Poesias

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 14

Durante algum tempo, as coisas ficaram calmas.
Muito embora Paulina continuasse a se encontrar com Ricardo e Clóvis, foi possível contornar a situação.
No entanto, quando Alaor descobriu que o namorado da filha se chama Ricardo e não Aldo, o homem ficou furioso.
Estér também ficou muito desapontada com a filha.
Por esta razão, quando finalmente Paulina aparece em casa, os dois estão aguardando-a.
Surpresa, Paulina pergunta o que eles estão fazendo acordados a uma hora dessas.
Estér, é a primeira a responder:
-- Simples. Nós só queremos saber o que deu em sua cabeça.
-- Como assim? – perguntou Paulina, perplexa.
-- Como assim? Ela tem coragem de perguntar. Pois eu lhe digo. Nós já estamos sabendo que seu namorado se chama Ricardo e não Aldo. Mocinha, você quer fazer o favor
de nos explicar toda essa história?
Surpreendida pela descoberta, Paulina bem que tentou desmentir.
Mas como poderia desmentir uma coisa dessas?
Alaor percebendo que Paulina tentava desconversar, tratou logo de deixar claro que não aceitaria nenhuma mentira, e que se descobrisse depois à verdade, as coisas esquentariam
para ela.
Constatando que de nada adiantava mentir, Paulina revelou então que estava saindo com dois rapazes.
Alaor ao ouvir isso ficou chocado.
Estér também não ficou menos surpresa.
Paulina, ao notar o espanto expresso nos olhos de ambos, contou alguns detalhes de sua complicada relação com os dois rapazes, na vã tentativa de justificar a situação.
Alaor porém, não aceitou as explicações da filha.
Estér por sua vez, dizendo-se decepcionada, comentou que se alguém na vizinhança desconfiasse do que se sucedia em sua casa, Paulina nunca mais seria vista com respeito.
Ao ouvir isso, Paulina respondeu que não escolheu aquela situação.
Estér, então perguntou-lhe por que ela estava fazendo isso com a própria família.
A moça respondeu:
-- Mãe, eu não estou fazendo no intuito de prejudicar quem quer que seja. Só que eu gosto dos dois, o que eu posso fazer?
-- Paulina, eu não esperava isso de você! – comentou a mãe quase chorando.
-- Mãe, me desculpe. Eu não quis prejudicar ninguém.
-- Mas você prejudicou. E foi a si mesma. – respondeu Alaor.
Envergonhada por ter sido descoberta, Paulina pergunta o que terá como castigo.
Alaor responde então, que ela está proibida de sair de casa.
Irritado, avisa-a que se desobedecer suas ordens, levara uma surra que jamais se esquecerá.
Nisso, Alaor, comentou que precisou mentir para Ricardo, afim de que a situação não ficasse pior.
Ao ouvir estas palavras, Paulina quis logo saber o que ele dissera.
Alor respondeu-lhe então que ela estava na casa de uma amiga que passara mal.
Paulina agradeceu a ajuda.
Seu pai, porém, comentou que não ficou nada satisfeito em mentir.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 13

No dia seguinte, depois de muito pensar, Paulina resolveu inventar um nome.
Desta forma, quando estava pronta para ir trabalhar, a moça, ao ser inquirida por seu pai, respondeu-lhe de pronto que o nome de seu namorado era Aldo.
Alaor, desconfiado, perguntou-lhe por que havia demorado tanto para responder esta pergunta.
-- Simples, né pai? Como é que eu poderia falar seu nome, se a gente nem sabe se esse namoro vai dar certo? Eu queria esperar um pouco mais antes de contar a novidade.
-- Sei, sei! – respondeu Alaor com ironia.
Nisso, a conversa se encerrou.
Paulina então, aproveitando a calmaria, aproveitou para se dirigir ao ponto de ônibus.
Mais um dia de trabalho que começava.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 12

Mas não seria sempre assim.
Muito embora, nas primeiras vezes, Paulina tenha conseguido se safar, depois de algum tempo, ficou praticamente impossível esconder de seu pai que estava saindo com alguém.
Isso por que, estava saindo com Ricardo e Clóvis.
Assim, certo dia, depois de um encontro com Clóvis, Alaor, esperando pela filha na sala, a pegou no pulo.
Surpresa, a moça tentou desconversar, mas como a situação em que se encontrava não lhe permitia mentir, Paulina acabou confessando que estava namorando um rapaz.
Curioso, Alaor quis logo saber quem era.
Titubeante, Paulina respondeu-lhe que não era ninguém que ele conhecesse.
Irritado, Alaor disse:
-- Não interessa! Eu quero apenas saber o nome do rapaz! Responda!
-- Papai! Isso não é hora para falarmos sobre isso. Deixemos para amanhã. – respondeu a moça.
-- Paulina, você não me enrole. O que você está aprontando para ter tanto medo assim de me dizer o nome do rapaz. Por acaso ele é casado?
Surpresa, Paulina negou estar saindo com um homem casado.
Alaor, já sem paciência, perguntou então:
-- Se não há nada de tão sério a esconder, por que você não diz logo o nome. Quem é?
Estér, que até então dormia, ao ouvir os rumores, levantou-se.
Ao perceber que o marido não estava no quarto, foi até a sala.
Foi quando percebeu que Paulina e Alaor discutiam.
Insistindo em saber qual era o nome do namorado da filha, Alaor foi interrompido por Estér, que aflita com aquele barulho, perguntou:
-- O que está acontecendo?
Muito nervoso, Alaor lhe explicou que Paulina só havia voltado para casa aquela hora, e pior, não queria dizer o nome do suposto namorado a que estava levando chegar cada
vez mais tarde em casa.
-- Então é só isso! – exclamou Estér.
Ao ouvir estas palavras, Alaor ficou furioso:
-- Só isso! Só isso? A senhora agora vai me dizer que o que Paulina, a sua filha está fazendo, não é grave? Eu já devia saber! Essa menina vive aprontando por que a senhora vive
acobertando. Onde já se viu! A filha esconde o nome do próprio namorado, e a mãe acha isso muito normal.
Foi então que Estér se aborreceu:
-- Espere um pouco. É óbvio que eu quero saber o nome desse rapaz. Eu só não acho que uma bobagem dessas seja motivo de escândalo. Está bem. Amanhã nós conversaremos.
Vamos todos dormir que já está tarde.
Bastante irritado, Alaor quis retrucar, mas Estér, sabedora de que aquela discussão era estéril, tratou logo de levá-lo para o quarto.
Antes disso, contudo, Alaor avisou Paulina que aquele assunto não estava encerrado.
Nisso, foram todos dormir.

Luciana Celestino dos Santos
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QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 11

Tudo começou logo depois daquela apresentação feita aos amigos de Ricardo.
Clóvis, dizendo-se abandonado pela suposta Tereza, começou a exigir cada vez mais atenção de Ricardo, que preocupado com a solidão do amigo, sugeriu-lhe acompanhar ele e
sua namorada de vez em quando.
Às vezes também, Ricardo ficava em grupo, só com os amigos, sem a companhia de Paulina.
Quando isso acontecia, Clóvis aproveitava para dizer que não estava com vontade de sair.
Que precisava ficar um pouco sozinho.
Ricardo, sem nunca duvidar do amigo, não o forçava a acompanhá-lo, muito embora às vezes fosse até sua casa verificar o que estava acontecendo.
Acreditando que o amigo estava sofrendo, sempre que podia ia visitá-lo para fazer companhia.
Eugênia sua mãe, ficava espantada muitas vezes com a dedicação ao tal amigo.
Ricardo explicava:
-- Nós conhecemos no colégio. Ele é um grande amigo. Eu não posso virar-lhe as costas neste momento tão delicado.
Nestes momentos Eugênia ficava orgulhosa de seu filho.
Mas Clóvis, por sua vez, não estava sendo nem um pouco leal ao seu amigo.
Aproveitando-se de sua confiança, aproveitava todos os momentos que podia para ficar a sós com Paulina.
Muito embora inicialmente a moça tenha relutado em aceitar se encontrar com Clóvis, com o passar do tempo, depois de muita insistência do rapaz, acabou aceitando.
Apesar de Paulina gostar do assédio de Clóvis, a moça nunca lhe deu um sinal de que estava realmente interessada.
Mas por fim, acabou capitulando.
O primeiro encontro se deu numa boate.
Conhecedor da habilidade de Paulina para a dança, já que a vira pela primeira vez, dançando com seu amigo.
Clóvis a convidou para dançar.
Entusiasta dos passos de Jonh Travolta, o rapaz movimentou-se pela pista de dança com extrema habilidade.
Até Paulina, habituada a dança, se encantou com sua desenvoltura.
Tanto que chegou até a compará-lo com o próprio ator.
Clóvis adorou a comparação, mas fingindo modéstia, respondeu que não fizera nada de mais.
Nisso, os dois continuaram a se movimentar pela pista de dança.
Os dois, exímios dançarinos, chamaram logo a atenção de todos os que freqüentavam a pista.
De tão bons, chegaram até a receber aplausos.
Animados, ambos agradeceram a deferência.
A certa altura, preocupada com o horário, comentou que precisava voltar.
Afinal de contas, rigoroso como era seu pai, não ia gostar nada nada de vê-la chegando tão tarde em casa.
Foi neste momento que sem pensar, Clóvis se ofereceu para acompanha-la até sua casa.
Paulina porém, precavida que era, tratou logo de demove-lo da idéia.
Dizendo que estava namorando Ricardo, e que ele morava por perto, comentou que não seria nada bom que algum conhecido os visse juntos.
Afinal de contas, poderia dar com a língua nos dentes.
O rapaz ao perceber a preocupação de Paulina, concordou imediatamente.
Mas dizendo que não poderia deixá-la sozinha, combinou de levá-la até as proximidades de seu bairro.
O restante do caminho ela faria a pé.
Ao ouvir a proposta, a moça concordou prontamente.
E assim fizeram. Quando adentraram o famoso bairro, Clóvis despediu-se da moça, e avisou que quando pudesse iriam se encontrar novamente.
Paulina deu-lhe um beijo e se despediu.
Aflita, saiu correndo para chegar em casa o menos tarde possível.
Mesmo assim, o rapaz ainda teve tempo de ver a moça se afastar, até sumir completamente de seu campo de visão.
Nisso, Clóvis voltou para casa.
Já Paulina entrou pé-ante-pé em casa.
Por sorte Alaor, não a estava esperando.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 10

Algum tempo depois, eis que finalmente Marina e Cleide, depois de uma complicada prova e de muito nervosismo, conseguiram finalmente ingressar na sonhada faculdade.
Otávio, ao saber do êxito da filha, parabenizou-a.
Feliz, Marina tinha se dirigido até a universidade para saber do resultado das provas.
Cleide também a acompanhara.
Nervosas, assim que chegaram no campus da instituição, trataram logo de verificar se seus nomes constavam na longa lista de aprovados.
Para alegria de ambas, as duas haviam passado.
Quando chegaram em casa, mal podiam se conter de tão felizes.
E Otávio ao saber da notícia alvissareira, abraçou a filha e disse-lhe:
-- Eu sabia que você ia conseguir. Muito bom!
Adélia por sua vez, sabedora da escolha da filha, não ficou nem um pouco empolgada.
Otávio porém, com sua euforia, compensou sua falta de entusiasmo.
Já Eugênia, mãe de Cleide, já conhecendo de longa data a dedicação de sua filha,
comentou:
-- Parabéns! Muito embora já soubesse o resultado, eu estou orgulhosa de você.
Ricardo contrariado, ao ouvir as palavras de sua mãe, retrucou:
-- Não sei como a senhora poderia saber de uma coisa dessas. A senhora é advinha por acaso?
-- Não sou cigana, mas conheço meus filhos. E essa aqui, sempre foi muito determinada, inteligente e estudiosa. – respondeu apontando para Cleide.
-- Pronto, já vai começar o sermão. – respondeu ele desanimado.
-- Sermão nenhum, mas o senhor bem que poderia voltar a estudar. Já pensou? Dois filhos formados? Que orgulho!
Aborrecido, Ricardo, retirou-se da sala e, dizendo que tinha um compromisso, foi para a rua.
Ao bater na porta da casa de Paulina, descobriu por Alaor, que ela havia saído.
Surpreso com a informação, o rapaz retruca:
-- Saiu? Mas com quem?
Alaor, estranhando a atitude do rapaz, pergunta:
-- Por que você quer saber?
Perplexo, Ricardo responde:
-- Como porquê? Eu sou seu namorado.
-- Namorado? Como namorado? Paulina nunca me falou nada!
-- Sim senhor, eu sou Ricardo, o namorado de sua filha... Agora por favor, o senhor pode me dizer com quem ela saiu?
Alaor, sem saber o que dizer, começou a gaguejar.
Isso por que, sem mais nem menos, a moça havia saído com Clóvis.
Porém, como poderia dizer isso ao rapaz?
Percebendo a confusão que a atitude da filha poderia criar, tentou inventar uma história, para justificar o sumiço de Paulina.
Assim, dizendo que sua filha estava na casa de uma amiga que passara mal, conseguiu fazer com que Ricardo dissipasse suas desconfianças.
Preocupado o rapaz perguntou apenas se a situação da tal amiga era grave.
Alaor, respondeu:
-- Isso eu não tenho como te responder. Paulina saiu daqui às pressas. Mal teve tempo de me explicar o que estava acontecendo.
-- Que pena!
-- Mas não se preocupe! Dentro em breve ela ligará informando o que aconteceu. Tomara não seja nada grave!
-- Tomara. – respondeu Ricardo.
-- Até logo, rapaz.
-- Até logo, senhor.
Nisso, tomou o caminho de casa.
Alaor, ao entrar em casa, aborrecido com a atitude da filha, comenta com a esposa, que foi obrigado a mentir para proteger Paulina.
Estér então, pergunta:
-- Do que você está falando?
-- Estou falando da falta de juízo da sua filha. Onde já se viu! Fazer uma coisa dessas com o pobre do namorado. Estér, Estér, quando sua filha vai criar juízo?
-- Eu não entendo! Do que você está falando? Pode se explicar?
Irritado, Alaor responde:
-- Explicar o quê? Quem nos deve uma explicação é Paulina. Onde já se viu sair com outro rapaz e deixar o namorado sozinho!
-- Namorado? – perguntou Estér supresa.
-- É, namorado. Sua filha já tem um namorado, mas está saindo com outro.
-- Meu Deus! Desta vez Paulina passou dos limites.
-- É o que eu digo. Você passa muito a mão na cabeça dessa menina, e aí, dá no que dá.
-- Agora a culpa é minha? Escute bem! Eu não ensinei filha minha a ser descarada. Se é como você está falando, ela vai se ver comigo. Ah, se vai! – respondeu a mulher, furiosa.
-- Eu espero em Deus que sim. – respondeu Alaor, um tanto descrente.
-- Me aguarde. – reiterou ela, já se dirigindo a cozinha.
Nesse ínterim, Ricardo já retornara a sua casa.
Surpresas, Cleide e Eugênia perguntam-lhe:
-- Ué! Mas você não ia sair?
Ricardo, aborrecido por não encontrar Paulina, passa direto por elas, e não responde.
Se tranca em seu quarto.
Cleide e Eugênia se entreolham sem compreender o que estava se passando.
Enquanto isso, Paulina e Clóvis conversam animadamente.
Já faz algum tempo que os dois andam saindo.
Muito embora Paulina esteja namorando Ricardo, a moça aproveita para de vez em quando se encontrar com Clóvis.

Luciana Celestino dos Santos
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QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 9

Com isso, Cleide e Marina por sua vez, cada vez mais dedicadas aos estudos, praticamente abandonaram a vida social.
Não saíam mais com os amigos, nem passeavam mais com Paulina.
Sim por que sempre que podiam, as três aproveitavam para passear pelos parques da cidade.
Aproveitavam as tardes para jogarem conversa fora.
Falavam sobre o trabalho, os planos de mudar de vida, dos rapazes, etc.
De vez em quando, iam ao cinema.
Assistiam geralmente, comédias românticas.
Era o bastante para conversarem por horas.
Contudo, Paulina, percebendo a ausência das amigas, comentou que elas estavam muito obcecadas em estudar.
Isso por que, as três colegas, sempre que podiam, saíam juntas para dançar, ir ao cinema, ou mesmo só conversar.
Agora não.
Paulina, uma vez, conversando sobre amenidades, deixou escapar que adoraria ter uma vida folgada, sem ter que se preocupar em ficar trabalhando.
Cleide ao ouvir isso, ficou indignada.
Dizendo que o trabalho era uma grande oportunidade para a mulher se realizar, retrucou que o que ela ambicionava era uma grande besteira.
Paulina argumentou:
-- Ora Cleide! Eu não disse que não gosto do meu trabalho. Mas eu gostaria de ter uma vida mais tranqüila sim, sem ter que precisar ficar me matando para ganhar uns trocados
no final do mês.
Marina, tentando controlar a situação, comentou que não havia nada demais em se sonhar com uma vida melhor.
Tanto que ela e Cleide estavam se preparando para ingressarem em uma faculdade.
Foi aí que os ânimos se acalmaram.
Paulina, percebendo que não tinha argumentos para questionar Cleide, resolveu se calar.
Convencida de que fora posta de lado, deixou de reclamar das colegas e passou a se concentrar somente na sua movimentada vida amorosa.
E passou a conviver cada vez menos com Cleide e Marina.
Ademais, agora que as duas amigas vinham intensificando os estudos, e até esses encontros esporádicos com Paulina, tinham acabado.
Preocupada com a proximidade das provas as amigas, que haviam acabado de se inscrever no vestibular, passaram a estudar cada vez mais.
Agora, passavam os fins de semana inteiros estudando.
Não bastasse a dedicação durante a semana, as horas que antes eram de lazer, estavam sendo ocupadas por livros, leituras e discussões.
Em razão disso, Ricardo caçoava a irmã.
Dizendo que desse jeito logo brotariam folhas de suas orelhas, o rapaz conseguiu apenas, ouvir uma bronca de Eugênia – sua mãe.
Irritado, Ricardo calou-se.
Cleide então, novamente, dirigiu-se a casa de sua amiga.
Otávio e Eugênia, percebendo que a dedicação de suas respectivas filhas não diminuíra, ficavam satisfeitos.
Otávio, sempre que podia, elogiava Marina.
Já Eugênia, além de elogiar Cleide, vivia insistindo para que o filho voltasse a estudar.
Em vão.
Ricardo no entanto, achava que o estudo era só para os otários.
Gente esperta como ele, poderia conseguir coisa muito boa, sem trabalhar.
Eugênia quando ouvia estas palavras, ficava inconformada.
Todavia, não havia o que pudesse fazer para colocar um pouco de juízo na cabeça do filho.
Otávio, sempre que a via reclamar de Ricardo, dizia:
-- Não adianta. Deixe para lá! O que a senhora podia fazer por eles, já fez. Cabe a eles agirem. Agora só depende deles.
Nisso, Cleide e Marina, ficavam por horas a fio estudando.
Só pensavam em estudar.
Paulina por sua vez, pouco afeita às atividades intelectuais, ficava excluída da vida das amigas, e isso a incomodava um pouco.
Muito embora Cleide a tenha convidado uma vez para voltar a estudar, Paulina não ficou nem um pouco animada com o convite.
A moça, percebendo que Paulina só queria saber de se divertir, abandonou a idéia de tentar convencê-la a estudar.
Mas Paulina, se ressentia do fato de ficar isolada.
Isso por que, somente quando saia com Ricardo ou com Clóvis, é que tinha companhia.
Mesmo assim, diante da postura de Cleide e Marina, só lhe restou se afastar.
Com isso, após algum tempo, arrumou outras colegas dentro do Banco, e com elas passou a sair de vez em quando.
Ainda assim, era com Ricardo e Clóvis, com quem passava mais tempo.
Cleide certa vez, comentou que ela e Marina, precisavam mesmo aproveitar todo o tempo livre que tinham para estudar.
Estavam realmente dispostas a ingressar em uma faculdade.
Paulina ao ouvir isso disse:
-- Mas pra quê?
-- Ora pra quê, para termos uma profissão, uma vida melhor. – retrucou Marina.
-- Sinceramente, eu não vejo nada de errado em minha vida. – comentou Paulina, com desdém.
-- Mas ninguém está dizendo que tem algo errado. Nós só pretendemos melhorar a nossa. – emendou Cleide.
-- Eu acho uma perda de tempo. Mas se vocês querem desperdiçar a juventude de vocês, eu não posso fazer nada.
-- Eu lamentou muito que você pense assim. – respondeu Cleide.
-- Espere um pouco. Mas não foi você mesma que elogiou nossa iniciativa tempos atrás? – perguntou Marina.
-- De certa forma vocês são corajosas. Mas são malucas também. Afinal de contas, vocês pensam que é fácil passar no vestibular?
-- Não é, mas nós estamos nos empenhando para isso. – respondeu Cleide.
-- Então boa sorte. – comentou Paulina, ironicamente.
Marina, irritada com o pouco caso da moça, tentou retrucar, mas Cleide, meneando a cabeça negativamente, a reteve.
Nisso, Paulina desculpando-se por sua sinceridade, despediu-se das amigas.
Iria se encontrar novamente com Ricardo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 8

Com isso, o tempo foi passando.
Ricardo e Paulina novamente se encontraram.
Em plena década de 70, os dois souberam aproveitar os embalos dos sábados e dos domingos à noite.
Era uma época de luzes coloridas, ritmo dance.
Paulina e Ricardo, dançavam animados.
A moça, grande dançarina do ritmo dance, chamava a atenção por seus passos.
Já Ricardo, embora não fosse nenhum artista da dança, não fazia feio.
E assim, os dois dançavam por horas.
Conforme o ritmo fosse muito alegre, sempre que podia aproveitavam as folgas que tinham para dançar.
Virou praticamente uma mania.
Certa vez inclusive, Ricardo, aproveitando o ensejo, apresentou Paulina aos amigos Claudionor, Tiago e Clóvis – que estavam na mesma boate que ele.
Os três, ao verem a beleza da moça, ficaram impressionados.
Chamando Ricardo a um canto, comentaram:
-- Bonita mesmo!
Contudo, sabendo que Ricardo tinha interesse na moça, Tiago e Claudionor, respeitaram o amigo.
Por isso, nem sequer sugeriram a idéia de que a moça poderia dançar com eles.
Aproveitaram então, para despedirem-se do amigo e dançar com as moças que os estavam acompanhando.
Animados, ficaram o tempo inteiro dançando.
Ricardo por sua vez, não desgrudou um só minuto de Paulina.
E assim, os dois dançaram a noite inteira.
Clóvis porém, olhava para Paulina, com olhos bastante interessados.
Ricardo porém, feliz que estava por ter Paulina ao seu lado, nem se deu conta, do súbito interesse de Clóvis.
Que aliás, era bem evidente.
Assim, muito embora Tiago e Claudionor – mesmo dançando – tivessem notado um certo interesse do rapaz pela namorada de Ricardo, os dois amigos trataram de nada dizer a
ele.
Claudionor e Tiago realmente estavam preocupados com a felicidade de Ricardo.
Ademais, pensando se tratar apenas de um capricho de Clóvis, deixaram esta questão de lado.
Clóvis no entanto, estava disposto a conquistar a namorada do amigo.
A despeito disso, Ricardo e Paulina passaram a se encontrar cada vez mais.
Engatando um namoro firme, o casal sempre que podia, aproveitava para se encontrar.
Em dado momento até no horário de almoço, Ricardo aproveitava para dar uma escapadinha do
escritório e ia até o Banco ver Paulina.
Cleide e Marina, sempre que presenciavam estas cenas, ficavam encantadas com a dedicação de Ricardo.
Tanto que abusadamente, sempre que podia Cleide comentava com o irmão.
-- Quem te viu, quem te vê!
Sim, agora ela estava convencida da sinceridade dos sentimentos do irmão.
Realmente, para se dar todo esse trabalho, Ricardo devia estar mesmo gostando muito de Paulina.
Clóvis porém, aproveitando-se do fato de que ele e Ricardo usavam a mesma condução para chegarem ao trabalho, certa vez, fingindo-se muito triste, começou a contar
que sua pretensa namorada, lhe havia dado o fora.
Surpreso, Ricardo comentou que nunca ouvira falar nessa tal namorada.
Clóvis não fez por menos.
Dizendo que não havia comentado nada sobre isso para não parecer bobo, revelou que estava gostando muito de uma pessoa.
Ricardo no começo, pareceu não acreditar muito na conversa do amigo.
Mas com o passar do tempo, vendo Clóvis, bater sempre na mesma tecla, reclamando do comportamento cruel da namorada, começou a acreditar.
Aliás, para ficar totalmente convencido da história, Clóvis, chegou a comentar detalhes da relação dos dois.
Dizendo que não se entendiam, que viviam brigando, e que Tereza, o havia trocado por outro, Clóvis, consegui convencer Ricardo a convidá-lo para sair com ele e Paulina.
Nisso, Ricardo e Paulina continuaram a se encontrar.
De vez em quando saíam para dançar.
Em muitas dessas saídas Clóvis acompanhava o casal.
Ricardo, preocupado com o amigo, seguidas vezes o convidou para acompanhá-lo em suas saídas com a namorada.
E Clóvis, interessado que estava em Paulina, mais do que prontamente aceitava cada convite feito.
Foi assim, que começaram os olhares de um para o outro.
Sim, por que, sempre que Ricardo se afastava, Clóvis aproveitava para se insinuar para a namorada do amigo.
Dizendo achá-la muito bonita, começou dizendo-lhe gracejos.
Porém, mais tarde, percebendo que a moça não lhe era indiferente, começou a convidá-la para sair.
Muito embora Ricardo não fosse um típico ingênuo, ao acreditar excessivamente na sinceridade de seu amigo, acabou por facilitar que esse tipo de situação ocorresse.
Sua própria irmã Cleide, ao saber que de vez em quando Clóvis os acompanhava, não achou nada recomendável.
Contudo Ricardo, crente de que seu amigo lhe era leal, retrucava dizendo que Clóvis estava passando por uma situação complicada.
Conforme dizia, o amigo tinha acabado de perder sua namorada.
Cleide curiosa, perguntou-lhe se conhecia a tal moça que abandonara seu amigo Clóvis.
Ricardo, respondeu-lhe que não.
Desconfiada, Cleide, insistiu:
-- Mas como não? Ele não é um de seus grandes amigos? Como pode pessoas tão unidas, não conhecerem as namoradas um do outro?
-- Sabe como é. O Clóvis é um cara reservado.
-- Ah, sei. Seu melhor amigo tem segredos para você.
-- Ora minha irmã. Nem todo mundo é tão expansivo assim. Além do mais, ele me explicou, nunca foi bem um namoro, já que eles não chegaram a ter um compromisso sério. – respondeu Ricardo contrariado.
-- Está bem! Se você diz que seu amigo mais despachado, é reservado, o que que eu posso fazer para convencê-lo do contrário. Eu desisto, sou voto vencido. Você sabe o que é
melhor pra você... Só espero uma coisa. Que você não se arrependa do que está fazendo. – respondeu Cleide preocupada.
-- Pode deixar maninha! O Clóvis é de confiança. – respondeu ele.

Luciana Celestino dos Santos
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