Emerson comentou que era uma bela moça.
Gentil comentou que tendo Ludmila como sua genitora, só poderia ser mesma uma jovem muito bonita.
Ludmila por sua vez, ficou encantada com os modos da moça.
Emerson acrescentou que a jovem, lembrava-lhe muito ela, quando mais jovem.
Nisto o homem perguntou se ela não iria se aproximar.
Comentou que ela poderia cumprimentá-la, puxar conversa.
Ludmila rindo, respondeu que aquele era um momento do casal, e que não cabia a ela interrompê-los.
Emerson achando graça, comentou que de fato, tem momentos em que os casais tem direito de ficarem a sós.
E assim o fez.
Ludmila mais tarde, aproveitou para se dirigir novamente a fazenda.
Em conversas com Emerson, relatou que precisava criar coragem para conversar com a moça.
Com efeito, depois de algumas semanas, a fazendeira aproveitou para conversar com a jovem.
Maximiliano, conversando com Laura, comentou que estava pensando em ter um filho.
Laura, ao ouvir a palavra filho, argumentou que era muito cedo para pensar no assunto.
Relatou que pretendia retomar os estudos.
O moço ao ouvir as palavras da mulher, redargüiu que um filho não a impediria de estudar.
Laura retrucava dizendo que uma criança a faria adiar seus planos.
Irritada, falou-lhe que estava cansada de esperar uma decisão sua e que se ele não se decidisse logo, ela arrumaria suas coisas e iria embora sozinha.
Maximiliano argumentou que ela não poderia fazer isto.
Brigaram.
A noite, o moço pediu desculpas a jovem.
Dizendo que havia exagerado, prometeu que não iria insistir no assunto.
Disse que com o tempo ela sentiria necessidade de ter filhos.
Laura tentou argumentar, mas o moço pediu a ela que não lhe dissesse nada.
Maximiliano beijou a esposa.
Laura fez menção de recusar o carinho do rapaz, mas Max falou-lhe que não iria mais insistir no assunto. Tentando convencer a esposa a fazer as pazes, prometeu-lhe uma viagem.
Assim iriam pesquisar uma casa para morar.
Ao isto, o rosto de Laura se iluminou.
Pela primeira vez em muito tempo, a moça começou a acreditar que Maximiliano estava disposto a atender seu pedido.
Grata, Laura aceitou o pedido de desculpas do moço.
A garota abraçou o marido.
Beijaram-se.
Em dado momento, Maximiliano carregou a moça no colo.
Mais tarde, o moço levantou-se, tomou café da manhã ainda de madrugada. Saiu.
Laura providenciou-lhe uma marmita.
Max, lavava os cavalos, escova-lhes os pelos, cuidava das ferraduras, vacinava os animais. Entre outros serviços.
Feliz, o moço comentava que sua relação com a esposa estava boa.
Em dado momento, quando os colegas perguntaram quando chegariam os filhos, o moço respondeu que esperava tê-los em breve.
Zélia chegou a perguntar-lhe sobre isto.
O peão respondeu-lhe que os filhos chegariam no momento certo.
Olavo ao ver a mulher questionando o rapaz a este respeito, censurou-a.
Falou-lhe que filhos era uma questão de escolha, e não uma obrigação do casal.
Foi o suficiente para Zélia enervar-se.
Mas de fato, Max tinha a intenção de ter filhos.
Chegou a conversar sobre o tema por diversas vezes com os pais. Pedia conselhos para ambos. Queria convencer Laura a engravidar.
A moça porém, continuava reticente.
Cobrou-lhe a viagem.
Aborrecida com a indecisão do moço, certa vez foi abordada por Ludmila.
A fazendeira retornou por diversas vezes para a localidade.
Sem manter contato com Zélia, que acreditava que a mulher havia desistido de se encontrar a filha.
Para não chamar a atenção, procurava usar roupas simples, e um chapéu para cobrir o rosto.
Foi então que viu a jovem cuidando das roseiras que havia plantado na frente da residência.
Em dado momento, a moça chegou a se ferir.
Ludmila, ao vê-la tentando estancar o sangue, chamou-a.
Laura, ao ouvir alguém chamando seu nome, voltou-se para a frente da residência.
Curiosa, procurava saber de quem se tratava.
Olhando em todas as direções, finalmente percebeu uma mulher alta, com roupas de camponesa, aproximar-se.
Curiosa, Laura perguntou-lhe como sabia seu nome.
Ludmila falou-lhe que a conhecia há tempos, e que somente agora tivera a oportunidade de reencontrá-la.
Intrigada, a jovem perguntou de onde a conhecia.
A fazendeira respondeu-lhe que conhecera Zélia há muitos anos atrás, e que ao conviver com a mulher, tivera a oportunidade de conhecê-la.
Mencionou que de passagem pela região, descobrira o paradeiro da amiga, e resolveu procurá-la.
Rindo, comentou que não fora bem recebida pela mulher.
Mas argumentou que ficou muito feliz ao saber que a moça, filha de Zélia, estava muito bem casada.
Laura ao ouvir o relato da mulher, perguntou-lhe por que sua mãe não a receberia bem. Indagou se havia feito algo que a aborrecera no passado.
Constrangida, Ludmila respondeu que ambas haviam se desentendido, e que as arestas não foram devidamente aparadas. Triste, comentou que havia muita mágoa na relação de ambas.
Laura, não conseguia imaginar o que poderia ter ocorrido para que tal fato sucedesse.
Ludmila por sua vez, apresentou-se como Luzia.
Percebendo que a moça havia se ferido e que o sangue corria, comentou que o ferimento precisava ser limpado e depois, feito um curativo.
Aconselhou a jovem a lavar as mãos.
Após a providência, a mulher colocou um curativo no ferimento da moça.
Nisto, comentou que possuía uma filha na mesma faixa etária que a dela.
Argumentou que era uma moça tão linda quanto ela, mas que estava muito distante.
Ao perceber o olhar curioso da moça, perguntou-lhe se gostava de cuidar das flores.
Laura respondeu que gostava de flores, que se agradava com a idéia de ter um lar, mas que também gostaria de estudar. Comentou que concluíra os estudos normais e que sonhava com o dia em que poderia cursar uma faculdade.
Ludmila ficou perplexa ao ouvir as palavras da moça.
Curiosa, indagou o que a impedia de estudar.
Laura respondeu:
- Bom, aqui não é um lugar que se possa dizer de fácil acesso a uma faculdade. Para completar, meu marido não se decide a sair daqui. Eu estou aguardando uma posição dele. Max, gosta muito daqui, eu entendo que seja difícil abandonar tudo isto. Mas eu não nasci para ser uma simples camponesa. Eu quero aprender coisas novas, conhecer o mundo.
Rindo, indagou que ela não devia estar nem um pouco interessada em ouvir sua história.
Ludmila respondeu-lhe que poderia falar sobre o que quisesse.
Laura ofereceu então um café a mulher, que agradecida, recusou.
Esta por sua vez, mencionou que estava ficando tarde e precisava retornar ao lugar de onde viera. Comentou que conhecia o lugar e que ela não precisava acompanhá-la. Agradeceu a hospitalidade e afastou-se.
Nos dias que se seguiram, Ludmila resolveu fazer visitas a moça.
Com o tempo, descobriu que Laura havia se casado com Max, na tentativa de sair da fazenda.
Ludmila, ao ouvir as palavras da moça, ficou perplexa.
Percebeu tristeza no olhar da jovem.
Razão pela qual perguntou-lhe se amava o marido.
Laura desconversou dizendo que procurava viver bem ao lado de Max.
Zélia, ao descobrir que a filha estava a conversar com uma estranha, criticou-a.
A moça, impaciente, respondeu que há cerca de um ano, a única coisa com que se ocupava era em ser uma dona de casa.
Desde que voltara do colégio interno tivera que aprender a lavar, passar, cozinhar, engomar, costurar. Com os olhos cheios d’água, respondeu que se era pra viver daquela maneira, era melhor que não estudasse. Assim não teria a possibilidade de conhecer um mundo de possibilidades e agora não estaria frustrada por não poder usar o que aprendera, nem tampouco aprender coisas novas.
Chorando comentou que nos últimos tempos, só aprendera a viver uma vida sem sonhos, horizontes, ou esperança.
Contou que se casara acreditando que viveria uma vida com mais perspectivas com Max, mas que fora enganada por ele.
Nervosa, comentou que ele só pensava em ter filhos.
Ao ouvir isto, Zélia, criticou-a novamente.
Dizendo que em sendo casada, deveria atender o pedido do marido. Comentou que ela lhe devia obediência.
- Ah, não. Isto nunca! Ele que não espere isto de mim. – retrucou.
Nisto, a moça saiu correndo, em que pesem os gritos de Zélia chamando-a para entrar em casa.
Andando a pé, a moça caminhou em direção a um riacho.
Ao lá chegar, molhou o rosto e o pescoço.
Sentando-se a sua margem, começou a chorar.
Laura ficou um longo tempo a pensar em sua vida.
Recordou-se dos tempos em que viveu na cidade, onde estudou em um colégio interno.
Insatisfeita, ficava a pensar no porque de sua vida haver tomado aquele rumo.
Por que não podia fazer o que gostava? Por que teve que sua vida radicalmente modificada?
Angustiada, a jovem só pensava em sair dali.
Enquanto chorava, observava o movimento das águas.
Recordou-se das tardes em que passou pelo lugar, acompanhada de Max.
Enquanto pensava em sua vida, ficava com o olhar perdido.
Quando se acalmou, deu-se conta do adiantado da hora.
Percebeu que teria um longo estirão para caminhar.
Com isto, levantou-se.
Voltou os olhos para a paisagem ao redor.
Ludmila, ao tomar conhecimento pelos vizinhos do ocorrido, foi censurada.
Todos diziam que ela não devia atrapalhar o relacionamento entre mãe e filha.
A mulher porém, preocupada com o sumiço da moça, resolveu sair a sua procura.
Com um cavalo emprestado, a fazendeira foi encontrar Laura a beira do rio, preparando-se para voltar para casa.
Ludmila ao vê-la, perguntou-lhe se estava tudo bem.
A moça respondeu, meneando a cabeça afirmativamente.
Em dado momento, Laura começou a chorar.
Ludmila, diante de tal cena aproximou-se da jovem e a abraçou.
Conversou com ela.
Procurou dizer-lhe palavras de conforto.
Laura contou-lhe sobre o relacionamento com Maximiliano. Falou-lhe que não era feliz.
A fazendeira, ao ouvir as palavras tristes da moça, perguntou-lhe se sua insatisfação com o fato de não conseguir estudar, não estava interferindo na relação.
Nervosa, Laura respondeu que não.
Argumentou que não amava Max, e que pensava em desistir do casamento. Confessou que tinha a intenção de arrumar suas coisas e sair dali.
Ludmila por seu turno, comentou que ela não podia desfazer seu casamento de forma leviana.
Relatou que se ela não estava feliz com os rumos que a relação estava tomando, deveria conversar com ele.
Ao saber que o moço havia prometido a ela que iria arrumar dinheiro para que estudassem, a mulher pediu para que ela tivesse um pouco de paciência.
Laura impaciente, comentou que estava cansada de esperar.
Ludmila não sabia mais o que dizer.
Mencionando que precisava levá-la para casa, relatou que a levaria de volta a cavalo.
Com efeito, quando a moça apareceu em casa, acompanhada de Ludmila, Zélia - que estava aflita esperando -, ficou furiosa.
Nervosa, começou a gritar com Laura, dizendo-lhe que estava proibida de falar com estranhos.
A moça, ao ouvir isto, desconversou.
Falou que Luzia não era uma estranha.
Zélia por sua vez, retrucou dizendo que não queria saber.
A mulher não era da família, e portanto, não tinha o direito de privar da convivência deles.
Laura diante destas palavras, falou que Luzia era muito importante para ela, e que fora a única pessoa que se dispusera a ouvi-la.
Nervosa, disse que ninguém naquela família estava realmente preocupado com ela. Irritada, mencionou o fato de que não lhe fora dada a oportunidade de conhecer sua mãe biológica.
Aborrecida, relatou que se ela soubesse o que estava acontecendo, talvez se dispusesse a ajudá-la.
Ludmila, ao ouvir a conversa, percebeu que Laura sabia que não era filha biológica de Zélia.
Zélia desesperada, insistiu para que a filha não insistisse no assunto.
Laura contudo, insistia em falar no tema.
Zélia nervosa, em dado momento, deixou escapar que a mulher que ela tanto queria conhecer, já havia se apresentado, mas não fora digna o suficiente para dizer que era sua mãe.
A moça, ao ouvir estas palavras, questionou a mulher.
Zélia insistiu em dizer que Ludmila já havia aparecido.
Laura então, observando Luzia, perguntou a Zélia, se ela estava se referindo a mulher ali presente.
Zélia irritada, respondeu que seu nome era Ludmila.
A jovem, ao ouvir isto, ficou transtornada.
Ao perceber que fora enganada, lívida, resolveu se afastar de todos.
Zélia tentou segurar a moça, mas Laura pediu-lhe para que a soltasse.
Max e Olavo, ao notarem a confusão que se formara, tentaram em vão, acalmar os ânimos.
Atônito, Max descobriu que Laura não fora criada por sua família biológica.
Refletindo sobre o assunto, o moço percebeu que quem fornecera dinheiro para que a moça pudesse estudar em um colégio interno, boas roupas e uma condição melhor de vida, fora a mãe biológica.
Em conversa com o sogro, o moço percebeu que Ludmila nunca desamparara a filha materialmente.
Zélia sim, interrompera o contato com a mulher.
Olavo e Max por seu turno, tentaram conversar com a moça, que chorando, tentou sair de casa.
Max, segurando-a pelo braço, comentou que era muito tarde e que ela não sairia de casa naquele momento.
Laura tentou argumentar, mas ao perceber que todos impediam seu acesso a porta da sala, resolveu se recolher.
Trancou-se em seu quarto.
Ludmila tentou se explicar, mas Laura não estava em condições de ouvi-la.
Zélia, ao perceber isto, começou a discutir com a mulher, dizendo que ela estava tentando confundir sua filha.
Não fosse a intervenção de Olavo, e as mulheres teriam continuado a discussão.
Zélia culpava Ludmila pelo abandono de Laura.
Irritada, a mulher dizia que a moça tinha outro nome e que não a havia abandonado.
Argumentou que circunstâncias a obrigaram a agir daquela forma. Mencionou que seu marido fora perseguido pela ditadura e que temia represálias com a criança.
Zélia fez pouco caso da história.
Olavo, percebendo isto, criticou a conduta das mulheres. Disse que Laura estava sofrendo, confusa, e que elas não tinham o direito de confundir ainda mais a cabeça da garota, criando mais confusão.
Ludmila, percebendo isto, pediu desculpas.
Disse que não insistiria mais em tentar conversar com a moça. Não naquele momento.
Com isto, pediu desculpas pelo transtorno, prometendo voltar para conversar com a moça.
Nisto, voltou para o hotel onde estava hospedada.
Chorando, ligou para o marido, avisando que estava bem, e que Laura já estava sabendo de tudo.
Cumpre destacar que, quando a mulher entregou a filha para outra família criar, Emerson foi contra isto.
Ludmila porém, dizendo que precisava garantir a segurança de Odara, relatou que sentia que a criança corria perigo. Argumentava que ela poderia ser seqüestrada, ou coisa pior.
Emerson ao ouvir estas palavras, percebendo o terror da fazendeira, tinha ganas de investir contra o delegado.
Rosa e Jurema por sua vez, aconselhavam o homem a ter calma. Argumentavam que Ludmila não precisava suportar outra perda. Disseram que ela precisava de apoio, que estava fragilizada e que desta forma, era alvo fácil para as artimanhas do delegado.
Emerson, ciente de que o desaparecimento de Lúcio causara profundas marcas em Ludmila, continuava a procurar explicações para que o havia acontecido.
Periodicamente, visitava o escritório de um detetive particular.
Anos e anos, e as investigações pouco avançaram.
Em segredo, tentava descobrir o paradeiro do corpo e ter acesso aos arquivos da ditadura.
Sério leitor de jornal, acompanhou a abertura política.
Contudo, aconselhado por advogados, o homem aguardou o momento certo para oficiar ao governo.
Determinado, solicitou ter acesso a todos os documentos relacionados a prisão de Lúcio.
Solicitação, que ficou longo tempo sem resposta.
Com isto, a mulher deitou-se na cama do hotel, colocando o rosto no travesseiro.
Após o casamento com Emerson, Ludmila engravidou do primeiro filho, e os demais, vieram em sequência.
No momento do desespero, a mulher lembrou-se que Laura era quase quatro anos mais velha que seu filho mais moço.
Nisto, a mulher dirigiu-se novamente até a fazenda para conversar com Zélia.
Enfrentando-a, Ludmila ameaçou fazer um escândalo se ela não a recebesse.
Comentou que Odara saberia detalhes de sua origem, os quais ela não havia contado para a moça.
Nervosa e irritada, Zélia insistiu para que a fazendeira se afastasse.
Argumentou que sua presença só trazia transtornos, e que Laura estava atordoada demais com toda aquela história.
Zélia comentou ainda, que Laura não poderia vê-la ali rondando a vida de todos, ou as coisas poderiam ficar piores do que já estavam.
Nisto, a fazendeira perguntou como a moça estava.
Zélia mencionou que Laura ainda estava trancada em seu quarto, chorando, e que não queria falar com ninguém.
De fato, a moça estava confusa.
O próprio Max insistiu para que ela abrisse a porta, sem sucesso.
Com isto, o pobre moço teve que se ajeitar no sofá da sala.
Laura por sua vez, a todo o momento se recordava das palavras das mulheres, e de tudo o que havia acontecido.
Recordou-se de tudo o que Zélia dissera a respeito da fazendeira. Lembrou-se de que ela dissera que a mulher não estava interessada em conhecê-la.
Revoltada, percebeu que a história não era totalmente verdadeira.
Afinal de contas, se a referida mulher, se dera ao trabalho de conhecê-la, mesmo usando uma falsa identidade, as afirmações de sua mãe adotiva não eram verídicas. Ao constatar isto, ficou revoltada. Percebeu que não conhecia nem um pouco de sua história.
Diante disto, planejou sair da fazenda sem que ninguém percebesse.
Razão pela qual pegou uma mala, arrumou seus pertences e escondeu-os.
Com isto, quando Max pediu a moça para abrir a porta para ele entrar, Laura já havia pego uma muda de roupas para ele.
Maximiliano tentava entrar no quarto, com a desculpa de que precisava se arrumar para trabalhar.
Bateu insistentemente na porta. Desistiu.
Laura por sua vez, ao perceber que o moço parara de bater na porta, aguardou um pouco, e silenciosamente abriu a porta e colocou as roupas no chão.
Em seguida, trancou novamente a porta.
Mais tarde, ao perceber que o moço havia partido para o trabalho, abriu a porta do quarto, saiu e trancou-a novamente.
Atenta, ao dirigir-se a cozinha, percebeu que o moço havia preparado a própria marmita.
Com efeito, antes de ir para o trabalho, Maximiliano, passou na casa dos pais da moça e comentou que Laura permanecia trancada no quarto.
Insistiu para que Zélia tentasse falar com a filha.
A camponesa prometeu que assim o faria.
Laura por sua vez, ao perceber que a casa estava vazia, aproveitou a escuridão da madrugada para pegar sua mala e cair no mundo.
Com isto, caminhou a pé pela fazenda, segurando a pesada mala.
Por fim, pegou um cavalo e realizou o restante do trajeto até a cidade, cavalgando.
Ao lá chegar, dirigiu-se ao único hotel da cidade.
Na recepção, a moça pediu para conversar com Ludmila. Anunciou-se como Laura, filha de Zélia.
A fazendeira, ao ouvir o nome Laura, autorizou sua subida.
Com isto, a recepcionista do hotel informou-lhe o número do quarto e o andar em que Ludmila estava. Indicou-lhe o elevador e a direção do quarto.
Quando a campainha do quarto tocou, a fazendeira tratou logo de atender.
Laura estava diante dela, segurando uma mala.
Ludmila ao vê-la, não percebeu que a moça trazia uma mala, e sorriu.
Seca, Laura exigiu-lhe explicações para o fato de havê-la abandonado, e por que somente agora a havia procurado. Enfim, o porquê do interesse em conhecê-la.
Ludmila, explicou-lhe que deixara Zélia e Olavo criá-la, em virtude da necessidade de tê-la em segurança.
Laura então, exigiu-lhe que explicasse a alegação.
A mulher por sua vez, disse que precisariam de mais tempo para conversarem.
Laura insistiu para que ela não se detivesse em delongas.
Argumentou que estava com pressa.
A fazendeira então, percebendo a impaciência da moça, relatou que era uma história que precisava ser contada com calma.
Ao ouvir estas palavras, a moça pensou que a mulher estivesse tentando ganhar tempo.
Ludmila explicou-lhe que fora ameaçada por um delegado, e que temia por sua segurança. Mencionou que o homem a vinha assediando, e que Lúcio, seu pai, fora morto por ele.
A fazendeira contou-lhe que o moço fora preso por engano.
Laura considerou a história fantasiosa.
Irritada, comentou que não estava atrás de desculpas e sim de esclarecimentos. Relatou que sua história não explicava muita coisa.
Ludmila por sua vez, tentou explicar novamente as razões por havê-la afastado de seu convívio. Mencionou que sofreu muito com a separação, mas acreditou estar fazendo o melhor para ela, garantindo sua segurança.
Com os olhos cheios d’água, argumentou que não suportaria outra perda.
Laura contudo, não se comoveu nem um pouco. Aborrecida, mencionou que havia perdido seu tempo.
Com isto, levantou-se e, segurando sua pesada mala, pediu licença.
Ludmila então, ao ver a moça segurando uma mala, perguntou-lhe o que pretendia fazer.
Laura, respondeu que iria fazer uma pequena viagem, e que assim que pudesse, voltaria.
A fazendeira pode perceber nos olhos da moça que sua vontade era sumir dali e não mais voltar.
Razão pela qual tentou retê-la.
Sem sucesso.
Irritada, Laura saiu do hotel.
Fez montaria no cavalo, amarrou a mala e saiu a galopar.
Ao chegar na rodoviária, comprou uma passagem para a capital e dirigiu-se a plataforma de embarque.
Quando o ônibus chegou, a moça entrou no veículo.
Ganhou o mundo.
Ludmila atônita, ao perguntar aos funcionários do hotel se a moça viera acompanhada, ouviu o relato de que ela estava a cavalo, que trazia uma mala consigo, e que estava desacompanhada.
Nervosa e surpresa com o rumo que a situação havia tomado, Ludmila constatou que a moça pretendia sair da cidade, mas iria para onde?
Aflita, a mulher se encaminhou para a rodoviária da cidade, mas ao lá chegar, Laura não estava mais lá. O ônibus em que seguiria viagem, já havia partido.
Ludmila, receosa de que a moça tivesse obtido êxito em seu intento, perguntou em todos os guichês, se haviam visto uma moça jovem, de cabelos compridos, segurando uma mala pesada, elegantemente vestida, partir.
Em um dos guichês, ao dizer o nome da moça, descobriu que Laura havia comprado uma passagem para a capital e que havia viajado para lá.
Ao ouvir estas palavras seu coração gelou.
Aflita, a mulher dirigiu-se novamente a fazenda.
Ao lá chegar, encontrou uma Zélia desesperada que a acusou de acobertar o sumiço de Laura.
A esta altura, todos já haviam dado pela falta da moça.
Maximiliano, ao perceber que a porta do quarto estava trancada, chamou pela esposa.
Como não obteve resposta, ameaçou arrombar a porta.
Nervoso, encaminhou-se para a sala. Ao sentar-se no sofá, percebeu a chave jogada.
Diante disto, o moço foi correndo abrir a porta do quarto.
Ao entrar no ambiente, vasculhou o pequeno armário que havia no quarto, e percebeu que Laura havia levado todos os seus pertences consigo.
Aflito, vasculhou a casa, perguntou pela vizinhança onde a moça estava, sem resposta.
Zélia por sua vez, havia feito o mesmo ritual horas antes.
A tempos, estava desesperada procurando a filha.
Olavo também procurava pela filha, assim como Antonio e Vicente.
Mas nada de encontrarem a moça.
Desta forma, quando Ludmila informou que Laura havia conversado com ela horas antes e que havia partido de ônibus para a capital, foi acusada de cumplicidade.
A fazendeira comentou que Laura havia partido, magoada com ela.
Maximiliano, ao ouvir a palavra capital, ficou arrasado.
Comentou que se tivesse atendido o desejo da mulher de se mudar para a capital, isto não estaria acontecendo. Nervoso, contou que a capital do estado era imensa, e que encontrar alguém ali, era encontrar uma agulha no palheiro.
Zélia por sua vez, insistiu em viajar até a capital, acionar a polícia e tentar localizá-la.
Ludmila ao perceber que o desespero era comum a todos, prometeu se encarregar disto.
Laura por sua vez, ao chegar na cidade, se dirigiu ao ponto de táxi.
Lá, perguntou onde havia uma pensão a preço razoável.
A moça foi informada então, de alguns endereços.
Cautelosa, perguntou se não se tratavam de locais de prostituição.
O homem respondeu-lhe que não.
Laura insistiu em dizer-lhe que pretendia ficar em um local seguro.
O taxista perguntou-lhe então, se gostaria de ir de táxi até o local.
Laura respondeu-lhe que não.
Caminhou mais um pouco, e ao chegar em um ponto de ônibus, perguntou como fazia para chegar em um dos endereços que o taxista havia lhe informado.
As pessoas então lhe explicaram qual o ônibus que deveria tomar.
A moça agradeceu.
E assim, de ônibus, a moça chegou até a rua onde estavam algumas das pensões que o homem lhe havia indicado.
Auxiliada por um passageiro que lhe indicou a parada, a moça desceu do ônibus.
Encaminhou-se até a rua.
No ônibus, um passageiro explicou-lhe como fazer para chegar ao endereço.
Ao chegar na pensão, a moça preencheu uma ficha.
A dona do estabelecimento, indicou-lhe um quarto.
Laura então acomodou-se.
Colocou sua mala no chão.
Estava exausta.
Tirou os sapatos e deitou-se na cama.
Dormiu com a roupa que trazia no corpo.
No dia seguinte, faminta, tomou o café da manhã da pensão, e perguntou onde havia uma banca de jornal.
Com isto, comprou um jornal e lendo a seção de classificados, passou a procurar ofertas de trabalho.
Precisava arrumar um emprego, se tinha pretensão de ficar na cidade.
Desta forma, ao verificar os classificados, percebeu algumas vagas para as quais poderia se inscrever.
Animada, perguntou aqui e ali onde ficavam alguns dos endereços informados e preparou-se para algumas entrevistas de emprego.
Ao chegar em alguns dos lugares, preencheu fichas, sendo entrevistada em dois locais.
Cansada, retornou a pensão no fim do dia.
Havia comido um pão, tomado café com leite, e comprado algumas frutas.
Estava faminta.
No jantar, devorou a comida oferecida.
Nesta ocasião, foi apresentada a alguns hóspedes da pensão.
Em conversa, perguntou a eles se sabiam de ofertas de trabalho para alguém que havia completado o colegial. Comentou que tinha a pretensão de se especializar, mas que para tanto, precisava encontrar um emprego.
Auxiliada pelos demais hóspedes, a moça não tardou a arrumar trabalho.
Seu primeiro emprego foi de recepcionista em uma clínica odontológica.
Lá, aprendeu a ter paciência com clientes apressados e nervosos, a agendar consultas.
Com este dinheiro, pagou sua estada na pensão.
Aconselhada por um hóspede, a moça conseguiu realizar um curso técnico de secretariado, gratuitamente.
Laura precisava se qualificar, e não tinha condições financeiras de arcar com os custos de um curso pago.
Razão pela qual, a moça agradeceu a dica.
Tempos iniciais de grandes dificuldades.
Laura, para economizar dinheiro, chegava a deixar de almoçar, para comprar frutas e pão.
Esta era sua refeição.
Chegava na pensão, sempre com muita fome.
Isaura, a dona da pensão, percebeu isto.
Laura então contou-lhe que havia se mudado para a cidade para melhorar sua vida.
Comentou de sua vida no campo, dos tempos em que estudou em um colégio interno.
Surpresa, a mulher perguntou se isto ainda existia.
Rindo, Laura comentou que havia ainda uns poucos remanescentes por aí.
Isaura não compreendeu as palavras da moça.
Com isto, Laura explicou-lhe que existiam alguns colégios internos ainda.
Isaura, já uma senhora de meia idade, simpatizou com a moça.
Percebeu que se tratava de uma jovem determinada e esforçada.
Desta forma, sempre que ouvia falar de uma boa oferta de trabalho, indicava o nome da moça e lhe informava o endereço.
Com o tempo, a jovem passou a trabalhar como secretária.
Atendia telefonemas, agendava reuniões, recepcionava visitas.
Cuidava da agendava de um micro empresário.
Neste período, se inscreveu em um curso de inglês.
Continuava a morar na pensão.
Ludmila por sua vez, procurou a jovem na cidade.
Mas com o tempo, sem conseguir localizá-la, a buscas diminuíram.
Os policiais lhe diziam que ela era maior de idade, e que se ela não quisesse ser localizada, não haveria possibilidade de encontrá-la.
A cada ano que a fazendeira e a família da moça ficavam sem notícias, mais o desespero tomava conta do coração de todos.
A esta altura, Antonio e Vicente já haviam se casado.
Henrique, Carlos e André estavam cursando faculdade.
Maximiliano por sua vez, chegou a namorar uma moça, mas a jovem, percebendo que ele não estava disposto a se separar de Laura, decidiu se casar com outro rapaz.
Rosália e Antunes por seu turno, ficaram desapontados com a atitude de Laura.
Criticavam a moça. Diziam que ela havia abandonado seu filho.
Zélia por sua vez, ao tomar conhecimento dos comentários, ficou inconformada.
Dizia que Laura não havia abandonado ninguém, e que se ele tivesse atendido seus apelos, poderiam estar juntos até hoje. Crédula, nutria a esperança de que a moça voltaria.
Max também tinha esperança de que Laura voltaria.
A esta altura, Laura trabalhava em uma multinacional.
Havia se tornado secretária bilíngüe.
Já havia cursado uma faculdade.
Enfim, realizava um sonho por tantas vezes adiado.
Isaura – a dona da pensão –, acompanhou de perto a luta da moça.
Compete esclarecer que, Laura a esta altura já havia economizado uma boa quantia.
Sempre atenta a uma boa oportunidade de investimento, aplicava uma pequena parcela do dinheiro economizado na bolsa de valores.
Nesta época, estava financiando um imóvel próprio.
Em pouco tempo teria uma casa para morar.
Isaura, ao perceber isto, comentou pesarosa que estava perdendo sua filha mais querida.
Por diversas vezes, a mulher chegou a comentar que seus filhos a haviam abandonado, e que ela era mais presente em sua vida, do que sua prole.
Laura, agradecida por anos de convivência e ajuda, comentou que jamais a abandonaria.
Prometeu a ela que assim que reunisse condições, a chamaria para morar com ela.
Com isto, a moça comentou com ar de surpresa, que tinha outros projetos em mente.
Isaura por sua vez disse, que ela a cabeça dela era muito boa e que sabia ganhar dinheiro.
Em consultas técnicas a um órgão de assessoria, a moça descobriu que poderia investir parte do dinheiro ganho com aplicações e economia.
Diligente, já havia quitado o imóvel que financiara. Era um apartamento simples.
Com isto, investigou boa parte do dinheiro guardado, em um negócio.
Laura iria abrir um restaurante.
Com isto, cerca de dois anos após sair da pensão, convidou Isaura para ser sua sócia.
Argumentando que a mulher era uma ótima cozinheira, relatou que ela poderia auxiliar os cozinheiros que iria contratar.
Trabalhando com secretária, havia aprendido a organizar agendas e até a organizar pequenos eventos.
Isaura, ao receber a proposta, argumentou que não poderia abandonar a pensão.
Ao ouvir isto, Laura disse-lhe que poderia deixar Ivete cuidando de tudo. Argumentou que se tratava de pessoa de confiança.
Isaura concordou.
Com isto, passou a ser o braço direito de Laura em seu restaurante.
Para tanto, a moça realizou cursos para administrar o negócio, para montá-lo, para incrementá-lo.
Fez até um curso de gastronomia juntamente com Isaura e outros funcionários do restaurante.
E o negócio prosperou.
De restaurante de comida caseira, a moça se especializou na elaboração de pratos sofisticados.
Mas a comida caseira nunca foi abandonada.
Com o tempo, foram abertas novas unidades.
Mais tarde, a moça investiu também no ramo de confecções.
Sempre respaldada por uma assessoria.
Laura se tornou uma importante empresária da região.
Maximiliano a certa altura, cansado de ser apontado como o marido abandonado, e de ser instado a todo o momento a desfazer seu casamento com Laura, resolveu se mudar da fazenda.
Com isto, arrumou suas coisas e partiu.
Rumou para a capital.
Para desespero de Rosália e de Antunes, não voltou mais a fazenda.
Ao lá chegar, se hospedou em uma pensãozinha.
Arrumou trabalho como continuo, ou office-boy.
Mais tarde, trabalhou em um escritório de contabilidade.
Fez curso técnico na área, e com o tempo passou a trabalhar em um escritório maior.
Conforme o tempo foi passando, o moço foi perdendo as esperanças de encontrar novamente Laura.
Mais tarde, o jovem comprou um imóvel.
Mas um revés complicou sua vida.
Isto porque, ao ser dispensado do escritório, o moço permaneceu um longo tempo sem trabalho.
Razão pela qual aceitou trabalhar como motorista em uma residência.
Aflito, foi criticado pelos amigos ao tomar tal decisão.
Para rebater as críticas, o moço respondeu que precisava pagar suas contas e que tinha um imóvel financiado. Argumentou que o salário era bom, e que não via demérito na função.
Maximiliano não conseguia compreender o por quê dos questionamentos.
Ora, não estava precisando de trabalho? O salário não era bom? Então por que não aceitar a oferta?
Afinal, dizia que seria apenas por algum tempo, e que assim que conseguisse uma oportunidade melhor, pediria demissão.
Desta forma, ao ver o anúncio, se encaminhou até o endereço indicado.
Lá, passou por uma entrevista com a governanta da mansão, que lhe indagou sobre sua experiência.
Honesto, o rapaz respondeu que se formara em um curso técnico de contabilidade, profissão que exerceu durante quase todo o tempo em que viveu na cidade. Nisto, comentou que também já trabalhara como contínuo, que já dirigira carro e jipe quando trabalhara em uma fazenda, e que dirigir, sabia sim.
A governanta ao ouvir isto, pediu ao moço, que providenciasse: atestado de bons antecedentes e carta de referência do escritório em que trabalhara.
Maximiliano prometeu providenciar.
Em seguida Leonilde, perguntou-lhe se não gostaria de fazer um teste.
O tal teste consistiria em dirigir o carro da família, pelas principais avenidas da cidade.
Maximiliano concordou. Perguntou apenas, se não seria inconveniente ele dirigir o carro da família, já que não era empregado.
Leonilde lhe respondera que não.
Com isto, conduziu o moço até a garagem.
Maximiliano, de posse das chaves do veículo, abriu a porta para a mulher, e em seguida, entrou no carro.
Ligou o veículo e orientado pela governanta, saiu da garagem.
Leonilde, conversou com o rapaz.
Maximiliano, ao ouvir as indicações da mulher, perguntou-lhe se não gostaria de chegar na avenida, por um caminho melhor.
A governanta perguntou-lhe se conhecia outros caminhos.
O jovem respondeu-lhe que quando fora contínuo, precisou descobrir caminhos alternativos, ou não conseguiria dar conta de tanto trabalho.
Ao perceber o ar de curiosidade da mulher, Max comentou que também andou muito de ônibus e caminhou muito a pé, pelas ruas da cidade.
Simpático, comentou que de ônibus, procurava observar os caminhos que o coletivo fazia, as avenidas por onde passava.
Rindo, comentou que no começo, passou muito sufoco, pois não conhecia a cidade. Relatou que chegou a quase se perder algumas vezes.
Leonilde comentou então, que agora ele estava craque em driblar caminhos complicados.
Isto por que o moço saiu de uma via congestionada, vindo a cair em ruas de pouco movimento, até chegar na avenida. Lá o movimento era intenso.
Maximiliano ao perceber o trânsito, comentou que sua tentativa de fazer um trajeto rápido, fora vã.
Leonilde discordou.
Comentou que ele encurtara assim, alguns minutos do trajeto, mas que o trânsito da capital era caótico, não havia o que se fazer quanto a isto.
Neste ponto, Maximiliano discordou. Argumentou que precisavam ser feitas mais vias, e que o trânsito de uma cidade daquele porte não deveria se concentrar em poucas avenidas. Deveria haver outras rotas para quem vinha de outros pontos da cidade. Não deviam todos passarem pelo mesmo lugar. Ressaltou.
A governanta concordou. Confidenciou que ele era um sério candidato a ficar com a vaga. Acrescentou apenas, que ele providenciasse a documentação necessária, pois era quase certo que seria contratado.
Nisto, o moço continuou o trajeto determinado pela mulher.
Quando retornavam a residência, a mulher solicitou que parasse em frente um supermercado.
Argumentou que precisava comprar algumas coisas para a casa.
Maximilianto então, estacionou o veículo.
A seguir, desceu do carro e abriu a porta para a mulher, que agradeceu a gentileza.
Leonilde então, comprou alguns legumes, cereais e bebidas.
Antes porém, de adentrar o estabelecimento, o moço perguntou-lhe se não gostaria que a acompanhasse para auxiliar nas compras.
Sorrindo, a mulher agradeceu.
Comentou que caso fosse contratado, teria muito tempo para fazê-lo.
Não obstante este fato, ao chegar no caixa, a mulher percebeu que o moço a aguardava.
Ajudou-a a empacotar as compras e auxiliou-a a levar as sacolas para o carro.
As mesmas foram acondicionadas no porta-malas do veículo.
A mulher por sua vez, agradeceu o rapaz.
Elogiou-lhe a iniciativa.
Depois, a mulher parou em uma padaria, onde comprou pães de variadas qualidades.
Maximiliano, ao adentrar as dependências do estabelecimento, ficou impressionado com o requinte do lugar.
Mesinhas e prateleiras charmosas, compunham o ambiente.
Leonilde, ao notar o deslumbramento do moço, perguntou-lhe o que achara do ambiente.
Maximiliano comentou que parecia haver entrado em outro mundo.
A governanta achou graça no comentário.
Disse que com o tempo ele iria se acostumar.
Após, retornaram para casa.
Ao adentrarem a residência, Leonilde agendou um prazo para o moço providenciar a documentação.
Maximiliano respondeu-lhe que ao sair dali, já verificaria em quanto tempo o atestado de antecedentes ficaria pronto.
Leonilde ofereceu-lhe um café.
Maximiliano agradeceu o oferecimento.
Em seguida, comentou que gostou do ambiente da casa.
A esta altura, já havia sido apresentado aos demais empregados da casa, entre eles, Erotildes, a cozinheira.
Erotildes animada, puxou papo com o moço.
Ao final de meia-hora, já estavam quase íntimos.
Por fim, o moço se despediu.
No caminho, parou em frente a uma delegacia, onde perguntou quais os documentos necessários para solicitar um atestado de antecedentes.
O escrivão, mal humorado indagou-lhe o por quê da necessidade de tal documento.
Maximiliano explicou-lhe que precisava apresentá-lo em seu novo emprego.
Diante da explicação, o homem disse-lhe que precisaria apresentar os documentos pessoais, assinar um documento, e que dentro de alguns dias, o atestado sairia.
Ao ouvir a palavra dias, o moço perguntou se poderia buscar o atestado nas primeiras horas de funcionamento da delegacia.
O funcionário respondeu que sim.
Irônico, comentou que ele estava com pressa de trabalhar.
Maximiliano comentou que tinham muitas contas para pagar.
Com efeito, no dia agendado, o moço compareceu logo cedo na delegacia para buscar o documento.
Já havia providenciado xérox autenticada de seus documentos pessoais, e a recomendação do escritório de contabilidade onde trabalhara.
Tirou xérox de sua carteira de trabalho.
Com efeito, ao se apresentar novamente na residência, o moço foi recepcionado pelo segurança da casa.
O homem o encaminhou até a entrada de serviço.
Lá, foi recebido por Leonilde.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
sexta-feira, 2 de abril de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 14
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 13
Mais tarde, conforme o combinado, o rapaz dirigiu-se a casa de Zélia e Olavo onde formalizou o pedido.
Os pais dos jovens ficaram muito contentes.
Rosália e Antunes, estavam felizes.
Indiscretos, comentaram que não agüentavam mais ver o moço amuado, tristonho pelos cantos.
Maximiliano, constrangido, comentou que eles não precisavam exagerar.
Antonio e Vicente caíram na risada.
Com isto, cerca de dois meses após o pedido, o casal, após freqüentar o curso de noivos na igreja da cidadezinha, casou-se.
Era setembro.
Laura usava um vestido branco, confeccionado por sua mãe.
Zélia, feliz com o enlace, fez questão de confeccionar o vestido com suas próprias mãos.
Passou noites inteiras a costurar em sua máquina de costura de metal, herança de sua mãe.
Olavo ficava comovido com a dedicação da mulher a filha.
Conforme o vestido ia tomando forma, Laura fazia as provas da peça.
Cada vez que a moça colocava o traje, Zélia dizia que o vestido estava mais lindo.
Laura também gostava do que via.
Elogiava o trabalho da mãe.
Zélia por sua vez, dizia que ela seria a noiva mais bonita que já havia entrado naquela igreja.
Laura se observava em um espelho.
Quando o vestido ficou pronto, a moça começou a pensar em que penteado para faria.
Zélia sugeriu que ela prendesse os cabelos e os cobrisse com um véu.
Feliz, comentou que nos contos de fadas, era assim que as princesas se casavam. Com um longo véu cobrindo todo o rosto.
Laura por sua vez, retrucou dizendo que não era uma princesa e que não pretendia usar véu.
Zélia, ao ouvir as palavras da filha, ficou decepcionada.
Triste, comentou que só gostaria de ajudar.
Olavo, que passava pelo corredor, ao ouvir o lamento da esposa, pediu a filha que não contrariasse a mãe. Argumentou que as mães estavam sempre certas e um véu cairia muito bem em um vestido bonito como aquele.
Laura retrucou dizendo que pretendia usar uma coroa com flores para enfeitar os cabelos.
Zélia, ao ouvir isto, disse que o véu poderia ficar a enfeitar os seus cabelos.
Poderia usar um véu cobrindo suas costas e arrastando no chão. Tentando convencer a filha, mencionou que ela poderia ficar com o rosto livre, mas que não havia necessidade de abandonar o véu.
Olavo, tentando ajudar a esposa, argumentou que se tratava de uma proposta razoável.
Laura prometeu pensar.
Zélia por sua vez, resolveu mostrar a filha fotos de mulheres que se casaram com véu.
Queria por que queria, convencer a moça.
Com o tempo, acabou vencendo a jovem pelo cansaço.
Laura por sua vez, chegou a comentar que a mãe era terrível. Que não se dava por vencida, e que quando cismava com alguma coisa, não fazia por menos. Insistia com aquilo, até convencer a pessoa a fazer o que ela queria.
Desta forma, Laura casou-se usando um bonito véu de rendas, que cobria o dorso e se arrastava pelo chão.
Olavo, ao ver a filha com o véu, o vestido que deixava parte dos ombros a mostra, o rosto delicadamente maquiado, a coroa de flores, o véu, e o buquê de flores artificiais - comprado na cidade -, ficou encantado.
Disse a Laura que ela estava muito bela.
A moça sorriu para ele.
Vicente e Antonio, usavam ternos e Olavo estava impecavelmente trajado.
Zélia usava um bonito vestido de festa, consertado para a ocasião.
Olavo elogiou a elegância da mulher.
Para a ocasião, a família enfeitou a charrete.
Zélia pediu ao marido e aos filhos que a cobrisse com muitas flores.
Fazendo surpresa com a moça, só lhe mostraram a charrete, no dia do casamento.
A moça ao ver a condução toda enfeitada, ficou encantada.
Feliz, chegou a dizer que parecia uma carruagem.
Zélia completou dizendo que aquilo parecia uma condução digna de uma princesa. Princesa como sua filha o era.
Laura disse que estava tudo muito lindo, que parecia de fato estar vivendo um conto de fadas.
Nisto, Vicente e Olavo ajudaram a moça a subir na charrete.
Antonio também elogiou-a.
Brincalhão, chegou a dizer que o talhe, o garbo e a elegância da moça, suplantava a beleza de todas as noivas que já passaram por ali.
Ao ouvir estas palavras, Laura caiu na risada.
Perguntou de onde ele havia tirado aquelas palavras.
Antonio respondeu dizendo que ela não era a única pessoa letrada que havia naquela casa.
Com isto, todos riram.
Olavo então, conduziu o cavalo.
Encaminharam-se para a igreja.
Maximiliano chegou a cavalo.
Rosália e Antunes chegaram antes, de charrete.
Também usavam trajes sociais.
Quase todos os trabalhadores da fazenda compareceram ao casamento.
Durante a troca de alianças, Maximiliano prometeu ser-lhe fiel na alegria, na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separasse. Prometeu também, que faria de cada dia de sua existência, o momento mais especial de suas vidas.
Laura por sua vez, repetiu as palavras sacramentais.
Casaram-se.
Na saída da igreja, o casal de noivos foi cumprimentado por todos.
Todos elogiavam a beleza do vestido da jovem.
Seguindo para o salão paroquial, todos dançaram, comemoraram a união.
A festa teve bolo, comes e bebes.
O casal dançou juntos.
Ao final da festa, a moça atirou o buquê para as convidadas.
Por dias, todos ficaram a comentar sobre a festa de casamento.
Laura e Maximiliano dirigiram-se a uma casa simples.
A residência onde passariam a morar.
Dias antes, Rosália e Zélia se esmeraram em uma bela faxina para deixar a casa habitável.
Tratava-se de uma velha casa de colonos, há muito abandonada e agora cedida pelo dono da fazenda, para o casal.
Laura, ao ver o lugar, comentou que ele precisaria de uma boa arrumação.
Animada Zélia comentou que aos poucos, poderiam arrumar a casa, fazer uma plantação nos fundos, e na frente da casa, plantar algumas plantas.
Foi nesta casa, que o casal se abrigou após o casamento.
Exaustos, após a festa, trocaram de roupa e dormiram.
No dia seguinte, seguiriam para a capital.
Ansiosa, Laura já estava de malas prontas há várias semanas.
Maximiliano também pensava na viagem.
Com efeito, quando Ludmila finalmente se decidiu a encontrar a filha, viajou até a região onde estavam a viver Zélia e Olavo.
Perguntando para um e outro morador, a mulher descobriu para que lados ficava a fazenda onde o casal vivia com a moça.
Descobriu que o casal tivera dois filhos, e que Laura havia se casado.
Ludmila, ao saber da novidade, ficou surpresa.
Nisto olhou para o marido.
Emerson comentou que Laura devia ser uma moça.
Ludmila argumentou que imaginou que a jovem ainda fosse solteira.
Com isto, ao chegarem na fazenda, ao descobrirem onde o casal morava, perceberam que se tratava de uma casa simples.
Zélia ao ver a fazendeira se aproximando, ficou lívida.
Ao notar que o encontro seria inevitável, tentou dificultar-lhe o acesso.
Emerson contudo, mais forte, segurou a porta da sala.
Disse-lhe, que tinham muito o que conversar.
Zélia argumentou que não tinham nada a dizer, ainda tentando inutilmente dificultar a entrada.
Olavo, ao perceber isto, falou a mulher para que parasse de segurar a porta.
Zélia atendeu.
Ludmila e Emerson adentraram a residência.
Zélia nervosa, perguntou o que eles faziam ali. Comentou que a moça poderia desconfiar.
Ludmila retrucou perguntando sobre o porquê de não haverem mais mantido contato.
Zélia respondeu que Laura havia se casado, não residindo mais na fazenda.
Ludmila, ao ouvir estas palavras, levou um choque.
Procurando se recompor, perguntou onde vivia a moça atualmente.
Zélia respondeu-lhe que a moça e seu marido, estavam vivendo em outras terras. Viviam em outra fazenda.
Nisto a fazendeira repetiu a pergunta.
Zélia retrucou dizendo que não estava autorizada a dizer.
A fazendeira insistiu. Falou-lhe que se ela não dissesse onde estavam, sairia perguntando aos moradores do lugar, até descobrir uma pista de onde estavam.
Zélia, ao ouvir a ameaça, respondeu que eles estavam viajando, e demorariam para voltar.
Ludmila respondeu que esperaria.
De fato, o casal partira para uma pequena viagem.
Rosália e Antunes presentearam o casal com uma pequena quantia.
Disseram para que usassem o dinheiro para uma viagem.
Laura resolveu então, mostrar um pouco da cidade onde vivera alguns anos, para o moço.
Maximiliano aprovou a escolha da moça, mas argumentou que ele precisava primeiramente resolver algumas questões, para depois poderem viver na cidade.
Laura respondia-lhe que gostaria de mostrar a cidade. Argumentava que ele iria gostar do lugar.
Com efeito, Max se impressionou com a pujança da capital. Assustou-se com a multidão a circular pelo lugar.
Laura dizia-lhe que com o tempo iria se acostumar.
Com isto, passearam pelo centro da cidade.
Maximiliano impressionou-se com o tamanho dos prédios, sua altura.
Juntos iam ao cinema, jantavam.
Conversavam animados.
Nestas conversas, a moça comentou que quando podia, aproveitava para passear pela cidade.
Acompanhada de amigas e pessoas de confiança, conhecera muitos pontos famosos do lugar.
Durante a noite, o casal aproveitava para caminhar pela cidade.
Max aproveitou o ambiente para oferecer-lhe uma flor.
De mãos dadas caminharam até o hotel.
A sós, o moço carregou a esposa no colo até o quarto.
Não sob protestos da moça, que argumentava que alguém poderia ver.
Maximiliano não se importava.
Conduziu a moça até o quarto.
Lá, começou a beijá-la e a despi-la.
Laura reagiu.
Max, percebendo que a moça resistia, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Sem jeito, a moça respondeu que sim.
O moço, segurando o rosto da moça, segurou-a novamente nos braços, deitou-a na cama.
Falando-lhe no ouvido, disse que estava tudo bem, e que aquela era uma noite muito especial para ele.
Brincando disse que ela esclarecida o suficiente para saber que o estava acontecendo, mudaria a vida deles para sempre.
Com isto, o moço amou a jovem.
Laura contudo, não se sentia muito a vontade nestes momentos.
Após o casamento, a moça colocou uma camisola, e depois de vestida, chamou o marido para entrar no quarto.
Ao deitar-se na cama, tratou logo de dormir.
Agora não poderia fazê-lo.
No dia seguinte, a moça mostrou outros lugares da cidade para o moço.
Comentou que poderiam começar a pesquisar lugares onde poderiam morar.
Max ao ouvir isto, argumentou que estava ali a passeio.
Laura não gostou da conversa. Perguntou-lhe se havia desistido dos planos.
Maximiliano, então respondeu-lhe que não, mas que gostaria primeiramente conhecer o lugar. Prometeu que sim, veriam apartamentos, mas na hora certa, e não na viagem de lua de mel.
Nisto, agradeceu a mulher pela noite que passaram juntos.
Laura continuou a dizer que a cidade oferecia muitas oportunidades de lazer, cultura, conhecimento.
Também passearam pelo litoral.
Dias depois, Laura e Max estavam em uma linda praia.
Tomaram muito banho de sol, de mar.
O moço adorava a companhia da esposa.
Quando se aproximou o momento de retornarem a fazenda, o moço chegou a lamentar. Brincalhão, comentou que estava adorando ter todo o tempo livre do mundo para passear com ela, namorá-la, cortejá-la.
Com isto, segurou suas mãos, beijou-as.
Ludmila com efeito, resolveu se hospedar em num hotel da região.
Em contato com seus filhos, informou-lhes o número do telefone do hotel em que estava hospedada.
Com isto, ao final de uma semana, a mulher recebeu um telefonema aflito de Henrique. Nervoso, o moço dizia que Carlos e André não paravam de brigar.
Ludmila ao ouvir o apelo do filho mais velho, prometeu que se dirigiria ao colégio onde estavam internados.
Desta forma, teve que adiar seus planos de encontrar-se com a filha.
Atenta, ia todos os dias a casa de Zélia e Olavo perguntar sobre a moça.
Questionava se já havia voltado.
Diante deste fato, precisou se ausentar.
Razão pela qual arrumou suas malas.
Preocupada, a mulher foi até o colégio interno.
Acompanhada de Emerson, descobriu que Carlos e André não estavam se entendendo bem, e que quase todos os dias brigavam.
Foi informada também, que Henrique tentava conter as brigas, mas não vinha obtendo êxito.
Diante disto, a diretora da instituição chamou os meninos para conversarem em sua sala.
Carlos e André assustaram-se ao ver os pais por ali.
Começaram a discutir por causa disto.
Um dizia que o outro era culpado por aquilo.
Ludmila, ao perceber a confusão, exigiu que os filhos se comportassem.
Falava que não estava pagando um colégio caro como aquele, para que eles ficassem ali, armando confusão. Comentou que eles eram pessoas privilegiadas e que deveriam honrar a rara oportunidade que tinham de estudar.
Envergonhados André e Carlos pararam de brigar.
Pediram desculpas.
Mais tarde, estando a sós com os filhos, Ludmila perguntou-lhes o que estava acontecendo.
Os garotos permaneciam calados.
Emerson então, tentando conquistar-lhes a confiança, disse-lhes que Ludmila estava preocupada com eles, assim como ele.
Falou-lhes que nunca os vira se desentender daquela forma.
Carlos disse então, que o casal não se importava mais com eles.
Ludmila ao ouvir isto, perguntou-lhes de onde haviam tirado semelhante bobagem.
Angustiados, os meninos disseram que agora ela se preocupava com uma suposta filha, uma irmã que nem sequer conheciam.
A fazendeira tentou conversar com os moços, explicar as razões por que vinha procurando a filha.
Em dado momento, foi Henrique que se aproximou.
Abraçou a mãe.
Ludmila, rodeada pelos filhos, disse-lhes que sentia muitas saudades deles, mas que aqueles anos de estudo eram muito importantes. Disse que seriam aqueles tempos que lhes forjariam a personalidade, e os direcionariam para a vida adulta.
Henrique, ao ouvir estas palavras, respondeu que gostava da vida na fazenda e que não pretendia ser um doutor.
Sorrindo, Ludmila disse-lhe que não precisava ser um doutor se não quisesse, mas que até para ser um bom administrador do patrimônio que tinha, deveria ter conhecimento do mundo que o cercava. Para que com isto, pudesse melhorar o ambiente em que vivia, e não ser enganado pelos outros.
Henrique mencionou que sentia falta de casa.
Ludmila penalizada, pediu-lhe paciência.
Disse-lhe que agora ele poderia não entender o porquê do afastamento da família por tantos anos, mas que depois, ele faria muito bom uso dos anos de estudo que tivera.
Com isto, a mulher abraçou os filhos.
Ao cair da tarde, voltou para casa.
Retomou as atividades na fazenda.
Tempos depois, Laura e Max retornaram a fazenda.
O homem também voltou a executar suas atividades como peão.
Laura ficou a cuidar da casa em que viviam.
Lavava, passava, cozinhava.
Nos fundos da residência fez uma pequena plantação de verduras e condimentos.
Cuidadosa, cuidava muito bem da casinha.
Casa que fora providenciada pelo dono da fazenda.
Feliz, acreditava que em pouco tempo sairia dali.
Maximiliano voltava depois de um longo dia de trabalho, com comida boa.
Estava feliz com a vida de casado.
Com o tempo acomodou-se. Feliz com a vida na fazenda, desistiu dos planos de estudar na cidade.
Quando Laura percebeu isto, passou a questioná-lo.
Argumentou que tinha pretensões de continuar estudando, e que aquela vida não era para ela.
Maximiliano por sua vez, desconversava dizendo que ainda não era hora de sair da fazenda.
Laura ao ouvir isto, ficava aborrecida.
Em dado momento, incomodada com a inércia do moço, disse-lhe que fora enganada, vítima de um logro.
Por diversas vezes, chegaram a discutir por isto.
Laura chegou a dizer que o moço havia prometido a ela fazer de sua existência, algo feliz. Chorosa, chegou a falar certa vez que não estava feliz vivendo daquela forma.
Maximiliano, percebendo que o intento de voltar a viver na cidade rondava a mente da esposa, començou a dizer que iria providenciar a ida de ambos para a cidade.
Argumentava que de fato precisava estudar.
Quando o casal retornou de viagem, Zélia recomendou ao moço, que não deixasse uma certa mulher de nome Ludmila, aproximar-se da filha.
Sem mencionar as razões para tal prevenção, pediu ao rapaz para que se acautelasse.
Maximiliano, ao perceber a perturbação da mulher, prometeu que faria o possível para que Laura não se aproximasse da mulher.
Zélia agradeceu.
Argumentou porém, que passava boa parte do tempo cuidando dos animais da fazenda, e que em boa parte do dia, não estaria por perto, e que não poderia impedir uma possível aproximação se isto tivesse realmente que acontecer.
Ao ouvir isto, Zélia se afligiu novamente.
Chegou a perguntar-lhe se não seria melhor satisfazer a vontade da filha. Comentou se não gostaria de passar alguns dias na cidade.
Zélia acreditava que se Ludmila retornasse a fazenda e não encontrasse Laura, acabaria desistindo de ver a filha.
Maximiliano por sua vez, retrucou dizendo que não seria possível fazê-lo ainda.
Argumentou porém, que assim que pudesse eles iriam viver na cidade. Nem que fosse por algum tempo apenas.
Com efeito, alguns meses após o casamento, a fazendeira encaminhou-se novamente a fazenda.
Ao bater na porta da mulher, após fazer perguntas aos moradores do lugar, descobriu que sua Odara estava de volta.
Alguns moradores chegaram até a descrever a moça.
Conversando com uma Zélia, ainda mais nervosa do que no primeiro encontro, a mulher prometeu que não revelaria quem era.
Pediu apenas para ver a moça. Falou que se apresentaria como uma visita, sugerindo ainda, que poderia dizer que ela era uma amiga dos velhos tempos.
Zélia negou o pedido.
Olavo por sua vez, ao chegar em casa após um dia de trabalho extenuante, tentou intervir amenizando a contenda.
Contudo, não obteve êxito.
Nisto, a fazendeira se despediu da mulher.
Dias depois a mulher retornou ao local.
Ficou a observar a casa onde a filha vivia.
A certa altura, Laura saiu da residência.
Ficou a cuidar de um pequeno jardim que havia em frente a casa.
Ludmila ao ver sua Odara, sentiu o rosto queimar.
Lágrimas caíram de seus olhos.
Relembrou-se de Lúcio, dos momentos em que foram felizes, seu desaparecimento, o momento em que se despediu da filha, da partida da criança com o casal que a criara.
Laura era jovem, bela, e lembrava sua juventude.
Ludmila fora só, a fazenda.
Mais tarde, Emerson foi ao seu encontro.
Juntos em uma lanchonete, chegaram a ver a moça ao lado do marido, passeando pela cidade.
Maximiliano, percebendo a tristeza da jovem, resolveu levá-la para um passeio na cidade.
Laura procurou usar uma roupa bonita.
Sorrindo, comentou que estava usando roupas rústicas a tanto tempo, que brincou dizendo se saberia ainda, usar uma roupa mais arrumada.
Max sorriu-lhe dizendo que disto ela jamais se esqueceria.
Incomodado, percebeu que não se decidisse a deixar a mulher estudar, ela acabaria fazendo isto por ela mesma.
Aflito, neste momento, prometeu que eles passariam alguns anos na cidade, e que ainda não o havia feito, por que estava arrumando mais dinheiro. Argumentou que precisava proporcionar mais conforto a mulher.
Com isto, o casal foi até a cidade.
Assistiram a um filme. Depois foram a uma sorveteria.
Depois do sorvete, o casal se encaminhou a uma lanchonete.
Maximiliano dizia estar com fome.
Laura brincou dizendo que ele estava sempre com fome.
Maximiliano não gostou da brincadeira.
Contou que trabalhava muito, que seu serviço demandava muita força e energia, e que precisava repor o que havia gasto.
Laura, percebendo que o rapaz estava melindrado, desculpou-se. Disse que não tivera a intenção de ofendê-lo. Argumentou que era apenas uma brincadeira. Falou que sabia que seu trabalho era exaustivo. Pediu para que ele não ligasse para isto.
Desta forma sugeriu que ele pedisse algo com bastante sustância.
Laura comeu um pedaço do lanche do moço.
A seguir, o casal caminhou de mãos dadas pela praça.
Foi quando Ludmila e Emerson viram a jovem caminhando com o marido.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
quinta-feira, 1 de abril de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 12
Laura sentou-se ao lado do pai, segurou um de seus braços. Colocou sua cabeça no ombro dele.
O homem entendeu o gesto, como um sinal de que as coisas se acalmariam por algum tempo.
Passaram perto da mata que havia no local, percorreram riachos.
Com isto, ao chegarem na entrada da fazenda, Antonio desceu da carroça.
Abriu a porteira.
Passaram.
Ao chegarem em casa, todos estava entusiasmados.
Zélia não se cansava de elogiar a filha.
Comentou também, que as moças elogiaram a elegância de seus meninos.
Antonio e Vicente, comentaram que gostaram das garotas da festa. Disseram que foi um dos bailes mais animados dos quais participaram.
Olavo comentou que para a festa ficar perfeita, só faltou dançar um pouco mais com Zélia.
No baile, casal dançou umas poucas danças juntos.
Zélia estava envergonhada.
Ficou constrangida quando alguns convidados comentaram que estava elegante.
Antonio e Vicente concordaram. A mãe estava muito elegante.
Zélia desconversou.
Nisto, Laura, que permanecera calada, foi chamada para manifestar sua opinião sobre o baile.
Ao ser indagada, a moça respondeu que a festa estava divertida sim.
Com isto, dizendo que estava cansada, pediu licença e se recolheu.
No quarto, retirou o vestido e o colocou na cadeira em frente a penteadeira.
Vestiu uma camisola.
Enquanto penteava os cabelos, ficou a se recordar da festa, das danças, das músicas.
Nos dias que se seguiram, a moça se ocupava em realizar passeios pela fazenda.
Andando a cavalo, revisitou os lugares de sua infância.
Passou perto dos pomares, das plantações.
Maximiliano, ao vê-la passeando a cavalo, acenou para a moça.
Laura retribuiu.
Mais tarde, o moço foi ao encontro da jovem.
Conversaram.
Maximiliano convidou-a para vê-lo trabalhar.
Laura prometeu que um dia desses iria.
Nisto, despediu-se do moço e continuou a cavalgada.
Em dado momento, a jovem sentou-se a beira de um lago.
Lá havia pessoas pescando.
Os homens, ao verem a moça, cumprimentaram-na.
Laura retribuiu.
Um deles se aproximou. Perguntou se ela era filha de Zélia e Olavo.
Laura respondeu que sim.
Curioso, o rapaz comentou que nunca a vira antes por lá.
Laura comentou que passou muitos anos fora. Estudara em colégio interno.
O moço perguntou como era viver tão longe dali.
Laura comentou que vivendo em colégio interno, pouco vira da cidade, mas mencionou que as pessoas corriam muito para ganhar o salário para sustentar a família. Relatou que ali na fazenda, o ritmo de vida era mais lento, mais tranqüilo.
O rapaz, ao ouvir as palavras da moça, comentou que tinha sorte em não precisar viver num lugar assim. Argumentou que nunca se acostumaria.
Laura riu.
O jovem, pediu desculpas.
Laura por seu turno, comentou que gostava da vida na cidade.
Mencionou que não se importaria em voltar a viver por lá.
Estéfano, comentou que ela não deveria voltar a viver num lugar assim.
Nisto a moça pediu licença e se afastou.
Montou em seu cavalo e voltou para casa.
Dias depois, a moça acompanhou o trabalho de Maximiliano.
Viu o moço colocar ferraduras nos animais, domar cavalos.
Ludmila por sua vez, continuava a administrar a fazenda.
Carlos, Henrique e André, estudavam em colégio interno.
Maximiliano e Laura por sua vez, estreitaram os laços de amizade.
O moço, com o tempo, passou a freqüentar a casa de Zélia e Olavo.
A pretexto de conversar com Antonio e Vicente, o moço passou a visitar a casa.
Conversando com os moços, o jovem combinou uma pescaria.
Laura também foi convidada, mas não se interessou em participar.
Zélia ao ouvir a recusa, cochichou no ouvido da filha.
Disse que ela deveria ir.
Laura respondeu sussurrando, que não gostava de pescar.
A mulher, ao ouvir as palavras da filha, sugeriu que levasse um livro.
Disse que Olavo gostaria muito que ela os acompanhasse.
Laura tentou retrucar cochichando, mas ao perceber que os homens olhavam para ela, calou-se.
Maximiliano aproximando-se, convidou-a para participar do passeio.
Sem jeito, e pressionada por Olavo e pelos irmãos, acabou concordando com o convite.
Quando chegou o dia da pescaria, a moça tratou de pegar um livro.
Montou em um cavalo e acompanhou o pai e os irmãos de criação até o rio.
Ao lá chegar, ficou contemplando a paisagem.
Maximiliano, percebendo que a moça ficara encantada com o cenário, perguntou-lhe se não conhecia o lugar.
Laura respondeu que sim.
Contudo, como fazia anos que não passava por ali, havia se esquecido de como era belo.
Maximiliano ao ouvir estas palavras, retrucou dizendo:
- Lindo mesmo! Está vendo só? O que você estaria perdendo se não estivesse aqui!
Laura riu.
Nisto os começaram a se preparar para pescar.
Pegaram os instrumentos de pescaria, as varas de pescar, colocaram as iscas. Arremessaram-nas rio.
Antonio e Vicente pediram silêncio para não assustarem os peixes.
Laura sentou-se na margem do rio, encostou-se em uma árvore e desfrutando da sombra, começou a ler um livro.
Maximiliano observava o movimento das águas. Ao perceber um movimento diferente, pediu a todos que ficassem quietos.
Esperou um pouco e sentiu que algo estava puxando o anzol. Atento, esperou um pouco e puxou a linha.
Olavo ao ver o peixe que o moço havia pescado, parabenizou-o.
Antonio e Vicente argumentaram que o dia estava somente começando, e que era cedo para se cantar vitória.
Empenhados, voltaram para as margens do rio. Continuaram a pescaria.
Olavo acompanhou os filhos.
Maximiliano, ao perceber que Laura estava entretida com um livro, resolveu se aproximar.
Curioso, perguntou o que ela estava lendo.
Laura demorou um pouco para responder.
Mostrou-lhe a capa do livro.
A moça lia “O Guarani”, obra de José de Alencar.
Tentando puxar conversa, o moço comentou que havia ouvido falar da obra quando estava no grupo escolar, e que lera algumas passagens do livro.
Laura comentou que já havia lido o livro nos tempos de escola e que agora estava lendo novamente.
Maximiliano brincou dizendo que ela devia ser mesmo muito instruída para se interessar em ler uma obra clássica como aquela.
A moça comentou que gostava da obra do autor.
Nisto o moço comentou que estava tentando ler um livro de poesia que tinha em casa, mas que estava tendo um pouco de dificuldade para entender algumas delas. Meio constrangido, citou que eram poesias de Camões.
Laura perguntou-lhe se havia lido “Os Lusíadas”.
Sem jeito, o moço respondeu que não. Argumentou que seu nível de conhecimentos não permitiria ler o texto e entender a obra.
Laura ficou um pouco decepcionada.
Voltou a ler.
O moço, percebendo que precisava retomar a conversa, comentou que se ela o ajudasse, talvez se encorajasse a ler o tal livro. Perguntou o nome.
Laura respondeu:
- Os Lusíadas.
Como o moço não soubesse do que se tratava, Laura respondeu que era uma epopéia, que cantava as glórias do povo português, e contava de forma poética, sua história, desde sua fundação, até o momento em que o vate escrevera os versos.
Com isto, a moça teve que explicar o significado de vate.
Disse que Luiz Vaz de Camões era um grande poeta.
Maximiliano respondeu que já ouvira falar de Fernando Pessoa.
Laura comentou que ele também era português, como Camões.
A pedido do moço, a jovem recitou trechos da poesia de Camões.
O peão ficou encantado.
Comentou que ela tinha uma voz bonita, o que deixava os poemas mais bonitos.
Laura sorriu para ele.
Olavo então, ao pescar um peixe, chamou Maximiliano.
O moço pediu então licença e se afastou.
Ao voltar ás margens do rio, se deparou com um peixe imenso sendo trazido por Olavo.
Orgulhoso, o homem mostrou o peixe para a filha, que elogiou o pai.
Curiosa, perguntou o nome do peixe.
Maximiliano respondeu que se tratava de um dourado.
Laura ao ver o peixe, comentou:
- Bonito peixe! E grande.
Maximiliano falou que o rio da fazenda era muito piscoso.
Ao dizer estas palavras, perguntou a Laura se ela sabia o significado daquela palavra.
- Piscoso, rio que tem muitos peixes. – comentou a jovem.
- Muito bem. – respondeu o moço. – Vejo que você ficou distante mas não perdeu suas raízes.
Antonio e Vicente comentaram que era de pequeno que se torcia o pepino e que não seriam alguns anos de afastamento, que fariam as coisas mudarem. Laura era caipira como todos os que nasceram naquela região.
A moça ao ouvir estas palavras, não gostou do comentário. Argumentou que quem vivia no campo não era caipira.
Olavo retorquiu dizendo:
- Me desculpe minha filha, mas, seus irmãos tem razão. Nós somos caipiras com muito orgulho. Não me importo em ser apontado como caipira como já fui algumas vezes. Isto não me ofende não.
Laura respondeu que não gostava quando as pessoas apontavam os dedos para os outros chamando-as de caipiras. Considerava isto, uma falta de respeito.
Olavo lhe disse para não ocupar deste tipo de bobagem. Comentou que o que valia era o que pessoa tinha por dentro e não o que os outros falavam. Disse que quem debocha dos outros é tolo, e que um dia quem ridiculariza será ridicularizado também.
Laura abraçou o pai.
Disse-lhe que era o homem mais sábio que conhecia.
Constrangido, o homem respondeu que não tinha estudo.
Laura redargüiu que ele tinha o mais importante que era o amor, e que conhecia de verdade as coisas. Mais do que muitas pessoas que passaram muitos anos estudando.
Olavo ao ouvir estas palavras, encheu-se de orgulho.
Antonio e Vicente concordaram.
Argumentaram que não tinha pergunta que faziam para ele, que ficasse sem resposta.
Maximiliano observou a cena, comovido.
A certa altura, o moço chamou a todos para continuarem a pescaria.
Antonio e Vicente, depois de muitas tentativas, conseguiram pescar alguns peixes.
Maximiliano e Olavo pescaram mais um peixe cada um.
Em dado momento, o peão chamou Laura para pescar.
A moça recusou-se.
Disse que não sabia pescar.
Maximiliano respondeu que poderia ensiná-la.
Mencionou que era divertido, que ela iria gostar.
Antonio e Vicente, insistiram para que ela tentasse pescar algum peixe. Comentaram que era divertido.
Olavo também interveio e disse que ela não poderia fazer uma desfeita para com o moço que havia sido tão gentil com eles.
Laura então aproximou-se da margem do rio.
Segurando a vara de pescar, o moço colocou o instrumento nas mãos da moça, que desajeitada, quase a derrubou no chão.
Maximiliano foi-lhe explicando o que tinha que fazer.
Porém, ao arremessar o equipamento, a moça quase enganchou o anzol no galho de uma árvore.
Antonio e Vicente caíram na risada.
- Meu Deus! Como alguém pode ser tão desajeitada!
Olavo, ao ouvir as palavras de Antonio, censurou o filho, comentando que ela não estava acostumada a pescar, mas que com o tempo ela acabaria aprendendo e se tornaria uma exímia pescadora.
Vicente, ao ouvir a palavra exímia, perguntou o que significava.
Laura respondeu que exímia significa alguém muito bom em uma atividade, que na situação em questão era a pesca. Curiosa, perguntou ao pai onde havia ouvido aquela palavra.
Sorrindo Olavo respondeu que também procurava se aprimorar, e que inspirado por ela, também estudava um pouco.
Maximiliano ao ouvir isto, parabenizou o homem.
Comentou que também pensava em prosseguir estudando, nem que fosse por conta própria.
Laura então ficou aguardando.
Maximiliano, ao perceber que algo puxava o anzol, sugeriu que ela esperasse um pouco.
Fora ele quem colocara a isca no anzol.
Depois de algum tempo, o peão orientou-a a puxar a linha.
Laura, um pouco atrapalhada, precisou da ajuda do moço para puxar o peixe.
Maximiliano então, ao segurar o peixe, comentou que era um jaú.
Parabenizou a jovem pela conquista.
Antonio e Vicente argumentaram que se tratava de sorte de principiante.
Mais tarde, o grupo retornou a casa da família.
Maximiliano, ao ver os homens se afastando, aproximou-se de Laura.
Perguntou-lhe se havia gostado da pescaria.
Laura respondeu que fora divertido.
Maximiliano falou-lhe que a vida na fazenda era muito boa. Comentou que se trabalhava muito, que as dificuldades eram grandes, mas que não trocava aquela vida, pela vida na cidade.
Laura ao ouvir estas palavras, comentou que viver na cidade não era tão ruim assim. Mencionou que havia coisas boas também na cidade. Cultura, conhecimento, trabalho, dinheiro.
- Não duvido! – respondeu Maximiliano. – Mas também tem coisas ruins.
Laura redargüiu que coisas ruins existiam em todos os lugares.
O moço concordou.
Nisto, abraçou a moça, e beijou-lhe o rosto.
Comentou que amanhã iria na missa na vila e perguntou se sua família não iria.
Laura respondeu que sim.
Nisto, o moço respondeu que se encontrariam por lá.
Desta forma, desejou-lhe boa tarde.
Laura desejou-lhe o mesmo.
Quando entrou na casa, Zélia perguntou do moço.
Laura respondeu que Maximiliano havia ido embora.
- Mas porque ele não esperou para almoçar? Eu ia preparar um desses peixes. – lamentou Zélia.
- Ah, não sei! Acho que a família dele já devia estar esperando por ele. – comentou Laura.
Com isto, Olavo, Antonio e Vicente, comentaram que a moça havia pescado um jaú.
Zélia ao ouvir isto, ficou deveras contente.
Laura por sua vez, retrucou dizendo que não fizera nada demais, e que Maximiliano quem pescara o peixe praticamente sozinho.
Vicente explicou que ela havia segurado a vara de pescar e puxado o peixe. Ainda que desajeitada, tecnicamente havia pescado.
Nisto a moça pediu licença e fechou-se em seu quarto.
Sentou-se na cama, riu das trapalhadas ocorridas na pescaria, acomodou-se e continuou a ler seu livro.
Mais tarde, Zélia entrou no quarto da filha.
Sentando em sua cama, perguntou se ela havia gostado da pescaria.
Laura respondeu sem tirar os olhos do livro, que o passeio fora divertido.
Zélia comentou então, como quem não queria nada, que Maximiliano era um bom moço, vindo de boa família, era esforçado, trabalhador, dedicado.
Laura parecia não estar prestando atenção as palavras da mãe.
Zélia falou então, que o moço parecia estar interessado nela.
Ao ouvir isto, Laura caiu na risada.
Zélia retrucou dizendo que não era engraçado o que dissera.
Comentou que ela era uma moça muito bonita, bem tratada pela vida, bem criada, e que era perfeitamente natural que atraísse a atenção dos moços da região.
Laura calou-se.
Zélia aproximou da filha e a abraçou.
Contou que apesar de sua teimosia, seria muito feliz naquele lugar.
Depois de dizer estas palavras, afastou-se.
Disse que tinha que cuidar do almoço.
Com isto, perguntou a moça se ela não gostaria de ajudá-la.
Laura respondeu que mais tarde iria até lá.
Zélia ao ver a filha entretida com o livro, perguntou:
- Você gosta muito de ler, não é mesmo?
Laura assentiu com a cabeça.
Zélia aproximou-se da filha e pediu-lhe desculpas.
Laura não compreendeu.
A mulher respondeu-lhe que não poderia ajudá-la a cursar uma faculdade, mas que poderia fazer com que fizesse alguns cursos por correspondência. Prometeu que cuidaria disto.
Laura, ao fitá-la, percebeu que seus olhos se encheram de lágrimas, mas temendo ouvir palavras de desaprovação, temeu perguntar a razão das lágrimas.
Simplesmente sorriu para ela.
Zélia sentiu-se acalentada pelo sorriso.
Retirou-se do quarto e encaminhou-se para a cozinha.
Animada, preparou o peixe pescado pelo marido.
Olavo, ao vê-la tão feliz entretida na cozinha, perguntou o que havia acontecido.
Zélia então, comentou que Laura voltaria a estudar. Faria alguns cursos por correspondência.
Ficou surpreso com a resolução da mulher. Perguntou-lhe se voltaria a escrever para Ludmila.
Zélia pedindo para que o homem não tocasse mais no assunto, comentou que ela daria um jeito para arrumar dinheiro para que a filha fizesse os cursos. Disse que não mais escreveria para a fazendeira.
Olavo comentou que a mulher poderia estranhar a ausência de contato.
Zélia respondeu que Ludmila estava pouco se importando com a moça. Argumentou que se ela quisesse saber como estava a filha, teria arrumado um jeito de visitá-la.
Olavo discordou do proceder da esposa, mas sem ter argumentos para discutir, calou-se.
Comentou que já dissera o que pensava sobre o assunto, e que não se posicionaria mais a respeito.
Zélia argumentou que assim seria melhor.
Com efeito, naquele domingo, as famílias de Laura e Maximiliano encontraram-se na missa.
Mais tarde, a moça fez alguns cursos.
Aprendeu a fazer reparos na parte elétrica da casa, um pouco de mecânica.
Todavia, em que pese este fato, Laura não se sentia satisfeita.
Chegou a comentar que não desgostava da vida na fazenda, mas que não queria passar o resto de sua vida, cuidando de uma casa, lavando, passando e cozendo.
Maximiliano prometeu ajudá-la em seu sonho de cursar uma faculdade.
Laura por sua vez, não conseguia entender como ele poderia ajudá-la.
O peão lhe respondia que no momento certo ela saberia.
Com isto, Laura começou a realizar leituras com o moço sobre “Os Lusíadas”.
Entretida com sua tarefa, a moça explicava passagens do livro, recitava as poesias para ele.
Fazia isto, em passeios a cavalo pela fazenda.
Maximiliano ficava embevecido com a poesia e a voz da moça.
Zélia autorizava os encontros, pois acreditava que ele e a filha formavam um bonito casal.
Olavo por sua vez, ficava cismado em ver a filha tão solta. Comentava que isto não ficava bem, e que precisava ficar de olho.
Zélia ria.
Dizia que Laura não lhe preocupava. Argumentava que quem mais despertava preocupações nela quanto a isto, eram seus dois garotos.
Olavo respondeu por seu turno, que se um deles aprontasse com as moças da região, iria ter que se entender com ele.
Zélia achava graça na severidade do marido.
Maximiliano adorava as tardes que passava ao lado da moça.
Ás vezes era convidado para almoçar com a família da jovem.
Nestes momentos aproveitava para conhecer um pouco melhor a moça.
Perguntava a Antonio e Vicente do que ela gostava, além de livros.
Os irmãos diziam que ela gostava de aprender coisas novas, falaram sobre os cursos que fizera. Que estava aprendendo a cuidar da casa.
Mencionaram porém, que ela não era muito afeita aos trabalhos domésticos.
Maximiliano rindo, respondeu que ele também estava aprendendo a cuidar de suas coisas. Comentou que tinha consciência de que se viesse a casar com a moça, teria que ajudá-la cuidar da casa.
Indiscreto, Vicente perguntou-lhe quando pediria Laura em casamento.
Sem graça, o moço respondeu que eles precisavam primeiramente, começar a namorar.
Surpreso, Antonio perguntou se já não estava namorando.
Maximiliano respondeu que não.
- E o que você está esperando para isto? Você acha realmente que ela é tão moderna que irá perceber seu interesse, sem que seja necessário falar? Ah, só nos filmes. E ela é uma moça de carne e osso.
Maximiliano respondeu que já sabia o que fazer.
Com isto almoçou com a família, conversou com todos.
Comentou com Laura que estava adorando conhecer Camões e com isto, um pouco dela.
Mais tarde, despediu-se da moça.
Quando novamente se encontraram a beira do rio, aproveitando um momento de distração da jovem, o moço roubou-lhe um beijo.
Surpresa com o gesto inesperado, a moça deixou o livro cair no chão.
Sem saber como reagir, afastou-se do rapaz.
Correu em direção ao seu cavalo, montou e saiu a galopar.
Maximiliano, nervoso, ficou desapontado.
Não esperava aquela reação.
Ao se deparar com o livro, teve ímpetos de segui-la, mas temeu fazê-lo. Acreditou que se o fizesse faria com que ela ficasse ainda mais assustada, e poderia fazer com que caísse do cavalo, que se machucasse.
Decepcionado, voltou para casa.
Ficou tristonho, pensativo.
Não queria conversar com ninguém.
Laura também se trancou em seu quarto.
Não quis saber de comer.
Mais tarde, quanto todos estavam entretidos em outras atividades, a moça saiu do quarto, esquentou sua comida e alimentou-se.
Lavou a louça e voltou para o quarto.
Como a moça não voltava para as leituras, Maximiliano foi procurá-la em sua casa.
Auxiliado por Zélia, o moço conseguiu ficar a sós com a moça.
Laura estava relutante em encontrá-lo, e Zélia teve que fazer uso de toda sua diplomacia para convencê-la a encontrar-se com o rapaz.
Disse-lhe que não sabia o que havia acontecido, mas que se o moço estava tão empenhado em se aproximar, era por que tinha bons propósitos.
Laura, ao perceber que Zélia não a deixaria em paz, concordou em encontrar-se com o moço.
Sozinhos, conversaram.
Laura ouviu tudo o que o rapaz tinha para dizer.
Maximiliano disse-lhe que não tivera a intenção de desacatá-la, mas que ela era muito fechada em si mesma e que ele estava tentando devassar este mundo, e não estava conseguindo. Comentou que sentia a necessidade de um gesto brusco para ver se conseguia despertar alguma reação.
Laura falou-lhe então, que não estava entendendo onde ele queria chegar com todas aquelas palavras.
Maximiliano, aproximando-se da moça, pediu para que ela ouvisse.
Laura olhou-lhe nos olhos.
O rapaz perguntou-lhe o que ela achava dele.
Ao ouvir as palavras do moço, Laura respondeu que ele era uma boa pessoa.
- Só isto? – perguntou o rapaz, um pouco desapontado. – Eu pensei que fossemos ao menos amigos.
Laura, percebendo isto, comentou que sim, eram amigos. Disse que ele era um bom amigo sim.
Nisto, Maximiliano disse-lhe que gostaria de ser um pouco mais que seu amigo. Falou-lhe que a tinha em ótima conta, que era bonita, inteligente, interessante e atraente. Contou ainda, que ela não se parecia com as moças de lá. Que era mais instruída. Confessou, que a achava especial.
Laura ao ouvir estas palavras, ficou encabulada.
Tentando quebrar o silêncio, disse que não sabia como retribuir a gentileza.
Maximiliano argumentou que não se tratava de gentileza.
Nisto, segurou a mão da moça.
Comentou que assentaria bem um anel em seu dedo.
Laura, inopinadamente retirou sua mão, das mãos do moço.
Maximiliano diante da reação da jovem, que lhe voltou ás costas, perguntou se ela não gostaria de ter alguém.
Laura respondeu que não estava pensando nisto.
Maximiliano não se deu por vencido.
Comentou que ela não lhe era indiferente, e que acreditava que poderia haver algo entre eles.
Ao ouvir isto, a moça voltou-se para ele.
Indagou de onde ele havia tirado aquilo.
Maximiliano falou-lhe que nenhuma outra moça havia chamado tanto sua atenção.
Laura riu.
Incomodado, o moço perguntou:
- Então não acredita? Pois pergunte a quem quiser. E se quer saber, eu não tive tantas namoradas quanto você pensa!
Laura retrucou dizendo que não pensava nada.
Nervoso, Maximiliano respondeu que precisava de uma resposta.
- Que resposta? Você não me fez nenhuma pergunta. – redargüiu a moça.
Maximiliano então, enchendo-se de coragem, perguntou-lhe se ela não gostaria de ser sua namorada.
Laura observou-o indiferente.
Impaciente, o moço perguntou-lhe qual era sua resposta.
Laura respondeu-lhe que não sabia o que dizer.
Maximiliano, ao notar o desinteresse da jovem, segurou-a pelos ombros, e olhando nos olhos da moça, falou:
- Como não sabe? Eu estou aqui, tentando dizer da melhor maneira possível que estou interessado em você, e você não me diz nada? Isto, não está certo. Que seja um não, mas que seja dito logo, que eu tenho este direito.
Laura comentou que não gostaria de estragar a amizade que tinham.
Maximiliano respondeu-lhe que não estava interessado em apenas amizade. Triste, comentou que não poderia obrigá-la a gostar dele, mas que acreditava que seriam felizes juntos.
Com isto, levantou-se e se afastou.
Laura ao vê-lo se afastando, resolveu entrar em sua casa.
Zélia ao ver a filha entrando, percebeu que estava constrangida.
Dirigiu-se a entrada da residência.
Ao notar que moço partia amuado, censurou a filha. Disse que era um rapaz bonito, correto, trabalhador, e que igual a ele, dificilmente encontraria outro igual.
Laura respondeu que não estava apaixonada.
Zélia respondeu-lhe que ela aprenderia a gostar do rapaz, como um dia ela aprendera a gostar de Olavo.
Laura argumentou que pretendia estudar, ter uma profissão, e não ficar a depender de um marido.
A mulher, ao ouvir as palavras da filha, censurou-a. Falou-lhe que estava errada, que deveria se casar. Argumentou que Maximiliano não fazia o gênero de homem ciumento, tão comum aos homens do lugar, e que se fosse possível, a deixaria estudar.
Preocupada com o futuro da filha, Zélia prometeu se empenhar em ajudar a filha a fazer uma faculdade.
Laura redargüiu:
- Com que dinheiro? Afinal de contas, não foi você mesma que disse que a tal fazendeira não mandaria mais dinheiro para bancar meus estudos? Como você vai fazer para conseguir dinheiro?
Ao ouvir estas palavras, Zélia argumentou que daria um jeito.
Foi o bastante para Laura retomar as conversas de que gostaria de conhecer a tal mulher.
Nem que fosse para ouvir de sua boca que não a queria, mas gostaria de entender por que uma mulher rica, abandonaria uma filha.
Zélia pedia para a moça calar-se.
Irritada, Laura trancou-se no quarto.
Sistematicamente se recusava a ouvir os argumentos da mãe.
Irritada, Zélia ameaçou-a filha dizendo que se não esforçasse em ser simpática com o moço, não a ajudaria a continuar os estudos. Alegava que a filha estava jogando fora uma grande oportunidade.
Maximiliano aborrecido, ao perceber que Zélia estava pressionando Laura, argumentou que não queria que ela ficasse ao seu lado obrigada.
Com efeito, após se declarar a moça, o jovem dirigiu-se a casa da mulher, acreditando que Laura havia mudado de idéia.
Ao lá chegar, percebendo o ar contrariado da moça, Maximiliano desculpando-se com todos, pediu licença e partiu.
Zélia ficou inconformada.
Laura, que só ficara fazendo sala para o moço, obrigada pela mãe, admirou a atitude do moço.
Sorrindo, comentou que Maximiliano tinha brio.
Zélia ficou furiosa com ela.
Praguejando, disse que ela ficaria enterrada naquele lugar.
Laura deu de ombros.
Certo dia, depois de cuidar da casa, a moça montou em um cavalo e saiu a percorrer a fazenda.
Em dado momento, encontrou Maximiliano distraído, sentado a beira do lago.
Parecia descansar.
A moça cautelosa, aproximou-se.
Perguntou-lhe se podia conversar.
Maximiliano, ao vê-la diante de si, surpreendeu-se.
Imediatamente levantou-se.
Laura então, pediu-lhe desculpas.
Surpreso, o rapaz perguntou o porquê das desculpas.
Laura, constrangida, comentou que não agira corretamente com ele. Mencionou que o havia desapontado. Pediu desculpas por não ter podido corresponder a sua expectativa.
Chorando, relatou que não queria magoar ninguém, embora estivesse se sentindo muito magoada.
O moço ao ver a moça em prantos, abraçou-a.
Penalizado, aceitou as desculpas.
Disse que ela não tinha culpa por não gostar dele da mesma forma que ele gostava dela.
Laura pediu-lhe novamente desculpas. Mencionou que pensava em sair dali e tentar a vida na cidade.
Maximiliano ao ouvir as palavras da moça , soltou-a.
Olhando-a nos olhos, perguntou-lhe se tinha condições de se manter na cidade.
A moça respondeu que com seu nível de escolaridade, poderia arrumar um emprego de vendedora, balconista, recepcionista, poderia trabalhar em um escritório.
O jovem perguntou-lhe se seus pais concordavam com seus planos.
Laura, comentou que faria isto, sem esperar pela aprovação deles.
Maximiliano censurou-a.
Disse que não deveria fazê-lo. Poderia se arrepender.
A moça argumentou que não iria se arrepender.
O rapaz, segurando-a pelo braço pediu para que não partisse.
Disse que seu sumiço faria muita gente sofrer. Argumentou que ela não poderia pensar somente nela.
Laura ficou aborrecida com as palavras.
Retrucando, disse que ela precisava pensar em seu futuro, e que não seria vivendo como dona de casa em uma fazenda que conseguiria um futuro melhor. Irritada, indagou:
- Olhe pra mim! Acha realmente que eu conseguiria viver no campo, capinando, com uma enxada nas mãos? Olhe pra minhas mãos, eu nunca fiz este tipo de trabalho! Minha mãe nunca me deixou ir com ela para a lida, para a colheita. Só sei fazer serviços domésticos. E ... sinceramente, não quero ir para o eito, eu não nasci para isto. Eu tenho qualificação para muito mais.
Maximiliano, ao ouvir as palavras da moça prometeu ajudar-lhe. Disse que tinha vontade de adquirir novos conhecimentos para poder ter uma vida melhor na fazenda.
Laura perguntou-lhe como poderia ajudá-la, se era tão pobre quanto ela.
Curiosa, a moça indagou onde arrumaria dinheiro para tanto.
Ao ouvir os questionamentos, respondeu:
- Quanto a isto, não se preocupe! Eu cuidarei de tudo.
Nisto, segurando as mãos da moça, pediu a ela para que não partisse. Disse que tivesse paciência, pois poderia ajudá-la.
A moça, ao ouvir as palavras do rapaz, relatou que não poderia aceitar a ajuda.
Argumentou que aquilo não era direito.
Maximiliano, pousando os dedos nos lábios da moça, falou-lhe:
- Não se ocupe disto! Eu não estarei me sacrificando se te ajudar. Eu quero fazer.
Laura surpreendida, argumentou que ela não havia feito nada que o motivasse para isto.
Maximiliano respondeu que sim, havia feito algo muito importante.
Segurando as mãos da jovem, disse-lhe que ela havia proporcionado a ele, a possibilidade de conhecer algo mais do que aquele mundo em que vivia. Comentou que era muito grato a ela por lhe mostrar poesias.
Nisto, o moço aproximou-se de seu cavalo, e pegando algo de sua algibeira, caminhou em direção a moça.
Laura, ao perceber do que se tratava, comentou que achou que havia perdido o livro para sempre.
Sorrindo, o moço comentou que pensou em devolvê-lo, mas desistiu.
Argumentou que com o livro em mãos, teria uma desculpa para falar-lhe novamente.
Maximiliano contou então, que aproveitou para ler o livro.
Comentou que gostou muito da obra.
Desta forma, estendeu sua mão e sinalizou para que a moça segurasse o livro.
Laura, ao ouvir as palavras do moço pensou nos últimos acontecimentos, e decidiu:
- Agradeço o cuidado em me devolver o livro. Mas, pensando bem, eu acho que você deveria ficar com a obra.
Maximiliano tentou recusar o oferecimento, e Laura, segurou o livro.
Em seguida, a moça estendeu a obra para o moço.
Disse que ele deveria aceitar um presente.
Afinal de contas, alguém que era capaz de ajudá-la, sem nem ao menos pedir algo em troca, merecia um presente.
Sorrindo, a garota comentou que gostava muito dele, e que alguém tão especial assim, deveria ganhar algo valioso.
Laura contou que aquele era um dos livros de que mais gostava.
Ao ouvir isto, o jovem argumentou que ela não poderia se desfazer de algo tão importante para ela.
Laura insistiu.
Disse que a obra havia cumprido sua missão. Nisto, comentou que agora ela deveria preencher e enriquecer a existência de outra pessoa.
Com isto, a moça estendeu novamente a obra para o jovem.
Ao perceber que Maximiliano titubeava, a jovem comentou:
- Não vai fazer uma desfeita destas, vai?
O peão, sem jeito, pegou o livro. Agradeceu o presente.
Laura abraçou o moço.
Maximiliano ficou a observá-la.
Laura agradeceu-lhe a gentileza.
Com o tempo, a amizade entre eles se estreitou.
Laura continuou a recitar-lhe poesias.
Maximiliano adorava ficar as margens do rio, a ouvir as poesias declamadas pela moça.
Com isto, o moço disse-lhe certa vez, que havia conversado com os pais.
Contou-lhes que pretendia cursar uma faculdade de agronomia.
Mencionou que seus pais lhe disseram que não tinham condições de mantê-lo estudando na cidade.
Maximiliano comentou então, que possuía uma certa quantia guardada. Dinheiro que poderia ajudá-lo a se manter na cidade, por alguns meses, desde que vivendo de forma simples, sem luxos e ostentações.
Laura, ao ouvir isto, ficou feliz pelo moço.
Retrucou porém, que sentiria saudades dele.
Maxiliano ao ouvir isto, sorriu.
Perguntou-lhe se sentiria falta dele.
A moça respondeu que sim.
Maximiliano lhe propôs que o acompanhasse.
Laura ficou surpresa com a proposta.
Relatou que seus pais não aceitariam que ela fosse estudar na cidade, com um rapaz.
A moça comentou que não ficaria bem.
Maximiliano propôs que se casassem.
Surpresa, a jovem comentou:
- Casar? Como assim?
Maximiliano disse que gostava dela. Mencionou que só havia proposto esta possibilidade, por que sentia que ela não lhe era indiferente.
Laura respondeu-lhe que não sabia o que dizer. Argumentou que não estava apaixonada por ele, e que casamento não fazia parte de seus planos.
Maximiliano ficou desapontado.
Sem coragem para olhá-la nos olhos, o moço disse que havia se precipitado. Pediu-lhe desculpas.
Laura, ao vislumbrar uma possibilidade de retomar os estudos, pediu um tempo para pensar. Disse que ele a havia pego de surpresa.
Segurando o rosto do moço, Laura disse-lhe que sabia de seu valor.
Nisto, perguntou:
- Por que você cismou justamente comigo?
Maximiliano respondeu-lhe que ela não era igual as outras moças do lugar.
Nisto, o moço aproximou-a e segurando a moça pelo pescoço, beijou-lhe o rosto.
Laura olhou o rapaz com curiosidade.
Depois de conversarem um pouco mais sobre os planos do moço, a jovem prometeu pensar no assunto.
Despediram-se com um beijo no rosto, que quase virou um beijo nos lábios.
Constrangidos, afastaram-se.
No caminho de volta para casa, a moça ficou pensando nas palavras do moço.
Nos encontros, na amizade, do baile, onde dançou com o rapaz.
Antonio e Vicente, quando souberam que ela havia retomado a amizade com o moço, ficaram a dizer que Laura estava namorando Max.
Aborrecida, a jovem dizia que não sabiam do que falavam, que só podiam estar malucos.
Zélia, ao saber da amizade da filha com o peão, ficou deveras contente.
Com o tempo, Ludmila, ao perceber que Zélia interrompera o contato com ela, ficou intranqüila.
Em conversas com Emerson, chegou a conclusão de que deveria contar aos filhos, sobre a existência da moça.
Aconselhada pelo marido – leal companheiro dos momentos difíceis – a mulher encheu-se de coragem para contar aos filhos, sobre seus casamentos anteriores.
Nisto, quando Henrique, Carlos e André retornaram a fazenda no período das férias escolares, a mulher aproveitou para chamar-lhes a atenção para o fato de que já fora casada anteriormente.
Curiosos, os moços comentaram que pouco sabiam disto.
Ludmila comentou que não dissera quase nada a respeito, em consideração a Emerson.
Com isto, contou que fora casada com Antenor, o proprietário daquelas terras, que enviuvara, e que tempos mais tarde, veio a se casar novamente com um rapaz chamado Lúcio.
Neste momento, os olhos da mulher madura encheram-se de lágrimas.
Contar sobre seu passado era como reviver aqueles momentos ternos, lindos, duros e tristes, tudo novamente. Sentia a saudade preencher seu peito, e uma angústia por não ter podido ajudar Lúcio.
Os moços perceberam a tristeza da mulher.
Ludmila, cautelosa, pedira para conversar a sós com os filhos.
Comentou com Emerson, que aquilo era pessoal e que dizia respeito somente a ela, mais do que a qualquer outro.
O homem, mesmo chateado, entendeu.
E assim, a fazendeira contou aos filhos, depois de uma certa dificuldade, que após o segundo casamento, tivera uma filha, fruto de uma relação de muito afeto.
Henrique, incomodado com o fato, chegou a perguntar a mãe se ela ainda possuía algum afeto pelo tal Lúcio.
Ludmila sorrindo tristemente, comentou que o ‘tal Lúcio’, havia morrido anos atrás.
Completou dizendo que por conta disto, precisou abandonar sua filha, e entregá-la aos cuidados de um casal que havia perdido uma criança pequena.
Contou que um delegado da região havia ameaçado fazer algo com a menina. Razão pela qual decidiu deixar a criança com outra família.
Chorando, contou que preferia viver longe da filha, mas vê-la segura, do que correr o risco de sofrer uma segunda perda.
Os rapazes ficaram indignados.
Diziam-se enganados.
Perguntaram por que ela não havia falado antes da tal criança.
André, chegou a perguntar o nome da menina.
- Odara! – respondeu Ludmila – Minha Odara!
Carlos e Henrique, em dado momento, perguntaram se teriam que dividir a herança com a tal moça, filha dela com o tal guerrilheiro.
Ludmila, ao ouvir a palavra guerrilheiro, censurou os filhos.
Disse-lhe que Lúcio nunca fora guerrilheiro.
Nervosa, disse que o moço fora enredado em uma armadilha. Chorosa, comentou que isto ficaria provado um dia, e que seu corpo ainda teria uma morada digna e repouso eternos.
Carlos, ao ouvir a mulher proferir aquelas palavras, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que sim.
Enquanto a conversa se desenvolvia, a mulher comentou que a família que vinha cuidando da moça, deixou de manter contato.
Preocupada, comentou que precisava reencontrar esta moça.
Argumentou que não poderia perder o contato definitivo com a filha.
Curiosos, os rapazes perguntaram-lhe como faria para encontrar a moça.
Ludmila respondeu que tinha pistas de onde Odara estava. Contou que iria ao seu encontro.
Seus filhos protestaram, mas a fazendeira estava decidida.
Só precisava ter coragem para olhar nos olhos da filha e explicar por que ficara ausente por tanto tempo.
Enquanto isto, Laura continuava sua amizade com o peão.
A moça, ao perceber que sua família fazia gosto em seu envolvimento com Maximiliano, começou a refletir sobre a proposta do moço.
Seus afazeres eram cuidar da casa, da comida, das roupas, e do quintal.
O pouco tempo que sobrava, aproveitava para ler.
Enquanto trabalhava, aproveitava para ouvir modas sertanejas.
Zélia adorava aquelas músicas.
Laura por sua vez, estava cansada daquela rotina.
Sentia-se enganada por Zélia, que a fizera crescer acreditando que era um princesa, para agora fazer com que trabalhasse como uma gata borralheira.
Com o passar dos meses, constatou que sua vida não se modificaria em permanecendo naquele lugar.
Ou arrumava suas coisas e sumia dali, ou então se casava com algum morador do local e com o tempo o convencia de sua necessidade de sair dali.
Laura chegou até a arrumar suas malas para partir dali, mas Zélia, ao abrir o pequeno armário existente no quarto da moça, notando a ausência de algumas peças de roupa, desconfiou.
Diante disto, interrogou a moça, que negou estar escondendo as roupas.
Preocupada a mulher chamou Olavo para um conversa.
Desconfiados da atitude da moça, combinaram de trancar a porta da sala após o entardecer.
Certo dia, a jovem aproveitando que todos dormiam, se aproximou da porta da sala.
Ao perceber que a mesma estava trancada, ficou aborrecida.
Desta feita, a moça teve que adiar seus planos de fuga.
Isto por que, caso sumisse de dia, não poderia levar seus pertences. Também chamaria muito a atenção de todos.
A certa altura, cansada de tantas restrições, ao encontrar-se com Max, após uma leitura, e ao perceber que o moço aguardava uma resposta para a proposta feita, Laura perguntou:
- Você tem certeza de que quer casar-se comigo? Eu não tenho certeza de que quero me casar...
Maximiliano respondeu-lhe que casando-se com ele, não lhe imporia a condição de viver como camponesa.
Argumentou que pretendia estudar e que casado, poderia levá-la com ele.
Ao ouvir novamente a proposta, os olhos de Laura se iluminaram.
Estudar era o que ela mais queria.
A proposta para a moça, era de fato tentadora.
Maximiliano acrescentou-lhe que talvez tivessem que ficar algum tempo no campo, mas que assim que se liberasse de seus afazeres, rumariam para a cidade. Ao menos, para estudar, acrescentou. Após os estudos, retornariam a fazenda, ou a qualquer outra propriedade. O moço argumentou que mais qualificado, ganharia mais, e poderia proporcionar uma melhor condição de vida a ela.
Laura por sua vez, disse que também poderia trabalhar.
Maximiliano sorriu.
A moça percebendo isto, redargüiu dizendo que poderia sim trabalhar, e que se assim não fosse, não faria sentido voltar a estudar.
Argumentou que se ele pretendia casar-se com ela, deveria entender isto, e apoiá-la, ou então seria melhor ela tentar voltar a estudar de outra forma.
Maximiliano ao notar que poderia perder a moça, acabou concordando.
Contrariado, disse que não a impediria de trabalhar, mas que para tanto, precisava estudar, se qualificar e que depois pensariam no que fariam.
Disse que a vida de ambos mudaria bastante, caso ela aceitasse casar-se com ele.
Nisto, o moço perguntou se ela aceitava se casar com ele.
Laura hesitante, pensou um pouco antes de responder.
Nervosa, ao perceber a ansiedade do rapaz, respondeu timidamente:
- S... sim!
Maximiliano ficou exultante.
Nisto a moça o fez prometer que sairiam da fazenda o quanto antes, e que ela poderia estudar e se formar, e poderia trabalhar depois de formada.
Maximiliano sorrindo, concordou com tudo o que a jovem lhe pedia.
Feliz, o moço acrescentou que iria conversar com seus pais, e depois iria até a casa da moça para pedir oficialmente sua mão.
Desta forma, segurou as mãos da moça.
Aproximou-se dela e a beijou.
Laura aceitou o beijo e correspondeu a ele.
Maximiliano, percebendo isto, ficou feliz.
Sorrindo para ela, disse-lhe que ela não se arrependeria de ficar ao seu lado.
Comentou que faria da existência de ambos algo muito belo. Todos os dias seriam dia dos namorados para ele e para ela.
Laura sorriu. Não pelas palavras do moço, mas pela possibilidade de mudar de vida.
Sorriu para o moço, que retribuiu o gesto com outro sorriso.
Despediram-se.
Luciana Celestino dos Santos
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