Durante esses dias de sofrimento, não pôde comparecer a delegacia, embora intimada. Não estava em condições.
Por esta razão o delegado, ciente disso, desculpou sua recusa, e entendendo a situação, avisou aos amigos que o informasse quando ela estivesse em condições de ir até lá conversar com ele.
No entanto, os mesmos tiveram que prestar depoimento, tudo no interesse do caso.
Os policiais, assim como toda população, queriam resolver o crime o mais rapidamente. A opinião pública clamava por uma solução.
Cautelosos, os policiais não divulgavam muitas informações para a imprensa. Afinal, não queriam ser atrapalhados no curso da investigação.
Assim, os policiais não comentavam nada a respeito do caso com a televisão, e muito menos com os jornais e emissoras de rádio. A investigação era sigilosa.
Mesmo assim, os jornalistas, tentavam de todas as formas, conseguir informações sobre o caso. Chegaram até, a inventar pistas falsas só para venderem matéria.
Entretanto, alguns jornalistas, ciosos de sua função social, cuidavam para que a história fosse publicada com honestidade e correção. Estes profissionais responsáveis, nunca admitiam excessos e esta atitude era louvável.
Mas infelizmente, nem todos agiam assim.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 29 de abril de 2021
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 21
sexta-feira, 23 de abril de 2021
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 20
Afinal de contas, dada a morte da garota, o caso se tornou rumoroso.
E Dona Solange, além de ter de suportar a dor pelo passamento da filha, ainda tinha que aturar os jornalistas importunando-a, ávidos por saberem o que se passava em sua mente.
Desde o momento em que soube da morte da filha, até o momento presente, não tivera um minuto de sossego. A saudade da filha a cada dia que passava se tornava maior. A dor pela sua morte não diminuía, e a imprensa a perseguia insistentemente.
Muito embora, suas amigas e vizinhos tivessem tido o cuidado de atender a todas as ligações que recebia, Dona Solange, quando saía de casa, era constantemente cercada por jornalistas.
Diante desse quadro deprimente, seus amigos e vizinhos não se cansavam de dizer:
-- Como pode isso, Meu Deus?
-- Dona Solange é a mãe. Será que vocês não vêem que ela está sofrendo?
-- Por favor, saiam daqui. Vocês estão atrapalhando. Ela não tem condições de falar nada.
-- Saiam, saiam. Ou nós chamaremos a polícia
Mas não adiantava, os jornalistas não se amedrontavam com os avisos, só queriam tirar fotos da mãe da garota e para isso a cercavam insistentemente. Sempre inconvenientes.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 19
Queria a vida da filha de volta.
Triste, confidenciou com Cínthia que, se pudesse, gostaria de trocar de posição com a filha. Se fosse para ela continuar viva, morreria feliz. Não sentiria nenhum pesar. Só lamentaria não poder mais cuidar dela.
Mas, infelizmente, não poderia trocar de lugar com a filha.
E assim, Dona Solange seguiu acompanhada das amigas, até a capela. Para que pudesse velar o corpo. E nessa vigília, passou a noite inteira acordada ao lado da filha.
Cuidou do corpo, como cuidava dela quando vivia.
Atenciosa, nos primeiros dias após seu nascimento, Solange tivera o cuidado de trazer para perto de sua cama, o berço da menina. Temerosa, queria ter sempre a filha por perto. Por isso, nos primeiros meses, a criança passava boa parte do tempo em seu quarto.
Dona Solange, só a colocou no quartinho que arrumou durante meses para sua chegada, quando se sentiu suficientemente segura para fazê-lo. Maiorzinha, Lúcia já poderia dormir sozinha em seu quarto.
Quando Solange se lembrava disso, mais e mais sua tristeza aumentava. Nunca mais poderia vigiar o sono da filha. Aquela, seria a última vez que a veria, mesmo dormindo.
Era a última vez.
Lá mesmo na capela foi celebrada uma missa, que muitos acompanharam, inclusive curiosos.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 18
Essas palavras não saiam de sua cabeça. Ao ver a filha arrumada para o velório, sentiu mais uma vez, vontade de chorar. Inconsolável, não conseguia conter seu pranto.
Desalentada, não sabia o que fazer da vida.
Imersa em uma profunda tristeza, sabia que estes seriam os últimos instantes em que poderia estar com sua filha.
Depois só a saudade e a triste lembrança do dia fatídico. Dia este, que não saía de sua cabeça.
Em todos os dias que se seguiram, sempre quando dormia, em seus sonhos, vinha-lhe a mente a imagem de tiros vindos de todos os lados. E sua filha, vestida de branco, passava por esta nuvem de tiros.
Envolta em um névoa, conseguia se desvencilhar de algumas balas, mas no final ... Sempre no final, um dos tiros rompia o cerco de proteção e conseguia atingi-la. Assim, ferida, não lhe restavam forças para seguir andando, e caía. E assim caída ficava. Deitada no chão e ao lado uma poça de seu sangue.
Nesse instante, finalmente uma luz se projetava sobre o corpo. Exatamente nessa hora se podia perceber, que o vestido, antes branco, agora estava mesclado de vermelho. Era o sangue derramado por ela, em virtude dos disparos de uma arma assassina. Era a vida de sua filha que se fora.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 17
Agora, no momento em que preparava o corpo da filha para finalmente entregá-lo a Deus, é que se dera conta de que talvez sua filha fosse sensitiva.
Isso por que, ainda criança, dizia para sua mãe, coisas sobre sua vida. Coisas que por ela ser muito pequena, não poderia se lembrar. Mas Lúcia lembrava.
Espantada Solange, se perguntava se isso poderia ser um dom.
Certa vez, ao ouvir no jornal a notícia sobre o desaparecimento de uma pessoa, nas cercanias da cidade, comentou com a mãe, que de nada adiantava procurar pela moça. Ela já não estava mais entre eles.
Ao ouvir isso, Solange ficou assustada. Afinal, como Lúcia poderia saber de uma coisa dessas?
Mas, dito e feito.
Ao final de uma semana de procuras finalmente encontraram o corpo, já em avançado estado de decomposição.
Sua mãe, ao acompanhar o desfecho da triste história, ficou impressionada. Lúcia sabia ver as pessoas, muito além da simples aparência.
Contudo, depois dessa demonstração de mediunidade, poucas vezes a garota demonstrou sua sentividade.
Para Lúcia, não havia a menor possibilidade dela possuir este dom. Por isso, quando sua mãe e seus vizinhos lembravam o que ela dizia e fazia ainda em criança, Lúcia acabava por discordar, dizendo que aquilo era uma simples intuição. Nada mais.
Tanto, que somente semanas antes de seu desaparecimento, é que a moça demonstrou mais uma vez esse dom.
Semanas antes de sumir, comentou com a mãe que algumas vezes, sentia uma sensação muito ruim.
Mas Solange lhe disse que não era nada e que não tinha que se preocupar com isso.
Porém a filha insistia em dizer que algo de muito ruim, estava para acontecer.
Dona Solange, ao ouvir isso ralhou com a filha.
Dizendo que pensar em coisas ruins atraía coisas ruins, pediu decisivamente, para que a filha nunca mais falasse uma bobagem daquelas.
E assim Solange deixou o assunto de lado.
No entanto, nos últimos tempos, ao lembrar-se de sua filha ainda viva lhe dizendo isso, sentia-se culpada. Afinal Lúcia previra momentos antes, a fatalidade que se abateu sobre ela.
Sentia-se tão mal, que chegava a acreditar que se tivesse ouvido a filha, talvez, de alguma forma, tivesse podido impedir que o mal fosse feito. Mas ela não acreditou. Por isso, sentia-se de certa forma, responsável pela morte da filha.
A única filha. O seu maior orgulho.
Mas agora era tarde.
Muito tarde para que pudesse fazer qualquer coisa.
E suas amigas, ao verem o triste estado de Solange, ficaram ainda mais preocupadas ao verem-na comentando sobre isso.
Para elas, como a própria menina já havia dito, não havia nada demais. Talvez ela estivesse sugestionada com alguma coisa.
Por isso, Raquel e Cínthia, ao verem o desespero da amiga, insistiam em dizer que Lúcia não havia previsto sua morte. Simplesmente havia sentido alguma coisa estranha. Até por que, um grupo muito suspeito, havia chegado na cidade naquela época.
Solange, ao ouvir isso, passou a ter uma certeza. Sua filha Lúcia fora morta por um estranho, que não estava mais na cidade.
Mas apesar dessa certeza, isso não a consolava.
Por isso precisava do apoio e carinho de todos.
Nisso, Solange lembrou-se, do quanto sua filha era generosa e cristã.
Desde pequena, Lúcia dera mostras de grande religiosidade.
Católica, sempre que podia procurava ajudar alguém que precisasse.
Na escola, repartia seu lanche com as colegas mais pobres. Meninas que muitas vezes andavam quilômetros para chegarem até a escola.
Sempre que podia, pedia a mãe para fazer um lanche a mais para poder dividir com elas. Constrangida, chegou a dizer para a mãe que era porque na hora do intervalo, sentia muita fome. No entanto, quando passou a pedir três lanches por dia, sua mãe passou a desconfiar.
Pra que tantos lanches? Afinal de contas Lúcia comia como um passarinho. O que ela fazia com tanta comida?
Finalmente, numa reunião de pais, descobriu o que se sucedia. Um dos professores, comovido com a atitude da menina, chegou até Solange e perguntou:
-- A senhora é a mãe de Lúcia?
-- Sim, sou eu sim.
-- Meus parabéns, senhora. Sua filha é um amor. Você deve sentir orgulho dela.
-- Realmente eu sinto. Mas por que o senhor está falando isso?
-- Por que Lúcia é uma menina muito generosa. Todos os dias ela traz lanches para dividir com suas amigas menos afortunadas.
Espantada, foi a vez de Dona Solange perguntar:
-- Então era para isso que ela me pedia tantos lanches?
-- A senhora não sabia?
-- Desconfiava, mas não tinha certeza.
-- Enfim, desculpe se falei o que não devia. Mas é que eu fico maravilhado quando vejo uma atitude tão generosa como essa, vinda de uma pessoa tão jovem quanto ela.
-- Não tem problema algum. Eu é que agradeço. Prometo que não vou ficar brava com ela.
Diante disso, o professor novamente se desculpou e saiu.
Com isso, Solange acompanhou a reunião até o final.
Quando chegou em casa, tratou de logo conversar com a filha. Afinal de contas, por que não lhe contara sobre isso?
E assim o fez.
Conversando com a filha explicou-lhe que não havia problema em dividir seu lanche com as amigas. O único porém fora não ter lhe contado a verdade. Isso não era certo. Foi então que perguntou:
-- Lúcia, por que você fez isso?
-- Eu tive medo de que você não concordasse.
-- Que bobagem. O que eu poderia dizer é que não dá para fazer isso todos os dias. Está bem? Mas eu prometo que vou encontrar uma solução para isso.
-- É, mesmo?
-- Prometo. Talvez comprando mortadela em vez de presunto e retirando alguns ingredientes ... talvez uma fruta. É ... dá para se dar um jeito. – disse abraçando a filha.
-- Mãe, você é maravilhosa. Te adoro.
-- Não minha filha. Você é que é um encanto.
Luciana Celestino dos Santos
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O BEM E O MAL - CAPÍTULO 16
Contudo, depois de quase duas semanas, o corpo foi liberado.
Finalmente poderiam providenciar um digno enterro para a filha amada de Dona Solange.
E assim, zelosos, os vizinhos cuidaram de tudo.
Preocupados, não queriam incomodar Dona Solange.
Mas esta, ao saber da notícia, fez questão de acompanhar tudo. Não queria que sua filha ficasse sozinha, nem que fosse por um minuto.
Assim, quando o corpo foi liberado, fez questão de ir até lá junto com as amigas para retirar o corpo do local. Ela mesma lavou o corpo da filha e vestiu-a com sua melhor roupa. Estranhamente, queria que ela estivesse bem.
Foi então que, nesse momento lembrou-se que as duas, constantemente visitavam o túmulo da irmã falecida.
Quando entravam no cemitério, tinham que caminhar por uns quinze minutos até chegar ao túmulo da criança. Nesse caminhar, freqüentemente Lúcia ficava emotiva. Quando chegava no túmulo e lá deixava as flores que sempre levava, quase sempre chorava.
Espantada, Dona Solange nunca entendia o comportamento da filha.
Para ela, era como se Lúcia conhecesse a irmã, que só vira ao nascer.
Intrigada, chegou certa vez a perguntar a filha, o porque da emotividade e da tristeza ao visitar o túmulo da irmã.
Afinal de contas, as duas não tiveram a oportunidade de se conhecerem. Muito embora fosse normal se entristecer com o que sucedera a ela, achava estranha a dimensão do sentimento que Lúcia dedicava a irmã. Por que tanto apego?
Nisso, Lúcia sempre respondia que tinha a sensação de que estava sendo chamada por alguém, quando lá entrava.
No entanto, a despeito de ser um ambiente triste, ao visitar o túmulo de seu suposto pai, Lúcia não sentiu o mesmo. Não teve a mesma estranha sensação.
Luciana Celestino dos Santos
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O BEM E O MAL - CAPÍTULO 15
Desesperação.
Dona Solange não faziam mais nada senão chorar.
Durante os dias que se seguiram, não tinha vontade de fazer nada. Deprimida, passou os dias que seguiram deitada em sua cama, sozinha.
Durante os dias que se passaram, mal se alimentava.
Não fossem os vizinhos, não teria mais se levantado da cama.
Preocupados com sua depressão, quando Cínthia ou Raquel não podiam estar com ela, os demais vizinhos se ofereciam para cuidar de tudo.
Assim, sempre se revezando, alguém ficava na casa dela, cuidando dela, velando seu sono e cuidando da casa.
Diante da triste situação, da tragédia que se abatera sobre a vida de Solange, seu chefe no hospital a liberou por três semanas para que pudesse se recuperar da perda da filha.
Seu patrão, quando a viu abatida, ficou penalizado.
Apesar de nunca ter perdido um filho, sabia o quanto isso era doloroso. Isso porque, há mais ou menos três anos, um amigo muito próximo havia perdido um filho em virtude de um câncer. Assim, condoído, liberou-a do trabalho.
Preocupado chegou a visitá-la algumas vezes. Mas não podia ajudar. Infelizmente o pior já tinha acontecido.
Por isso só podia oferecer seu apoio e oferecer suas condolências.
E assim, mais alguns dias se passaram.
Luciana Celestino dos Santos
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