Roberta, perseverou em seu intento de cuidar de Leonardo.
Ajudava-o a caminhar por seu apartamento, lembrava-lhe dos remédios a serem tomados.
Por conta das lesões, o moço fora afastado de seu trabalho.
Roberta não descuidava dos cuidados com Leonardo.
Contudo, a certa altura, a moça começou a sentir saudades de André.
O moço por sua vez, passou a procurá-la. Não aceitava e não compreendia o fato de Roberta havê-lo deixado.
Em certa ocasião, encontrou a moça conduzindo Leonardo pela Praça da República.
Enquanto o rapaz permanecia sentado em um canto, André chamou-a para uma conversa.
Implorou para que voltassem. Contou que sentira sua falta e que não entendia a separação. Argumentou que o que Roberta sentia era piedade.
A moça por sua vez, respondeu que gostava do marido.
André, ao ouvir a palavra gostar, mencionou que gostar não era amar.
Roberta tentou desconversar, mas o moço não aceitou suas desculpas.
Contudo, como a mulher insistisse para que fosse embora, André ficou desolado.
Afastou-se.
Mohamed, depois de algumas semanas, aportou no Brasil, acompanhado de sua avó Samira.
Josie, ao ver o grupo, perguntou de Fabrício.
Mohamed comentou que ele chegaria mais tarde.
Nisto a moça convidou o rapaz e a senhora para passearem pela cidade de São Paulo.
Josie caminhou com eles pela Avenida Paulista, mostrou-lhes o Parque Trianon, o MASP.
Em outro passeio, visitaram o centro velho, o Vale do Anhagabaú, o Teatro Municipal, o Páteo do Colégio, o Solar da Marquesa de Santos, o Prédio do Banespa.
Samira admirou-se com os decotes das mulheres.
A muçulmana, usando túnica e véu, também chamou a atenção dos passantes.
Sua aparência se afigurava exótica na paisagem paulistana.
Com efeito, o grupo que seguiu Mohamed e Samira, ficaram hospedados no mesmo hotel.
Josie propôs hospedagem para o rapaz e a senhora, mas ele recusou a proposta.
Disse que não ficava bem, ficar hospedado na casa dela.
A moça aceitou a posição do jovem.
Dias depois, Mohamed, acompanhando a moça em um jantar, ofereceu um exuberante anel de brilhantes.
Josie e Mohamed, comeram um medalhão ao molho madeira.
Bebericaram um vinho tinto.
Após a refeiçao, o muçulmano pediu a jovem em casamento.
Josie, ao ver a jóia em seu dedo, sentiu um arrepio.
Sua expressão era de apreensão.
Mohamed, percebendo a tensão da moça, perguntou-lhe se estava bem.
Josie perguntou-lhe se havia realmente necessidade de se casarem.
O jovem muçulmano espantou-se com a pergunta. Indagou se ela não gostaria de casar-se com ele.
Mohamed respondeu que estava seguindo os ritos de sua cultura.
Josie respondeu-lhe que noivados lhe traziam más recordações. Comentou que já havia passado uma situação semelhante, sem final feliz.
Mohamed notando que a jovem falava de seu antigo namorado, salientou que ele não estava nem um pouco interessado em morrer.
Brincando, disse que precisou esperar muito tempo para encontrar uma pessoa especial, para se separar dela.
Josie aborreceu-se com a brincadeira.
Respondeu magoada que Olavo não planejou sua morte, e que ela chegava sem aviso.
O moço então, tentando consolar a moça, comentou que entendia sua preocupação e que podia imaginar seu sofrimento. E, dizendo que estava enciumado, aconselhou-a a não pensar mais nisto.
Segurando suas mãos, disse que estava tentando fazer as coisas da forma como entendia serem corretas.
Prometeu que o casamento seria um evento especial, e que ela seria muito feliz ao seu lado.
Com isto, insistiu para que ela aceitasse o enlace.
Josie concordou.
Quando Samira soube da novidade, parabenizou o neto.
Mais tarde, ele e Samira, acompanharam Josie em um almoço.
Samira, desacostumada com os hábitos alimentares ocidentais, estranhou bastante a culinária brasileira.
Josie comentou que sentiu o mesmo estranhamento com os pratos árabes. A despeito de os acharem deliciosos.
Dias mais tarde, Fabrício chegou ao Brasil.
Visitou a moça.
Mohamed foi buscá-lo no aeroporto.
Com efeito, ao rever Josie, Fabrício foi informado que a moça estava noiva de Mohamed.
Samira por sua vez, comentou que precisavam fazer uma festa para celebrar o noivado.
Fabrício respondeu que aquela circunstância o fazia se recordar de seu casamento com Cecília.
Ao ouvir o nome, Josie respondeu novamente que este era o mesmo nome de sua avó.
Curioso, o homem comentou que ela já havia falado de uma parente com este nome. Perguntou-lhe se realmente não sabia detalhes sobre a mulher.
Josie respondeu que não sabia nada sobre ela. Nem sabia ao certo se Cecília seria de fato sua avó, ou teria outro grau de parentesco.
Fabrício perguntou-lhe se sabia a origem da mulher.
Josie respondeu que ela era uruguaia, já que seus pais, eram naturais daquele país.
Fabrício ao ouvir a palavra uruguaia, ficou surpreso. Por um momento pensou que estava diante de uma familiar.
Trêmulo, perguntou a moça, seu sobrenome.
Jose respondeu que era Andrade Camargo.
Emocionado, Fabrício perguntou-lhe seu nome completo.
Estranhando a pergunta, ainda assim, a moça respondeu que chamava-se Maria Josefa Andrade Camargo.
Fabrício indagou sobre o nome de seus pais.
- Carolina Andrade Camargo e Heitor Dias Camargo. Uruguaios, se conheceram no país. Casaram-se e mudaram-se para o Brasil.
Fabrício ficou perplexo.
Comentou que durante anos, gastara dinheiro com detetives, ávidos por descobrir o paradeiro da única filha que tivera com Cecília.
Explicou-lhe que sua filha Carolina, casou-se com um moço de nome Heitor, de idéias revolucionárias e mudou-se com o marido para outro país. Rumaram para o Brasil.
Fabrício relatou que descobriu que o casal se estabeleceu no país, depois do moço se envolver com questões políticas no Uruguai. O homem comentou que Heitor, começou a ser visado por suas opiniões políticas, bastante conhecidas.
No Brasil, perdera o contato com a moça. Disse que precisou vender sua propriedade no Uruguai, e que depois da mudança do casal para o país, nunca mais tivera contato com eles. Mencionou que a esposa se ressentiu do fato, e que morrera sem conseguir rever a filha.
Ao proferir estas últimas palavras, o homem ficou visivelmente emocionado.
Mohamed ao perceber isto, abraçou o amigo.
Samira providenciou um copo com água.
Com isto, mais calmo, Fabrício retomou a conversa.
Samira recomendou que deixasse o assunto para mais tarde.
Fabrício contudo, insistiu para continuar.
Josie perguntou então, se fazia muito tempo que Cecília falecera.
O homem respondeu que já fazia quase dez anos.
Curioso, perguntou a jovem sobre Carolina e Heitor.
Josie por sua vez, respondeu emocionada, que eles haviam falecido a cerca de quatro anos.
Ao ouvir isto, homem caiu em prantos.
A moça por sua vez, percebendo a tristeza do homem, sentiu correr lágrimas de seus olhos.
Samira, percebendo que Fabrício e Josie precisavam ficar a sós, pediu licença, e acompanhada de Mohamed, retirou-se da sala.
Nisto o homem comentou que sempre que descobria alguma pista sobre o casal, Carolina e Heitor mudavam de endereço. Argumentou que neste meio tempo, descobriu que o casal teve uma filha, mas não sabia o seu nome.
Josie comentou que eles sofreram um acidente de carro. Triste, comentou que Olavo falecera de forma muito semelhante aos pais.
Fabrício ao ouvir as palavras da moça, disse:
- Pobre moça! Tão sozinha no mundo. Mas agora você não está mais sozinha! Você vai ser feliz ao lado de seu jovem árabe, como eu fui ao lado de Cecília.
Ao ouvir isto, o semblante de Josie se iluminou.
Nisto Fabrício comentou que mesmo ao perder o contato com a filha, não deixou de viver momentos felizes ao lado da esposa.
Comentou que a moça fora casada com seu irmão mais velho, já falecido, e de nome Pedro. Mencionou que do primeiro casamento de Cecília havia Eli e Francisco. Casados, pais de filhos adultos já casados, e avós.
Curiosa, Josie perguntou-lhe por que saiu do Uruguai.
Fabrício contou-lhe então que rumara para o país com Cecília, para poder se casar com a moça, já que no Brasil não havia divórcio. Casaram-se na Argentina e viveram no Uruguai. O homem contou ainda, que precisou se afastar da família para poder viver com a moça.
Explicou que sua mãe entendeu que ele agia daquela forma movido pelo amor que sentia pela mulher. Seu pai, porém, nunca aceitou a união.
Fabrício comentou pesaroso, não conseguiu se despedir dos pais. Morreram sem que ele tivesse tempo para uma última despedida.
Dias depois, Josie acompanhou Fabrício até o cemitério.
O homem mostrou a moça os jazigos das famílias Camargo e Andrade.
Fabrício falou-lhe sobre a mãe, Angélica; sobre sua avó, Ângela.
Contou a moça sobre a história da família.
Josie, ao término da visitação ao cemitério, comentou que já havia passado por aquelas quadras, sem nunca imaginar que aquelas pessoas ali enterradas, poderiam ser seus parentes.
Fabrício brincou com a moça, dizendo-lhe que o passado batia a sua porta.
Josie achou graça.
Contou-lhe que Cecília no Uruguai, recebeu visita dos pais Eleanor e Irineu. Que eles, com o tempo, acabaram aceitando a nova família, e a filha do casal, Carolina.
Fabrício lamentou-se por não haver conhecido a neta a mais tempo.
Josie por sua vez, mostrou-lhe o túmulo de seus pais.
Mais tarde, a moça mostrou-lhe fotos dos pais. Do casamento.
Fabrício ao ver as fotos, falou a moça que também fora fotografado no casamento. E assim, indicou para Josie onde estava, e quem era Cecília.
A jovem ficou encantada ao conhecer, ainda que pelas fotos, a imagem de sua avó.
Fabrício comentou que nesta época, ela devia ter uns cinqüenta anos. Era final dos anos setentas.
Fabrício indicou onde seus tios Eli e Francisco estavam.
Irineu e Eleanor também compareceram ao casamento da neta.
Foi uma tarde de rememorações, de lembranças.
Josie ouvia a tudo encantada.
Conheceu a história da bisavó Angélica e de suas desventuras amorosas.
Descobriu pela boca de Fabrício, que Carlos tinha ciúmes do primeiro namorado de Angélica, um tal de Herculano. Fabrício lhe contou que os primeiros tempos de casada não foram fáceis.
Carlos era um homem extremamente possessivo.
Josie, ao ouvir os relatos de brigas do casal, ficou espantada.
Admirou-se em saber pelo que as mulheres passavam.
Fabrício comentou ainda, que apesar das dificuldades de início, Angélica foi feliz com Carlos.
Durante a noite, com a cabeça repleta das imagens que construíra para um passado que desconhecia, a moça sonhou.
Sonhou com Cecília e seu avô Fabrício.
Por um instante, teve a sensação de tê-los diante de si.
Viu-se diante de uma luxuosa mansão em um lugar que desconhecia.
Na noite seguinte, sonhou com Angélica. A moça parecia se preparar para encontrar-se com um pretendente.
No momento a seguir, a jovem, vestida como uma melindrosa, estava conversando com um rapaz, no qual parecia muito interessada.
Em seguida surgiu um outro rapaz, nervoso, ávido por explicações.
Quando Josie comentou os sonhos com Fabrício, o homem pediu-lhe detalhes dos sonhos.
A moça respondeu então, a cada pergunta do avô.
Fabrício por sua vez, ao ouvir as respostas, ficou tomado de espanto.
Isto por que, Josie explicava com detalhes a decoração da casa em que ele vivera no Uruguai, detalhes da mansão em que Angélica morou antes de se casar com Carlos.
Josie parecia segura em explicar os detalhes.
Fabrício curioso, perguntou-lhe se Carolina havia lhe contado detalhes de como era a mansão no Uruguai.
A moça respondeu-lhe então, que sua mãe evitava falar de seu passado. Razão pela qual não conhecia a história de seus ancestrais. Contudo, às vezes, aparentemente tomada pela saudade, a mulher comentava que morou numa bela casa no Uruguai.
No entanto, não revelava detalhes.
Mohamed também ficou impressionado com o detalhe das respostas da moça. Respondeu que aquela precisão com que mencionava os detalhes decorativos, era típica de quem havia habitado aquelas moradas.
Fabrício surpreendeu-se com as palavras do amigo.
Mohamed respondeu-lhe que os antigos egípcios acreditavam que havia outra vida depois da morte.
Fabrício argumentou que aquilo o muçulmano lhe dissera, mais parecia doutrina sobre a reencarnação, do que uma teoria sobre a vida eterna.
Ao ouvir isto, Mohamed perguntou-lhe se acreditava em reencarnação.
Fabrício respondeu-lhe que não acreditava em religião.
Ao ouvir isto, Mohamed respondeu:
- Isto vai mal. Isto vai mal.
Samira perguntou a moça se já havia sonhado com aqueles lugares antes.
Josie respondeu que não.
Com isto, a jovem continuou a sonhar com pessoas, lugares e propriedades que não conhecia.
Aflita com estes sonhos, a moça resolveu se submeter a uma terapia.
Não sob protestos de Mohamed e Fabrício, os quais consideravam aquilo tudo uma bobagem.
Josie porém, argumentou que nos últimos tempos não vinha conseguindo dormir direito em virtude daqueles sonhos, os quais, após os relatos de Fabrício, se tornaram recorrentes.
E assim, a moça se submeteu a terapia.
Durante a sessão, a moça se viu jovenzinha, sonhadora, admiradora de filmes mudos e de seus astros.
Se viu encantada com os filmes de Rodolfo Valentino, Theda Bara, Douglas Fairbanks, entre outros.
Percebeu que possuía uma predileção especial por Valentino.
Possuía duas amigas, de nome Lúcia e Cláudia.
Na cena seguinte, se viu conversando com o mesmo moço com quem sonhara.
Ao perceber isto, Josie ficou perplexa.
Descobriu que o nome do rapaz era Herculano.
Constatou que fora muito apaixonada pelo rapaz, mas ele a abandonara.
O terapeuta perguntou-lhe o porquê da separação.
Josie explicou-lhe que via Herculano, um rapaz de nome Carlos e seu pai - Francelino.
Contou ao terapeuta que via seu pai e Carlos tomando satisfações com o moço. Relatou que Carlos deu uns safanões em Herculano, que saiu correndo.
Mencionou que nunca mais tornaram a se ver.
Josie relatou que se chamava Angélica, e que sofrera muito com o sumiço de Herculano.
Raivosa, teve dificuldades em aceitar Carlos como seu noivo, e posteriormente como seu marido.
O terapeuta lhe fez mais algumas perguntas.
Josie respondeu que demorou, mas acabou aceitando Carlos como marido.
Disse-lhe que aprendeu a amá-lo.
Enquanto as imagens se apresentavam como um filme, Josie comentou que se lamentava da ausência de seu filho Fabrício, e que Pedro havia optado por viver uma vida dissoluta. Contou chorando que Pedro morrera sozinho, e que nunca mais viu Fabrício. Argumentou que Carlos era muito duro com o filho.
Mencionou o recebimento de cartas de Fabrício, as quais recebia longe dos olhos de Carlos, relatando que se entendera com Cecília. Que casaram-se. Ficou feliz ao saber que o casal tivera uma filha. A qual lamentavelmente, não pode conhecer.
Com isto, ao dizer que a moça chamava-se Carolina, foi despertada pelo terapeuta.
Ao despertar, Josie ficou surpresa.
Perplexa, perguntou ao terapeuta se fora avó de sua mãe.
O homem respondeu-lhe que a vida era um ir e vir sucessivo, e que as águas de um rio, não permaneciam estagnadas.
Argumentou que o mundo é devir, é movimento, mudança.
Razão pela qual, em uma encarnação, alguém que fora pai, avô, bisavô, trisavô de outrem, poderia perfeitamente retornar como filho, neto, desta pessoa.
Percebendo a incredulidade da moça, o terapeuta disse-lhe para que refletisse sobre a sessão.
Mencionou que o tempo lhe daria as respostas que faltavam e que veria tudo se encaixar perfeitamente, como se fora um jogo de quebra-cabeça.
Com isto, o homem perguntou a Josie, por que se interessara em realizar sessões da terapia.
A moça repetiu-lhe a história dos sonhos recorrentes.
O terapeuta respondeu-lhe isto, ela havia lhe dito no começo da sessão.
Josie, ao ouvir tais palavras, ficou pensativa.
Depois de algum tempo, respondeu que gostaria de entender seu passado. Revelou que fizera as sessões mais por curiosidade, do que por qualquer outro motivo. Relatou que gostaria de saber mais sobre sua família.
Perplexa, relatou que não esperava descobrir que fora uma dessas pessoas.
O terapeuta elogiou-lhe a coragem.
Josie respondeu-lhe que não era um ato de coragem e sim uma questão de entendimento.
Nisto a moça despediu-se do terapeuta.
Conversou tempos depois com Fabrício, a respeito da terapia.
Josie comentou que precisou realizar cinco sessões para finalmente conseguir ver algo.
Relatou que depois de uma certa insistência, conseguiu descobrir e entender algumas coisas.
Fabrício perguntou-lhe sobre a sessão, mas Josie respondeu que ainda não poderia lhe contar detalhes da mesma.
O homem entendeu.
Mais tarde, ao submeter-se a uma nova sessão, Josie reviu-se criança, adolescente e adulta.
Reviu-se feliz ao lado de Olavo.
Reviu cenas vividas ao lado do moço.
Recordações que lhe faziam sorrir.
Em dado momento, relembrou-se do falecimento do rapaz.
Viu o carro do moço.
Desesperou-se.
O terapeuta, ao ver a jovem em prantos, pediu para que se recordasse das semanas seguintes.
Josie recordou-se do tempo de luto, da tristeza, do rompante que tivera, pedindo ao chefe para viajar a trabalho para o Egito.
A partir daí, relembrou-se do encontro com Fabrício, a relação conflituosa com Mohamed, a amizade com Samira.
Josie, envolvida em recordações, comentou com o terapeuta, que relembrar-se daquelas imagens, a faziam se recordar do passado.
O terapeuta, percebendo o estado de confusão da moça, pediu para que ela se recordasse de tudo com calma.
Josie então, tentando concatenar suas idéias, disse que o comportamento gentil de Olavo, a faziam se recordar das maneiras românticas de Herculano.
Pensando um pouco mais, veio a sua mente, a idéia de que Mohamed era bastante parecido com Carlos.
O terapeuta então, perguntou-lhe o porquê daquela associação.
Josie, em seu transe, comentou sentir que havia um plano para tudo o que acontecera em sua vida, e que a vinda de Olavo e Mohamed, não foram aleatórias.
Confusa, Josie não conseguia detalhar mais a situação.
Circunstância que fez com o terapeuta, pedisse auxílio do mentor da jovem.
Nisto, ao término da sessão, o homem disse-lhe para que despertasse.
Josie, ao despertar, olhou espantada para o terapeuta.
O homem perguntando-lhe se ela se lembrava do que havia acontecido, fez com que Josie se atentasse aos detalhes da sessão. Explicou-lhe que havia de fato um plano em sua vida, e que a chegada dos dois homens, faziam parte de um plano maior, de resgate de dívidas pretéritas.
Josie ouvia a tudo atentamente.
O terapeuta, explicou-lhe conforme o que dissera o mentor, Josie havia se envolvido com os homens em outra encarnação, e em outra circunstância.
Herculano, por haver lhe abandonado, precisou passar pela experiência de perdê-la para outro rapaz, que em outra encarnação, foi seu marido, Carlos.
Carlos por sua vez, encarnado como Mohamed, agressivo, tentando aprender a domar seu temperamento irascível.
Josie neste momento, perguntou ao terapeuta por que Olavo havia morrido de forma tão violenta.
O homem respondeu que também tratava-se de um resgate de um débito não só com Josie, mas todas as outras pessoas que magoou, e com um rapaz, de quem acidentalmente tirou a vida, em um acidente de carro, em circunstâncias semelhantes.
Josie argumentou que ela também sofreu com a separação.
Ao ouvir isto, o terapeuta sorriu. Argumentou que sem o afeto sincero, Olavo não teria o conhecimento do que era ser amado, e também amar. Era necessário o encontro. Mencionou que não cabia questionamento dos planos criados do alto, mas que existe a possibilidade de escolha.
Contudo, aquilo que nos é destinado, é endereçado para nós, e fugindo da prova, haverá necessidade de novamente passar pela mesma experiência, prolongando o sofrimento.
Nisto, o homem perguntou-lhe se estava bem.
Josie balançou a cabeça afirmativamente.
O terapeuta, falou-lhe que estava liberada das sessões.
Mencionou que estava satisfeito com os resultados. Relatou que ela tivera o raro privilégio de retornar ao passado e fazer as pazes com ele, com vistas a construir novas bases para o futuro. Recomendou-lhe que não se lamentasse do passado que tivera, nem nesta, nem em qualquer outra vida. Relatou que tudo faz parte de um longo processo de aprendizagem a que todos estão submetidos. Não há como escapar.
Disse-lhe que sabia da tristeza da moça por haver perdido os pais de maneira inesperada, e que Olavo estava bem.
O homem respondeu que seu mentor revelara que em uma nova vinda a Terra, Josie retornaria em melhores condições, se atendesse aos reclamos de evolução e aprimoramento, aprendendo a se conciliar com Mohamed, e ensinando-lhe a ver a vida de forma menos radical.
Falou-lhe que teria a oportunidade de neste momento, conviver com os seus, e resgatar bonitas histórias de seu passado.
Argumentou que o passado, faz parte de nossas vidas, assim como o presente, e os planos que fazemos para o futuro.
Josie agradeceu o homem, que por fim, liberou-a.
Disse que não havia necessidade de retornar mais.
Mais tarde, conversando com Fabrício, a moça contou-lhe detalhes das sessões.
Relatou a angústia por não obtido êxito nas primeiras sessões.
Contou-lhe os progressos sentidos nas sessões seguintes.
Relatou que após os insucessos sucessivos, o terapeuta recomendou-lhe que não ficasse tão ansiosa com a terapia. Que pensasse em coisas diferentes, que procurasse ficar tranqüila.
Josie comentou que recordou-se da história que Fabrício lhe contou sobre Cecília, de sua música preferida.
A moça contou que nestes momentos, se recordou da música e começou a ouvi-la em seu coração. Relatou que a canção nunca mais seria esquecida por ela.
Fabrício, ao ouvir as delicadas palavras proferidas por Josie, ficou visivelmente emocionado.
Com o passar do tempo, Mohamed disse-lhe que estava há muito tempo longe de sua casa, e que precisava retornar ao país, para administrar seus negócios.
Conversando com a moça, perguntou-lhe sobre o casamento.
Josie respondeu que havia voltado a trabalhar com Medeiros, e que não poderia deixar o emprego de um momento para outro.
Mohamed, um pouco contrariado, procurou entender.
Josie então, explicou-lhe que pretendia continuar trabalhando, mas sabia que precisaria fazê-lo em outro país.
Mohamed concordou em esperar que a moça pedisse demissão ao homem, que se despedisse de suas amigas. Enfim, que regularizasse sua situação para retornar ao Egito.
Disse-lhe que ela poderia providenciar tudo o que precisasse com calma. Pediu apenas para que não demorasse muito.
Nisto, o moço retornou ao Egito, com sua avó, Samira.
Enquanto isto, a certa altura, Roberta decidiu ter uma conversa definitiva com Leonardo.
Dizendo-lhe que estava cansada de agüentar suas ofensas, respondeu-lhe que estava tentando se desculpar por todo o mal que lhe causara. Argumentou que não tivera a intenção de ofendê-lo, e que só não comunicou sobre sua relação com André, por que não conseguia se comunicar com ele.
Falou-lhe que era uma pessoa impulsiva, mas que ele também não era uma pessoa fácil.
Leonardo retrucou dizendo que um casamento não era composto apenas de momentos felizes.
Roberta concordou.
- De fato, a coisa que eu menos venho tendo nos últimos meses, são momentos felizes! Lamento dizer, mas ultimamente, só tenho tido aborrecimentos.
Leonardo, ao ouvir isto, ficou chocado.
Argumentou não haver pedido para que ela cuidasse dele.
Roberta concordou. Respondeu-lhe que de fato, havia ficado todo este tempo cuidando dele, sacrificando inclusive seu emprego, posto que havia pedido licença, por sua própria iniciativa.
Retrucou porém, que estava de fato cansada.
Leonardo por sua vez, disse-lhe que ela estava sempre enfastiada, e que agora seria muito cômodo, abandoná-lo, como já fizera uma vez.
Roberta, ao ouvir estas palavras, ficou furiosa.
Mencionou que nunca o abandonou, e que quem havia saído bruscamente de sua vida, arriscando-se inclusive a morrer para cobrir uma guerra estúpida, não fora ela.
Ressalvou que assim, como não o abandonara da primeira vez, não o faria desta.
Contudo, não estava mais disposta a continuar casada com ele.
Com isto, dirigiu-se a um dos quartos e começou a arrumar seus pertences. Retirou do armário: roupas, sapatos, acessórios, produtos de beleza, etc.
Leonardo, que caminhava com dificuldade e que havia sofrido séria perda de visão, foi até o quarto onde a moça estava.
Ao perceber que a moça arrumava suas malas, perguntou-lhe se iria mesmo embora.
Roberta respondeu afirmativamente.
Leonardo, percebendo isto, perguntou a ela, quem chamaria para auxiliá-lo.
Roberta respondeu que ele não precisaria se preocupar, pois teria uma enfermeira para auxiliá-lo.
O rapaz, ao ouvir isto, tentou segurar no braço da moça. Aflito, pediu para que ela não fosse embora.
Roberta, ao ver o moço diante de si, convalescente, penalizou-se.
Por um momento vacilou.
Mas, recordando-se das palavras de Josie, encheu-se de coragem e respondeu:
- Lamento! Mas não posso permanecer aqui. Nossa convivência não é boa. Só vivemos amargurados um com o outro. Isto não é bom para mim, e tampouco para você, que precisa de paz para se recuperar... Me desculpe por isto. Desculpe-me por tudo o que você acha que eu fiz de errado. Mas eu acredito que se possuía algum débito com você, todos estes meses em que passei a seu lado, procurando de todo o coração ajudá-lo, me redimiram das minhas faltas. Se não de todas, ao menos de grande parte delas.
Nisto a moça beijou o rosto do homem.
Disse-lhe que gostava muito dele e que ele era alguém por quem tinha muita admiração e ótimas lembranças. Afirmou que nunca se esqueceria dele.
Antes de sair do apartamento, falou-lhe que gostaria muito de ser sua amiga, mas entenderia se ele nunca mais quisesse vê-la.
E assim, Roberta, deixou Leonardo sozinho no apartamento.
Cuidadosa, contratou os serviços de uma enfermeira. Informou-lhe tudo o que precisava fazer.
Mas Leonardo preferia a companhia de uma pessoa amiga.
Contudo, como Roberta não estava mais disposta a conviver com sua amargura.
E assim, Leonardo teve que aceitar os cuidados de uma enfermeira.
Tempos depois, já caminhando sem o auxílio de uma muleta, o jovem foi adaptado a função de redator. Continuou a sua atividade jornalista produzindo editoriais, mas não pode mais realizar reportagens externas.
Com o tempo, passou a ter uma vida independente.
Vivia sozinho.
Tempos depois, acabou arrumando uma namorada.
Roberta por sua vez, foi ao encontro de André, e desculpando-se, explicou ao moço que precisava ajudar Leonardo, ou não conseguiria viver em paz.
André, aceitou suas desculpas.
Mas disse-lhe que não inventasse mais nenhum motivo para se afastar dele.
Roberta sorriu e abraçou-o.
Tempos depois, casaram-se.
Já divorciada de Leonardo, a moça casou-se com André.
Leonardo, acompanhado de sua namorada, acompanhou o casamento da ex-mulher.
Para surpresa de todos, chegou até a cumprimentá-la.
Conversando a sós com a moça, desejou-lhe muitas felicidades.
Cumprimentou o noivo também.
Quando Josie soube do casamento e de que Roberta havia se acertado com Leonardo, ficou deveras contente.
Com efeito, quando a moça retornou ao Egito, Mohamed a aguardava ansioso.
Aflito, reclamou de sua demora para retornar ao país.
Josie por sua vez, antes de retornar ao Egito, acompanhou Fabrício em sua viagem ao Uruguai.
Lá, o homem mostrou a mansão onde viveu ao lado de Cecília durante os primeiros anos de casados.
Rumando para a capital do país, Fabrício mostrou a moça a casa onde viveu parte de seus anos de casados.
O homem apresentou a jovem aos filhos de criação, Eli e Francisco.
Emocionado, Fabrício disse-lhe que eram seus filhos de coração.
Contou aos moços que Josie era filha da irmã deles. De Carolina.
Os homens, ao saberem disto, perguntaram da irmã.
Nisto, quando souberam que ela e o marido faleceram anos antes, Eli e Francisco se lamentaram.
Disseram que não tiveram nenhuma chance de se despedirem da moça.
Por fim, a dupla se despediu da família e rumou para a África.
Durante a viagem, o homem respondeu que realizou um testamento, deixando parte de seus bens para Josie.
A moça, ao ouvir isto, respondeu que não estava interessada em seu patrimônio.
Fabrício por sua vez, protestou.
Argumentou que deixaria parte dos bens para ela, concordando ou não. Comentou que Eli e Francisco não ficariam desamparados, posto que haviam recebido a herança da mãe, e que também receberiam metade de sua herança.
Argumentou que não aceitaria recusas.
Completou dizendo que estava velho, e que não havia mais tempo para fazer cerimônias.
Razão pela qual estava realizando tudo o que tinha vontade, em seus últimos anos.
Relatou que não gostaria de deixar nada pela metade, e tampouco partir com a sensação de que poderia ter feito mais.
Mais tarde, ao chegar no aeroporto, e ao vê-la saindo pelo portão de saída, Mohamed abraçou-a e levou-a para casa.
Ao chegar em sua casa, a moça foi recebida por Samira, e pela criadagem.
Samara felicitou-a pelo noivado.
Com isto, Samira organizou um almoço especial, em comemoração ao futuro casamento do neto.
Com isto, foi formalizado o katb al-kitab - o contrato formal do casamento -, quando então Josie recebeu o shabka – presente – de Mohamed.
Presente este, consistente em muitas jóias em ouro e diamantes.
O moço, ao presentear-lhe com as jóias, comentou que eram o seu dote.
Argumentou que como não poderia discutir o valor do dote com os pais da moça, conversou com sua avó e chegou ao consenso de Josie deveria receber a maior quantidade de jóias possível.
Com isto, argumentou que tudo o que oferecia era pouco para ela, mas que aos poucos ela iria aumentar a quantidade de jóias que iria ter.
Mohamed comentou que as mulheres podiam ser muito pobres, mas estavam sempre ornamentadas de jóias, as quais funcionavam como uma espécie de seguro, em caso de necessidade.
Nessa ocasião, foi oficializado o noivado, com a leitura da fatihah, capítulo de abertura do Corão.
Mohamed, que já era dono do imóvel em que morava, perguntou a Josie, se ela gostaria de modificar algum detalhe da decoração.
O moço, ao ver a moça constrangida, comentou que ela poderia colocar uma poltrona, ou qualquer móvel ocidental, que achasse necessário. Disse que se a moça quisesse, poderia modificar toda a decoração da casa.
Brincando, disse que a família da mulher, competia cuidar destes detalhes.
Em seguida, Samira se ocupou dos preparativos da festa.
Samira escolheu os doces e os enfeites que iriam guarnecer as mesas, e encher os olhos dos convidados.
Mohamed providenciou uma carruagem para transportar a moça.
Quando finalmente chegou o dia do casamento, Josie, usando um longo vestido branco e um bonito véu repleto de pedrarias, foi conduzida a um carro todo ornamentado de flores variadas e fitas coloridas.
A festividade começou com uma procissão na rua, denominada saffa, na qual são utilizados tambores, tamboris e trompetes, produzindo uma música com muito ritmo e energia.
Josie por sua vez, achou tudo muito curioso.
Samira durante as semanas que antecederam o casamento, explicou-lhe os costumes e detalhes das cerimônias de casamento no Egito. Disse-lhe que estava ingressando em um outro mundo, diferente do que estava acostumada.
Nisto, as mulheres passaram a emitir um grito característico, o zagharit, como um trinado.
Som que se obtém ao se agitar rapidamente a língua.
Em seguida, a frente da procissão, vieram músicos e dançarinos, vestidos com roupas brancas e vermelhas.
As damas de honra, em número de doze, vestiam-se com roupas brancas e carregavam candelabros adornados com fitas e flores.
Marcharam ao lado dos noivos, seis de cada lado.
Ademais, uma menina ricamente vestida, à frente da zaffa, jogou pétalas de rosas vermelhas sobre os noivos.
Fizeram um pequeno percurso a pé, até o local da recepção.
Lá, o casal trocou cumprimentos com os convidados, que os felicitaram pelo matrimônio, para em seguida, se dirigirem à kosha.
A kosha, não é nada mais, nada menos, do que uma poltrona prateada com grinaldas de flores, no alto de uma plataforma, utilizada para uma melhor vista do salão e dos convidados.
Josie, ao lado de Mohamed, apreciaram a elegância do salão, as danças, e a cantoria.
Músicos utilizaram-se do al oud, de sonoridade exótica para uma Josie, que aos poucos, parecia se acostumar com as melodias.
Josie acompanhou uma apresentação de dança do ventre.
Usufruíram de um rico salão e de muitas comidas típicas da região.
Samira orientou os empregados na elaboração do cardápio.
Cuidou dos detalhes de um imenso bolo de casamento.
A festa durou três dias, e a cada dia, Josie trocou o vestido.
Fabrício, ao ver a moça se preparando para o matrimônio, desejou-lhe toda a felicidade do mundo. Comentou que fazia votos para que ela fosse tão feliz em seu casamento, quanto ele o fora no dele.
Josie prometeu que faria o possível para fazer daquela união, um momento feliz em sua vida.
Abraçou o homem que admirava, e chamou-o de avô.
Com isto, após a recepção, os noivos passaram juntos a lailat al-dokla - a primeira noite -, em um hotel do Egito.
Mohamed explicou a moça, que era de mau agouro passar a primeira noite na mesma casa que foi dos pais.
Com isto, devidamente orientada por Samira, Josie presenteou o então marido, com um bonito pijama de seda, e ela recebeu mais uma peça de jóia do moço.
Josie, ciente dos costumes egípcios, confidenciou ao moço, que ele não poderia esperar dela, o mesmo padrão de comportamento das mulheres egípcias. Argumentou que não nascera no país, e que portanto não tinha obrigação de seguir aquela cultura.
Mohamed, ao perceber o que a jovem estava tentando lhe dizer, comentou que ao escolhe-la como esposa, sabia que estaria abrindo mão de uma série de preceitos inerentes a sua cultura.
Com efeito, num raro gesto de compreensão e brandura, o homem respondeu que assim como ela, não era uma pessoa desprovida de esclarecimento e sabia que não poderia exigir dela, o mesmo que seria exigido de uma noiva egípcia.
Mohamed por fim, disse-lhe para que não se preocupasse com nada.
Com isto, tomou a moça nos braços. Beijou-a.
Depois, olhando-a nos olhos, disse-lhe que não se importava com o passado da moça, pois estava preocupado com o futuro que tinham a sua frente.
Respondeu que os homens que passaram por sua vida, viveram o seu passado, e que ele viveria o futuro com ela.
Lucineide e Roberta, acompanhada de André, acompanharam o casamento.
Josie antes de se casar, sonhou com Olavo dizendo-lhe que fosse feliz.
Impressionada com o sonho, Josie relatou o fato as amigas.
Fabrício também tomou conhecimento da história.
Receoso, orientou Josie a não comentar o sonho com Mohamed. Argumentou que ele poderia não entender.
Josie prometeu que não falaria sobre Olavo na presença de Mohamed.
E assim, o casal foi feliz, durante o breve instante das felicidades momentâneas, mas freqüentes.
Tiveram seus momentos de alegria, outros de tristeza.
Sofreram perdas como a de Fabrício, e de Samira.
Mas também construíram juntos uma família.
Sara e Ester, se tornaram as jóias preciosas de Josie, que sempre ganhava algum presente do marido.
Samira e Fabrício por sua vez, tiveram tempo de conhecer as crianças, antes de falecerem.
Josie passou a trabalhar para um jornal egípcio. Fazia matérias sobre comportamento.
De vez em quando retornava ao Brasil, onde revia os amigos, como Medeiros.
Um dia, visitou a vinícola pertencente a família de Olavo.
Mostrou ao casal Otaviano e Vilma, as filhas e seu marido, um egípcio de nome Mohamed.
Vilma por sua vez, contou-lhe que Otávio vinha tocando a vinícola e estava casado.
Um pouco consolada, comentou que já tinha netos.
Mencionou que os meninos eram a luz de sua vida.
Emocionada, comentou que um deles lembrava muito o jeito de Olavo, e que se não fossem aquelas crianças, já não veria mais sentido na vida.
Josie comovida abraçou-a.
Disse-lhe que Olavo estava bem, que não tinha nenhuma dúvida disto.
Mais tarde, Josie e sua família despediram-se do casal.
A mulher, comentou que agora vivia no Egito e quando podia, retornava ao Brasil.
Vilma por sua vez, disse-lhe que gostaria de continuar a ter contato com a moça.
Josie deixou-lhe então seu email e telefone.
Mais tarde, Josie e sua família seguiram para o Uruguai.
Lá, a moça reviu seus tios Eli e Francisco, além de seus primos.
Juntos, choraram a morte de Fabrício, que ao falecer, teve o corpo trasladado para o Uruguai.
Nesta época, Josie também foi ao Brasil visitar o túmulo dos pais, e das famílias Andrade e Camargo.
Comovida com os relatos de Fabrício, a moça resolveu o homenagear o avô escrevendo um livro de memórias.
Com o auxílio dos tios, e do restante da família que conviveu com Fabrício, Josie escreveu um livro.
Cuidadosa, também procurou amigos de seus pais – Carolina e Heitor.
Pesquisou em jornais e biblioteca sobre as famílias Andrade e Camargo.
Quando tornou público o fato, comentou que era um livro sobre a memória de sua família e de algumas pessoas que foram importantes em sua vida.
Conversando com Mohamed, comentou que em todos os jardins haviam flores e espinhos, pedras e barro.
Disse que alguns lugares as flores ficam a poucos centímetros do chão, mas que em outras circunstâncias, se erguem altaneiras em buscar de um melhor abrigo e sem medo de se exporem, procuram um lugar mais alto para exibir todo o seu esplendor.
Conversando com Fabrício e com Samira, tempos antes deles falecerem, Josie comentou com eles a respeito da vida.
Samira comentou que na natureza, se encontravam muitas alegorias para fatos da vida.
Josie concordou.
Nisto, ao ver uma bonita flor desabrochando do alto de uma enorme planta, resolveu intitular seu livro de memórias, com um título que lhe recordava o fato.
FIM.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
sexta-feira, 19 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 40
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 39
Dias depois, Mohamed, acompanhado de sua avó Samira e de Fabrício, levou Josie para conhecer as praias de algumas cidades da região.
Josie, vestiu um maiô ocidental, aconselhada por Fabrício, que recomendou-lhe que não usasse biquíni ou qualquer roupa de praia que pudesse chocar os demais freqüentadores.
Disse que Samira a estaria acompanhado-os, e que os egípcios são muito conservadores.
Com isto, a moça ficou procurando uma roupa de praia que pudesse usar.
Quando Mohamed a viu de maiô e saída de praia, perguntou-lhe se não poderia usar algo mais discreto.
Argumentou que vestida daquela forma, todos ficariam olhando para ela.
Josie retrucou dizendo que não havia nada de mais em sua roupa. Argumentou que todas as ocidentais se vestiam daquela forma.
Samira tentando acalmar os ânimos, disse que a moça estava muito elegante com seu maiô.
Gentil, convidou-a para sentar-se ao seu lado.
Josie por sua vez, comentou que gostaria de entrar um pouco na água.
Com efeito, algumas pessoas ficaram observando Josie com sua roupa de praia.
Mohamed começou a ficar incomodado.
Mais tarde, Josie entrou na água.
Mergulhou, nadou.
Ao sair do mar, convidou Samira para entrar um pouco na água.
A mulher concordou. Ficou alguns minutos no mar.
Samira usava uma túnica longa, até o calcanhar, conhecida como galabeyia.
Fabrício usava um calção de praia, e Mohamed uma sunga.
Ao sair da água, a senhora sentou-se em uma toalha estendida na areia.
Josie se deparou com muitas mulheres egípcias vestidas com aquele traje.
Durante o passeio, o grupo conheceu um casal de estrangeiros.
A mulher aparentava cerca de quarenta anos.
De beleza exuberante, freqüentou a praia de biquíni, atraindo os olhares admirados dos egípcios.
O lugar era Ain Sukhna, perto de Suez, na região do Mar Vermelho.
O marido, um rico empresário egípcio.
A certa altura, o moço convidou Josie para um mergulho.
Mohamed começou a jogar água na moça.
Josie procurou fazer o mesmo.
Samira ao avistá-los dentro d’água se divertindo, percebeu que tudo estava encaminhado.
Comentou com Fabrício, que aquele encontro já estava escrito.
O homem achou graça no determinismo que estava embutido nas palavras da mulher.
Samira, percebendo um certo desdém de Fabrício, respondeu que o tempo se encarregaria de mostrar a todos como aquele encontro já estava fadado a ocorrer.
Mais tarde, em El-Alamein, Mohamed mostrou a moça a beleza do balneário.
Passeando por Alexandria, o moço mostrou ao grupo, os monumentos existentes no lugar.
Constataram que o país é extremamente populoso e que a região possuí um imenso sistema de irrigação.
Visitaram museus e mesquitas, de beleza única na região.
O castelo de Qait Bay, fica na Ilha de Faros, abriga um pequeno museu naval e possuí canhões apontando para o Mediterrâneo.
Passearam pelas dependências do Palácio de Muntazah.
Mohamed explicou que se tratava da moradia de verão de governantes egípcios.
Josie se encantou com o verde profundo das águas do Mediterrâneo.
Em suas andanças o grupo passeou pelas pirâmides de Gizé.
Passeando por Sharm El-Sheikh, o grupo conseguiu ter um pouco mais de sossego e Josie pode finalmente usar um biquíni.
Mohamed ao vê-la em meio as estrangeiras que por ali estavam, notou o contraste da cor morena da moça, e a brancura das européias.
Enquanto Samira e Fabrício conversavam sobre seus passeios na praias, e as diferenças de costumes entre brasileiros e árabes.
Mohamed acompanhou Josie em mais um banho de mar.
Nadaram juntos, mergulharam. Jogaram água um no outro.
Em dado momento, a moça disse que iria nadar por mais algum tempo.
Josie, começou a nadar.
Avançou mar adentro.
Mohamed, ao ver a moça se distanciando da praia, começou a se preocupar.
O moço, incomodado, chegou a comentar com sua avó, que Josie estava se afastando demais.
Empolgada, a jovem só se deu conta que estava muito longe da praia quando começou a sentir cansaço.
Josie começou a nadar em direção a praia.
Nadou, nadou, nadou.
Em dado momento, sentiu que não tinham mais forças para continuar nadando.
Neste momento, Mohamed se aproximou da moça e a ajudou a voltar para a praia.
Preocupada com a moça, Samira perguntou-lhe se estava tudo bem.
Mohamed recomendou que a esteira, o guarda-sol, e a cesta com comes e bebes, fossem guardados.
Disse que iriam voltar ao hotel.
Com isto, o jovem acompanhou Josie até seu quarto.
Recomendou que ela descansasse.
A moça resolveu descansar.
Mais tarde, Fabrício e Samira, combinados entre si, resolveram fazer com que o casal se encontrasse a sós.
Samira conversou com Mohamed, sugerindo que eles jantassem em um restaurante da cidade.
Fabrício fez o mesmo com Josie.
Depois, dizendo que estavam cansados, a dupla optou por permanecer no hotel. Comentaram que iriam pedir algo para ser servido no quarto.
E assim, Josie e Mohamed encontraram-se no saguão do restaurante.
A moça usava um vestido vermelho tomara-que-caia de cumprimento médio.
Mohamed ao vê-la, convidou-a para jantar.
Matemáticos, Samira e Fabrício combinaram inclusive o horário em que a dupla iria se encontrar no restaurante.
Josie, titubeou.
O jovem árabe respondeu que não aceitava recusa.
Josie então concordou. Chegou a sorrir.
Com isto, Mohamed puxou a cadeira para a moça sentar.
O garçom apresentou o cardápio ao casal.
Mohamed, percebendo que a moça ainda se atrapalhava com o nome dos pratos, sugeriu o cardápio.
Josie aceitou a sugestão.
Como bebida, sugeriu um vinho francês.
Nisto, o garçom afastou-se.
Mohamed, tentando encontrar assunto para conversar com a moça, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Josie respondeu que sim. Que fora apenas um susto.
Brincando, Mohamed falou-lhe que ultimamente ela vinha lhe dando muitos sustos. Disse que ela precisava se cuidar.
Josie respondeu que se cuidaria.
Mohamed disse que ela precisava estar bem para regressar ao Brasil.
Com isto, perguntou-lhe se a matéria sobre o Egito estava pronta. Disse que gostaria de ler a matéria quando fosse publicada.
Ao ouvir isto, Josie comentou que ele falava muito bem em português. Admirada, perguntou se ele também lia em português.
Mohamed respondeu que lia um pouco. Comentou que vivera no Brasil. Trabalhara no país. Mencionou que conhecia um pouco da cidade de São Paulo.
Josie pediu-lhe então para que devolvesse o seu celular.
Mohamed prometeu-lhe que depois do jantar iria até seu quarto e o devolveria. Em seguida pediu a moça que contasse o que o achou do país.
Josie respondeu que o Egito possuía uma cultura fascinante, com um passado impressionante. Argumentou que era um país de contrastes como o Brasil, e que infelizmente como em seu pais, havia muita pobreza, muita miséria, muita corrupção a ser combatida.
Mohamed perguntou-lhe sobre o machismo dos homens.
Josie por sua vez, respondeu que não estava realizando uma matéria sobre antropologia e sim sobre viagem, história e cultura.
O muçulmano, conversando com a moça, disse que os egípcios são muito tradicionalistas. Comentou que as mulheres são tratadas como princesas, como flores frágeis, que precisam ser cuidadas.
Tentando se justificar, o moço respondeu que só agira de maneira intempestiva, por que acreditou que estava no caminho certo.
Olhando-a nos olhos, disse-lhe porém, que não se arrependera de nada do que fizera. Argumentou que se fosse para ficar um pouquinho mais ao lado dela, faria tudo de novo.
Josie ficou perplexa.
Incomodada, a jovem ameaçou se levantar.
Mohamed, segurando sua mão, impediu-a.
Alegando que ainda não havia terminado de expor seu ponto de vista, argumentou que não proferira aquelas palavras para ofendê-la, e sim por que precisava expor o que pensava.
Confessou que fora ele quem tentara comprá-la de Fabrício.
Comentou que ao vê-los juntos, acreditou que se tratava de um parente seu.
Josie respondeu que conhecera Fabrício no Egito.
Mohamed relatou que eles era tão íntimos que pareciam se conhecer há muito tempo.
Josie, ao ouvir as palavras do moço, comentou que sentira uma sensação de familiaridade muito grande ao conhecer o homem. Sentiu nele um avô que nunca teve.
Mohamed sorriu. Relatou que chegou a sentir ciúmes do homem.
Josie achou graça.
O jovem árabe, ao vê-la rindo, comentou que não achava aquilo nada engraçado. Brincando, respondeu que iria tomar satisfações com o homem.
A jovem então, respondeu que Fabrício era um homem de bem.
Mohamed retrucou que também o era.
Disse que Josie não se apercebera disto, por que ela só conheceu seu lado mais determinado. Argumentou que era homem capaz de um gesto de gentileza.
Diante disto, o homem retirou um dos anéis que usava de seu dedo e o ofereceu a moça. Pediu para que ela o utilizasse em sinal de paz.
Josie tentou recusar, mas Mohamed respondeu-lhe que se o fizesse, tomaria isto como uma ofensa. Disse que quando alguém lhe oferecesse um presente, deveria aceitá-lo.
Desta forma, a moça aceitou o presente.
Mohamed pediu para que a jovem estendesse sua mão.
Colocou o anel em um dos dedos da moça.
Josie, ao ver o anel em seu dedo, agradeceu ao presente.
Mohamed respondeu-lhe que aquele anel fora um presente de seu pai, antes de falecer.
A moça, ao ouvir isto, perguntou-lhe se não seria melhor ele ficar com o anel.
Mohamed disse que o objeto tinha uma história.
De um homem vivera no deserto e que decidira se estabelecer no Cairo, onde acumulou vasta fortuna, a qual legara ao filho, que se encarregou de aumentá-la.
O moço comentou que ele escolhera a mulher com quem se casaria.
Relatou então, que o homem, ao ver a mulher caminhando pelas ruas da cidade, decidiu que ela seria sua esposa. Moveu muitos mundos para tanto. Arrebatou a moça, de sua casa, levando-a para viver consigo.
Durante algum tempo, viveram no deserto. Mais tarde, o homem se entendeu com a família da moça e voltou a viver no Cairo.
Mohamed mencionou que o entendimento abriu a possibilidade da família da moça se aproximar da família de seu pai.
Comentou que não fosse isto, ele não poderia ter convivido com sua avó, Samira, mãe de sua mãe.
Josie, ao ouvir o relato, comentou que não conhecera nenhum de seus avós. Mencionou que se eles estivessem vivos, deveriam estar vivendo em algum lugar do Uruguai.
Mohamed perguntou-lhe se ela não tinha vontade de conhecê-los.
Josie respondeu que sim.
O moço, segurando sua mão, disse-lhe que poderiam tentar descobrir juntos, onde eles poderiam estar.
A jovem, argumentou que seria necessária uma investigação. Ademais, quem saberia mais detalhes sobre eles, eram seus pais. Mas eles já haviam falecido há alguns anos.
Curioso, Mohamed perguntou-lhe se não sabiam os nomes de seus avós.
Josie declinou o nome de sua avó materna, Cecília. Quanto ao avô, não se recordava o nome.
A moça respondeu que provavelmente já haviam morrido.
Mohamed gentil, segurou-lhe a mão e disse que ela não precisava se sentir só. Comentou que se ela assim o quisesse, poderia ganhar uma avó, já que de coração Samira o era.
Josie, olhando-o de lado, sorriu.
Mohamed olhou-a com olhos ternos e perguntou-lhe se não gostaria de passar mais alguns dias no país.
Nisto, foi servido o prato escolhido pelo moço.
Iguaria a base de peixes.
Jantaram.
Degustaram uma boa sobremesa.
Om´ali (finas folhas de massa cozida banhadas em leite muito açucarado e misturadas com coco e pistache) e Konafa (uma espécie de massa de pistache, avelãs e nozes, envolta em aletria e mel).
Por fim, o moço contou uma singela piada envolvendo Deus e a criação do Líbano.
Lugar onde foi criado tudo o que poderia de mais belo haver no mundo. Até que alguém questionou tantas maravilhas em um só lugar.
No que Deus argumentou que ele questionava o fato, por que não sabia o povinho que ele colocaria no lugar.
Josie riu. Comentou que era muita maldade dizer aquilo dos libaneses.
Mohamed comentou que enquanto viveu no Brasil conheceu muitos libaneses e sírios.
Notou que quando os brasileiros queriam desprestigiar os muçulmanos, chamavam-nos de turcos.
Josie contou que não era agradável ser taxado por uma coisa que não era.
Mohamed concordou.
Argumentou que os libaneses não gostam da comparação.
Mais tarde, o casal seguiu juntos para o quarto de hotel.
Nisto, o muçulmano pediu a um de seus empregados para buscarem o celular da moça.
E assim, ao receber o celular das mãos de Mohamed, a moça agradeceu.
Segurando o celular, observou o anel que o moço lhe dera.
Josie respondeu que era muito bonito.
Mohamed, distraído, não compreendeu. Razão pela qual a moça repetiu o elogio.
Brincando, o moço respondeu que havia entendido outra coisa.
Mencionou que um por um momento acreditou que ela estava se referindo a ele.
Josie achou graça.
O homem, tomado de um ímpeto, segurou a moça e a beijou.
Samira e Fabrício, que conversavam animadamente num dos quartos do hotel, despediu-se da senhora.
Desta forma, ao abrir a porta para sair da sala da suíte, deparou-se com a cena.
Josie e Mohamed estava se beijando.
O homem, desculpando-se com a mulher, respondeu que precisava esperar um pouco para sair da suíte.
Samira, não compreendeu.
Com isto, dirigiu-se ao corredor. Deparou-se com a cena e compreendeu a reação do amigo.
Juntos se encantaram ao ver o casal unido.
Samira comentou que era um gesto de amor.
Nisto, ao terminar o beijo, Mohamed aguardou uma reação defensiva da moça.
Josie porém, não parecia retraída.
Mohamed, ao perceber isto, perguntou-lhe se não gostaria mesmo de ficar mais alguns dias no Egito. Sugeriu que ela entrasse em contato com seu chefe no Brasil. Comentou que poderia dizer que se demorara mais por que havia muito o que conhecer no país. Sua riqueza, sua cultura.
Perguntou-lhe se não poderia tirar uma licença em seu trabalho.
Josie comentou rindo, que nem sabia se ainda possuía um emprego.
Mohamed, sentindo-se culpado, respondeu que se precisasse, ele mesmo conversaria com seu chefe.
A moça respondeu que não era necessário.
Nisto, o moço perguntou-lhe o que significava o beijo.
Josie respondeu que não sabia.
Mohamed retrucou:
- Como assim? Será que vocês ocidentais são tão modernas que saem por aí beijando por beijar, sem nenhuma expectativa?
Josie argumentou dizendo que não era bem assim. Respondeu que não era tão moderna assim.
Mohamed perguntou-lhe então, se estavam namorando.
Com isto, segurou as mãos da moça, e começou a dizer-lhe que era descendente de uma família de beduínos, que possuía uma boa situação financeira, poderia proporcionar uma ótima situação. Comentou que ela poderia concluir seu trabalho. Argumentou que não se oporia se ela optasse por continuar trabalhando.
Mohamed respondeu que aquilo não era um entrave para ele.
Josie se surpreendeu.
- Sério?
Mohamed respondeu-lhe que a conheceu livre e independente, e que isto fora o que mais o impressionara. Comentou que não poderia aprisionar um pássaro na gaiola, pois a ave perderia seu encanto.
Tocando no rosto da jovem, Mohamed disse-lhe que ela era este lindo pássaro.
Josie sorriu.
Nisto o homem beijou-a novamente.
Ao término do beijo, Mohamed segurou Josie novamente nos braços. Beijou-a mais uma vez.
Por fim, perguntou-lhe se estavam namorando.
Josie balançou a cabeça afirmativamente.
Mohamed perguntou-lhe se poderia se considerar seu namorado.
Josie respondeu que sim.
Beijaram-se novamente.
A certa altura, Samira, Fabrício e dois empregados saíram da suíte e aplaudiram o casal.
Mohamed e Josie acharam graça.
No dia seguinte, a moça contatou Medeiros.
Explicou-lhe que não entrara em contato em razão de problemas de saúde que a fizeram ficar acamada por várias semanas. Argumentou que quando estava melhorando, adoeceu novamente. Explicou que fora acolhida por uma família egípcia, que conheceu, e aprendeu a admirar.
Desculpando-se, perguntou-lhe se ainda tinha interesse pela matéria sobre o Egito.
Durante a conversa, Medeiros explicou a moça, que diante de seu sumiço, contatou o consulado do Egito no Brasil, vindo a descobrir que houve um seqüestro na região das pirâmides. Comentou aflito, que pensou que ela estivesse envolvida no evento, tendo em vista o seu sumiço.
Medeiros ressaltou que todos ficaram preocupados. Mencionou que Lucineide tentou vários contatos em seu celular.
Com isto, Josie pediu desculpas pela ausência.
Mais tarde, Josie contatou Lucineide.
Desculpou-se pela demora para entrar em contato.
Lucineide chamou-lhe a atenção. Comentou que Roberta, estava cuidando de Leonardo.
Mencionou que o moço estava em São Paulo, se recuperando de seus ferimentos sofridos. Contou que Leonardo já estava caminhando, mas seus olhos estavam lesionados e havia perdido parte de sua visão.
Josie ficou penalizada.
Nisto a moça completou o relato, dizendo que Roberta havia se afastado de André.
Dizendo que precisava se entender com Leonardo, pediu-lhe um tempo para repensar a relação. Argumentou que se realmente tivessem que ficar juntos, a vida se encarregaria de reaproximá-los.
Lucineide comentou que André ao ser informado da decisão de Roberta, ficou arrasado.
A moça recordou-se que o rapaz, ao retornar ao Brasil, ficou cercando a ex-namorada por semanas, até se convencer que Roberta não voltaria atrás.
Com isto, André retomou seu trabalho. Afastou-se da moça.
Lucineide por sua vez, perguntou-lhe estava melhor.
Josie respondeu que sim.
A amiga, comentou que Vilma entrara em contato com ela e informou que Otávio iria se casar.
Desta forma, Lucineide salientou que Vilma parecia mais conformada.
Josie falou-lhe que se sentia melhor ao saber disto.
Ao perceber o tom da frase, Lucineide comentou que sentia que ela estava mais leve. Relatou que a viagem para o Egito parecia ter lhe feito muito bem.
Josie respondeu que sim.
Não deixou de mencionar que Olavo fora muito especial em sua vida, e que ás vezes sonhava com ele. Disse-lhe que os sonhos lhe davam conforto.
Com um sorriso na voz, mencionou que as coisas estavam melhorando.
Lucineide ficou curiosa.
Josie por sua vez, respondeu que assim que colocasse os pés no Brasil, contaria todas as suas peripécias.
Lucineide respondeu que aguardaria ansiosa por seu retorno.
Nisto, despediram-se.
Josie e Mohamed passearam juntos.
Semanas depois, a moça retornou ao Brasil.
Ao voltar para seu apartamento, percebeu que tudo havia sido muito bem cuidado por sua amiga Lucineide.
Ao rever a amiga, contou-lhe tudo o que havia ocorrido no Egito. Sua intenção de elaborar uma matéria sobre o país e todas as peripécias pelas quais passou.
Relatou o encontro acidentado e a relação conflituosa que viveu com Mohamed, o seqüestro...
Josie comentou que durante o período em que passou no cativeiro, pensou diversas vezes em tudo o que vivenciara, suas relações afetivas, seus amigos, seus pais, Olavo, seus namoricos. Por diversas vezes, acreditou que não viveria para contar os fatos.
Lucineide, abraçou-a.
Mais tarde as moças visitaram Roberta, a qual não se descuidava de Leonardo.
Conversando, a jovem comentou com as moças, que a convivência não era fácil, e que o moço, ao descobrir que era ela quem cuidava dele, ficou tomado de fúria. Por diversas vezes exigiu que ela fizesse suas malas e partisse.
Argumentava que preferia ficar sozinho, a ter que passar pela humilhação de ter que ser tratado pela mulher que o enganou.
Roberta porém, ignorava os impropérios e continuava a cuidar do seu ainda, esposo.
Recordou-se do encontro com André. Das últimas palavras que dissera ao rapaz.
Confessou, ao ser indagada pelas moças, que ainda sentia saudades do moço.
Josie, ao perceber que Roberta ainda gostava de André, recomendou-lhe que se acertasse com o rapaz. Argumentou que para tentar consertar uma situação mal resolvida com Leonardo, ela havia criado um impasse entre ela e André.
Disse-lhe que não poderia deixar pela vida afora, um rastro de situações mal resolvidas.
Roberta, ao ouvir as palavras da moça, concordou.
Josie por sua vez, insistiu para a amiga continuasse cuidando de Leonardo se considerava que este era o melhor a ser feito, mas que deveria deixar claro para o moço, que aquele não era um retorno a relação de casados. Recomendou-lhe que conversasse com André, e se entendesse com o moço.
Por fim, Josie recomendou-lhe boa sorte.
As amigas, ao saírem do apartamento de Roberta, comentaram sobre a conversa que tiveram com a moça.
Lucineide, observando a amiga, comentou com Josie que os tempos no Egito, operaram uma grande transformação em seu modo de ver as coisas.
Josie respondeu-lhe que o Egito, e a perda de Olavo, a fizeram enxergar que a vida é muito curta e que não espera as nossas resoluções para se modificar. Ou estamos prontos para as mudanças, ou seremos atropelados pelos acontecimentos.
Acrescentou que se Roberta não resolvesse as coisas com aqueles dois homens, arrastaria aquela indefinição para outros setores de sua vida. Argumentou que a vida de Roberta ficaria emperrada.
Ao ouvir isto, Lucineide comentou que Josie estava parecendo uma daquelas madames que sabem o passado, o presente e o futuro de suas clientes.
A moça, ao ouvir as palavras proferidas em tom de gozação, respondeu que isto era elementar, e que não era necessário ser guru, para saber que questões mal resolvidas não resultavam em boa coisa.
Lucineide então, passou a achá-la enigmática.
Com isto, as jovens seguiram para casa.
No dia seguinte, Josie conversou com Medeiros.
Mostrou-lhe o material pronto.
Preocupado, o homem perguntou-lhe o porquê do sumiço.
Josie teve então que explicar que ficara doente e todas as peripécias pelas quais passara no Egito. Relatou inclusive, o seqüestro sofrido.
Atônito, ao tomar conhecimento de todos os acontecimentos vividos pela moça nos últimos meses, perguntou-lhe se estava bem.
Josie respondeu que sim.
Nisto a moça perguntou-lhe se ainda tinha interesse no material.
Medeiros respondeu que sim. Informou-lhe também para que comparecesse na redação nos próximos dias. Argumentou que não poderia perder uma das profissionais mais competentes que tinha.
Josie sorriu e respondeu que estaria de volta no dia seguinte.
A moça apresentou-lhe seu material.
Com efeito, o homem, ao ver a riqueza de detalhes, e a qualidade de trabalho da moça, sugeriu que o trabalho fosse melhor aproveitado com uma série de reportagens sobre o país.
Medeiros disse-lhe que havia feito um raio-x do Egito.
Com isto, dois meses depois, a matéria foi publicada.
Foram três edições da revista com matérias sobre o Egito.
Josie, enviou as revistas para o moço, que auxiliado por Fabrício, explicou o conteúdo das matérias a Samira, que ficou encantada com a competência da moça.
A mulher comentou que sua futura neta, era uma pessoa excepcional.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 38
Josie, indisposta, fez que Mohamed mudasse os planos.
Como o mal estar da moça não passasse, o jovem levou-a até sua casa, sob protestos de Fabrício que sugeriu levar a moça para sua casa.
Mohamed insistiu em deixá-la aos cuidados de sua avó.
Fabrício então concordou.
Com isto, jovem árabe convidou o homem para ficar alguns dias em sua casa.
Mais tarde, quando a senhora viu uma jovem sendo carregada por Mohamed, afligiu-se.
Como Mohamed lhe explicasse que a moça não estava passando bem, a mulher recomendou que fosse chamado um médico para examiná-la.
A mulher então, aproximou-se da moça, e tocando em seu rosto, percebeu que Josie tinha febre.
Diante disto sugeriu que a jovem ficasse no quarto de hóspedes.
Mohamed, aflito, levou-a até o quarto, e colocou-a na cama.
Recomendou aos criados que levassem as malas da jovem para o quarto.
Samira a avó de Mohamed, abeirou-se da cama.
Pediu a Samara que providenciasse um chá para Josie.
A contragosto, a moça tomou o chá, com pequenos goles.
Cansada, depois de beber o chá, a jovem tornou a dormir.
Nervoso, Mohamed pediu para ficar ao lado da moça, mas Samira recomendou que não ficasse por perto. Argumentou que a jovem precisava de um pouco de tranqüilidade, e ele, nervoso como estava, acabaria por deixá-la nervosa.
Mohamed então, se viu compelido a acatar as recomendações da avó.
Mais tarde, um médico foi examinar a moça.
Verificou sua temperatura, e recomendou-lhe um remédio para a febre. Disse que jovem estava gripada.
Quando Mohamed foi informado do diagnóstico do médico, perguntou a avó se era realmente uma simples gripe. Desconfiado, disse que ela se queixou durante a viagem de volta de sentir dor no corpo e mal estar. Preocupado, perguntou se não seria aconselhável que outro médico a examinasse.
Samira respondeu-lhe que não havia necessidade.
Mohamed insistiu.
A mulher respondeu-lhe que a moça se recuperaria em poucos dias. Só precisava descansar um pouco.
O jovem muçulmano acatou as recomendações da mulher.
Nisto, estando Josie, sob os cuidados de sua avó, o moço tratou de arrumar uma acomodação para Fabrício.
Em conversa com o homem, o moço respondeu-lhe que ninguém poderia cuidar melhor de Josie, do que sua avó.
Fabrício disse-lhe que havia prometido deixar a moça partir.
Mohamed retrucou dizendo que não poderia abandonar a jovem naquele momento. Pediu ao homem para que deixasse ele cuidar um pouco da moça. Insistiu em dizer que não estava aprisionando a moça.
Fabrício por sua vez, aceitou a hospedagem.
Respondeu que não iria deixar Josie sozinha.
Nos dias que se seguiram, a moça ficou mais tempo dormindo do que acordada.
Sentia calafrios, dores no corpo, febre.
Por diversas vezes Samara precisou trocar as roupas de cama.
Dias depois, um pouco melhor, Josie, acompanhada por Mohamed, conheceu a casa, os cômodos, a criadagem.
Deparou-se com uma bela vista do Cairo. Das tamareiras.
Fabrício, ao vê-la de pé, perguntou-lhe se estava bem.
Josie, abatida, respondeu que sim.
Mohamed por sua vez, levou-a até a mesa, numa sala toda enfeitada.
Ajudou a moça a se acomodar em uma almofada.
Serviu-lhe muitas frutas, sucos. Perguntou-lhe o que gostaria de comer.
Como Josie não tinha fome, Mohamed insistia.
A certa altura, Samira recomendou ao neto que não fosse tão afoito.
Mohamed porém, continuava insistindo.
Samira então, percebendo a situação da moça, recomendou-lhe que comesse alguma coisa ou seu neto não a deixaria em paz.
Josie bebeu um pouco dos sucos que lhe foram oferecidos, e comeu um pouco de frutas.
Depois do café, Mohamed perguntou-lhe se gostaria de fazer alguma coisa.
Quem sabe assistir um filme.
A moça contudo, estava apática.
Mohamed levou a jovem até uma sala.
Lá havia um projetor antigo e alguns rolos de filme.
Tentando entreter a moça, Mohamed mostrou-lhe filmes de Rodolfo Valentino, e outras películas antigas. Geralmente filmes mudos.
Samira vigilante, em dado momento foi até a sala para verificar o que estava acontecendo.
Josie parecia entretida com os filmes.
Mohamed se ocupava de posicionar os rolos no projetor e trocá-los.
A jovem e o muçulmano permaneceram na saleta por algumas horas.
Mais tarde, Samira convidou-os para almoçarem.
Gentil, perguntou a moça se estava gostando da estada no Egito.
Josie ficou surpresa com a pergunta.
Samira respondeu-lhe então, que Mohamed havia lhe contado que estava a trabalho, que vinha do Brasil, e estava conhecendo um pouco da cultura do país.
Razão pela qual convidou-a para conhecer o Egito sob o ponto de vista de um morador do lugar, argumentou.
A moça não sabia o que responder.
Isto porque, sem nem ao menos conhecê-la, Samira acolheu-a no seio de sua família e a tratou com extrema dedicação.
Quando agradeceu a dedicação, a mulher respondeu que fez o que qualquer bom muçulmano faria. Comentou que a solidariedade era uma característica da religião de Maomé.
Josie se encantou com as maneiras gentis da mulher.
Exímia artesã, a mulher confeccionava bonitas roupas, belas almofadas e enfeites para a casa.
Possuía um tear.
Josie ficou encantada com a máquina.
Comentou que num Brasil distante no tempo, as mulheres trabalharam em uma máquina parecida com aquela.
Fabrício ao ver a máquina de tear, comentou que já vira máquinas iguais aquelas em uma das empresas que seu pai possuía no Brasil. Comentou que além de advogado e trabalhar na área, o homem investia em inúmeras atividades, entre elas a tecelagem. Respondeu que vira diversas máquinas parecidas com aquela, na fábrica.
Josie respondeu que sua mãe, que adorava antiguidades, conseguiu adquirir uma máquina antiga como aquela e começou a fazer tecidos. Mantas, cobertores. Disse que isto era uma terapia para ela.
Saudosa, a moça comentou que sua mãe era uma mulher coragem, e que durante os tempos da ditadura precisou se esconder com o marido, militante de esquerda, nas terras de um estranho que resolveu os acolher.
Josie respondeu que não fosse esta ajuda, seus pais certamente seriam mortos e ela não estaria ali.
Mohamed, ao ouvir as palavras da moça, segurou sua mão e beijou-a. Em seguida disse-lhe:
- Ainda bem que ainda existem pessoas abnegadas neste mundo! Que Allá te abençoe.
Samira convidou todos para jantar.
Os dias se seguiram calmos.
A moça foi melhorando aos poucos.
Certa noite, Mohamed convidou a jovem para jantar fora.
Por insistência de Fabrício, Josie concordou.
O homem contou-lhe que Mohamed a levou para sua casa, por que ali ela ficaria mais bem instalada e sendo cuidada por uma mulher devotada, como Samira.
Fabrício respondeu-lhe que tentou levá-la para sua casa, mas não houve negociação. Mencionou que quando Mohamed a viu desmaiando, amparou-a imediatamente e decidiu levá-la para sua casa.
Carregando-a nos braços, pediu para a avó auxiliá-lo.
Fabrício comentou que o jovem muçulmano afligiu-se ao vê-la tão indisposta. Alegou que o moço pensou em ouvir uma segunda opinião médica.
Rindo, comentou que Mohamed gostava muito dela.
Argumentou que o moço se arriscara ao levá-la para sua casa, pois quando Samira soubesse o que ele fizera, certamente não iria concordar com sua conduta.
Nisto o homem comentou que ela deveria procurar uma saída pacífica para o conflito.
Argumentou que nos últimos anos de vida de seu pai, viveu em conflito com ele, e que não era bom ela deixar uma situação mal resolvida para trás.
Pesaroso, comentou que seu pai falecera, sem que tivessem se entendido antes.
Entristecido, recompôs-se.
Acrescentou, que se ela estava passando por aquela dificuldade, era por que tinha discernimento suficiente para separar o que era bom do que era ruim, e a enfrentar as adversidades com galhardia.
Fabrício pediu-lhe para que desse uma oportunidade do rapaz demonstrar seu afeto.
Diante disto, a moça concordou em jantar com Mohamed.
Durante o jantar, o casal acompanhou uma apresentação de dança do ventre.
Josie elogiou a apresentação. Disse que a dança era linda.
Mohamed respondeu-lhe que a cultura árabe era muito bela.
No jantar foram servidas carnes, saladas, suco. Pratos típicos.
Tabule, folhas de uva, entre outras iguarias.
Josie se encantava com a apresentação das iguarias.
Mohamed perguntou-lhe então, sobre seu trabalho no Brasil.
Josie respondeu-lhe que sem o seu telefone celular, ficava difícil manter contato com seu chefe em São Paulo, e que ele deveria estar preocupado com a falta de notícias.
Mohamed desconcertado, respondeu-lhe que devolveria o celular.
Em seguida, perguntou-lhe se sentia-se melhor.
Josie indagou o por quê da curiosidade.
Mohamed disse-lhe que precisava conhecer as pirâmides.
Brincando, disse-lhe que sem as pirâmides, não teria uma exata dimensão do que era o Cairo.
Josie perguntou-lhe então, quando poderia partir.
Desapontado, Mohamed respondeu que só a deixaria ir, quando tivesse certeza de que ela estava bem.
Como a moça adoecesse novamente, o passeio pelas pirâmides, precisou esperar mais um pouco.
Josie ficou novamente gripada.
Mohamed, ao receber o diagnóstico da moça, ficou intrigado.
Comentou que num calor abrasador como aquele, era inconcebível alguém ficar gripado.
Samira respondeu-lhe que no deserto a temperatura caía muito bruscamente, e que isto deve ter favorecido a gripe da moça.
Mohamed ao ouvir esta explicação, comentou que isto justificava a primeira gripe, mas e a segunda?
Com isto, o chamou outro médico para examinar a moça.
O segundo médico respondeu que a jovem estava debilitada.
Desta forma, Josie ficou novamente sob os cuidados de Samira.
Chorando, a moça dizia que queria voltar ao Brasil.
Ao ouvir os murmúrios de Josie, Samira perguntou ao neto o motivo da lamúria.
Mohamed tentou desconversar, mas a mulher sagaz, percebeu que havia algo errado.
Pressionando o neto, descobriu que ele fizera a moça de prisioneira.
Perplexa, perguntou-lhe qual era sua intenção ao submeter a jovem a seus caprichos.
Mohamed aborrecido, respondeu que não procedera desta forma para abusá-la, e sim por ser esta a única forma, no seu entender, de fazer com que Josie o enxergasse de verdade.
Samira, ao ouvir os impropérios do moço, respondeu que ele havia passado uma péssima imagem para a moça. Argumentou que ela devia pensar que todos os muçulmanos eram selvagens.
Aborrecida, a mulher perguntou ao moço quando ele iria deixar a moça livre.
Mohamed transtornado, alegou que a jovem estava enferma, e que não poderia ficar só.
Samira concordou, mas recomendou-lhe que não fizesse da moça sua eterna prisioneira.
Argumentou que em assim procedendo, acabaria por matá-la de tristeza.
Sábia, respondeu que a moça estava sofrendo uma recaída por que não estava certa de que Mohamed a deixaria partir. Comentou que enquanto vivesse esta incerteza, Josie não ficaria inteiramente bem.
O muçulmano desolado, comprometeu-se diante da avó, em liberar a moça, após o passeio nas pirâmides. Alegou ainda, que ela só poderia fazer o passeio, se estivesse totalmente recuperada.
Samira calou-se.
Continuou cuidando da moça.
Nos dias que se seguiram, Fabrício se ocupou de fazer companhia a moça.
Já havia voltado para sua casa.
Brincando, disse que estava sentindo falta de sua companhia.
Ao ouvir isto, a moça caiu em prantos.
Samira recomendou-lhe que saísse do quarto.
Por diversas vezes, Samira ouviu a moça mencionar o nome de um rapaz de nome Olavo.
Quando Mohamed soube disto, ficou chateado.
Conversando com Fabrício, o jovem árabe comentou que não havia conseguido conquistar a moça.
O homem, censurando-o, disse que com suas atitudes, havia conseguida apenas fazer com que a moça fosse capturada por ele.
Ao ouvir isto, Mohamed encheu-se de dor.
Por fim, confessou ao homem que gostaria de realizar um passeio ao lado da moça.
Respondeu-lhe que em Josie se recuperando, ela poderia voltar ao Brasil, quando bem entendesse. Afirmou que não iria importuná-la mais.
A noite, enquanto a moça dormia, o rapaz agachou-se e tocando seus cabelos, disse-lhe para que melhorasse logo, pois assim poderia voltar para o Brasil.
Assim o prometeu.
Em melhorando, fariam um último passeio juntos, e em seguida ela regressaria ao Brasil.
Com efeito, a moça foi melhorando.
Nos dias que se seguiram, Josie foi se alimentando melhor.
Conversando com a moça, Fabrício disse-lhe que Mohamed havia prometido a ele e a Samira, que ela regressaria ao Brasil.
Josie respondeu que não acreditava.
Mais tarde, Mohamed conversou com ela. Disse que ela precisava ficar bem, ou não regressaria ao Brasil.
Falou-lhe que precisava conhecer as pirâmides.
Como Josie não acreditasse em suas palavras, o moço providenciou duas passagens para os próximos dias.
Mostrou-a Josie.
A moça, ao se deparar com duas passagens, perguntou para quem seria a segunda passagem.
Mohamed respondeu-lhe que Fabrício a acompanharia ao Brasil.
Dizendo que o homem se prontificara a acompanhá-la, argumentou que assim ficaria mais tranqüilo.
Olhando-a atentamente, Mohamed disse-lhe ainda estava abatida.
Nisto Samira adentrou o quarto, oferecendo uma sopa para a moça.
Josie tomou a sopa inteira.
A mulher admirou-se.
Nos dias que se seguiram, Josie acompanhou a mulher em suas orações.
Observou Mohamed caminhar em direção a uma das muitas mesquitas da cidade.
Samira voltou a se ocupar de seu tear.
A mulher dizia orgulhosa de suas peças, que era uma herança dos tempos nômades.
Josie por sua vez, comentou que as peças confeccionadas por ela, eram muito delicadas.
Envaidecida, a mulher tentou ensinar a moça a mexer no tear.
Enquanto mexia na velha máquina, Josie recordou-se dos pais.
Das brincadeiras no final da tarde, no quintal da casa em que moravam.
De andar de bicicleta pelos parques da cidade.
Recordou-se da morte dos pais.
De Olavo, do trabalho na revista.
Começou então, a chorar.
Samira, ao vê-la em prantos, procurou consolá-la.
Josie então contou-lhe sobre seus pais, que eram uruguaios radicados no Brasil, que sofreram com a ditadura brasileira, mas não chegaram a sair do país. Que viveram muito tempo escondidos, e que quando as coisas se acalmaram, retomaram sua vida em outra localidade, até falecerem em um acidente.
Triste, a moça não gostava de se recordar dos detalhes do ocorrido.
Tamanha era sua tristeza, que deixou escapar que fora noiva e que o moço faleceu em um acidente de carro.
Samira perguntou-lhe se isto havia acontecido há muito tempo.
Josie respondeu que fazia anos que os pais haviam falecido, e que Olavo morrera há poucos meses.
A mulher ficou penalizada com a tristeza da moça.
Com isto, assim que teve uma oportunidade de conversar com o neto, disse-lhe que Josie estava sofrendo muito, e que cabia a ele confortá-la sempre que ela necessitasse de um ombro amigo.
Mohamed ficou intrigado com as palavras da avó.
Cerca de três semanas depois, Mohamed, Fabrício e Josie se encaminharam para as pirâmides.
Restabelecida, a moça andou de camelo.
Não sem antes pechinchar o preço do passeio.
Josie também, foi abordada por vendedores de falsas preciosidades.
Mohamed afastava a todos.
Dizia:
- La.
E um não de Mohamed, era não.
Josie ao observar as milenares pirâmides, percebeu que as construções estavam um tanto deterioradas.
Mohamed argumentou que a ação do tempo, consumia as construções.
Comentou também, que a cidade, estava invadindo o deserto.
Fabrício relatou que a cidade estava muito próxima das pirâmides.
Mais tarde, o trio se deparou com um show de luzes.
Fabrício, percebendo que o muçulmano pretendia ficar a sós com a moça, procurou afastar-se.
Josie, encantou-se com o espetáculo.
Tímida, tentou dizer algo ao moço.
Mohamed lhe disse:
- Pode falar. Sautek muftáh el janéh!
Como Josie não compreendeu o que o homem disse, o mesmo explicou-lhe instando-a a falar, que sua voz era a chave do paraíso.
Josie disse-lhe que as luzes realçavam o que os monumentos possuíam de melhor.
Mohamed concordou.
Tencionou tocar as mãos nas cabelos da moça, que entretida com o espetáculo, não percebeu.
Ao término do show de luzes, o casal foi procurar Fabrício.
Neste momento, Mohamed e Josie foram abordados por alguns homens armados.
Gritando palavras em árabe, apontavam as armas para o casal.
Josie ficou apavorada.
Mohamed, tentando proteger a moça, tentou dialogar com os homens. Em vão.
Com isto, foram levados em um veículo para um lugar ermo.
Antes de entrarem no carro, tiveram suas mãos amarradas e os olhos vendados.
Nervosos, os homens mandaram Mohamed se calar.
Fabrício ao perceber uma movimentação estranha no lugar, foi ao encontro de Mohamed e Josie.
Procurou o casal mas não o encontrou.
Ao perceber a movimentação de policiais ao redor do monumento, Fabrício tentou conversar com os homens.
Perguntou-lhes em inglês:
- What’s happen?
O policial explicou que foram informados sobre um seqüestro de turistas, e estavam recomendando a todos que evacuassem a área.
Aflito, Fabrício perguntou onde estavam os outros turistas.
O homem respondeu que estavam todos sendo orientados a sair do local.
Fabrício falou que estava procurando um casal.
O policial recomendou-lhe que procurasse o casal em outro lugar. Respondeu que provavelmente eles deveriam estar longe dali.
Com isto, Fabrício retornou a casa do muçulmano.
Como Samira lhe dissesse que seu neto e a moça não haviam chegado ainda, o homem encheu-se de preocupação.
A mulher preocupada, perguntou-lhe se não houve um desencontro.
Fabrício respondeu que ocorreu um evento nas pirâmides, mas percebendo o ar de preocupação de Samira, resolveu acionar a polícia.
Diante do prestígio da família, os policiais foram quase que imediatamente a casa do rapaz.
Fabrício, auxiliado por um empregado da família, comunicou aos policiais o desaparecimento de Josie e de Mohamed. Relatou o evento ocorrido nas pirâmides.
Nervoso, o homem solicitou que fosse informado de todos os passos da investigação.
Os policiais prometeram colocar-lhe a par de tudo.
Samira, tentando manter a calma, a certa altura, não conseguiu se conter. Caiu em prantos.
Fabrício, meio sem jeito, tentou consolá-la.
Ofereceu-lhe um lenço limpo para que enxugasse as lágrimas.
O homem disse que Josie e Mohamed seriam localizados rapidamente.
Relatou que ele mesmo se empenharia em localizá-los.
Samira observou-a admirada.
Fabrício, conversando com os criados de Mohamed, perguntou-lhes se a ação poderia estar relacionada a algum movimento terrorista.
Ao ouvir isto, um dos criados respondeu, que havia homens dispostos a tudo, e que geralmente quando isto acontecia, turistas eram mortos, o que ocasionava uma crise no país, que vive quase que exclusivamente do turismo.
Fabrício perguntou então, se Mohamed possuía inimigos, pessoas que tivessem interesse em se vingar dele, ou de sua família.
Outro criado respondeu que o patrão era invejado sim, mas não ao ponto de ser alvo de um seqüestro. Comentou que Mohamed era muito respeitado e deixou claro que quem se atrevesse a tal façanha, certamente não teria um final muito feliz nas prisões do país.
Pensando, pensando, Fabrício cismou com a hipótese de ato terrorista.
Tal constatação gerou um arrepio em sua espinha.
Preocupado, ficou pensando como um terrorista agiria em uma situação igual àquela. Onde esconderia as vítimas?
Enquanto isto, Fabrício e Josie foram levados para um esconderijo.
Amarrados, ficaram a pão e água.
Josie ficou presa em um quarto e Mohamed em outro.
A moça não sabia onde estava.
Nervosa, prestava atenção em cada barulho.
Quem sabe para se localizar.
Mohamed fazia o mesmo.
Atento, procurava ouvir rumores de conversas. Algo que indicasse onde estava, e quais eram os planos daqueles homens.
O jovem muçulmano não conseguia compreender o por quê do seqüestro. Tencionavam pedir resgate? E Josie, fora levada junto com ele por qual motivo? Seriam terroristas ou meros seqüestradores?
Com efeito, ainda de madrugada, Fabrício foi informado que não houve ameaça de bomba.
Fato este que deixou o homem deveras intrigado.
Com isto, a policia egípcia passou a empreender buscas em lugares propícios ao abrigo de seqüestrados. Invadiram casas, construções abandonadas.
Abordaram pessoas nas ruas.
Por semanas, reviraram a cidade do Cairo.
Nada de localizar o casal.
Samira e Fabrício estavam desesperados.
Mohamed a certa altura, tentando negociar com os homens, disse que tinha muito dinheiro, que poderia comprar a sua liberdade.
Argumentou que a moça era uma estranha, que tivera a infelicidade de estar no lugar errado no momento errado.
Dizia que não conhecia a jovem, desconhecendo seu nome e sua origem. Alegando que a moça devia ser uma garota pobre, sugeriu que os homens a soltassem, que a libertassem.
Argumentou que poderia oferecer um bom dinheiro para eles. Comentou que dinheiro era uma coisa boa.
Irritado, o seqüestrador começou a discutir com ele.
Chamou-o de infiel, de traidor da causa.
Ao ouvir estas palavras, Mohamed concluiu que se tratava de um grupo terrorista.
A certa altura, depois de muito vociferar, o homem deixou-o só.
Mohamed temeu pelo pior.
Ao concluir que se tratavam de terroristas, chegou a se perguntar por que não o haviam matado ainda. Por que o mantinham vivo? Qual era a intenção do grupo?
Vasculhando o quarto em que era cativo, o moço começou a escavar uma pedra.
Josie por sua vez, também procurava uma saída.
Fingindo dormir, a moça escutou uma conversa em árabe.
Todavia, como não era versada no idioma, não conseguiu apreender quase nada do que diziam.
O pouco que pode perceber era que invocavam o nome de Allá e que ocorrera uma altercação entre eles.
Como se houvesse dissidências no grupo.
Enquanto isto, a moça continuava a procurar uma saída, um meio de fugir do cativeiro.
Com efeito, os modos agitados dos homens, já começavam a chamar a atenção dos vizinhos.
Houve denúncia.
Mohamed por sua vez, fingindo estar passando mal, atraiu um dos bandidos para o quarto onde estava.
O homem, desarmado, foi rendido pelo muçulmano, que aplicou-lhe uma gravata.
Ao deixar o bandido desacordado, Mohamed pegou suas roupas e vestiu-as.
Por sua vez, deixou seus trajes no corpo do terrorista.
Com isto, tirou a chave do bolso do homem e saiu do quarto.
Aflito, Mohamed tentou localizar Josie, mas a necessidade fez com ele saísse da residência rapidamente.
Ao ganhar a rua, o homem tentou descobrir onde estava.
Caminhando apressadamente, percorreu becos e vielas, lojas, comércio cheios de quinquilharias. Alguns estabelecimentos, possuíam objetos de prata, artigos de luxo.
Intranqüilo, procurou um telefone. Precisava contatar sua família.
Com isto, o jovem muçulmano continuou caminhando.
Até encontrar um telefone.
Adentrou uma loja, e disse que precisava realizar uma ligação.
O dono da loja, ao reconhecê-lo, deixou que fizesse a ligação.
Nisto, Fabrício recebeu uma ligação.
Haviam localizado o cativeiro de Josie e Mohamed.
Aflito, o homem foi correndo para o local.
A esta altura, Mohamed já havia sido localizado pela polícia e acompanhou a operação.
Estava ansioso por reencontrar a moça.
Aflito, o jovem pediu para entrar com os policiais no cativeiro. Argumentou que poderia auxiliá-los a encontrarem a moça.
Com isto, os bandidos, ao se verem cercados, instalaram uma bomba no imóvel.
Ameaçando acionar o dispositivo que iniciava o funcionamento da bomba, exigiram a presença de Mohamed.
O muçulmano concordou em trocar de lugar com Josie.
Assim, se eles a libertassem, ele ficaria em seu lugar como refém.
Fabrício por um instante, tentou reter o moço, segurando-o pelo braço. Recomendou-lhe que tivesse cuidado.
Nisto o tempo foi passando.
Como os bandidos não deram sinal de que aceitaram a proposta do jovem muçulmano, Mohamed decidiu invadir o imóvel, acompanhado pelos policiais.
Fabrício advertiu-lhe que era muito arriscado.
Mohamed insistiu.
Desta forma, o jovem entrou.
Os policiais invadiram o imóvel.
Renderam os bandidos.
Aflito, Mohamed percorreu o imóvel a procura de Josie.
Ao se deparar com uma porta trancada, arrombou-a.
Lá estava Josie, de pé.
Sua expressão era de aflição. Porém, ao ver Mohamed diante de si, ficou pasma.
Ao vê-la, o homem aproximou-se. Abraçou-a. Perguntou se estava bem.
Josie respondeu que naquele momento estava.
Nisto, surgiu um homem atrás de Mohamed.
Ao vê-lo se aproximar, Josie gritou para que o jovem tivesse cuidado.
Mohamed então, ao ver um dos seqüestradores diante de si, travou luta corporal com o homem.
O bandido, ao perceber que estava em desvantagem, apontou uma arma para o muçulmano.
Josie, ao notar que saíra do campo de observação do sujeito, pegou um vaso e acertou na cabeça dele.
Com isto, a arma do homem disparou.
Mohamed, ao escutar o disparo, jogou-se no chão.
Josie, ao vê-lo deitado, julgou que o mesmo havia levado um tiro.
Aflita, acorreu em sua direção.
Segurou o homem nos braços, e começou a observá-lo.
Fabrício, ao entrar no ambiente, deparou-se com Josie chamando o moço.
Mohamed por sua vez, demorou para se manifestar.
Aturdido com o tiro, perguntou se havia sido atingida.
Josie respondeu que não.
Com efeito, quando a polícia adentrou o recinto, Josie permanecia abraçada ao moço.
A todo o momento lhe perguntava se estava tudo bem.
Mohamed respondia que sim.
Nisto os policiais entraram no quarto e prenderam o bandido.
Fabrício, percebendo que Josie e Mohamed precisavam ficar a sós, pediu aos policiais que aguardassem um pouco. Salientou que estava tudo bem.
Josie perguntou então ao moço, por que havia se arriscado entrando no lugar onde ela estava.
Mohamed respondeu que os seqüestradores estavam todos presos.
Explicou-lhe que estavam livres. Argumentou que queria ser o primeiro a lhe dar a boa notícia.
Ao ouvir isto, a moça abraçou o rapaz.
Chorou.
Mais tarde, Mohamed disse que ela precisaria ficar por mais alguns dias no país, até que fossem esclarecidas as razões dos criminosos.
Desculpando-se, Mohamed comentou que foi uma péssima idéia visitarem as pirâmides.
Ao ouvir isto, Josie, para espanto do rapaz, comentou que o passeio foi maravilhoso. O que ocorreu de ruim, foi o desdobramento do passeio.
Mohamed respondeu que precisava se redimir.
Josie argumentou que precisava retornar ao Brasil. Mencionou que não contatava seu chefe há tempos, e que precisava saber se ainda tinha um emprego.
E assim, o casal foi conduzido a uma delegacia.
Lá, prestaram depoimentos a respeito do ocorrido.
Relataram o desespero por não saberem o que iria acontecer, onde estavam, há quanto tempo estavam presos. Entre outros detalhes.
Curiosamente os bandidos não contataram a família de Mohamed. Tampouco pediram resgate.
Segundo as autoridades policiais, tratava-se de um seqüestro e não de um ato terrorista.
Mas se era seqüestro, por que não pediram resgate?
Nisto, um dos envolvidos na ação, respondeu que a intenção era esperar as coisas se acalmarem um pouco, e levar o casal para outro país.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 37
Nos dias que se seguiram, Josie demonstrou menos hostilidade para com Mohamed.
Atenta, procurava ouvir o que o moço tinha a dizer-lhe.
Quando Mohamed perguntou-se estava gostando das histórias das “Mil e Uma Noites”, Josie respondeu que sim. Argumentou que Sherazade era uma mulher de coragem, que sabia transformar uma situação desvantajosa, em que algo favorável.
Mohamed riu.
Simpático, disse-lhe que se havia gostado tanto assim das narrativas, poderia ficar com o livro.
Josie agradeceu.
Em seguida, retirou-se.
Mohamed comentou com a moça, que assim que fosse possível, ela partiria com Fabrício. Disse-lhe só estava esperando um pouco, por que tinha algo para resolver na região, e em poucos dias, ela poderia voltar para o Cairo.
Josie sorriu.
Nos dias que se seguiram, a moça fez vários passeios pelo deserto.
Quando Mohamed se desvencilhou de suas obrigações, informou-a para preparar suas malas que partiriam de volta ao Cairo.
Tenso, pediu-lhe para que o deixasse fazer um último passeio em sua companhia, levando-a para ver as pirâmides na periferia do Cairo.
Josie concordou.
Horas mais tarde, o moço disse-lhe que gostaria de apresentá-la a Luxor.
Curiosa, a moça perguntou se ficava muito longe do Cairo.
Mohamed disse que sim, mas que ela poderia tirar bonitas fotos dos monumentos da cidade, e ilustrar a matéria que estava fazendo sobre o país.
A moça, ao ouvir isto, perguntou:
- E o Cairo?
Mohamed respondeu que seria o próximo destino, com as pirâmides.
Por fim, a deixaria no hotel onde se hospedara.
Disse que a partir daí, não a importunaria mais.
Josie argumentou que ele a estava enrolando.
Irritado, o moço respondeu que tinha palavra, e ela não dava voltas, ou fazia curvas.
Fabrício, percebendo o clima tenso, tentou acalmar os ânimos.
Gesticulando, fez sinal para que a moça concordasse com o moço, e também para que tivesse calma.
Contrariada, depois de muita insistência de Fabrício, a jovem acabou concordando.
Com isto, pediu licença ao jovem. Disse que gostaria de fazer um passeio a cavalo.
O jovem muçulmano concordou.
E assim, Fabrício conversou com Mohamed.
- Acalme-se meu jovem. – recomendou o homem.
Mohamed argumentou que Josie era uma pessoa muito difícil.
No que o homem riu:
- Você arrebata a moça, priva-a da convivência de tudo o quanto ela está acostumada, impõe seu modo de ver as coisas, a enche de ordens e quer que ela seja dócil?
Mohamed argumentou que muitas mulheres deviam sonhar em serem levadas para o deserto, por um homem valente e corajoso.
Argumentou que já havia visto isto em uma fita americana.
Fabrício comentou que havia tempos que não ouvia falar de filmes envolvendo tal temática.
Nisto o homem respondeu que era um filme mudo.
Fabrício, ao ouvir a expressão ‘filme mudo’, comentou:
- Até imagino que filme seja. Minha mãe era fanática por estas fitas, adorava Douglas Fairbanks e o Rodolfo Valentino... A propósito, o nome do filme é: “O Sheik” ou “O Filho do Sheik”?
Mohamed ficou desconcertado.
Fabrício respondeu-lhe então, que muito provavelmente Josie nem saberia dizer quem foi Rodolfo Valentino. Tampouco vira seus filmes.
O homem respondeu que as moças do ocidente estavam acostumadas com filmes mais ousados para os padrões religiosos dos egípcios.
Ao ouvir isto, Mohamed respondeu nervoso que estivera por alguns anos no Brasil e que conhecia o costume dos brasileiros irem quase pelados a praia.
- Não é bem assim! – respondeu Fabrício – Não vamos quase pelados a praia. Até por que a nudez não é tolerada em locais públicos.
Mohamed comentou sobre as praias de nudismo.
No que Fabrício lhe disse que ele estava bem informado sobre o assunto.
Nervoso, o muçulmano perguntou se a moça costumava ir a praias do tipo.
Fabrício, um tanto constrangido, respondeu que conhecera a moça ali no Egito, mas que ela não parecia ser o tipo de moça que freqüentava este tipo de praia.
Neste momento, Mohamed recordou-se de Olavo, e do fato de que Josie já fora noiva. Enciumado, o moço perguntou se ele achava que Josie ainda era casta.
Fabrício, percebendo que caminhava em terreno pantanoso, comentou que esta questão não lhe dizia respeito.
Mohamed porém, não estava disposto a ouvir evasivas.
Insistiu para que dissesse o que pensava a respeito.
Fabrício, titubeando, respondeu que sexo fora do casamento não era pecado.
Mohamed ao ouvir isto, perguntou-lhe quantos anos tinha.
- Oitenta e um.
Nisto o muçulmano perguntou-lhe se já fora casado.
Fabrício respondeu que sim.
Em seguida, o jovem perguntou-se se ao se casar era casto ou não.
Fabrício respondeu-lhe que vivia em outra época, em que as pessoas tinham menos liberdade.
Como o muçulmano insistisse, respondeu que não.
Mohamed ficou perplexo:
- Como não?
- Pelo fato de que levei alguns bons anos para me casar. Casei com a mulher que escolhi, mas tive que esperar por ela.
Mohamed não compreendeu.
O homem explicou-lhe então, que se apaixonara pela namorada do irmão, e que Cecília se casou com seu irmão, mas que o casamento não foi feliz.
Razão pela qual a moça resolveu refazer sua vida, sozinha.
Num tempo em mulheres separadas eram mal vistas, ela ousou se separar do marido.
Fabrício comentou que procurou a moça por muito tempo, até encontrá-la em uma cidadezinha do interior do estado de São Paulo. Ao encontrá-la, falou que prometeu a si mesmo, que a não a deixaria escapar. E assim, tanto fez, que acabou convencendo-a a partir para o Uruguai, onde se casaram.
Fabrício falou, para espanto de Mohamed, que a moça obteve o desquite para que pudessem se casar no país. Com isto, criou os dois filhos que a esposa tivera com o irmão, e teve uma filha com a mulher. Melancólico, comentou que viveu feliz com a esposa, até ela falecer.
Disse que poucos meses depois de seu falecimento, decidiu aproveitar uma oportunidade de negócio, para trabalhar no Egito. Onde permanece desde então.
Mohamed censurou-o por fazer sua mulher separar-se do marido.
Fabrício comentou que não se escolhe a quem se ama. Argumentou também, que Cecília era maltratada por seu irmão.
O moço perguntou-lhe se nunca mais voltara ao Brasil.
O homem respondeu que não.
Fabrício argumentou, que Cecília tinha medo que o ex-marido tomasse seus filhos.
Desta forma, comentou que preferiu respeitar a vontade da esposa.
Curioso, Mohamed perguntou onde estavam os filhos.
Fabrício relatou que voltaram ao Brasil, onde se casaram. Segundo destacou, suas crianças voltaram a ter contato com a família, com Pedro – seu irmão – e com seus avós.
Triste, comentou que fazia anos que não tinha mais contato com sua família. Disse que sua filha Carolina, não entrava em contato com ele, desde que se casara com um brasileiro.
Mohamed se compadeceu do homem, disse-lhe que entendia seu sofrimento.
Argumentou que devia ser muito triste não ter notícias dos parentes.
Nisto, o homem segurou o seu braço e disse que entendia seu jeito torto de demonstrar afeto. Comentou que poucas coisas na vida seguiam uma linha reta, e que ele era a maior prova disto.
Rindo, o homem comentou que Mohamed era um cabeça dura e que Josie era teimosa. Uma combinação explosiva. Irônico, disse que sempre acreditou que eram os opostos que se atraíam.
Pensando, o homem comentou que Mohamed havia se metido em uma encrenca e que seria muito difícil convencer a moça de que agira de forma tão intempestiva, por não encontrar outra maneira de chamar sua atenção.
Nisto Mohamed confessou que ele fora o homem que mandou um de seus empregados oferecer uma soma em dinheiro para comprar Josie.
Fabrício ficou perplexo. Falou que ele não deveria em nenhum hipótese, contar este fato a Josie, ou ela não perdoaria. Contou que ela ficou furiosa com a proposta.
Fabrício argumentou que Josie é uma autentica moça de seu tempo. Independente, cuida da própria vida, tem sua própria casa, cuida de suas coisas.
Mohamed não gostou das palavras.
Fabrício por sua vez, aconselhou o moço a tentar entender o mundo dela, seu modo de ver as coisas. Argumentou que ela fora criada de forma diferente da dele, e que nenhuma das formas de viver estavam erradas. Apenas eram formas diversas de verem e viverem a vida.
Rindo, comentou que o ser humano é muito criativo, e para onde ele for, irá encontrar novos modos de viver.
Mohamed concordou.
Argumentou que o Egito era um país moderno, e que muitas mulheres trabalhavam fora. Porém, não havia necessidade de Josie, estando a seu lado, trabalhar fora.
Respondeu que podia proporcionar uma vida bastante confortável a moça. Disse que ao seu lado, ela seria como uma verdadeira princesa.
Fabrício respondeu que não era só a necessidade que fazia a moça ter vontade de trabalhar. Argumentou que Josie gostava do que fazia. Comentou que sentia o prazer que a moça tinha em executar seu trabalho, o quanto era cuidadosa ao abordar as pessoas para fazer perguntas, nas fotos que tirava das crianças, dos egípcios e das egípcias.
Contou que a moça ficara triste em ver as ruas sujas, mendigos e tanta pobreza na cidade.
Fabrício comentou que em muitos aspectos, o lugar lembrava São Paulo, ou mesmo o Brasil. Um país de contrastes.
Mohamed disse que o Brasil lhe parecera um pais religioso, assim como o Egito.
Comentou que já na antiguidade, os egípcios já acreditavam na imortalidade da alma.
Nisto, o jovem contou que um dos maiores exemplos da importância que a imortalidade da alma tinha para o povo e para a religião egípcia, era o mito de Osíris. Mito este, representado em inúmeras pinturas, em monumentos... Argumentou que o mito era essência de toda a tradição egípcia antiga.
Nisto, começou a dizer:
- Conta a lenda que Osíris, filho de Geb (a Terra), com ajuda de sua mulher Ísis, ensinou aos homens a agricultura (a principal atividade econômica do Egito antigo). Nisto, seu irmão Seth, tomado de ciúmes, afoga Osíris no rio Nilo, e depois o esquarteja e espalha seus pedaços pelo Egito. Ísis, por sua vez, recolhe todos os pedaços, refaz-lhe o corpo e o ressuscita. Passando ele a viver no céu. Do relacionamento de Osíris com Ísis, nasceu Hórus, seu filho, o qual mata Seth, vingando Osíris, e como prêmio recebe o trono do Egito.
Fabrício ouviu o relato com atenção.
Mohamed comentou que a lenda justificava a divindade dos faraós, posto que sinalizava serem eles, descendentes de Osíris, bem como a imortalidade da alma e a reencarnação.
Fabrício, ao ouvir isto, comentou que havia uma religião, e uma doutrina ocidental, que dizia a mesma coisa, só que sem as alegorias que ele utilizara. Disse que o Brasil foi uma pátria que acolheu com muito carinho a crença, embora nem todos compartilhem dela.
Mohamed respondeu que sabia do que ele estava falando.
Disse que conversando com Josie, descobriu que a moça acreditava na imortalidade da alma, e na possibilidade da reencarnação.
Curioso, o homem respondeu que Josie não havia conversado com ele sobre isto.
Fabrício disse-lhe que aos poucos Mohamed estava começando a chegar no coração da moça.
Diante disto, confessou que não poderia ser ele, uma pedra no caminho. E assim, concordou em auxiliá-lo a conquistar a moça.
Mohamed sorriu. Argumentou que todo auxílio seria bem-vindo.
Nisto, todos se ocuparam de fazer as malas.
Auxiliada por Mohamed, a moça colocou seus pertences em um camelo.
Fabrício também foi auxiliado na colocação de suas malas.
Em seguida, as tendas foram desmontadas.
Mohamed seguiu a frente com Josie, Fabrício e alguns homens de sua confiança.
Caminharam por cerca de uma hora até uma estrada.
Lá o jovem muçulmano, colocou as malas dentro de um grande veículo.
Nisto, o grupo seguiu viagem.
Mais tarde hospedaram-se em um hotel.
Os demais criados, desarmaram as tendas e seguiram para o Cairo.
Josie, Fabrício, Mohamed e os homens, descansaram um pouco.
Josie estava acompanhada de Samara.
Na frente do quarto, dois homens guardavam a entrada.
A moça, ao saber disto, ficou aborrecida.
Fabrício disse a moça que Mohamed só estava cuidando dela, mas Josie continuou contrariada.
No dia seguinte, o grupo seguiu em direção a cidade de Luxor.
Viajaram em meio a paisagem do deserto, até chegarem a cidade.
Lá, hospedaram-se em um hotel.
No dia seguinte, o grupo foi passear pelos lugares históricos da cidade.
Mohamed explicou a Fabrício e Josie, que a cidade também era cortada pelo Rio Nilo.
Explicou que a cidade cresceu a partir das ruínas da antiga cidade de Tebas, com vestígios da antiga civilização egípcia.
Comentou que iniciariam o passeio pela margem oriental, onde encontram-se inúmeros monumentos egípcios.
Nisto, o grupo seguiu em direção ao Templo de Karnak, o maior dos templos do antigo Egito.
Mohamed explicou que os vestígios que existentes, são dedicados a tríade tebana divina de Amon, Mut e Khonshu, e que foram sucessivamente aumentados pelos diversos faraós, tendo levado mais de mil anos a construírem os complementos da construção. Relatou que constitui uma mescla de vários templos fundidos num só.
Josie observou o monumento composto de pedras, imponente e sofrendo as ações do tempo.
Belas e altivas ruínas.
Em seguida, caminharam pela Grande Sala Hipostila.
Novamente o muçulmano comentou sobre os detalhes arquitetônicos da construção, dizendo que o teto era suportado por cento e trinta e quatro enormes colunas, ainda existentes, e consideradas como as maiores do mundo.
Josie e Fabrício caminharam e atentos, procuraram observar cada detalhe da imponente sala.
Observaram as colunas do monumento.
Quando chegaram ao Templo de Luxor, Mohamed explicou que o monumento foi iniciado na época de Amenhotep III e só foi acabado no período muçulmano. É o único monumento do mundo que contém em si mesmo documentos das épocas faraônica, greco-romana, copta e islâmica, com nichos e frescos coptas e até uma Mesquita (Abu al-Haggag).
O grupo caminhou por entre as ruínas, as esculturas de faraós. Pela ampla área histórica.
Mohamed fez questão de mostrar a mesquita, a jovem.
O muçulmano contou a moça que os árabes rezam até cinco vezes ao dia voltados para Meca.
Josie e Fabrício ficaram impressionados com a imponência da construção e suas imensas esculturas e estátuas, de vários metros de altura, a adornar o monumento.
Josie aproveitou para tirar fotos.
Em seguida, o grupo seguiu para o Museu de Luxor.
Mohamed explicou que era um museu pequeno. Mencionou que este possuí uma importante coleção de de peças de todas as épocas do Egito Antigo.
Caminhando pelo museu, viram descobertas arqueológicas de Luxor.
Mohamed comentou que a noite, o templo fica todo iluminado.
Josie perguntou se poderia apreciar o espetáculo.
Mohamed concordou.
E assim, a noite a moça apreciou o espetáculo das luzes iluminando as esculturas, as estátuas, o grande monumento e suas ruínas sendo iluminadas.
No caminho, Josie observou hotéis luxuosos e muitas palmeiras.
No dia seguinte, o grupo realizou um passeio de barco pelo Nilo.
Mais tarde, se encaminharam para a margem Ocidental de Luxor.
Passearam pelo Vale dos Reis.
Mohamed explicou tratar-se da principal necrópole real do Império Novo do antigo Egito, possuindo 62 túmulos dos faraós desse período e também os túmulos dos faraós Tutankamon, Ramsés IX, Seti I, Ramsés VI e o de Horemheb. Relatou que ainda hoje se continuam a retirar jóias dos túmulos dos filhos de Ramsés II. Os túmulos aí existentes designam-se pelas siglas KV (significando Kings Valley, Vale dos Reis) seguidas de um número, sendo este atribuído consoante a ordem cronológica da descoberta de cada túmulo. No total existem 62 túmulos, sendo o mais importante precisamente o número 62, o do Faraó Tutankhamon, em virtude do espólio do achado. Neste local, encontrou-se o maior e mais complexo túmulo do Vale dos Reis. Julga-se ter encontrado o túmulo dos 52 filhos de Ramses II.
O grupo passeou pelo Vale das Rainhas.
Mohamed, começou a dizer que ali se destacam os túmulos do Príncipe Amenkhepchef, da Raínha Ti e o da Raínha Nefertari, esposa do Faraó Ramses II. Mencionou que o túmulo dispõe de alguns dos mais bem conservados e coloridos hieróglifos egípcios.
Visitaram também, o templo mortuário da rainha Hatshepshut.
Mohamed mencionou que o mesmo foi projetado e construído por Senenmut, arquiteto da rainha Hatshepsut. Rainha, da 18ª Dinastia, governou como um autêntico faraó, sendo assim considerada a primeira mulher chefe do Governo na História. Templo este talhado parcialmente na rocha. Monumento que se funde com a encosta de pedra que lhe serve de apoio.
O muçulmano informou que o templo foi posteriormente alterado por Ramses II e pelos seus sucessores, e mais tarde os cristãos transformaram-no num mosteiro (daí o nome Deir al-Bahri, que significa "Mosteiro do Norte").
Continuaram passeando pelos templos, túmulos e ruínas.
Nisto Mohamed, informou que próximo ao templo principal situam-se as ruínas do Templo de Montuhotep II, Faraó da 11ª Dinastia que unificou o Egito, e o Templo de Tutmósis III, sucessor da rainha Hatshepsut.
Relatou que o Vale dos Nobres, contém vários túmulos, e que as paredes destes túmulos estão decoradas com cenas da vida quotidiana. As mais famosas são as dos túmulos de Ramose, de Najt e de Mena. O Templo de Medinet Habu, é compreendido por vários outros templos, a começar pelo Ramsés III.
Josie observou os hieróglifos, as cenas do cotidiano do Egito.
No dia anterior se impressionou com os artefatos antigos, as enormes estátuas de pedra dos faraós, as ruínas. As luzes e as cores iluminando o Templo de Luxor.
Durante o passeio de Barco, Mohamed relembrou que o Egito era uma dádiva do Nilo.
Foram três dias de passeio.
Mohamed comentou durante o almoço, que sentia-se voltando no tempo, quando pisava aquele solo sagrado.
Josie por sua vez, tirara muitas fotos do lugares turísticos.
Durante o almoço, a moça fez alguns apontamentos sobre os lugares que visitara.
Fabrício comentou com Mohamed, que fazia parte do processo de trabalho dela.
Mohamed, pediu licença para Josie.
Perguntou se podia ler o que ela escrevera.
A moça respondeu que não.
Fabrício, percebendo o clima tenso, sugeriu ao grupo, que observasse os barcos percorrendo o Rio Nilo.
Mais tarde, o grupo seguiu rumo ao Cairo.
Luciana Celestino dos Santos
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