Continuou trabalhando, para desgosto de Maximiliano, que queria que a mulher ficasse em casa, cuidando das filhas.
Brigaram muitas vezes por isto.
Laura argumentava que não seria feliz sendo uma simples dona de casa.
Dizia que nunca o enganara quanto a isto.
Maximiliano retrucava dizendo que ela poderia trabalhar menos.
A mulher respondia que estava acostumada a trabalhar e que não se furtava em dar atenção as meninas. Só não podia estar presente o tempo inteiro.
Isaura, tentava amenizar as coisas dizendo que ele precisava ter um pouco de paciência com a mulher. Dizia que ele sabia que Laura era uma pessoa independente, e que não seria brigando com ela que a faria convencê-la a se dedicar mais a família.
Isaura falou-lhe que precisava ter jeito para conduzir as coisas.
Maximiliano, procurando se acalmar, concordou.
Aos poucos, Laura foi diminuindo o ritmo de seu trabalho.
Contudo, em certas ocasiões, não era possível ficar mais tempo em casa.
Tal fato deixava Maximiliano incomodado.
Laura por sua vez, sempre que podia, procurava cuidar das meninas.
Aproveitava para dar banho nas crianças, alimentava-as, brincava com elas, lia histórias para dormirem.
Maximiliano ficava enternecido quando via a mulher cuidando das crianças.
Comentava que Dandara e Júlia gostavam muito dela.
Laura respondia que sabia disto, e que também as amava muito.
Com isto, a mulher continuou suas atividades empresariais.
Dandara e Júlia a esta altura estavam no colegial.
A caçula era uma aluna aplicada, sempre às voltas com livros e se dedicando aos estudos.
Dandara por sua vez, gostava de cabular as aulas, fumava, bebia e vivia às voltas com festas.
Dizia a Júlia que a vida era muito curta para se prender aos estudos, e que se era para viver desta forma, era melhor viver pouco.
Júlia por sua vez, achava graça nas palavras da irmã.
Laura no entanto, não achava a menor graça dos comentários.
Por conta disto, as duas viviam às turras.
Maximiliano tentava apartar as brigas, mas raramente conseguia obter êxito neste intento.
Dandara sempre lhe dizia que estava do lado de Laura, e que nunca a defendia.
A moça se dizia incompreendida e injustiçada. Falava que todo o afeto de seus pais, era para Júlia, o motivo de todo o orgulho da família.
Ela não, sentia-se toda errada, e sem amor.
Chateada, procurava chegar cada vez mais tarde em casa.
Passava as noites em baladas, bebendo e dançando.
De manhã, quando precisava ir a faculdade, estava sempre com muito sono.
Razão pela qual sempre chegava atrasada, chegando a perder as primeiras aulas, ou nem ia.
Laura, ao notar a displicência de Dandara com os estudos, a recriminava.
Dizia que estava investindo muito dinheiro em sua educação, para vê-la desperdiçando a oportunidade de um futuro confortável.
Irônica, Dandara dizia que seu futuro estava assegurado, pois era filha de uma mulher rica.
Laura, ao ouvir estas palavras, argumentou que se ela não administrasse bem o dinheiro, em pouco tempo, dissiparia todo seu patrimônio. Ademais, tentando ameaçá-la, dizia a ela que não existe herança de pessoas vivas e que se pudesse, poderia se desfazer de todo seu patrimônio em vida. Nervosa, falou a filha para que não contasse com aquilo, ou poderia se dar mal.
Dandara dava de ombros.
Muitas vezes se sentava a mesa para tomar café da manhã, por volta das onze horas da manhã.
Às vezes só se levantava duas, três horas da tarde.
Erotildes esquentava a comida para a moça.
Laura, ao saber deste fato, proibiu a empregada de providenciar comida para a filha.
Argumentou que se Dandara quisesse almoçar, que ela fosse até a cozinha e se virasse.
Ressaltou que se descobrisse que algum dos criados estava fazendo as vontades da filha, seria sumariamente demitido.
Laura respondeu que não teria pena, mesmo que se tratasse de uma pessoa com quem trabalhava há anos.
Avisadas, as empregadas acobertavam os maus feitos da moça.
Quando Laura perguntava da moça, Erotildes dizia que Dandara já estava na faculdade.
Um dia, desconfiada das palavras da empregada, a mulher dirigiu-se ao quarto da filha e notou que mesma dormia a sono solto.
Furiosa, a mulher puxou o cobertor em que a moça estava enrolada.
Chacoalhou Dandara instando-a a levantar-se.
A moça, irritada, gritou com a mãe.
Disse-lhe que ela não tinha direito de fazer o que estava fazendo. Argumentou que ela não escrava para ser tratada daquela forma.
Laura, ao ouvir as palavras de desafio da filha, respondeu que enquanto ela vivesse debaixo de seu teto, teria que se submeter as suas ordens. Acrescentou que ela deveria se vestir, se compor e ir para a faculdade. Relatou que não estivesse satisfeita com o tratamento dispensado, que fosse cuidar da própria vida.
Dandara reclamou, mas ao notar o olhar severo de Laura, encaminhou-se para o banheiro.
Nisto, quando soube que Erotildes estava acobertando a filha, Laura ficou furiosa.
Conversando com a empregada, disse-lhe que ela tinha um mês para arrumar um novo emprego.
Desesperada, a mulher argumentou que com a idade que tinha, não conseguiria um emprego com tanta facilidade.
Laura não se comoveu.
Disse que não podia continuar trabalhando com uma pessoa em que não confiava.
Nisto, falou que iria indicá-la para alguns amigos. Ressaltou porém, que não devia desobedecer as ordens de seus novos patrões, ou ficaria novamente sem trabalho.
Maximiliano, ao tomar conhecimento do fato, criticou a esposa.
Laura respondeu que não podia continuar a passar a mão na cabeça da filha, ou deixar que outros o fizessem. Relatou que ou Dandara se emendava, ou eles teriam sérios problemas no futuro.
Ao ouvir isto, Maximiliano argumentou que ela fora uma mãe ausente.
No que Laura retrucou dizendo que nunca fora ausente.
Apenas não ficara em casa, cuidando das filhas.
Neste tempo, Isaura morava em outra residência.
Quando o casal decidiu voltar a viver juntos, a mulher optou por se afastar.
Argumentou que eles precisavam de privacidade.
De vez em quando porém, a mulher visitava a família.
Júlia adorava conversar com a senhora.
Dandara invariavelmente estava ausente.
Sempre as voltas com conhecidos, e até com estranhos que conhecia na noite.
Certo dia, ao voltar para casa certa noite, completamente bêbada, a garota se deparou com Laura, que a aguardava na sala.
Tentando disfarçar a bebedeira, a moça falou que estava bem, que havia se divertido muito e que ia se recolher.
Laura, percebendo que a moça estava alcoolizada, segurou seu braço, e, subindo as escadarias, levou-a até seu quarto.
Lá, encaminhou a garota para o chuveiro.
Dandara ficou esperneando, mas Laura abriu o chuveiro.
Toda molhada, a moça começou a gritar dizendo que a mãe era uma estúpida, que ela não tinha o direito de molhá-la.
Irritada, Laura mandou Dandara calar a boca.
Disse que estava cansada de seus modos grosseiros. Argumentou que ela nem mesmo parecia uma garota, com aquelas roupas rasgadas, aquele cabelo pintado de vermelho, e os modos grosseiros.
Nisto, tirou a filha do chuveiro.
Exigiu que tirasse a roupa molhada e vestisse uma roupa limpa.
Dandara irritada, respondeu que ela não lhe dava ordens, que não mandava nela.
Foi o bastante para Laura desferir um tapa no rosto da filha e lhe dizer que mandava sim.
Completou dizendo que enquanto ela não soubesse cuidar da própria vida, mandaria nela, e ditaria as regras que devia seguir, e que se não estivesse satisfeita, poderia arrumar suas coisas e sair daquela casa.
Dandara irritada, respondeu que seria isto mesmo que faria.
Tentando ferir a mãe, a moça falou que ela estava fazendo com a filha, o mesmo que fizera tempo atrás com Zélia.
Ao ouvir isto, Laura ameaçou bater novamente na moça.
Chegou a levantar o braço, mas se deteve.
Pensando no que a filha dissera, argumentou que ela não sabia o que dizia.
Comentou que para criticá-la, teria que primeiro conhecer os fatos. Argumentou que ela não sabia da missa a metade. Razão pela qual, não tinha o direito de opinar.
Dandara, em tom provocativo, exigiu que ela lhe contasse a história.
Laura por sua vez, respondeu que ela tinha cinco minutos para se trocar, ou levaria uma surra.
Nisto afastou-se. Antes, trancou a porta do quarto.
Dandara, ao perceber isto, começou a bater na porta e a gritar.
Maximiliano e Júlia, ao ouvirem os berros, levantaram-se de suas camas.
Assustados, foram verificar o que estava acontecendo.
Quando perceberam que era Laura e Dandara brigando, tentaram conter a briga.
Em vão.
Maximiliano, percebendo que a mulher estava irredutível, pediu para entrar no quarto.
Laura, cansada de brigar, concordou.
Mas recomendou que exigisse que ela trocasse de roupa.
Mencionou que ela tomou um banho para curar a bebedeira.
Maximiliano ficou chocado ao saber que a filha voltara bêbada para casa.
Com isto, dirigiu-se ao quarto.
Ao lá entrar, encontrou Dandara encolhida, encostada em um canto da parede do quarto, chorando.
Cuidadoso, o homem perguntou o que estava acontecendo.
Dandara respondeu-lhe que estava cansada de ser maltratada, desconsiderada. Mencionou que um dia iria pegar suas coisas e sumir.
Nunca mais iriam saber dela, ameaçava.
Maximiliano, tentando colocar panos quentes, dizia que não precisava exagerar.
Disse que ela precisava apenas se acalmar um pouco, e que as coisas iriam se ajeitar.
Dandara, sempre que ouvira estas palavras, ficava irritada.
Dizia que não queria se acalmar, que estava cansada de aceitar as coisas como estavam.
A certa altura, o próprio Maximiliano se impacientou a filha.
Exigiu que ela trocasse a roupa molhada, se recompusesse, pois aqueles não eram modos de uma moça.
Quando Dandara pediu para sair do quarto, Maximiliano retrucou dizendo que estava proibida de sair de casa pelos próximos dias.
Gritando, a moça respondeu-lhe que não poderia proibi-la de sair.
O homem olhando-a nos olhos, disse em tom elevado, que estava sim, proibida de sair.
Com isto, retirou-se do quarto. Trancou a porta.
Dandara então, trocou de roupa.
Chorando, deitou-se em sua cama.
Meia hora depois, Laura se encaminhou ao quarto da filha. Dandara dormia pesadamente.
Nisto, retirou a roupa molhada - jogada num canto do quarto -, entregando-a a uma das empregadas.
Conforme Maximiliano determinara, Dandara ficou alguns dias de castigo.
Não podia sair da casa.
Por diversas vezes, a moça tentou fugir, mas sempre era impedida pelos seguranças.
Quando se encerrou o período do castigo, a moça foi liberada para freqüentar a faculdade, sempre acompanhada de um segurança.
Dandara só saía de casa para ir a faculdade e voltar.
A companhia constante do segurança, estava lhe causando problemas.
Seus colegas, ao saberem do fato, começaram a fazer brincadeiras com ela.
Diziam que sua vida estava em perigo, brincavam que ela era a testemunha secreta de um crime, entre outras coisas.
Por conta disto, Dandara passou a questionar os pais.
Insistiu em dizer que não era preciso um segurança em seu encalço.
Relatou que estava cansada das brincadeiras e piadinhas.
Maximiliano retrucava dizendo que ela devia ter pensado nisto, antes de optar por agir de maneira tão irresponsável. Argumentou que ela só voltaria a sair sozinha quando demonstrasse ser digna de confiança.
Um dia porém, Dandara conseguiu se desvencilhar da marcação do segurança.
Aproveitando-se de um momento de distração, em que o moço foi abordado por alguém que lhe fazia uma pergunta, a moça aproveitou para caminhar na direção oposta a que estava.
Encostando-se em uma parede, Dandara aproveitou para sair do campo de visão do homem.
Por fim, quando o mesmo olhou em volta, percebeu que a moça havia sumido.
Diligente, procurou-a por todos os lugares próximos.
Contudo, não conseguiu encontrá-la.
Precisou então, contatar os pais da moça.
Com o tempo, Maximiliano montou um escritório próprio para trabalhar.
E assim, passados os anos, o escritório se tornou uma microempresa.
Isto, sem a ajuda de Laura e enquanto as filhas cresciam.
O pouco dinheiro da mulher investido no negócio, foi devolvido com juros, por ele.
Laura não fazia questão de receber o dinheiro de volta, mas Maximiliano fez questão de devolver a quantia recebida.
Cumpre destacar, que quando as meninas ainda eram pequenas, Laura encontrou Ludmila a caminhar pelas ruas da capital.
Estava acompanhada das duas crianças.
Ao perceber que Laura estava por perto, resolveu se aproximar.
Ficou encantada ao saber que a mulher tivera filhas.
Procurou conversar com Laura, que permanecia monossilábica.
Em dado momento, Ludmila lhe disse que já era avó, pois seus três filhos homens se casaram e lhe deram netos, mas não sabia que ela também havia tido filhos.
Laura respondeu-lhe que as meninas não eram suas netas.
Ludmila ficou sem graça.
Incomodada, Laura perguntou-lhe o que fazia ali, por viera falar com ela.
Por que não fingira não tê-la visto?
Ludmila respondeu que tinha o direito de se aproximar. De conversar, afinal, ela era sua filha, tanto quanto os rapazes.
Laura nervosa, respondeu que ninguém que abandona um filho tem o direito de chamá-lo por este nome. Comentou que não a reconhecia como mãe e que mãe era quem criava.
Ludmila tentou retê-la.
Laura por sua vez, gritou para que ela a deixasse em paz.
Ao perceber que os passantes olhavam para elas, Laura resolveu se afastar.
Ludmila permaneceu no local.
Sentou-se um banco de madeira e começou a chorar.
Dandara e Júlia não passavam de dois bebês.
A mais velha, era conduzida pelo braço, enquanto Júlia permanecia no colo de Laura.
Fora uma das raras tardes em que as três ficaram juntas. Passearam no shopping.
Laura comprou algumas roupinhas para as filhas, e levou-a para brincar.
As crianças estavam calmas.
Quando Laura contou a Maximiliano sobre o encontro, o moço criticou-a.
Disse que ela não devia ter rechaçado Ludmila.
Nervosa, a mulher argumentou que Ludmila não fazia parte de sua vida, que não era parte de sua família.
Maximiliano lhe dizia que ela era muito teimosa.
Mas Laura permanecia firme em sua disposição de manter-se longe de Ludmila.
Com Zélia e Olavo, as coisas melhoraram um pouco.
A mulher de vez em quando viajava para a fazenda onde moravam.
Aproveitava para ficar alguns dias em companhia da família, conversava com os irmãos.
Com o tempo, comprou uma pequena propriedade para os pais de criação, que passaram a cuidar da mesma.
Maximiliano por seu turno, ficou feliz ao saber que a moça presenteara os pais com um presente tão bonito.
Laura também comprou um sítio para Rosália e Antunes.
Disse que era um presente, e que não aceitaria nenhum dinheiro por conta da aquisição.
Maximiliano porém, devolveu todo o dinheiro que a mulher investira na propriedade.
Disse que seus eram sua preocupação, e que ela não precisava se ocupar disto.
Laura contudo, não se importava em ajudar quando podia.
Maximiliano ficava encantado com isto.
Quanto a Dandara, a moça, ao se ver livre do segurança, aproveitou para visitar uma amiga das baladas.
Passou dois dias na casa da garota.
Juntas, saíram a noite, paqueraram, beberam.
Certa noite, a moça agarrou um homem e abraçou-o.
O rapaz aproveitou para beijá-la.
Por fim, Dandara voltou para casa.
Ao lá chegar, assustou-se ao ver um carro de polícia.
Laura e Maximiliano, aflitos, chamaram a polícia.
O casal, ao ver a filha entrando na casa, ficou aliviado.
Os policiais por sua vez, ao perceberem que a moça procurada adentrara a residência, recomendaram ao casal que fossem a delegacia retirar a queixa.
Com isto, os profissionais pediram licença e se retiraram.
Laura, ao ver Dandara diante de si, perguntou-lhe se estava tudo bem.
A moça respondeu-lhe que sim.
Nisto, perguntou que circo era aquele que fora armado na frente da casa.
Foi o bastante para Maximiliano se impacientar com a moça e mandá-la se recolher em seu quarto.
Dandara respondeu que estava tão feliz que não se importava em ficar trancada.
Assim, subiu as escadas e fechou-se em seu quarto.
Maximiliano e Laura se entreolharam.
Não sabiam o que fazer.
A cada dia que passava, Dandara voltava mais tarde para casa.
Um dia, em suas andanças pelas ruas da capital, a moça se deparou com um senhor sentado sozinho em um bar.
Ao notar que se tratava de um senhor de idade, o qual estava muito bem vestido, resolveu se aproximar.
Dirigindo-se a ele em tom preocupado, perguntou-lhe se não deveria estar em casa.
Argumentou que sua família o devia estar esperando, que seus netos poderiam estar aguardando para brincar com ele.
Sorrindo, o homem respondeu que não tinha mais família. Que as poucas pessoas que restavam do que seria uma família, estavam longe, e ele não queria incomodá-las.
Nisto, ao reparar no semblante jovem que o fitava, o homem perguntou o que uma menina tão jovem, estava fazendo em um ambiente daqueles.
Dandara respondeu que estava acostumada a freqüentar aqueles ambientes, e que não era tão jovem quanto ele pensava.
O homem riu.
Achou graça nos modos da moça, tanto que comentou que ela parecia uma menina, menor de idade até.
Aborrecida, Dandara retrucou dizendo que não era menor de idade, e que não estava sozinha.
O homem então, cumprimentou-a.
Disse se chamar Felipe, pediu-lhe desculpas pelo comentário.
Argumentou que o fato de envelhecer o estava fazendo perder a percepção das coisas. Rindo, comentou que não tivera a intenção de ofendê-la.
Dandara, ao ouvir as palavras do homem, comentou que ele falava de um modo divertido.
Felipe respondeu que era por que pertencia a um tempo muito antigo, um passado que não voltava mais.
A moça então, percebendo que ainda não havia se apresentado, pediu desculpas por seus modos e se apresentou.
Ao ouvir o nome da garota, Felipe falou que este nome lhe lembrava uma música muito bonita, e que ela lembrava a jovem da canção. Simpático, disse que era um nome muito inspirado e que só poderia pertencer a alguém com muita personalidade.
Dandara sorriu.
Foi o bastante para o senhor lhe dizer que ela tinha o mais belo sorriso que já tinha visto nos últimos anos. Por fim, completou dizendo que não a estava cantando, comentou que estava velho demais para isto, e que tinha um refinado senso do ridículo.
Dandara riu.
Seus colegas, ao verem a moça conversando com o senhor, começaram a dizer:
- E aí Dandara, vai ficar aí com o tiozinho? É o seu namorado?
Dandara retrucava dizendo que eles eram uns bobões.
Felipe respondeu então:
- Tiozinho não. Se é para chamar de velho, chamem logo de tiozão mesmo.
Ao ouvirem o comentário, todos riram.
Com isto, o homem respondeu que Dandara era uma moça muito bonita, mas que ele não se atreveria a paquerá-la, sob o risco de passar por um velho patético. Comentou que talvez fosse um pouco, mas que isto não precisava ficar tão evidente assim.
Ao longo da noite, o senhor havia se tornado amigo dos garotos.
Pagara bebida para eles, e fizera um desafio.
Provocou-os dizendo que pagaria uma pequena quantia, para aquele que fosse capaz de após beber, segurar uma bandeja cheia de louças, sem derrubar um copo.
Todos os que tentaram, caindo de bêbados que estavam, não conseguiram realizar o intento.
Felipe por sua vez, indenizou o dono do bar.
Por fim, dizendo que eram todos um bando de trôpegos, comentou que ninguém levaria o prêmio.
Dandara, riu da brincadeira.
Nesta noite não colocara uma gota de álcool na boca.
Felipe então, olhando para a moça, sugeriu que ela carregasse a bandeja.
Dandara tentou se livrar do desafio, mas não teve jeito.
Felipe intimou-a e a moça carregou a pesada bandeja.
Um tanto titubeante, a jovem conseguiu segurar a bandeja andando de um lado para o outro do bar.
Ao vencer o desafio, Felipe aplaudiu a moça.
Com isto, Dandara recebeu uma pequena quantia em dinheiro.
Dias depois, ao voltar ao mesmo bar, lá estava o homem.
Sempre elegantemente trajado, de chapéu, e bebericando um whisky.
Ao ver a moça novamente, comentou que sentira sua falta.
Conversaram durante toda a madrugada.
Felipe contou suas histórias para a moça, que o ouvia com muita atenção.
O homem contava histórias de fantasmas, antigas, de sua família, de como se tornara um grande empresário.
Todos o ouviam com atenção, até os garçons.
O homem contou que em sua infância, conhecera uma linda jovem com uma história muito triste, que o encantou.
Sorrindo, comentou que ela fora seu primeiro amor.
Contou sobre a origem de sua família.
Bisneta de uma famosa cortesã de uma cidade da região, nasceu em família rica, mas em meio a desatinos de seu genitor, perdera tudo.
Passou a viver como circense.
Felipe a conheceu quando fugiu de casa.
Para surpresa de todos, comentou que já trabalhou em um circo.
Animado, contou detalhes de sua peripécia.
De como mais tarde, foi contemplado herdeiro de uma tia que não conhecera.
Foi daí que um tio generoso, ajudou a consolidar sua fortuna.
Adulto, passou a administrar a empresa organizada pelo tio.
Os jovens ficaram impressionados com as aventuras do senhor.
Com o tempo, deixaram de chamá-lo de velho, de tiozinho.
O tratamento se modificou.
Felipe passou a ser, senhor Felipe.
Dandara se tornou sua amiga.
Contava-lhe sobre a dificuldade de convivência com seus pais. Dizia que eles não a entendiam, que ninguém a entendia.
Paciente e compreensivo, o homem lhe dizia para ter paciência.
Argumentava que eles pertenciam a outra geração, e que muitas pessoas tinham dificuldades para entender a mudança das coisas. Sentiam-se atropelados pelos acontecimentos.
Dandara falava-lhe das noitadas, das vezes em que arranjava ficantes.
Contou para um espantado Felipe, que já beijou vários paqueras numa mesma noite.
Felipe achou curioso aquele novo comportamento.
Perguntou detalhes, que Dandara, sem se fazer de rogada, explicou.
Brincalhão, o homem respondeu que ela gostava de beijar muito.
Os dois riram.
Em dado momento, ao ouvir que ela gostava de beber, e que já havia chegado várias vezes bêbada em casa, Felipe a censurou.
Disse que ela era jovem, bela e com uma vida inteira pela frente. Argumentou que beber era bom, divertido, mas que todo o excesso era ruim.
Preocupado, recomendou-lhe que não bebesse tanto.
Dandara riu.
Mencionou que ele usando aquelas palavras, parecia sua mãe.
O homem então, argumentou que se ela dizia aquelas palavras caretas, era porque estava preocupada com ela, importava-se com sua sorte.
A moça não gostou de ouvir estas palavras.
Disse que sua mãe não parecia se importar com ela, sempre lhe dando broncas, e a censurando por seu modo de ser.
Felipe, percebendo que a moça estava aborrecida, mudou de assunto.
Dandara sempre se podia, se dirigia ao bar onde Felipe costumava estar.
Certa vez, ao lá chegar com seus amigos, percebeu que seu dileto amigo não estava lá.
Preocupada, perguntou ao bartender, por Felipe.
O rapaz respondeu que fazia tempo que ele não aparecia por ali.
No dia seguinte, preocupada, a moça retornou ao bar.
Felipe estava sentando no balcão, bebericando um whisky como sempre fazia.
A garota, ao vê-lo, tratou logo de abraçá-lo.
Comentou que sentiu saudades.
Felipe brincou dizendo que ela devia sentir saudade de gente mais jovem, mais bonita e não de um velho esquecido de todos.
Dandara lhe disse que ele não era um velho e que nunca mais seria esquecido. Pelo menos no que dependesse dela.
Com o tempo, Dandara descobriu o endereço do homem.
Atento as mudanças tecnológicas, a dupla conversava por meio eletrônico.
Os colegas da garota também se divertiam com Felipe.
Com Dandara no entanto, a convivência era mais próxima.
Enquanto isto, a convivência com seus familiares estava cada vez pior.
Embora a moça tenha dado um tempo nas bebedeiras, continuava a chegar tarde.
E como sempre, negligenciava os estudos.
Laura, sempre que podia chamava a atenção de Dandara, que sempre lhe respondia rispidamente.
A certa altura, a mulher disse que estava cansada de sustentar uma criatura tão imprestável.
Por várias vezes, a empresária despertou a filha aos chacoalhões, instando-a a se arrumar para ir a faculdade.
Por conta de suas constantes ausências, suas notas eram baixas, e seu desempenho – insuficiente.
Quando Laura soube disto, ficou furiosa.
Criticou a filha.
Disse-lhe que a única coisa que fazia era estudar, e que por esta razão devia se dedicar com afinco ao mister.
Júlia por sua vez, sempre dedicada aos estudos, era uma ótima aluna.
Razão pela qual foi usada por várias vezes como exemplo por Laura, que lhe dizia que devia se espelhar na irmã mais nova.
Dandara ficava furiosa com este tipo de comparação.
Falava a todo instante que não era Júlia e que nunca poderia ser igual a ela.
Dandara gostava de dançar, gostava da noite, de paquerar, namorar, e de beber.
Adotava um visual exótico.
Mas em que pese viver cercada de pessoas e de colegas, muitas vezes se sentia só.
Sentia-se rejeitada pela mãe, que não a aceitava como era.
Laura vivia elogiando o comportamento de Júlia.
De fato, a moça gostava de se arrumar.
Vaidosa, estava sempre muito bem arrumada, ora com vestidos, saias, calças jeans.
Maximiliano vivia a chamar a filha caçula de princesa, boneca.
Para Dandara, dispensavam gritos, broncas.
Nos últimos tempos, a convivência estava difícil.
Certo dia, Laura deixou escapar que a moça mudara muito.
Perguntou-lhe o que estava acontecendo. Comentou que quando criança era muito doce e gentil.
Dandara retrucou dizendo que ela também havia mudado.
Comentou que precisou pintar os cabelos escondida, pois ela não aceitava a mudança de visual. Argumentou que estava cansada de adotar o visual imposto por ela, que queria fazer suas próprias escolhas.
Discutiram sobre a aparência da moça, o modo autoritário de Laura, o comportamento de Dandara.
A discussão chegou a tal ponto que Laura chegou a mandar a filha sair de casa.
Disse-lhe que se não estava satisfeita como os modos como as coisas funcionavam naquele lar, poderia pegar suas coisas e não voltar mais.
Irritada, Laura falou que estava cansada de dar conselhos a filha, de alertá-la de que a vida não é uma eterna festa.
Argumentou que ela devia aprender então a enfrentar a vida. Quem sabe assim, aprenderia a valorizar o que tinha.
Dandara, ao ouvir as palavras da mãe, respondeu dizendo que iria sim sair de casa.
Relatou que estava cansada de ser destratada por todos na casa. Arrumaria suas coisas e iria embora sim.
Descrente, Laura respondeu ríspida que ela poderia fazer o que bem entendesse.
Não acreditava que de fato a filha arrumaria as malas e iria embora.
Júlia e Maximiliano, ao saberem da discussão, criticaram Laura.
Disseram que ela devia ter mais tato para conversar com Dandara.
Aborrecida, Laura mencionou que sempre que tentou usar de tato para conversar com a filha, as coisas não tiveram um bom termo.
Nervosa, relatou que precisava ter uma conversa definitiva com a moça.
Dandara por seu turno, em que pese as comparações com Júlia, gostava da irmã.
Em que pesem algumas rusgas, a convivência entre as moças era boa.
De vez em quando estudavam juntas.
Laura, sempre que via as irmãs unidas, ficava enternecida com a cena. Isto por que, nos últimos anos, momentos como aqueles eram raros.
Quando Dandara entrou na adolescência, começaram os problemas.
A moça sempre queria sair para dançar, e Laura impedia a menina.
Dizia que era muito nova.
A certa altura, depois de muitas brigas, e percebendo que não poderia segurar a moça por mais tempo, aos poucos, foi deixando a moça sair com os amigos.
Quando ingressou na faculdade, Dandara, ao conhecer uma turma chegada em uma festa, passou a freqüentar barzinhos e boates.
Quase todos os dias chegava tarde em casa.
Com o tempo passou a beber.
Bebia muito.
Laura se preocupava com a filha.
Dandara passou a freqüentar as aulas de forma esporádica.
Seu desempenho piorou.
Laura, então, tomou o carro com que havia presenteado a filha quando esta passou no vestibular.
Disse que ela não poderia ficar sozinha dirigindo até tarde. Falava que a madrugada era muito perigosa e que ela devia se preservar.
Quando descobriu que Dandara estava bebendo e chegando bêbada em casa, ficou furiosa.
Censurou a filha, fazia a moça tomar banhos gelados.
Perguntava quem havia lhe dado carona.
Como havia conseguido chegar em casa.
Muitas vezes porém, cansada de um extenuante dia de trabalho, Laura optava por dormir.
Por diversas vezes deixou de ver a filha bêbada entrando em casa.
Triste, chegou a comentar certa vez com Maximiliano, onde havia errado na criação de Dandara.
Perguntava-se a todo o momento como conseguira criar duas filhas tão diferentes.
Isaura, sua conselheira dos momentos difíceis, dizia que ela precisava ter paciência com Dandara e muito jogo de cintura.
Aconselhou-a a tentar entender o ponto de vista da moça.
Sorrindo, comentou que ela também tivera a idade da garota, e que também era uma pessoa difícil de se lidar.
Laura retrucou dizendo que não vivia em noitadas e que nunca teve o hábito de ficar bêbada.
Isaura por sua vez, dizia que mesmo com padrões de comportamento diversos, ela e Dandara eram sim, muito parecidas. Daí a razão dos conflitos.
Com efeito, naquela mesma noite, após a discussão, a moça mandou um recado pela internet para o amigo Felipe.
No recado, dizia que estava fazendo suas malas e que ficaria algum tempo longe da capital.
A moça de fato, arrumou sua mala.
Levou consigo várias peças de roupas, muitas delas, amassadas.
De madrugada, aproveitou o silêncio da casa e, cautelosa, desceu as escadarias da mansão com a pesada mala.
Com cuidado e evitando fazer barulho, atravessou a sala, abriu a porta e saiu.
Caminhou pelo jardim iluminado, sempre tendo o cuidado de não ser vista pelos seguranças.
De posse da chave de um dos carros da família, a moça adentrou o veículo com insufilme e dirigiu até o portão da residência.
Um dos seguranças ao ver o veículo, estranhou, mas ainda assim abriu o portão e deixou o veículo passar.
Dandara dirigiu com o veículo até uma cidade próxima.
Lá, deixou o veículo em um estacionamento.
Postou um telegrama informando os pais que havia pego o veículo e que o mesmo se encontrava em um estacionamento da referida cidade.
Laura, sempre apressada, foi se dar conta do sumiço de Dandara um dia após seu sumiço.
Como a jovem não tinha uma vida regrada, raramente se encontravam a mesa.
Com isto, ao perceber o sumiço da jovem, Laura tomou um susto.
Nesta ocasião, dirigiu-se ao quarto da moça.
Ao abrir o guarda-roupa da jovem, percebeu que o mesmo estava revirado, e que muitas peças que Dandara gostava de usar, não estavam lá.
Preocupada, perguntou a Leocádia se as roupas de Dandara estavam sendo lavadas.
Ao descobrir que a moça havia sumido, ficou desesperada.
Maxmiliano, ao tomar conhecimento do fato, decidiu novamente acionar a polícia.
Os policiais argumentavam que se a moça havia feito isto uma vez, poderia estar repetindo a prática.
Neste momento, Maximiliano recordou-se de quando a filha passou a ser acompanhada de um segurança. Como o estratagema não funcionara, depois do reaparecimento da moça, o segurança foi dispensado.
Dandara agora, sem rumo, decidiu viajar para o interior do estado.
Ao deixar o carro em um estacionamento, seguiu viagem embarcando em um ônibus.
Na rodoviária, escolheu o primeiro destino que encontrou.
Preocupou-se apenas em escolher um destino distante da capital.
Viajando por horas, a moça se deparou com uma cidade de médio porte.
Lá, hospedou-se em uma pensão.
Caminhando pela cidade, ficou a pensar no que faria de sua vida.
Foi então que resolveu comprar um jornal.
Ao ver a notícia que o periódico estampava na capa, a moça resolveu adquirir a publicação.
Interessada, leu a matéria com toda a atenção.
Tratava-se de uma edição que informava as últimas novidades sobre trabalho no campo, as novas tecnologias, as oportunidades na região.
Na série constava uma reportagem sobre uma fazenda em que havia atividades agrícolas, pecuaristas.
Era auto suficiente.
Usando de tecnologia, possuía poucos empregados e tinha um alto índice de produtividade.
Lá, as crianças estudavam em uma escola criada pela fazendeira, que se encarregava de ministrar algumas aulas.
Dandara ao ler a matéria, ficou encantada.
Desejou para si uma vida como aquela.
Interessada, procurou descobrir pela matéria publicada, a região onde ficava o latifúndio.
Estava decidida a se dirigir até lá.
Com efeito, ao perceber que estava com fome, decidiu entrar em uma lanchonete e comer alguma coisa.
A atendente, ao ver a moça segurando o jornal, comentou que conhecia a fazendeira que havia sido entrevistada.
Disse que ela uma mulher muito bem sucedida, e que sua fazenda não distava dali.
Curiosa, Dandara perguntou detalhes.
A moça lhe respondeu que mulher gozava de muito bom conceito na região. Era rica, bem sucedida, dona de uma vasta propriedade.
Nisto, a moça explicou-lhe como fazia para chegar na propriedade.
Dandara ficou animada.
Comeu um belo lanche de carne, e tomou um suco de laranja.
A noite, jantou em um restaurante próximo da pensão.
No dia seguinte, despediu-se da dona da pensão.
Dirigindo-se a rodoviária, perguntou se algum daqueles ônibus passava próximo a propriedade de Ludmila.
Um dos homens, perguntou a moça, por que tanto interesse na fazendeira.
Dandara respondeu que estava procurando trabalho.
Os homens, ao verem a moça segurando uma mala, usando roupas escuras jogadas no corpo, com seu indefectível cabelo vermelho, começaram a rir.
Aborrecida, a moça perguntou qual era graça.
Com isto, os homens se calaram.
Dandara respondeu que sim, viera de uma cidade grande, mas que estava disposta a viver uma nova vida, e que para isto, precisava de um emprego, e estava decidida a viver no campo.
O homem que lhe dirigira a pergunta, ao ouvir as palavras da moça, disse que ela não fazia idéia do que era a vida no campo.
Argumentou que para as pessoas da cidade, era tudo muito bonito, poético até.
No entanto, a vida no campo era árdua, a lida era difícil e puxada.
Dandara ao ouvir as palavras do homem, perguntou:
- Mas não é tudo mecanizado?
Rindo, o homem respondeu que boa parte do trabalho era sim, mas que ainda havia trabalho pesado, e que para operar as máquinas, era preciso qualificação.
Dandara, ao ouvir as palavras do homem, ficou um pouco desanimada, mas decidida, argumentou que precisava ao menos tentar.
O homem então, percebendo que a moça não desistiria de seu intento, explicou-lhe como fazia para chegar a propriedade.
Disse que poderia deixá-la entrar no ônibus, e que ela pagaria parte do valor da passagem e desceria ali na região.
Dandara agradeceu.
Com isto entrou no ônibus.
Seguiu viagem.
Ao chegar nas proximidades da propriedade, o motorista informou-lhe da aproximação.
Dandara agradeceu e desceu do ônibus.
O homem então, abriu o bagageiro e a moça pegou sua mala.
Despediu-se do motorista, e com todo o cuidado, atravessou a pista contrária.
A fazenda ficava do outro lado da estrada.
Dandara tentou arrastar sua mala de rodinhas, mas o caminho irregular não permitiu.
A moça precisou segurar a mala no braço.
Caminhando por cerca de meia hora, a moça chegou a porteira.
Ao chegar ao local, ficou impressionada na imensidão verde do lugar.
Árvores frondosas, campos verdes, flores.
Dandara nunca havia visto tanta natureza de perto.
Ficou encantada com o lugar.
Tão encantada, que não percebeu a aproximação de um colono.
O homem, ao ver a menina arrastando uma mala com rodinhas, ficou espantado.
Ao vê-la em posição contemplativa, pendurada na porteira, estranhou.
Chamou logo a moça.
Perguntou-lhe o que estava fazendo ali.
Surpreendida com a pergunta, a jovem começou a gaguejar.
Tentando articular as palavras, a garota explicou que estava procurando Dona Ludmila.
Comentou que tinha algo muito importante para lhe dizer.
O colono tentou descobrir o que a garota queria conversar com a fazendeira, mas não obteve êxito.
Dandara dizia que só trataria do assunto, na presença da dona da propriedade.
O homem ainda tentou argumentar dizendo que Dona Ludmila era uma mulher muito ocupada, mas Dandara não se deixou vencer.
Insistiu no encontro.
Sem alternativa, o colono abriu a porteira para a moça.
Recomendou-lhe que seguisse até a sede.
Curioso, perguntou como ela havia chegado até lá.
Dandara disse-lhe bom dia.
Falou que se chamou Dandara.
Nisto, comentou que havia vindo de ônibus até lá.
O colono ofereceu-lhe carona em sua carroça.
Dandara agradeceu.
O homem desceu e ajudou a jovem a colocar a mala na carroça.
Agradecida Dandara subiu.
Pelo caminho, a moça observou muitas árvores, plantas, flores, borboletas.
Avistou algumas plantações.
A moça era só elogios a beleza da fazenda.
Falava que nunca havia visto tanta beleza junta.
Colono achava graça no deslumbramento da moça.
Perguntava se ela nunca havia visto uma fazenda antes.
Dandara respondeu:
- Mas é claro que não! Como eu poderia ver uma, se eu sempre vivi na cidade?
Curioso, o homem perguntou de onde ela vinha.
Dandara respondeu que vinha de uma cidade de médio porte, próxima dali.
Comentou que estava disposta a mudar sua vida. Radicalmente.
O homem comentou que ela poderia não se adaptar a vida na fazenda.
Dandara dizia que vendo tanta beleza, só poderia se acostumar com tudo. Contou que já estava se sentindo em casa.
Em dado momento, o homem apontou para longe, tentando mostrar a Dandara, que se tratava de uma área preservada.
Mais tarde, a moça chegou a sede.
O colono depositou as malas no chão e se despediu da moça.
Desejou-lhe boa sorte.
Dandara agradeceu a carona.
Empurrando a mala, chegou perto das escadarias da sede histórica.
Ao se aproximar da construção, foi recebida por uma empregada que perguntou-lhe o que fazia ali.
Dandara respondeu que precisava conversar um assunto importante com Ludmila.
A mulher, ao ouvir as palavras da moça, espantou-se.
Comentou que a fazendeira não havia avisado que receberia visita.
Dandara redargüiu dizendo que não se tratava de uma visita, mas que era sim, um assunto importante.
A empregada respondeu então, que iria conversar com a patroa.
Pediu para que ela aguardasse no alpendre.
A moça por sua vez, agradeceu e segurou sua mala.
Subiu vagarosamente as escadarias.
Cansada, sentou-se uma das poltronas de vime que havia no lugar.
Aguardou o retorno da criada.
Nisto a mulher adentrou o imóvel.
Dandara do lado de fora, escutou um vozerio dentro da construção.
Acreditou que se tratava do diálogo travado entre a criada e a fazendeira.
Cerca de dez minutos depois, a empregada retornou.
Disse a moça que a fazendeira havia autorizado a entrada dela na sede.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
sexta-feira, 2 de abril de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 17
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 16
Aborrecida por ser contrariada, a moça acabou concordando em se encontrar com o rapaz.
Max, ao receber um telefonema da jovem, agendando um encontro, ficou surpreso.
Sem saber direito o que pensar, acabou concordando.
Iria se encontrar com a moça na mansão em que ela morava.
Surpreso, o moço descobriu que Laura havia se mudado de residência.
Preocupado em fazer uma boa figura, o moço dirigiu-se a uma loja.
Auxiliado pelo vendedor, o rapaz comprou um bom terno.
Gastou quase um quarto do salário com a roupa.
O vendedor, ao ouvir o comentário, começou a rir.
Satisfeito, o moço saiu sorrindo da loja.
Isaura recomendou-lhe que usasse um vestido bonito.
Laura, cansada de ser cobrada pela mulher, que criticou tanta displicência da moça, insistiu para que ela usasse um vestido verde.
Isaura ajudou a moça a se arrumar para o encontro.
Sugeriu que ficasse com os cabelos meio presos, meio soltos. Aparentando desalinho.
Animada, Isaura deu palpite até nas jóias que a moça deveria usar.
Laura estava impaciente com toda a intromissão.
Isaura argumentou que ela tinha o direito de dar palpites, já que ela não estava se empenhando em ficar apresentável.
Laura retrucava dizendo que seria uma simples conversa, não cabia tantos cuidados.
Isaura insistia em dizer que naquela noite, sua vida iria mudar.
Mais tarde, Maximiliano pegou seu carro e se dirigiu ao imóvel.
Ao se aproximar do portão, disse ao segurança que havia sido convidado pela dona do imóvel para um jantar.
O segurança então, abriu o portão.
Disse ao rapaz que dirigisse até chegar a garagem que ficava visível, ao lado da casa.
Maximiliano agradeceu e dirigiu o carro até o local indicado.
Foi conduzido a sala por Leonilde, que o recebeu na porta.
Surpreso, o moço ficou feliz ao saber que a mulher ainda trabalhava para Laura.
Leonilde comentou que a moça era um tanto esquentada, mas era uma boa patroa.
Relatou que todas as pessoas com quem convivera nos tempos em que trabalhou como motorista na antiga mansão, continuavam trabalhando para ela.
Maximiliano relatou que era muito bom ouvir isto.
Minutos depois, Isaura se apresentou.
Disse que Laura iria descer dali a pouco.
E assim foi.
Laura desceu as escadas da mansão.
Maximiliano, ao vê-la, ficou encantando.
Isaura e Leonilde, decidiram se afastar.
Quando Laura se aproximou da sala, o moço se aproximou. Estendeu sua mão.
A moça o cumprimentou.
Perguntou-lhe se estava bem.
Maximiliano respondeu que sim.
Laura então, convidou-o a se dirigir a sala.
Perguntou-lhe se gostaria de beber alguma coisa.
Maxiliano respondeu que gostaria de tomar um vinho.
A moça ofereceu-lhe um cálice de vinho do porto.
Maximiliano agradeceu o oferecimento.
Laura, ao perceber que o moço se sofisticara, comentou que ele estava muito elegante. Relatou que ele não parecia a mesma pessoa que havia conhecido doze anos atrás.
O moço corrigiu-a dizendo que eles se conheciam há quase catorze anos.
- Tanto tempo assim? – perguntou Laura espantada.
- Pois, é, o tempo passa! – respondeu.
Laura ficou constrangida ao ouvir o comentário.
O moço ao perceber isto, argumentou que não estava cobrando nada. Falou que estava apenas respondendo uma pergunta.
Aproximando-se, segurou o rosto de Laura, que assustada, tentou se afastar.
Maximiliano contudo, segurou-a pelo braço.
Nisto, a moça pediu para se afastar.
Max respondeu que não o faria.
Laura enervada, disse-lhe que ele não poderia fazer isto.
Maximiliano retrucou dizendo que só queria conversar e que não aceitaria ordens suas.
A moça ficou espantada com a atitude do rapaz.
Max então soltou-a.
Em seguida, pediu-lhe desculpas.
Nervoso, argumentou que não devia estar ali.
Comentou que já devia saber que aquilo era um erro. Chateado, comentou que estava cansado de esperar uma explicação, de tentar entender o que havia acontecido. Relatou que tinha direito a uma explicação, mas estava ciente de que isto nunca iria acontecer.
Quase chorando, pediu desculpas por havê-la convencido a se casar, sabendo que não poderia oferecer-lhe o que tanto queria. Disse que se sentia um enganador. Argumentou que talvez tivesse sido punido por tê-la enganado.
Argumentou que estava cansado de sofrer e de ver tanta gente a sua volta, sofrendo.
Relatou com os olhos perdidos, que não sabia mais o que fazer da própria vida.
Laura ao perceber a tristeza do moço, disse-lhe que não precisava pedir desculpas.
Argumentou que ela também errara ao partir sem dar explicações.
Como justificativa, relatou que se tentasse explicar seu intento, seria impedida de fazê-lo. Pediu desculpas por ter agido de forma intempestiva, mas mencionou que não teve outra alternativa.
Max ouviu as palavras da moça.
Relatou que não devia estar ali.
Nisto, fez menção de sair da casa.
Neste momento, Laura pediu para que ficasse.
Disse que ainda tinham muito o que conversar.
Maximiliano por sua vez, tentou argumentar dizendo que não devia continuar insistindo no assunto.
Laura então, tentando mudar de tema, comentou que todos no escritório, estavam gostando de seu trabalho.
A moça comentou que Angelo estava satisfeito com seu desempenho.
Nisto, o rapaz perguntou-lhe por que não o demitira.
Laura explicou que não tinha motivos para fazê-lo já que trabalhava tão bem.
Ao notar o ar de surpresa do moço, a mulher respondeu que não tinha nada contra ele.
Maximiliano falou que não a entendia.
Laura respondeu que não era a megera que ele estava pensando.
Nesta ocasião, Leonilde informou que o jantar seria servido.
Laura agradeceu e convidou o moço para jantar.
O casal caminhou em direção a sala de jantar.
Jantaram.
Isaura, em conversas com Laura, perguntou o que o moço gostava de comer.
A moça retrucou dizendo que não sabia.
Argumentou que fazia anos que não convivia com Maximiliano, e não sabia mais do que ele gostava.
Isaura então, ciente da origem humilde do rapaz, resolveu fazer uma macarronada.
Com isto, o casal jantou.
Laura comentou que não sabia do que ele gostava e que Isaura resolveu com Erotildes, que iriam fazer macarrão.
Maximiliano rindo, comentou que sempre gostou de uma boa feijoada.
Nisto, completou dizendo que ela sabia disto.
Laura perguntou se ele ainda gostava de feijoada.
Max respondeu que sim.
A empresária argumentou que estava tarde, e que não seria uma boa idéia uma feijoada aquela hora da noite.
Enquanto jantavam, Max ficou a se recordar das refeições preparadas por ela.
Comentou que ela cozinhava muito bem.
Em dado momento, chegou a perguntar se ela ainda cozinhava.
Laura respondeu que quando esteve a frente de seus restaurantes, fez alguns cursos de culinária. Falou que chegou a cozinhar também. Mas relatando que seu forte não era a cozinha e sim administrar seus projetos, comentou que estava mais feliz agora, sendo dona de seu próprio nariz.
A esta altura, o moço perguntou se ela era feliz.
Laura achou curiosa a pergunta. Comentou que sim, era muito feliz.
Maximiliano perguntou-lhe se não se sentia só.
A empresária respondeu-lhe que não.
O rapaz argumentou que às vezes se sentia só, vivendo naquela cidade imensa.
Laura perguntou-lhe dos amigos, se não possuía uma namorada.
Maximiliano respondeu que não tinha namorada.
Nisto, Laura comentou que não queria ter nenhum tipo de inimizade com ele.
Mencionou que estava namorando um rapaz, e que não queria deixar histórias inconclusas para trás.
O rapaz, ao perceber o tom da moça, ficou deveras incomodado.
Tanto que indagou Laura do porquê daquelas palavras.
O moço perguntou então, se ela pretendia se casar novamente.
Constrangida, a mulher respondeu que isto não vinha ao caso.
Maximiliano insistiu em falar-lhe que vinha sim ao caso.
O clima tenso se instalou.
Antes porém, o casal conversou sobre amenidades.
Laura mencionou que para se tornar dona de restaurante precisou se aperfeiçoar e aprendeu a fazer pratos sofisticados.
Max por sua vez, falou que aprendeu a apreciar outros pratos mais elaborados, mas que ainda assim, preferia o trivial caseiro. Comentou que sentia falta do tempero da comida de sua mãe, e que sentia saudade dos tempos em que vivia no campo.
Relatou que nem mesmo doze anos longe do campo, o convenceram de que a vida na cidade era melhor.
Nisto, o moço perguntou se ela não sentia nem um pouco de saudades dos tempos em que vivera no campo.
Laura respondeu que sua origem era esta, mas nunca se identificou com aquele modo de vida.
Ao ouvir isto, o jovem ficou desapontado.
Laura então, recordando-se de uma tarde em que passou com o pai e os irmãos de criação, fez um aparte. Contou sentia muito carinho por algumas lembranças ternas que guardava daqueles tempos. Salientou contudo, que não gostaria de voltar a viver no campo, talvez e apenas, fazer um passeio pelo lugar.
Maximiliano sorriu.
O clima estava ameno.
E continuaria assim, se a moça não tivesse comentado que estava namorando um rapaz, e que tinha interesse em formalizar o divórcio.
Max, ao ouvir as palavras da jovem, ficou furioso.
Indagou se fora por esta razão que o convidara para o jantar.
Laura sem jeito, contou que estavam separados há muito tempo, e que não era justo mantê-lo preso a um compromisso que só existia no papel. Tentando amenizar a situação, relatou que ele tinha direito a ser feliz com outra pessoa, da mesma forma que ela.
Nervoso, o moço comentou que ela deveria ter pensado nisto antes, e que ele não estava disposto a conceder o divórcio assim tão fácil.
Laura ao ouvir isto, perguntou-lhe se ele tinha interesse no patrimônio dela.
Nervosa, comentou que ela poderia provar que ele não contribuiu em nada para a aquisição dos bens, e que haviam se casado no regime da comunhão parcial de bens.
Maximiliano, ao ouvir as palavras da empresária, respondeu gritando, que não estava interessado em seu rico patrimônio, em seus bens tão mesquinhamente ganhos.
Nisto, comentou que não aceitaria tamanha desfaçatez e que não ela não tinha o direito de brincar com o sentimento das pessoas.
Laura argumentou que não estava brincando com os sentimentos de ninguém. Disse que não mandava em seu sentimento, e estava gostando de Humberto.
Curioso, Maximiliano perguntou se este Humberto também era empresário.
- Não é de seu interesse! – retrucou Laura.
Nervoso, Maximiliano, ao perceber a mulher se afastando, aproximou-se dela e a segurou pelo braço.
Laura, ao perceber que o moço estava furioso, assustou-se.
Exigiu que ele soltasse seus braço.
Max contudo, a segurava com mais força.
A certa altura, Laura disse-lhe que ele a estava machucando.
Insistiu para que ele a soltasse.
Maximiliano contudo, gritou dizendo que não a soltaria.
Ao ouvir o berro, Leonilde e Isaura acorreram a sala de jantar.
Quando a governanta fez menção de intervir, Isaura a impediu.
Disse que eles se entenderiam.
Leonilde ao ver o modo como Max segurava o braço de Laura, argumentou que ele poderia machucá-la.
Isaura por sua vez, falou que ele jamais a machucaria.
No entanto, caso houvesse necessidade, interviria. Contudo, o momento não era chegado.
Alegou.
A mulher insistiu que eles precisavam se entender, e que este entendimento só chegaria quando um deles tomasse uma atitude.
No caso, Max.
Leonilde concordou. Mas disse que se ele não parasse de apertar o braço da patroa, seria obrigado a chamar um dos seguranças.
Isaura concordou.
Só recomendou que esperasse um pouco.
Nisto, as mulheres se afastaram.
Furioso, Max acusou Laura de oportunista e interesseira. Argumentou que ela só estava namorando este tal Humberto, por que ele devia ser bem mais rico do que ela.
Laura ao ouvir as palavras do moço, gritou dizendo que ele não entendia nada.
Logo ele dizendo isto.
Maximiliano, percebendo que a moça se referia ao patrimônio que amealhara, e o temor que tinha de que ele exigisse parte dos bens, gritou dizendo que não estava interessado em seu dinheiro.
Mencionou que se tivesse interessado em dinheiro, já teria promovido o divórcio a seis anos atrás. Argumentou que possuía um apartamento próprio e um carro quitado, e que não dependia de ninguém para nada.
Laura neste momento, pediu chorando para que ele a soltasse.
Maximiliano então, ao olhar para o braço de Laura, soltou-a.
Ao notar que a pressão que usara para segurar a moça deixou seu braço vermelho, pediu desculpas. Perguntou se a havia machucado.
Laura não respondeu.
Maximiliano aproximando-se, segurou novamente o braço da moça.
Laura pediu então, para que ele não se aproximasse novamente.
O moço ao perceber que a moça pretendia resistir, pediu para que ela não se opusesse, pois não tinha a intenção de machucá-la.
Só queria ver como o braço estava.
E assim, segurando delicadamente o braço da moça, perguntou se doía, quando ele pressionava.
Laura respondeu deu um pulo.
Maximiliano pediu-lhe novamente desculpas.
Disse que isto não iria se repetir.
Laura sentou-se novamente a mesa.
Disse que seu advogado iria contatá-lo para providenciar o divórcio.
Maximiliano respondeu-lhe que não lhe daria o divórcio.
Comentou novamente que não estava interessado em seus bens, mas que ainda assim, não facilitaria as coisas para ela.
Laura aborrecida, levantou-se. Passou por Max.
Quando se aproximou da escadaria, o moço puxou-a novamente pelo braço e lhe disse que ele não iria se separar dela.
Laura aborrecida, se desvencilhou do moço, que insistente, perguntou se ela gostava de Humberto.
Procurando provocá-la, o jovem falou-lhe que ela não parecia muito entusiasmada quando falava nele.
Laura retrucou dizendo que ele cuidasse de sua própria vida.
Nisto, voltou-se novamente para a escada.
Disse que estava muito cansada e que iria se recolher. Por fim, falou que ele poderia ficar, se quisesse, mas que não tardasse muito para sair.
Nisto pediu licença e começou a subir as escadas.
Maximiliano, ao perceber que a moça se afastando, vendo Laura no meio da escada, sem pensar no que estava fazendo, subiu as escadarias.
Segurou novamente a moça pelo braço.
Laura tentou repeli-lo, mas Max, dizendo que era perigoso ficar se debatendo na escada, exigiu que ela subisse.
A moça teimou dizendo que dali não sairia enquanto ele não descesse as escadas.
Como Maximiliano não estava interessado em retroceder, o jovem decidiu segurar a moça no colo.
Laura, esperneou.
Insistiu para que ele a colocasse no chão, mas Maximiliano não atendeu, exigindo que ela parasse de pular, sob o argumento de que agindo daquela forma, os dois acabariam caindo das escadas.
Max disse-lhe que só queria conversar e que se depois daquela conversa, ainda assim ela estivesse disposta a levar o divórcio adiante, poderia fazê-lo, pois não iria mais se opor.
A empresária, ao ouvir as palavras do moço, concordou em atendê-lo.
Nisto, disse que poderiam conversar no escritório.
Maximiliano contudo, insistiu para que subissem, e que se assim não fosse, o trato estaria desfeito.
Sem alternativa, a moça concordou.
Com isto, ao final da escada, o moço soltou-a.
Maximiliano perguntou-lhe onde ficava seu quarto.
Laura indicou-lhe o caminho, e Maximiliano levou-a até lá.
A certa altura, sem ouvir sons da sala de jantar, as mulheres se encaminharam para o local.
Espantaram-se quando não viram o casal.
Aproximaram-se do escritório, mas perceberam que o mesmo estava vazio.
Isaura animada, comentou que as coisas transcorriam melhor do que imaginara.
Leonilde não compreendeu o comentário, mas Isaura, disse que iria se aproximar do quarto de Laura.
Assim o fez.
Percebeu que havia gente no quarto, mas a porta estava encostada.
Discretamente se afastou.
Com isto, Laura e Maximiliano conversaram.
O moço contou-lhe sobre toda a mágoa que sentia por ter sido abandonado, e que tal fato fizera com que abandonasse a fazenda.
Cansou de ser apontado como o coitado, e de ter de arrumar outra mulher só para dizer que havia superado tudo. Disse ter ficado cansado de enfrentar o olhar de pena de todos.
Afastou-se de tudo. Não queria nenhum contato com nada que lhe lembrasse dela.
Laura por sua vez, tentou se explicar.
Disse que não gostou de ser enrolada, que queria muito viver na cidade.
Comentou sobre os anos que vivera ali, de sua luta, dos anos de estudos. Argumentou que não tinha nada contra ele, que não lhe desgostava, só achava que não combinavam, já que tinham interesses diversos.
Maximiliano comentou então, que ainda trazia guardado consigo, o livro de poesias que ela lhe dera de presente.
Nisto, o moço perguntou-lhe se ainda gostava de poesia.
Laura respondeu que sim, muito embora não encontrasse tempo ultimamente para ler.
Maximiliano lamentou.
Comentou que ela tivera tanto trabalho para se ilustrar, se instruir e se esquecera do mais importante, que era aproveitar a vida.
Laura por sua vez, diante das palavras do moço, argumentou que sabia sim, aproveitar a vida.
Comentou sobre as viagens que fizera, dos lugares que conhecera.
Max argumentou que todavia, ela estava sempre sozinha.
Laura retrucou dizendo que não.
Por diversas vezes estivera acompanhada.
Ao ouvir tais palavras, o moço se impacientou novamente.
Laura por sua vez, indagou:
- O que você esperava? Que eu ficasse eternamente sozinha? Pois eu duvido que você tenha ficado sozinho todo este tempo.
Maximiliano então, tentando provocar a moça, disse que sim, tivera muitas namoradas, e que todas elas eram muito melhores que ela.
Laura ao ouvir isto, perguntou:
- E por que você não escolheu nenhuma delas para se casar?
Maximiliano argumentou que já estava casado, e que não pretendia se desfazer de seu compromisso. Comentou que casamento era para a vida inteira, e que não havia esquecido de sua promessa.
Laura indagou a respeito da promessa:
- Que promessa?
Mais do que depressa o moço respondeu que ao se casar com ela, fizera uma promessa de que a vida de ambos seria repleta de felicidade e de bons momentos. Argumentou que não pudera cumprir com a promessa tempos atrás, mas que agora estava disposto a fazê-lo, se ela lhe desse a oportunidade.
Ao ouvir isto, Laura perguntou-lhe o que estava querendo dizer com aquelas palavras.
Maximiliano mais do que depressa respondeu que não pretendia se separar, que ainda gostava muito dela e que estava disposto a retomar o casamento.
Laura espantou-se.
Procurando entender o que estava acontecendo, começou a rir.
Para decepção de Max, relatou que a proposta não tinha fundamento, no que o moço retrucou dizendo que tinha todo o fundamento sim.
Procurando deixar a moça sem saída, perguntou-lhe por que não havia providenciado o divórcio quando chegou na cidade. Procurando deixá-la confusa Max relatou que ela também não havia se esquecido dele e que tinha sim, saudades daquela vida simples.
Irritada, Laura argumentou que ele estava imaginando coisas.
Maximiliano retrucou dizendo que não.
Nisto, fez outra proposta. Disse que se o relacionamento deles não era importante, poderia fazer o que quisesse que ela não se importaria.
Laura assentiu afirmativamente.
Maximiliano então, num gesto brusco, beijou a moça.
Percebendo que ela tentou se afastar, o homem segurou-a com mais força.
Ao notar que a estar altura a mulher não oferecia resistência, Max decidiu se afastar.
Laura não sabia o que pensar.
Com isto, Maximiliano aproximou-se novamente.
Beijou-a novamente.
A certa altura, a moça alisava os cabelos do moço.
De manhã, o rapaz se recompôs.
Abriu a porta do quarto.
Olhou para o corredor para se certificar de que não havia ninguém por perto.
Desceu pé ante pé as escadarias.
Ao chegar na sala de jantar, assustou-se com a presença de Isaura, a qual sorrindo, desejou-lhe bom dia.
Constrangido, o moço respondeu.
Perguntou-lhe se fazia muito tempo que estava ali.
Isaura respondeu que sabia que ele havia passado a noite na casa.
Sorrindo, perguntou se eles haviam se entendido.
Confuso Maximiliano respondeu que não estava certo disto.
Isaura então indagou:
- Como assim? Mas é claro que sim. Laura nunca trouxe nenhum de seus namorados para dormir em casa.
Incomodado, Maximiliano respondeu que não era namorado da moça e sim marido.
Isaura respondeu que este era um motivo a mais para chegar a conclusão de que as coisas estavam chegando a um bom termo.
Nisto a mulher convidou-o para o café.
Conversaram.
Isaura recomendou-lhe que aguardasse a moça, mas Maximiliano respondeu-lhe que tinha hora para trabalhar.
Isaura sugeriu então, que retornasse na hora do jantar.
Maximiliano argumentou que precisaria trabalhar até tarde, mas assim que se desincumbisse de suas funções, iria até a mansão.
Assim, despediu-se da mulher, prometendo voltar.
Quando Laura acordou, resolveu tomar um banho, vestiu-se, arrumou-se e desceu as escadas.
Tomou um café da manhã apressadamente, mal tendo tempo para conversar com Isaura.
Em seu escritório, a moça analisou documentos, atendeu telefonemas, participou de uma reunião.
Maximiliano analisou documentos contábeis.
Não se encontraram durante o expediente.
Ao término do trabalho, o moço se encaminhou para a mansão.
Combinado com Isaura, o rapaz teve sua entrada liberada.
Ao adentrar a mansão, o moço foi informado que Laura havia acabado de chegar, e que iria jantar em seu quarto.
Ao ouvir isto, o rapaz sugeriu ele mesmo levar o jantar para a moça.
Perguntou se não havia inconveniente quanto a isto.
Isaura respondeu que não.
Com isto, o moço levou o jantar para o quarto da moça.
Bateu na porta.
Laura pediu para entrar.
A esta altura, já estava de banho tomado, roupão e lendo um livro deitada em sua cama.
Ao ver Maximiliano se aproximando, espantou-se.
Perguntou o que fazia ali.
O moço respondeu que iria servir seu jantar.
Laura riu.
Perguntou se ele não devia estar em sua casa, descansando.
Maximiliano respondeu que poderia fazê-lo ali, caso ela autorizasse.
A moça riu.
Ele por sua vez, pediu licença e sentou-se a seu lado na cama.
Jantaram juntos.
Maximiliano brincava de colocar comida em sua boca.
Os dois riam animados.
Isaura, ao circular pelo corredor, podia ouvir os risos.
Feliz, comentou com Leonilde que eles estavam se acertando.
Com o tempo, as visitas passaram a ser cada vez mais freqüentes.
Certo dia, a moça recebeu uma ligação de Humberto.
Estranhando a ausência da jovem, o rapaz perguntava quando tornariam a se encontrar.
Constrangida, a moça atendeu a ligação perto de Maximiliano, que ao perceber que ela conversava com o rapaz, perguntou se ela não havia terminado o namoro.
Laura nervosa, respondeu que este tipo de conversa não poderia ocorrer por telefone.
Maximiliano exigiu que ela marcasse um encontro com o rapaz e terminasse o namoro.
Ao ouvir isto, a empresária argumentou que não agiria pressionada.
Relatou que quando a oportunidade se apresentasse, conversaria com o rapaz.
Maximiliano se aborreceu.
Com isto, dias mais tarde, Humberto resolveu fazer uma visita a moça.
Sem avisar, dirigiu-se a sua casa, sendo recepcionado por Leonilde.
Qual não foi a surpresa do moço, ao ver Laura sendo abraçada por Maximiliano. Rapaz que não conhecia.
Imediatamente exigiu explicações.
Como Laura permanecesse muda, Maximiliano instou-a para que falasse.
Argumentou que ou ela conversava com o rapaz, ou ele mesmo contaria.
Pressionada, a jovem chamou o moço para conversar no escritório.
Apreensiva, explicou-lhe que o rapaz que vira em sua sala, era um antigo conhecido seu, com quem tivera um relacionamento, há muitos anos atrás.
Humberto, aborrecido, respondeu que ela deveria ter mais respeito por ele e não ficar se esfregando com qualquer um.
Ofendida, a moça respondeu que não estava se esfregando em ninguém, e que Maximiliano não era qualquer um.
Humberto irônico, argumentou que ela o havia traído, e que portanto, não era digna de respeito ou de confiança. Furioso, chamou-a de ordinária.
Maximiliano, ao ouvir da sala, as ofensas do moço, irrompeu no escritório e desferiu-lhe um soco no rosto.
Disse para que tivesse respeito com a moça.
Argumentou que pelo que ouvira dos empregados, o relacionamento dos dois não era bem um namoro, posto que raramente se encontravam ou se falavam, ainda que por telefone. Então, não havia motivos para tanta celeuma.
Humberto argumentou que estavam saindo juntos já há algum tempo, e que ele pretendia tornar o relacionamento mais sério. Mencionou que pretendia se casar com a moça, mas ela com sua estupidez, havia estragado tudo.
Maximiliano, ao ouvir as palavras do moço, disse-lhe que ela já era casada e que jamais poderia se casar com ele.
O empresário, que procurava se recuperar do choque, e se recompor do soco que levara, ficou ainda mais transtornado.
- Casada? Como assim, casada? – indagou.
Maximiliano respondeu-lhe que estavam casados há quase quinze anos, muito embora, só tenham vivido juntos por um ano.
Humberto não compreendia.
Por fim, chamou a todos de loucos, e disse que não queria vê-los em sua frente nunca mais.
A Laura, disse que não a queria ver mais nem pintada e ouro e recoberta de diamantes.
Laura por sua vez, respondeu que ele ficasse descansado, pois não iria nunca mais procurá-lo.
Argumentou que não pretendia fazer tão bela figura diante dele, e que tentaria retomar sua vida. Por fim, lamentou que ele soubesse dos fatos daquela forma, mas argumentou que não imaginou que voltaria a viver com seu marido.
Humberto argumentou que nunca fora tão ofendido em sua vida.
Laura pediu-lhe desculpas.
O empresário por sua vez, redargüiu dizendo que nada diminuiria a raiva que estava sentindo.
Desejou que passasse muito mal.
Nisto, retirou-se do escritório, e ao pegar o carro, arrancou e cantou pneu.
Humberto saiu a toda, rua afora.
Laura e Maximiliano, se entreolharam.
O rapaz então, perguntou a moça se estava tudo bem, no que ela respondeu que sim.
Ao contar o ocorrido a Isaura, a jovem escutou a mulher lhe dizer que não devia ter tardado tanto para contar a Humberto o que estava acontecendo.
Laura argumentou que precisava esperar o momento oportuno para fazê-lo, mas que este momento nunca chegou.
Isaura redargüiu dizendo que daquela forma, as coisas ficaram ainda piores.
Laura respondeu que agora o mal já estava feito, e que não havia jeito de modificar as coisas.
Isaura concordou.
Melhor deixar as coisas como estão, o tempo de encarregaria de tornar o golpe mais leve.
Diante disto, depois de inúmeras cobranças do rapaz, Laura tornou a conviver com o marido.
Feliz, certa vez Maximiliano comentou que ela estava mudada, e que o relacionamento estava melhor. Nisto, o moço disse-lhe que estava mais leve e mais solta.
Laura respondeu que teve tempo suficiente para aprender o que precisava saber para viver um bom relacionamento.
Por fim, completou dizendo que nenhum dos homens com quem se relacionou reclamou.
Maximiliano não gostou de ouvir estas palavras.
A moça, percebendo isto, comentou brincando, que tudo fora uma preparação para voltar a viver com ele, viver de forma inteira, mais à vontade. Como não havia feito antes.
Percebendo que o moço ficara amuado, a jovem aproximou-se dele e começou a beijá-lo.
Acariciou seu rosto e alisou seus cabelos.
Por fim, o moço comentou que estava gostando da atenção dispensada.
Laura começou então a fitá-lo.
Por fim, colocou seu corpo em cima dele e o jogou na cama.
Maximiliano começou a rir.
Intrigada, a moça perguntou do que ele estava rindo.
O rapaz respondeu:
- Engraçado! Eu me casei com uma moça séria, tímida, reservada. Mas agora, ao reencontrá-la, vejo uma mulher segura, ainda séria e reservada, mas muito mais desinibida.
Curiosa, Laura perguntou-lhe se estava achando a mudança ruim.
Maximiliano respondeu que não.
Por fim, exigiu que ela não saísse com mais ninguém. Disse que agora seriam só os dois.
Laura rindo, comentou que não pretendia mais arrumar namorados.
Maximiliano era só alegria.
Isaura também ficava encantada de ver o casal junto.
Maximiliano vez ou outra, recitava poemas para Laura, que ficava encantada.
A moça ficava impressionada com a capacidade do moço em memorizar poesias.
Dizia que para se lembrar de todos os detalhes, de todos os versos, precisava ler no livro.
Já Maximiliano memorizava algumas poesias.
Sorrindo, o moço dizia que não havia se esquecido do quanto ela gostava de coisas belas.
Isaura, ao ouvir uma das poesias, bateu palmas e exclamou:
- Bravo!
Ao perceberem que eram observados, Laura e Maximiliano começaram a rir.
Os dois estavam no escritório nesta ocasião.
Com isto, a pedido de Max, Laura providenciou uma festa de comemoração dos quinze anos de casamento. Para isto, convidou alguns amigos.
Maximiliano apresentou seus amigos a moça.
Todos ficaram espantados de sabê-los casados, e há tanto tempo.
Contar a todos a história, foi um caso a parte.
Quando então, ficavam sabendo do tempo em que se casaram e depois se separaram, comentaram que eles deviam se gostar muito para insistirem na união.
Alguns diziam que parecia novela.
Laura e Maximiliano riam com os comentários.
Para surpreender o marido, Laura providenciou um bonito vestido branco.
Maximiliano usou um fraque.
O homem ao ver a esposa em um vestido vaporoso, ficou emocionado.
Nesta época, o moço insistiu para que ela chamasse seus pais de criação para a festa.
O rapaz disse que chamaria seus pais.
Laura, sem ter como recusar, e diante da insistência do moço, embora tenha discutido com ele num primeiro momento, acabou concordando. Com isto, chamou a todos.
Quanto o moço sugeriu tentar localizar Ludmila, Laura encheu-se de fúria e argumentou que ela não seria convidada.
Argumentou que ela nunca fizera parte dos grandes acontecimentos de sua vida, e não seria agora que ela iria invadir sua vida.
Maximiliano tentou argumentar, mas Isaura, já sabedora desta circunstância, tentou conversar com a moça.
Laura porém, estava inflexível.
Não admitia que ninguém se intrometesse em sua vida.
E assim, Ludmila não foi convidada para a festa.
No dia da festa, Zélia e Olavo, abraçaram emocionados, a filha que não viam há tantos anos.
Vicente e Antonio também foram convidados, assim como sua família e seus filhos.
Laura descobriu então, que tinha sobrinhos.
Rosália e Antunes, abraçaram o filho.
Advertiram Laura que se desta vez não fizesse o filho feliz, ela haveria de se entender com eles.
Antunes, ao perceber que Rosália pretendia passar uma descompostura em Laura, interrompeu a mulher. Disse que aquela não era ocasião mais apropriada para se fazer cobranças e sermões. Que aquele era um momento de alegria do casal, e que eles não estavam ali para atrapalhar.
Contrariada, a mulher se calou.
Com isto, deu-se lugar a uma bonita cerimônia celebrada no imenso jardim da mansão em que um coreto montado para a ocasião.
O casal foi aplaudido, fotografado.
Valsaram juntos, cortaram um bolo.
Os convidados cumprimentaram os casados. Desejaram de fato, a felicidade que ainda não tiveram.
E de fato o foram.
Tiveram duas filhas.
No primeiro ano após reatarem o relacionamento, Laura teve uma menina a quem deu o nome de Dandara.
Maximiliano estranhou o nome, mas a pedido da esposa, registrou a criança com o referido nome.
Laura justificou dizendo que havia uma música muito bonita, cuja personagem tinha este nome. Argumentou que era um nome sonoro e diferente.
Dois anos depois nasceu Júlia.
Nome este, escolhido por Maximiliano.
Laura contratou babás para cuidar das crianças.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 15
A mulher examinou a documentação. Elogiou a presteza do rapaz em tirar xérox de todos os documentos necessários a contratação. Até mesmo do que não fora pedido.
Com isto, a mulher ofereceu-lhe um café.
Conversou mais um pouco com o moço.
Explicou-lhe as condições de trabalho. Comentou que ele passaria por um período de experiência, e que transcorrendo tudo bem, como acreditava que aconteceria, seria efetivado.
Leonilde comentou que duas mulheres moravam na casa, e que a mais nova era a dona do imóvel e a mais exigente. Exigia pontualidade e presteza.
Contudo, quem não a desapontava era regiamente recompensado.
Neste ponto, a mulher comentou que o salário informado no jornal, não englobava vale transporte e convênio médico. Falou que não seria oferecido vale-refeição, pois ele faria suas refeições na cozinha com os demais empregados.
Por fim, relatou que em algumas ocasiões seria necessário pernoitar na residência.
Maximiliano respondeu que não haveria problemas.
E assim, o moço foi contratado.
Leonilde parabenizou-o pela contratação.
Apertaram as mãos.
Erotildes, ficou felicíssima pela contratação.
Efusiva, chegou a comentou que seria mais um homem bonito circulando pela casa.
A governanta, ao ouvir o comentário da cozinheira, censurou-a.
Pediu para que tivesse compostura, pois o rapaz poderia não gostar da brincadeira.
Maximiliano respondeu então, que não se importara.
Ao ouvir isto, Erotildes emendou:
- Já está acostumado, não é mesmo? Esses homens bonitos, sempre tem alguém mais esperta que lança o olho neles antes da gente! Ah se eu tivesse alguns anos a menos!
Nisto, todos os empregados da casa caíram na gargalhada.
Maximiliano achou graça.
Brincando, disse para que ela parasse de lhe dizer aquelas coisas ou ficaria convencido.
Leonilde desculpou-se pelos modos de Erotildes.
Disse que todos estavam felizes com a contratação, e que ele se acostumaria com o jeitão dela.
Chamando o rapaz em um canto, comentou que a cozinheira era muito brincalhona, mas tinha um ótimo coração.
Maximiliano comentou que não se ofendera com a brincadeira. Argumentou que era melhor ser recebido com festa do que com hostilidade.
Leonilde concordou.
Com isto, o moço começou a trabalhar na casa.
Isaura, sempre que podia utilizava os préstimos do moço.
Maximiliano a levava e buscava nos restaurantes.
A mulher passava por todos os restaurantes. Verificava a preparação dos cardápios, o trabalho dos funcionários.
O moço também levava a cozinheira da casa, as compras, a feira.
Erotildes se sentia uma madame indo para lá e para cá no carro da patroa.
Leonilde também utilizava os serviços do motorista.
A proprietária da casa, contudo preferia ela própria dirigir até o escritório onde trabalhava.
A moça só ficou conhecendo o empregado, quando precisou do motorista para levá-la a todas as lojas e a confecção instalada no centro da cidade.
Qual não foi sua surpresa ao perceber que se tratava de Max.
O rapaz também ficou surpreso ao se ver diante de Laura.
Impressionado, perguntou-lhe o que fazia naquela casa.
Indagou se também era funcionária.
Laura, um tanto chocada com a novidade, respondeu que não, era apenas a dona do imóvel.
O espanto de Max foi ainda maior.
Nisto, a jovem chamou Leonilde.
A governanta, ao ser inquirida pela patroa, argumentou que ela não impusera empecilhos a contratação e que Max era um ótimo funcionário. Nunca lhe criara problemas. Contudo, ela era a patroa e ela definia quem ficava e quem saía dali.
Desculpou-se pelo mal estar criado, mas dizendo que não via problemas na permanência do moço na residência, relatou que não compreendia sua reação.
Nisto, percebendo o ar de desaprovação da moça, Leonilde disse:
- Os senhores se conhecem!
Diante disto, pediu desculpas e retirou-se.
Ao se afastar, Leonilde pode perceber um silêncio.
Somente quando Laura notou que a mulher estava longe da sala, perguntou-lhe o que estava fazendo ali.
Max respondeu que havia sido contratado para ser motorista. Argumentou que nunca poderia imaginar que ela morava naquela casa, e que era a dona do imóvel.
Nisto o moço perguntou-lhe por que ela havia ido embora sem ao menos lhe dar uma explicação.
Laura engoliu em seco.
Disse que não lhe devia explicações.
Maximiliano respondeu-lhe que ela lhe devia uma explicação sim.
Comentou que sofrera anos a fio, que a esperara por muito tempo, e que ao ver que ela não voltaria mais, decidiu rumar para a capital.
Confessou que durante os primeiros anos em que viveu na cidade, procurou-a em todos os lugares por onde passou, mas que com o tempo, deixou de lado sua busca.
Nisto, começou a rir.
Com os olhos cheios de água, falou quase aos prantos, que havia perdido as esperanças de encontrá-la.
Desta feita, perguntou-lhe novamente por que o havia abandonado.
Laura emudeceu.
Não sabia o que dizer.
Maximiliano insistia para que lhe desse uma explicação.
Até que a certa altura, a moça disparou:
- Eu é que tenho que dar uma explicação? Fui enganada por uma mulher que se dizia ser minha amiga, mas que na verdade não quisera me reconhecer como filha... Fui enganada por você, que prometeu que me ajudaria a prosseguir em meus estudos e não moveu uma palha para me ajudar. Muito pelo contrário, fez tudo o que pode para me deixar presa naquela fazenda... O que você queria, que eu ficasse ali eternamente sendo enganada por todos?
Ao ouvir as palavras duras de Laura, o moço ficou profundamente magoado.
Em dado momento, chegou a perguntar-lhe se não sentia falta de seus pais, de Zélia e Olavo, de seus irmãos, dele.
Quando o moço se referiu aos seus pais e irmãos, Laura perguntou-lhe se estava se referindo aos seus pais adotivos, ou aos ingratos que a abandonaram.
Maximiliano, tentando recuperar-se do choque, respondeu que estava se referindo a sua família de criação.
Neste momento, comentou que conversara com Ludmila e que a mulher lhe dissera que não a abandonara, que fizera o que fizera, visando protegê-la.
Ao ouvir isto, a moça irritou-se. Argumentou que a mulher não precisava de advogados.
Maximiliano calou-se.
Laura nutria profunda mágoa de Ludmila e Zélia.
Em todos aqueles anos, não se preocupara em manter contato com quaisquer pessoas que lembrassem sua vida na fazenda.
Em dado momento, Maximiliano lembrou-lhe que possuía família, e que eles se ressentiam da falta de notícias.
Comentou que Antonio e Vicente haviam se casado, e que Olavo estava cada dia mais triste com sua ausência.
A moça, ao recordar-se de Olavo, ficou com os olhos cheios d’água.
O rapaz, percebendo isto, perguntou-lhe se não gostaria de falar com sua família.
Laura respondeu que não queria falar sobre isto.
Com isto, tentando se explicar, Max disse que viera para a cidade em razão da necessidade de ganhar dinheiro, e de proporcionar uma vida melhor a sua família.
Laura, ao ouvir isto, perguntou o que fizera finalmente passar a viver na cidade.
O moço argumentou que a vida na fazenda estava muito ruim. Mencionou que não agüentava mais ser apontado como coitado, como o marido que fora abandonado.
Sentia-se muito desconfortável nesta situação.
Laura ficou constrangida ao ouvir a explicação.
Maximiliano por sua vez, comentou que quase pensou em se casar novamente.
Laura então deu-se conta de que continuava legalmente casada com o rapaz.
Diante disto, perguntou-lhe se gostaria de receber um bom dinheiro para sair da casa.
Espantado, o homem respondeu que gostaria de ganhar dinheiro com o seu trabalho.
Argumentou que não estava ali para se aproveitar da situação, e que se ela não estava satisfeita com seu trabalho, que o mandasse embora.
Isaura, que a esta altura voltava a residência, ao perceber o clima tenso entre os dois, perguntou a Laura se havia algum problema.
Maximiliano respondeu que estava apenas acertando suas contas.
A mulher, ao ouvir isto, perguntou a Laura o motivo da demissão.
Laura retrucou dizendo que não estava demitindo ninguém.
Isaura não compreendeu.
Razão pela qual insistiu por uma explicação.
A jovem tentou argumentar dizendo que se tratava de um assunto particular.
Isaura ao ouvir isto, relatou que independente de qualquer coisa, o moço não poderia ser demitido. Mencionou que foi muito difícil encontrar alguém de confiança e tão responsável para executar o trabalho.
Com isto, pediu licença e se afastou.
Laura chamou então o rapaz para adentrar seu escritório.
Ao entrarem, Laura encostou a porta do ambiente.
A mulher respondeu-lhe então, que teria um prazo para deixar a casa, e arrumar um novo trabalho. Comentou que todas as verbas rescisórias seriam pagas, que não precisava se preocupar.
Ressalvou contudo, que não tinha interesse em mantê-lo como seu empregado. Argumentou que não havia possibilidade de convivência.
Maximiliano, magoado, retrucou dizendo:
- É sempre assim! As pessoas são descartadas quando não mais interessam! E depois, questiona o fato de ter sido abandonada! Você fez o mesmo com sua família de criação!
Laura, ao ouvir as palavras do moço, exigiu que ele se calasse.
Argumentou que ele não era ninguém para se dirigir a ela daquela maneira.
Maximiliano irritado, gritou dizendo que era marido dela.
Diante de um possível escândalo, a mulher pediu para que ele se calasse.
Furioso, o moço respondeu que não se calaria, que não se sujeitaria a seus desmandos, e que ela lhe devia algumas explicações.
Laura nervosa, elevou a voz e começou dizendo que não lhe devia nenhuma explicação.
Maximiliano, segurando seu braço, insistia em dizer que ela lhe devia satisfação.
Isaura, ao perceber a altercação, resolveu intervir.
Bateu na porta do escritório, e do lado de fora, perguntou se estava tudo bem.
Laura respondeu irritada que sim.
Isaura retrucou então, dizendo que todos haviam percebido que eles estavam discutindo.
A moça ao ser advertida do fato, resolveu abrir a porta para a mulher.
Isaura adentrou o recinto.
Preocupada, a mulher perguntou:
- O que está acontecendo? Vocês se conhecem?
Laura precisou então explicar que fora casada com o moço.
Maximiliano, argumentou que ela o abandonara, assim como toda sua família.
Isaura olhou nos olhos da moça e indagou se o que o moço dissera era verdade.
Laura então respirou fundo.
Contou que fora criada em uma família de criação.
Estudou em colégio interno. Vindo a se casar, com a promessa de que assim que reunisse condições, o moço e ela viveriam na capital e fariam faculdade. Comentou que somente depois de uma discussão dos pais de criação, descobriu que era filha adotiva.
Relatou que em dado momento, teve curiosidade em conhecer sua mãe biológica, mas que ao conhecê-la, percebeu que não era digna de confiança.
Isaura indagou-lhe o porquê de tal afirmativa.
Laura respondeu que a mulher se fizera passar por uma estranha, e que não fosse a intervenção de Zélia – sua mãe adotiva – nunca teria descoberto a verdade.
Aborrecida, argumentou que não agüentava mais ser enrolada por Max, ser enganada por sua família de criação, e pela mulher que dizia ser sua mãe biológica.
Com isto, arrumou suas coisas e partiu da fazenda. Argumentou que estava cansada de viver uma vida sem perspectivas.
Isaura ouvia a tudo com atenção.
Em alguns momentos Max tentou argumentar.
Dizia que nunca a enganara, apenas não tinha dinheiro suficiente para partir.
Nestes momentos, Laura exigia que ele se calasse, e Isaura pedia para que ambos ficassem calmos.
E assim, a conversa prosseguia.
Em dados momentos, os olhos de Laura enchiam-se de água.
A moça então, parava de falar.
Maximiliano também estava comovido.
Ao terminar de falar, Maximiliano pediu para conversar com Isaura.
Inflexível, Laura respondeu que ele tinha um prazo para permanecer na casa, e que deveria se preocupar em arrumar um emprego.
Isaura ao perceber que a moça tinha a intenção de demitir o moço, argumentou que ela não podia agir de forma tão precipitada.
Comentou que o rapaz não era um estranho, que eles precisavam se entender.
Laura nervosa, comentou que precisava ficar sozinha.
Pediu que para ambos a deixassem sozinha.
Como Maximiliano insistisse na conversa com Isaura, e a própria mulher tivesse interesse em seu relato, Laura decidiu retirar-se.
Max por sua vez, argumentou que a conversa não terminara, e que eles retomariam o assunto, nem que para isto, precisasse fazer plantão em frente a residência.
Isaura, tentando amenizar a situação, argumentou que isto não seria necessário, e que Laura seria razoável. Isto após uma noite de descanso, e ao colocar a cabeça no lugar.
Mais tarde, após se despedir de Maximiliano, orientando-o a se acalmar, a mulher abraçou a moça. Isaura comentou que ela nunca lhe contara que fora casada, que não fora criada em sua família biológica.
Laura mencionou então, que estava cansada.
Isaura desejou-lhe boa noite.
Perguntou-lhe se não gostaria que servissem o jantar em seu quarto.
Laura comentou que não sentia fome. Insistiu em dizer que pretendia ficar sozinha.
Nisto, a moça dirigiu-se ao toilett.
Cansada, decidiu tomar um banho.
Trocou de roupa, e aborrecida, deitou-se.
Contudo, não conseguiu dormir.
A todo o momento se virava de um lado para o outro.
Maximiliano e Isaura por sua vez, conversaram.
Dias depois, o moço explicou que procurou ganhar tempo.
Argumentou que não tinha vontade de sair da fazenda, afinal de contas, gostava daquela vida. Revelou que acreditava que com o tempo, acabaria por convencer a moça de que continuar ali, era a melhor opção.
Desalentado porém, contou que a moça não desistia da idéia de voltar a capital. E que após descobrir quem era a mãe biológica, e sentindo-se enganada por todos, resolveu deixar tudo para trás.
Isaura, conversando com o moço, retrucou dizendo que ela não estava de todo errada em sentir-se enganada por todos, afinal de contas ninguém lhe dissera de fato suas verdadeiras intenções.
A mulher, tentando entender as razões da moça, argumentou que Laura se sentia em um mundo de mentiras, e que ainda nutria profunda mágoa de todos.
Chocada, relatou que Laura nunca lhe dissera que era casada, e que não costumava falar sobre sua família. Relatou que a moça sempre ficava incomodada quando tentava trazer o assunto à baila.
Comentou que agora entendia as razões da moça.
Isaura, simpatizando com o moço, pediu para que ele tivesse um pouco de paciência.
Recomendou-lhe que não ficasse cobrando respostas, que nem mesmo ela, estava preparada para oferecer.
Maximiliano retrucou dizendo que tinha sim, direito a explicações.
Isaura redargüiu que as explicações seriam dadas no momento oportuno.
A mulher aconselhou-o a se afastar um pouco.
Falou-lhe que não aceitasse o pedido de demissão da jovem. Comentou que eles não poderiam se afastar novamente.
Maximiliano concordou.
Relatou que faria o possível para que Laura se esquecesse pelo menos por enquanto que ele estava ali.
Nos dias que se seguiram, o moço evitou se apresentar a Laura.
Quanto Isaura solicitou seus préstimos, fê-lo discretamente.
A moça porém, sabia que Max continuava na residência, mas atarefada, preferiu dedicar-se ao seu trabalho.
Passava doze, quatorze horas no escritório.
Com o tempo, passou a jantar fora, em restaurantes.
Evitava ficar em sua residência.
Isaura, percebendo isto, insistiu diversas vezes para que a moça jantasse em casa.
Argumentava que não gostava de jantar sozinha.
Mas Laura, dizendo que tinha muito trabalho a fazer, dizia que assim era mais prático.
A moça evitava tocar num certo assunto.
Isaura certa vez, tentando trazer o tema à baila, só conseguiu irritá-la.
Aborrecida, Laura perguntou se Max estava procurando outro trabalho.
Isaura respondeu-lhe que era contra a demissão do rapaz. Argumentou que Max era muito prestativo e responsável.
Laura retrucou dizendo que não podia ter um estranho em sua casa.
Ao ouvir isto, a mulher aborreceu-se com Laura.
Dizendo-lhe que ela não tinha o direito de desfeitear o moço, relatou que ele era seu marido, querendo ela ou não.
Neste momento, a mulher perguntou-lhe por que não havia cuidado da separação, já que não tinha a menor intenção de reatar o relacionamento.
Laura respondeu que deixou a questão de lado por que não achou importante.
Argumentou que por vezes até se esquecera que ainda era casada.
Disse que sempre utilizava seus documentos de solteira e acreditou que Maximiliano se encarregaria de providenciar a separação de ambos.
Isaura reprovou a conduta da moça.
Laura, ao notar que Isaura a censurava, criticou-a.
Disse-lhe que ela estava do lado de Max.
Questionou a atitude do moço, e argumentou que Isaura achava correta sua inação.
A moça mencionou que ele havia feito uma promessa e que não cumprira.
Nisto, retirou-se do recinto.
Neste dia, recolheu-se a seu aposento. Permaneceu em seu quarto. Não jantou.
Irritada, depois de tomar um banho e vestir uma camisola, sentou-se em frente ao espelho de sua penteadeira e pensando em voz alta, disse para si mesma que no dia seguinte daria um ultimato para Max. Ou ele arrumava um novo emprego ao término de um mês, ou seria demitido.
Com isto no dia seguinte, antes de sair para o escritório, a moça mandou chamar Max.
O moço apreensivo, acompanhou-a até o escritório.
Isaura ao ver o jovem ao lado de Laura, pediu-lhe para que não agisse precipitadamente.
No que a moça respondeu que sabia o que estava fazendo, e que ele não seria prejudicado.
Isaura por sua vez argumentou dizendo que não estava certo o que estava fazendo.
Mencionou que Max era um bom rapaz, e que eles precisavam se entender.
Laura por sua vez, tentando manter a calma, mencionou que não iria discutir com ela. Disse que eram amigas de longa data, e que não seria isto que estragaria o relacionamento de ambas.
Ao ouvir isto, Isaura calou-se, mas lançou um olhar de desaprovação para a moça.
Laura então se fechou no escritório com o rapaz.
Perguntou-lhe se estava procurando trabalho.
Maximiliano, tentando ganhar tempo, respondeu que sim, estava procurando, mas que não estava sendo fácil encontrar um emprego.
Ao ouvir isto, Laura indagou sobre sua qualificação, no que Max respondeu que tinha formação em um curso técnico de contabilidade.
A mulher ao ouvir isto, comentou que possuía amigos contadores, e que poderia indicá-lo para algum deles.
Maximiliano por sua vez, ao perceber o interesse de Laura em ajudá-lo, espantou-se.
Tanto que chegou a comentar que acreditava que ela iria demiti-lo.
Laura respondeu que precisava de uma carta de recomendação de seu antigo emprego.
Max respondeu-lhe que havia entregue este documento a Leonilde.
Laura prometeu que iria verificar com sua governanta.
Disse que ela também redigiria uma carta de próprio punho, recomendando seu trabalho.
Maximiliano agradeceu-lhe.
Minutos depois, saiu da sala, passando por Isaura, que surpreendeu-se ao perceber seu semblante sereno.
O moço esboçava até um sorriso.
Curiosa, Isaura perguntou-lhe o que havia acontecido.
Max respondeu-lhe que assim que fosse possível, conversariam.
A seguir, Laura saiu do escritório.
Isaura, ao perceber que a moça não iria tomar seu café da manhã, insistiu para que ficasse.
Chegou a dizer-lhe que saco vazia não parava em pé.
Mas Laura estava com pressa.
Com isto, desejou um bom dia a mulher e encaminhou-se a garagem.
Seguiu de carro até seu escritório.
Isaura lamentou sua teimosia.
Mencionou que ela ficaria doente se continuasse correndo daquele jeito.
Laura contudo, não lhe dava ouvidos.
Mais tarde a mulher seguiu com Maximiliano até os restaurantes.
Como o trânsito já estivesse pesado, com engarrafamento, Isaura e Max puderam conversar longamente sobre a conversa que tivera com Laura.
Isaura, ao perceber que Laura não queria o mal do moço, e que se importava com sua sorte, fez um comentário indiscreto.
Disse a Max que talvez existisse algum sentimento de Laura por ele. Animada, chegou a dizer que se nem ela, e ele tampouco, se mobilizaram para realizarem o divórcio, era por que havia afeto entre eles.
Max ao ouvir isto, retrucou dizendo que não tivera oportunidade de correr atrás dos papéis necessários para isto.
Isaura por sua vez, diante das palavras do moço, comentou em tom brincalhão, que acreditava muito nele. Nisto, começou a rir.
Maximiliano ficou sem graça.
Isaura, ao perceber isto, comentou:
- Não precisa ficar assim não. Eu vou te ajudar a reconquistar a moça... Isto é, se ainda for de seu interesse reatar este relacionamento, o que me parece ser o caso. Ou eu estou enganada? – perguntou, finalizando com um sorriso maroto.
Maximiliano, ao ouvir as palavras e a proposta da senhora, sorriu.
Disse que sim, ela estava certa. Confessou que gostaria de novamente privar da convivência com Laura.
A certa altura porém, comentou que Laura, estando rica e sofisticada, não iria se interessar por ex-morador da roça.
Isaura sugeriu que ele se qualificasse mais.
Aconselhou-o a aceitar a proposta de Laura. Falou-lhe que a moça era muito bem relacionada, e que conseguiria um bom emprego para ele. Assim, com este emprego, poderia investir em estudos e melhorar aos poucos, sua qualificação.
Maximiliano agradeceu o empenho de Isaura em auxiliá-lo.
Nisto, chegaram em seu destino.
Com efeito, sempre que conduzia a mulher para o trabalho, a dupla aproveitava para falar sobre amenidades.
Em dado momento, o moço perguntou como ela e Laura se conheceram.
Isaura comentou que era dona de uma pensão e que Laura se hospedou no local.
Lá, procurou trabalho, e aos poucos foi estudando e melhorando profissionalmente.
A mulher comentou que a moça fora recepcionista, secretária, até resolver investir em um restaurante. Elogiando a jovem, Isaura falou que ela tem tino comercial, e que aos poucos, passou a ter vários restaurantes. Estudou culinária, aperfeiçoou-se.
Depois, passou a investir em uma confecção, e agora tinha um grande escritório, de onde administrava seus bens.
Max, ao ouvir estas palavras, comentou desanimado, que ela jamais voltaria para ele.
Isaura indagou-lhe o porquê de tanto pessimismo.
Maximiliano respondeu-lhe que ela pensaria que ele estava tentando aplicar um golpe nela.
Ao ouvir isto, Isaura aconselhou-o a deixar as coisas acontecerem.
Max respondeu-lhe que precisava se tornar ainda mais rico do que ela.
Somente assim, ela poderia acreditar que ele não está interessado em seu dinheiro.
Isaura por sua vez, respondeu-lhe que com o tempo, ele poderia demonstrar isto, de um modo mais fácil.
O rapaz não compreendeu as palavras da mulher.
Nisto, em certa tarde, Laura chamou-o novamente para conversar em seu escritório.
Disse-lhe que havia conversado com alguns amigos, e que um deles estava precisando de um contador experiente, para auxiliá-lo em suas tarefas.
Maximiliano respondeu novamente, que trabalhou por alguns anos na atividade e que tinha curso técnico na área.
Laura recomendou-lhe que fizesse um curso superior.
Max concordou.
Disse que sabia que ela não havia deixado de ser a boa pessoa que sempre fora.
O moço tentou se aproximar, mas Laura se afastou.
Nisto, disse ao moço o horário da entrevista, e orientou-o, para que levasse seus documentos pessoais.
E assim, na data agendada, o rapaz passou por uma entrevista, realizou exame psicotécnico.
O homem gostou do desempenho do moço, mas recomendou-lhe prosseguir nos estudos.
Max comentou que em reunindo condições financeiras, pensava em cursar uma faculdade.
Dias depois, o moço recebeu um telefonema em sua residência informando que havia sido contratado.
Razão pela qual dirigiu-se a casa de Laura.
Insistiu para conversar com a moça, disse que precisava acertar sua demissão.
A empresária o atendeu.
Acertaram o pagamento das verbas rescisórias.
Laura comentou que Maximiliano receberia tudo o que a lei determinava.
Quanto a isto, Max disse que estava pedindo demissão e que não cabia o recebimento de todas a verbas.
Laura argumentou que fazia questão de pagar todas elas.
Mais tarde, despediu-se de Leonilde, a qual lamentou sua partida, e de Erotildes que comentou que havia perdido seu colega de trabalho mais bonito.
Maximiliano riu do comentário.
Leonilde por sua vez, comentou que Erotildes não tinha jeito.
Isaura então, ao saber que Laura estava pagando todas as verbas rescisórias, e que havia se empenhado pessoalmente na contratação, comentou que ela ainda se importava com ele.
Brincando, disse que ela não tinha tanta mágoa dele quanto imaginava.
Laura por sua vez, procurou desconversar.
Pediu licença e se dirigiu ao seu trabalho.
Max por sua vez, tratou de se despedir de Isaura.
Enquanto conversavam, o moço perguntou se Laura tinha alguém.
Curiosa Isaura respondeu com outra pergunta.
- Por que tanta curiosidade a respeito?
Sem jeito, o moço procurou desconversar.
Disse que perguntou por perguntar.
A mulher, percebendo o interesse do rapaz, recordou-se de alguns relacionamentos amorosos da moça.
Lembrou-se que por duas vezes, a jovem fora pedida em casamento.
Contudo, sempre o assunto era trazido à baila, Laura desconversava.
Dizia que estava muito cedo para se casar.
Argumentava que o namoro era a parte mais interessante de um relacionamento, para espanto de Isaura, que percebeu o desapontamento estampado no rosto de dos dois moços que a pediram em casamento.
Isaura, comentando sobre o assunto com o moço, alegou que eram rapazes de boas famílias.
Contou que durante os anos em que amealhou seu patrimônio, a moça procurou fazer boas amizades. Freqüentava os círculos sociais, participava de eventos. Conhecia a boa sociedade do lugar.
Maximiliano, ao ouvir as palavras da mulher, ficou enciumado.
A mulher, ao perceber o desconforto do moço, perguntou-lhe se ele havia ficado sozinho todo este tempo, a esperar por Laura.
Constrangido, o rapaz respondeu que não.
Mas enciumado que estava, argumentou que ele era homem, e que não havia problema nenhum nisto.
Isaura, ao ouvir as palavras do moço, comentou rindo:
- Então aos homens é dado fazer tudo, e as mulheres nada? Olhe rapaz, parece que Laura não reza muito por sua cartilha não. Pois não é que a moça quase se casou duas vezes?
Maximiliano ficou deveras aborrecido com as palavras da mulher.
Nisto, dizendo que precisava partir, comentou que estava tarde.
Isaura então, percebendo que o moço estava chateado, comentou que Isaura tivera namoros sim, alguns relacionamentos, e que em alguns deles chegou a acreditar que a moça iria finalmente casar-se.
Cada palavra de Isaura parecia uma flecha indo na direção do moço.
Isaura, ao notar a tristeza do rapaz, comentou que agora entendia por que a moça não havia se casado.
Irônico, o moço respondeu que ela não poderia fazê-lo, sendo ainda casada.
Neste ponto, a mulher discordou.
Disse que não era apenas isto, comentando que se Laura realmente quisesse, já poderia ter se separado dele, e que se não o fizera, era por que não queria de fato.
Maximiliano ficou confuso com os dizeres de Isaura.
A mulher por sua vez, ao perceber isto, comentou que Laura não havia percebido ainda, mas gostava dele.
Max, ao ouvir isto, passou a tecer comentários irônicos, do tipo: “Se ela realmente gostasse de mim, não teria partido sem nem ao menos se despedir.” Entre outras frases.
Isaura, ao ver o rapaz se depreciando, ralhou com ele.
Disse que ele tinha que se valorizar mais, pois somente assim a moça voltaria a olhá-lo com atenção.
Max disse que quando eram amigos na fazenda, a jovem lhe dera um livro de poesias, que trazia guardado com seus pertences.
Isaura recomendou-lhe que mostrasse interesse nos estudos, que investisse nisto, que procurasse se instruir.
Abraçando o rapaz, disse-lhe acreditar que eles ainda ficariam juntos novamente, e que desta vez, não mais se separariam.
Diante destas palavras, os olhos de Max se encheram d’água, mas procurando disfarçar, o moço lhe disse que seguiria seus conselhos.
Por fim, confessou que também teve outros relacionamentos naqueles anos todos.
Voltou para casa.
Dias depois, começou a trabalhar no escritório de Adenor.
Com tempo, passou no vestibular.
Decidir cursar administração de empresas.
O moço trabalhou no escritório do homem por quatro anos e meio.
Neste tempo, analisou muitos documentos, fez muitos cálculos, freqüentou a faculdade a noite.
Aos finais de semana, aproveitava para estudar bastante.
Com dificuldade, concluiu os estudos.
Pouco tempo depois, o moço conseguiu um emprego na área em que se formou.
Nesta época, namorou uma moça, mas o relacionamento não prosperou.
Laura também continuava investindo em sua atividade como empresária.
A esta altura, já possuía um prédio próprio.
Investira em outros ramos de atividade.
Ludmila, Emerson e seus filhos: Carlos, Henrique e André, se viam esporadicamente.
Henrique havia se formado em agronomia e trabalhava na fazenda.
Havia se casado.
A esta altura, a fazendeira já possuía um neto.
O menino se chamava Cláudio.
Carlos e André, ao concluírem os estudos - cursaram engenharia -, passaram a trabalhar na cidade.
Com o tempo, Ludmila foi se desincumbindo das atividades na fazenda.
Emerson passou a auxiliá-la nos trabalhos, assim como o filho, Henrique.
Aflita, a mulher ainda aguardava por notícias de Laura, assim como Zélia e Olavo; além de seus irmãos de criação, Vicente e Antonio.
Todos se preocupavam com a sorte da moça.
Zélia porém, era quem mais sofria com a ausência da moça.
Sentia-se responsável por seu sumiço.
Com efeito, ao perceber que a jovem não voltaria mais, acusou Ludmila dizendo-lhe impropérios.
Acusou-a do sumiço da garota. Disse-lhe que não tivesse aparecido, nada daquilo teria acontecido.
Ludmila resolveu então, contratar um detetive.
Entristecida, dizia que pela quinta vez, perdera alguém que lhe era caro.
Primeiro foram seus pais, quase ao mesmo tempo, depois, seu primeiro marido Antenor, Lúcio, e Odara. Esta, ela dizia que havia perdido por duas vezes.
A primeira quando decidiu entregar a filha para Zélia e Olavo cuidarem, e a segunda, logo após vê-la crescida.
Com os olhos lacrimejando, disse a Emerson que não conseguia suportar conviver com tantas perdas.
Neste momento, observando seu leal companheiro de anos, a mulher pediu para que ele também não a deixasse sozinha.
Comentou lamentosa, que seus companheiros anteriores lhe fizeram a falseta de deixá-la sozinha.
Emerson, ao ouvir as palavras da mulher, comentou rindo que ele não podia prometer nada. Mas que faria o possível para permanecer ao seu lado, ainda por muitos anos.
Ao notar a preocupação da mulher, prometeu ajudá-la a encontrar a filha.
Paralelamente as investigações da esposa, o homem contratou um detetive particular para cuidar deste assunto.
Nisto, Max se encaminhou para o escritório onde realizaria sua entrevista de emprego.
Conversou com o gerente da empresa.
O moço falou sobre sua experiência profissional.
Nisto o gerente falou-lhe que se tratava de uma empresa grande a qual investia em vários ramos de atividade. Comentou que dali administravam uma rede de lojas, confecções, restaurantes, e uma fábrica de louças.
O gerente comentou que a dona dos empreendimentos era uma mulher, jovem e arrojada, que começou do nada.
Ao ouvir as palavras do gerente, o moço respondeu que com seu trabalho, as finanças da empresa ficariam em ordem.
Maximiliano mostrou ao gerente seus documentos, e uma carta de recomendação do escritório de contabilidade onde trabalhou.
O contratador, ao ver que se tratava de um grande escritório, ficou impressionado.
Com isto, ao longo de uma semana, o moço recebeu um telefonema, informando que estava contratado.
Animado, passou a trabalhar no escritório.
Com o tempo, passou a usar terno e gravata.
Seus amigos, ao verem-no tão elegantemente trajado, elogiaram o garbo do moço.
Brincando, lhe disseram que agora estava com cara de gente.
Todos riram.
Com o tempo, o moço finalmente reuniu dinheiro para quitar seu imóvel.
Em seguida, comprou um carro.
Tempos depois, o rapaz encontrou Laura nos corredores da empresa.
Surpresa com a presença do moço, ela perguntou-lhe o que estava fazendo ali.
Laura usava um elegante tailleur, os longos cabelos estavam arrumados, maquiagem leve, batom vermelho.
Maximiliano ficou impressionado com a elegância da mulher.
Mesmo quando a vira quase seis anos atrás, dona de vários negócios, Laura não se vestia com tanto luxo. Usava calças jeans, saltos mais baixos.
Agora Laura estava até mais alta.
Maximiliano por sua vez, estava com um elegante terno.
Nisto, o moço respondeu-lhe que trabalhava ali.
Laura ficou surpresa com a resposta.
Max falou-lhe que havia se formado em administração de empresas e que estava trabalhando no escritório há um ano e meio.
Laura comentou:
- Que bom! Você então fez uma faculdade. Que bacana!
O empregado sorriu. Ficou feliz com as palavras.
Nisto, a moça se despediu.
Com o tempo, Laura e Max passaram a se encontrar com bastante freqüência pelos corredores da empresa.
Em dado momento, ao ouvir alguns executivos comentando que ela era a dona da empresa, Maximiliano percebeu que trabalhava no escritório de Laura.
Surpreso e perplexo, não sabia o que fazer, o que pensar.
Nervoso, pensou em pedir demissão.
Nisto, telefonou para a casa de Laura, sendo atendido por Isaura, que reconheceu sua voz.
Preocupada, ao notar o tom de nervosismo do moço, perguntou-lhe se estava bem.
Maximiliano procurando se acalmar, disse que precisava conversar, mas que esta conversa não poderia ser por telefone.
Desta forma, dias depois, o moço se encontrou com a mulher.
Comentou que estava trabalhando na empresa de Laura e que só descobrira isto agora. Relatou que Laura sabia que ele trabalhava por lá, mas não fizera nada para obstaculizar sua presença no lugar.
Isaura ouviu a tudo com muita atenção.
Depois, quando o moço se acalmou, a mulher comentou que isto só poderia significar uma coisa.
Curioso, Max perguntou-lhe o que ela estava querendo dizer.
Isaura respondeu com uma pergunta:
- Você não entendeu?
Maximiliano continuava sem entender.
Isaura respondeu-lhe então que Laura havia mudado.
Comentou que a moça estava namorando firme um rapaz.
Ao ouvir isto, Maximiliano ficou deveras aborrecido.
Isaura respondeu-lhe que ela ainda não havia se ocupado do divórcio.
Nisto a mulher comentou que a moça cogitou entrar com uma ação, mas que desistira.
Isaura completou dizendo que Laura ainda tinha sentimento por ele.
Maximiliano comentou decepcionado, que estava cansado de investir em algo que tinha tudo para dar errado. Chateado, comentou que se a relação não vingara quando se casaram há anos atrás, por que agora daria certo?
Triste, o moço comentou que Laura não gostava dele, ou então teria ido procurá-lo.
Ao revê-lo, não o trataria com tanta indiferença. Argumentou.
Isaura então, comentou que não poderia exigir que ele acreditasse em suas palavras. Relatou que ele tinha o direito de recomeçar sua vida. Nisto, alegou não entender por que ele não tomava a iniciativa de ingressar com a ação para se divorciar de Laura.
Maximiliano não respondeu.
Isaura redargüiu dizendo, que ele também não queria desvincular de Laura.
Max argumentou que isto só poderia ser uma doença. Comentou que sempre que se aproximava de alguém, o relacionamento não ia para frente.
Isaura, ao perceber isto, perguntou-lhe o por quê.
O moço respondeu-lhe que talvez não quisesse ter um relacionamento sério com alguém.
A mulher, ao perceber a angústia do rapaz, prometeu ajudar-lhe.
Asseverou-lhe promoveria um encontro entre os dois.
Disse a ele que contasse a moça tudo o que havia lhe dito, que procurasse se entender com ela. Relatou que talvez fosse preciso dar um ultimato a moça, e que o fizesse, caso fosse necessário.
Desta forma, a mulher conversou com Laura.
Dizendo que ela precisava resolver sua história com Max, insistiu para que ela marcasse um encontro com o moço.
Laura tentou desconversar mas a mulher insistiu.
Luciana Celestino dos Santos
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