídas

Música boa é exata,
Perfeita
Como a se encaixar
Da mais perfeita forma
Em nossas vidas

A muitas vezes,
Germinar em campo estéril
E a estimular boas idéias

Traz cor e vida
A muitas vidas insípidas e sem sentido
Música inspira,
Modifica,
Ilumina e ajuda a iluminar
Estimula a enxergar a vida,
Com novos olhos
Incrível façanha!

Sempre a nos estimular
A viver em um mundo melhor
Pitagórica filosofia,
Que creio eu,
Não ser desprovida de fundamento

A música salva,
As almas em desesperação
Como a literatura,
Ajuda a alimentar o espírito

Em suas delicadas letras
Suave melodia
Ensinamentos, lições de vida,
Conselhos e admoestações
Como que a nos despertar
Para o mundo que nos cerca
A estimular, a criar

As canções,
Companheiras fiéis
Das horas de desalento,
Desânimo,
Da falta de coragem
Da vontade de muito se fazer,
Sem se saber,
Por onde começar
A estimular melhores pensamentos,
Posicionamentos
Quanta companhia nos faz!

A nos transportar
Para melhores paragens
Cenários de rara beleza
Encantamentos mil

Novas realidades a se revelar
Canções a celebrarem realidades
Muitas desconhecidas para mim

A falarem de velhas paineiras,
Em mourões,
Esteio, para se estender as cercas
O ipê amarelo,
A florir, obstaculizando o luar
As quiçaças de um sertão,
Sem condições para se plantar
As saudades de uma terra distante,
Os pássaros a cantar

Entre outras canções a dizer
Que mais devemos confiar em nós,
Do que esperar por vãs promessas
E dureza das realidades,
A perceber que nem todos
Verdadeiros são

O que se há de fazer!
Bons e maus há,
Neste desenfreado mundo,
E cabe a nós distingui-los,
Em uma terra de gente indistinta,
Apagada pela multidão

A massa indiferente,
E amorfa que nos acompanha em nossos passos,
Dando-nos a falsa impressão,
De que não estamos sós
Falsa assertiva,
Quimérica

Mundo cinzento,
Como na canção
Falta de verde,
De flores coloridas,
De plantas
Para alegrar o cenário triste

Talvez daí resida a necessidade
Quase primal, de bucolismo
De poesia,
E de natureza

A indiferença a nos rondar
Socorrei-nos por nos sentirmos tão indiferentes
Nesta vida monótona
Triste melopéia

Daí a necessidade de maiores conhecimentos,
Melhores leituras,
Emotivas canções,
Repertório afetivo
A embalar nossas vidas,
E a nos trazer encantamentos
A semear beleza por áridos campos
A germinar em campo frio
E quem sabe produzir bons frutos

Mas o campo é inóspito,
E difícil a semeadura
Mas ainda assim acredito
Que bons frutos se colherá,
Entre aqueles que dispostos estiverem,
A melhor viver

Que venham,
Pois embora difícil,
A colheita é farta e compensadora!
Bons auspícios,
Mensagens alvissareiras
Boa nova a se aproximar
Muitos sonhos a se realizar!

Novas floradas a acontecerem,
Como na canção
Flores delicadas,
A cobrirem campos de aço
Assim, o quero!

DICIONÁRIO:
melopeia /éi/ substantivo feminino
1. MÚSICA
a parte musical, melódica de um recitativo ('gênero de canto declamatório').
2. toada, cantiga de melodia simples e monótona, ger. melancólica; cantilena.     

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.