Curiosos, perguntaram a mulher como era a vida na fazenda.
Agradeceram a mulher que lhes servia o café.
Enquanto isto, na sala, a fazendeira contava a Laura, como conhecera Lúcio.
Que Lúcio era seu pai. Que casaram-se, e foram muito felizes no pouco tempo em ficaram juntos.
Pesarosa, a mulher relatou que Lúcio fora vítima de um terrível engano. Preso, foi torturado e morto, em pleno tempo da ditadura militar.
A esta altura, a mulher começou a chorar.
Chorava copiosamente.
Até então, a mãe de Dandara ouviu a tudo calada.
Porém, condoída, Laura abriu sua bolsa e encontrando uma caixa com lenços de papel, ofereceu a mulher.
Ludmila agradeceu.
Segurou a caixa e pegou alguns lenços.
Enxugou as lágrimas.
Laura atenta, pediu a ela, se não fosse muito incômodo, que prosseguisse a história.
Também estava emocionada, mas procurou disfarçar a vontade de chorar.
Ludmila, percebendo isto, aproximou-se da moça.
Disse-lhe que se tivesse vontade de chorar, que chorasse.
Comovida, falou a mulher, que por muito tempo chorou a ausência do moço.
Chorando, comentou que procurou ajudá-lo de todas as maneiras possíveis.
Relatou em tom rogativo, que não abandonou o pai da moça.
Confessou que chegou até a ser assediada pelo delegado que prendera o rapaz.
Laura, ao ouvir isto, pediu que ela explicasse o fato.
A fazendeira contou-lhe tudo.
Laura ao saber que o pai fora morto e enterrado em uma cova qualquer, e que ninguém sabia onde estava enterrado, ficou muito sentida.
Neste momento, as lágrimas correram de seu rosto, sem que pudesse impedir.
Ludmila abraçou-a.
Laura não ofereceu resistência.
Ficaram abraçadas por alguns minutos.
Depois de alguns instantes de silêncio, a mulher perguntou a fazendeira, se não havia um meio de descobrir onde fora sepultado o moço.
Argumentou que ele merecia um sepultamento digno.
Complementando seu raciocínio, Laura respondeu que os arquivos da ditadura precisavam, não serem abertos, mas escancarados, para mostrar as pessoas, todo o horror que um ser humano é capaz de perpetrar a outro.
Com isto, se poderia evitar que tais atrocidades novamente ocorressem.
Ludmila comentou que seu atual marido, Emerson estava empenhado nisto, mas que após tantos anos, não acreditava mais que um dia teria conhecimento de toda a verdade.
Angustiada, relatou que procurava disfarçar seu sofrimento para não magoar Emerson, que sempre lhe fora leal.
A fazendeira então, explicou a filha, que se casara uma terceira vez, e que desta relação tivera outros filhos: Henrique, Carlos e André.
Ludmila comentou que ela tinha muitos irmãos.
Explicou-lhe que não a abandonara, mas que fizera o que fez, para preservá-la.
Relatou que fora ameaçada pelo delegado.
Isto porque, Silvério procurava intimidá-la ameaçando a integridade física da criança.
Apavorada, tendo em vista ter podido acompanhar, ainda que de longe, as atrocidades que infligira a Lúcio, comentou que não lhe restou outra alternativa.
Resolveu então, deixá-la aos cuidados de um casal, que havia perdido uma criança recentemente. Assim, não levantaria suspeitas. Ofereceu-lhes dinheiro, e prometeu que ajudaria na criação da criança, financeiramente.
Ludmila comentou que os anos de estudos em colégio interno, eram fruto daquele dinheiro enviado para Zélia.
Laura indagou do porquê da interrupção do envio do valor.
Ludmila respondeu dizendo que Zélia redigira uma carta, solicitando que parasse de enviar dinheiro.
A mulher não podia entender por que Zélia agira daquela forma.
Mas depois, recordando-se que a mãe de criação nunca incentivara o encontro dela com Ludmila, começou a perceber que nem tudo o que lhe fora dito, ocorrera da forma como lhe foi passado.
Afinal, constatou que Zélia faltou com a verdade.
A fazendeira por sua vez, ao perceber que Laura iria criticar Zélia, pediu para que não criticasse a mãe de criação.
Ludmila comentou que após tantos anos de sofrimento e ausência, compreendeu que a mulher tivera medo de perder a filha, que tanto amara, que criara com tanto desvelo, para uma completa estranha. Entendeu que para Zélia, ela não tinha direito nenhum sobre Laura.
Tal constatação lhe causava dor, mas ainda assim, conseguia entender.
Afinal, dizia, não fizera um papel bonito.
Ao ouvir as palavras da mulher, Laura respondeu que ela fizera o que achou melhor.
Tentando se desculpar, disse que não conhecia as circunstâncias do evento.
Disse que sempre que tentavam lhe explicar o fato, não acreditava. Julgava ser apenas balela. Conversa fiada somente para comovê-la.
Contudo, as palavras, saídas da boca da fazendeira, com tanta verdade, a convenceram.
Mais tarde, a fazendeira, mostrou a filha, fotos dela ao casar-se com Antenor, com Lúcio e com Emerson.
Os filhos.
Laura descobriu fotos de quando era bebê. Poucas.
Ao ver as fotos da fazendeira ao lado do pai, Laura comoveu-se.
Começou a chorar.
Ludmila a abraçou.
Laura correspondeu. Abraçou a mulher.
Depois se recompôs.
Observando as fotos, Laura comentou que ela fora uma mulher muito bonita.
Disse que Lúcio era igualmente belo.
Ludmila sorriu.
Disse que despertara suas paixões.
Laura completou dizendo que entendia por que o delegado a assediara.
De fato, era uma bela mulher.
Felipe e Maximiliano, ao perceberem a ausência das mulheres, indagaram para onde poderiam ter ido.
Felipe indagou se haviam se entendido.
Maximiliano redargüiu:
- Tomara! Laurinha tem duas histórias mal resolvidas para trabalhar. Espero que elas se entendam, e que a reconciliação se estenda a Dandara também.
- Amém! – respondeu Felipe.
Com isto, se encaminharam para o alpendre.
Contemplaram a beleza da fazenda.
Maximiliano ao ver a imensidão verde, comentou que contemplar toda aquela beleza lhe dava uma imensa saudade.
Felipe perguntou-lhe então, como havia conhecido Laura.
Sem se fazer de rogado, o homem respondeu que já vivera em fazenda, e foi numa dessas fazendas que conheceu a mulher.
Felipe o ouvia com atenção.
Em conversa com Ludmila, Laura contou a fazendeira como conhecera Maximiliano, e dos anos em que viveram separados.
A mulher contou-lhe que progredira, virou empresária.
Comentou que anos mais tarde, reencontrou Maximiliano.
Voltaram a viver como marido e mulher, tiveram duas filhas: Dandara e Júlia.
Laura comentou sobre as dificuldades de convivência com Dandara, dos excessos cometidos pela moça.
As noitadas, as bebedeiras.
A empresária comentou que a filha saía a cada dia com homens diferentes.
Não tinha uma vida regrada.
Nisto, começou a falar de Júlia.
Que era uma moça comportada, estudiosa, o oposto da irmã.
Ludmila, ao saber que filha tivera duas filhas, comentou que gostaria de conhecer Júlia. Sugeriu que ela viesse a fazenda para participar da festa junina.
Laura respondeu que a moça precisava apresentar um trabalho na faculdade, mas prometeu ligar para ela e perguntar se não poderia ir para lá.
Ansiosa, Ludmila pediu para que ela o fizesse logo.
Laura argumentou que a moça estava em aula naquele momento, mas que depois do almoço, ligaria.
Nisto a fazendeira olhou no relógio.
Percebendo que já era tarde, comentou que precisava voltar a sala.
Disse que iria ajudá-la a conversar com Dandara. Comentou que se tratava de uma boa moça, mas que precisava se ter jeito para lidar com ela.
Laura respondeu que não sabia como lidar com a filha.
Sorrindo, Ludmila respondeu que ela aprenderia a fazê-lo. Falou-lhe que ela não estava sozinha em sua luta.
Segurando a filha pelo braço, retornou a sala.
Caminhando pela casa, descobriram que Felipe e Maximiliano estavam no alpendre conversando.
Os homens, ao verem a fazendeira segurando a filha pelo braço, perceberam que as mulheres haviam se entendido.
Chorando, Maximiliano abraçou a esposa.
Laura também não pode segurar as lágrimas.
Felipe e Ludmila os olhavam, enternecidos.
Mais tarde, já no horário do almoço, Dandara, Cláudio, Henrique, Carlos, André, as esposas, e os demais filhos, chegaram do passeio pela fazenda.
Laura cumprimentou a todos.
Ao se saberem parentes, se abraçaram.
Ludmila contou a eles que a moça fizera sua própria fortuna.
Henrique respondeu que sabia que ela era uma importante empresária na capital.
Cláudio e Dandara foram os últimos a chegarem.
A moça, ao ver a mãe na sala de jantar, ao lado do pai e do amigo Felipe, ficou transtornada.
Nervosa, chamou o homem de traidor.
Ríspida disse que ele era a única pessoa que não tinha o direito de trair sua confiança, mas que ele, assim como os demais, a havia decepcionado.
Com pesar, Dandara respondeu que não confiava em mais ninguém.
Irritada, deu as costas a todos e saiu correndo da sala.
Nervosa, rumou para a construção dos fundos, vindo trancar-se em seu quarto.
Laura por sua vez, tencionou ir ao lugar, com vistas a iniciar uma conversa com a filha.
Ludmila aconselhou-a não fazê-lo.
Disse que a moça estava nervosa, e que aquele não era um bom momento para conversarem.
Laura ficou atordoada.
Ludmila tentando acalmá-la respondeu que tentaria conversar com a moça, mas que por enquanto a deixasse sozinha.
Neste momento comentou que entendia por que a moça não queria falar de sua família.
A fazendeira disse a mulher, que Dandara se sentia sozinha no mundo.
Que esta fora a expressão usada para se referir a atual situação em que vivia.
Nisto, todos trataram de sentar-se a mesa.
Conversaram animadamente.
Henrique, ao notar o ar preocupado da mulher, respondeu-lhe que as coisas se ajeitariam, que não se preocupasse.
Carlos recomendou-lhe que procurasse se divertir.
Laura procurava rir das brincadeiras e piadas que eram ditas a mesa, mas estava com a cabeça na construção dos fundos da casa.
Maximiliano também percebera isto.
Laura praticamente não tocara na comida.
Ludmila ao término do almoço, percebendo isto, comentou que ela não havia comido direito.
Laura respondeu que não sentia fome.
Maximiliano comentou com a fazendeira, que a mulher, sempre que ficava nervosa ou ansiosa com algo, perdia o apetite.
Ludmila respondeu que mais tarde prepararia um lanche para ela.
Maximiliano e Felipe, comentaram rindo que ela havia ganhado mais uma mãe.
Mais tarde, a mulher ligou para a filha. Perguntou-se haveria problema em se ausentar por alguns dias da faculdade.
Júlia indagou-lhe o por quê da pergunta.
Laura então explicou-lhe que havia localizado Dandara, e que havia uma pessoa que precisava muito conhecê-la.
Com isto, explicou que havia se entendido com sua mãe biológica.
Júlia, com presteza, respondeu-lhe que sim.
Mencionou que pegaria o carro e rumaria para lá.
Laura recomendou-lhe que tivesse cuidado.
Pediu que visitasse os avós.
Nisto, perguntou a fazendeira se poderia convidá-los para a festa.
Ludmila concordou.
Laura então, pediu a filha, que convidasse os avós para uma visita a fazenda.
Explicou-lhe o caminho. Recomendou-lhe que se tivesse dúvidas, poderia ligar para o telefone existente na fazenda.
Forneceu o número.
Também disse que poderia contatar a ela ou Maximiliano pelo celular.
Rindo, Júlia respondeu-lhe que não precisava se preocupar.
Laura então, disse-lhe que tivesse algum problema em convencer os avós a se dirigirem a fazenda, que contasse que iriam se encontrar com ela e a família.
Júlia respondeu que o faria.
Minutos depois, a mulher desligou o telefone.
A fazendeira ao entender a estratégia da mulher, comentou que ela era deveras inteligente.
Orgulhosa, falou que aquela característica era dela.
Ludmila comentou que Lúcio tinha uma grande capacidade de tirocínio, mas não foi capaz de se evadir da fazenda enquanto teve oportunidade.
Arriscou-se demais.
Ao dizer isto, os olhos da mulher encheram-se de lágrimas.
Emerson ficou incomodado.
Henrique e André, por sua vez, começaram a falar sobre amenidades.
Mais tarde, Ludmila providenciou um almoço para Dandara.
Como Cláudio questionasse o comportamento da moça, a fazendeira explicou-lhe que Laura era a mãe de Dandara, e que as duas não vinham se entendendo há algum tempo.
Cláudio ao saber da história, conversou com Laura.
Disse que a Dandara que conhecia, nem de longe lembrava a moça que ela era.
Cláudio comentou que a moça se vestia de modo discreto. Que era até elegante.
Ludmila comentou que a moça aprendeu a cozinhar, a cuidar de uma casa. A costurar.
Laura ficou perplexa.
Comentou que haviam trocado a filha dela.
Mais tarde, a moça se apresentou na sede da fazenda.
Pediu para conversar a sós com a fazendeira.
Ludmila atendeu-a.
Recebeu a moça em seu escritório.
Lá, conversaram sobre a disposição da moça em partir.
A fazendeira comentou que não sabia de nada.
Disse que só descobriu que ela era sua neta, ao ver a filha diante de si, e depois de conversarem muito. Feliz, disse que isto explicava tanta afinidade.
Comentou que Laura estava disposta a conversar com ela, a ouvir seu ponto de vista.
Mencionou que a mulher, com a sua autorização, convidou os outros avós da moça para se dirigirem a fazenda.
Em tom amistoso, contou que havia uma festa junina para acontecer, e que gostaria de ver todos reunidos. Comentou que não sabia quanto tempo ainda viveria, e que gostaria de ter a alegria de vê-los todos juntos, ao menos uma vez.
Dandara, sem jeito para recusar um pedido da então avó, abraçou-a.
Chorando, ouviu o relato da senhora sobre a origem de Laura.
Algum tempo depois, mãe e filha conversaram.
Ludmila participou da conversa.
Em dado momento, revelou que o nome de batismo de Laura era Odara.
Surpresa, a mulher perguntou sobre a mudança do nome.
Ludmila respondeu que isto era necessário para garantir sua segurança.
Rindo, comentou que mesmo sem saber, havia batizado a filha mais velha de Dandara.
Ludmila respondeu que aquele encontro já estava previamente traçado, e que o fato das duas serem mãe e filha, não era por acaso.
Comentou que também não fora por acaso que Laura retornara para sua vida.
Emocionada, a mulher comentou que já não acreditava mais que encontraria a filha.
Dandara então compreendeu tudo. Percebeu que a tal filha ausente era sua mãe.
Laura, ao ver a filha tão arrumada, elogiou-lhe o talhe.
Segurando suas mãos, comentou que ela estava muito linda.
Dandara gostou do elogio.
Comentou que ela nunca havia elogiado sua aparência antes.
Laura concordou.
Disse ainda que suas roupas não a ajudavam a mostrar sua beleza.
Nisto a mulher perguntou se havia cortado o cabelo.
Ludmila respondeu que a levou a um salão, para fazer um pequeno corte.
Comentou que a moça não deixou mudarem a cor do cabelo.
Laura comentou que nem tudo era perfeito.
Dandara reclamou:
- Estavam demorando as críticas! Não é mesmo Dona Laura? Quer dizer, Odara.
Laura perguntou a Ludmila por que escolhera um nome tão exótico.
Ludmila respondeu que atribuíra-lhe o nome de Odara, por motivos semelhantes aos dela.
Nisto, a fazendeira comentou que Dandara não era um nome muito comum.
Ludmila completou dizendo, que considerava Odara, um nome forte.
Laura, por sua vez, disse que gostou de uma música que falava em uma Dandara. Achou um nome, bonito, sonoro.
Ludmila comentou que conhecia a música, e que Dandara atendia as descrições da música.
Brincando, disse que a música parecia ter sido feita para ela.
Comentou que a esposa de Zumbi dos Palmares, chamava-se Dandara. Nome de guerreira.
Laura comentou que quando a primeira filha nasceu, queria um nome diferente, especial.
Com isto, depois da moça explicar-se, Laura abraçou-a.
Emocionada, comentou que nunca imaginou encontrar a filha bem.
Contou que Dandara a surpreendera. Estava diferente, e não era só na aparência.
Ludmila comentou que a moça, que a filha descrevera, não se parecia nem um pouco com a jovem que conhecera.
Curiosa, a fazendeira perguntou se a moça havia aprontado tudo o que sua mãe, falara.
Dandara respondeu dizendo que já fez coisa muito pior.
Laura pediu-lhe desculpas.
Disse que errou procurando educá-la. Comentou que não era fácil lidar com ela.
Dandara, ao observar a avó, inclinou-se para abraçar a mãe.
Chorando, pediu-lhe desculpas.
Ludmila afastou-se então.
Percebeu que as mulheres precisavam ficar a sós.
Depois de meia-hora, a mulher retornou ao escritório.
Bateu na porta.
Perguntou se não gostariam de comer algo.
Ludmila havia preparado uma bonita mesa para o lanche da tarde.
A família aproveitou para conversar.
No dia seguinte, todos seguiram para uma cavalgada.
Quando Laura viu a destreza de Dandara sobre o cavalo, comentou que quem a visse em cima do animal, pensaria que não fizera outra coisa em sua vida.
Dandara então, comentou que pretendia ficar na fazenda.
Maximiliano ao ouvir as palavras da filha e a expressão da esposa, ficou apreensivo.
Laura por sua vez, tentando não criar novos atritos, comentou que mais tarde conversariam sobre o assunto.
Assim, todos passearam a cavalo.
Ludmila mostrou aos parentes os lugares que mais gostava da fazenda.
À filha, mostrou o lugar onde conhecera Lúcio.
Laura prometeu a ela que iria investigar a morte do pai. Prometeu a mulher, que descobriria onde estava seu corpo.
Ludmila disse-lhe que não precisava se preocupar com isto.
Laura respondeu-lhe que se tratava de uma questão de honra. Argumentou que aquela história fora interrompida, e que precisava ligar os fios que foram cortados.
Chorando, Ludmila abraçou a filha.
Os demais parentes, distantes, não ouviram a conversa.
Dois dias depois, Júlia apareceu na fazenda, acompanhada de Antunes e Rosália, Zélia e Olavo.
Diante da reunião da família, vieram também os tios Antonio e Vicente, e suas famílias.
Júlia, ao notar que todos queriam ir até a fazenda, ligou para a mãe perguntando se não haveria problemas.
Laura por sua vez, perguntou a Ludmila, se os irmãos de criação também poderiam acompanhá-los.
A fazendeira não se opôs.
E assim, Júlia trouxe uma pequena comitiva.
Ao chegarem na fazenda, foram recepcionados pelas criadas, que já o aguardavam.
Minutos depois, Ludmila e a parentalha adentraram a casa.
Zélia e Olavo, ao notarem que Júlia seguia em direção a fazenda em que moraram, perguntaram se ela sabia em que direção deveria seguir.
Ao ouvir isto, Júlia respondeu que estava seguindo as indicações feitas por sua mãe.
Apreensiva, Zélia comentou com Olavo que ela havia se encontrado com Ludmila, e que provavelmente haviam se entendido.
Olavo retrucou dizendo que isto era muito bom.
Afinal, já não sem tempo. Com isto, argumentou que aqueles desentendimentos deveriam acabar.
Zélia contudo, não concordava.
Antonio e Vicente por sua vez, comentaram que Laura tinha muitas histórias mal resolvidas, e que precisava aparar suas arestas, se queria viver em paz.
Olavo, concordando com as palavras dos filhos, perguntou a mulher se ela não queria a felicidade da filha.
Zélia calou-se então.
Júlia atônita, ao perceber a pequena confusão, parou em um posto.
Somente quando os ânimos serenaram, retomou a estrada.
Quando chegaram a fazenda, assim que encontrou a mãe e teve tempo para conversar a sós com ela, comentou sobre o incidente.
Laura desculpou-se então com a filha, dizendo-lhe que imaginou que aquilo aconteceria.
Contudo, não poderia alertá-la sobre o fato, sem prejuízo de longas explanações. Argumentou que tais explicações não poderiam ser dadas por telefone.
Júlia ouviu as palavras da mãe.
Ao término da explanação, a moça compreendeu os motivos de Laura.
Brincando, disse que ela estava desculpada.
Zélia e Olavo ao verem a filha, a abraçaram.
O homem cumprimentou a fazendeira.
Perguntou como ía.
Sorridente a mulher respondeu que estava muito bem.
Zélia por sua vez, não gostou de ver a fazendeira, mas diante da insistência do marido, que a olhava com olhar de reprovação, cumprimentou a mulher.
Rosália e Antunes, foram muito simpáticos com a fazendeira.
Mais tarde, tomaram conhecimento de que a mulher era a mãe biológica de Laura.
Entenderam as reservas de Zélia em relação a fazendeira.
No dia seguinte, após os preparativos a festa começou.
Laura, e os demais convidados ajudaram na preparação dos comes e bebes.
Laura, Zélia, Rosália, as esposas de: Henrique – Fernanda, Carlos – Clara, André – Marlene, Antonio – Iara, e Vicente – Joana, além de Isaura, Elisa e Carla, participaram da preparação da festa.
Isaura foi convidada por Júlia para se dirigir a fazenda.
Dias depois, a mulher apareceu por lá, para alegria de Dandara e Júlia.
Tudo com a anuência de Ludmila, claro.
Nisto, Dandara e Cláudio saíram para cavalgar.
Emerson os acompanhou até certa parte do caminho.
Ives seu irmão, resolveu seguir para outro lugar.
O moço estava acompanhado, dos primos: Rogério e Andréia – filhos de Carlos; Margarida e Amanda – filhos de André; Sérgio e Francisco – filhos de Antonio; além de Valéria e Mateus – filhos de Vicente.
Zélia e Olavo, seus filhos e netos, além das noras, juntamente com Rosália e Antunes, ficaram abrigados na construção aos fundos da sede.
Dandara por sua vez, estava no quarto em que os pais estavam.
Depois de conversar com a neta, a mulher acabou convencendo-a ficar no mesmo quarto que os pais.
Júlia também ficou com Laura e Maximiliano.
As irmãs ao se verem, abraçaram-se.
Conversaram animadas.
Júlia elogiou a aparência da irmã.
Ficou igualmente impressionada com sua mudança de comportamento.
Dandara estava de fato mudada.
Mais tarde, a moça ensinou a irmã a cavalgar.
Júlia contudo, tinha medo de montar.
Razão pela qual Ives a auxiliou na tarefa.
Um dos peões da fazenda, ao perceberem que a moça iria cair da montaria, acorreu em seu socorro.
Acabaram por ficar amigos.
Clodoaldo era seu nome.
O moço segurou a jovem, impedindo que ela caísse.
Ives por sua vez, tentou socorrer a jovem mas o peão foi mais rápido.
Júlia, ao se perceber amparada, pediu para que o jovem a ajudasse a descer do animal.
Clodoaldo atendeu ao pedido.
Ives por sua vez, tentando acalmá-la, disse que fora apenas um susto, e que cavalgar era muito bom.
Júlia por sua vez, argumentou que nunca mais chegaria perto de um cavalo.
Dandara, ao ver o incidente à distância, acorreu em sua direção. Perguntou se estava tudo bem, se havia se machucado.
Como Júlia dissesse que estava tudo bem, a moça tranqüilizou-se.
Contudo, brincando com Ives, Dandara disse que não queria seu anjo loiro machucado.
Todos riram.
Clodoaldo, que estava por perto, comentou que ela realmente parecia um anjo, com seus cabelos cacheados.
Mais tarde, todos se afastaram.
Cláudio curioso, perguntou de onde ela tinha tirado a expressão anjo loiro.
Rindo, Dandara comentou que ouvira uma música sertaneja que falava de um anjo loiro de cabelos cacheados.
Disse ter ouvido a canção, nos discos que Ludmila tinha.
De vez em quando, a mulher ligava o toca discos e ficava ouvindo antigas canções sertanejas.
O moço por sua vez, ao ouvir a moça, começou a cantar um trecho da música.
Dandara comentou que era aquela música.
Elogiou a voz do rapaz.
Brincando, disse que ele tinha muitos predicados.
Cláudio por sua vez, comentou que não sabia que ela se interessava por este tipo de música.
Dandara redargüiu dizendo que ele não sabia muita coisa sobre ela.
Cláudio respondeu que gostaria de conhecê-la melhor.
Nisto a moça sugeriu fazerem uma corrida, para chegarem mais rapidamente ao lago.
E assim foi.
Cláudio, não querendo deixar por menos, a acompanhou.
Ao chegarem no local, o moço comentou que ela estava muito agitada.
Dandara respondeu-lhe que sempre fora agitada.
Cláudio comentou que ao conhecê-la, julgou-a calma e centrada.
Dandara achou graça nas palavras do rapaz.
Cláudio falou então, que ela se escondia em uma máscara de rebelde, mas que ela não era nada daquilo.
Era apenas, uma pessoa que ansiava ser compreendida.
O moço, aproximando-se da jovem, comentou que podia entender sua angústia, pois já sentira algo parecido.
Com isto, relatou que por diversas vezes, sentiu-se inadequado, por gostar de coisas que a maioria das pessoas não curtem.
Dandara respondeu que nunca imaginou que encontraria uma pessoa que lhe diria aquelas palavras. Colocando a mão no rosto do rapaz, comentou que ele era uma pessoa especial, e que a mulher que se relacionasse com ele, teria muita sorte.
Cláudio sorriu.
Dandara então, aproximou-se do lago. Agachou-se.
Embevecida, relatou que não se cansava de olhar para aquelas águas calmas, aquele sol dourando as águas. Comentou que nunca em sua vida, apreciara uma paisagem tão bonita quanto aquela da fazenda.
Cláudio sorriu.
Comentou que ela estava se saindo uma legítima caipira.
Dandara achou graça.
Relatou que nunca vivera no campo, e que até chegar a fazenda da avó, a qual não sabia ser sua parente, não tivera quase contato nenhum, com aquela realidade.
Curioso, o moço perguntou se estava gostando daquela vida.
Dandara respondeu-lhe que sim. Disse que nunca se sentira tão leve, tão solta, e tão livre.
Emocionada, comentou que buscou aquela sensação de paz, por muito tempo.
Cláudio completou dizendo, que a natureza acalmava mesmo, trazia paz.
Comentou que gostava muito daquilo tudo. Contou sobre os tempos em que vivera na fazenda.
Com isto, sentou-se ao lado da moça.
Recomendou-lhe que se sentasse, ou ficaria cansada.
Dandara sentou-se.
Cláudio segurou a mão da moça.
Por alguns minutos, ficaram observando o lago.
Dandara sorria para ele.
Mais tarde, caminharam ao redor do lago.
A moça comentou que o lugar era o cenário propício para um encontro como o de Ludmila e Lúcio.
Cláudio só lamentou o desenlace.
Mas ponderando, argumentou que se assim não fosse, Ludmila não teria se casado com seu avô, não teria tido Henrique, Carlos e André, e portanto, ele não existiria.
Dandara discordou.
Argumentou que provavelmente ele existiria sim, mas que provavelmente não seria a pessoa que era.
Cláudio ficou confuso, mas ao perceber o adiantado da hora, comentou que precisavam voltar a fazenda pois se aproximava o horário do almoço.
Argumentou porém, que retomariam o assunto.
E assim, montaram em seus cavalos e retornaram a sede.
Júlia por sua vez, ficou nas cocheiras.
Ficou conversando com Clodoaldo e Ives.
Simpática, a moça ficou sabendo que o peão sempre vivera em fazendas.
Clodoaldo tinha adoração pelo trabalho que executava.
Falava do cuidado com os animais, quase todo o tempo.
Ives por sua vez, dizia gostar de cavalos, mas pouco sabia do cuidado que exigiam.
Comentou que vivera na fazenda, mas nunca se interessou pelo assunto. Dizia que sua vida estava na cidade. Muito embora gostasse de uma boa estada no campo.
Júlia comentou que adorava ler, e que gostava da vida na cidade.
Relatou porém, que a fazenda era muito bonita, que os animais estavam muito bem cuidados, e que de vez em quando, visitava os avós em seus sítios.
Razão pela qual, aquele cenário não era uma completa novidade para ela.
Considerou porém, que viver naquele cenário, devia ser bem diverso do que fazer um passeio.
Ives concordou.
Clodoaldo por sua vez, ficou lisonjeado com os elogios da moça, para com os cuidados com os animais.
No dia seguinte, Ives, após muita insistência, acabou convencendo a moça a cavalgar.
Júlia tentou resistir aos apelos, mas diante de Dandara, acabou convencida.
A moça disse a irmã caçula, que parecia assustador, mas que assim que pegasse o jeito iria adorar.
Dandara ficou a incentivar a moça a cavalgar.
Cláudio também ajudou na tarefa.
Por fim, a moça estava trotando com o animal.
Ives acompanhou-a no passeio.
Mostrou-lhe as belezas da fazenda.
Júlia ficou encantada com as dimensões da propriedade.
Ives comentou que poderiam ficar dias cavalgando, para conseguir percorrer toda a propriedade.
Júlia falou que nunca havia visto tanta terra em sua vida.
Dandara e Cláudio por sua vez, retomaram o assunto das existências e probabilidades de ser ou não. E de que forma seriam.
Contudo, não chegaram a nenhuma conclusão.
Cláudio insistia na idéia de que se não nascesse de Fernanda e Henrique, não existiria.
A moça por sua vez, argumentava dizendo que ele poderia sim, ter nascido de outras pessoas, mas que não seria o mesmo ser.
Neste ponto, Cláudio dizia que se não seria a mesma pessoa, então seria outro, e portanto, não seria ele.
Dandara ao ouvir as palavras do moço, começou a rir.
Disse que o argumento era muito maluco.
Rindo, comentou que depois ela era considerada a doida.
Cláudio começou a rir também.
Nisto o moço abraçou a jovem.
Neste momento, a garota parou de rir.
Cláudio e Dandara ficaram a se observar.
O moço então tomou a iniciativa e beijou a moça.
Dandara correspondeu.
Júlia por sua vez, em seu passeio com Ives, ficou encantada observando a paisagem.
Ao voltarem a sede da fazenda, a moça levou o cavalo que lhe servira de montaria para a cocheira.
Lá, avistou Clodoaldo, com quem ficou a conversar por algum tempo.
Ives por sua vez, estava incomodado com a amizade entre Júlia e o peão.
Cláudio ao perceber o olhar aborrecido que o irmão direcionava a dupla, aconselhou-o a ser mais direto com Júlia, pois ela não estava percebendo seu interesse.
O moço, ao ouvir as palavras do irmão, ficou aborrecido.
Comentou que ele estava imaginando coisas.
E assim, Ives deixou o moço falando sozinho.
Cláudio e Dandara por sua vez, estavam cada vez mais próximos.
Ludmila acabou percebendo que a dupla estava se entendendo.
Laura ficou um pouco incomodada.
Comentou que eles eram primos. Argumentou que aquilo poderia não ser conveniente, nem apropriado.
Ludmila redargüiu dizendo que tudo aquilo era bobagem. Comentou que se houvessem proibições, o casal ficaria ainda mais unido. Disse que se eles tivessem que ficar juntos, ficariam, a despeito da oposição de todos.
Contudo, se aquilo fosse passageiro, o interesse diminuiria e cada um seguiria para seu lado.
Laura então, prometeu não tomar partido da questão.
E assim, naquela manhã, no dia da festividade, a área próxima a sede da fazenda amanheceu toda enfeitada de bandeirinhas.
Animada, Ludmila respondeu que Dandara auxiliou na confecção das bandeirinhas.
Laura ficou surpresa.
Argumentou que nunca imaginou a filha tão prendada.
Brincando, Cláudio respondeu que ela já podia até casar.
Laura ao ouvir as palavras, comentou que ainda era muito cedo.
Argumentou que ela não havia terminado os estudos, e que a faculdade estava esperando por ela.
Dandara por sua vez, respondeu que não voltaria para a cidade.
Laura argumentou que ela não poderia abandonar os estudos.
Ludmila percebendo que iria se iniciar uma discussão, disse que aquele assunto seria discutido mais tarde, e que agora era momento de festividade e comemoração.
Laura concordou.
Mas argumentou que o assunto não morrera e que queria que a moça tivesse um diploma.
Dandara observou-a contrariada.
Nisto, prosseguiram os preparativos.
Foram montadas mesas para receberem os comes e bebes, preparados dias antes.
O lugar também foi enfeitado com balões feitos com papel de seda.
Música sertaneja, principalmente as canções de raiz, foram ouvidas por dias a fio, inclusive durante os preparativos da festa.
Dandara procurava prestar atenção nas letras das canções.
Geralmente canções tristes.
Ludmila sentia saudades, muitas saudades ao ouvir as canções.
Dandara percebia isto.
A mulher respondeu que muitas daquelas canções permearam sua vida.
Argumentou que desde que se casara com Antenor, sua vida mudara muito.
Emerson, contou que sempre vivera na fazenda, e que aquelas canções sempre o tocaram muito. Comovido, comentou que algumas delas, fazia recordar de antigos relacionamentos, namoros, e que muitas lembravam do tempo em que conhecera Ludmila. Contou que muitas daquelas canções faziam parte de sua relação com a esposa.
A fazendeira concordou.
Laura por sua vez, comentou que fazia tempos que não ouvia música sertaneja.
Relatou porém, que durante o tempo em viveu em fazenda, ouvia muito as canções.
Maximiliano respondeu que nunca deixou de gostar daquelas canções.
Todos trocaram suas impressões sobre aquele universo.
As tardes e as noites em que a família se reunia para conversar, eram muito agradáveis.
Tanto, que até mesmo os avós de Dandara e Júlia, passaram a interagir.
Zélia chegou a trocar algumas palavras com a fazendeira.
Durante a festa, as mesas estavam repletas de pés-de-moleque; marias-mole; cocadas; pipoca doce e salgada; quentão; vinho quente; ponche; pamonha e cural; bolo de milho; caldo verde; cachorro quente; carne louca; doce de leite e paçoca; refrigerantes; milho verde; pães. Além de churrasco e maçãs do amor. Havia também algodão doce e suspiro; além de doce de geléia; arroz doce; canjica; sagu; doce de abobora e cocadas.
Fernanda, Clara, Marlene, Iara e Joana, comentaram que estavam engordando, só de olhar para todas aquelas gostosuras.
Ludmila por sua vez, comentou que todos poderiam comer tudo o que tivessem direito.
Depois iriam se preocupar com a balança.
Cuidadosa, preparou até uma fogueira para a ocasião.
Os netos iriam dançar a quadrilha. Para tanto, foram devidamente ensaiados para a ocasião.
A princípio, todos reclamaram.
Mas depois, passaram a se divertir com a idéia.
A fazendeira providenciou roupas juninas para os netos.
Sérgio e Francisco, Valéria e Mateus, que não eram netos de Ludmila, perguntaram se poderiam participar da festa.
A mulher respondeu-lhe que todos ali seriam tratados como netos, e que não haveria nenhuma distinção.
Resultado, uma quadrilha com: Cláudio e Dandara; Júlia e Ives; Rogério e Andréia; Valéria e Mateus. Sérgio e Francisco dançariam com Margarida e Amanda.
Enfim a festa estava animada.
Todos se divertiam.
Até os colonos participaram.
Na fazenda, havia cerca de vinte famílias ainda morando no lugar.
Os netos dançaram a quadrilha.
Olha a cobra!
É mentira!
Anavam!
Anarriê!
Todos aplaudiram a apresentação.
De brincadeira, foi celebrado um casamento na roça.
Cláudio e Dandara foram os noivos.
A jovem usava um vestido de noiva estilizado.
Todos usavam chapéus de palha desfiados.
Os homens usavam calça com remendo xadrez e camisa xadrez.
As moças trajavam vestidos de chitão.
Dandara usou dois vestidos na festa.
Durante a brincadeira do casamento, vestiu o tal vestido de noiva estilizado.
No restante da festa, um vestido florido, de chitão.
Tudo idéia de Ludmila.
A fazendeira, auxiliada pelo marido, tirou fotos da festa, dos passeios da família a cavalo.
Elisa e Carla também se divertiram.
As demais empregadas que trabalhavam na sede da fazenda também.
Todos estavam felizes.
A festa durou toda a madrugada.
Razão pela qual as pessoas acordaram tarde no dia seguinte.
A festa foi assunto da família por dias.
Nos dias que se seguiram, os convidados e familiares de Ludmila continuaram a passear pela fazenda.
A fazer passeios a cavalo.
Em dado momento, Ives se desentendeu com Clodoaldo.
Quando o filho de Henrique viu o peão se aproximando de Júlia mais uma vez, resolveu tomar satisfações.
Irritado, Ives começou a empurrar o moço.
Não fosse a intervenção de Cláudio, e os dois teriam partido para a briga.
Emerson também interveio.
Disse aos brigões que não toleraria brigas, e que se aquilo tornasse a acontecer, seria obrigado a despedir Clodoaldo e a pedir a Henrique, que Ives saísse da fazenda. Que o moço voltasse para a cidade, e só tornasse a pisar na fazenda, quando esfriasse a cabeça.
Júlia por sua vez, pediu para que todos se acalmassem.
Disse que não seria necessário tomar medidas tão drásticas, e que se fosse o caso, ela poderia arrumar suas coisas e ir embora.
Cláudio ao ouvir as palavras da moça, disse que não seria justo ela ir embora da fazenda.
Dandara completou dizendo que não fora ela a causadora da briga.
Emerson disse que ela não precisava partir.
Comentou que havia gostado muito, de conhecer suas duas netas tortas.
Júlia e Dandara sorriram.
Nisto o homem mandou os dois rapazes se dispersarem.
Comentou que eles estavam proibidos de se aproximar.
Ives e Clodoaldo então, seguiram cada qual para um lado.
Ao ver os rapazes se afastando, Dandara comentou que Emerson era um tanto bravo.
Cláudio, e os outros netos, além de Sérgio, Francisco, Valéria e Mateus, começaram a rir.
Mais tarde, todos foram passear a cavalo pela fazenda.
Dandara e Júlia ficaram juntas.
Aproveitaram para conversar.
Júlia dizia não entender o comportamento do rapaz.
Falava que Ives havia surtado, e que Clodoaldo não estava fazendo nada de mais.
Dandara perguntou se não estava mesmo.
Júlia, perplexa, respondeu que não.
Argumentou que Clodoaldo só estava tentando ser simpático.
Dandara perguntou-lhe então, se o peão não poderia estar interessado nela.
Júlia respondeu que não.
- Por que não, minha irmã? Afinal de contas você é tão linda! Por que não?
Insistiu Dandara.
Júlia ficou sem palavras.
Nisto, a conversa se findou.
As moças permaneceram caladas.
Juntas, apearam do cavalo, e ficaram a contemplar a paisagem.
Caladas.
Em dado momento, Dandara abraçou a irmã.
Júlia se aconchegou nos braços da irmã.
Ao retornarem a fazenda, disseram que haviam sentido falta, uma da outra.
Dandara ficou visivelmente emocionada.
A moça comentou que da família, fora ela quem mais lhe fizera falta.
Disse que nunca conseguiu entender a mãe, mas que Júlia a entendia perfeitamente, e a aceitava do jeito que ela era.
Doidivanas, inconseqüente.
Júlia retrucou dizendo que ela não era nada daquilo.
Se o fosse, ela não conseguiria permanecer tanto tempo em um lugar plácido como aquele.
Júlia comentou que ela estava mudada. Que havia se tornado outra pessoa.
Dandara achou graça nas palavras da irmã.
Rindo, as duas jovens se encaminharam para a sede da fazenda.
Deixaram os cavalos aos cuidados de Clodoaldo.
Júlia conversou com o peão.
Pediu-lhe desculpas pelo incidente. Disse que não havia entendido a reação de Ives.
Dandara, percebendo que eles precisavam ficar a sós, afastou-se.
Cinco minutos depois, Júlia se aproximou de Dandara.
Caminharam em direção a sede da fazenda.
Recordaram as brincadeiras da infância.
Ao adentrarem a sede, conversaram com Laura, que falou sobre sua infância.
A mulher comentou que Zélia não a deixava brincar com as outras crianças, estava sempre a usar roupas arrumadas. Comentou que estava sempre bem vestida e que não podia amassar as vestes.
Dandara comentou que sua infância devia ter sido deveras triste.
Laura respondeu que foi muito podada em sua infância, e que só foi gozar de alguma liberdade, quando passou a estudar em um colégio interno.
Dandara achou irônica a circunstância.
Maliciosa, perguntou se a mãe não aproveitava para fugir do colégio, encontrar-se com rapazes.
Laura respondeu que não.
Acrescentou porém, que quando havia folgas, aproveitava para circular pela região.
Nisto, a pedido das filhas, falou de seu casamento com Maximiliano, dos tempos em que viveram juntos em uma fazenda.
Das cavalgadas que faziam.
A mulher comentou sobre a partida da fazenda; os encontros com Ludmila - quando ela se fazia passar por Luzia -; os tempos em que viveu na capital; o tempo de luta; o reencontro com Max.
Dandara, ao ouvir o relato da mãe, comentou que a história se repetira.
Ludmila precisou entregá-la para que outra família a criasse, e ela também deixou para trás sua família, a de criação, e a que havia acabado de formar.
A moça falou, que seu pai deve ter sofrido muito com o abandono.
Laura respondeu que sabia disto. Confessou que não acreditava que um dia ele a perdoaria.
Júlia, percebendo o ar pesaroso da mãe, comentou que aquele não era o momento para se criticar sua atitude.
A jovem argumentou que se a mãe agira daquela forma, foi por que acreditou que aquela era a única alternativa que tinha, afinal de contas, devia estar muito transtornada.
Tentando argumentar com Dandara, disse que devia ter sido difícil descobrir parte da verdade que cercava sua história, e de forma tão repentina.
Dandara calou-se então.
Júlia, com efeito, se encantou com a história de vida da mãe.
Comentou que sua vida daria um lindo romance, assim com a história da avó, que acabou por conhecer.
Ciente do desaparecimento do avô, perguntou a mãe se não seria possível localizá-lo.
Laura respondeu que para isto, teria que ter acesso aos arquivos do tempo da ditadura.
Júlia por sua vez, insistiu.
Argumentou que precisavam descobrir o paradeiro do Lúcio, e o que havia acontecido.
Laura prometeu que iria investigar o caso.
Mencionou que isto fazia parte de sua história, e que era questão de honra saber o que ocorrera.
Nisto, as três mulheres se abraçaram.
Mais tarde, Laura conversou com Emerson.
O homem comentou que há anos investigava o caso. Havia até contratado detetives, para tanto.
Contudo, pouco havia descoberto sobre o que acontecera ao jovem.
Laura desapontada, comentou que precisava saber a verdade.
Prometeu que moveria céus e terras, mas descobriria a verdade, descobriria onde o pai biológico havia sido enterrado.
Emerson se prontificou em ajudá-la na tarefa.
Dias mais tarde, Laura se despediu da mãe, disse que precisava voltar para a capital.
Argumentou que tinha negócios para resolver, e que não podia deixar tudo nas mãos dos empregados, por mais competentes que fossem.
Ludmila mesmo desapontada, concordou.
Disse que de fato era o olho do dono que engordava o gado.
Com isto, Laura, Max, suas filhas, Zélia, Olavo, Vicente e Antonio com suas famílias, além de Rosália e Antunes se despediram.
Dandara resistiu a idéia de retornar a capital.
Queria ficar na fazenda. Argumentava que ali era seu lugar.
Ludmila, ao perceber o interesse da neta pelo lugar, comentou que ela precisava se preparar para cuidar de tudo aquilo.
Precisava estudar, pois a vida no campo não era mais a mesma que conhecera quando moça.
Argumentou que ela precisava se especializar, cursar uma faculdade, fazer cursos. E assim, vivenciar a prática.
Diante dos argumentos da avó, Dandara acabou concordando em voltar a capital.
Prometeu contudo, voltar.
Ludmila comentou que a esperaria de braços abertos.
Com isto, as duas mulheres se abraçaram.
Mais tarde, a jovem se despediu do restante da família.
Com Cláudio, conversou reservadamente.
O moço comentou desolado, que também precisaria retornar a cidade.
Mencionou porém, que assim que terminasse os estudos, voltaria para a fazenda, e desta vez, para não mais sair de lá.
Dandara prometeu que também retornaria.
Com isto, combinaram que quando ela voltasse, ele estaria esperando por ela, e que abriria a porteira da fazenda para ela passar.
Dandara riu da brincadeira.
E assim, partiu.
A despedida foi triste.
Ludmila sentia a falta de todos, antes mesmo que partissem.
Antes porém, de retornarem a capital, Laura e família foram intimados a passarem alguns dias nos sítios de Zélia e Olavo, e Rosália e Antunes.
A mulher, não querendo contrariar os pais e os sogros, prometeu ficar dois dias em cada uma das propriedades.
Laura e Dandara conversaram nestes dias.
Júlia também.
Dedicada, a moça aproveitava para estudar um pouco.
Dandara ao ver a irmã em volta a livros jurídicos, criticou-a. Perguntou-lhe se não estava de férias da faculdade.
Júlia respondeu que não podia descuidar dos estudos.
Maximiliano ao ver Dandara criticando a irmã, comentou:
- Esta menina não tem jeito!
Todos riram do comentário.
Antes de partir da fazenda, a moça conversou com Felipe.
O homem, procurando se explicar, disse que tivera fortes razões para dizer a seus pais onde estava.
Pesaroso, comentou que era muito ruim conviver com fantasmas, e que estava tentando se libertar dos seus.
Disse-lhe que não agüentava mais viver do passado, com saudades do tempo em que cuidava de sua empresa, e que agora vivia dos encontros com poucos amigos dos tempos de faculdade. Faculdade de Direito.
Lamentava que quase todos já haviam morrido, e que se sentia cada vez mais sozinho.
Dandara ficou chocada com as palavras do homem.
Disse-lhe que não estava sozinho.
Sorrindo, o homem lhe disse que era deveras gentil, mas que isto não mudava o fato de que sua vida estava se esvaindo, que o tempo estava acabando, e que precisava aparar arestas o quanto antes.
Contou sobre Miriam e sobre Carina, sua descendente.
Falou de Maria Rosa e Mário Oliveira Prates, de Mirtes e Henrique. Comentou que descobriu a história de todas estas pessoas em arquivos de jornais da capital.
Disse que a moça, que Miriam, fora seu primeiro amor, seu amor de infância.
Sorridente, contou a viu caminhando pelas ruas da cidade há algumas décadas atrás.
Estava triste, abatida, desalentada. Nem de longe lembrava a mesma moça bela e cheia de vida que conhecera em sua infância.
Mencionou que a reconheceu quando alguém gritou seu nome e lhe perguntou se ainda se apresentava no circo.
Felipe então gritou seu nome.
Contudo a mulher não respondeu. Apertou o passo, e seguiu seu caminho.
Contudo, lançou um rápido olhar ao homem que primeiramente a chamara, que a observava atônito.
Dandara se comoveu com a história.
Disse-lhe beijando seu rosto, que o entendia.
Imaginou a cena, com todos os detalhes.
Felipe por sua vez, disse sorrindo que sabia que havia sido desculpado.
Abraçaram-se.
Nisto, o homem se despediu da fazendeira.
Seguiu de carro até a rodoviária da cidade próxima. De lá seguiu de ônibus para a capital.
Dandara por sua vez, sugeriu que o homem acompanhasse sua família e seguissem viagem juntos.
Felipe contudo, argumentou que precisava ficar um pouco sozinho. Agradeceu a gentileza aceitando a carona até a rodoviária. Depois, seguiu viagem sozinho.
Isaura também se despediu de Laura, Maximiliano e as garotas, e seguiu viagem sozinha.
Partiu dias antes, antecipando a todos.
Enquanto isto, na fazenda de Ludmila, os filhos da mulher continuavam na propriedade.
Cláudio e Ives aproveitavam para cavalgarem.
Conversavam sobre a vida, as primas.
Cláudio comentou, que estava gostando de Dandara.
Ives por sua vez, dizia que Júlia parecia interessada em Clodoaldo.
Cláudio, ao ouvir o comentário do irmão, aconselhou-o a conversar com Júlia e lhe contar o que estava sentindo.
Recomendou-lhe sinceridade.
O moço, preocupado, comentou que ela poderia não estar interessada nele.
Seu irmão, aconselhou-o a arriscar.
Disse que ele poderia ter uma surpresa.
Ao ouvir isto, Ives sorriu.
Dias depois, os outros filhos e suas respectivas famílias, se despediram.
Ludmila ficou arrasada.
Comentou que fazenda ficaria triste e silenciosa novamente.
Henrique então, conversando com a mãe, disse que pretendia voltar a fazenda, e ajudá-la a administrar o patrimônio.
Ao ouvir isto, o rosto da mulher iluminou-se.
Ludmila disse que estava velha e que dali há alguns anos, não estaria mais presente.
Precisava que alguém se interessasse por tudo aquilo.
O homem, ao ouvir as palavras da mãe, censurou-a.
Disse que ainda era muito cedo para se pensar nisto.
Comentou que ela era forte, e que viveria ainda por muitos anos.
Com isto, falou que dali dois anos, estaria de volta a fazenda com sua família.
Partiram.
Ludmila e Emerson então, ficaram sozinhos na fazenda.
Dandara por sua vez, sempre que podia, contatava a avó pela internet.
Nas férias escolares, a moça se encaminhava para a fazenda.
Cláudio também.
Com o tempo, passaram a namorar.
Júlia e Ives, finalmente conversaram.
Aconselhado pelo irmão, o moço contou a jovem que ela era uma pessoa muito especial e que se ela quisesse, gostaria de conhecê-la melhor.
Ao ouvir as palavras do rapaz, a garota sorriu.
Ives, perguntou-lhe então, se poderiam ser namorados.
Surpresa, Júlia respondeu que não esperava ouvir aquelas palavras.
Nervoso, o moço perguntou se ela tinha algum interesse em Clodoaldo.
Júlia espantada, respondeu que não.
Ives por sua vez, alegrou-se com as palavras da moça.
Júlia indagou:
- De onde você tirou isto? Que idéia!
Nisto o moço comentou que ela era sempre muito gentil com o peão.
Júlia argumentou que tratar bem as pessoas era uma questão de boa educação.
Ives concordou.
Rindo, recordou-se das palavras do irmão.
Júlia não compreendeu a reação do rapaz.
Ives então explicou-se.
Comentou que havia sido ridículo, nutrindo ciúmes do rapaz.
Júlia, ao ouvir as palavras do moço, compreendeu o motivo da briga.
- Ah! Quer dizer que agora você entende! – falou o moço.
Com isto, puxou a moça para perto de si.
Insistiu no pedido de namoro.
Júlia comentou que não sabia se queria namorar.
Ives então, procurando convencê-la, disse que poderiam experimentar ficarem, e que se desse certo, poderiam começar a namorar.
Júlia sem graça, começou a rir.
Por fim, concordou.
Beijaram-se.
Dandara e Cláudio, ao avistarem a cena de longe, aplaudiram.
Júlia ficou sem jeito e Ives gritou ao irmão que ele estava certo.
Cláudio respondeu com outro grito:
- Não falei?
Dandara e Júlia não entenderam nada.
Como a relação ficasse sólida, já que estavam sempre juntos quando regressavam a fazenda, todos começaram a crer que aquele ficar, havia se transformado em namoro.
Júlia então, assumiu o namoro.
Depois de se terminar sua especialização na faculdade, o moço passou a morar na fazenda com sua família.
Quatro anos depois, foi a vez de Dandara regressar.
Na capital, iniciou o curso de administração de empresas, aconselhada pelo pai.
Durante este tempo, conviveu com Felipe.
Até seu falecimento, meses antes de retornar a fazenda.
O homem morrera sentado em um banco de praça.
Felipe madrugara.
Vestiu sua melhor roupa e saiu para caminhar pelas ruas da cidade.
Pelo caminho, recebia cumprimentos, os quais retribuía retirando o chapéu que usava.
Sentindo-se mal, foi levado para se sentar em um banco de praça.
Estava lívido.
Neste momento, começou a se recordar da infância, dos tempos em que brincara de desbravador, domador de animais ferozes, da fuga para o circo. De Miriam, Mirtes. Da origem das mulheres. De seu encantamento por Miriam, a beleza da jovem. Seu passado triste.
Foi então que começou a avistar vultos.
Chegou a ver as duas mulheres acenando para ele.
Miriam estava novamente jovem, bela, sorridente.
Ao lado das mulheres, estavam outras mulheres.
Felipe teve a impressão de ouvi-las dizendo que eram Carina e Maria Rosa.
Jovens e belas.
Neste momento, o homem recordou-se de ter visto pinturas de Carina.
Célebre cortesã, famosa por sua história trágica e por ser considera realizadora de milagres depois de morta.
Felipe sentiu serenidade em seu semblante.
A mulher sofrida, parecia ter encontrado a paz.
Ao ver Miriam, comentou que a amara, com sua ternura de criança.
Os circunstantes, ao ouvirem as palavras do homem, acreditaram que o mesmo estava delirando.
Felipe estendeu as mãos para a moça, que desapareceu.
Foi então que o homem se recordou de Irina, lembrou-se da visita em sua casa. De sua herança. De seu sobrinho interesseiro - Adolfo.
Epaminondas parecia acenar-lhe.
O moço recordou-se dos colegas de faculdade, dos momentos alegres que passou ao lado deles.
Chegou a ver vários deles diante de si.
Assustado, o homem acreditou que alucinava.
Reviu os pais, moços. Pediam para que estudasse.
Lembrou dos tempos em que trabalhou com afinco como empresário.
De Leila, adorável mulher com que se casou e teve filhos.
Recordou-se até da jovem com quem se envolvera e quase se casou, antes de encontrar o amor da vida inteira. Seu nome era Cíntia.
Chorou.
Sentiu que sua vida valera a pena.
Nisto, começou a sentir uma profunda dor no peito.
Tentou resistir, mas ao perceber que era chegado o momento da partida, deixou-se levar sem resistir.
Morreu sentado no banco de praça.
Antes de morrer, disse:
- Dandara, seja feliz meu anjo!
Com isto, quando soube da morte do dileto amigo, a moça ficou inconsolável.
Chorou por dias a fio.
Mesmo sendo consolada por Maximiliano, Júlia, Isaura e Laura, Dandara não conseguia se conformar.
Como um amigo tão querido poderia partir daquela forma?
Argumentou que ele nem ao menos se despedira dela.
Quando soube que as últimas palavras do amigo foram dedicadas a ela, Dandara ficou profundamente emocionada.
Compareceu em seu velório.
Conheceu os filhos, netos e bisnetos do homem.
Leila já havia falecido há alguns anos.
Maximiliano e Laura acompanharam a filha.
Dandara fez uma homenagem ao homem, dizendo que ele tivera uma história de vida intensa, e que sua memória não poderia ser esquecida.
Dois amigos dos tempos de faculdade, também compareceram.
Disseram que sem Felipe, o grupo ficava agora, ainda mais reduzido.
Comentaram que eram quase centenários.
Dandara acreditava que morrer era algo muito triste.
Dizia não querer morrer sozinha.
Maximiliano lhe respondeu dizendo que a vida era assim, nascia-se só e partia-se só.
A moça era só lágrimas.
Nisto, quando era chegado o tempo de férias, a moça descobriu que Ludmila estava seriamente adoentada.
Laura havia partido para a fazenda para cuidar da mãe.
Sentia-se em dívida com a mulher e optou em ficar a seu lado.
Neste tempo, Henrique já estava administrando a fazenda.
Fernanda sua esposa, ajudava nos cuidados com a senhora.
Duas enfermeiras cuidavam da fazendeira.
Quando Ludmila soube que Laura iria até a fazenda, a mulher animou-se um pouco.
Dizia que queria estar apresentável para a filha Odara.
Laura por sua vez, contratara os serviços de um detetive particular.
Em anos de investigação, o homem descobriu arquivos onde poderiam estar, os registros referentes a prisão e tortura de Lúcio.
Mencionou porém, que para ter acesso aos arquivos, talvez precisasse ingressar com ação judicial.
Laura por sua vez, tomou todas as medidas legais cabíveis.
Constituiu advogado e ingressou com uma ação, com vistas à exibição dos documentos.
Argumentou a necessidade de descobrir a localização do corpo do pai, com vistas a lhe providenciar enterro digno.
Com isto, quase sessenta anos depois do ocorrido, finalmente se pode ter acesso aos arquivos da prisão de Lúcio.
Perplexa, a mulher descobriu que o homem fora preso em virtude de uma denúncia anônima, e que fora espancado barbaramente até a morte.
Chocada e horrorizada, a mulher descobriu fotos de Lúcio morto, sendo colocado dentro do porta malas de um carro, com o corpo dobrado.
Nos arquivos, havia fotos do delegado Silvério, dos autores da prisão.
Fichas com os dados de todos os envolvidos, e uma ficha com os dados de Lúcio.
Ansiosa, a mulher colocou todos os documentos em uma caixa.
Muitos estavam bastante deteriorados.
Precisou mandar recuperar muitos deles.
Quando regressava do trabalho, depois de uma exaustiva jornada, a mulher se ocupava em ler os papéis.
Maximiliano passou a também se ocupar da tarefa.
Por diversas vezes Júlia e Dandara ajudaram a mãe na leitura dos documentos.
Com isto, o detetive continuava suas investigações.
Descobriu a localização dos parentes dos policiais e delegado, envolvidos na prisão.
Laura chegou a conversar com os familiares.
Dizendo não ter nada contra aquelas pessoas, argumentou que só queria entender o que levava alguém a prender alguém, com base em denúncias anônimas.
Laura argumentou que segundo relatos da mãe, Lúcio não era baderneiro e não estava envolvido em atividades subversivas.
Os parentes por sua vez, argumentavam que eles cumpriam ordens, e que naquele momento histórico do país, não seria possível agir de forma diferente.
Por fim, a mulher, acompanhada do marido, agradeceu a atenção e se despediu.
Pediu desculpas pelo incômodo.
Nisto, ao conversar com um conhecido do delegado Silvério, descobriu que o homem era um tirano, que sentia prazer em torturar seus prisioneiros.
O homem era um desafeto do delegado.
Dizia que desconfiava que o homem tinha feito, o que fizera com Lúcio, por despeito.
Curiosa, Laura perguntou-lhe por que dizia aquilo.
O homem respondeu ter ouvido dizer que o homem havia assediado a mulher do preso, e que como não havia conseguido o que queria, resolveu descontar sua frustração no moço.
Laura ficou chocada ao ouvir estas palavras.
Quando regressou a fazenda, ao ver a mãe debilitada, resolveu esperar que ela melhorasse um pouco, para lhe contar o que havia descoberto.
Ludmila ao vê-la, ficou profundamente feliz.
Seu rosto se iluminou e acabou apresentando uma pequena melhora.
Laura por sua vez, se desdobrava em cuidados com a mãe e em conversas com Emerson.
O homem estava profundamente preocupado com a doença da mulher.
Laura por sua vez, contou ao homem o que descobrira sobre a prisão de Lúcio.
Comentou que auxiliada por detetive da capital, localizou parentes dos envolvidos na prisão.
Disse que conversou com eles.
Angustiada, dizia que só restava saber onde o corpo estava, e providenciar um enterro digno ao homem.
Semanas mais tarde, Dandara se encaminhou a fazenda.
Estava preocupada com o estado de saúde da avó.
Triste, ao vê-la acamada, abraçou-a.
Como começasse a chorar, Laura decidiu afastá-la do quarto.
Ludmila, preocupada, perguntou o que estava acontecendo com sua neta.
Laura então, sem ter como esconder a verdade da mãe, comentou que Felipe havia falecido, e que Dandara estava inconsolável com a perda.
Ludmila lamentou o óbito, mas argumentou que era um fato da vida, e provavelmente a próxima pessoa a partir, seria ela.
Laura, ao ouvir as palavras da mãe, repreendeu-a.
A fazendeira então, calou-se.
Não queria suscitar discussões.
Acatando as recomendações da filha, procurou descansar.
Diante da gravidade da situação, os filhos, netos e noras acorreram para a fazenda.
Ludmila ficou feliz em ver a família reunida mais uma vez.
Atenciosas, as noras sempre se ofereciam para ficar um pouco ao lado da senhora.
Fernanda, que nesta época, morava novamente na fazenda com Henrique e os filhos, era quem mais auxiliava nos cuidados com a mulher, juntamente com Laura.
Ajudava a ministrar os remédios, lia para a mulher, contava-lhe histórias.
Recordava-se dos tempos em que vivera na fazenda, ao lado do marido e dos filhos pequenos.
Ás vezes permanecia a noite, ao lado do leito da fazendeira.
Quando Ludmila ficou febril, Fernanda não a deixou sozinha por um minuto sequer.
Como a fazendeira não melhorasse, a mulher concordou que o marido arrumasse uma enfermeira.
Henrique por sua vez, achou por bem, contratar o serviço de duas mulheres.
Justificou para a família dizendo que elas poderiam se revezar nos cuidados, e que nenhuma delas, ficaria sobrecarregada.
Fernanda e os filhos concordaram.
Emerson também procurava fazer companhia a esposa.
Quando Laura precisava se ausentar, era Fernanda e Emerson, quem se faziam mais presentes.
Seus netos também lhe faziam um pouco de companhia.
Dandara ajudava a avó a se alimentar.
Dizia que saco vazio não parava em pé, e que ela precisava se recuperar, para por ordem na fazenda. Repreendia a mulher, dizendo que alguém forte como ela, não poderia se deixar abater por uma simples gripe.
Ludmila achava graça nas palavras da moça.
Dizia que já velha, estava a levar broncas de uma mocinha que tinha menos de um terço de sua idade.
Quem estava no quarto achou graça.
Quarto amplo, espaçoso, cheio de móveis coloniais.
Aliás como toda a fazenda.
Ludmila achava que aqueles objetos faziam parte da vida da fazenda.
Até o rádio antigo, permaneceu na propriedade.
Dandara brincava com a senhora, dizendo que a sede da fazenda parecia um museu, ou um cenário de filme antigo.
A fazendeira não se importava.
Dizia ter muito orgulho de viver em um lugar carregado de história.
Dandara completava dizendo que era tudo muito antigo, mas muito bem cuidado, e que se sentia bem ali. Falava que era tudo muito lindo. Como o passado devia ter sido.
Ludmila sorria para a moça, quando Dandara lhe dizia que gostava daquele ambiente.
Certa vez, a fazendeira perguntou-lhe se não gostava de ambientes mais limpos, sem tantos móveis e objetos decorativos.
Dandara respondia que aquele ambiente tinha uma beleza única, e que não era atulhado de coisas. Decorado sim, mas na medida certa.
Dandara por sua vez, estava triste em ver a avó querida, tão abatida.
Sentia pesar, pois sabia que cedo ou tarde a mulher iria embora, e ela ficaria privada de sua companhia.
Cláudio certa vez, a viu chorando.
Dandara, tentando disfarçar, desconversou, mas Cláudio já a conhecia um pouco.
Sabia que ela estava sofrendo.
Desta forma, disse-lhe que Ludmila só iria embora quando fosse a hora, e que ela não precisava se preocupar, pois não ficaria só.
Cláudio abraçou-a.
Dandara se aconchegou em seus braços.
Os netos ficavam alguns minutos no quarto com a senhora.
Alguns conversavam, outros beijavam sua mão.
Desejavam melhoras.
Emerson estava deveras preocupado com a esposa.
Conversando com Laura, pediu para chamá-la de Odara.
Surpresa, a mulher concordou.
O homem então, confessou que estava preocupado.
Com os olhos marejados, comentou que Ludmila estava partindo.
Aflito, disse que havia falhado na promessa de localizar o paradeiro de Lúcio.
Laura, tentando confortar o homem, respondeu-lhe que não havia desistido de encontrar o corpo do pai, e que quando o fizesse, contaria a mãe.
Emerson aconselhou-a a se apressar, ou Ludmila poderia partir sem saber onde o moço fora enterrado.
Com efeito, nos dias que se seguiram, a empresária precisou se ausentar.
Dizendo que precisava resolver alguns assuntos particulares, comentou que precisaria ficar alguns dias afastada.
A fazendeira, ao ouvir as explicativas da moça, lamentou a partida.
Preocupada, pediu-lhe que não se demorasse muito na cidade.
Laura sorrindo, prometeu que voltaria logo.
Conversando com Fernanda, Henrique, Cláudio, Ives, Emerson, o marido e as filhas, a mulher comentou que estava investigando o paradeiro de Lúcio.
Disse que iria até a cidade, ficaria hospedada em um hotel, mas que havia dito a mãe, que voltaria para a capital e que eles deveriam confirmar a história.
A empresária comentou ter recebido uma ligação do detetive que havia contratado, e que este lhe dissera ter pistas sobre a localização do corpo do homem.
Dandara e Júlia, ao ouvirem as palavras da mãe, comentaram que iriam junto.
Laura tentou argumentar, mas Maximiliano aconselhou-a a deixar as filhas a acompanharem na viagem.
Com isto, as moças despediram-se da avó e de todos os parentes.
Rumaram para a cidade.
Emerson as acompanhou até lá.
Mais tarde, retornou a fazenda.
Durante o dia, as mulheres e o homem, acompanharam o detetive.
Juntos se dirigiram a delegacia instalada onde antigamente ficava o posto policial da vila.
Munido de uma ordem judicial, o detetive verificou os arquivos da delegacia.
Para a decepção de todos, nada encontrou.
Com isto, se dirigiram ao fórum da cidade.
Conversando com os funcionários do lugar, descobriram a existência de um arquivo referente aos processos judiciais, e um arquivo municipal.
O grupo seguiu para os dois lugares.
No arquivo da prefeitura, nada localizaram, em virtude da cidade ter sido criada décadas depois do ocorrido.
Laura lamentou o fato de não haverem preservado a memória anterior a fundação da cidade.
Argumentou que aquele lugar já era habitado antes de virar um município, e que o ocorrido anteriormente fazia parte da história da cidade.
Com efeito, ao se dirigirem ao arquivo relativo aos processos judiciais, o grupo obteve mais sucesso.
Lá encontram registros relativos a prisão de presos políticos, inclusive, arquivos referentes a prisão de Lúcio.
Laura encontrou no lugar, informações diversas das encontradas nos arquivos da capital.
Percebeu que não tivera acesso a todos os documentos referentes a prisão.
A mulher então, solicitou autorização para fazer cópias dos documentos.
Ao ouvir isto, o funcionário tentou opor resistência, mas Emerson, dizendo que eles tinham autorização para compulsar os arquivos, ameaçou chamar a imprensa, caso tivesse seu intento obstado. Comentou que era uma pessoa influente, e que poderia mexer os pauzinhos e fazer com ele fosse transferido para um lugar onde teria muito trabalho para fazer.
O funcionário, intimidado, concordou então. Autorizou as cópias.
Para isto, Laura precisou deixar seus documentos pessoais.
A mulher então, retirou cópias dos documentos, em uma papelaria da cidade.
Para isto, permaneceu algumas horas no lugar.
Mais tarde, retornou ao arquivo, devolvendo os papéis.
O funcionário devolveu então, seus documentos pessoais.
Com isto, ao saírem do prédio, a mulher comentou não saber que ele costumava utilizar aquele expediente.
Rindo, Emerson disse que a ocasião exigia, e que se ele não agisse daquela forma, ela não conseguiria fazer as cópias.
Laura concordou e agradeceu o empenho do homem.
Emerson então, percebendo o adiantado da hora, despediu-se de todos.
Disse que precisava retornar a fazenda, e que no dia seguinte, retornaria a cidade.
Comentou que iria contatar o detetive contratado por ele, e cobraria do homem, uma posição.
Laura por sua vez, agradeceu mais uma vez a Emerson.
Com isto, o detetive também se afastou.
A empresária por sua vez, agradeceu seu empenho e dedicação.
Comentou que ele seria muito bem recompensado.
O homem, agradecendo, contou que precisava ir.
Com isto, as três mulheres se dirigiram ao hotel onde estavam hospedadas.
Ansiosas, sentaram na cama e começaram a ler os documentos xerocopiados.
Perplexas, descobriram que Lúcio fora denunciado por um médico de uma cidadezinha afastada.
Verificando os relatórios, descobriram testemunhas que disseram que Lúcio tinha opiniões contundentes sobre o momento político da época.
Laura comentou que Ludmila, mencionou que Lúcio tinha uma visão de que a terra devia ser partilhada com todos, e não uns poucos privilegiados serem detentores de vastos territórios, latifúndios. Argumentou porém, que ele nunca se envolvera em atividades subversivas.
Dandara, ao ler o relatório, constatou que ninguém o acusou diretamente, de atividade subversiva. Comentou, existirem apenas insinuações sobre o fato.
Ao constatar isto, Laura ficou chocada.
- Como alguém pode ser preso apenas com base em insinuações? – indagou.
Entretidas na tarefa, as mulheres só foram se lembrar de jantar, tarde da noite.
Ansiosas pediram uma refeição no hotel.
E assim, enquanto comiam, aproveitavam para ler os registros.
Analisaram fichas, depoimentos.
Laura desconfiou do teor e idoneidade de muitos documentos.
Em vários deles, constavam denúncias de atividades subversivas, sem a assinatura do moço.
Em outros, as assinaturas não conferiam.
Ao perceberem este fato, as mulheres desconfiaram de que as assinaturas foram falsificadas, e que talvez ele não tenha assinado nenhum daqueles documentos.
Chocada, Laura comentou que tudo parecia pior do que havia imaginado.
Como trouxera consigo os arquivos obtidos na capital, a mulher passou a cruzar as informações.
Verificou conflitos nos depoimentos, incongruências.
Ao conversar com parentes dos torturadores, e com outras pessoas, a mulher descobriu que Silvério respondera processos por abuso de autoridade.
Laura recordou-se que na última conversa que tivera com o detetive, antes de rumar para a fazenda, o homem lhe confidenciou os últimos progressos realizados.
Relatou-lhe as visitas que fizera a parentes dos torturadores. Comentou ter ouvido depoimentos de torturados, e de pessoas que acompanharam de perto o caso de Lúcio.
Razão pela qual, preparou um relatório para a mulher ler, e somente agora Laura estava se ocupando dele.
As três mulheres passaram toda a madrugada a ler papéis.
Dormiram apenas três horas.
No dia seguinte, acordaram cedo, tomaram um belo café da manhã no hotel em que estavam hospedadas.
Enquanto estavam comendo, Laura recebeu uma ligação.
Emerson as aguardava do lado de fora do hotel.
Dizia ter novidades.
Laura convidou-o para tomar o café da manhã com elas, mas o homem argumentou que já havia tomado o desjejum na fazenda.
Com isto, as mulheres terminaram de tomar o café.
Dirigiram-se a entrada do hotel.
Emerson sem delongas, convidou-as a entrarem no carro.
Conversando com as mulheres, contou haver ligado para o detetive, e que este lhe contou onde estava enterrado o corpo de Lúcio.
Nisto, tocou o telefone de Laura novamente.
Era o detetive informando, que agora tinha certeza do paradeiro do corpo.
Disse-lhe para aguardá-lo na entrada do hotel que já estava se dirigindo para o local.
Laura ansiosa, pediu a Emerson que aguardasse.
Nisto Dandara subiu até o quarto e pegou alguns papéis que indicavam algo que parecia ser um mapa.
Em seguida, desceu e foi ao encontro do grupo, na entrada do hotel.
Laura mostrou a Emerson os documentos.
O homem feliz, comentou que as suspeitas do detetive estavam certas.
Com isto, relatou que o homem lhe dissera por telefone, as indicações do lugar.
Atento, procurou anotá-las.
Emerson comentou surpreso, que o próprio detetive havia tomado a iniciativa de contatá-lo.
O homem então, disse-lhe lamentar a demora na resolução do caso.
Argumentou que havia tentado ter acesso aos arquivos referentes da prisão, mas que em tempos de ditadura, isto era mais difícil. Comentou que muitos familiares passavam anos tentando saber o que se passara naqueles anos, sem nunca obter êxito.
Rindo, Emerson comentou dos êxitos do detetive contratado por Laura.
Disse que o homem ficou constrangido.
Com isto, o detetive argumentou que o outro profissional pegou o caso há pouco tempo, em um contexto político mais tranqüilo, e que estava mais próximo dos locais de influência da região, e isto facilitava seu trabalho.
Laura, ao ouvir as palavras do homem, comentou que o trabalho de investigação não era fácil, e que a conjuntura atual, facilitou o trabalho do detetive contratado por ela.
A mulher argumentou que o próprio profissional lhe dissera isto.
Disse ainda, que ele tinha algumas amizades no meio político, jurídico e policial, o que facilitou o acesso a certas informações privilegiadas.
Laura comentou que o advogado contratado para patrocinar a causa promovida por ela, foi indicado pelo detetive, que aconselhou a contratação de seu serviço, por ser homem conhecedor do assunto e notável na área.
Com isto a mulher confessou ter sido esta, a melhor decisão que tomara.
Neste momento, o detetive apareceu.
Pediu desculpas pela demora.
Conversando com Emerson, o homem indicou-lhe o lugar onde provavelmente o corpo estava enterrado.
Segundo as informações do profissional, era um local afastado da cidade, ermo até para os tempos atuais.
Maximiliano, que permanecera na fazenda a pedido de Laura, ao saber sobre a notícia do paradeiro de Lúcio, resolveu ir atrás da mulher.
Com isto, quando o grupo chegou ao local, encontraram Maximiliano a lhes esperar.
Laura ao ver o marido, aproximou-se dele e o abraçou.
Perguntou como a mãe estava, e Max lhe informou que ela estivera um pouco mais disposta, que no dia anterior.
Dandara e Júlia também o abraçaram.
Em seguida, o grupo caminhou em meio a uma mata fechada.
Deixaram os carros, próximos dali e caminharam em direção ao lugar descrito pelos detetives e indicado em vários documentos lidos pelas mulheres.
Caminharam por cerca de quinze minutos.
Munidos de enxadas, fizeram vários buracos.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
sábado, 3 de abril de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 19
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 18
Dandara agradeceu novamente a empregada.
Arrastando sua mala, adentrou o imóvel.
Ao chegar a sala, foi recebida por uma senhora distinta. Octogenária.
Ludmila, usava um tailleur verde. Tinha os cabelos curtos.
Ao ver a jovem, usando roupas escuras, cabelo vermelho e aspecto desleixado, ficou espantada.
Perguntou-lhe o que fazia ali.
Dandara apresentou-se.
Constrangida, respondeu que estava ali esperando uma nova oportunidade. Disse que estava cansada da vida vazia que estava vivendo.
Ludmila, intrigada com as palavras da moça, comentou que ela era muito jovem para se sentir daquela forma.
Perguntou-lhe por que ela pensou que se dirigindo a sua fazenda, teria uma nova oportunidade.
Dandara, nervosa, começou a gaguejar.
Tartamudeando, disse que lera uma matéria no jornal sobre as fazendas da região, e que ela, ao conceder uma entrevista, falou sobre sua propriedade, sua produtividade.
Dandara, comentou que se impressionou com a postura dela, considerou-a uma vitoriosa.
Sorrindo, comentou que ela se mostrou um espelho para ela.
Contou que se encantou com seu trabalho. Sentiu vontade de viver algo parecido.
Ludmila se encantou com o jeito espevitado da moça.
Comovida, a mulher se aproximou da jovem.
Disse que ainda era muito cedo para ela se sentir vazia. Ressaltou que ela ainda teria muito o que viver. Nisto, perguntou-lhe se ela estava realmente certa quanto à vontade de ficar ali.
Dandara respondeu-lhe que faria qualquer coisa.
Insistiu apenas para que ela não a mandasse embora.
Disse que conversando com pessoas que conheciam Ludmila, todos a consideravam uma pessoa generosa.
Ludmila, encantada com as palavras da moça, respondeu:
- Menina, você é terrível!
Dandara ao ouvir as palavras da mulher, respondeu que todo mundo achava isto dela. Razão pela qual já estava acostumada com este tipo de comentário. Acrescentou no entanto, que nunca ouvira aquelas palavras sendo ditas de forma tão carinhosa.
Ludmila ficou comovida.
Disse-lhe que poderia ficar descansada, que não a mandaria embora. Poderia permanecer ali quanto tempo quisesse.
Dandara agradeceu.
Com isto, perguntou com o que trabalharia.
Ludmila respondeu que ela iria ficar hospedada em uma casa próxima da sede. Perguntou-lhe o que sabia fazer.
Dandara, constrangida, respondeu que não tinha profissão, mas que poderia aprender a fazer qualquer coisa.
Ludmila sorrindo, respondeu que depois pensaria nisto.
Desta forma, chamou uma de suas empregadas, e quando a criada apareceu na sala, pediu a mesma que conduzisse a moça, até a construção dos fundos.
Disse que a moça ficaria ali por tempo indeterminado.
Com efeito, a mulher conduziu Dandara até a construção.
Dandara ficou instalada em um espaçoso quarto, ao lado da piscina, construída para os filhos de Ludmila.
Henrique, Carlos e André, adoravam passar as tardes a beira da piscina, brincando de jogar água em todos os que passavam por ali.
Agora, devido a mudança dos rapazes para a cidade, a piscina praticamente não era usada.
Dandara, ao ver a piscina, deixou escapar que aquela piscina era maior do que a que havia onde morava.
Por fim, instalada no quarto, a moça depositou sua mala no chão.
A empregada se prontificou a carregar sua bagagem, mas Dandara agradeceu dizendo que não era necessário.
E assim, foi arrastando sua mala pela sala, passou pelo corredor, caminhou por um jardim, pela piscina, até chegar ao quarto.
A criada, mencionou que dali a pouco o almoço seria servido, dizendo a Dandara que iria trazer uma bandeja para ela.
Contudo, não foi necessário.
Ludmila batendo na porta, convidou-a para almoçar.
Quando entrou no quarto, viu a moça arrumando suas roupas. Notou que algumas estavam bem amassadas.
Dandara respondeu que não era muito habilidosa, e que ao fazer a mala, acabou bagunçando um pouco as roupas.
Ludmila comentou que com o tempo, aprenderia a cuidar de suas coisas.
Afinal, morando sozinha, precisaria aprender.
Dandara rindo, concordou.
Com isto, as duas mulheres almoçaram juntas.
Emerson, preocupado com as criações, pediu a um empregado da fazenda, que avisasse que não iria almoçar em casa.
Assim, as duas mulheres almoçaram sozinhas.
Ludmila então, tentou descobrir onde exatamente a moça vivia.
Ao perceber o modo como a jovem falava, as roupas que usava, pensou se tratar de uma garota rebelde. Desconfiou que havia brigado com sua família.
Razão pela qual ficou sondando a moça.
Dandara porém, nada dizia.
Argumentava que era sozinha no mundo, e que há anos não tinha contato com os pais.
Mencionou que precisava de um trabalho, ou não teria como pagar suas contas.
Tentando convencer Ludmila, disse que faria qualquer trabalho, até serviços pesados.
Ludmila respondeu-lhe que não seria preciso.
Mencionou que poderia primeiramente aprender a cuidar da casa.
Dandara não gostou muito da idéia, mas procurando disfarçar, disse que procuraria executar suas tarefas da melhor maneira.
Com isto, depois do almoço, a moça foi levada para a cozinha, pela fazendeira.
Lá, se deparou com um fogão industrial e ao lado, um fogão a lenha. Várias panelas penduradas pela cozinha, enfeites – galos e galinhas de variados formatos, uma imensa mesa de madeira com bancos.
A cozinha era imensa. Em nada lembrava a cozinha da casa em que vivera, toda asséptica, clean.
Dandara ficou encantada.
Disse que nunca havia visto uma coisa tão bonita.
Sorridente, comentou que aquela era uma linda cozinha.
As cozinheiras riram.
Comentaram que tudo ali era muito simples.
Dandara respondeu que gostava da simplicidade.
As mulheres por sua vez, estranharam as roupas da garota.
Tentando explicar-se, a moça respondeu que suas vestes eram uma forma de se expressar como se sentia em um mundo em que as pessoas só são avaliadas de forma superficial. Comentou que estava dizendo que não queria ser mais uma, e que tinha uma individualidade a ser respeitada.
As mulheres se olharam.
Dandara, percebendo que não haviam entendido suas palavras, comentou que as roupas eram estranhas mesmo, e que seus motivos eram claros. Tão claros que elas acabariam por entender.
Nisto, Elisa e Carla ensinaram a moça a picar cebolas, tomates, pimentões.
Dandara preparou temperos.
Ludmila acompanhou a moça.
Dandara era deveras desajeitada.
Contudo, era esforçada. Fazia tudo o que lhe era pedido.
Descascou batatas. Lavou muitas, muitas verduras.
Só titubeou quando precisou limpar uma ave.
As mulheres brincaram dizendo que poderia ser pior.
- Como assim pior? – perguntou.
Elisa explicou-lhe que Carla poderia ter-lhe pedido para matar a galinha.
Surpresa, Dandara perguntou como é que se fazia isto.
Rindo, Carla explicou que precisava quebrar o pescoço da ave.
Dandara ficou horrorizada.
Comentou que depois disto, talvez nunca mais conseguisse comer uma galinha.
Ludmila, aproximando-se da moça, contou-lhe que isto era apenas uma impressão.
E que ela conseguiria sim, continuar a comer frango e galinha, sem problemas.
Mais tarde a moça mexeu nas panelas de ferro.
Orgulhosa, Ludmila respondeu que muitas delas, estão na fazenda há gerações. Foram da avó de Antenor, seu primeiro marido.
Dandara disse então, que procuraria ter o maior cuidado com elas.
Depois, a moça varreu toda a cozinha, e ajudou a lavar os utensílios domésticos.
Ludmila retirou-se.
Elisa e Carla então, aproximaram-se da garota, e começaram a fazer perguntas.
Queriam saber de onde era, de onde conhecia Ludmila.
Dandara por sua vez, respondeu economicamente as perguntas.
Disse que viera de uma cidade de médio porte, próxima da região, que era sozinha no mundo, que estava procurando trabalho, e que conhecera a propriedade em uma matéria jornalística.
As empregadas contudo, não ficaram satisfeitas com as explicações da moça.
Argumentaram que ainda descobririam o que ela de fato fazia ali.
As mulheres comentaram que ela era muito educada, para se contentar com um emprego de ajudante de cozinha.
Dandara sorriu.
Disse que estava satisfeita com seu emprego.
Nisto, levantou-se do banco em que estava sentada, e perguntou se não havia mais nada para se fazer.
Elisa respondeu-lhe então, que tinham muitas roupas para lavar.
Dandara ficou chocada.
- Lavar roupas?
Ao perceberem o choque da moça, responderam rindo, que as roupas poderiam ser lavadas no dia seguinte.
Dandara respirou aliviada.
- Está certo! Ainda bem!
Nisto, Elisa também levantou-se. Voltou a mexer na panela.
Dandara se ofereceu para ajudá-la.
Carla respondeu que mais tarde, poderia auxiliá-las a servir a mesa.
Com isto, as mulheres liberaram a moça da cozinha.
Dandara pediu licença e afastou-se.
Caminhou em direção a construção nos fundos da casa.
Parou diante da piscina.
Percebeu que havia muitas folhas na água.
Procurando um instrumento para retirar as folhas, deparou-se com uma haste, a qual possuía uma espécie de rede na ponta. Utilizou o objeto para pegar as folhas.
O trabalho tomou algum tempo.
Ludmila, que caminhava pelo jardim, ao ver a moça mexendo na piscina, disse que havia mais folhas do outro lado da piscina.
Dandara, que estava entretida com o trabalho, assustou-se.
Ludmila percebendo isto, pediu-lhe desculpas.
Disse que não tinha a intenção de assustá-la.
Comentou que estava apenas querendo indicar onde estavam as folhas.
Dandara agradeceu.
Encaminhou-se para o outro lado da piscina.
Percorreu toda a extensão da mesma.
Retirou todas as folhas.
Ludmila, sentou-se então, em uma das cadeiras existentes ao lado da piscina.
Quando percebeu que a moça terminara o trabalho, comentou:
- A senhorita gosta muito de piscina, não é mesmo? Sabe nadar?
Dandara, respondeu que sim. Comentou que quando podia, aproveitava para nadar muito.
Ludmila comentou se ela era uma boa nadadora.
Dandara gaguejando um pouco, respondeu que na medida do possível, era sim.
Ludmila riu.
Pensando um pouco no assunto, sugeriu que ela cuidasse da piscina.
Dandara concordou.
Com o tempo, a garota passou a cuidar da piscina.
Ajudava nas tarefas da cozinha.
No dia combinado, dirigiu-se com as mulheres para um riacho.
Ajudou a esfregar as roupas.
Elisa e Carla estendiam as roupas no gramado.
Ao ver a cena, Dandara achou tudo estranho.
As mulheres diziam que ela iria se acostumar.
Dandara por sua vez, comentou que se fizesse isto na cidade, não teria quintal suficiente para estender todas as roupas.
No jantar, ajudava a servir os pratos, e ao término da refeição, ajudava a lavar a louça.
Dias depois, foi apresentada a Emerson.
O homem, ao ver uma estranha circulando pela casa, perguntou se era uma nova empregada.
Ludmila respondeu que sim.
Com o tempo, a mulher, ao notar que Dandara, limpava o escritório, ficou observando o computador que havia no lugar, perguntou-lhe se sabia mexer em um.
Dandara respondeu que sim. Comentou que desde muito pequena mexia em computadores.
Ludmila por sua vez, falou:
- Mas é claro. Eu sempre esqueço que as crianças de hoje já nascem sabendo mexer em computadores! Foi uma pergunta tola.
A fazendeira estava encantada com a dedicação da moça.
Certa vez, chegou a comentar com o marido que chegou a duvidar que a garota permaneceria na fazenda.
Com o tempo, a moça começou a se interessar por costuras.
Ao perceber que suas roupas destoavam da indumentária dos trabalhadores da fazenda, perguntou a fazendeira onde poderia comprar tecidos para fazer um vestido.
A mulher ao ouvir a pergunta da moça, disse não saber que ela costurava.
Rindo, Dandara respondeu que não, mas que gostaria aprender. Comentou que estava cansada de vestir roupas escuras e largadas.
Ludmila então, comentou que poderia ensiná-la.
Contou que possuía alguns moldes e que poderia adaptá-los para a moça. Comentou que eram roupas modernas.
Nisto, combinou com a garota que fariam um passeio pela cidade.
Lá indicaria boas lojas para compras de tecidos.
Dandara, agradeceu a gentileza, e beijou o rosto da mulher.
Ludmila ficou emocionada com o gesto.
Animada, Dandara se afastou.
Encaminhou-se para seu quarto.
Com efeito, conforme combinado, Ludmila e Dandara seguiram de carro para a cidade.
Lá, passaram por lojas.
Dandara comprou tecidos.
Ludmila, passeando pelo comércio do local, se deparou com várias vitrines de lojas com calças jeans.
Animada sugeriu a moça, comprar calças e botas, pois iria precisar.
Constrangida, Dandara respondeu que o dinheiro não seria suficiente.
A fazendeira então, sem se fazer de rogada, sugeriu ela mesma comprar as peças.
Disse que era um presente por tanta dedicação ao trabalho.
A moça, ao ouvir as palavras da fazendeira, tentou recusar a oferta, mas Ludmila não lhe deixou alternativa.
Com isto, a mulher fez a jovem experimentar calças e botas, as quais Dandara exibia para a fazendeira.
Ludmila também comprou algumas blusas para moça, e um chapéu.
Dizia que ela era muito branquinha e que precisava se proteger do sol.
Por fim, ao término da caminhada e das compras, Dandara e Ludmila estavam cheias de sacolas.
A garota respondeu que tinha roupa para usar por muito tempo.
Ludmila, sugeriu então, levar as compras para o carro.
Depois, convidou a moça para almoçar em um restaurante da cidade.
Dandara argumentou que já estava abusando de sua boa vontade, e que aquilo não estava certo.
Ludmila rindo, comentou que há muito tempo não abusavam de sua boa vontade, e que estava sentindo saudades disto.
Entraram no restaurante, sendo conduzidas até uma mesa.
Nisto, curiosa, Dandara comentou que já sabia que ela tivera três filhos.
Perguntou se eles não a vinham visitar, pedir ajuda quando as coisas ficavam difíceis.
Triste, Ludmila comentou que possuía quatro filhos.
A fazendeira então, comentou sobre sua filha Odara, a qual dera para uma família criar.
Abrindo o coração, a mulher contou as razões que a motivaram a agir daquela forma.
Dandara ficou perplexa.
Mas recordando-se das aulas de história que tivera, a moça comentou que aqueles foram tempos difíceis mesmo.
Dandara comentou que pelo que ouvira dizer, as pessoas não podiam expressar suas opiniões, e por qualquer razão podiam ser presas, torturadas.
Ludmila, emocionada, comentou que acreditou que nunca mais passaria pelo sofrimento de perder uma pessoa tão amada, tão estimada.
Dandara, comovida com a tristeza da senhora, perguntou-lhe se estava bem, se não gostaria de ir ao toilett.
Com os olhos cheios de lágrimas a mulher concordou.
Dandara a acompanhou.
Lá, a mulher enxugou o rosto, e procurando se recompor, contou que fora casada anteriormente.
Dandara recordou-se que a mulher já havia se referido a outra pessoa de nome Antenor.
Ludmila então, continuou a contar sua história.
Novamente se comoveu a contar sobre o casamento com Antenor, e o tempo em que viveram juntos.
Dandara, impressionada com o relato, ouviu a mulher falar dos filhos e do atual esposo.
Companheiro de toda a vida. Pesarosa e agradecida, Ludmila comentou que foi o único que não a abandonou.
Dandara ao ouvir o comentário, redargüiu dizendo que Antenor e Lúcio não tiveram a intenção de deixá-la, mas que o momento deles partirem, chegou mais cedo do que se poderia imaginar.
Ao ouvir isto, Ludmila começou a rir.
Disse a Dandara que ela era impagável.
Enxugou novamente o rosto, pois as lágrimas voltaram a correr.
Em seguida, a mulher abraçou a garota.
Disse que ela era uma mocinha muito gentil. Diferente da maioria dos jovens que conheciam. Comentou que as pessoas ultimamente haviam perdido a educação e o respeito pelo próximo, não só pelas pessoas mais velhas, mas por todos.
Dandara concordou.
Com isto, comentou que era amiga de um senhor idoso.
Relatou que se tratava de uma pessoa divertida.
Ludmila então, ao observar o relógio, percebeu o adiantado do hora.
Comentou que precisavam retornar a mesa, ou o garçom pensaria que haviam saído do restaurante sem pagar as bebidas que haviam consumido.
Nisto, ao ver a moça com suas escuras, perguntou se gostaria de vestir uma das roupas que havia comprado.
Dandara rindo, perguntou se ela não se incomodaria em voltar ao carro e pegar um das sacolas.
Ludmila disse que não.
Com isto, conversando com o garçom, comentou que elas iriam até o estacionamento buscar uma sacola, e que como garantia, deixaria uma quantia para pagar a consumação.
Desta forma, o garçom concordou com o pedido. Acompanhou as mulheres até o estacionamento.
Ludmila então, pegou duas sacolas.
Pedindo licença ao funcionário, perguntou se havia problema se ela trocasse a roupa que usava, no banheiro do estabelecimento.
O homem, ao notar os trajes da moça, concordou.
Dandara então, pediu licença a fazendeira e se dirigiu novamente ao banheiro.
Lá, trocou de roupa.
Vestiu uma calça jeans justa, botas, uma blusa de alças e ajeitou os cabelos.
Segurando as sacolas, retornou a mesa.
Ludmila ficou surpresa com o que viu.
Comentou que Dandara estava linda, em que pese a maquiagem pesada.
A moça agradeceu.
O garçom, aproximando-se, ajeitou a cadeira para a moça sentar-se.
Dandara novamente, agradeceu.
Com isto, as mulheres fizeram os pedidos.
Almoçaram.
Riram. Conversaram mais um pouco.
Ludmila, mais calma, falou sobre a infância dos filhos. Do quanto eram unidos, que Henrique era o líder e André e Carlos o seguiam. Por conta disto brigavam muito também.
Rindo, recordou-se que os meninos adoravam molhar as pessoas, quando caíam na piscina.
Ludmila ria, e Dandara também se divertia em ouvir sobre as traquinagens dos garotos.
A certa altura, curiosa, a moça perguntou a idade dos moços e Ludmila respondeu que eram todos adultos, e pais de família.
Feliz, comentou que já era avó de filhos moços. Jovens mais velhos do que ela.
Terna, a mulher colocou a mão na cabeça da moça.
Disse-lhe que poderia ser sua neta.
Mais tarde, depois de se deliciarem com uma farta sobremesa, e um sorvete na praça central da cidade, as mulheres voltaram para casa.
Dandara não se cansava de apreciar a beleza da mata, as plantações, o pomar, as criações, as flores e plantas da fazenda.
Ludmila, percebendo o encantamento da moça, aproveitava para percorrer caminhos diferentes. Mostrava-lhe detalhes da propriedade.
Dandara comentou certa vez com a fazendeira, que ficou impressionada com as dimensões da porteira da propriedade.
Com efeito, os empregados da fazenda, ao verem a moça com trajes tão diversos do usual, comentaram que ela estava muito elegante.
Dandara agradeceu.
Os cabelos vermelhos, contrastavam com a roupa.
Emerson, ao ver a jovem pela primeira vez, se espantou com seus modos, as roupas escuras, largadas, o cabelo vermelho, a maquiagem.
Chegou a perguntar a esposa se seria aconselhável deixar a moça morando no imóvel dos fundos.
Ludmila, que então se simpatizara com a garota, respondeu que faria uma experiência.
Emerson não mais se manifestou sobre o assunto.
Aos poucos, a moça foi se ambientando com a vida na fazenda.
Aprendeu a cozinhar, a limpar uma casa.
Plantou algumas verduras, leguminosas.
Lavou e passou muita roupa.
Ajudava na limpeza do casarão.
Aprendeu a dobrar as roupas, e a passá-las.
Auxiliada por Ludmila, aprendeu até a costurar.
A mulher, ao ver os vestidos prontos, chegou a comentar que Dandara estava se saindo uma mulher muito prendada.
A moça riu.
Comentou que se sua mãe a visse cuidando de uma casa, ficaria espantada.
Ludmila curiosa, perguntou o nome de sua mãe.
Dandara por sua vez desconversou. Disse que lembrar dela a fazia se entristecer. Não queria tocar no assunto.
Ludmila, percebendo o desconforto, resolveu mudar de tema.
Dandara então, experimentou os vestidos.
Certo dia, de folga de suas atividades diárias, a moça foi convidada para uma quermesse.
Rindo, comentou que não sabia dançar.
Um dos colonos redargüiu dizendo que não havia segredo.
Dandara aceitou o convite.
Ludmila costumava preparar uma festa na fazenda.
Os colonos instalavam um mastro, e colocavam bandeirinhas coloridas em estruturas montadas para isto.
Havia danças, entre elas, a tradicional quadrilha. Muita música. Comes e bebes em profusão.
Henrique, Carlos e André, juntamente com suas famílias, confirmaram presença na festa, para alegria da fazendeira.
Emocionada, a mulher mostrou o álbum de fotos da família.
Ao ver fotos de Odara, começou a chorar.
Relatou que por muitos anos, precisou dizer a todos que a filha havia morrido.
Dandara a abraçou.
Ludmila chorou copiosamente.
Comovida, comentou que pela idade que aparentava ter, poderia ser sua neta.
Dandara, respondeu-lhe que adoraria ser sua neta.
Nesta época, a mulher deixava a moça usar o computador do escritório.
Dandara ensinou a mulher a utilizar as redes sociais e a fazer ligações via internet.
Ludmila ficou impressionada com a possibilidade de conversar com os filhos pela internet e vê-los através da tela de seu computador.
Por sugestão de Dandara, a mulher adquiriu uma câmera, a qual foi instalada na máquina.
Sorrindo, ela respondeu a moça, que agora não precisava mais sentir tantas saudades dos filhos. Elogiou o iniciativa da garota. Disse que ela viera preencher o vazio existente em sua vida.
Por diversas vezes, a fazendeira comentou que estava ficando velha, e que não tinha a mesma disposição de antes para percorrer a fazenda e se inteirar dos assuntos do lugar.
A mulher recordou-se que um dos filhos permaneceu algum tempo na fazenda. Formou-se em agronomia e ficou a trabalhar no local. Mas que, devido a necessidade de especialização, se afastou dali.
Ludmila comentou esperançosa que acreditava que ele iria voltar, e ajudar ela e o marido, a cuidarem da fazenda novamente.
Dandara se tornou a confidente da fazendeira.
Sempre que ía a cidade, a mulher fazia questão de levar a moça consigo.
Mesmo quando estava acompanhada do esposo, Ludmila não queria se afastar da moça.
Certo dia, quando andavam juntos na cidade, Ludmila e Emerson de braços dados, e Dandara atrás, foram confundidos com uma família.
Um transeunte perguntou se a moça, era neta deles.
Rindo, o casal respondeu que gostavam muito da garota, mas que infelizmente, ela não era neta deles, embora desejassem muito.
Dandara achou graça.
Ludmila e Emerson, aproveitavam para caminhar na praça da matriz.
Dandara auxiliou nos preparativos da festa.
Cortou bandeirinhas, montou balões.
Dias antes da festa, os filhos da fazendeira aportaram na propriedade.
Dandara foi apresentada aos homens.
Conheceu as esposas e os filhos.
Ludmila não cabia em si de contente.
Dizia que finalmente aquele casarão estava cumprindo sua finalidade.
A casa repleta de gente.
Caprichosa, a fazendeira preparou uma mesa com um lauto café da manhã.
Os homens por sua vez, foram de carro até a fazenda.
Abriram a porteira.
Dandara também foi convidada para fazer parte da mesa.
Sem jeito, a moça comentou que aquele era um momento da família.
Ludmila insistiu.
Brincou com os filhos dizendo que havia adotado uma neta postiça.
Emerson comentou que elas eram muito unidas.
Cláudio, filho mais velho de Henrique, contou que sentia muitas saudades da fazenda.
Comentou com Dandara, que ela tinha sorte em viver num lugar tão bonito quanto aquele.
Dandara por sua vez, respondeu que pretendia arrumar dinheiro para comprar uma propriedade para ela. Nem que fosse uma chácara.
Cláudio então falou, que ela não iria precisar se preocupar com isto. Argumentou que certamente sua avó a ajudaria nisto.
Ao ouvir as palavras do jovem, a moça comentou que não podia abusar da boa vontade da senhora. Relatou que gostava muito da fazendeira, e que não estava interessada em seu dinheiro.
Cláudio redargüiu dizendo que sabia disto. Relatou que ela demonstrava ser uma pessoa muito confiável.
Dandara sorriu.
Ludmila, percebendo que Cláudio gostava muito de conversar com Dandara, liberou-a dos afazeres domésticos.
A moça, constrangida, comentou que era paga para executar aquele trabalho.
Ludmila respondeu-lhe que ela estava de folga.
A fazenda então, sugeriu a dupla, um passeio a cavalo.
Dandara, por sua vez, já havia aprendido a andar a cavalo em cavalgadas com Ludmila.
Desajeitada, a moça teve uma certa dificuldade em se acostumar com a montaria.
Ainda não se sentia segura.
Por diversas vezes, chegou a pedir para descer do animal.
Ludmila dizia-lhe que com o tempo ganharia confiança e aprenderia a montar.
A moça porém, sempre que podia, inventava uma desculpa para não acompanhar a fazendeira nos passeios a cavalo.
Comentou com Cláudio, que andava pouco.
Cláudio porém, dizendo que estava acostumado, disse que a ajudaria.
Com isto, diante da insistência de todos, a moça acompanhou Cláudio em um passeio a cavalo.
O moço ajudou-a a montar no animal.
Segurando as rédeas do animal, explicou a moça como ela faria para ter o controle do cavalo.
Dandara procurou prestar atenção nas palavras do rapaz.
Com isto, quando o animal começou a trotar.
Assustada, a moça pediu para que Cláudio fizesse o animal parar.
Cláudio por sua vez, aconselhou-a a segurar as rédeas.
Orientou-a a melhorar a postura, mantendo-se ereta.
Dandara acatou os conselhos do moço.
Com o tempo, foi ganhando confiança.
Começou a observar a paisagem.
Cláudio por sua vez, ao perceber que a jovem estava se afastando, resolveu acompanhá-la.
Montou em um animal e seguiu-a.
Aconselhou-a a seguir um caminho.
Dandara disse que tinha dificuldade em controlar o cavalo.
Cláudio aconselhou-a a segurar as rédeas com firmeza. Disse-lhe que ali obteria o controle do animal.
Dandara nervosa, procurou seguir os conselhos.
Com efeito, ao chegarem no local indicado, sugeriu que a moça parasse o animal.
Desta feita, apeou do cavalo.
Ao ver a dificuldade da moça em descer do animal, procurou auxiliá-la.
Dandara, aflita, agradeceu.
Nervosa, perguntou como faria para voltar a fazenda.
Rindo, Cláudio respondeu que voltaria da mesma forma que viera, a cavalo, sendo devidamente acompanhada por ele.
Nesta ocasião, sugeriu que ela esquecesse da montaria, que apreciasse a linda paisagem que se afigurava diante de seus olhos.
Dandara comentou que conhecia o lugar e que o considerava um dos mais bonitos da fazenda.
Dizia que era um lugar mágico, feito para alegrar as pessoas. Pensativa, ficou a imaginar as pessoas que passaram por ali. Comentou que não sabia se foram felizes, mas que no momento em que contemplaram aquela paisagem, algo de especial aconteceu. Suas vidas registraram aquele cenário, aquele acontecimento. Um momento especial, feliz, fez parte de suas existências, mesmo sem se darem conta disto.
Cláudio achou interessante as palavras da moça.
Encantou-se com seu entusiasmo.
Animado, comentou que já morara na fazenda tempo atrás, e que gostaria de voltar a morar. Falou que estava cursando faculdade de agronomia, e que assim que terminasse os estudos, voltaria para a fazenda. Contou que seu pai também voltaria.
Dandara, ao ouvir as palavras ditas pelo moço, comentou que Ludmila ficaria muito feliz com isto.
Conversaram então, sobre as brincadeiras de criança.
Descobriram que tinham muitas coisas em comum.
Cláudio comentou que gostava de baladas, mas que a vida no campo era muito melhor do que a vida na cidade.
Dandara concordou.
Falou das baladas que freqüentava, das festas. Disse que bebia muito, acordava tarde, e estava descuidando dos estudos. A certa altura, se cansou daquela vida e resolveu se mudar para uma fazenda.
Quando Cláudio comentou que ela era sozinha no mundo, Dandara se calou.
O moço insistiu, perguntou sobre seus pais.
Dandara disse que não queria tocar no assunto.
Cláudio comentou que ela não era uma garota ingênua.
A moça respondeu que não. Decididamente não. Curiosa, perguntou se isto o incomodava.
Cláudio respondeu que absolutamente.
Durante os dias em que passaram juntos, cavalgaram. Conversaram.
No volta do passeio, Cláudio a acompanhou.
Tudo transcorreu sem problemas.
Dandara só se atrapalhou no momento da descida do animal.
Mas auxiliada por Cláudio, apeou.
Ludmila, ao ver a cena à distância, aplaudiu.
Comentou sorridente com o neto, que ele havia conseguido êxito em algo que nem ela e tampouco Emerson conseguiram.
Com isto, almoçaram todos juntos.
A certa altura, Dandara se dirigiu ao escritório da mulher, de lá conversou com Felipe.
Já fazia algumas semanas que mantinha contato com o amigo agora distante.
Dandara apresentou o homem a Ludmila.
Conversando com o homem, contou-lhe que não estava mais em casa de seus pais. Disse que estava vivendo em uma fazenda, e que estava muito feliz com esta vida.
Surpreso, o homem perguntou se seus pais conheciam esta circunstância.
Dandara respondeu-lhe que não.
Dizendo ser maior de idade, argumentou que não tinha que dar mais satisfações de sua vida a quem quer que fosse.
A esta altura, perguntou ao homem por que ele perguntava de seus pais.
Felipe respondeu que todos os jovens tinham pais, e que eles se preocupavam com seu futuro.
Dandara retrucou dizendo que o que era necessário saber, já era de seu conhecimento.
Felipe, procurando evitar discussões, mudou o rumo da conversa.
Disse-lhe que sentia muitas saudades. Perguntou-lhe quando voltaria.
Dandara então, respondeu não ter interesse em retornar. Argumentou que estava muito bem onde estava.
Felipe, em tom triste, perguntou se nunca mais se veriam.
Sorrindo, Dandara respondeu que poderia conversar com a fazendeira, e que, devidamente autorizado, poderia vê-la.
O homem comentou que gostaria da tal autorização.
Com isto, se despediram.
Nisto, acessando redes sociais, o homem descobriu a família da moça.
Ciente de seu dever de informar o paradeiro da jovem, contatou Laura e Maximiliano.
Contou-lhe onde a filha estava.
Nervosa, Laura ameaçou arrastar a filha pelos cabelos.
O homem, cauteloso, recomendou-lhe manter-se calma, ou poderia deixar as coisas piores do que estavam.
Felipe respondeu-lhe que Dandara estava bem.
Comentou que a moça estava trabalhando como doméstica em uma fazenda.
Laura ficou perplexa.
Comentou que era um absurdo uma moça tão qualificada quanto ela, realizar um trabalho tão simples.
Isaura, que ouvia a conversa, comentou que o serviço doméstico não tinha nada de simples, e que envolvia uma grande responsabilidade, e que ela não sabia disto por que não cuidava de uma casa.
Redargüindo, a mulher respondeu que já fora dona de casa.
Enervada, comentou que há meses tentava localizar a filha.
Já havia acionado a polícia. Até detetive contratou.
Surpresa, perguntou ao homem, como ele localizou a moça.
Felipe respondeu que conhecera a garota em um bar.
Estava acompanhada de uma turma.
O homem relatou que se tornaram amigos.
Comentou que há meses não tinha notícias da moça. Relatou por meio dos amigos da jovem, descobriu que ela havia sumido de casa.
Com o tempo, recebeu um contato da moça. Mencionou que há algumas semanas vinha contatando a jovem pela internet, e que antes, recebera alguns emails da moça.
Felipe contou que acessando redes sociais, descobriu cadastros da jovem e deles.
Relatou que cruzando informações, descobriu que eles eram os pais da moça.
Laura comentou que há muitos anos havia feito um registro em site de relacionamento, mas que há mais de um ano, não acessava a página.
Maximiliano comentou que ele era uma pessoa muito interessada em tecnologia.
Sorrindo, Felipe respondeu que era um velhinho muito enxerido.
Max protestou, dizendo que não se tratava disto.
Comentou que não fosse o fato dele ser um sujeito intrometido, nunca saberiam onde a filha estava.
Agradeceu o homem.
Felipe então, recomendou-lhes que tivessem cuidado em abordar a moça.
Preocupado, sugeriu até acompanhá-los na tarefa.
Disse que sabia onde a jovem estava, e em que direção ficava a fazenda.
Nervosa, Laura exigiu que o homem dissesse a direção da propriedade, o que Felipe recusou-se a fazer.
Argumentou que nervosa do jeito que ela estava, faria com que Dandara fugisse novamente dela.
Maximiliano concordou.
Comentou que ele poderia acompanhá-los na viagem. Disse apenas, que pretendia viajar o mais rapidamente possível. Argumentou que precisava solucionar o impasse.
Felipe respondeu-lhe que poderiam viajar no dia seguinte, se quisessem.
Surpreso, Max concordou.
Sugeriu que poderiam fazer as malas naquela tarde, e que depois de uns telefonemas, ele estaria pronto para viajar.
Sim, poderia ser na manhã seguinte, disse.
E assim, ajustados, o trio tratou de cuidar de seus afazeres.
Laura e Maximiliano realizaram vários telefonemas para seus escritórios.
Informaram que se ausentariam por alguns dias e que um responsável cuidaria de suas atividades.
Arrumaram suas malas.
Felipe também arrumou suas malas.
No dia seguinte, o homem se dirigiu a casa dos empresários.
Seguiram rumo ao interior.
Viajaram por horas.
Aos poucos, Felipe informava ao homem, que caminho deveriam seguir.
Aconselhou-a pegar uma rodovia, e conforme chegavam na localidade onde ficava a fazenda, explicava o caminho.
A certa altura, percebendo a distância do local, Laura decidiu visitar Zélia, Olavo e seus irmãos de criação. Maximiliano também demonstrou interesse em visitar os pais.
Com isto, Laura, Maximiliano e Felipe visitaram a família da mulher.
Felipe conheceu Zélia, Olavo, Vicente e Antonio. Conheceu a família dos últimos, seus filhos, e a esposa de cada um.
A pedido de Zélia a mulher, o marido e o convidado, almoçaram no local.
Durante o encontro, Laura comentou que Dandara havia sumido de casa.
Zélia criticou a filha. Disse que a moça agira deste modo por que ela não lhe dera oportunidade de diálogo.
Irritada, ao ouvir as palavras da mãe, Laura comentou que aquele assunto lhe parecia muito familiar.
Zélia então, calou-se.
Nisto, perguntou de Júlia.
Nesta ocasião, foi informada que a moça estava com um trabalho agendado para o dia seguinte, e que não podia viajar com eles.
Contudo, ao perceber o desapontamento nos olhos da anciã, prometeu que assim que fosse possível, levaria a filha para visitá-la. As duas moças, aliás.
- Promete? – perguntou a mulher.
- Prometo. – respondeu Laura.
Mais tarde, após muita insistência da mulher para que ficassem, seguiram para o sítio de Rosália e Antunes.
A propriedade ficava próxima dali.
No local, tomaram um lauto café da tarde, e após muita insistência, permaneceram para jantar.
Por fim, acabaram pernoitando no local.
Conversando com a sogra, Laura comentou que estava cansada de brigar com a filha.
Aflita, respondeu que não sabia mais o que fazer.
Rosália respondeu-lhe que talvez as coisas não fossem tão ruins quanto imaginava.
Após conversar com um pouco com Felipe, a mulher comentou que Dandara parecia ter se adaptado a vida na fazenda, e que poderia estar até feliz.
Laura duvidou.
Comentou que Dandara tinha uma vida de luxo na cidade, que nunca se acostumaria com a vida de gata borralheira.
Rosália por sua vez, ao ouvir as palavras da mulher, comentou que ela poderia ter uma grande surpresa com a filha.
Com isto, no dia seguinte, após um caprichado café da manhã, o trio partiu.
Novamente se depararam com o discurso do fica mais um pouco, promovido pelos sitiantes.
Laura, argumentando que tinha pressa em encontrar a filha, mencionou que retornaria com Dandara e Júlia para vê-los.
Desculpou-se pela pressa, mas disse que precisava partir.
Nisto, o trio se despediu.
Prosseguiram viagem.
Conforme se aproximavam da propriedade, Laura perguntava se ainda faltava muito para chegarem.
A certa altura, Maximiliano irritou-se.
Disse que assim que chegassem, ela saberia.
Rindo, Felipe comentou que ela estava parecendo uma criança.
Laura pediu desculpas. Disse que estava nervosa.
Maximiliano irritado, aconselhou-a a se acalmar.
O homem continuou dirigindo.
Felipe lhe passava a direção.
Em dado momento precisaram perguntar a direção da fazenda.
Depois de algum tempo, finalmente chegaram a porteira da propriedade.
Maximiliano desceu do carro.
Um colono, ao ver o homem se aproximando, perguntou o seu nome.
Maximiliano apresentou-se.
Disse que precisava conversar com a proprietária da fazenda.
Felipe que também saíra do carro, disse-lhe o nome da senhora.
Laura, permanecendo no veículo, não ouviu o que os homens conversavam.
Com efeito, o colono abriu a porteira para os homens.
De carro, o trio seguiu até a sede da fazenda.
Para isto, foram instruídos pelo empregado.
Chegaram em frente a um casario colonial.
Lá, foram recepcionados por Elisa e Carla.
As mulheres se espantaram ao verem os desconhecidos descendo do carro.
Entreolhando-se, perguntando quem seriam os visitantes.
Mais convidados para a festa organizada pela fazendeira?
Maximiliano, Laura e Felipe disseram bom dia, e perguntaram se Dona Ludmila, a proprietária da fazenda se encontrava em casa.
Carla respondeu aos visitantes que esperassem no alpendre que iria chamar a patroa.
Laura agradeceu.
Os três subiram as escadarias e sentaram-se numa das poltronas.
Minutos depois, a octogenária senhora se apresentou.
Laura se espantou.
Perguntou se ela era a proprietária da fazenda.
Ludmila respondeu-lhe afirmativamente.
Nisto, Maximiliano e Felipe se apresentaram.
A fazendeira ficou espantada.
- Felipe? Maximiliano? – curiosa, perguntou o nome da mulher.
Laura respondeu-lhe então.
Comovida, a fazendeira indagou:
- Laura? Minha Laura?
Ao ouvir a pergunta, a mulher perguntou novamente, o nome da fazendeira.
- Ludmila, oras! Que pergunta?
Laura ficou perplexa.
Minutos depois, lançou um olhar furioso para Maximiliano.
Irritada, perguntou o que estava acontecendo.
Seria por acaso, uma brincadeira de mal gosto? Indagava furiosa.
Maximiliano cauteloso, procurando manter a calma, respondeu que não contou-lhe antes, por que sabia que ela iria se opor.
Nisto emendou dizendo que de fato, Dandara poderia estar por ali, e que eles precisavam se acertar.
Nervosa, Laura ameaçou dar meia volta.
No entanto, foi impedida de realizar seu intento, pelos homens que a acompanhavam.
Tanto Felipe quanto Maximiliano lhe disseram que ela não poderia ir embora sem conversar.
Felipe inclusive, aconselhou-a a ser acalmar.
Ludmila, impressionada com a visita, não conseguia esboçar palavras.
Somente no momento em que a mulher ameaçou partir, é que ela se manifestou.
Pediu a ela que não fosse embora. Disse que uma moça chamada Dandara, estava de fato morando ali.
Ludmila comentou que a moça era encantadora. Esforçada e dedicada.
Laura ao ouvir isto, respondeu que esta não era sua filha.
A fazendeira por sua vez, argumentou dizendo que talvez sempre tivesse sido desta forma, mas que ela não dera a oportunidade para a jovem se mostrar como de fato era.
Laura enervou-se.
Disse-lhe que ela não era ninguém para criticá-la, já que nunca fora uma mãe presente.
Argumentou que a criação da filha cabia única e exclusivamente a ela. Por fim, acrescentou que não seria uma estranha quem iria atrapalhar.
Felipe, tentando acalmar os ânimos, falou que não era o momento para conversas duras, e que precisavam saber, se poderiam conversar com Dandara.
Ludmila, convidou-os para permanecerem na propriedade.
Disse que todos estavam convidados.
Comentou que em poucos dias, haveria uma festa junina no local.
Felipe animou-se.
Relatou que nunca vira uma festa junina na roça.
Elisa e Carla então, acompanhadas de Felipe e Maximiliano, retiraram as malas do carro, e levaram até a sala.
Ludmila comentou que Felipe, ficaria em um dos quartos de hóspedes da cama.
Laura e Maximiliano por sua vez, ficariam num dos quartos defronte o seu.
A fazendeira comentou que a casa era grande, como todas as construções coloniais o eram.
E assim, havia muitos quartos na propriedade.
Feliz, comentou que finalmente estava com toda a família reunida. Todos os filhos, até a única filha mulher que tivera.
Laura contudo, continuava reticente.
Recusou-se a aceitar a hospedagem.
Somente por insistência de Felipe e Maximiliano, deixou as empregadas retirarem as malas do carro.
Estava contrariada.
Insistia em conversar com Dandara.
Maximiliano contudo, dizia que ela devia esperar para conversar com a filha.
Falava-lhe que nervosa como estava, só pioraria as coisas.
Ludmila então, aproximando-se, disse que se instalassem, arrumassem suas coisas.
Contrariada, a moça recolheu-se com o marido em seu quarto.
Retirou as roupas das malas. Arrumou-as no guarda-roupa.
A fazendeira por sua vez, recomendou que o café da manhã fosse novamente posto à mesa.
Elisa e Carla o fizeram.
Cerca de meia-hora depois, o trio retornou a sala.
Ludmila os aguardava.
Animada, convidou-os para o café da manhã.
Laura respondeu secamente que já havia se alimentado na casa de sua sogra.
A fazendeira insistiu.
- Mas não vão querer nada? Olhe que o almoço vai demorar.
Maximiliano perguntou então da filha.
Ludmila respondeu que estava em cavalgadas pela fazenda ao lado de Cláudio, seu outro neto.
Surpreendida, comentou que Dandara era sua neta também. Feliz, comentou que isto explicava tanta afinidade.
Felipe respondeu que a moça era muito educada, e que gostava muito dela.
Comentou preocupado, que esperava não aborrecê-la em demasia com sua atitude. Relatou que nos últimos tempos ela fora sua melhor companhia.
O homem comentou que Dandara era um sopro de vitalidade e novidade em sua já gasta vida.
Ludmila respondeu-lhe que ainda estava muito cedo para desistir da vida.
Rindo, o homem comentou que já tinha mais de noventa anos.
Ludmila respondeu-lhe que estava bem, e cheio de energia. Certamente chegaria aos cem anos.
A fazendeira falou-lhe que já estava com mais de oitenta anos.
Felipe gentil, respondeu-lhe que ainda estava na flor dos anos.
Ludmila redargüiu dizendo que ele era muito gentil.
Conversando, a mulher descobriu que ele era filho de Fátima e Fábio, sobrinho de Epaminondas, ilustre empresário da capital.
Descobriram-se parentes. Primos distantes
Brincando, Ludmila disse que se criara na cidade, mas que depois de casar-se com Antenor, virou um bicho do mato e nunca mais voltou a viver na cidade.
Ludmila contou de sua luta para dar continuidade ao trabalho do primeiro marido.
Maximiliano surpreendeu-se.
Perguntou-lhe quantas vezes fora casada.
Ludmila contou-lhe de primeiro matrimônio, da viuvez.
De como se conheceram, sendo ela professora do grupo escolar do lugar.
Emocionada, relatou que quando não imaginava mais que iria se casar, conheceu Lúcio.
A mulher relatou que ele era o pai de Laura.
A mulher, indiferente, começou a prestar atenção na história.
Maximiliano percebendo que Ludmila se emocionava com o relato, perguntou-lhe se não gostaria de interromper a história.
A fazendeira respondeu-lhe com firmeza que não.
Disse que Laura precisava conhecer sua origem.
Felipe e Maximiliano, percebendo que as mulheres precisavam ficar a sós, resolveram se ausentar.
Discretos, dirigiram-se a sala de jantar.
Lá foram servidos por Carla.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
sexta-feira, 2 de abril de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 17
Continuou trabalhando, para desgosto de Maximiliano, que queria que a mulher ficasse em casa, cuidando das filhas.
Brigaram muitas vezes por isto.
Laura argumentava que não seria feliz sendo uma simples dona de casa.
Dizia que nunca o enganara quanto a isto.
Maximiliano retrucava dizendo que ela poderia trabalhar menos.
A mulher respondia que estava acostumada a trabalhar e que não se furtava em dar atenção as meninas. Só não podia estar presente o tempo inteiro.
Isaura, tentava amenizar as coisas dizendo que ele precisava ter um pouco de paciência com a mulher. Dizia que ele sabia que Laura era uma pessoa independente, e que não seria brigando com ela que a faria convencê-la a se dedicar mais a família.
Isaura falou-lhe que precisava ter jeito para conduzir as coisas.
Maximiliano, procurando se acalmar, concordou.
Aos poucos, Laura foi diminuindo o ritmo de seu trabalho.
Contudo, em certas ocasiões, não era possível ficar mais tempo em casa.
Tal fato deixava Maximiliano incomodado.
Laura por sua vez, sempre que podia, procurava cuidar das meninas.
Aproveitava para dar banho nas crianças, alimentava-as, brincava com elas, lia histórias para dormirem.
Maximiliano ficava enternecido quando via a mulher cuidando das crianças.
Comentava que Dandara e Júlia gostavam muito dela.
Laura respondia que sabia disto, e que também as amava muito.
Com isto, a mulher continuou suas atividades empresariais.
Dandara e Júlia a esta altura estavam no colegial.
A caçula era uma aluna aplicada, sempre às voltas com livros e se dedicando aos estudos.
Dandara por sua vez, gostava de cabular as aulas, fumava, bebia e vivia às voltas com festas.
Dizia a Júlia que a vida era muito curta para se prender aos estudos, e que se era para viver desta forma, era melhor viver pouco.
Júlia por sua vez, achava graça nas palavras da irmã.
Laura no entanto, não achava a menor graça dos comentários.
Por conta disto, as duas viviam às turras.
Maximiliano tentava apartar as brigas, mas raramente conseguia obter êxito neste intento.
Dandara sempre lhe dizia que estava do lado de Laura, e que nunca a defendia.
A moça se dizia incompreendida e injustiçada. Falava que todo o afeto de seus pais, era para Júlia, o motivo de todo o orgulho da família.
Ela não, sentia-se toda errada, e sem amor.
Chateada, procurava chegar cada vez mais tarde em casa.
Passava as noites em baladas, bebendo e dançando.
De manhã, quando precisava ir a faculdade, estava sempre com muito sono.
Razão pela qual sempre chegava atrasada, chegando a perder as primeiras aulas, ou nem ia.
Laura, ao notar a displicência de Dandara com os estudos, a recriminava.
Dizia que estava investindo muito dinheiro em sua educação, para vê-la desperdiçando a oportunidade de um futuro confortável.
Irônica, Dandara dizia que seu futuro estava assegurado, pois era filha de uma mulher rica.
Laura, ao ouvir estas palavras, argumentou que se ela não administrasse bem o dinheiro, em pouco tempo, dissiparia todo seu patrimônio. Ademais, tentando ameaçá-la, dizia a ela que não existe herança de pessoas vivas e que se pudesse, poderia se desfazer de todo seu patrimônio em vida. Nervosa, falou a filha para que não contasse com aquilo, ou poderia se dar mal.
Dandara dava de ombros.
Muitas vezes se sentava a mesa para tomar café da manhã, por volta das onze horas da manhã.
Às vezes só se levantava duas, três horas da tarde.
Erotildes esquentava a comida para a moça.
Laura, ao saber deste fato, proibiu a empregada de providenciar comida para a filha.
Argumentou que se Dandara quisesse almoçar, que ela fosse até a cozinha e se virasse.
Ressaltou que se descobrisse que algum dos criados estava fazendo as vontades da filha, seria sumariamente demitido.
Laura respondeu que não teria pena, mesmo que se tratasse de uma pessoa com quem trabalhava há anos.
Avisadas, as empregadas acobertavam os maus feitos da moça.
Quando Laura perguntava da moça, Erotildes dizia que Dandara já estava na faculdade.
Um dia, desconfiada das palavras da empregada, a mulher dirigiu-se ao quarto da filha e notou que mesma dormia a sono solto.
Furiosa, a mulher puxou o cobertor em que a moça estava enrolada.
Chacoalhou Dandara instando-a a levantar-se.
A moça, irritada, gritou com a mãe.
Disse-lhe que ela não tinha direito de fazer o que estava fazendo. Argumentou que ela não escrava para ser tratada daquela forma.
Laura, ao ouvir as palavras de desafio da filha, respondeu que enquanto ela vivesse debaixo de seu teto, teria que se submeter as suas ordens. Acrescentou que ela deveria se vestir, se compor e ir para a faculdade. Relatou que não estivesse satisfeita com o tratamento dispensado, que fosse cuidar da própria vida.
Dandara reclamou, mas ao notar o olhar severo de Laura, encaminhou-se para o banheiro.
Nisto, quando soube que Erotildes estava acobertando a filha, Laura ficou furiosa.
Conversando com a empregada, disse-lhe que ela tinha um mês para arrumar um novo emprego.
Desesperada, a mulher argumentou que com a idade que tinha, não conseguiria um emprego com tanta facilidade.
Laura não se comoveu.
Disse que não podia continuar trabalhando com uma pessoa em que não confiava.
Nisto, falou que iria indicá-la para alguns amigos. Ressaltou porém, que não devia desobedecer as ordens de seus novos patrões, ou ficaria novamente sem trabalho.
Maximiliano, ao tomar conhecimento do fato, criticou a esposa.
Laura respondeu que não podia continuar a passar a mão na cabeça da filha, ou deixar que outros o fizessem. Relatou que ou Dandara se emendava, ou eles teriam sérios problemas no futuro.
Ao ouvir isto, Maximiliano argumentou que ela fora uma mãe ausente.
No que Laura retrucou dizendo que nunca fora ausente.
Apenas não ficara em casa, cuidando das filhas.
Neste tempo, Isaura morava em outra residência.
Quando o casal decidiu voltar a viver juntos, a mulher optou por se afastar.
Argumentou que eles precisavam de privacidade.
De vez em quando porém, a mulher visitava a família.
Júlia adorava conversar com a senhora.
Dandara invariavelmente estava ausente.
Sempre as voltas com conhecidos, e até com estranhos que conhecia na noite.
Certo dia, ao voltar para casa certa noite, completamente bêbada, a garota se deparou com Laura, que a aguardava na sala.
Tentando disfarçar a bebedeira, a moça falou que estava bem, que havia se divertido muito e que ia se recolher.
Laura, percebendo que a moça estava alcoolizada, segurou seu braço, e, subindo as escadarias, levou-a até seu quarto.
Lá, encaminhou a garota para o chuveiro.
Dandara ficou esperneando, mas Laura abriu o chuveiro.
Toda molhada, a moça começou a gritar dizendo que a mãe era uma estúpida, que ela não tinha o direito de molhá-la.
Irritada, Laura mandou Dandara calar a boca.
Disse que estava cansada de seus modos grosseiros. Argumentou que ela nem mesmo parecia uma garota, com aquelas roupas rasgadas, aquele cabelo pintado de vermelho, e os modos grosseiros.
Nisto, tirou a filha do chuveiro.
Exigiu que tirasse a roupa molhada e vestisse uma roupa limpa.
Dandara irritada, respondeu que ela não lhe dava ordens, que não mandava nela.
Foi o bastante para Laura desferir um tapa no rosto da filha e lhe dizer que mandava sim.
Completou dizendo que enquanto ela não soubesse cuidar da própria vida, mandaria nela, e ditaria as regras que devia seguir, e que se não estivesse satisfeita, poderia arrumar suas coisas e sair daquela casa.
Dandara irritada, respondeu que seria isto mesmo que faria.
Tentando ferir a mãe, a moça falou que ela estava fazendo com a filha, o mesmo que fizera tempo atrás com Zélia.
Ao ouvir isto, Laura ameaçou bater novamente na moça.
Chegou a levantar o braço, mas se deteve.
Pensando no que a filha dissera, argumentou que ela não sabia o que dizia.
Comentou que para criticá-la, teria que primeiro conhecer os fatos. Argumentou que ela não sabia da missa a metade. Razão pela qual, não tinha o direito de opinar.
Dandara, em tom provocativo, exigiu que ela lhe contasse a história.
Laura por sua vez, respondeu que ela tinha cinco minutos para se trocar, ou levaria uma surra.
Nisto afastou-se. Antes, trancou a porta do quarto.
Dandara, ao perceber isto, começou a bater na porta e a gritar.
Maximiliano e Júlia, ao ouvirem os berros, levantaram-se de suas camas.
Assustados, foram verificar o que estava acontecendo.
Quando perceberam que era Laura e Dandara brigando, tentaram conter a briga.
Em vão.
Maximiliano, percebendo que a mulher estava irredutível, pediu para entrar no quarto.
Laura, cansada de brigar, concordou.
Mas recomendou que exigisse que ela trocasse de roupa.
Mencionou que ela tomou um banho para curar a bebedeira.
Maximiliano ficou chocado ao saber que a filha voltara bêbada para casa.
Com isto, dirigiu-se ao quarto.
Ao lá entrar, encontrou Dandara encolhida, encostada em um canto da parede do quarto, chorando.
Cuidadoso, o homem perguntou o que estava acontecendo.
Dandara respondeu-lhe que estava cansada de ser maltratada, desconsiderada. Mencionou que um dia iria pegar suas coisas e sumir.
Nunca mais iriam saber dela, ameaçava.
Maximiliano, tentando colocar panos quentes, dizia que não precisava exagerar.
Disse que ela precisava apenas se acalmar um pouco, e que as coisas iriam se ajeitar.
Dandara, sempre que ouvira estas palavras, ficava irritada.
Dizia que não queria se acalmar, que estava cansada de aceitar as coisas como estavam.
A certa altura, o próprio Maximiliano se impacientou a filha.
Exigiu que ela trocasse a roupa molhada, se recompusesse, pois aqueles não eram modos de uma moça.
Quando Dandara pediu para sair do quarto, Maximiliano retrucou dizendo que estava proibida de sair de casa pelos próximos dias.
Gritando, a moça respondeu-lhe que não poderia proibi-la de sair.
O homem olhando-a nos olhos, disse em tom elevado, que estava sim, proibida de sair.
Com isto, retirou-se do quarto. Trancou a porta.
Dandara então, trocou de roupa.
Chorando, deitou-se em sua cama.
Meia hora depois, Laura se encaminhou ao quarto da filha. Dandara dormia pesadamente.
Nisto, retirou a roupa molhada - jogada num canto do quarto -, entregando-a a uma das empregadas.
Conforme Maximiliano determinara, Dandara ficou alguns dias de castigo.
Não podia sair da casa.
Por diversas vezes, a moça tentou fugir, mas sempre era impedida pelos seguranças.
Quando se encerrou o período do castigo, a moça foi liberada para freqüentar a faculdade, sempre acompanhada de um segurança.
Dandara só saía de casa para ir a faculdade e voltar.
A companhia constante do segurança, estava lhe causando problemas.
Seus colegas, ao saberem do fato, começaram a fazer brincadeiras com ela.
Diziam que sua vida estava em perigo, brincavam que ela era a testemunha secreta de um crime, entre outras coisas.
Por conta disto, Dandara passou a questionar os pais.
Insistiu em dizer que não era preciso um segurança em seu encalço.
Relatou que estava cansada das brincadeiras e piadinhas.
Maximiliano retrucava dizendo que ela devia ter pensado nisto, antes de optar por agir de maneira tão irresponsável. Argumentou que ela só voltaria a sair sozinha quando demonstrasse ser digna de confiança.
Um dia porém, Dandara conseguiu se desvencilhar da marcação do segurança.
Aproveitando-se de um momento de distração, em que o moço foi abordado por alguém que lhe fazia uma pergunta, a moça aproveitou para caminhar na direção oposta a que estava.
Encostando-se em uma parede, Dandara aproveitou para sair do campo de visão do homem.
Por fim, quando o mesmo olhou em volta, percebeu que a moça havia sumido.
Diligente, procurou-a por todos os lugares próximos.
Contudo, não conseguiu encontrá-la.
Precisou então, contatar os pais da moça.
Com o tempo, Maximiliano montou um escritório próprio para trabalhar.
E assim, passados os anos, o escritório se tornou uma microempresa.
Isto, sem a ajuda de Laura e enquanto as filhas cresciam.
O pouco dinheiro da mulher investido no negócio, foi devolvido com juros, por ele.
Laura não fazia questão de receber o dinheiro de volta, mas Maximiliano fez questão de devolver a quantia recebida.
Cumpre destacar, que quando as meninas ainda eram pequenas, Laura encontrou Ludmila a caminhar pelas ruas da capital.
Estava acompanhada das duas crianças.
Ao perceber que Laura estava por perto, resolveu se aproximar.
Ficou encantada ao saber que a mulher tivera filhas.
Procurou conversar com Laura, que permanecia monossilábica.
Em dado momento, Ludmila lhe disse que já era avó, pois seus três filhos homens se casaram e lhe deram netos, mas não sabia que ela também havia tido filhos.
Laura respondeu-lhe que as meninas não eram suas netas.
Ludmila ficou sem graça.
Incomodada, Laura perguntou-lhe o que fazia ali, por viera falar com ela.
Por que não fingira não tê-la visto?
Ludmila respondeu que tinha o direito de se aproximar. De conversar, afinal, ela era sua filha, tanto quanto os rapazes.
Laura nervosa, respondeu que ninguém que abandona um filho tem o direito de chamá-lo por este nome. Comentou que não a reconhecia como mãe e que mãe era quem criava.
Ludmila tentou retê-la.
Laura por sua vez, gritou para que ela a deixasse em paz.
Ao perceber que os passantes olhavam para elas, Laura resolveu se afastar.
Ludmila permaneceu no local.
Sentou-se um banco de madeira e começou a chorar.
Dandara e Júlia não passavam de dois bebês.
A mais velha, era conduzida pelo braço, enquanto Júlia permanecia no colo de Laura.
Fora uma das raras tardes em que as três ficaram juntas. Passearam no shopping.
Laura comprou algumas roupinhas para as filhas, e levou-a para brincar.
As crianças estavam calmas.
Quando Laura contou a Maximiliano sobre o encontro, o moço criticou-a.
Disse que ela não devia ter rechaçado Ludmila.
Nervosa, a mulher argumentou que Ludmila não fazia parte de sua vida, que não era parte de sua família.
Maximiliano lhe dizia que ela era muito teimosa.
Mas Laura permanecia firme em sua disposição de manter-se longe de Ludmila.
Com Zélia e Olavo, as coisas melhoraram um pouco.
A mulher de vez em quando viajava para a fazenda onde moravam.
Aproveitava para ficar alguns dias em companhia da família, conversava com os irmãos.
Com o tempo, comprou uma pequena propriedade para os pais de criação, que passaram a cuidar da mesma.
Maximiliano por seu turno, ficou feliz ao saber que a moça presenteara os pais com um presente tão bonito.
Laura também comprou um sítio para Rosália e Antunes.
Disse que era um presente, e que não aceitaria nenhum dinheiro por conta da aquisição.
Maximiliano porém, devolveu todo o dinheiro que a mulher investira na propriedade.
Disse que seus eram sua preocupação, e que ela não precisava se ocupar disto.
Laura contudo, não se importava em ajudar quando podia.
Maximiliano ficava encantado com isto.
Quanto a Dandara, a moça, ao se ver livre do segurança, aproveitou para visitar uma amiga das baladas.
Passou dois dias na casa da garota.
Juntas, saíram a noite, paqueraram, beberam.
Certa noite, a moça agarrou um homem e abraçou-o.
O rapaz aproveitou para beijá-la.
Por fim, Dandara voltou para casa.
Ao lá chegar, assustou-se ao ver um carro de polícia.
Laura e Maximiliano, aflitos, chamaram a polícia.
O casal, ao ver a filha entrando na casa, ficou aliviado.
Os policiais por sua vez, ao perceberem que a moça procurada adentrara a residência, recomendaram ao casal que fossem a delegacia retirar a queixa.
Com isto, os profissionais pediram licença e se retiraram.
Laura, ao ver Dandara diante de si, perguntou-lhe se estava tudo bem.
A moça respondeu-lhe que sim.
Nisto, perguntou que circo era aquele que fora armado na frente da casa.
Foi o bastante para Maximiliano se impacientar com a moça e mandá-la se recolher em seu quarto.
Dandara respondeu que estava tão feliz que não se importava em ficar trancada.
Assim, subiu as escadas e fechou-se em seu quarto.
Maximiliano e Laura se entreolharam.
Não sabiam o que fazer.
A cada dia que passava, Dandara voltava mais tarde para casa.
Um dia, em suas andanças pelas ruas da capital, a moça se deparou com um senhor sentado sozinho em um bar.
Ao notar que se tratava de um senhor de idade, o qual estava muito bem vestido, resolveu se aproximar.
Dirigindo-se a ele em tom preocupado, perguntou-lhe se não deveria estar em casa.
Argumentou que sua família o devia estar esperando, que seus netos poderiam estar aguardando para brincar com ele.
Sorrindo, o homem respondeu que não tinha mais família. Que as poucas pessoas que restavam do que seria uma família, estavam longe, e ele não queria incomodá-las.
Nisto, ao reparar no semblante jovem que o fitava, o homem perguntou o que uma menina tão jovem, estava fazendo em um ambiente daqueles.
Dandara respondeu que estava acostumada a freqüentar aqueles ambientes, e que não era tão jovem quanto ele pensava.
O homem riu.
Achou graça nos modos da moça, tanto que comentou que ela parecia uma menina, menor de idade até.
Aborrecida, Dandara retrucou dizendo que não era menor de idade, e que não estava sozinha.
O homem então, cumprimentou-a.
Disse se chamar Felipe, pediu-lhe desculpas pelo comentário.
Argumentou que o fato de envelhecer o estava fazendo perder a percepção das coisas. Rindo, comentou que não tivera a intenção de ofendê-la.
Dandara, ao ouvir as palavras do homem, comentou que ele falava de um modo divertido.
Felipe respondeu que era por que pertencia a um tempo muito antigo, um passado que não voltava mais.
A moça então, percebendo que ainda não havia se apresentado, pediu desculpas por seus modos e se apresentou.
Ao ouvir o nome da garota, Felipe falou que este nome lhe lembrava uma música muito bonita, e que ela lembrava a jovem da canção. Simpático, disse que era um nome muito inspirado e que só poderia pertencer a alguém com muita personalidade.
Dandara sorriu.
Foi o bastante para o senhor lhe dizer que ela tinha o mais belo sorriso que já tinha visto nos últimos anos. Por fim, completou dizendo que não a estava cantando, comentou que estava velho demais para isto, e que tinha um refinado senso do ridículo.
Dandara riu.
Seus colegas, ao verem a moça conversando com o senhor, começaram a dizer:
- E aí Dandara, vai ficar aí com o tiozinho? É o seu namorado?
Dandara retrucava dizendo que eles eram uns bobões.
Felipe respondeu então:
- Tiozinho não. Se é para chamar de velho, chamem logo de tiozão mesmo.
Ao ouvirem o comentário, todos riram.
Com isto, o homem respondeu que Dandara era uma moça muito bonita, mas que ele não se atreveria a paquerá-la, sob o risco de passar por um velho patético. Comentou que talvez fosse um pouco, mas que isto não precisava ficar tão evidente assim.
Ao longo da noite, o senhor havia se tornado amigo dos garotos.
Pagara bebida para eles, e fizera um desafio.
Provocou-os dizendo que pagaria uma pequena quantia, para aquele que fosse capaz de após beber, segurar uma bandeja cheia de louças, sem derrubar um copo.
Todos os que tentaram, caindo de bêbados que estavam, não conseguiram realizar o intento.
Felipe por sua vez, indenizou o dono do bar.
Por fim, dizendo que eram todos um bando de trôpegos, comentou que ninguém levaria o prêmio.
Dandara, riu da brincadeira.
Nesta noite não colocara uma gota de álcool na boca.
Felipe então, olhando para a moça, sugeriu que ela carregasse a bandeja.
Dandara tentou se livrar do desafio, mas não teve jeito.
Felipe intimou-a e a moça carregou a pesada bandeja.
Um tanto titubeante, a jovem conseguiu segurar a bandeja andando de um lado para o outro do bar.
Ao vencer o desafio, Felipe aplaudiu a moça.
Com isto, Dandara recebeu uma pequena quantia em dinheiro.
Dias depois, ao voltar ao mesmo bar, lá estava o homem.
Sempre elegantemente trajado, de chapéu, e bebericando um whisky.
Ao ver a moça novamente, comentou que sentira sua falta.
Conversaram durante toda a madrugada.
Felipe contou suas histórias para a moça, que o ouvia com muita atenção.
O homem contava histórias de fantasmas, antigas, de sua família, de como se tornara um grande empresário.
Todos o ouviam com atenção, até os garçons.
O homem contou que em sua infância, conhecera uma linda jovem com uma história muito triste, que o encantou.
Sorrindo, comentou que ela fora seu primeiro amor.
Contou sobre a origem de sua família.
Bisneta de uma famosa cortesã de uma cidade da região, nasceu em família rica, mas em meio a desatinos de seu genitor, perdera tudo.
Passou a viver como circense.
Felipe a conheceu quando fugiu de casa.
Para surpresa de todos, comentou que já trabalhou em um circo.
Animado, contou detalhes de sua peripécia.
De como mais tarde, foi contemplado herdeiro de uma tia que não conhecera.
Foi daí que um tio generoso, ajudou a consolidar sua fortuna.
Adulto, passou a administrar a empresa organizada pelo tio.
Os jovens ficaram impressionados com as aventuras do senhor.
Com o tempo, deixaram de chamá-lo de velho, de tiozinho.
O tratamento se modificou.
Felipe passou a ser, senhor Felipe.
Dandara se tornou sua amiga.
Contava-lhe sobre a dificuldade de convivência com seus pais. Dizia que eles não a entendiam, que ninguém a entendia.
Paciente e compreensivo, o homem lhe dizia para ter paciência.
Argumentava que eles pertenciam a outra geração, e que muitas pessoas tinham dificuldades para entender a mudança das coisas. Sentiam-se atropelados pelos acontecimentos.
Dandara falava-lhe das noitadas, das vezes em que arranjava ficantes.
Contou para um espantado Felipe, que já beijou vários paqueras numa mesma noite.
Felipe achou curioso aquele novo comportamento.
Perguntou detalhes, que Dandara, sem se fazer de rogada, explicou.
Brincalhão, o homem respondeu que ela gostava de beijar muito.
Os dois riram.
Em dado momento, ao ouvir que ela gostava de beber, e que já havia chegado várias vezes bêbada em casa, Felipe a censurou.
Disse que ela era jovem, bela e com uma vida inteira pela frente. Argumentou que beber era bom, divertido, mas que todo o excesso era ruim.
Preocupado, recomendou-lhe que não bebesse tanto.
Dandara riu.
Mencionou que ele usando aquelas palavras, parecia sua mãe.
O homem então, argumentou que se ela dizia aquelas palavras caretas, era porque estava preocupada com ela, importava-se com sua sorte.
A moça não gostou de ouvir estas palavras.
Disse que sua mãe não parecia se importar com ela, sempre lhe dando broncas, e a censurando por seu modo de ser.
Felipe, percebendo que a moça estava aborrecida, mudou de assunto.
Dandara sempre se podia, se dirigia ao bar onde Felipe costumava estar.
Certa vez, ao lá chegar com seus amigos, percebeu que seu dileto amigo não estava lá.
Preocupada, perguntou ao bartender, por Felipe.
O rapaz respondeu que fazia tempo que ele não aparecia por ali.
No dia seguinte, preocupada, a moça retornou ao bar.
Felipe estava sentando no balcão, bebericando um whisky como sempre fazia.
A garota, ao vê-lo, tratou logo de abraçá-lo.
Comentou que sentiu saudades.
Felipe brincou dizendo que ela devia sentir saudade de gente mais jovem, mais bonita e não de um velho esquecido de todos.
Dandara lhe disse que ele não era um velho e que nunca mais seria esquecido. Pelo menos no que dependesse dela.
Com o tempo, Dandara descobriu o endereço do homem.
Atento as mudanças tecnológicas, a dupla conversava por meio eletrônico.
Os colegas da garota também se divertiam com Felipe.
Com Dandara no entanto, a convivência era mais próxima.
Enquanto isto, a convivência com seus familiares estava cada vez pior.
Embora a moça tenha dado um tempo nas bebedeiras, continuava a chegar tarde.
E como sempre, negligenciava os estudos.
Laura, sempre que podia chamava a atenção de Dandara, que sempre lhe respondia rispidamente.
A certa altura, a mulher disse que estava cansada de sustentar uma criatura tão imprestável.
Por várias vezes, a empresária despertou a filha aos chacoalhões, instando-a a se arrumar para ir a faculdade.
Por conta de suas constantes ausências, suas notas eram baixas, e seu desempenho – insuficiente.
Quando Laura soube disto, ficou furiosa.
Criticou a filha.
Disse-lhe que a única coisa que fazia era estudar, e que por esta razão devia se dedicar com afinco ao mister.
Júlia por sua vez, sempre dedicada aos estudos, era uma ótima aluna.
Razão pela qual foi usada por várias vezes como exemplo por Laura, que lhe dizia que devia se espelhar na irmã mais nova.
Dandara ficava furiosa com este tipo de comparação.
Falava a todo instante que não era Júlia e que nunca poderia ser igual a ela.
Dandara gostava de dançar, gostava da noite, de paquerar, namorar, e de beber.
Adotava um visual exótico.
Mas em que pese viver cercada de pessoas e de colegas, muitas vezes se sentia só.
Sentia-se rejeitada pela mãe, que não a aceitava como era.
Laura vivia elogiando o comportamento de Júlia.
De fato, a moça gostava de se arrumar.
Vaidosa, estava sempre muito bem arrumada, ora com vestidos, saias, calças jeans.
Maximiliano vivia a chamar a filha caçula de princesa, boneca.
Para Dandara, dispensavam gritos, broncas.
Nos últimos tempos, a convivência estava difícil.
Certo dia, Laura deixou escapar que a moça mudara muito.
Perguntou-lhe o que estava acontecendo. Comentou que quando criança era muito doce e gentil.
Dandara retrucou dizendo que ela também havia mudado.
Comentou que precisou pintar os cabelos escondida, pois ela não aceitava a mudança de visual. Argumentou que estava cansada de adotar o visual imposto por ela, que queria fazer suas próprias escolhas.
Discutiram sobre a aparência da moça, o modo autoritário de Laura, o comportamento de Dandara.
A discussão chegou a tal ponto que Laura chegou a mandar a filha sair de casa.
Disse-lhe que se não estava satisfeita como os modos como as coisas funcionavam naquele lar, poderia pegar suas coisas e não voltar mais.
Irritada, Laura falou que estava cansada de dar conselhos a filha, de alertá-la de que a vida não é uma eterna festa.
Argumentou que ela devia aprender então a enfrentar a vida. Quem sabe assim, aprenderia a valorizar o que tinha.
Dandara, ao ouvir as palavras da mãe, respondeu dizendo que iria sim sair de casa.
Relatou que estava cansada de ser destratada por todos na casa. Arrumaria suas coisas e iria embora sim.
Descrente, Laura respondeu ríspida que ela poderia fazer o que bem entendesse.
Não acreditava que de fato a filha arrumaria as malas e iria embora.
Júlia e Maximiliano, ao saberem da discussão, criticaram Laura.
Disseram que ela devia ter mais tato para conversar com Dandara.
Aborrecida, Laura mencionou que sempre que tentou usar de tato para conversar com a filha, as coisas não tiveram um bom termo.
Nervosa, relatou que precisava ter uma conversa definitiva com a moça.
Dandara por seu turno, em que pese as comparações com Júlia, gostava da irmã.
Em que pesem algumas rusgas, a convivência entre as moças era boa.
De vez em quando estudavam juntas.
Laura, sempre que via as irmãs unidas, ficava enternecida com a cena. Isto por que, nos últimos anos, momentos como aqueles eram raros.
Quando Dandara entrou na adolescência, começaram os problemas.
A moça sempre queria sair para dançar, e Laura impedia a menina.
Dizia que era muito nova.
A certa altura, depois de muitas brigas, e percebendo que não poderia segurar a moça por mais tempo, aos poucos, foi deixando a moça sair com os amigos.
Quando ingressou na faculdade, Dandara, ao conhecer uma turma chegada em uma festa, passou a freqüentar barzinhos e boates.
Quase todos os dias chegava tarde em casa.
Com o tempo passou a beber.
Bebia muito.
Laura se preocupava com a filha.
Dandara passou a freqüentar as aulas de forma esporádica.
Seu desempenho piorou.
Laura, então, tomou o carro com que havia presenteado a filha quando esta passou no vestibular.
Disse que ela não poderia ficar sozinha dirigindo até tarde. Falava que a madrugada era muito perigosa e que ela devia se preservar.
Quando descobriu que Dandara estava bebendo e chegando bêbada em casa, ficou furiosa.
Censurou a filha, fazia a moça tomar banhos gelados.
Perguntava quem havia lhe dado carona.
Como havia conseguido chegar em casa.
Muitas vezes porém, cansada de um extenuante dia de trabalho, Laura optava por dormir.
Por diversas vezes deixou de ver a filha bêbada entrando em casa.
Triste, chegou a comentar certa vez com Maximiliano, onde havia errado na criação de Dandara.
Perguntava-se a todo o momento como conseguira criar duas filhas tão diferentes.
Isaura, sua conselheira dos momentos difíceis, dizia que ela precisava ter paciência com Dandara e muito jogo de cintura.
Aconselhou-a a tentar entender o ponto de vista da moça.
Sorrindo, comentou que ela também tivera a idade da garota, e que também era uma pessoa difícil de se lidar.
Laura retrucou dizendo que não vivia em noitadas e que nunca teve o hábito de ficar bêbada.
Isaura por sua vez, dizia que mesmo com padrões de comportamento diversos, ela e Dandara eram sim, muito parecidas. Daí a razão dos conflitos.
Com efeito, naquela mesma noite, após a discussão, a moça mandou um recado pela internet para o amigo Felipe.
No recado, dizia que estava fazendo suas malas e que ficaria algum tempo longe da capital.
A moça de fato, arrumou sua mala.
Levou consigo várias peças de roupas, muitas delas, amassadas.
De madrugada, aproveitou o silêncio da casa e, cautelosa, desceu as escadarias da mansão com a pesada mala.
Com cuidado e evitando fazer barulho, atravessou a sala, abriu a porta e saiu.
Caminhou pelo jardim iluminado, sempre tendo o cuidado de não ser vista pelos seguranças.
De posse da chave de um dos carros da família, a moça adentrou o veículo com insufilme e dirigiu até o portão da residência.
Um dos seguranças ao ver o veículo, estranhou, mas ainda assim abriu o portão e deixou o veículo passar.
Dandara dirigiu com o veículo até uma cidade próxima.
Lá, deixou o veículo em um estacionamento.
Postou um telegrama informando os pais que havia pego o veículo e que o mesmo se encontrava em um estacionamento da referida cidade.
Laura, sempre apressada, foi se dar conta do sumiço de Dandara um dia após seu sumiço.
Como a jovem não tinha uma vida regrada, raramente se encontravam a mesa.
Com isto, ao perceber o sumiço da jovem, Laura tomou um susto.
Nesta ocasião, dirigiu-se ao quarto da moça.
Ao abrir o guarda-roupa da jovem, percebeu que o mesmo estava revirado, e que muitas peças que Dandara gostava de usar, não estavam lá.
Preocupada, perguntou a Leocádia se as roupas de Dandara estavam sendo lavadas.
Ao descobrir que a moça havia sumido, ficou desesperada.
Maxmiliano, ao tomar conhecimento do fato, decidiu novamente acionar a polícia.
Os policiais argumentavam que se a moça havia feito isto uma vez, poderia estar repetindo a prática.
Neste momento, Maximiliano recordou-se de quando a filha passou a ser acompanhada de um segurança. Como o estratagema não funcionara, depois do reaparecimento da moça, o segurança foi dispensado.
Dandara agora, sem rumo, decidiu viajar para o interior do estado.
Ao deixar o carro em um estacionamento, seguiu viagem embarcando em um ônibus.
Na rodoviária, escolheu o primeiro destino que encontrou.
Preocupou-se apenas em escolher um destino distante da capital.
Viajando por horas, a moça se deparou com uma cidade de médio porte.
Lá, hospedou-se em uma pensão.
Caminhando pela cidade, ficou a pensar no que faria de sua vida.
Foi então que resolveu comprar um jornal.
Ao ver a notícia que o periódico estampava na capa, a moça resolveu adquirir a publicação.
Interessada, leu a matéria com toda a atenção.
Tratava-se de uma edição que informava as últimas novidades sobre trabalho no campo, as novas tecnologias, as oportunidades na região.
Na série constava uma reportagem sobre uma fazenda em que havia atividades agrícolas, pecuaristas.
Era auto suficiente.
Usando de tecnologia, possuía poucos empregados e tinha um alto índice de produtividade.
Lá, as crianças estudavam em uma escola criada pela fazendeira, que se encarregava de ministrar algumas aulas.
Dandara ao ler a matéria, ficou encantada.
Desejou para si uma vida como aquela.
Interessada, procurou descobrir pela matéria publicada, a região onde ficava o latifúndio.
Estava decidida a se dirigir até lá.
Com efeito, ao perceber que estava com fome, decidiu entrar em uma lanchonete e comer alguma coisa.
A atendente, ao ver a moça segurando o jornal, comentou que conhecia a fazendeira que havia sido entrevistada.
Disse que ela uma mulher muito bem sucedida, e que sua fazenda não distava dali.
Curiosa, Dandara perguntou detalhes.
A moça lhe respondeu que mulher gozava de muito bom conceito na região. Era rica, bem sucedida, dona de uma vasta propriedade.
Nisto, a moça explicou-lhe como fazia para chegar na propriedade.
Dandara ficou animada.
Comeu um belo lanche de carne, e tomou um suco de laranja.
A noite, jantou em um restaurante próximo da pensão.
No dia seguinte, despediu-se da dona da pensão.
Dirigindo-se a rodoviária, perguntou se algum daqueles ônibus passava próximo a propriedade de Ludmila.
Um dos homens, perguntou a moça, por que tanto interesse na fazendeira.
Dandara respondeu que estava procurando trabalho.
Os homens, ao verem a moça segurando uma mala, usando roupas escuras jogadas no corpo, com seu indefectível cabelo vermelho, começaram a rir.
Aborrecida, a moça perguntou qual era graça.
Com isto, os homens se calaram.
Dandara respondeu que sim, viera de uma cidade grande, mas que estava disposta a viver uma nova vida, e que para isto, precisava de um emprego, e estava decidida a viver no campo.
O homem que lhe dirigira a pergunta, ao ouvir as palavras da moça, disse que ela não fazia idéia do que era a vida no campo.
Argumentou que para as pessoas da cidade, era tudo muito bonito, poético até.
No entanto, a vida no campo era árdua, a lida era difícil e puxada.
Dandara ao ouvir as palavras do homem, perguntou:
- Mas não é tudo mecanizado?
Rindo, o homem respondeu que boa parte do trabalho era sim, mas que ainda havia trabalho pesado, e que para operar as máquinas, era preciso qualificação.
Dandara, ao ouvir as palavras do homem, ficou um pouco desanimada, mas decidida, argumentou que precisava ao menos tentar.
O homem então, percebendo que a moça não desistiria de seu intento, explicou-lhe como fazia para chegar a propriedade.
Disse que poderia deixá-la entrar no ônibus, e que ela pagaria parte do valor da passagem e desceria ali na região.
Dandara agradeceu.
Com isto entrou no ônibus.
Seguiu viagem.
Ao chegar nas proximidades da propriedade, o motorista informou-lhe da aproximação.
Dandara agradeceu e desceu do ônibus.
O homem então, abriu o bagageiro e a moça pegou sua mala.
Despediu-se do motorista, e com todo o cuidado, atravessou a pista contrária.
A fazenda ficava do outro lado da estrada.
Dandara tentou arrastar sua mala de rodinhas, mas o caminho irregular não permitiu.
A moça precisou segurar a mala no braço.
Caminhando por cerca de meia hora, a moça chegou a porteira.
Ao chegar ao local, ficou impressionada na imensidão verde do lugar.
Árvores frondosas, campos verdes, flores.
Dandara nunca havia visto tanta natureza de perto.
Ficou encantada com o lugar.
Tão encantada, que não percebeu a aproximação de um colono.
O homem, ao ver a menina arrastando uma mala com rodinhas, ficou espantado.
Ao vê-la em posição contemplativa, pendurada na porteira, estranhou.
Chamou logo a moça.
Perguntou-lhe o que estava fazendo ali.
Surpreendida com a pergunta, a jovem começou a gaguejar.
Tentando articular as palavras, a garota explicou que estava procurando Dona Ludmila.
Comentou que tinha algo muito importante para lhe dizer.
O colono tentou descobrir o que a garota queria conversar com a fazendeira, mas não obteve êxito.
Dandara dizia que só trataria do assunto, na presença da dona da propriedade.
O homem ainda tentou argumentar dizendo que Dona Ludmila era uma mulher muito ocupada, mas Dandara não se deixou vencer.
Insistiu no encontro.
Sem alternativa, o colono abriu a porteira para a moça.
Recomendou-lhe que seguisse até a sede.
Curioso, perguntou como ela havia chegado até lá.
Dandara disse-lhe bom dia.
Falou que se chamou Dandara.
Nisto, comentou que havia vindo de ônibus até lá.
O colono ofereceu-lhe carona em sua carroça.
Dandara agradeceu.
O homem desceu e ajudou a jovem a colocar a mala na carroça.
Agradecida Dandara subiu.
Pelo caminho, a moça observou muitas árvores, plantas, flores, borboletas.
Avistou algumas plantações.
A moça era só elogios a beleza da fazenda.
Falava que nunca havia visto tanta beleza junta.
Colono achava graça no deslumbramento da moça.
Perguntava se ela nunca havia visto uma fazenda antes.
Dandara respondeu:
- Mas é claro que não! Como eu poderia ver uma, se eu sempre vivi na cidade?
Curioso, o homem perguntou de onde ela vinha.
Dandara respondeu que vinha de uma cidade de médio porte, próxima dali.
Comentou que estava disposta a mudar sua vida. Radicalmente.
O homem comentou que ela poderia não se adaptar a vida na fazenda.
Dandara dizia que vendo tanta beleza, só poderia se acostumar com tudo. Contou que já estava se sentindo em casa.
Em dado momento, o homem apontou para longe, tentando mostrar a Dandara, que se tratava de uma área preservada.
Mais tarde, a moça chegou a sede.
O colono depositou as malas no chão e se despediu da moça.
Desejou-lhe boa sorte.
Dandara agradeceu a carona.
Empurrando a mala, chegou perto das escadarias da sede histórica.
Ao se aproximar da construção, foi recebida por uma empregada que perguntou-lhe o que fazia ali.
Dandara respondeu que precisava conversar um assunto importante com Ludmila.
A mulher, ao ouvir as palavras da moça, espantou-se.
Comentou que a fazendeira não havia avisado que receberia visita.
Dandara redargüiu dizendo que não se tratava de uma visita, mas que era sim, um assunto importante.
A empregada respondeu então, que iria conversar com a patroa.
Pediu para que ela aguardasse no alpendre.
A moça por sua vez, agradeceu e segurou sua mala.
Subiu vagarosamente as escadarias.
Cansada, sentou-se uma das poltronas de vime que havia no lugar.
Aguardou o retorno da criada.
Nisto a mulher adentrou o imóvel.
Dandara do lado de fora, escutou um vozerio dentro da construção.
Acreditou que se tratava do diálogo travado entre a criada e a fazendeira.
Cerca de dez minutos depois, a empregada retornou.
Disse a moça que a fazendeira havia autorizado a entrada dela na sede.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.