Poesias

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

VOLGAS DO AMAR - CAPÍTULO 2

Com isso, durante o trabalho, Michele procurou se concentrar o máximo possível no que estava fazendo. E assim, empolgada com o tema, debateu durante muito tempo sobre a importância da literatura no século vinte.
Dizia ela, que apesar de o Brasil não ser um país de leitores, a literatura brasileira, a despeito de tudo isso, era muito forte e determinante na cultura do país.
Porém, por mais que se dedicasse a aos estudos, nem sempre a moça tinha como fugir das insistentes cobranças de seu amigo Felipe. E assim, mais uma vez este lhe interpelou.
Felipe, tentando entender o que se passava, pressionou diversas vezes Michele, para que esta lhe contasse o que estava acontecendo. Muito embora soubesse que algo estranho vinha acontecendo com a amizade dos dois, o rapaz não sabia o certo o que era, e por mais que tentasse descobrir, não conseguia entender o que estava se passando com sua amiga.
Tentando descobrir o que havia, Felipe primeiramente, chegou a cogitar a idéia de que ela poderia ter arrumado um namorado. Mas depois de algo tempo, vendo-a sempre sozinha, percebeu que não era esse o problema. Mas o que seria? Felipe, se perguntava a todo momento, sem encontrar resposta.
Todavia, a despeito disso, Felipe estava muito feliz com sua vida amorosa. Saindo constantes vezes com Fernanda, o rapaz sentia que havia conseguido o que queria.
Fernanda porém, não estava nem um pouco satisfeita com os rumos que o namoro vinha tomando. Desacostumada a ficar tanto tempo com uma mesma pessoa, não estava agüentando mais a dependência de Felipe, que a todo momento queria sua companhia para o que quer que fosse. Não bastasse isso, desde os dois que começaram a namorar, a única coisa mais próxima de alguma intimidade que tiveram, foram alguns beijos.
Quando Fernanda insistiu que eles deveriam se conhecer melhor, Felipe entendeu que devia falar um pouco mais sobre sua vida pessoal, mas não era bem isso que Fernanda queria saber. O que Fernanda queria era um pouco de sexo no relacionamento.
Felipe, então, ao perceber do que se tratava, ficou um tanto quanto reticente a respeito do assunto. Alegando que ainda era muito cedo para eles estarem pensando a esse respeito, Felipe pediu um tempo para Fernanda, para que pudesse pensar um pouco melhor a respeito do assunto.
A moça, sem alternativas, acabou concordando em conceder algum tempo ao rapaz, para que este pudesse pensar um pouco.
Enquanto isso, Michele, começou a ser abordada por Augusto.
Como o rapaz havia perguntado a alguns amigos da moça, qual era o seu gosto literário, Augusto acabou lhe presenteando, com um livro de poesias.
Porém, ao contrário do que imaginara, a moça não ficou impressionada com o presente. Aliás, quanto a isso, a única coisa que a impressionou foi o fato de alguém que nem sequer conhecia, ter lhe presenteado. Isso sim era muito estranho.
Para suas amigas no entanto, isso se devia ao fato de que ela possivelmente, tinha um admirador secreto.
Michele, desconfiada, no entanto, não acreditava em nada disso. Diante desse quadro, a moça chegou até a perguntar as amigas, se elas sabiam de quem se tratava, e se haviam combinado tudo aquilo para ludibriá-la.
Mas as garotas insistiam em dizer que não tinham nada a ver com aquilo. Contudo, isso não convencia Michele.
Todavia, diante da negativa de todos a respeito da possível autoria daquele estranho acontecimento, a garota prometeu que iria descobrir quem havia feito aquela brincadeira.
E assim o fez. Porém, como não tinha a menor idéia de quem fosse, não tinha a menor idéia de onde começar a procurar. Afinal, como fazer para encontrar uma pessoa que não conhecia e nem ao menos havia se identificado? Para ajudar, nem a nota fiscal, relativa a compra, tinha em mãos, para se dirigir até a loja e tentar descobrir quem havia comprado o livro. Assim, realmente, ficava muito difícil descobrir quem tinha feito aquilo.
Porém, com o passar dos dias, seus amigos, percebendo o seu interesse em descobrir de quem se tratava, começaram a dizer que fazia semanas, que um estranho tinha ido até eles para perguntar coisas sobre ela. Como ela se chamava, do que gostava, etc.
Curiosa e intrigada, Michele perguntou quem era.
Seus amigos porém, ao serem inquiridos a esse respeito, não sabiam que resposta dar. Muito embora, alguns deles tenham conversado durante algum tempo com o estranho, não tinham a menor idéia de como se chamava.
Michele, ao ouvir isso, ficou profundamente irritada. Afinal de contas, como eles, que eram seus amigos, haviam cometido inconfidências a seu respeito, a um perfeito estranho? E se fosse uma pessoa mal intencionada?
Seus amigos, então, percebendo o erro que cometeram, tentando se redimir, comentaram com Michele, sobre a aparência do estranho.
E foi assim, de posse dessa informação que Michele percebeu que talvez não fosse tão difícil encontrá-lo. Isso por que, alguém com aquela descrição física, não era algo comum. Não a uma faculdade de letras. Porém, para não correr o risco de abordar a pessoa errada, a moça resolver pensar em uma boa maneira de chegar até essa pessoa e resolver logo o assunto.
Porém, muito antes do que pudesse imaginar, foi o aludido estranho que foi conversar com ela. Antes disso porém, Augusto mandou-lhe um belo arranjo de flores, com um cartão, perguntando-lhe se havia gostado do livro.
Michele não entendeu nada. Pensava: ‘Afinal de contas, qual era a desse cidadão?’ Não bastasse lhe dar um livro de presente, ainda tentava impressionar, mandando flores e um cartão.
E assim, antes mesmo que Michele resolvesse tomar uma atitude, Augusto foi até a sala da moça. Pedindo a um de seus amigos que a chamasse para conversar com ele, foi então que se apresentou a Michele. Dizendo que já fazia algum tempo que aguardava uma oportunidade para se aproximar, comentou que ela era bem mais bonita pessoalmente.
Michele por sua vez, não se impressionou nem um pouco com a conversa mole do estranho. Pelo contrário. Estranhando muito sua atitude, disse que ele não devia lhe dar presentes. Afinal de contas, poderia não ser bem interpretado.
Augusto, então, estranhando a atitude de moça, perguntou o seguinte:
-- Por que? Não gostou do livro que te dei? Por que se você não gostou, não tem problema, eu posso trocá-lo por outro.
Michele então respondeu:
-- A questão não é essa. O eu acho esquisito, é uma pessoa que mal me conhece, querer me bajular dessa maneira. O que é que você quer?
-- Eu não posso querer só conversar com você?
Michele impaciente, resolver pedir licença a Augusto. Dizendo que voltava logo, pegou o presente, e, dirigindo-se ao rapaz, exigiu que levasse consigo.
Augusto surpreso, por um momento, ficou sem saber o que fazer. Atônito com a atitude inesperada da moça, insistiu para que ela permanecesse com o livro, até por que ele, jamais se interessaria em ler a obra.
A moça, então, sem alternativas, acabou aceitando ficar com o livro.
Essa foi a deixa necessária para o que o rapaz a convidasse para um passeio. Porém, não foi nada fácil convencê-la de que deveria ir.
Por isso mesmo, Augusto resolveu pedir ajudar a Fernanda, que sem saída, prometeu que acompanharia os dois no passeio.
E foi assim, somente depois dele dizer que um grupo de pessoas iria ao lugar, é que Michele acabou aceitando o convite.
Augusto, satisfeito, comentou com Fernanda, durante o intervalo, que seu plano estava indo muito bem.
Fernanda por sua vez, comentou que para ela, nada estava dando certo. Felipe, ao contrário do que se poderia imaginar, estava evitando-a nos últimos dias. Isso por que, Felipe, queria por que queria evitar falar sobre um determinado assunto. Fato esse que irritava sobremaneira Fernanda.
A verdade, é que Felipe, estava se sentindo pressionado. E assim como não tinha coragem de dizer a moça, que ainda não estava pronto para tomar uma atitude definitiva, Felipe ultimamente, estava fugindo dela.
Ademais, angustiado, Felipe por diversas vezes, tentou conversar com Michele, que sempre o evitava.
Porém, a certa altura, Michele percebendo o estado de desespero de Felipe, acabou se apiedando, e conversando com o rapaz.
Qual não foi sua surpresa ao descobrir que ele se sentia pressionado pela namorada? Felipe, apesar de insistir em dizer que gostava muito dela, não se sentia preparado para o próximo passo.
Michele, já sabendo do que ele falava, recomendou – mesmo estando visivelmente incomodada com a história –, que o mesmo deveria contar a ela, que ainda não estava pronto.
Mas Felipe, ao ouvir as palavras de Michele, insistiu em dizer que não poderia falar isso, ou então, ela desistiria dele.
Michele, ao ouvir estas palavras, ficou desapontada. Dizendo que desde que ele começara a namorar Fernanda, não o reconhecia, a moça comentou que apesar de tudo, este era o maior absurdo que já havia ouvido da boca dele desde então. Aborrecida com tanto absurdo, Michele comentou que fizera bem em se afastar dele, já que estava tão obcecado com a namorada.
Com isso, sem se preocupar em ser censurada pelo amigo, Michele comentou que Felipe havia mudado muito. Isso por que, nos últimos tempos, só falava de Fernanda. E ele, que era tão disciplinado, agora deixava os estudos de lado. Tudo para só para acompanhar a namorada, nas maluquices que ela aprontava.
Não bastava isso, percebia-se de longe que ele não estava feliz. Porém, Felipe não podia admitir ou teria que reconhecer que ele e Fernanda não combinavam em nada.
Felipe, então, depois de ouvir Michele, comentou que nada daquilo era verdade, e as pessoas só diziam aquilo por que não conheciam Fernanda como ele conhecia. Além disso, ninguém tinha o direito de se intrometer em sua vida.
Michele então comentou:
-- Está bem. Está vai ser a primeira e última vez que eu te direi o que penso a respeito desse teu namoro. E tem mais: eu não estou te dizendo isso por que eu não gosto dela, ou por que tenho algo contra ela, por que eu nem a conheço. Eu só digo isso por que todos os que a conhecem comentam isso. Dizem que ela saí com outras pessoas. Mas isso, realmente, como você mesmo disse, não é problema meu.
Felipe então, concordou:
-- Realmente, essa questão, só diz respeito a mim... Eu pensei que vindo aqui, conversar com você, eu conseguiria encontrar uma solução, mas estou vendo que não.
-- Se você queria que eu dissesse para você ir fundo, mesmo sem ter certeza do que estava fazendo, realmente, você procurou a pessoa errada.
Nisso Felipe, aborrecido, foi embora deixando Michele sozinha.
Michele então, voltou sozinha para casa.
Com isso, conforme os dias foram se passando, era chegado o dia de se encontrar com Augusto. E qual não foi sua surpresa ao se dar conta, que o grupo de pessoas se resumia a Felipe e Fernanda.
Michele ao ver o casal, ficou profundamente desapontada. Acreditando se tratar de uma brincadeira de mal gosto, a moça perguntou:
-- O que significa isso? Por acaso eu lhe dei o direito de fazer uma brincadeira dessas? – perguntou irritada a Augusto.
-- Michele, não é nada disso. Apenas convidei-os para que você pudesse ficar mais à vontade. Eu não quis em nenhum momento, fazer uma brincadeira. Mas se isso é problema para você, eu posso perfeitamente falar com eles e dizer que o passeio vai ficar para uma próxima vez. Você quer que eu faça isso?
-- Não, não é necessário. – respondeu ela.
-- Mas o que é que te incomoda tanto com relação a eles? – insistiu Augusto.
-- Nada de mais. Apenas brigamos em razão de uma divergência. Só isso.
-- Então, vamos? – perguntou o rapaz, ansioso, estendendo o braço para ela.
-- Vamos. – respondeu Michele.
E assim o quarteto foi passear.
Enquanto Michele e Augusto conversavam animadamente sobre diversos assuntos, Fernanda e Felipe começaram a se desentender.
Isso por que, Felipe, incomodado com a presença de Augusto e Michele no passeio, não se cansava de olhar seguidas vezes para o casal.
Quando Fernanda percebeu isso, se irritou com o comportamento do namorado. Afinal de contas, ela não estava acostumada a disputar a atenção com nenhuma mulher. Pelo contrário. Era sempre ela que era o alvo de todas as atenções, o que fazia com que as mulheres se desdobrassem para serem percebidas.
Por isso, ao ver que Michele era alvo da atenção de Felipe, Fernanda ficou profundamente incomodada com a situação. Tanto que chegou a comentar:
-- Nunca pensei na minha vida que algum dia eu fosse disputar a atenção de algum homem com uma mulher. Logo eu que sempre tive todos os homens caindo aos meus pés. Sabe Felipe, eu não consigo entender. Você tem uma mulher como eu ao seu lado, e fica perdendo seu tempo olhando a desenxabida da Milene. Eu não te entendo.
Felipe, irritado com a atitude de Fernanda, corrigiu-a:
-- Não é Milene, é Michele. E você sabe muito bem disso. Afinal de contas, não foram vocês, que ficaram conversando durante horas a meu respeito?
-- Bobinho! Você está ficando muito convencido. Desde quando nas minhas conversas, meu assunto é só você? – comentou Fernanda rindo.
Felipe, ao perceber a atitude desabrida da namorada, ficou mais irritado ainda. Sentindo-se relegado a segundo plano, o rapaz, disse:
-- Então, pra você, eu sou apenas mais um na sua imensa galeria de namorados? Eu não conto nada para você, não é mesmo?
Fernanda então, percebendo que havia se excedido nos comentários, resolveu pedir desculpas. Dizendo-se arrependida do que dissera, comentou que apenas dissera tudo aquilo, por que estava irritada com ele. Isso por que, fazia tempos, que um homem não a tirava do sério daquela maneira.
Felipe, então, envolvido com Fernanda, desculpou-a por tudo o que ela dissera e respondeu que já tinha esquecido tudo. Além disso, disse que eles não precisavam brigar por causa de Michele, já que ele só estava preocupado com ela. Nada mais.
E assim, a briga acabou. Com os casal em paz novamente, a noite se revelou encantadora. Tanto que Fernanda e Felipe chegaram até a dançar juntos. De tão animados, até se esqueceram por algum tempo de Michele e Augusto. Porém, não o bastante deixá-los para trás, na hora de voltarem para casa.
Contudo, nessa hora, se revelou um novo impasse. Felipe, todo gentil, ofereceu-se para acompanhar Michele até sua casa, mas Augusto, mais rápido, já havia se oferecido antes, o que causou um certo desconforto.
Para ajudar, Fernanda comentou com Felipe, que Augusto já havia se comprometido em levar Michele para casa.
Com isso, Augusto insistiu em dizer, que se ele havia convidado-a para sair, era ele quem deveria levá-la de volta.
Felipe por sua vez, dizia que não era nada disso. Alegando que ele e Michele eram amigos, insistiu em dizer que não havia nada de mais em voltarem para casa juntos.
Fernanda ao ver a disputa, ficou profundamente irritada com os dois. Mas a quem cabia a solução da questão era a Michele. A moça então, percebendo que aquilo poderia virar uma confusão, resolveu voltar para casa com Augusto, muito embora, sob protestos de Felipe, que insistia em dizer que ela deveria tomar cuidado com ele.
Mas Michele deu de ombros e foi levada para casa, pelo novo amigo.
Augusto, envaidecido com isso, não perdeu a oportunidade. Assim, que se viu a sós com Michele, perguntou-lhe se ela tinha tido algum relacionamento com Felipe.
Surpresa, Michele respondeu que não.
Mas Augusto, sem acreditar muito nas palavras da garota, comentou que para quem era só amigo, Felipe, estava se incomodando demais com ele.
Michele porém, insistia em dizer que talvez ele tivesse se incomodado pelo simples fato de não ter simpatizado com ele. Não bastasse isso, desde que se conheceram, Felipe nunca a viu acompanhada por outra pessoa. Daí talvez a razão de tanta implicância de Felipe com ele. Segundo ela.
Augusto então, procurando ser gentil com a moça, ouviu tudo o que Michele lhe disse. Contudo, não se convenceu nem um pouco de seus argumentos. Acreditando que Felipe não era mais o mesmo com Fernanda, Augusto ficou bastante desconfiado de que o rapaz tinha algum interesse em Michele.
Desta forma, Augusto percebeu que precisava agir rápido. Assim, aproveitando o ensejo, convidou Michele para um novo passeio, só que agora, sentindo-se ameaçado, resolveu afastar Felipe.
Michele porém, alegando que tinha muito o que estudar nos próximos dias, comentou que infelizmente não poderia aceitar o convite. E assim, por mais que Augusto insistisse a moça comentou que por ora não seria possível.
Augusto todavia, sem querer se dar por vencido, acabou concordando em adiar o passeio por alguns dias. Contudo, insistiu em dizer que não aceitaria novas recusas. Afinal, palavra dada era palavra empenhada, e se Michele prometeu sair com ele, deveria cumprir com o prometido.
Diante disso, não restou a Michele senão concordar e marcar um novo passeio. Por esta razão, dali a algum tempo Augusto voltaria a se encontrar com a moça.
Nisso, Augusto parou na porta da casa de Michele. Ao lá chegar, a moça se despediu dele e o mesmo foi embora, agora para sua casa, sozinho.
No caminho, Augusto pensou no encontro, e ficou bastante satisfeito ao acreditar que as coisas estavam dando certo.
Contudo, no dia seguinte, quando ele contou para Fernanda sobre seus progressos, a moça caiu na gargalhada.
Augusto, aborrecido, perguntou qual era razão pela qual ela achava tudo tão engraçado. Foi então que ela respondeu:
-- Olha Augusto, depois de ter me aborrecido quase a noite inteira com Felipe, que não parava de olhar para vocês, agora eu tive uma boa oportunidade para me divertir. Finalmente eu consegui me divertir. Quer dizer então, que só por que segurou a mão da Mirela, você já acha que está progredindo? Eu se fosse você, esperava um pouco mais para contar vantagem.
Ao ouvir isso, Augusto não ficou nada satisfeito. Porém confiante, respondeu:
-- Ah! É mesmo, minha cara? Pois eu se fosse você, tomaria mais cuidado com o que diz, afinal de contas, quem é que ficou a noite toda, olhando para ela mesmo?
-- Muito engraçado! Eu não disse que ele estava olhando para ela. Eu disse que ele estava olhando para os dois. Portanto, se eu tenho que me cuidar, você também tem. E muito. Ou então, você vai perder a namorada, antes mesmo de começar a namorar. E quer saber? Se isso acontecer, eu vou adorar ver isso.
Augusto, então, sentindo-se desafiado, respondeu:
-- Veremos, minha cara. Veremos.
-- Eu estou pagando pra ver.
Nisso cada um seguiu para seu lado.
Enquanto isso, Felipe tentava, de todas as formas possíveis, se aproximar de Michele. Contudo, toda vez que tentava falar com ela, alguém aparecia para atrapalhar. Foi somente no horário do intervalo das aulas, que finalmente Felipe conseguiu conversar com a moça.
Aborrecido com a atitude da amiga, Felipe antes de qualquer coisa, foi logo lhe perguntando:
-- Michele, como é que você me faz uma dessas?
-- Eu fiz o que Felipe?
-- Você sabe muito bem. Se você tivesse um pouco de juízo, não teria nem pensado na hipótese de voltar para casa sozinha.
-- Mas, Felipe, você sabe muito bem, que eu não voltei para casa sozinha. Eu peguei uma carona com Augusto, o amigo da sua namorada. Você viu.
-- Vi. Vi sim. Vi e não gostei. Michele, você não sabe que esse cara é um tremendo cafajeste?
Ao ouvir isso, Michele caiu na risada.
Felipe, incomodado, perguntou:
-- Eu posso saber o que você está achando tão engraçado? Eu não estou vendo graça nenhuma. – respondeu irritado.
-- Pois eu vejo sim. Vejo muita graça. Quer saber por que?... Pois bem, mesmo não merecendo minha resposta, eu a darei... Não faz muito tempo, uma certa pessoa veio até a mim, pedir conselhos, sobre seu relacionamento com sua namorada. Até aí tudo bem, eu respondi o que eu pensava. Porém, a despeito de tudo isso, a pessoa em questão, não gostou nem um pouco dos comentários que fiz a respeito do assunto. Tanto que até brigou comigo, e me disse de uma certa forma, que eu não deveria me meter em sua vida. Tudo bem, até aí eu concordo. A vida de cada um deve ser levada, da maneira como a pessoa entender melhor. O que eu não entendo, é, como é que uma pessoa que não aceita que interfiram em sua vida, se acha no direito de se intrometer na vida de outra pessoa? Como pode, heim? Você pode me explicar Felipe?
Felipe então, comentou:
-- Não foi nada disso. Eu apenas pedi um conselho. Além do mais o que está em questão, não é meu relacionamento. O que importa aqui, é que eu estou preocupado com você.
Michele, ao ouvir estas palavras, foi logo interrompendo o amigo:
-- Preocupado com o que? O que é que você tem a ver com a minha vida?
-- Nada... Mas eu tenho sim quando vejo uma coisa errada acontecendo e vejo que você não está tendo a atitude correta, Michele. Até por que, onde já se viu aceitar a carona de um estranho?
-- Curioso! Quando Fernanda aceitou sua carona, você não estranhou nem um pouco, não é mesmo?
-- Peraí! Nós já somos namorados há um tempão.
-- Se você acha dois meses muito tempo, então é um tempão!
-- Pode não ser uma eternidade, mas é bem mais tempo do que você conhece Augusto.
-- Ele é amigo de sua namorada. Amigo de velhas datas. Isso não é uma boa credencial para ele?
-- Não. Até por que onde eu sei, ele anda com outras mulheres.
Novamente Michele caiu na gargalhada.
Felipe irritado comentou:
-- Olha! Eu só estou te dando um toque. Você não tem que me ouvir. Só não me venha com lamurias depois.
Desta vez Michele ao ouvir as palavras do amigo, irritou-se:
-- Pois então, ouça bem Felipe, por que está é a última vez que eu vou te dizer isso. Não faz muito tempo, eu já te cantei essa bola sobre sua namorada. Portanto se ele é assim, o que eu não duvido, ela provavelmente não é diferente, já que os dois vivem grudados. Além do mais, ele é só um amigo, e eu não estou interessada nele. Mas se isso te incomoda tanto, te advirto de uma coisa: Meus amigos, são problema meu, você não tem que se meter nisso. Ademais, pra quem se sente pressionado para transar com a namorada, você está defendendo demais uma relação que está começando errada. Não acha?
-- Michele, eu vou te pedir para não se meter na minha vida.
-- Tudo bem, está certo! Pois então, eu também vou te fazer um pedido. Não se meta na minha vida também.
Felipe então, vendo que nada faria a amiga se convencer de que deveria ter cuidado com Augusto, desistiu. Derrotado, Felipe comentou que só lamentava por ela.
Michele, por sua vez, comentou que sentia o mesmo por ele. Fernanda ainda o faria sofrer muito.
Ao ouvir isso, Felipe comentou que não voltariam a se falar mais. Michele para ajudar disse:
-- Faça como achar melhor.
Nisso, os dois se deram as costas, e por muito tempo, ficaram sem se falar.
Enquanto isso, Augusto se fazia cada vez mais presente na vida de Michele. Solícito e atencioso, sempre que podia, se oferecia para ajudá-la nos estudos. Depois, os dois saíam juntos para passear. Nesses passeios, Michele e Augusto iam ao cinema, jantar, ou simplesmente, caminhavam juntos no clube.
Entretanto, mesmo estando dedicado a Michele, Augusto ainda não havia conseguido nada de mais sério com a moça.
Fernanda ao saber disso, aproveitava para caçoar do amigo. Irônica, sempre comentava que ele iria longe com aquela paciência. Debochada, Fernanda dizia que talvez em um ano ele conseguisse um beijo da moça.
Augusto porém, acreditava que estava no caminho certo. Contudo, já começava a admitir, que Michele era realmente jogo duro.
Fernanda então, cansada da pasmaceira que havia se tornado a aventura amorosa do amigo, aconselhou-o a ser mais ativo, como ela já vinha sendo com Felipe.
Augusto então, intrigado com o recente ar de satisfação no rosto da amiga, resolveu então lhe perguntar o que havia acontecido.
Foi aí que Fernanda animada, contou que, percebendo que Felipe não tomava a iniciativa, resolveu convidá-lo para um passeio mais demorado. Nesse dia os dois jantaram, foram ao cinema e depois caminharam de mãos dadas no clube. À certa altura, Fernanda, já se preparando para beijá-lo, armou a cena, pedindo a ele para comprar dois sorvetes.
Felipe atendeu prontamente o pedido da namorada.
E os dois tomaram sorvete. À certa altura, Fernanda, sugeriu experimentar o sorvete dele. Felipe então deixou Fernanda provar o sorvete. E nisso, Fernanda aproveitando a oportunidade, mordeu o sorvete e em seguida, deu um demorado beijo nele, que adorou a iniciativa.
Feliz com o aval de Fernanda, Felipe foi quem em seguida, a beijou diversas vezes durante aquela noite.
Depois, a moça bem que tentou levá-lo para outro lugar. E Felipe quase topou. Porém, no último momento, o rapaz desistiu de sair do clube e ir para um lugar mais reservado.
Fernanda aceitou a recusa. E muito embora tenha ficado aborrecida no início, agora estava mais calma.
Augusto, ao ouvir a história, comentou num tom elogioso:
-- Meus parabéns, Fernanda. Estou vendo que você aplicou muito bem os meus conselhos.
-- Pois é! Agora é a sua vez de tomar partido de seus ensinamentos e se insinuar para Michele. Eu não estou agüentando mais te ver assim, tão comportado. Nem sair mais com as suas garotas você saí!
-- É verdade! Mas enquanto eu não conseguir me acertar com Michele, eu não posso bobear. Vai que eu saio com uma das meninas e alguém conta para ela. Há algum tempo eu venho desconfiando. Aquele Felipe, seu namorado, vem olhando torto para mim, já faz algum tempo.
Fernanda por sua vez, não ficou nem um pouco contente em ouvir as palavras do amigo. Irritada, comentou com Augusto que não tinha nada a ver o que ele estava falando. Isso por que, segundo ela, quem tinha uma namorada igual a ela, não iria se contentar com uma garota sem graça como Marlene.
Augusto, ao ouvir o comentário, interveio:
-- Engana-se você se pensa que Michele é pouco atraente, ou desinteressante. Muito pelo contrário! Ela pode não ser tão exuberante como você, mas ela é muito bonita, sim. Produzida então, mais parece uma princesa.
Fernanda, ficou um tanto quanto incomodada com essas palavras.
Augusto, percebendo isso, disse que seu comentário, não fora para diminuí-la. Apenas não quis deixar passar uma situação injusta. Além disso, desde quando ele, que sempre fora alvo de olhares femininos, iria perder o tempo com alguém que não valesse a pena?
Diante desse quadro, Fernanda teve que concordar com o amigo, que percebendo um leve sorriso dela, comentou que somente um homem de muito bom gosto namoraria uma beleza clássica com a dela. Realmente Fernanda, não era para qualquer um.
A moça ao ouvir isso, ficou cheia de si. Envaidecida com os comentários do amigo, Fernanda prometeu até ajudá-lo a criar um clima mais romântico para ele e Michele.
Augusto, animado, agradeceu a amiga. Depois disse:
-- Juntos, nós somos infalíveis!
Fernanda concordou.
Realmente, quando os dois se uniam, não havia quem pudesse com eles. Não era à toa que os dois eram tão bons amigos. Tanto, que alguns namoros dos dois acabaram dando errado justamente por conta dessa proximidade. Como amizade desse tipo, não é uma coisa comum, fatalmente eram confundidos com um casal, o que atrapalhava as investidas do sexo oposto. Por conta disso, numa certa época, os dois resolveram se afastar um pouco, para que essa má impressão desaparecesse. Mas quem disse que eles conseguiam ficar muito tempo separados? Era só o namoro de um ou do outro acabar, para que este um fosse chorar no ombro do outro.
Diante disso, só restou aos respectivos namorados de Augusto e Fernanda, aceitarem o bom relacionamento dos dois e conviver com isso. Porém, essa convivência não era nada fácil. Muito pelo contrário. Vira e mexe, o namorado de Fernanda implicava com ela por causa de Augusto, ou a namorada do último que implicava com Fernanda. Realmente, uma convivência difícil.
Enquanto isso, Felipe conversava com seus amigos, e Michele aproveitava o horário do intervalo para estudar um pouco mais na biblioteca.
Agora era assim. Desde que os dois se desentenderam por conta de seus novos relacionamentos, nunca mais se falaram. Cada ficava no seu canto.
Com isso, sempre que podia, Felipe aproveitava para se encontrar com sua namorada.
Já Michele, ao chegar o momento do novo encontro, não teve escapatória, teve de ir.
Augusto então, ansioso, foi logo buscá-la em sua casa.
Enquanto dirigia até a casa da moça, o rapaz ficou a se lembrar do segundo encontro dos dois. Sozinha, Michele estava muito mais à vontade do que no primeiro encontro. Durante esse encontro, os dois jantaram, depois foram passear juntos. Conversaram muito. Durante a conversa, Augusto conheceu mais um pouco de Michele. Tanto que no dia seguinte, ele chegou até a presentear a garota, com um novo livro de poesias, o qual ela comentou que há muito tempo ambicionava comprar, mas nunca conseguia achar a obra.
Ao receber um pacote, Michele, ficou encantada ao abrir o presente. Mas não tão encantada ao ponto de esquecer suas prevenções com Augusto, que apesar de muito gentil, ainda não conhecia muito bem.
Porém, conforme o tempo foi passando, mais e mais Augusto foi se aproximando de Michele. Tanto que ele chegou até a insinuar que os dois podiam ser namorados, dado a afinidade que tinham. A garota porém, sempre que ouvia esse tipo de comentário, fazia de tudo para desconversar e mudar de assunto. Todavia, à certa altura, já não era mais fácil mudar o foco da conversa. Isso por que, depois de um certo tempo Augusto começou a perguntar a Michele, por que os dois não estavam juntos.
Constrangida, a garota não sabia mais o que fazer para despistar Augusto, que a cada dia se tornava mais insistente. Contudo, a cada vez que tentava dizer que não estava interessada em namoros, o rapaz, parece que pressentindo, arrumava um jeito de interrompê-la. Assim, a moça nunca conseguia dizer o que queria.
Com isso, Augusto depois de se desfazer das lembranças do segundo encontro, ao chegar em frente a casa de Michele, buzinou, e imediatamente a moça saiu, vestida num bonito vestido azul, floral.
Augusto então, lhe fez as honras abrindo a porta do carro e ajudando-a a entrar. Depois, os dois partiram para o clube.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

VOLGAS DO AMAR - CAPÍTULO 1

Numa certa manhã, todos os estudantes estão indo para as salas de aula. Dentro em breve as aulas do curso de letras começarão.
Em meio a esses estudantes, muitos sonham em ser professores ou mesmo estudiosos da língua pátria. Outros, mais ousados sonham com um carreira literária.
Com isso, os jovens aproveitam para conhecer a cultura do país e para sonhar.
Além disso, aproveitam também para amar e para viverem toda a dor e a delícia proporcionada por esse sentimento.
E é nesse ambiente que Michele estuda.
A garota que estava há muito se interessada em Felipe, não sabia o que fazer para chamar sua atenção. Discreta, ao mesmo tempo em que gostava dele, não queria que ele soubesse de seus sentimentos.
Amiga do rapaz, a moça sabia tudo o que lhe acontecia. Isso por que, o rapaz, tomado de simpatia por ela, contava tudo o que ocorria com ele.
Foi assim, que ela descobriu que o rapaz estava interessado em Fernanda.
Fernanda, que era considerada uma das mais belas alunas que freqüentavam o campus. Era só a moça passar, para alguns estudantes fazerem comentários sobre ela.
Felipe não fugia a regra. Apesar de não ser atirado como os outros rapazes, mal podia se conter quando ela passava.
Michele, quando percebia isso, ficava profundamente desapontada. Porém, procurava disfarçar.
Para piorar, Felipe vivia lhe pedindo para que o ajudasse a se aproximar da moça. Muito embora Michele dissesse que não tinha a menor intimidade com Fernanda, diante da insistência do amigo, prometeu que faria o possível para se aproximar e conhecê-la um pouco melhor.
E assim, o fez. Todavia, não foi nada fácil se aproximar de Fernanda, sempre muito solicitada por seus amigos. Para complicar um pouco mais, a moça era um tanto quanto esnobe. Contudo, desejando saber o que Michele queria com ela, Fernanda acabou aceitando conversar.
Mas, antes que Michele proferisse qualquer palavra, Fernanda advertiu a moça, de que não estava nem um pouco interessada em perder seu tempo com conversas sem sentido. Assim, que ela falasse logo o que queria, e depois fosse embora.
Michele então contou, que tinha uma pessoa que gostaria muito de conhecê-la. Porém, por este ser muito tímido, não tinha coragem para se aproximar.
Fernanda, ao se ver alvo novamente de um admirador, caiu na gargalhada. Isso por que, era muito comum para ela, ser alvo de paixões arrebatadoras. E assim, desacostumada a ter o trabalho de cativar alguém, se sentia uma verdadeira rainha. Tão soberana que se sentia até no direito de desprezar alguns de seus pretendentes.
Diante disso, Michele ficou desconcertada. Afinal de contas, o que era tão engraçado? Não dissera nenhuma frase engraçada, então, qual a razão das gargalhadas de Fernanda?
Foi então que, aborrecida, Michele se encheu de coragem e perguntou:
-- Do que é que você está rindo? Posso saber?
Fernanda, percebendo a irritação de Michele, respondeu então:
-- Calma, calma. Não precisa ficar irritadinha. Eu só estava achando graça da maneira que este rapaz arrumou para me abordar. Ele é tão timido assim, que precisa até de interlocutores?
Michele então, respondeu que ele não se apresentou pessoalmente, por que queria fazer-lhe uma surpresa.
Todavia, a desculpa da garota, não surtiu o efeito desejado.
Isso por que Fernanda, além de não acreditar em nenhuma palavra de Michele, chegou a pensar que talvez se tratasse de um logro. Talvez alguma garota invejosa quisesse se vingar dela, por ela ter roubado seu namorado.
Michele, ao perceber a desconfiança de Fernanda, tratou logo de esclarecer a situação, explicando que não se tratava de nenhuma brincadeira. Que pelo contrário, era o rapaz que temia ser alvo de chacotas ao contar o que sentia verdadeiramente por ela.
Com isso, enquanto tentava se explicar, Michele foi interrompida por Fernanda, que subitamente, se interessou pela história do rapaz.
Foi então que Fernanda começou a fazer perguntas sobre o rapaz.
Michele então, relatou nos mínimos detalhes, tudo o que sabia a respeito de Felipe. Contou que o rapaz, freqüentava o mesmo curso que Fernanda, e que a havia conhecido justamente daí. Que era estudioso. E que há a vinha contemplando há um bom tempo. Por conta disso, chegou até, a escrever algumas poesias para ela.
Fernanda, ao ouvir isso, ficou subitamente animada. Foi então que perguntou como era a aparência do rapaz.
Michele então o descreveu tal qual ele era. Talvez tenha até exagerado um pouco ao descrever suas qualidades. E Fernanda, que não era boba nem nada, ao perceber que o rapaz tinha uma ótima aparência, tratou logo de pedir a Michele, que providenciasse um encontro entre eles, para que ela o pudesse conhecer um pouco melhor.
Michele, então, incumbida de aproximar os dois, prometeu que arranjaria o encontro.
Porém, o que Fernanda e Felipe mal podiam imaginar, é que Michele há muito tempo já gostava dele. Contudo, por ser sua amiga, Michele não podia se negar a cumprir com o prometido, e assim, se empenhou o máximo que pôde para realizar o encontro entre os dois.
E realmente o encontro se deu.
Cerca de dois dias depois, finalmente Felipe pôde conversar com Fernanda. Porém, foi um custo convencê-lo a ir ao encontro. Nervoso com a possibilidade de aproximação, o rapaz começou a inventar inúmeras desculpas para não ir vê-la.
Michele, aborrecida, ao perceber que ele não iria vê-la, ameaçou-o dizendo que se não fosse, não precisa contar mais com sua ajuda. Afinal de contas, ela não havia se exposto tanto, somente para se desancada depois. Assim, Michele prometeu que o levaria arrastado se fosse necessário.
Mas, foi não necessário. Na última hora, o rapaz encheu-se de coragem e foi até o local do encontro conversar com a moça. Para sua alegria, Fernanda mostrou-se desde o início, bastante simpática com ele. Atenciosa, parecia reter cada detalhe da conversa. E isso contribuiu para deixá-lo bastante à vontade. Tanto, que os dois passaram horas juntos, e nem sequer perceberam que o tempo voava.
Quando Fernanda, foi olhar o relógio, já havia se passado mais de três horas desde o início do encontro. Surpresa com o adiantado da hora, comentou com Felipe, que precisava ir. O rapaz então, ansioso por um novo encontro, perguntou a ela, quando poderiam novamente se encontrar. Fernanda falou então que:
-- Na semana que vem, quarta-feira às oito horas, aqui mesmo, está bem?
Felipe concordou. E esperou ansiosamente para que o referido dia chegasse.
Michele, amiga de Felipe, mal podia suportar ouvir seus comentários de alegria e satisfação a respeito do encontro que tivera com Fernanda. Dizendo o quanto ela educada, gentil, bonita e simpática, alegava que ela era a mulher mais especial do mundo.
Michele, à certa altura, tentando se desvencilhar de Felipe, começou a inventar desculpas para ficar cada vez menos tempo com ele. Dizendo que precisava estudar, que tinha alguns assuntos para resolver, passou a cada vez mais, evitar o amigo.
E mesmo assim, apesar de triste, Michele continuou a freqüentar o curso, e dar seguimento aos seus estudos. Aplicada, passou a se dedicar integralmente aos estudos, deixando de lado Felipe e convivendo um pouco mais com seus colegas de curso.
Foi nesse ínterim, que um amigo de Fernanda, chamado Augusto, depois de ter visto Michele, conversando com ela, foi logo lhe perguntar sobre o que falavam. Fernanda respondeu então, que não era nada de mais, e que não lhe dizia respeito.
Augusto porém, nem um pouco constrangido com a resposta atravessada, perguntou o nome da moça.
Fernanda então respondeu:
-- Não sei ao certo. Acho que é Miréia, Milene, Marlene... Não sei.
-- Como não sabe? Vocês conversaram durante horas! Como você pode ser tão desleixada ao ponto de nem procurar saber o nome da pessoa com quem você estava conversando?
-- Não sabendo. – respondeu secamente.
Augusto, porém, não se deu por vencido. Prometeu que a procuraria e a encontraria. Sabendo que para ela, ter ido falar com Fernanda naquele horário, era por que provavelmente ela freqüentava o mesmo curso, isso já facilitava um pouco o encontro. O próximo passo seria vasculhar todas as salas até encontrá-la.
E assim o fez. Apesar de ter tido um pouco de trabalho, dado o expressivo número de turmas que havia no curso, Augusto, depois de muito insistir, acabou por ver Michele, entrando em uma das salas. Porém, cauteloso, resolveu não se apresentar de imediato.
Contudo, aproveitando a oportunidade, Augusto resolveu perguntar a alguns alunos, colegas de classe da moça, como era conviver com ela. Se ela era simpática, estudiosa, e tão bonita quanto parecia ser.
Os colegas de classe de Michele, deram o relatório completo da moça. E Augusto, satisfeito com as informações, agradeceu aos rapazes, e depois, voltou para sua sala.
Porém, mal conseguia prestar atenção na aula.
Fernanda então, aproveitando a hora do intervalo, foi perguntar ao amigo, qual era a razão para sua desatenção durante a aula. Apesar de saber que ele não era um modelo de aluno aplicado, nunca o vira tão desatento quanto agora.
Augusto, contou então a Fernanda, que já sabia o nome da moça, assim como, que ela era aplicada, adorava poesia e freqüentava o curso por que além de gostar da idéia de ser professora, sempre sonhou ser uma poetisa.
Fernanda ao ouvir isso, desdenhou dizendo que isso não era nada de mais, e que qualquer pessoa poderia fazer uma poesia.
Augusto por sua vez, disse que nunca tinha visto ela redigir uma poesia para quem quer que fosse. Assim, se era tão fácil escrever uma poesia, por que ela não o fazia?
Fernanda respondeu então, que não estava nem um pouco interessada nessas bobagens sentimentais. Além disso, já tinha muitas poesias para ler de seus admiradores e antigos namorados. De formas que, não tinha tempo para redigir suas próprias poesias.
Augusto então, deixou de lado a implicância e perguntou a amiga, o que as mulheres gostam de ganhar, quando são presenteadas.
Foi a oportunidade que faltava para Fernanda, divertir mais um pouco fazendo gozações com Augusto. Mas este, sem se importar com o deboche de Fernanda, insistiu e perguntou a ela qual o presente que ele deveria dar a Michele.
Foi então que ela respondeu:
-- Primeiramente. Ela já te conhece?
-- Ainda não.
-- Então, qual a razão de lhe dar um presente agora? Você nem sabe se ela vai querer saber de você. – comentou ela rindo.
-- Há, há, há! Muito engraçado. Só não se esqueça você que quem ri por último ri melhor. Além disso, eu quero jogar para ganhar. Assim, se eu der um bom presente, eu vou conseguir causar uma boa impressão.
-- Ah! Sei. O que você quer, é comprá-la com um presente. Entendo. Por que você não lhe entrega um belo arranjo de flores?
-- Ah! Não sei. Isso não é meio óbvio não, heim?
-- Mas afinal, qual o presente que a encantaria mais? O que ela faz? Ela trabalha, estuda, o que?
-- Minha querida Fernanda, como você é desligada. Você acha que se ela não estudasse aqui, ela teria ido falar com você? Além disso, como eu saberia o nome dela?
-- Então ela freqüenta o curso de letras? E ela é estudiosa? Ou prefere uma balada? Me conta, ela é toda certinha? – perguntou irônica.
-- Se você não quer me ajudar, tudo bem. O que não vou aceitar é deboche. Afinal de contas não é você que vive atrás dos incautos?
-- Escuta aqui Augusto, mais respeito comigo. Eu sou não igual essas bobalhonas que você arruma para sair.
-- É mesmo? Pois não parece. Eu estou aqui há um tempão tentando ter uma conversa séria com você e não estou vendo nenhum resultado. Afinal de contas, você vai me ajudar ou não? – perguntou o rapaz, visivelmente irritado.
-- Está certo. Então me responda. O que você sabe sobre ela?
Augusto então, percebendo que Fernanda estava falando sério, contou a ela tudo o que sabia a respeito de Michele.
A moça, ouvindo tudo atentamente, respondeu então:
-- Diante do quadro que você me apresentou dela, ela vai adorar ganhar algum livro de literatura. Talvez algum clássico. O único cuidado que você tem que ter é comprar uma obra que ela gostaria de ler, mas não teve a oportunidade. Entendeu? Nada de lhe dar um livro que ela já tem.
-- Mas como eu vou saber disso? – perguntou ele surpreso.
-- Simples. Não foi perguntando aos seus amigos que você descobriu o nome dela e como ela é? Pois então, pergunte como quem não quer nada, sobre os gostos literários dela. Se for o caso, diga que é para um pesquisa.
-- Ótima idéia. – respondeu ele. – Quando você quer, você saber ser brilhante.
Depois de proferir estas palavras, o rapaz saiu em desabalada carreira do lugar. Estava decidido a conquista a moça de qualquer jeito.
Michele, no entanto, permanecia alheia a tudo isso. Entretida com seus afazeres escolares, ela mal tinha tempo para perceber que Felipe, não conseguia entender seu afastamento repentino.
Nisso o rapaz foi novamente se encontrar com Fernanda. Ansioso, Felipe acabou chegando meia hora mais cedo.
Fernanda por sua vez, chegou quinze minutos atrasada. Porém, assim que chegou se desculpou. Dizendo que tivera um imprevisto, tentou explicar as razões por se atrasar um pouco.
Felipe, porém, encantado com a moça, disse que ela não tinha que se desculpar, afinal de contas, imprevistos sempre acontecem. Diante disso, Felipe se levantou e a convidou para se sentar, puxando a cadeira, gentilmente para ela.
E assim, os dois começaram a conversar. Atenta a tudo, Fernanda mais uma vez, foi extremamente simpática com Felipe. Interessada em tudo o que ele contava sobre sua vida, Fernanda teve todo o cuidado para deixá-lo encantado com sua presença. Por isso, para este encontro, escolheu sua melhor roupa, e usou do seu melhor papo, para deixá-lo ainda mais fascinado.
Com isso, conforme as horas passavam, Fernanda, ansiosa por se encontrar com seus amigos numa balada que já estava acontecendo, comentou com Felipe, que precisava ir para casa descansar, já que no dia seguinte, tinha que apresentar um trabalho na faculdade.
O rapaz, ao ouvir isso, ficou visivelmente desapontado. Mas entendendo a situação da moça, acabou concordando em encerrar o encontro. Com isso, Fernanda prometeu que eles se encontrariam novamente nos próximos dias. E assim, um novo encontro foi marcado.
Porém, o que Felipe não sabia era que Fernanda, já estava ficando um pouco desanimada com seu retraimento. Tanto que aproveitando a oportunidade, assim que se viu livre dele, foi logo se encontrar com seus amigos, numa festa. Nesta festa, Fernanda dançou e se divertiu a noite inteira. Depois, resolveu ficar com um conhecido, e seus amigos só tornaram a vê-la, no dia seguinte.
Porém, a despeito da noitada que tivera, a moça estava feliz. Contente por ter conseguido se divertir, mal conseguia se lembrar do encontro com Felipe.
Mas Augusto, sabendo dos encontros com Felipe, alertando-a, fazia questão de lembrá-la de que ela não poderia continuar agindo tão abertamente como costumava agir, ou ele acabaria descobrindo a verdade.
Ao ouvir isso, Fernanda ficou profundamente irritada com Augusto. Porém, acabou caindo em si, ao perceber que os argumentos do amigo eram sólidos o bastante, para convencê-la de que estava se expondo demais. Realmente, Augusto tinha razão, e mesmo que ela não gostasse disso, tinha que concordar com ele. Isso por que, agindo da forma como estava a agir, mais cedo ou mais tarde, Felipe acabaria descobrindo toda a verdade, o que acabaria com seus planos de fazer dele, seu namorado firme.
Contudo, a despeito dos conselhos do amigo, Fernanda comentou com ele, que Felipe era muito devagar. Tão lento, que nem sequer um beijinho havia rolado entre os dois.
Augusto então, aconselhou-a a insinuar para ele, e se fosse o caso, que ela mesma tomasse a iniciativa do beijo.
Ao ouvir isso, por mais que tentasse disfarçar, Fernanda mal pôde conter o riso.
A essa altura, Augusto, irônico, chegou até a comentar que talvez o rapaz, não fosse muito chegado neste assunto.
Fernanda ao ouvir isso, comentou que jamais perderia seu tempo com uma criatura dessas. Além disso, a moça tinha certeza absoluta de Felipe tinha verdadeira adoração por ela. Tanta, que a respeitava demais para ousar sequer beijá-la.
Mas nada disso convencia Augusto, que não parava de rir. Era realmente muito engraçado ver que ainda existiam homens pudicos. Augusto achava tão curiosa a atitude de Felipe, que até comentou:
-- Quem te viu e quem te vê! Quando você namorou a mim, você não era tão contida assim. Muito pelo contrário, era muito da assanhada.
-- Cale a boca! Se tem uma coisa que eu nunca fui é assanhada. Você é que nunca conseguiu resistir ao meu charme. Está certo?
-- Claro! Que você é charmosa, eu não tenho a menor dúvida. Muito menos que você é atraente. Mas que você gosta de namorar e de homem, isso eu sempre soube. Acho que foi por isso que nós demos tão certo.
-- E vai ver que é por isso, que eu sempre tenho recaídas, quando vejo você. – respondeu ela.
-- Fernanda, você não presta!
-- Nem você, caro amigo. Nós somos feitos da mesma massa. – comentou.
Nisso, os começaram a rir.
Assim, conforme as horas se passaram, mais uma vez Felipe tentou se aproximar de Michele para conversar. Decidido a esclarecer aquela estranha situação, assim, que teve a oportunidade de se aproximar da garota, decidiu lhe perguntar o que estava acontecendo.
Michele, então, respondeu com evasivas:
-- Não é nada. Eu só tenho estado muito ocupada ultimamente. Só isso. Mas assim, que eu tiver um tempinho livre, eu volto a falar com você, está bem?
-- Mas por que isso? Por acaso, eu fiz ou falei alguma coisa de errado? Me explique que eu não estou entendendo nada.
-- Não tem nada de errado Felipe. Eu só tenho estado enrolada com os trabalhos da faculdade.
Felipe, ao ouvir isso, não ficou nem um pouco convencido porém. Isso por que, sabia ele que Michele era disciplinada o bastante, para redigir todos os trabalhos, com bastante tempo de antecedência. Assim, suas justificativas para explicar sua ausência, não faziam sentido nenhum para ele. Por isso mesmo, ele disse:
-- Michele, se você pensa que me engana com esse papo furado de trabalho da faculdade, fique sabendo que eu não sou idiota. Vamos. Por que não me conta o que está acontecendo?... Vai me dizer que arrumou um namorado e não vai me contar? É isso? Eu acertei, não?
Michele, ao ouvir isso, foi tomada de um profundo espanto. Tanto, que insistiu em dizer que não tinha namorado nenhum e que apenas estava atarefada. A despeito de tudo o que ele tinha falado a seu respeito, ela não havia se organizado direito para fazer todos os trabalhos que foram pedidos pelos professores.
Com isso, como o grupo com qual estava trabalhando a chamou, e Michele se afastando amigo, durante algum tempo, evitou suas perguntas indiscretas.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

VOLGAS DO AMAR - INTRODUÇÃO

Sobre a vida dos casais, os poetas já disseram muita coisa.
Até mesmo a lua entrou na dança e foi o objeto preferido de adoração dos amantes.
Hoje, não sei se são os luares, que não são mais como dantes, ou se as pessoas ficaram mais cínicas.
O certo é que hodiernamente, não se fazem mais namorados com antigamente.
Tudo ficou mais frio, mais superficial, ou será que esperamos demais das pessoas?
Ninguém tem mais paciência com ninguém, basta olhar em volta. A menor falha e pronto, prepare-se para ser linchado por palavras duras.
Sim, nada é como antes, nem mesmo a educação das pessoas.
Mas estou sendo demasiado pessimista. Vamos ao que interessa. E o que interessa neste momento é uma história de casais.
Casais que se encontram e desencontram.
Enfim, esta é uma ode ao amor, a compreensão. Um exercício de tolerância.
Assim, acho que deixei o meu recado.
Desta forma, passo a escrever minha história.
Começa da seguinte forma:
 
Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

VERDES CAMPOS - CAPÍTULO 5

Lauro, interessado em mostrar a Anne todos os detalhes da vida na fazenda, não se cansava de contar a ela as peripécias que praticara em infância com seu irmão Cláudio, que desde a mais tenra idade, sempre foi muito espoleta.
Por conta do temperamento irrequieto de Cláudio, muitas vezes fora ele que levara a culpa pelo irmão, pelos mal feitos que este fazia. Contudo, Lauro não guardava rancor de Cláudio. Ao contrário, sempre teve muito carinho por ele.
Anne, percebendo o carinho com que Lauro se referia a Cláudio, comentou irônica, que provavelmente a reciproca não era verdadeira.
Lauro, ao notar o tom de mágoa nas palavras da moça, comentou que nem sempre Cláudio era assim, cruel com as pessoas. Variadas vezes o rapaz, prestativo ajudava as pessoas.
Anne, ao ouvir as palavras do amigo, não acreditou nem um pouco nelas. Porém, para não desgostar Lauro, que sempre fora muito gentil com ela, a moça resolveu mudar de assunto. Conversando sobre amenidades, Anne descobriu desapontada, que assim que voltassem da viagem, seria questão de tempo para que o rapaz retornasse ao seminário.
Muito embora Lauro tivesse dúvidas quanto a sua vocação, acreditava que ao retornar ao seminário, novamente encontraria uma direção para sua vida. Sim por que, desde que conhecera Anne, muitas dúvidas passaram a surgir em sua mente.
Encantado com a postura da moça, desde que a conhecera, Lauro percebeu que ela era não como as outras garotas de sua idade. Leitora voraz de livros, Anne surpreendeu até mesmo Claudionor com seu interesse pela literatura.
Nisso os dois foram conhecer, o modo de trabalho na fazenda.
Mais tarde, Lauro e Anne foram novamente cavalgar.
E assim, cavalgando pelos verdejantes campos, os dois se deslumbraram com a beleza do lugar.
No entanto, a despeito das férias maravilhosas que estavam tendo, a moça estava triste. Isso por que, ao saber que sua estada na fazenda estava acabando, Anne foi tomada de um profundo sentimento de nostalgia.
Para ajudar, seu grande amigo, estava prestes a voltar para o seminário.
Isso tudo colaborou para deixar a garota, verdadeiramente desapontada.
Triste com o final das férias e com o fato de que tornaria a ver Cláudio, Anne tentou de todas as maneiras possíveis, encontrar desculpas para adiar o retorno. Inicialmente, bem sucedida, com o passar do tempo, já não tinha mais como evitar o que por si só era inevitável.
Lauro então, percebendo a tristeza e a apreensão de Anne, fazia de tudo para ficar sempre perto dela.
Certo dia, correndo com ela pela fazenda, acabou por trombar nela. Ao caírem no chão, os dois começaram a rir.
Outro dia, na piscina, enquanto Lauro ensinava a Anne uma nova forma de nadar, ao ver que a moça não conseguia boiar, o rapaz tratou logo de ampará-la. Colocando seu braço embaixo das costas dela, foi logo ajudando-a a se posicionar na água.
Nesse instante, os dois quase se beijaram.
Lauro então, finalmente percebeu que estava gostando de Anne.
Anne por sua vez, apesar da pouca idade, já sabia há muito, que o rapaz era uma pessoa muito especial. Tão especial que ela não se cansava de ficar perto dele. Tão especial, que quando fosse chegada a hora da partida, ele a deixaria morrendo de saudade.
Lauro, perturbado com a descoberta, fez de tudo para negar a si mesmo, o que até mesmo Cláudio já havia percebido e revelado levianamente. Talvez seu próprio pai já tivesse percebido.
Nisso, ao aventar essa possibilidade, por um instante o rapaz pensou: Impossível! Se Claudionor desconfiasse dessa possibilidade, jamais deixaria os dois viajarem sozinhos. Não, nem pensar.
Mas o certo é que ele já estava gostando da moça.
Todavia, reticente com relação a isso, Lauro ainda pensava e retornar ao seminário.
E assim, mesmo quando os dois retornaram a casa de Claudionor, Lauro ainda pensava nisso.
Seu pai, percebendo que o rapaz estava mudado, pediu para que ele pensasse um pouco antes de retornar ao seminário.
Lauro, sem compreender bem a atitude do pai, acabou concordando em esperar mais um pouco para se decidir.
Claudionor então, percebendo que o rapaz estava angustiado, aconselhou-o a pensar melhor antes de se decidir. Embora desconhecesse as razões da inquietude do filho, o empresário achou por bem recomendar-lhe que não agisse com precipitação.
Nisso, o finalmente o pedido de guarda definitivo foi concedido a Claudionor. Depois de muito lutar por Anne, finalmente lograra êxito em seu intento.
Quem não ficou nem um pouco feliz com a novidade foi Carla. Contudo, depois de receber uma bela quantia, a mulher deixou de se queixar de Claudionor. Feliz com o dinheiro que ganhou, pensou em comprar uma casa maior e um belo carro para ela.
Antônio porém, alegando que a casa em que viviam estava muito boa para eles, recomendou que o dinheiro ganho fosse guardado, para que numa eventual emergência, os dois pudessem se socorrer com a quantia.
Carla ao ouvir isso, ficou uma fera. Dizendo que estava cansada de viver com tanta dificuldade e tendo de fazer tantas concessões, fez questão de deixar bem claro que compraria uma casa nova, independente de sua vontade.
Érica, Carlos e Elena, ao saberem da novidade, ficaram bastante satisfeitos.
E assim, Antônio foi voto vencido na casa.
Desta forma, foi apenas uma questão de tempo para que Carla comprasse uma nova casa para a família morar.
Maior e mais amplo, o imóvel exigia empregados, para a limpeza.
Carla então, foi logo contratando dois empregados. Não satisfeita, tratou de comprar um carro para ela.
Seus filhos vendo o carro que ela havia comprado, foram logo pedir para que comprasse carros para eles também.
Carla ao ouvir o pleito foi logo lhes dizendo, que se queriam um carro, deveriam trabalhar, e muito para isso.
Érica, Elena e Carlos, ao ouvirem as palavras da mulher, ficaram desapontados. Acreditando que seria muito fácil convencer a mãe a lhes encher de mimos, os três não acreditaram quando ela se recusou a lhes dar um carro.
Chateados, chamaram a mãe de muquirana, mão-de-vaca, pão-dura, e tudo o mais que se referisse a pessoas que não gostavam de esbanjar.
Nesse ponto porém, Carla estava certa. Se ela tencionava ter um patrimônio, não poderia gastar o todo dinheiro que havia ganho de Claudionor. Ainda mais agora. Com a guarda definitiva de Anne nas mãos de Claudionor, seria impossível agora, arrancar dinheiro do empresário.
Mesmo assim, decidida a se dar bem, Carla tentou discretamente, extorquir Claudionor. Todavia, ao tentar, foi logo advertida para que desistisse do intento.
A mulher então, percebendo que não conseguiria arrancar nada do empresário, com a mesma facilidade de antes, resolveu fazer um escândalo. Dizendo que sabia que Cláudio era um criminoso, ameaçou denunciá-lo, caso Claudionor não lhe pagasse, o que segundo ela, havia sido prometido.
Claudionor no entanto, ao saber das ameaças, nem por um momento se dobrou.
Cláudio muito menos. Dizendo ao pai, que não havia com o que se preocupar, sugeriu o rapaz a ele, fazer uma viagem durante algum tempo pelo exterior. Assim, não haveria como ele ser pego.
Claudionor, percebendo que o filho tentava fugir de sua responsabilidade, proibiu-o de sequer pôr os pés para fora de casa. Cancelando cartões de crédito e pondo dois seguranças para vigiar seus passos, Claudionor não deu trégua ao filho, que por diversas vezes, tentou furar o cerco. Sem êxito.
Enquanto isso, procurando se prevenir com relação as ameaças de Carla, Claudionor consultou um advogado.
O causídico então lhe explicou como devia proceder.
Como havia o risco de o rapaz ser processado, o advogado prontificou-se a cuidar do caso.
Claudionor agradeceu o oferecimento.
O advogado então perguntou:
-- Por acaso, quando o senhor tomou conhecimento dos fatos, foi tomada alguma providência, como forma de comprovar a violência?
-- O doutor quer saber se foi realizado exame de corpo de delito, não é assim? ... Pois eu lhe digo, a moça é simples, e nenhuma providência foi tomada com relação a isso.
-- Então quer dizer, que não existe nenhuma prova da violência?
-- Física não. Nem mesmo o bebê que a moça esperava, e que infelizmente, ela acabou abortando. A única prova do que lamentavelmente ocorreu são as pessoas que tomaram conhecimento dos fatos, depois de ocorridos.
-- O senhor se refere a sua família, e a família da moça, não é mesmo?
-- Sim. – respondeu o empresário.
-- E somente Carla tem interesse em levar o caso à justiça, segundo o que o senhor me contou, não é mesmo?
-- Sim. – respondeu novamente o empresário, laconicamente.
-- E a garota? Alguma vez fez menção sobre o assunto, dizendo que queria processar Cláudio?
-- Não, nunca. Provavelmente ela nem sabia que poderia processá-lo.
O advogado então, sugerindo que Claudionor deveria entrar em acordo com Carla, comentou que ela não tinha como provar o que alegava. Além disso, se nem a moça tinha interesse em levar o caso para frente, não havia como ela tomar uma atitude. Ainda mais agora, depois de tanto tempo do ocorrido.
Claudionor então, ficou aliviado.
Mais tarde, explicando ao filho, que o caso não daria em nada, Claudionor, comentou que apesar da barbaridade que ele cometera, não havia com o que se preocupar.
Ao ouvir isso, Cláudio ficou aliviado.
A seguir, conversando com Anne, o empresário constatou que ela não tinha interesse nenhum em processar Cláudio.
Quanto a isso, Claudionor, mesmo satisfeito com a resposta da moça, ainda lhe perguntou se ela tinha certeza que não queria mesmo processá-lo.
Anne insistiu em dizer que não.
Com isso, quando Carla apareceu novamente na casa dos Morais, pronta para fazer um escândalo, Claudionor fez questão de mandá-la entrar. Decidido a não se deixar dobrar pelas ameaças da mulher, o empresário comentou que não lhe daria mais nem um centavo. Em seguida, explicando que havia consultado um advogado criminalista, Claudionor revelou-lhe que não havia nenhuma prova do que ela estava dizendo.
Carla então irritou-se. Dizendo que havia a gravidez e o posterior aborto de Anne, e que ela e toda a família sabiam do ocorrido, etc., ressaltou que tinha muitas provas de que o que estava dizendo, era a mais pura verdade.
Nisso, Claudionor, percebendo a arrogância da mulher, comentou que não havia nenhuma prova material contra seu filho, e que além disso, nem mesmo Anne se interessara em processar o rapaz, por aquilo que ele eventualmente poderia ter feito.
Carla ao ouvir isso, ficou ainda mais irritada.
Claudionor, percebendo isso, comentou que ela poderia fazer o que bem entendesse, pois sem provas, acabaria passando por mentirosa.
A mulher então, percebendo que não havia mais como extorquir o empresário, alegou que ele ainda iria se arrepender de tudo aquilo que estava fazendo.
Claudionor porém, nem ligou. Sabendo que aquelas palavras não tinham o menor fundamento, resolveu deixar de lado as ameaças.
Enquanto isso, Lauro, que havia prometido ao pai pensar melhor no assunto referente a seu retorno ao seminário, depois de muito pensar e meditar, chegou finalmente a uma conclusão. Entrementes, antes de contar a todos, qual era sua decisão, o rapaz decidiu primeiro conversar com seu pai, para depois revelar o que se passava em seu ser.
Claudionor notando que o assunto era sério, pediu aos empregados, que ninguém os interrompesse.
Fechados no escritório, pai e filho conversaram.
Lauro, procurando encontrar coragem, começou dizendo que já havia tomado sua decisão.
Curioso, o pai logo quis saber qual era a resposta.
Lauro então, dizendo que precisava contar primeiro o que se passava com ele, comentou que desde que voltara para casa, muita coisa mudou.
Claudionor então, relatou que já havia percebido que ele estava diferente.
-- Pois bem. – continuou o rapaz – É verdade! Muita coisa mudou nesta casa. Principalmente depois que Anne veio morar conosco.
Espantado, Claudionor, perguntou:
-- Mas o que Anne tem a ver com isso?
-- Muito. – respondeu o rapaz, cheio de coragem. – Muito. Anne é uma garota extraordinária! O senhor o sabe, muito melhor que eu. Tanto que até a acolheu em casa sem nem conhecê-la direito. Pois bem ... eu vou contar. Desde que nos conhecemos nos tornamos grandes amigos.
-- E...? – perguntou Claudionor.
-- E ... bom, nós fomos para a fazenda, ficamos nos divertindo por lá. Foi muito bom ficar algumas semanas ali. Foi lá que eu descobri algo que já devia saber há muito tempo, mas que ainda não havia me dado conta.
-- E o que era, Lauro? Fale meu filho. Fale.
O noviço então abriu o coração e disse de uma vez só:
-- Já faz muito tempo que eu estou enamorado de Anne. O senhor não havia percebido?
Claudionor ficou então, estupefato. Sem saber o que dizer nem o que pensar, comentou que a única coisa que havia percebido, era a evidente tristeza de Anne depois que voltaram da viagem. Porém, toda a vez que perguntava a moça sobre o que estava acontecendo, Anne se fechava em copas.
Revelando que estava preocupado com a tristeza da moça, Claudionor finalmente juntou os fatos, e percebeu a razão de tudo.
Lauro então confirmou:
-- Sim, esta era a razão da tristeza de todos nós... Mas, espera aí! O senhor nem desconfiava?
Claudionor respondeu que não.
Lauro então respondeu:
-- Mas até Cláudio, que sempre se preocupou mais com o próprio umbigo do que com o que acontecia nesta casa, percebeu...
-- Pois é. Eu não percebi. Durante todo esse tempo eu estava tão preocupado com meu trabalho, que nem sequer meu dei conta de quanto as coisas haviam mudado nesta casa. Me desculpe meu filho.
Preocupado, Lauro perguntou-lhe se ele não iria tentar impedir o relacionamento dos dois.
Claudionor respondeu que não. Com isso, ao saber da novidade, perguntou então ao rapaz:
-- Então meu jovem. Qual é a sua decisão?
-- Eu não vou mais voltar ao seminário.
Claudionor abraçou o filho.
Feliz com a decisão de Lauro, pediu logo para que uma das empregadas chamasse Anne e Cláudio. Ansioso para contar a novidade, assim que os dois entraram na biblioteca, Claudionor comentou que Lauro não voltaria mais para o seminário.
Cláudio, ao saber da novidade, comentou irônico:
-- Mas eu já imaginava! Depois que eu vi como ele e Anne se tratavam pensei: Aí tem coisa!
Anne ao ouvir as palavras de Cláudio, ficou logo sem graça.
Lauro então, percebendo isso, comentou que se decidiu por abandonar o seminário, por que não agüentava mais de saudades da família.
Com isso, tanto Cláudio, quanto Claudionor, ao ouvirem as palavras do rapaz, fizeram pouco caso.
Lauro então, prosseguindo, comentou, que além da família, havia outro motivo imperioso para ficar. Dizendo que havia conhecido alguém muito especial, Lauro prosseguiu. Era alguém, tão especial que ele nunca mais queria deixar de vê-la. Enchendo-se de coragem, finalmente comentou que queria muito namorar Anne.
A moça, ao ouvir a proposta ficou inicialmente surpresa. Por esta razão, Anne relutou um pouco em concordar com isso, mas depois de ouvir Cláudio e Claudionor aconselhando-a, a moça acabou aceitando.
E assim, os dois passaram a namorar.
Andando de braços dados pelo quintal da mansão, os dois ficavam a conversar e a namorar também. A sombra das árvores da casa, Anne e Lauro fizeram muitos planos juntos.
Nadando juntos na piscina da mansão, finalmente Lauro ensinou Anne a nadar, tão bem quanto ele.
Nisso, quando Cláudio via os dois juntos, chegava a sentir até, uma pontinha de inveja. Porém, o rapaz nunca pensou em atrapalhar o relacionamento dos dois. Isso por que, percebendo o mal que fizera a Anne, finalmente Cláudio notou que não tinha sequer o direito que pensar nisso. E assim, procurando se redimir, passou a tratar Anne de uma forma melhor.
Enquanto isso, Anne e Lauro se entendiam às mil maravilhas.
As pessoas, quando os viam nas ruas sempre juntos, não se cansavam dizer que nunca tinham visto um casalzinho mais lindo.
Anne e Lauro, sempre que eram parados para ouvirem essas palavras tão gentis, sorriam para as pessoas.
Era realmente, um encanto vê-los juntos.
Tanto era, que Claudionor, feliz por ver os dois juntos, não se cansava de tirar fotos do belo casal.
Como Anne era ainda muito nova, havia muito tempo ainda, para se pensar em casamento. Assim, Anne prosseguiu com seus estudos, e Lauro, e assim que abandonou o seminário, resolveu fazer uma faculdade.
Cláudio então, resolvendo tomar um pouco de juízo, concluiu os estudos e passou a auxiliar seu pai nos negócios.
Com isso, apesar de Cláudio e seu pai não terem levado muito a sério o namoro de Lauro e Anne, quando viram os dois planejando o casamento, finalmente se convenceram que eles ficariam juntos.
E assim, depois de Anne terminar a faculdade de história, casou-se com Lauro.
Claudionor que foi responsável pela garota enquanto ela era menor, agora não exercia nenhuma influência ou poder sobre ela.
Anne então sem o peso de um tutor, estava livre para se casar com quem quisesse. E assim, finalmente, depois de oito anos de convivência com a família Morais, casou-se.
Já Cláudio, mesmo acostumando-se com a vida de responsabilidades, não queria nem saber de casamento. Muito embora já tivesse pedido desculpas por tudo o que fizera a Anne e de a moça o ter desculpado, o rapaz nunca se interessou em ter um relacionamento sério.
Claudionor lamentava isso, profundamente.
Mas era o jeito de Cláudio. Muito embora estivesse mais responsável com relação a família, ainda não havia encontrado a pessoa que o faria desistir de ser um solteirão.
Mas Claudionor acreditava que algum dia, seu filho encontraria a pessoa certa.
Nisso Antônio, pai de criação de Anne, tomado de saudades da moça, ao saber que ela havia se casado, resolveu olhá-la de longe, enquanto passeava com seu marido. Sem querer atrapalhar, nem sequer se aproximou.
Feliz, mesmo depois de anos, sentia que Anne era como se fora da família.
Contudo, sem coragem para se aproximar, diversas vezes, escreveu-lhe cartas. Dizendo que estava bem, comentou que sentia muitas saudades dela.
Anne quando lia essas missivas, chorava de tristeza. Chorava por se lembrar da sua vida com sua família. Chorava também, por que sabia que ele não era feliz vivendo daquela forma, e que ela não podia fazer nada para mudar isso. Chorava também, ao se lembrar que uma mulher, de nome Estela, a abandonou.
Quanto a isso, descobriu que, pouco antes de Anne se acertar com Lauro, uma mulher estranha apareceu na casa de Claudionor, e dizendo ser mãe da moça que ali morava, comentou que só a abandonou por que o pai, não quisera assumir a criança.
Anne ficou chocada com a revelação. Sem entender o que estava acontecendo, Anne foi pedir explicações de Claudionor, que então, lhe contou toda a história.
Com isso, quatro anos depois do ocorrido, Anne ainda não conseguia aceitar a idéia de que tinha uma mãe biológica. Por isso mesmo, a moça nunca tratou Estela como mãe, e, mesmo quando ela tentou lhe explicar o por quê de seu gesto, Anne não demonstrou nenhum interesse em ouvir sua história.
E assim, mesmo diante dos pedidos de Lauro, para que entendesse Estela, Anne não quis saber.
Contudo, certo dia, depois de muito insistirem, Anne acabou atendendo a mulher, e ouvindo sua história. Cansada de guardar tantas mágoas de seu passado, Anne finalmente perdoou Estela. Contudo, mesmo ao perdoá-la, a moça fez questão de deixar bem claro, que ela não fazia parte de sua vida.
Estela, ao ouvir as palavras da filha, ficou profundamente triste, mas convencida de que Anne ainda deixaria ela partilhar um pouquinho de sua felicidade, esperou pacientemente que isto acontecesse.
Todavia, isso só foi acontecer quando a moça teve um filho.
Anne então entendeu que Estela só a deixara na porta daquela família, por acreditou que estava fazendo o melhor.
Com isso, a moça, determinada a acertar as contas com seu passado, chamou Antônio para conversar e disse-lhe que poderia ver a neta quantas vezes quisesse.
O homem, em virtude disso, ficou muito feliz e prometeu que sempre que pudesse, passaria para visitar a criança.
Porém, a despeito disso, Antônio continuava com o semblante triste. Contudo, era só pegar a criança, para logo ficar radiante e feliz.
Rafael, Enrique e Otávio, amigos de escola de Anne, também estavam casados.
Carla, continuava casada com Antônio. Já seus filhos, cada um tinha tomado um rumo diferente. As moças, casaram-se, já o rapaz, caiu no mundo e nunca mais se ouviu falar em seu nome. Dizem as más línguas, que entrou para o mundo do crime. Outros talvez mais cautelosos, comentam que arrumou uma madame rica para sustentá-lo.
Já Cláudio, cada dia estava com uma mulher diferente.
E Anne e Lauro, casados, continuavam muito unidos.
Recordando os primeiros tempos. Os tempos em que se gostavam mas não tinham coragem de assumir, os dois se lembraram da primeira estada na fazenda, e do quanto se divertiram.
Felizes, sempre que queriam ficar a sós, iam para lá. E lá, eram sempre felizes.
Porém, a primeira viagem que fizeram juntos, por melhores que fossem as posteriores, nunca embotaram a lembrança da mais linda viagem que fizeram.
A viagem para um tempo de sonhos.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

VERDES CAMPOS - CAPÍTULO 4

Nisso Claudionor e o advogado, continuaram a discutir cuidadosamente os termos do acordo.
Sim por que, se o empresário oferecesse uma quantia generosa em dinheiro para a família, facilmente lhe entregariam a garota.
Todavia, Claudionor deveria se prevenir, ou então passaria a ser vítima de chantagem. Assim, logo que pagasse a quantia a família, Anne deveria estar presente e de malas prontas para partir.
Com isso, encerrados os detalhes do acordo, os dois foram negociar com a família.
Porém, não foi nada fácil driblar Carla e fazer com que a mesma cumprisse com o combinado. A mulher, interessada em conseguir um dinheirinho fácil, fez de tudo para impedir a ida da moça para a casa do empresário.
Isso por que, Carla, acreditando que se se comprometesse e passasse a cuidar bem da moça, facilmente convenceria Claudionor a deixá-la ali morando com eles, acabou dificultando as coisas.
Ambiciosa, Carla pensou que arranjaria uma ótima fonte de dinheiro. Sim por que se ele concordasse com isso, todo o mês ela teria uma quantia certa a receber.
Claudionor porém, desconfiado da proposta, recusou-a peremptoriamente. Isso por que, conhecedor dos modos como a família tratava a moça, sabia que seria somente uma questão de tempo, para que tudo voltasse a ser como sempre foi.
Sim. Talvez num primeiro momento, a moça fosse até bem tratada, mas seria questão de tempo para que Anne voltasse a ser humilhada. E pior, se deixasse a moça nas mãos daquela família pérfida, dificilmente conseguiria tirá-la de lá, se isso fosse necessário.
Assim, percebendo a astúcia de Carla, o empresário teve que ser firme.
Com isso, ao levar o dinheiro para a família, o empresário exigiu que os mesmos renunciassem qualquer direito que tinham sobre Anne.
Além disso, para evitar futuros problemas, foi ajuizada uma ação na comarca onde o empresário morava, já que na cidade de Anne não havia fóruns, para que Claudionor obtivesse a guarda, mesmo que provisória da moça. Isso por que, por ser menor de idade, Anne ainda dependia da família Pereira.
E assim, ao levar Anne consigo, Claudionor exigiu que Carla lhe entregasse sua Certidão de Nascimento, bem como demais documentos que a garota tivesse. Não bastasse isso, o empresário teve que brigar muito para tirar Anne da casa de Carla.
Isso porque Carla, a despeito de ter ganho uma boa quantia no acordo, fez questão de ameaçar o empresário, dizendo que a qualquer hora poderia tirar Anne de sua casa.
Mas a mulher, apesar de interesseira, não foi direta em suas ameaças. Ao contrário, por meio de insinuações é que sugeriu essa possibilidade.
Diante disso, Claudionor, prevenido, passou a todos os meses, enquanto o termo de guarda provisória não era concedido, a entregar uma pequena fortuna a megera.
Porém, depois de obter a guarda provisória e depois a definitiva, o empresário nunca mais deu um centavo a família.
Mas, a evolução dessa disputa judicial, é questão para mais tarde. Agora, o que interessa é contar a primeira impressão que Anne teve ao entrar na mansão de Claudionor.
Isso porque a moça, assustada, não conseguia entender o que estava acontecendo. Até porque, nunca tinha visto Claudionor antes.
Foi então que eles, ao chegarem em casa, pararam, e o empresário se explicou.
Claudionor porém, ao comentar que já sabia de sua situação e de tudo o que tinha acontecido, deixou a moça ainda mais assustada.
O empresário então, percebendo o temor nos olhos de Anne procurou acalmá-la dizendo que não lhe faria nada de mal. Todavia, o empresário não revelou a Anne que fora seu filho que a molestara durante aquela fatídica festa. Pelo contrário, omitiu essa informação. Isso por que, ele temia que ao contar, a moça resolvesse fugir.
Não, não ele não queria correr riscos.
E assim, procurando deixar a moça à vontade, Claudionor ofereceu-lhe chá, bolos e tortas.
Mas Anne, ressabiada, recusava tudo que lhe era oferecido.
Claudionor então, sabedor do interesse da moça pelos estudos, deixou-a à vontade para escolher o livro que quisesse ler, em sua biblioteca.
Anne então, ao entrar no ambiente, ficou encantada com a quantidade de livros que havia naquele lugar. De tão deslumbrada com a visão, chegou a comentar que aquela biblioteca, era maior do que a que havia em sua escola.
Claudionor riu da comparação. Percebendo então, a surpresa da moça, o empresário, sugeriu a ela, a leitura de um célebre romance intitulado ‘A Moreninha’. O empresário, alegou que ela iria adorar o livro.
Anne então agradeceu, e mais do que depressa sentou-se num dos sofás que havia no ambiente, e avidamente começou a ler.
Claudionor ao perceber o interesse de Anne pelos livros, ficou encantado. E assim, durante meia hora ficou observando-a ler atentamente o livro.
Depois disso, ao ser informado que um cliente lhe procurava, o empresário saiu da biblioteca discretamente, e recomendou a governanta e as criadas da casa, que a conduzissem ao quarto, assim que ela parasse de ler. Além disso, cuidadoso e preocupado com a estada da moça em sua casa, Claudionor recomendou que pelo menos nos primeiros dias, as empregadas ficassem o tempo todo bem próximas dela e que a deixassem à vontade na casa.
Nisso o empresário, foi até o escritório e atendeu um telefonema. Depois, pegou o carro e foi direto para o escritório.
Enquanto isso, Anne se divertia lendo sobre as reinações de Carolina e Augusto, os heróis do romance. Entretida com a divertida leitura, Anne passou gostosas horas na biblioteca.
Por fim, cansada da leitura, a moça anotou o número da página em que estava e guardou novamente o livro, na estante da biblioteca. Depois, um pouco perdida e ainda confusa com a nova situação, ao ver sua mala no chão, pensou em imediatamente sair da casa.
Porém, ao tencionar pegar a mala, a governanta se aproximou e sugeriu que ela guardasse suas coisas, no quarto de hóspedes.
Anne ao ouvir a expressão ‘quarto de hóspedes’, ficou espantada. Afinal de contas, por que iria dormir na ala dos patrões? A garota, ao ouvir isso, ficou deveras espantada. Tão espantada que já chegou a questionar isso.
Mas a governanta insistiu. Era para lá que Anne deveria ir.
A moça então, ao entrar no quarto, ficou encantada. O quarto, bem arrumado, nem de longe lembrava seu quarto fuleiro. O triste habitáculo em que vivia.
O ambiente, amplo, arejado, bem cuidado e bonito, era um convite ao descanso. Uma beleza só!
Anne então, preocupada, perguntou a criada, se ela tinha certeza do que estava fazendo. Afinal, quando o empresário foi buscá-la em sua casa, imaginava que iria ocupar a ala dos empregados.
A governanta, ao ouvir isso, começou a rir. Simpática comentou:
-- Que bobagem menina. De onde você tirou isso? Você é uma convidada do Doutor Claudionor, não tem nada que dormir em quarto de empregada. Você é hóspede, minha cara. – respondeu fechando a porta. Porém, antes de sair, disse. – Precisando de qualquer coisa, é só chamar, eu estarei na cozinha. Fique à vontade.
Anne então, ficou sozinha no quarto. Ainda confusa com tudo o que estava acontecendo, mal podia acreditar que realmente estava naquela bela casa, ocupando um quarto de princesa como aquele. Era tudo um sonho. Um sonho tão bom, que temia durar pouco. Por isso, tentou o máximo que pôde não se impressionar com o que lhe era oferecido. Isso por que, se tivesse que voltar para sua triste vida, não teria que suportar a perda. Sim, a garota, cansada de sofrer, não queria passar por mais uma tristeza.
No que aliás tinha toda a razão.
Claudionor também se preocupara com isso. Por isso, ao chegar em casa, fez de tudo para dar atenção e acalmá-la.
Mas, desconfiada, Anne não conseguia ficar à vontade. Exemplo disso, é que, sempre que ela se interessava por um livro da biblioteca, pedia ao empresário, licença para lê-lo.
Este, ao ver o comportamento da moça, insistia em dizer que ela não precisava pedir, era só pegar.
Anne contudo, não conseguia se acostumar.
Mas, Claudionor, contando com a ajuda de seus criados e com muita paciência, acabou convencendo-a, com o passar do tempo, que estava sendo sincero quando dizia que aquele era também, o lar dela.
No entanto, para que Anne passasse a se sentir bem na casa, foi preciso muito tempo.
Com isso, enquanto esse tempo passava, Claudionor contratou uma professora de etiqueta para ensinar a moça, tudo o que era necessário para que ela pudesse conviver bem com as pessoas da alta roda.
E assim, dia após dia, além das leituras que sempre gostou de fazer, a moça recebia aulas de como andar, comer, etc. Ademais, continuou a freqüentar a escola da cidade em que vivera. Porém algo tinha mudado. Agora, tanto para ir quanto para voltar, era levada pelo motorista do empresário.
Dessa forma, nas primeiras vezes em que chegou de carro na escola, todos pararam para olhar.
Seus amigos, Rafael, Enrique e Otávio, chegaram até a comentar:
-- Tá chique heim?
Contudo, embora externamente muita coisa tenha mudado, Anne continuava a mesma. Mesmo depois de passar a conviver com o empresário, não esqueceu dos amigos e sempre os tratava bem.
Certa vez, autorizada pelo empresário, até os convidou para passar a tarde na mansão.
Nisso, os garotos, ao lá chegarem, ficaram encantados com o luxo do lugar. Porém, educados, não mexeram, nem quebraram nada. Ao contrário, comportaram-se muito bem. Tão bem que o empresário sugeriu a Anne que convidasse mais vezes os garotos para visitar a casa.
Nisso, Anne, um dia, ao voltar para casa, acabou encontrando com Carla, que mais do que depressa se aproximou para assombrar a garota. Anne, então, ao ver a perversa mulher, ficou deveras abalada. De tão chateada, passou o restante do dia, confinada em seu quarto.
Claudionor ao saber disso, ficou deveras preocupado. Cuidadoso, adentrou seu quarto e pediu para conversar.
Mas Anne não queria saber de conversa. Reservada, não quis saber de comentar o assunto.
O empresário, então, resolver não insistir. Porém, obcecado com a idéia de animá-la, decidiu que a levaria para fazer compras. Isso por que, todas as vezes em que reparou nas roupas de Anne, constatou que ela sempre estava mal vestida. Sua mala, cheia de roupas velhas, surradas e rasgadas era de fazer pena.
Anne, porém, não se importava nem um pouco com isso. Desacostumada a cuidar de sua aparência, nem ligava quando diziam que ela estava esculachada.
Todavia, a despeito da opinião de Anne, o empresário estava decidido a mudar o modo como a garota se vestia. E assim, apesar da resistência da moça, Claudionor acabou levando-a para fazer compras.
Contudo, desacostumado a comprar roupas para mulheres, o empresário pediu para a professora de etiqueta acompanhá-los.
E assim, pacientemente a mulher ajudou Anne a escolher suas roupas.
Durante o passeio, o empresário comprou roupas, sapatos, perfumes, bijuterias, cintos e outros acessórios. Foram horas de gastança.
Anne, desacostumada com esses passeios, perguntou ao empresário se ele não estava gastando demais.
No que ele respondeu que não. Claudionor estava decidido a transformar Anne em uma pessoa elegante. Tão decidido que não economizaria nenhum centavo para isso.
Por fim, quando os três chegaram em casa, foram necessárias várias idas e voltas da garagem para a sala, para descarregarem todas as compras.
A própria professora de etiqueta ficou impressionada com o volume das compras. Isso por que, ao ver ao final, o resultado da farra consumista, ela constatou que a quantidade de roupas e acessórios que fora comprada, era muito grande. Tão grande que a moça poderia ficar três meses usando as roupas que foram compradas e ainda assim, não repetiria nenhuma peça.
Para Claudionor porém, aquilo era só uma pequena amostra do que ele podia fazer para ajudar Anne.
Ademais, como a moça estava grávida, boa parte das roupas que foram compradas eram para gestante. Com isso, mais tarde, eles precisariam ainda, comprar o enxoval da criança. Porém, estava muito cedo para isso.
Nisso, o empresário percebendo que ainda não haviam jantado, pediu as empregadas que servissem o jantar.
Foi então que cansados e famintos, os três se serviram de um saboroso pernil.
Após, Anne pediu licença a Claudionor e a professora e se retirou da sala.
Antes porém, o empresário pediu que a partir do dia seguinte ela começasse a usar as roupas novas e descartasse as roupas velhas.
A moça concordou. E foi assim, que Anne começou a se arrumar. Contudo, como ainda não estava acostumada a fazer isso, foi logo pedir a ajuda de sua professora de etiqueta para se vestir.
Foi assim que Anne com o passar do tempo, aprendeu a como se vestir, se arrumar, a comer comidas refinadas, a andar, etc.
Além disso, durante o tempo, em que pôde contar com a ajuda de uma professora de etiqueta, a moça, além de acompanhar as aulas do colégio que freqüentava, passou a ter aulas particulares de história, geografia, inglês, espanhol, francês, português, entre outras disciplinas, com professores especialmente contratados para tal fim.
Essa preocupação de Claudionor se justificava. Apesar de Anne freqüentar regularmente uma escola, o nível de aprendizagem era baixo. Com isso, preocupado com o futuro da jovem, o empresário, passou a ter o cuidado de se empenhar para que sua educação fosse a melhor possível.
E Claudionor estava tão empenhado nisso, que se comprometeu com a moça, dizendo que enquanto ela não estivesse preparada para freqüentar uma escola melhor, ela teria aulas particulares, visando a isso.
Assim, mesmo depois de encerrado o ano letivo, Anne continuou tendo aulas com os aludidos professores e aprendendo mais e mais.
Sim, a vida de Anne estava mudando. E o que era bom, estava mudando para muito melhor.
Porém, não foi nada fácil para ela chegar a essa evolução. Isso por que, durante o todo esse processo, Cláudio – o rapaz que provocara toda a reviravolta por que estava passando sua vida –, retornou de um longo exílio na fazenda do pai.
Anne então, ao ver o rapaz que a molestara diante de si, ficou deveras transtornada. Chateada e assustada, pediu aos empregados da casa que a deixassem ir embora.
Mas estes, alegando que estavam cumprindo ordens, não a deixaram partir.
E assim, triste, Anne ficou quase uma semana trancada em seu quarto sem querer ver, nem falar com ninguém.
Claudionor então, ao voltar do trabalho e se deparar com seu filho dentro de casa, ficou furioso. De tão iracundo, quis logo tomar satisfações com Cláudio. Porém, ao aventar a hipótese de que talvez Anne já o tivesse visto, ficou apavorado. De tão apavorado, esqueceu-se do filho e foi imediatamente conversar com a moça.
Esta, para seu desespero, já havia visto o rapaz, e estava há horas trancada em seu quarto.
Claudionor então, tentando entrar no quarto de hóspedes para conversar com Anne, percebeu que a mesma havia chorado muito. Isso por que, ao responder seus apelos com voz chorosa, Anne já dava a exata dimensão do seu sofrimento. Sim, a moça estava muito triste com o que estava acontecendo.
Porém, apesar de seu empenho, não foi desta vez que Anne resolveu conversar com ele.
Contudo, no dia seguinte, o empresário, sabendo que a moça desceria, decidiu então ir mais tarde para o escritório, só para que tivesse a oportunidade conversar com ela.
Dito e feito. A moça, sem saber que o empresário a aguardava, desceu as escadas. Ao chegar na sala de almoço, deparou-se com Claudionor aguardando-a.
Anne então, percebendo-se acuada, tentou fugir mas não conseguiu. Isso por que, Cláudio descia as escadas justamente no momento em que ela tencionava novamente subi-las.
Sem saída, só restou a Anne, permanecer na sala de almoço e ouvir as explicações do empresário.
Cláudio então, percebendo que a conversa seria difícil, tentou debalde sair de fininho. Mas Claudionor percebendo sua presença, deu-lhe ordem para que terminasse de descer as escadas.
Sem saída, o rapaz comentou:
-- Tô ferrado!
Claudionor ao ouvir o comentário do filho, disse a ele que moderasse sua linguagem. Após, comentou com Anne que não tivera a intenção de enganá-la. Pelo contrário. Ele se omitira quanto a isso, simplesmente para não dificultar a aproximação. Não fora por maldade.
Depois, voltando-se para Cláudio, disse:
-- Não bastasse a canalhice que fizeste, ainda teve coragem de desobedecer minhas ordens! Quem lhe autorizou a voltar para cá?
No que o rapaz respondeu:
-- Ao contrário do que o senhor está dizendo, eu não sou um canalha. Muito menos um irresponsável, sabia? Eu voltei por causa da faculdade.
-- E desde quando você se preocupa com isso?
-- Desde quando o senhor me obrigou a trancar a matrícula. Lembra-se?
-- Se você fosse mais responsável, Cláudio, não precisaria ter trancado a matrícula.
-- Quer saber? Dane-se! Pra você eu vou estar sempre errado. – respondeu Cláudio aborrecido, voltando para seu quarto.
Nisso, o empresário, procurando se desculpar com a moça, ficou toda a manhã lhe fazendo companhia. Depois, percebendo que a moça havia se acalmado, despediu-se dela e foi para o escritório.
Diante disso, vendo-se sozinha naquela casa, Anne resolveu permanecer em seu quarto, esperando quem sabe, o rapaz sair de casa.
Dito e feito. Quando finalmente o rapaz saiu, a moça aproveitou para ir até a biblioteca pegar mais um livro para ler.
Assim, a despeito dos inevitáveis encontros com Cláudio durante o café da manhã e algumas provocações do mesmo – as quais ela sempre ignorava –, tudo estava indo bem.
Todavia, certa vez, enquanto estava tomando banho de sol na piscina, um bando de filhinhos de papais apareceu por ali. Estes, ao verem a garota sozinha na piscina, foram logo chamando-a de jeca e de caipira.
Nessa época, ainda sem suas roupas de grife, a moça estava usando apenas as peças que havia levado para lá.
Por esta razão, com as gozações dos amigos de Cláudio, Anne ficou bastante aborrecida e sem disposição para aturar desaforos, tratou de sair da piscina e ir para seu quarto.
Com isso, Claudionor ao tomar conhecimento do ocorrido, deu ordem ao filho de voltar a fazenda, que furioso, teve de obedecer as ordens do pai. Porém, não sem antes acusar Anne de ser a culpada pelos constantes desentendimentos, entre ele e Claudionor.
Claudionor ao ouvir isso, mandou que o filho se calasse.
Foi assim que mais uma vez Cláudio foi para a fazenda.
Porém, era só passar algum tempo que ele voltava.
Voltava para azucrinar a vida de Anne.
No entanto, na segunda vez, preparada para as agressões de Cláudio, Anne, mais acostumada com o modo de vida dos abastados, passou a se defender de suas brincadeiras.
Amparada pelas aulas de etiqueta, roupas melhores, aulas particulares, e toda a atenção de Claudionor e dos criados da casa, que aliás, a adoravam, Anne não tinha mais por que se sentir acuada diante da presença de Cláudio.
Aliás, o próprio já reconhecia que a mesma havia mudado muito. Tanto que, segundo suas próprias palavras, nem parecia a mesma bobalhona de antes.
Com isso para ajudar, o irmão, Lauro – um seminarista –, que estava de férias, aproveitou o ensejo para passar alguns meses em companhia da família, os quais não via há muito tempo.
E assim, Lauro, dias depois de ter chegado a mansão dos Morais, tomou conhecimento da situação delicada que a família estava vivendo.
Desta maneira, quando finalmente pôde conversar com Anne, apesar de sua desconfiança com a história, Lauro acabou se convencendo de que ela era mais vítima do que algoz.
Isso por que Lauro, constatou que a mesma era muito ingênua para ter urdido um golpe contra o irmão, o qual aliás, ele conhecia muito bem e sabia que não era boa bisca.
Por isso mesmo quando Cláudio insinuou que tudo era uma armação da moça, Lauro tratou logo de desmenti-lo mandando que se calasse, fato esse que deixou-o revoltado.
Porém, conflitos a parte, ao chegar, o noviço foi muito bem recebido por sua família. Seu pai, estava morrendo de saudade.
Com isso, ao ver seu filho em casa, efusivamente Claudionor o cumprimentou e perguntou-lhe com estavam indo as coisas no seminário.
Lauro então comentou sobre as novidades.
E assim, a conversa se manteve por horas.
Já Cláudio, menos efusivo, apenas cumprimentou o irmão, e dizendo ter um compromisso marcado, alegou que precisava sair.
Foi então que Lauro comentou:
--O Cláudio não muda nunca!
Nessa oportunidade, o moço foi apresentado a Anne.
Os dois então, educadamente se cumprimentaram.
Em seguida, depois de pegar um livro na biblioteca, a moça voltou para seu quarto.
Nisso, quando Anne saiu, Claudionor continuou a conversar com filho. Dias depois, o empresário contou detalhes da história de Anne, e Lauro que já sabia algo sobre o assunto, passou a conhecê-la melhor.
Nisso o rapaz, convivendo com a moça, passou a conhecê-la cada vez melhor e percebendo que ela não estava mal intencionada, passou até lhe ajudar, defendendo-a das provocações de Cláudio.
Com isso, os dois ficaram tão próximos que acabaram se tornando grandes amigos. Grandes amigos e confidentes diga-se de passagem. Sinceros um com o outro, jamais mentiam entre si.
Essa proximidade passou a ser alvo de comentários maldosos de Cláudio.
Tais comentários no entanto, não agradavam nem um pouco Lauro, que como seminarista, mantinha sempre uma conduta discreta.
Assim, quando o assunto era amizade entre ele e Anne, o rapaz ficava uma fera. Não admitia que fizesse brincadeiras envolvendo sua pessoa e a de Anne. A quem tinha em alta estima.
Cláudio certa vez, observando a reação do irmão quanto a essas brincadeiras, comentou que o mesmo se enervava demais para uma coisa tão á toa quanto aquilo.
Lauro porém, não entendia da mesma forma. Para ele, era uma questão de respeito evitar as brincadeiras. Respeito não só com ele, mas também com relação a moça, que estava fazendo de tudo para se adaptar a vida da família.
Mas, Cláudio, com seu comportamento, não ajudava em nada.
Todavia, Anne, a despeito de tudo o que Cláudio tentava aprontar com ela, estava cada vez mais, aprendendo a se defender de suas artimanhas.
Anne, agora acostumada com as brincadeiras de Cláudio, passou a responder as provocações a altura. Certa vez, quando o rapaz fez uma insinuação maldosa a respeito de sua amizade com Lauro, a moça fez questão de lhe dizer, que haviam se tornado amigos sim, mas que ao contrário dele, o sentimento era sincero. Além disso, ela comentou que Lauro era digno demais para ser envolvido em uma canalhice como aquela.
Claudionor, ao ver a cena, sentiu até uma ponta de orgulho.
Sim, Anne estava se aprimorando cada vez mais, não só culturalmente mas também como pessoa. Mais segura, a moça estava com a auto-estima nas alturas.
Anne estava tão feliz que nem parecia a moça de antes. Porém, certas características não mudam nunca. Assim, de vez em quando, ela ainda preferia a própria companhia, a de qualquer outra pessoa.
Todavia, a despeito de tudo isso, um acontecimento, muito ruim para todos, acabou por acontecer.
Anne, que já estava grávida de cinco quatro meses, acabou sofrendo um aborto.
Inesperadamente, a moça começou a sentir muita dor. Quando se deu conta do que era, ficou desesperada.
Porém, a despeito de todo o empenho de Claudionor em socorrer a moça a tempo, o inevitável aconteceu.
Anne a despeito de todo o cuidado que passara a ter na gravidez, perdeu a criança que gerava.
Este fato, foi extremamente penoso para ela.
Cláudio, então, sentindo-se penalizado pela situação, chegou até a se desculpar com Anne.
No entanto, a despeito de sua pena pela moça, Cláudio sentiu-se verdadeiramente aliviado, quando soube da notícia. Acreditando que agora que Anne não estava mais grávida, retornaria para sua casa, Cláudio ficou exultante. Todavia, cauteloso, tentou o máximo que pôde, disfarçar sua euforia.
Anne, por sua vez, também ficou preocupada com sua situação dali para a frente. Isso por que, acostumada com a vida boa que passara a levar, demoraria muito para se acostumar novamente com a dura vida que sempre viveu. Porém, certa de que sem a perspectiva de ter um neto, o empresário a devolveria a sua família, Anne tratou de imediatamente, arrumar suas malas.
Claudionor então, percebendo a mudança de comportamento de Anne, ao ver as malas prontas, foi logo perguntando o por quê de tudo aquilo.
Anne então, profundamente abatida pela perda do filho, disse que sentia necessidade de ficar sozinha.
O empresário, contudo, não convencido das explicações da moça, tratou logo de saber o que estava acontecendo. Insistente, pressionou Anne de todas as formas possíveis para que ela lhe contasse o que estava se passando em sua cabeça.
De tão incisivo, o empresário deixou a moça sem saída. Foi assim que ela então confessou, que, depois de ter perdido o filho que estava esperando, fatalmente ele a mandaria embora.
Claudionor, ao ouvir as palavras de Anne, ficou profundamente penalizado. Percebendo então, o quão frágil era a situação da moça naquela família, o empresário se comprometeu a continuar cuidando dela, enquanto ela precisasse. Assim, enquanto a moça estivesse freqüentando a escola, e posteriormente, uma universidade, prontamente ele a ajudaria.
Além disso Claudionor comentou com Anne que, se fosse necessário, até a ajudaria a encontrar um trabalho. Assim, o empresário, deu todas as mostras de que ela não estava desamparada. Além disso, Anne poderia continuar morando na mansão, o tempo que quisesse.
No entanto, a despeito de tudo isso, a moça continuava triste.
Claudionor então percebendo isso, mais do que depressa, convidou a moça para um passeio em sua fazenda.
Anne, porém, ao ouvir a proposta de Claudionor, ficou um tanto quanto ressabiada. Isso por que, privada de sua companhia, ela ficaria sozinha na fazenda.
Lauro então, percebendo o desconforto de Anne, ofereceu-se para acompanhá-la no passeio.
Com isso, a garota mais do que depressa, concordou com o passeio. Porém, depois do ocorrido, o empresário, percebendo que Anne ainda necessitava de roupas, tratou de levá-la novamente para um passeio.
Após, devidamente paramentada, a moça, preparou suas malas e juntamente com Lauro, viajou para a fazenda.
Anne então, precavida, mesmo sem ter a obrigação de estudar, fez questão de levar alguns livros consigo a fim de que pudesse ler quando tivesse vontade.
Lá em companhia de Lauro, a moça teve o raro prazer de conhecer de perto, a estrutura de uma fazenda.
A grande propriedade abrigava uma grande variedade de animais, de plantas e de árvores. No pomar, frutas de todos os tipos eram cultivadas. Quanto a horta, essa era uma imensidão verdejante a se perder de vista. Na fazenda, havia ainda o cultivo de cereais.
Para passear, muitos cavalos á disposição. Aliás, na propriedade, havia um lugar exclusivo para o cuidado e treinamento desses animais.
Além disso, o fazendeiro, em homenagem a memória da falecida esposa, mandou construir um imenso e imponente jardim, na entrada da fazenda. Assim, enquanto o carro do visitante passasse pelo caminho que levava a fazenda, podia apreciar a beleza de lindas flores desabrochando pelo trajeto.
Era uma ampla variedade de flores. Tinha até orquídeas.
Com isso, não bastasse o belo e imenso jardim construído na entrada da fazenda, o fazendeiro, ordenou que se construísse um orquidário. Nesse local, todo fechado em vidro, espécies delicadas de plantas eram cultivadas.
Anne ao ver todas essas maravilhas, ficou encantada.
Todavia, o melhor ainda estava por vir.
A natureza contida na fazenda, conseguia ser ainda mais exuberante que a magnífica horta, o imenso pomar, e a extensa plantação.
Caminhando pela fazenda, ou mesmo cavalgando, podia se chegar a belíssimas cachoeiras e a um imponente lago que havia na região.
Porém, como Anne não sabia andar á cavalo, Lauro providenciou uma charrete para levá-la até o local. A moça então ao se deparar com tão rico cenário, ficou encantada. Tão encantada que agradeceu pelo passeio com um beijo no rosto do rapaz.
O seminarista ficou um tanto quanto desconcertado. Porém, ao ver o encantamento de Anne, percebeu que a moça o beijara sem nenhuma intenção maliciosa. Estava feliz e pronto.
Ao final da tarde, ao retornarem para a sede da fazenda, os dois puderam observar atentamente a imponência da construção. Isso por que, logo em sua entrada, havia um imponente alpendre repleto de cadeiras, alguns sofás, mesas, redes e ao fundo, um bar.
Dentro da residência, havia uma ante-sala e logo adiante, uma luxuosa sala de visitas. Ao lado havia uma outra sala, e mais para a frente estava a sala de jantar. Logo a frente da sala de jantar, havia um imponente bar.
Caminhando mais para o interior da casa se via uma sala fechada. Segundo Lauro, era ali que ficava a biblioteca da fazenda e ao seu lado, um pequeno escritório. Ainda na parte social da casa, havia dois lavabos e mais ao fundo ficava a cozinha, a área de serviço, a sala de almoço, e as dependências dos empregados.
E mais, ao lado de biblioteca, ficava a sala lareira, com um magnífico piano de cauda, e mais ao fundo, um jardim de inverno e um átrio.
Lauro então, percebendo o encantamento da moça com a casa, recomendou-lhe que subisse com ele as escadarias que levavam ao segundo pavimento da construção. Era lá que ficavam os quartos. Ao todo, eram doze grandes e luxuosos quartos. Todos com suíte, varanda, closet, saleta, e uma deslumbrante visão para a verdura que se descortinava diante das janelas dos quartos.
Não bastasse isso, no seu corredor, havia ainda uma sala de televisão, com inúmeros equipamentos de última geração.
Foi exatamente num desses quartos que Anne ficou durante toda sua estada na fazenda. Lauro, por sua vez, permaneceu em outro quarto da casa.
No dia seguinte, acompanhada de Lauro, Anne foi conhecer a parte recreativa da sede.
Encantada, Anne conheceu a piscina, o salão de jogos, o salão de festas, a sala de ginástica, a sala de televisão ao lado do deck, a churrasqueira e a capela.
Em seguida, como a temperatura estava convidativa, os dois aproveitaram para tomar banho de sol.
Anne, um pouco desajeitada, não conseguia mergulhar, devido sua falta de familiaridade com a água. Lauro então, prestativo, ofereceu-se para ser seu professor de natação. E assim, conforme os dias foram se passando os dois aproveitaram para passear pela fazenda, nadar e ler.
Anne e Lauro também aproveitavam para conversar.
Enquanto ele comentava sobre seus planos de ser padre, a garota comentava que gostaria de cursar uma universidade e ter uma profissão.
O seminarista então, perguntou se ela já sabia qual era a profissão que ela queria seguir.
Ao ser indagada sobre isso, Anne respondeu:
-- Ainda não sei com certeza. Mas sei que terá que ser alguma coisa relacionada a licenciatura.
-- Então a senhorita quer ser professora?
-- Bem... sim e não.
-- Como assim?
-- É que eu gosto muito de história...
-- De literatura também. – respondeu ele. – Desde você chegou em casa, quantos livros já leu?
-- Não sei. Mas com certeza muitos.
-- Então, por que não se torna escritora? Afinal, com seu interesse pela leitura, deve saber escrever muito bem. – sugeriu ele.
-- Não sei... a profissão é fascinante, mas o país não valoriza os profissionais ligados a cultura. – respondeu ela.
-- Ué! Quem sabe? Quem garante que você não será uma escritora muito famosa? Já estou até imaginando. Anne conquista os leitores brasileiros. Uma grande escritora com uma promissora carreira, heim? Que tal?
Nisso, os dois começaram a rir.
Certa vez, cansados de tanto passear pelos mesmos lugares, Anne, que a essa altura, já havia aprendido a cavalgar, aproveitou para, em companhia de seu amigo, conhecer um pouco melhor a vegetação nativa da fazenda.
Assim, cavalgando em meio a verdejantes campos, os dois aproveitaram para conversar, caminhar, e disputar corridas de cavalo.
Mais tarde, exaustos de tantas peraltices, os dois se deitaram na relva e começaram a conversar.
E entretidos na conversa, os dois permaneceram por horas ali, para só mais tarde se darem conta do quão tarde era, e que já era hora de voltarem para a sede. Algumas vezes, os dois chegaram a voltar quando anoitecia.
Uma das criadas, ao ver isso certa vez, ralhou profundamente com os dois. Dizendo que era muito perigoso permanecer a noite nos campos da fazenda, a mulher advertiu-os para que nunca mais fizesse isso. Isso por que, corriam o risco de se perderem.
Lauro então, responsabilizando-se por tudo, prometeu que nunca mais exporia Anne a um risco desses.
Com isso, a despeito da bronca, os dois, famintos que estavam, trataram logo de cear.
Alguns dias depois, Lauro, depois de muito comentar sobre a cidade vizinha, aproveitou para levar Anne para conhecê-la. Lá, mostrou a moça, todos os lugares pitorescos.
Depois, o rapaz convidou a moça para almoçar em um dos muitos restaurantes do lugar, especializados em comida caseira.
Nesse lugar, os dois se deliciaram com uma comida muito saborosa. Com isso, enquanto Anne e Lauro almoçavam, uma dessas moças, que vendem flores em locais públicos apareceu, e procurando vender sua mercadoria, ofereceu-a a Lauro. Gentil, a vendedora recomendou que o mesmo desse uma flor, para sua namorada.
Lauro e Anne riram. Depois, educadamente, o rapaz comentou que ela não era sua namorada, pois os dois eram só amigos. A vendedora então, constrangida, desculpou-se. Quando estava indo embora porém, Lauro então pediu:
-- Espere! Só um minuto. – disse já tirando dinheiro de sua carteira para comprar uma flor.
A vendedora então, recebendo o dinheiro, escolheu uma linda rosa, que pelo tom claro que tinha, parecia uma pérola.
Lauro então, esperou a vendedora se afastar e delicadamente, ofereceu a rosa a Anne.
Anne então, aceitando o presente, aproximou vagarosamente a flor de suas narinas e sentiu seu delicado perfume. Depois, agradecida pelo gesto, disse:
-- Obrigada.
Nisso, continuaram a almoçar. Depois, pedindo uma sobremesa, Anne se deliciou com uma mouse de maracujá. Já Lauro, preferiu uma fatia de bolo de chocolate.
Mais tarde, ao saírem do restaurante, Lauro ofereceu seu braço para Anne, que prontamente aceitou a oferta. Assim, os dois passearam o resto da tarde, abraçados, pela cidade.
Com isso, ao voltarem para a fazenda, os dois estavam repletos de histórias para contar para os funcionários e agregados. Contudo, como queriam acordar cedo no dia seguinte, ao final das dez horas, os dois se despediram do pessoal e foram dormir.
Assim, logo que raiou o dia, Lauro chamou Anne, que ainda dormia, para fazer um passeio pelos terreiros de café, e ver o tratamento que o mesmo recebia até ser vendido. Também veriam a forma com se acondiciona o arroz, como se tira leite de vaca, e como se produz a farinha.
Enfim, os dois tinham um longo dia pela frente.

Luciana Celestino dos Santos
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